quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Glossário Teosófico e Livros Teosoficos

O Glossário Teosófico é uma obra iniciada por Helena Petrovna Blavatsky com o intuito de facilitar a pesquisa sobre a Teosofia, especialmente envolvendo as idéias apresentadas no livro A Doutrina Secreta.

É uma obra póstuma, já que foi publicado em 1892, uma ano após a morte da autora, que só pôde ver as primeiras trinta e duas páginas das provas tipográficas. Alguns verbetes foram acrescentados segundo suas anotações, mas, evidentemente, não puderam contar com a sua revisão.

O texto apresenta a descrição e o significado de termos em sânscrito, pahlavis, tibetano, páli, caldeu, persa, escandinavo, hebraico, grego e latim, além de termos cabalísticos, gnósticos, ocultistas, herméticos e de outras línguas e tradições.

A Chave para a Teosofia

A Chave para a Teosofia (título original: The Key to Theosophy) é um livro escrito por Helena Petrovna Blavatsky como uma síntese do que havia revelado até então nas suas obras anteriores. Foi lançado em 1889 na Inglaterra.

Usando o formato de perguntas e respostas, o livro trata de assuntos pertinentes à Teosofia. É explicado o funcionamento da Sociedade Teosófica, a visão teosófica de Deus, do karma, da alma, da morte, da reencarnação, da evolução espiritual e dos fenômenos espiritualistas (muito em voga na época); a constituição do universo e do homem segundo sete princípios; quem são os Mahatmas e o que é a Teosofia prática, ou iniciação ao ocultismo.

A Doutrina Secreta

A Doutrina Secreta, Síntese da Ciência, Religião e Filosofia (título original: The Secret Doctrine, The Synthesis of Science, Religion, and Philosophy) é uma das principais obras de Helena Petrovna Blavatsky. O livro pretende ser uma coletânea de pensamento científico, filosófico e religioso.

A obra original foi publicada em 1888 e é composta de dois volumes. O volume I é dedicado à cosmogénese, e é basicamente composto sobre estudos relativos à evolução do universo, enquanto o volume II é dedicado à antropogênese, a origem e evolução da humanidade. Os dois volumes apresentam um resumo das ideias da Teosofia, movimento que Blavatsky ajudou a fundar. Um terceiro volume foi publicado pela Sociedade Teosófica após o falecimento de Blavatsky. Ele é composto de uma coletânea de vários artigos de Blavatsky.

Edição em português

Em português, a obra teve sua primeira edição em 1973, e foi publicada pela Editora Pensamento (Brasil) em seis volumes, com tradução de Raymundo Mendes Sobral. Os títulos dos seis volumes da edição em português são:

Volume I - Cosmogênese
Volume II - Simbolismo Arcaico Universal
Volume III - Antropogênese
Volume IV - O Simbolismo Arcaico das Religiões do Mundo e da Ciência
Volume V - Ciência, Religião e Filosofia
Volume VI - Objeto dos Mistérios e Prática da Filosofia Oculta
Os volumes I e II correspondem ao primeiro volume da edição original em inglês e os Volumes III e IV correspondem ao segundo volume da edição original. Os Volumes V e VI correspondem ao volume póstumo publicado pela Sociedade Teosófica.

Como a obra foi escrita

Blavatsky alegava que não era a autora do livro, mas que este teria sido escrito pelos Mahatmas, a exemplo de Djwal Khull, [2] Kut Humi e Morya, utilizando o seu corpo físico, em um processo denominado Tulku, que, segundo a autora, não era um processo mediúnico.

Em janeiro de 1884 foi publicado no "The Theosophist" (periódico oficial da Sociedade Teosófica) a notícia de que Blavatsky iria escrever uma obra que ampliaria as informações contidas em sua grande obra anterior, Ísis Sem Véu. O trabalho de escrita foi desenvolvido entre os anos de 1884 e 1885. No início de 1886, em carta a Alfred Sinnett, Blavatsky dizia que a obra seria ampliada em relação ao plano inicial, o que implicou a reescrita de alguns dos seus capítulos.

Em setembro de 1886, remeteu da Europa para a Índia o que seria o volume I, mas resolveu reescrevê-lo logo em seguida, com acréscimos e alterações.

