domingo, 6 de junho de 2021

Tetrabiblos

 


Tetrabiblos (em grego: Τετράβιβλος), também chamado de Apotelesmatiká ou Quadripartitum, é um texto que aborda a filosofia e a prática da astrologia, escrito no século II por Cláudio Ptolomeu.

O tratado matemático Almagesto funcionou como um texto fidedigno sobre astronomia por mais de mil anos e, o Tetrabiblos, seu volume complementar, foi igualmente influente na astrologia, tendo estudado os efeitos os ciclos astronômicos da Terra. No entanto, enquanto o Almagesto como trabalho fidedigno astronômico foi substituído pela aceitação do modelo heliocêntrico do Sistema Solar, o Tetrabiblos continua sendo um importante ensaio teórico para a astrologia.

Apesar de delinear as técnicas de prática astrológica, a defesa filosófica de Ptolomeu acerca do assunto como estudo natural e benéfico ajudou a garantir a tolerância ideológica em relação à astrologia na Europa Ocidental durante a Idade Medieval. Isso, portanto, permitiu que os ensinamentos ptolomaicos sobre astrologia fossem incluídos nas universidades durante o Renascimento, o que trouxe impacto associado à medicina e à literatura.

A importância histórica do Tetrabiblos é atestada por muitas das análises antigas, medievais e renascentistas que publicaram sobre o assunto. O livro foi copiado, comentado, parafraseado, condensado e traduzido para diversas línguas. A mais recente edição crítica da Grécia, postulada por Wolfgang Hübner, foi publicada por Gunther Teubner em 1998.


Tetrabiblos de Ptolomeu III


Prefácio

É justo dizer que Cláudio Ptolomeu deu a maior contribuição individual à transmissão e à preservação do conhecimento astrológico e astronômico do mundo Clássico e do Antigo. Nenhum estudo de astrologia tradicional pode ignorar a importância e a influência deste trabalho enciclopédico. Ele fala não somente das estrelas, mas também de uma cosmologia distinta que prevaleceu até o até o século XVIII.

Em termos práticos, a Lua realmente tem o efeito mais imediato na Terra que é, no final das contas, nosso ponto de referência. Ele muda as marés, influencia o crescimento vegetativo e os ciclos menstruais. Na verdade, ela influencia o próprio clima.

O que veio a ser conhecido como o Universo Ptolomaico consistia de círculos concêntricos emanando a partir da Terra até a oitava esfera das Estrelas Fixas, também conhecido como o Empíreo. Esta cosmologia é tanto espiritual quanto física. É, decididamente, uma cosmologia moral.

Ptolomeu foi, principalmente e antes de tudo, um antologista. Este conhecimento chegou a ele do Egito, da Grécia, da Caldeia, da Babilônia e de mais longe. Mais precisamente, ele estava na invejável posição de estar em Alexandria durante o cume de sua eminência. Alexandria estava em ebulição espiritual e intelectual. Ptolomeu está claramente utilizando um grande leque de fontes no Tetrabiblos. Sua cosmologia articulada passou a ser chamada pelo seu próprio nome.

Política Editorial

Neste como em qualquer texto, sempre há discussões sobre qual tradução é a definitiva. Esta edição de 1822 já foi, anteriormente, difícil de ser encontrada em um formato digital prático e legível. O estilo é às vezes excêntrico; mas para qualquer um interessado no assunto, isso será rapidamente perdoado. Havia uma legião de erros tipográficos no original, chegando à casa das centenas. Estes erros foram corrigidos onde não havia dúvida sobre a palavra pretendida. Os arcaísmos permaneceram intactos. Alguns erros gramaticais, como um ponto no lugar de uma vírgula, quando a palavra seguinte não começava com maiúscula, foram editados para fazer mais sentido, não para mudar o conteúdo. Palavras faltantes foram adicionadas entre colchetes para indicar que elas não estão no original. Eu não fiz nenhum esforço para manter a paginação original neste formato.

