quinta-feira, 7 de novembro de 2019

A Conjuração do Nao-Nascido


‘Eu invoco a Ti, Ó não Nascido. Tu que criaste os céus e a Terra. Tu que criaste as Trevas e a Luz. Tudo é Osorronofris (o homem feito perfeito) que nenhum homem jamais viu... Tu que distinguiste o justo e o injusto. Tu que criaste o macho e a fêmea. Tu que produziste a semente e o fruto. Tu que criaste os homens para amarem uns aos outros e para odiarem uns aos outros. Tu que produziste o seco e o úmido que alimentam todas as criaturas. Ouve-me, pois eu sou o Anjo de Paphro Osorronofris. Este é o teu verdadeiro nome, transmitido aos profetas de Israel’.
‘Tu és o Senhor dos Deuses. Tu é o Senhor do Universo. Tu és Aquele que os ventos temem. Tu que, havendo criado o Verbo por sua vontade, és Senhor de todas as coisas. Rei, Governante e aquele que Ajuda. Ouve-me e faça todas as coisas sujeitarem-se a mim para que cada espírito do firmamento e do éter sobre a terra e sob a terra, na terra seca e nas águas, no reino do ar e no reino do fogo e cada encantamento e maldição de Deus sejam a mim obedientes’.
 ‘Eu sou Ele, o Espírito Não Nascido com visão nos pés, forte e o Fogo Imortal. Eu sou a Verdade. Eu sou Ele, o que odeia o mal provocado no mundo. Eu sou Ele, relâmpago e trovão. Eu sou Ele, de quem brota Vida na Terra. Eu sou Ele, de cuja boca sai labaredas. Eu sou Ele, a manifestação da Luz e das Trevas. Eu sou Ele, a Graça do Mundo. O Coração Cingido de uma serpente é o meu nome’.

Israel Regardie ou Francis Israel Regudy era filho de judeus russos, nascido em 17/11/1907 e falecido em 10/05/1985. Foi um dos maiores divulgadores do ocultismo no século XX e psicólogo proeminente, tendo emigrado para os Estados Unidos ainda na década de 20. Tornou-se membro da Ordem da Stella Matutina, uma das sucessoras da “Golden Dawn” (“Aurora Dourada”), tendo sido secretário particular de Aleister Crowley (com quem posteriormente rompeu) e publicado inúmeros livros originais sobre Cabala, Mágica e psicologia, além de ter divulgado os rituais e certos ensinamentos da Aurora Dourada.

Há uma oração apresentada no opúsculo “Energia de Cura, Oração e Relaxamento” da qual tenho extraído efeitos benéficos em minha prática espiritual. Entendo-a como uma adaptação realizada pelos estudantes da Aurora Dourada (talvez por um de seus próprios “líderes”, McGregor Mathers) de antiqüíssimos hinos religiosos egípcios, gregos e hebreus. A capacidade de se imbuir do verdadeiro espírito das grandes tradições se constituía em vocação inegável dos membros de graus superiores da Ordem e, talvez por isto, converteu-a naquele importante bastião da Tradição Milenar da Alta Magia. Graças à perspicácia daqueles que a trouxeram à baila, a oração traduz com intenso fervor a natureza do Deus egípcio Osíris, o Não-Nascido. Ela é extremamente poderosa e deve ser recitada com denodo e sincera reverência. Particularmente, adoto o seguinte procedimento ao fazê-lo:

1) Após realizar as habituais abluções, logo ao por do Sol, volto-me para o Leste;
2) Realizo uma curta cerimônia de banimento do Pentagrama Menor (elemento Terra);
3) Leio em voz alto a oração (transcrita após o próximo parágrafo), pausadamente e adotando a correta entonação da voz (o que se processa naturalmente devido ao ritmo impresso ao texto), de pé e com as palmas da mão para cima;
4) Ao término acrescento a fórmula ritual de encerramento “Amém[1]” (pronunciado de forma a soar um tanto parecido a “Amoun”);
5) A prece ao Não Nascido pode ser seguida por algum exercício revitalizante  como o do Pilar do Meio, embora isto não seja de caráter obrigatório.

Desejo a todos os meus amigos que usufruam do mesmo bem estar, leveza e segurança que decorrem deste simples exercício espiritual. A corrente energética mística que se desprende desta fórmula ritual pode ser explicada pela sua repetição pelos grandes iniciados ao longo dos Séculos. Ela é dirigida à monumental potência cósmica personificada por Osíris, mais quem um Homem-Deus e Rei, um estado consciencial que os antigos praticantes almejam alcançar através do processo de “osirificação” (semelhante à realização do Chrestos, Cristo no Cristianismo).