Em 1887, Blavatsky esteve bastante doente, à beira da morte. Recebeu, então, a visita de um de seus instrutores tibetanos que lhe deu, segundo ela, a seguinte opção: ou morrer, libertando-me (do corpo doente), ou continuar viva para terminar A Doutrina Secreta. Recuperou-se e continuou a escrever a obra.

Na primavera de 1887, passou a residir em Londres, onde concluiu a obra, que foi publicada simultaneamente em Londres e Nova Iorque, no final do mês de outubro de 1888. As palavras finais de Blavatsky sobre a obra foram: esta obra é dedicada a todos os verdadeiros teosofistas.

Influências e ideias fundamentais

Blavatsky alegava que a obra era baseada em pergaminhos antigos (as Estâncias de Dzyan), a que teria tido acesso e estudado. Segundo Blavatsky, as "Estâncias de Dzyan" seriam um manuscrito arcaico, escrito em uma coleção de folhas de palma, resistentes à água, ao fogo e ao ar, devido a um processo de fabricação desconhecido, e que conteriam registros de toda a evolução da humanidade, em uma língua desconhecida pelos filólogos denominada Senzar. Foram feitas várias tentativas, sem sucesso, de descobrir este manuscrito, durante o século XX. Assim, permanece sem resposta se estes manuscritos realmente existiram ou não.

As "Estâncias de Dzyan", segundo Blavatsky, estão relacionadas com o "Livro dos Preceitos de Ouro" e com os "livros de Kiu-te", que são uma série de tratados do budismo esotérico.

Outros textos usados como referência por Blavatsky são os Livros Mosaicos, os textos sagrados hindus (como os Vedas, Brahmanas, Upanishads, e Puranas) e arianos (como o Vendidad), e a cabala caldeia e judaica. Blavatsky também foi influenciada pela mitologia antiga.

A Doutrina Secreta pretende ser uma síntese do pensamento científico, metafísico e religioso, contendo um conhecimento esotérico e secreto das religiões de mistérios e dos sábios de antigas civilizações, como Índia, Tibete e China.

Para Blavatsky, existiu uma Religião-Verdade, que é a raiz de todas as religiões e mitos da humanidade. Todas as religiões autênticas atuais contêm ecos desta religião original da humanidade.

A Doutrina Secreta apresenta três proposições fundamentais:

A existência de um Princípio Onipresente (a Deidade Una, Absoluto ou Raiz Sem Raiz), eterno, sem limites, imutável e incognoscível, pois sua compreensão escapa à capacidade da inteligência humana, e que permanece não-manifestado;
A eternidade do universo (e portanto a eternidade da matéria), que passa por ciclos de atividade e inatividade que se repetem em sucessão sem início nem fim;
A identidade de todas as almas com a alma universal, sendo esta última um aspecto da raiz desconhecida.

Resumo da obra

Cosmogênese

A cosmogênese descreve a origem do cosmo, e de tudo que existe nele, a partir do Princípio Uno, e a sua posterior evolução.

Segundo Blavatsky, o Princípio Uno (a Deidade Una ou Absoluto) é idêntico ao conceito de Parabrahman dos vedantinos (assim como esta palavra, muitas expressões no livro aparecem escritas em sânscrito) e ao Ain Soph dos cabalistas. A Deidade Una é, ao mesmo tempo, Existência Absoluta e Não-Existência Absoluta. A única percepção que nossa limitada consciência pode ter do Princípio Uno é entendê-lo como sendo o Espaço Absoluto Abstrato.

Importante observar que, para Blavatsky, este Princípio Uno não é o Deus criador das religiões monoteístas, pois sendo Absoluto e Não-Manifestado não pode criar. De acordo com o livro, o Deus "criador" é um coletivo de seres intra-cósmicos, emanados do Princípio Uno, que trabalhou sobre a matéria, ordenando-a. Blavatsky chama os seres divinos desta hierarquia de Dhyan-Chohans. Segundo ela, estes seres são chamados no livro do Gênesis e na cabala judaica de Elohim.

Segundo a autora, a existência e evolução do Universo e dos planetas é uma alternância de períodos de atividade e inatividade, que ela chama de "Dias e Noites de Brahman".

No livro, a cosmogênese é descrita iniciando com a emanação de um Princípio da Deidade Una. Este Princípio, que Blavatsky chama de Brahman, diferencia-se em duas Forças opostas, Masculino-Feminino, Positivo-Negativo, que ela chama de Brahmâ. Esta Potência é a força "criadora" que, no início de um período de atividade (chamado por Blavatsky de manvantárico), acorda o universo e inicia um novo ciclo.