Sempre que o significado pretendido não era claro eu deixei a frase do jeito que estava. Um exemplo disso é o uso da palavra “lang”, que pode estar no lugar tanto de “long” (longo, demorado) como “lung” (pulmão) quando se refere a Saturno e enfermidades. Estes pontos foram confiados ao discernimento do leitor. De resto, o texto original permaneceu inalterado (em caso de dúvida, o texto em português trará o sentido mais provável. Aqueles que realmente quiserem ter acesso ao pensamento original, sem distorções de tradução, de Ptolomeu, sintam-se à vontade para ler o original. Esta é uma tradução de uma tradução de uma tradução de um texto bastante antigo).

Essa edição e formato foram primeiramente concebidos para meus estudantes on-line do Traditional Astrology Course. O texto prestou-se bem para este fim. Eu convido o leitor a distribuir livremente este texto, com o conhecimento de que o texto, incluindo os créditos, devem permanecer intactos.

VICTORIA, COLUMBIA BRITÂNICA, FEVEREIRO DE 2006.
Prof. Peter J. Clark

Livro I
Sumário

1 • Introdução
2 • Conhecimento por Meios Astronômicos
3 • Que ele também é benéfico
4 • Poderes dos Planetas
5 • Planetas Benéficos e Maléficos
6 • Planetas Masculinos e Femininos
7 • Planetas Diurnos e Noturnos
8 • Poderes dos Aspectos com o Sol
9 • Poderes das Estrelas Fixas.
10 • Efeito das Estações e dos Quatro Ângulos
11 • Signos Solsticiais, Equinociais, Sólidos e Bicorpóreos
12 • Signos Masculinos e Femininos
13 • Aspectos dos Signos
14 • Signos Comandantes e Obedientes
15 • Signos que se Observam e Signos de Mesmo Poder
16 • Signos Disjuntos
17 • Sobre os Domicílios dos Diversos Planetas

δ
18 • Sobre os Triângulos (Triplicidades)
19 •Sobre as Exaltações
20 • Disposições dos Termos
21 • De Acordo com os Caldeus
22 • Sobre os Lugares e Graus
23 • Sobre as Faces, Carruagens e Assemelhados
24 • Aplicações e Separações e os outros Poderes

§
Proêmio

Os estudos preliminares à realização de prognósticos pela Astronomia, ó Ciro, são dois: o primeiro, equivalente em ordem e poder, leva ao conhecimento dos posicionamentos do Sol, da Lua, e das estrelas, e dos seus aspectos relativos uns aos outros, e à Terra; o outro leva em consideração as mudanças que esses aspectos criam, por meio de suas propriedades naturais, nos objetos sob sua influência.

O primeiro estudo mencionado já foi explicado na Sintaxe da forma mais extensa possível, pois ele é completo em si mesmo, e de utilidade essencial mesmo sem ser combinado com o segundo, ao qual este estudo será devotado, e que não é igualmente autossuficiente. O presente trabalho deve, no entanto, ser regulado pela devida atenção à verdade que a filosofia exige; e, uma vez que a qualidade material dos objetos que sofrem a ação dos astros os torna fracos e variáveis, e difíceis de ser apreendidos de forma acurada, não podem ser apresentadas aqui regras positivas ou infalíveis (como foram apresentadas ao detalharmos a primeira doutrina, que é sempre governada pelas mesmas leis imutáveis); enquanto, por outro lado, não devemos omitir uma observação cuidadosa da maioria daqueles eventos gerais cujas causas podem ser evidentemente rastreadas até o Ambiente.

No entanto, é uma prática constante do vulgo desdenhar de tudo que seja difícil de perceber, e com certeza aqueles que condenam o primeiro destes dois estudos devem ser considerados completamente cegos, quaisquer que sejam os argumentos produzidos para sustentar a opinião daqueles que impugnam o segundo. Também há pessoas que imaginam que o que quer que eles não sejam capazes de apreender deve estar completamente além do alcance de todo o entendimento; enquanto outros ainda considerarão como inútil qualquer ciência que (mesmo que tenham sido muitas vezes instruídos nela) não tenham conseguido recordar-se, devido à sua dificuldade de retenção. Com relação a essas opiniões, portanto, será feita uma tentativa de investigar em que medida a realização de prognósticos pela astronomia é praticável, além de útil, antes de detalhar as minúcias da doutrina.