Trecho de Regardie:

“A oração seguinte consiste de uma série de trechos extraídos de uma extensa invocação. Ela é muito antiga, tem uma longa história e está repleta de curiosos elementos filológicos, os quais duvido que sejam de interesse para o estudante moderno. As partes que cito aqui foram consideradas altamente satisfatórias na preparação de suas mentes para o tratamento e para a exaltação espirituais,

‘Eu invoco a Ti, Ó não Nascido. Tu que criaste os céus e a Terra. Tu que criaste as Trevas e a Luz. Tudo é Osorronofris (o homem feito perfeito) que nenhum homem jamais viu... Tu que distinguiste o justo e o injusto. Tu que criaste o macho e a fêmea. Tu que produziste a semente e o fruto. Tu que criaste os homens para amarem uns aos outros e para odiarem uns aos outros. Tu que produziste o seco e o úmido que alimentam todas as criaturas. Ouve-me, pois eu sou o Anjo de Paphro Osorronofris. Este é o teu verdadeiro nome, transmitido aos profetas de Israel’.

Depois dessa parte, deve haver uma longa pausa ou meditação durante a qual o estudante tenta realizar conscientemente a inefável natureza da Mente Divina, o amor, a verdade e a substância infinitos que tenta conhecer. Ela é então seguida por duas seções, como abaixo:

‘Tu és o Senhor dos Deuses. Tu é o Senhor do Universo. Tu és Aquele que os ventos temem. Tu que, havendo criado o Verbo por sua vontade, és Senhor de todas as coisas. Rei, Governante e aquele que Ajuda. Ouve-me e faça todas as coisas sujeitarem-se a mim para que cada espírito do firmamento e do éter sobre a terra e sob a terra, na terra seca e nas águas, no reino do ar e no reino do fogo e cada encantamento e maldição de Deus sejam a mim obedientes’.

A parte final da invocação é uma oração que mencionei anteriormente como evidência do conhecimento dos antigos e o emprego do moderno princípio de afirmação.

‘Eu sou Ele, o Espírito Não Nascido com visão nos pés, forte e o Fogo Imortal. Eu sou a Verdade. Eu sou Ele, o que odeia o mal provocado no mundo. Eu sou Ele, relâmpago e trovão. Eu sou Ele, de quem brota Vida na Terra. Eu sou Ele, de cuja boca sai labaredas. Eu sou Ele, a manifestação da Luz e das Trevas. Eu sou Ele, a Graça do Mundo. O Coração Cingido de uma serpente é o meu nome’.

A referência ao ódio será possivelmente um problema para a maioria de nossos metafísicos, que preferem acreditar que apenas o homem é o criador das chamadas emoções “negativas”. Mas isso mostra que os antigos estavam mais dispostos a enfrentar e a lidar com os complexos problemas filosóficos indicados nos capítulos anteriores. Se Deus, como a única presença e poder, for infinito e onipresente, então não há espaço no Universo para outra coisa além d´Ele. Portanto, o homem deve ser parte integral de Deus. Se foi a mente do homem que, em sua ignorância, empregou mal sua capacidade e seu direito de livre arbítrio e criou o que denominamos de mal, ainda que este seja apenas uma ilusão e um erro, então estamos ainda confrontados com o fato de que a possibilidade de ilusão e de erro pode existir na mente divina, que é tudo o que pode realmente existir. Não tenho a pretensão de resolver o problema ao simplesmente indicar que existe uma questão a ser resolvida. Sinto-me impelido a registrar o fato de que gerações anteriores de metafísicos reconheceram a existência do problema. Podemos ver as evidências dessa perpepção nas orações citadas.

REGARDIE, Israel. Energia de Cura, Oração e Relaxamento. São Paulo: Madras Editora LTDA, 2011.

[1] Alguns cabalistas e ocultistas preferem ler “Amem” como o acrônimo “Adonay Melech Nehman” (“O Senhor é Rei Fiel”). A interpretação é válida, mas seu real signicado perde-se na origem dos tempos. O Deus Amon, o Invisível, ou a palavra sagrada “AOUM” em sânscrito, por sua similiridade, reforçam sua pertinência enquanto mantra fundamental. A despeito de qualquer especulação “etimológica”, não resta dúvida sobre sua eficácia espiritual.