Segundo a cosmogênese apresentada no livro, dois elementos inseparáveis formam o universo: a Ideação Cósmica e a Substância Primordial (chamada por Blavatsky de Mulaprakriti e, segundo ela, referenciada no livro do Gênesis como sendo o "Caos primordial"). Uma, positiva e ativa, a outra, negativa e passiva. A ideação pré-cósmica é a raiz de toda a consciência individual, e a substância pré-cósmica é o substrato da matéria em seus vários graus de manifestação.

Esta cosmogênese é descrita por Blavatsky como uma "fertilização imaculada" da natureza primordial pelo Espírito Universal. Ela descreve geometricamente isto por meio de um ponto inscrito em um círculo (formando, segundo ela, a década pitagórica, o ponto representando o "1" e o círculo o "0"), e diz que "O Uno é um círculo não interrompido (anel) e sem circunferência, porque não está em parte alguma e está em toda a parte; o Uno é o plano sem limites do círculo, que manifesta um diâmetro somente durante os períodos manvantáricos; o Uno é o ponto indivisível, que não está situado em parte alguma, e percebido em toda parte durante aqueles períodos." (A Doutrina Secreta).

Uma força importante na formação do universo é Fohat, o "incessante poder formador e destruidor". Durante um período de inatividade do universo, no imanifestado antes da formação do cosmos objetivo, Fohat permanece latente e coeterno com Parabrahman e Mulaprakriti. Ele é o aglutinador de ambos, que liga e separa, sendo assim o desejo criador. No período de atividade, de manifestação do universo, Fohat torna-se o raio divino da criação que aplica a Ideação Cósmica no seio da Substância Primordial.

Interessante observar que a descrição feita por Blavatsky quanto à formação de estrelas e planetas por Fohat, no final do século XIX, é, por vezes, comparada à moderna teoria de formação das estrelas da astrofísica, confirmada cientificamente apenas no século XX, ainda que se assemelhe profundamente à teoria de Kant-Laplace, que já fora formulada na altura. Numa perspectiva teosófica, contudo, tanto a cosmogênese de Blavatsky quanto as teorias de Laplace, Pitágoras, Amônio Sacas e outras semelhantes, partilham a sua origem na tradição esotérica. Nas Estâncias de Dzyan diz-se que "[Fohat] Ao iniciar a sua obra, separa as Centelhas do Reino Inferior, que se agitam e vibram [tal como a energia de uma proto-estrela] de alegria em suas radiantes moradas, e com elas forma os Germes das Rodas [a proto-estrela e os proto-planetas]. Colocando-as nas seis Direções do Espaço, deixa uma no Centro: a Roda Central [a estrela que nasce]." (Stanza V,3) e "Ele [Fohat] as constrói [os sistemas planetários] à semelhança das Rodas mais antigas [com material resultante da morte de estrelas mais antigas] ... Ele junta a Poeira de Fogo [poeira cósmica]. Forma Esferas de Fogo [proto-estrelas], corre através delas e em seu derredor, insuflando-lhes vida e, em seguida, as põe em movimento [rotação]: umas nesta direção, outras naquela" (Stanza VI,4). Observe-se que as partes entre colchetes não fazem parte das Estâncias, mas são comentários introduzidos para mostrar a semelhança entre as duas teorias.

Ciclos e suas durações

No esquema apresentado no livro, toda a história da existência e evolução do universo e dos planetas desenvolve-se em ciclos ou períodos de tempo. Existem períodos de atividade e inatividade, chamados de Manvantaras e Pralayas, ou "Dias e Noites de Brahman". Os Manvantaras também são chamados de Kalpas.

Um período de 360 Dias e Noites de Brahman forma um "Ano de Brahman". Finalmente, 100 "Anos de Brahman" formam uma "Vida de Brahman", também chamada de Mahamanvantara (ou Mahâ Kalpa). A cada Mahamanvantara segue-se um período de igual duração em que o universo "dorme" até ser despertado no início de um novo ciclo. Este período de inatividade é chamado de Mahapralaya. Segundo o computo dos Brâmanes, um Mahamanvantara dura cerca de {\displaystyle 311.040.000.000.000} {\displaystyle 311.040.000.000.000} de anos.