Livro I

1. Introdução

Dos meios de predição através da astronomia, ó Ciro, dois são os mais importantes e válidos. Um, que é o primeiro tanto na ordem como na eficácia, é o pelo qual apreendemos os aspectos dos movimentos do Sol, da Lua e das estrelas em relação uns aos outros e à Terra, à medida em que eles ocorrem de tempos em tempos; o segundo é aquele no qual, por meio da característica natural desses aspectos em si mesmos, investigamos as mudanças que eles trazem ao que eles abrangem. O primeiro destes, que possui sua própria ciência, desejável por si mesma ainda que não atinja o resultado dado por sua combinação com a segunda, foi exposto a você o melhor que pudemos em um tratado próprio pelo método demonstrativo. Devemos agora apresentar um relato do segundo e menos autossuficiente método de um modo propriamente filosófico, de forma que alguém cujo objetivo seja a verdade nunca compare as percepções relativas a este com a certeza da primeira ciência (que é invariável), pois ele atribuiria a ela a fraqueza e a imprevisibilidade das qualidades materiais encontradas nas coisas individuais, nem tampouco se abstenha dessa investigação enquanto ela esteja dentro dos limites das possibilidades, quando é tão evidente que a maioria dos eventos de natureza geral tem suas causas nos céus que nos envolvem. No entanto, uma vez que normalmente os homens em geral atacam tudo o que é difícil de perceber, e no caso das duas disciplinas mencionadas anteriormente alegações contra a primeira podem ser feitas apenas pelos cegos, enquanto há fundamentos para as levantadas contra a segunda – pois sua dificuldade em certas partes os fizeram considerá-la completamente incompreensível, ou a dificuldade de escapar ao que é sabido fez com que seu próprio objeto fosse considerado inútil – devemos tentar examinar brevemente a extensão tanto da possibilidade quanto da utilidade desse tipo de prognóstico antes de oferecer instruções mais detalhadas sobre o assunto. Em primeiro lugar, sobre a sua possibilidade.

2. Que o conhecimento por meios astronômicos é possível de ser obtido, e em que extensão

Algumas poucas considerações tornariam aparente a todos que um certo poder emanando da substância eterna etérea está disperso, permeando toda a região acima da Terra, a qual é em toda sua extensão sujeita a mudanças, uma vez que, dos elementos sublunares primários, o fogo e o ar são circundados e sofrem mudanças pelos movimentos do éter, e por sua vez circundam e mudam todo o mais, a Terra, a água e os animais e plantas nelas contidos.

Pois o Sol, junto com o ambiente, está sempre da mesma forma afetando tudo na Terra, não só pelas mudanças que acompanham as estações do ano para produzir a geração dos animais, a produtividade das plantas, o fluxo das águas e as mudanças nos corpos, mas também por suas revoluções diárias, que levam calor, umidade, secura e frio em ordem regular e em correspondência com as posições relativas ao zênite.

A Lua, também, uma vez que é o corpo celeste mais próximo da Terra, exerce sua influência da forma mais abundante sobre as coisas mundanas, pois elas, em sua maioria, animadas ou inanimadas, são simpáticas a ela e com ela mudam conjuntamente; os rios aumentam e diminuem seu volume de acordo com sua luz, os mares geram suas próprias marés de acordo com seu nascer e seu poente, e as plantas e os animais no todo ou em uma mesma parte crescem e mínguam com ela.

Além disso, as passagens das estrelas fixas e dos planetas pelo céu muitas vezes significam que as condições do ar serão de calor, de vento ou de neve, e as coisas mundanas são afetadas da mesma forma.

Então, seus aspectos uns com os outros, pelo encontro e pela mistura de seus eflúvios, produzem muitas mudanças complicadas, pois embora o poder do Sol prevaleça no ordenamento geral da qualidade, os outros corpos celestes ajudam ou se opõem a ele em detalhes particulares, a Lua de forma mais óbvia e contínua, como por exemplo quando está nova, crescente ou cheia, e as estrelas a intervalos maiores e de forma mais obscura, como quando de seus aparecimentos, ocultações e aproximações.