Segundo "A Doutrina Secreta", todo corpo cósmico (planeta, estrela, cometa, etc.), é uma entidade formada por uma estrutura interna invisível e uma estrutura externa, frequentemente visível, chamada veículo físico ou corpo. Estes elementos, em número de sete (doze, se incluirmos os planos não manifestados, Rupa-Dathu), são os princípios da entidade, que Blavatsky chama de Globos. A evolução em um corpo cósmico processa-se desde o primeiro Globo (Globo A), mais etéreo, descendo até o quarto Globo (Globo D), o mais denso de todos, e daí subindo até o sétimo (Globo G), novamente etéreo. Este ciclo que percorre os sete Globos é chamado de cadeia planetária.

A evolução da cadeia planetária é composta por períodos chamados de Rondas. Quando um Globo passa por sete Raças-raiz diz-se que ocorreu uma Ronda de Globo. Quando a evolução passa por todos os sete Globos (ou doze se incluirmos os Globos localizados em planos não manifestados) de uma cadeia planetária, diz-se que ocorreu uma Ronda planetária. Segundo Blavatsky, sete Rondas planetárias formam um Kalpa (ou Manvantara).

O livro ainda apresenta ciclos menores chamados de Yugas, que se sucedem na ordem: Krita Yuga; Tetrâ Yuga; Dvâpara Yuga; e Kali Yuga.

Um resumo dos diversos ciclos apresentados em "A Doutrina Secreta" foi publicado no "The Theosophist" em novembro de 1885 (e reproduzido no livro), e é mostrado na seguinte tabela:

Anos mortais

360 dias mortais fazem    1
O Krita Yuga                          1.728.000
O Tetrâ Yuga                         1.296.000
O Dvâpara Yuga                   864.000
O Kali Yuga                            432.000
A soma destes 4 Yugas constitui um Mahâ Yuga   4.320.000
Setenta e um Mahâ Yugas formam o período do reinado de um Manu   360.720.000
Os reinados de quatorze Manus compreendem a duração de 994 Mahâ Yugas   4.294.808.000
Acrescentem-se os Sandhis, ou seja, os intervalos entre os reinados dos Manus, intervalos equivalentes a seis Mahâ Yugas  25.920.000
O total dos reinados e interregnos dos quatorze Manus é de 1 . 000 Mahâ Yugas, perfazendo um Kalpa, isto é, um Dia de Brahman 4.320.000.000
Como uma Noite de Brahman tem igual duração, um Dia e uma Noite de Brahman contém 8.640.000.000
360 de tais Dias e Noites de Brahman constituem um Ano de Brahman, que se eleva a 3.110.400.000.000
100 destes Anos formam o período completo da Idade de Brahman, isto é, o Mahâ Kalpa 311.040.000.000.000

Antropogênese

A antropogênese descreve a origem e evolução da humanidade. Nela são descritas as diversas raças humanas (chamadas Raças-raiz) que já evoluíram neste planeta na atual Ronda.

Para Blavatsky, um mesmo elenco de almas evoluem no teatro da existência desde o início do Manvantara, até o seu final, quando então estas almas atingirão a perfeição espiritual. Assim, a Teosofia adota o conceito de transmigração das almas.

O livro afirma que evoluem em nosso Globo sete grupos humanos em sete regiões diferentes do Globo. Assim, Blavatsky defende uma origem poligenética do Homem.

A tese revolucionária de Blavatsky é, em uma época que não se supunha o Homem mais antigo que 100 mil anos, afirmar que o Homem físico tem mais de 18 milhões de anos de existência.

A antropogênese, descrita em "A Doutrina Secreta", opõe-se à evolução darwinista que era largamente aceita na época. Blavatsky não nega o mecanismo da evolução, mas não aceita que uma "força cega e sem objetivo" possa ter resultado no aparecimento do Homem. Para ela, a criação do Homem deu-se por meio de esforços conscientes de seres divinos, que ela chama de Dhyan-Chohans, que são a origem da Mônada que habita todo ser humano.

Blavatsky não nega que a evolução dos animais e do Homem estão relacionadas. No entanto, ela alega que os homens não são primatas, como afirma a teoria da evolução. Ao contrário, para Blavatsky, os primatas são descendentes de antigas raças humanas que se degeneraram, ou seja, os primatas descendem do homem.