Se esses assuntos fossem considerados desta forma, todos julgariam que necessariamente não apenas as coisas já compostas devem ser afetadas do mesmo modo pelo movimento destes corpos celestes, mas da mesma forma a germinação e a fruição da semente deve ser moldada e conformada à qualidade própria dos céus naquele momento.

Os fazendeiros e criadores de gado mais observadores, na verdade, conjeturam, a partir dos ventos que prevaleçam no momento da reprodução ou da semeadura, a qualidade do que resultará, e de forma geral vemos que as consequências mais importantes significadas pelas configurações mais óbvias do Sol, da Lua e das estrelas são normalmente conhecidas de antemão, mesmo por aqueles que investigam, não por meios científicos, mas somente por observação. Aquelas que têm consequências sobre as maiores forças e as ordens naturais mais simples, como as variações anuais das estações e dos ventos, são compreendidas mesmo por homens muito ignorantes, até mesmo por algumas bestas; porque o Sol é geralmente responsável por estes fenômenos.

As coisas que não são de uma natureza tão geral, no entanto, são entendidas por aqueles que por necessidade se acostumaram a realizar observações, já que, por exemplo, os marinheiros conhecem os sinais especiais das tempestades e dos ventos que surgem periodicamente por meio dos aspectos da Lua e das estrelas fixas com o Sol. No entanto, porque eles não conseguem, em sua ignorância, saber de forma precisa os momentos e os locais destes fenômenos, nem os movimentos periódicos dos planetas, que contribuem de forma importante para o efeito, acontece que eles frequentemente erram.

Se, então, um homem souber de forma precisa os movimentos de todas as estrelas, do Sol, e da Lua, de forma a que nem o lugar nem o momento de nenhuma de suas configurações escapem de sua atenção, e se ele distinguiu suas naturezas em geral como o resultado de um estudo continuado prévio, e que ele possa mesmo discernir, não suas qualidades essenciais, mas apenas suas qualidades potencialmente efetivas, como o poder de aquecimento do Sol e de causar umidade da Lua, e da mesma forma com os outros, e se ele for capaz de determinar, tendo em vista todos estes dados, tanto de forma científica quanto por conjeturas sucessivas, a marca distintiva da qualidade que resulta da combinação de todos os fatores, o que o iria impedir de ser capaz de afirmar em cada ocasião as características do ar, a partir das relações dos fenômenos no momento; por exemplo, que ele esquentaria ou se tornaria mais úmido? Porque ele também não poderia, em relação a um homem individual, perceber a qualidade geral do seu temperamento a partir do ambiente no momento de seu nascimento, como por exemplo dizer que ele é assim e assim de corpo, e assim e assim de alma, e prever eventos ocasionais, utilizando o fato de que tal e tal ambiente seja condizente com tal e tal temperamento e seja favorável à prosperidade, enquanto que outro não seja tão condizente e conduza a danos? É o bastante, no entanto, com relação à possibilidade de que esse conhecimento possa ser compreendido a partir deste argumento e de similares.

As considerações seguintes podem nos levar a observar que a crítica a essa ciência com base na sua impossibilidade foi abundante, mas inválida.

Em primeiro lugar, os erros daqueles que foram instruídos de forma eficiente nesta prática, e eles são muitos, como se poderia esperar em uma arte importante e multifacetada, geraram a crença de que mesmo suas previsões verdadeiras dependiam do acaso, o que é incorreto. Pois uma coisa como essa é uma impotência, não da ciência, mas daqueles que a praticam.

Em segundo lugar, a maioria, visando o lucro, advoga crédito para outra arte no nome desta, e engana o vulgo, pois tem a reputação de prever muitas coisas, mesmo aquelas que não podem ser naturalmente conhecidas de antemão, enquanto que esta maioria deu oportunidade para que pessoas com maior discernimento apresentassem julgamentos igualmente desfavoráveis sobre os assuntos naturais da profecia, o que não é correto.

Ocorre o mesmo com a filosofia – não necessitamos aboli-la porque há trapaceiros evidentes entre aqueles que a professam.

No entanto, é claro que mesmo que se aborde a astrologia com o espírito mais inquisitivo e legítimo possível, pode-se frequentemente errar, não pelos motivos já apresentados, mas pela própria natureza da coisa e pela própria fraqueza da pessoa em comparação com a magnitude de sua profissão.