Segundo o livro, a criação e evolução do Homem ocorre de forma semelhante à cosmogênese. Então, cada evento que ocorreu na cosmogênese tem seu equivalente na antropogênese. Assim, por exemplo, também o Homem é hermafrodita em seus primeiros estágios (como o Brahmâ Masculino-Feminino da cosmogênese), até que se divide em Macho e Fêmea no final da terceira Raça-raiz (Lemuriana) e início da quarta raça, que Blavatsky chamou de Atlante. Segundo a autora, este fato está relatado de forma alegórica no livro do Gênesis, quando ele relata o momento em que Deus retira a mulher da costela de Adão.

Como no caso da cadeia planetária, em que o ciclo de existência e evolução desce desde o primeiro Globo, mais etéreo, até o quarto Globo, o mais denso, para então retornar até o sétimo, novamente etéreo, também a evolução humana se processa em um ciclo que inicia com a primeira raça que era etérea, até a Lemuriana (a terceira raça), a primeira raça a possuir corpo físico, e então retornando até a sétima raça que será novamente etérea.

A criação do Homem é apresentada como uma "queda na matéria". Blavatsky inspira-se nos mitos de "rebelião nos céus" do Catolicismo e na mitologia grega, com Prometeu, que rouba o fogo de Vulcano para dar vida aos homens (que haviam sido criados por seu irmão Epimeteu, que não fora capaz de lhes dar a consciência) e é condenado por Zeus a ficar acorrentado no Cáucaso. Para Blavatsky, estes mitos são ecos de antigas tradições sobre a queda dos seres divinos na humanidade primitiva, para dar aos homens a alma imortal, a consciência divina.

Para Blavatsky, a criação do Homem é dual. Primeiro foram feitos seus princípios inferiores (pelos Elohim inferiores), depois lhe foi infundido o "sopro de vida", sua Alma Imortal, sua consciência.

Seres divinos mais avançados, chamados, no livro, de Kumaras, foram incumbidos com a tarefa de criar o Homem: no entanto, eles se negaram a fazê-lo pois, sendo demasiadamente espirituais, eram incapazes de criar o Homem físico. Assim, hierarquias de seres menos avançados (os Pitris lunares) criaram o Homem, emanando-o a partir de seu próprio corpo astral (que serviu como molde). Eram, contudo, incapazes de lhe dar sua Alma Imortal, a consciência. Então, os Kumaras, associando-se a estes seres humanos primitivos, forneceram o sopro divino (como no Gênesis, quando Deus coloca o sopro de vida no Adão "feito de barro"), a Alma Imortal do Homem. Acabaram condenados a ficar presos na matéria, como o Prometeu acorrentado no Cáucaso.

Ecos destes eventos aparecem de forma alegórica, segundo Blavatsky, no mito Católico da "rebelião nos céus" e na "expulsão dos anjos maus". Estes "anjos maus" ou "rebeldes" são aqueles que se recusaram a criar e foram "expulsos dos céus" e "lançados no abismo" (a matéria). Então, no dizer de Blavatsky, os deuses tornaram-se não-deuses, os suras tornaram-se asuras.

Os sete princípios do Homem

Um princípio, para a Teosofia, é um começo, um fundamento, uma fonte e uma essência de onde as coisas procedem. Princípios são assim as essências fundamentais das coisas. Estes princípios, tanto no Homem quanto na natureza, são teosoficamente enumerados como sete.

Segundo a Teosofia, o sete é o número fundamental da manifestação, frequentemente encontrado em diferentes cosmogonias, assim como nos dogmas de diversas religiões e na tradição de muitos povos antigos.

O Homem, assim como a natureza, é chamado de saptaparna (planta de sete folhas), simbolizado geometricamente por um triângulo sobre um quadrado. Nesta constituição setenária, podemos entender o Atman como a coroa que encima a constituição humana (a ponta superior do triângulo), fornecendo-lhe o seu espírito imortal.

Segundo Blavatsky, o Absoluto emana de si raios, que são chamados, no livro, de Mônadas ou Atman. Estas Mônadas são a Essência Imortal do Homem. Assim, a Essência que forma o Homem, o seu Espírito, é da mesma natureza do Absoluto, a Deidade Una.