Pois, em geral, além do fato de que toda ciência que lida com a qualidade material de seu objeto é conjetural e não pode ser afirmada de forma absoluta, particularmente uma que é composta de diversos elementos díspares, é também verdade que as configurações antigas dos planetas, com base nas quais ligamos os aspectos similares de nossos dias aos efeitos observados pelos antigos nos deles, podem ser mais ou menos similares aos aspectos modernos, e isso, também, a intervalos longos, mas não idênticos, uma vez que o retorno idêntico de todos os corpos celestes e a Terra às mesmas posições, a menos que se sustente opiniões vãs sobre a própria habilidade de compreender e conhecer o incompreensível, ou não ocorre de maneira nenhuma ou não ocorre ao menos no período de tempo compreendido na experiência do homem; desta forma, por esta razão, suas previsões às vezes falham, devido à disparidade dos exemplos nos quais eles se baseiam.

Com relação à investigação dos fenômenos atmosféricos, isso seria a única dificuldade, uma vez que não se leva em consideração outra causa além do movimento dos corpos celestes.

Entretanto, em uma investigação sobre natividades e temperamentos individuais em geral, pode-se ver que há circunstâncias de grande importância e de caráter não trivial, que se juntam para causar as qualidades especiais dos que nascem. Assim, diferenças na semente exercem uma influência muito grande nos traços especiais do gênero, já que, se o ambiente e o horizonte são os mesmos, cada semente expressa predominantemente sua própria forma, por exemplo homem, cavalo, e assim por diante, e os locais de nascimento produzem uma variação nada desprezível no que é produzido, porque se a semente é genericamente a mesma, a humana por exemplo, e as condições do ambiente são as mesmas, aqueles que nascem diferem muito, tanto no corpo quanto na alma, de acordo com as diferenças entre os países. Além disso, todas as condições mencionadas acima sendo iguais, a criação e os costumes contribuem para influenciar o modo particular no qual uma vida é vivida. A menos que cada uma dessas coisas seja examinada juntamente com as causas que são derivadas do ambiente, mesmo que se conceda a esta última a maior influência exercida (pois o ambiente é uma das causas deles serem o que são, enquanto por sua vez eles não exercem nenhuma influência sobre ele), elas podem causar muita dificuldade para aqueles que acreditam que nestes casos tudo pode ser compreendido, mesmo as coisas que não estejam completamente sob a sua jurisdição, a partir somente do movimento dos corpos celestes.

Uma vez que este seja o caso, não se deveria dispensar todo prognóstico deste tipo porque ele pode, às vezes, ser feito de maneira incorreta, uma vez que não negamos crédito à arte do piloto devido a seus muitos erros, mas como quando as questões são grandes, assim como quando são divinas, devemos dar boas vindas ao que é possível dizer e considerá-lo suficiente. Nem, além disso, devemos, às cegas e de forma humana, exigir tudo da arte, mas ao contrário se juntar a ela na apreciação da beleza, mesmo em ocasiões em que ela não possa fornecer a resposta completa; e, da mesma forma que não encontramos falha nos médicos, quando eles, ao examinar alguém, falam ao mesmo tempo da doença em si e das idiossincrasias do paciente, assim também neste caso não devemos objetar que se use como base para os cálculos a nacionalidade, o país e a criação da pessoa em questão, ou quaisquer outras qualidades acidentais existentes.

3. Que ele também é benéfico

De uma forma um pouco resumida demonstrou-se como o prognóstico por meios astronômicos é possível, e que ele não pode ir além do que acontece no ambiente e de suas consequências para o homem de tais causas – ou seja, ele enfoca os surgimentos originais das faculdades e atividades da alma e do corpo, suas doenças ocasionais, suas durações por um período longo ou curto, e, além disso, todas as circunstâncias externas que têm uma conexão diretiva e natural com os dons originais da natureza, como propriedade e casamento no caso do corpo e honra e dignidades no caso da alma, e finalmente o que lhes acontece de tempos em tempos.

A parte restante de nosso projeto seria investigar brevemente sobre sua utilidade, em primeiro lugar distinguindo como e com qual fim em vista nós devemos utilizar o significado da palavra utilidade. Porque, se olharmos para os bens da alma, o que poderia conduzir melhor ao bem viver, ao prazer e à satisfação em geral do que este tipo de previsão, pelo qual adquirimos uma visão completa das coisas humanas e divinas?

E se olharmos para os bens corporais, tal conhecimento, melhor do que qualquer outra coisa, diria o que é conveniente e produtivo para as capacidades de cada temperamento.

Mas se ele não ajuda na aquisição de riqueza, fama, e coisas afins, devemos ser capazes de dizer o mesmo de toda a filosofia, pois ela não fornece nenhuma dessas coisas por si só. Não estaríamos, no entanto, por esta razão, certos em condenar tanto a filosofia quanto esta arte, desprezando suas grandes vantagens.

Em um exame geral pareceria que aqueles que veem um defeito na inutilidade do prognóstico não se interessam pelos assuntos mais importantes, mas apenas por isso – que o conhecimento prévio dos eventos que irão acontecer de qualquer forma é supérfluo; isso, também, é dito sem reservas e sem o devido discernimento.

Pois, em primeiro lugar, devemos considerar que mesmo com eventos que necessariamente ocorrerão, sua imprevisibilidade facilmente causa pânico excessivo e alegria delirante, enquanto o conhecimento prévio acostuma e acalma a alma pela experiência de eventos distantes como se eles estivessem presentes, e a prepara para acolher com calma e serenidade o que vier.

Uma segunda razão é que não devemos acreditar que eventos separados ocorram para a humanidade, como resultado da causa celestial, como se eles tivessem sido ordenados originalmente para cada pessoa por um comando divino irrevogável e destinados a acontecer sem a possibilidade de nenhuma outra causa, qualquer que seja, intervir.

Ao contrário, é verdade que o movimento dos corpos celestes, com certeza, é realizado eternamente de acordo com um destino divino e imutável, enquanto que a mudança nas coisas terrenas está sujeita a um ritmo natural e mutável, que, mesmo recebendo suas causas primeiras do alto, é governado pelo acaso e pela sequência natural.

Além disso, algumas coisas acontecem à humanidade através de circunstâncias gerais e não como resultado das propensões naturais do indivíduo – por exemplo, quando os homens perecem em multidões devido à conflagração de uma peste ou cataclismo, por mudanças monstruosas e inescapáveis no ambiente, pois a causa subordinada sempre deve dar lugar à maior e mais forte; outras ocorrências, no entanto, estão de acordo com o próprio temperamento individual, através de antipatias menores e fortuitas do ambiente.

Pois, se estas distinções são assim feitas, é claro que tanto no geral quanto em particular quaisquer que sejam os eventos que dependam de uma primeira causa, que seja irresistível e mais poderosa que qualquer uma que se oponha a ela, estes devem acontecer de qualquer modo; por outro lado, dos eventos que não têm esta característica, aqueles que possuem forças que lhe resistam, são facilmente evitados, enquanto aqueles que não são, seguem as causas primarias naturais, é claro, mas isso é devido à ignorância e não à necessidade de um poder superior.

Deve-se observar a mesma coisa acontecendo em todos os eventos que tenham causas naturais. Pois, mesmo em se tratando de pedras, plantas, e animais, e também de feridas, acidentes e doenças, algumas são de natureza que devem agir necessariamente, outras que devem agir se nenhuma outra coisa oposta interferir. Deve-se portanto acreditar que os filósofos da natureza preveem o que deve acontecer ao homem, tendo o conhecimento prévio desta característica, e não abordam a sua tarefa sob falsas impressões; pois algumas coisas, porque suas causas eficientes são numerosas e poderosas, são inevitáveis, mas outras pelas razões contrárias podem ser evitadas.