O Atman, com o objetivo de individualizar-se, emana de si um princípio mais denso chamado Budhi. Esta díade Atman-Budhi reveste-se de princípios cada vez mais densos, e em número de sete:

Sthula Sharira - O corpo físico, corpo denso;
Linga Sharira - O corpo astral, duplo etérico;
Prâna - O corpo vital;
Kâma-Manas - Mente dominada pelo desejo.
Manas - Nossa Alma Humana, tendo relação com Mahat, Mente Universal. É o elo entre a Díade Atman-Budhi e nossos princípios inferiores;
Budhi - Nossa Alma Espiritual;
Atman - Primeira irradiação de Atman ou Ovo Áurico. Puro Espírito, Monada, Essência Divina.

Para Blavatsky os homens das primeiras Raças não possuíam o corpo denso, apenas um corpo etéreo. A proposição revolucionária de Blavatsky é a formação do corpo denso a partir do molde astral.

Raças-raiz

Segundo a autora, os primeiros homens não possuíam um corpo denso. As primeiras raças tinham um corpo sutil, etéreo, imenso e ainda sem forma bem definida. À medida que avançou a evolução do Homem, o seu corpo tornou-se mais denso em uma sucessão de estágios, assumindo a forma que tem hoje.

Segundo a Doutrina Secreta, a evolução do Homem nesta Ronda é composta de sete Raças-raiz, cada uma delas composta de sete sub-raças, que são ramos derivados da Raça. Na atualidade estamos vivendo o período da Quinta Raça-raiz, a Raça Ariana.

É importante observar que o uso do termo "ariano" no livro não recebeu nenhuma influência das ideias racistas do nazismo. O livro foi escrito quase meio século antes do partido nazista ter sido fundado. Mas terá acontecido o contrário: o nazismo foi muito influenciado por ideias ocultistas, e Blavatsky era sobejamente conhecida entre os principais dirigentes nazis (o que não significa que as teorias de Blavatsky propusessem algo semelhante à acção do Partido Nazi - de facto, textos místicos, deste cariz, podem facilmente ser entendidos e interpretados para defender as doutrinas políticas mais contraditórias como acontece, por exemplo, com as escrituras consideradas "sagradas"). No contexto do livro, por ariano pode-se entender a formação do homem atual a partir do berço indiano (Aryavarta).

As cinco Raças-raiz apresentadas no livro que já evoluíram nesta Ronda são:

"Nascidos por Si Mesmos" ou "Sem Mente" - Esta raça apareceu há 300 milhões de anos e viveu em um continente que Blavatsky chamou de "A Ilha Sagrada e Imperecível". Os homens desta raça (se é que podem ser chamados de "homens") eram imensos e não possuíam nem corpo físico (eram seres etéreos), nem mente. A reprodução ocorria por cissiparidade (algo semelhante ao que ocorre com as amebas). Como esta raça não era mortal, ela não desapareceu, apenas converteu-se na próxima, os "Nascidos do Suor";

"Nascidos do Suor" ou "Sem Ossos" - Eles viveram em um continente chamado "Hiperbóreo". Nesta raça apareceu um rudimento de mente, no entanto, ainda não havia uma ponte entre espírito e matéria para a mentalidade. Ao final do seu período de evolução, esta raça converteu-se na seguinte, a "Nascidos do Ovo". As duas primeiras raças são chamadas de raças semidivinas;

"Nascidos do Ovo" ou "Lemuriana" - Viveram em um continente chamado "Lemúria". Esta raça era inicialmente hermafrodita e reproduziam-se por meio de um ovo que se desprendia do corpo. Esta raça passou por grandes transformações durante o seu período evolutivo. Ao final do seu período, o Homem tornou-se mortal, consolidando-se o corpo físico e a reprodução sexuada como se conhece hoje (então esta raça desapareceu, convertendo-se na raça atlante);

"Atlante" - Eles são os gigantes que viveram há 18 milhões de anos, em um continente chamado "Atlântida". São os primeiros que podemos chamar de "Homens". A raça atlante representou o ponto mediano da evolução nesta atual Ronda. A Atlântida, assim como os seus habitantes, foi destruída por um cataclismo. Os sobreviventes deste desastre fundaram a nova raça-raiz, a ariana;

"Ariana" - Segundo Blavatsky, a raça Ariana, a atual raça-raiz, existe há aproximadamente 1 milhão de anos.

Ísis sem Véu

Isis Unveiled: A Master-Key to the Mysteries of Ancient and Modern Science and Theology (em português Ísis sem Véu: Uma Chave-Mestra para os Mistérios da Antiga e Moderna Ciência e Teologia) publicado em 1877, é um livro de filosofia esotérica e primeira grande obra de Helena Petrovna Blavatsky e um texto-chave em seu movimento teosófico.

O trabalho foi originalmente intitulado O Véu de Isis, um título que permanece no cabeçalho de cada página, mas teve que ser renomeado uma vez que Helena descobriu que este título já havia sido usado para um trabalho Rosa-cruz de W.W. Reade, em 1861. Ísis sem Véu é dividido em dois volumes. O volume I, A "Infalibilidade" da ciência moderna, discute Ciência Oculta, as forças ocultas e desconhecidas da natureza, explorando temas como forças, elementais, fenômenos psíquicos, e o homem interior e exterior. Volume II, Teologia, discute a semelhança da escritura cristã às religiões orientais, como o budismo, o hinduísmo, os Vedas, e o Zoroastrismo. Segue-se a noção renascentista de prisca theologia, em que todas essas religiões supostamente descendem de uma fonte comum; a antiga "Religião-Sabedoria".Helena escreve no prefácio que Ísis sem Véu é "um apelo para o reconhecimento da filosofia hermética, a antigamente universal Religião-Sabedoria, como a única chave possível para o absoluto na ciência e na teologia."

O trabalho é defendido por muitos estudiosos modernos, como Bruce F. Campbell e Nicholas Goodrick-Clarke como um marco na história do esoterismo ocidental.Ela reuniu uma série de temas centrais para a tradição da filosofia oculta—filosofia perene, um neoplatonismo emanacionista cosmológico, adeptos, cristianismo esotérico—e reinterpretou-los em relação com os desenvolvimentos correntes na ciência e novos conhecimentos sobre as religiões não-ocidentais. Ao fazê-lo, Ísis sem Véu refletiu muitas controvérsias contemporâneas, tais como as teorias de Darwin sobre a evolução e seu impacto sobre a religião, e envolvido em uma discussão que apelou para pessoas inteligentes interessadas ​​em religião, mas alienadas de formas ocidentais convencionais. A combinação de Helena das percepções originais, apoiadas por fontes acadêmicas e científicas realizando uma grande demonstração de desafio à ciência materialista do ocultismo moderno. O trabalho também foi significativo como uma primeira declaração de idéias amplificadas nos escritos mais tarde Teosóficos, uma percepção comum sendo no entanto, que o trabalho oferece ensinamentos contraditórios em relação a trabalhos posteriores. Por exemplo, tem sido comumente percebido que não há nenhuma menção da reencarnação dentro de Ísis sem Véu e a obra ensina uma concepção tríplice do homem—corpo, alma e espírito—em linha com o pensamento neoplatônico e hermético. Este é contrastado com as obras de Helena, nomeadamente A Doutrina Secreta (1888), em que não só é a reencarnação destaque, mas o homem é concebido tendo sete vezes uma constituição. Essa mudança de pensamento é marcada por ela e o movimento da Sociedade Teosófica oriente para a Índia.No entanto, no que diz respeito às contradições percebidas Helena afirmava que além de contradições decorrentes de erros não há "discrepância", mas apenas incompletude — portanto, equívocos decorrentes de ensinamentos posteriores,[6] defendendo esta posição em mais de uma ocasião.

Detratores muitas vezes acusam o livro de um extenso plágio não atribuído, uma visão em primeira seriamente apresentada por William Emmette Coleman logo após a publicação. Com efeito, Ísis sem Véu faz uso de um grande número de fontes populares entre ocultistas da época. No entanto, ao invés de plágio, estudiosos argumentam que "era uma pessoa que tinha um conjunto original de ideias, mas que não tinham as habilidades literárias e conhecimentos de inglês suficientes para criar uma obra por conta própria. Baseando-se em fontes escritas e ajuda de amigos, ela formulou uma expressão única e poderosa de ideias ocultas".

A Voz do Silêncio

 Voz do Silêncio (título original: The Voice of the Silence) é um livro escrito por Helena Blavatsky e publicado pela primeira vez em 1889. Reúne preceitos espirituais retirados do Livro dos Preceitos de Ouro, que tem uma origem comum com as célebres Estâncias de Dzyan, uma das fontes para a monumental A Doutrina Secreta. O texto traça, em linguagem poética e elevada, um panorama sucinto do Caminho que leva à santidade ou à iluminação, e faz diversas recomendações práticas para os aspirantes.

Foi escrito em Fontainebleau, quando Blavatsky descansava de suas intensas atividades.

Recebeu tradução para inúmeros idiomas. Em 1916, foi traduzido na língua portuguesa por Fernando Pessoa.

Annie Besant descreve as circunstâncias de sua escrita:

"Fui chamada a Paris para tomar parte num grande Congresso Trabalhista, ali realizado de 15 a 20 de julho, e passei um ou dois dias em Fontainebleau com H. P. B., que lá se encontrava para repousar por uma ou duas semanas. Encontrei-a traduzindo os maravilhosos fragmentos retirados do Livro dos Preceitos Áureos, agora tão bem conhecido como A Voz do Silêncio. Escrevia fluentemente sem qualquer cópia diante de si e, à noite, pediu-me que lesse o texto para ver se estava num inglês decente".

"... ela escrevia sem consultar qualquer livro. Escrevia incessantemente, hora após hora, exatamente como se estivesse escrevendo de memória ou lendo onde não havia qualquer livro. À noite o manuscrito estava pronto".

O livro foi considerado pelo 14º Dalai Lama como sendo uma positiva influência para muitos buscadores do Budismo, na Senda do Bodhisattva, tendo sido inclusive republicado, em 1927, numa edição especial por solicitação expressa sua. A "voz do silêncio" de que fala o título é uma alusão à inspiração verdadeiramente divina, à comunicação direta do devoto com sua alma imortal, condição obtida somente após um longo e árduo processo de treinamento, desenvolvimento e purificação pessoal, que pode levar diversas vidas para ser completado. Os seguintes trechos selecionados dão uma boa ideia do seu conteúdo:

"Há só uma senda até ao Caminho; só chegado bem ao fim se pode ouvir a Voz do Silêncio. A escada pela qual o candidato sobe é formada por degraus de sofrimento e de dor; estes só podem ser calados pela voz da virtude. Ai de ti, pois, discípulo, se há um único vício que não abandonaste; porque então a escada abaterá e far-te-á cair; a sua base assenta no lodo fundo dos teus pecados e defeitos, e antes que possas tentar atravessar esse largo abismo de matéria, tens de lavar os teus pés nas águas da renúncia. Acautela-te, não vás pousar um pé ainda sujo no primeiro degrau da escada. Ai daquele que ousa poluir um degrau com seus pés lamacentos. A lama vil e viscosa secará, tornar-se-á pegajosa, e acabara por colar-lhe o pé ao degrau; e, como uma ave presa no visco do caçador sutil, ele será afastado de todo o progresso ulterior. Os seus vícios tomarão forma e puxá-lo-ão para baixo. Os seus pecados erguerão a voz, como o riso e soluço do chacal depois do sol se por; os seus pensamentos tornar-se-ão um exército e levá-lo-ão consigo, como um escravo cativo."

" Lembra-te, tu que lutas pela libertação humana, que cada falência é um triunfo, e cada tentativa sincera ao seu tempo recebe o seu prêmio. Os santos germes que brotam e crescem invisíveis na Alma do discípulo, dobram como juncos mas não quebram, nem podem eles perder-se. Mas quando a hora soa, desabrocham."

Estâncias de Dzyan

As Estâncias de Dzyan são pergaminhos antigos de origem tibetana, citados por Helena Petrovna Blavatsky em seu livro A Doutrina Secreta, que é uma obra teosófica. Blavatsky alegava que teria tido acesso e estudado estes pergaminhos em sua estada no Tibete.

Segundo Blavatsky, as "Estâncias de Dzyan" seriam um manuscrito arcaico, escrito em uma coleção de folhas de palma, resistentes à água, ao fogo e ao ar, devido a um processo de fabricação desconhecido, e que conteriam registros de toda a evolução da humanidade, em uma língua desconhecida pelos filólogos denominada Senzar.

Foram feitas várias tentativas, sem sucesso, de descobrir este manuscrito, durante o século XX. Assim, permanece sem resposta se estes manuscritos realmente existiram ou não.

As "Estâncias de Dzyan", segundo Blavatsky, estão relacionadas com o "Livro dos Preceitos de Ouro" e com os "livros de Kiu-te", que são uma série de tratados do budismo esotérico