Da mesma forma, aqueles médicos que podem reconhecer doenças sabem quais são sempre fatais e quais que admitem tratamento. No caso de eventos que podem ser modificados devemos dar crédito ao astrólogo, quando, por exemplo, ele diz que para tal e tal temperamento, com tal e tal característica do ambiente, se as proporções fundamentais diminuírem ou aumentarem, tal e tal afeição resultará. Da mesma forma, devemos acreditar no médico, quando ele diz que esta inflamação se espalhará ou causará putrefação, e no mineiro, por exemplo, quando ele diz que a magnetita atrai o ferro. Da mesma forma que cada um destes, se deixado a si mesmo pela ignorância das forças opostas, inevitavelmente se desenvolverá do modo que sua natureza original o compelir, mas nem a inflamação se espalhará ou causará putrefação, se receber tratamento preventivo, nem a magnetita atrairá o ferro, se for esfregada com alho, e estas próprias medidas repressivas também tem sua força de resistência naturalmente e devida ao destino; portanto, também nos outros casos, se acontecimentos futuros em relação ao homem não forem conhecidos, ou se eles forem conhecidos e os remédios não forem aplicados, eles necessariamente irão seguir o curso de sua natureza primária; mas se eles forem reconhecidos antes do tempo e os remédios forem providenciados, novamente completamente de acordo com a natureza e o destino, eles ou não ocorrerão de forma nenhuma ou serão menos severos.

E, em geral, uma vez que esse poder é o mesmo se for aplicado a coisas consideradas universalmente ou particularmente, é de se admirar que todos acreditem na eficácia da previsão em assuntos universais, e em sua utilidade em preservar interesses particulares (pois a maior parte das pessoas admite que têm conhecimento prévio das estações, da significação das constelações, e das fases da Lua, e raciocinam com bastante antecedência para se salvaguardar, sempre obtendo meios de se resfriar para se proteger do verão e de se aquecer durante o inverno, e em geral preparando suas próprias naturezas, tendo a moderação como um objetivo; além do mais, para garantir a segurança das estações e de suas viagens marítimas eles observam os significados das estrelas fixas, e para o início da reprodução e da semeadura, os aspectos da luz da Lua quando está cheia, e ninguém nunca condena estas práticas como impossíveis ou inúteis); mas, por outro lado, quando se considera assuntos particulares e aqueles que dependem da mistura de outras qualidades – como as previsões de aumento ou diminuição, de frio ou calor, e do temperamento individual – algumas pessoas não acreditam nem que o conhecimento prévio seja possível nem que seus conselhos possam ser seguidos em alguns casos.

Mesmo assim, uma vez que é óbvio que, se por acaso nos refrescarmos para contrabalançar o calor em geral, nós sofreremos menos com ele, medidas similares podem se provar eficientes contra forças particulares que aumentam este temperamento particular para uma quantidade desproporcional de calor, pois a causa deste erro é a dificuldade e a falta de familiaridade com a arte de prognosticar em particular, um motivo que em diversas outras situações gera descrédito. E, uma vez que para a grande maioria a faculdade de resistir não está associada com o prognóstico, uma vez que uma disposição tão perfeita é rara, e uma vez que a força da natureza segue o seu curso sem restrições no que diz respeito às naturezas primárias, produziu-se uma opinião de que todos os eventos futuros, sem exceção, são inevitáveis e inescapáveis.

No entanto, creio eu, da mesma forma que, com a previsão, mesmo se não inteiramente infalível, ao menos suas possibilidades merecerão a maior consideração, também no caso da prática defensiva, mesmo que não disponibilize um remédio para tudo, sua autoridade, em alguns casos ao menos, mesmo que poucos ou não importantes, deveriam ser bem-vindos e estimados, e considerados como aproveitáveis em um modo não usual.

Reconhecendo, aparentemente, que essas coisas são desta forma, aqueles que mais avançaram este aspecto da arte, os egípcios, uniram completamente a medicina e a predição astronômica. Pois eles nunca teriam desenvolvido certos meios de evitar, repelir ou remediar as condições universais e particulares que virão ou que já estejam presentes devido ao ambiente, se eles acreditassem que o futuro não pode ser modificado ou movido. Mas, na verdade, eles põem a faculdade de resistir por métodos ordenados naturais em segundo lugar com relação aos decretos do destino, e reconheceram na possibilidade de previsão sua faculdade útil e benéfica, através do que eles chamam de seus sistemas iatromatemáticos (astrologia médica), de modo que por meio da astronomia eles podem ter sucesso em aprender as qualidades das temperaturas subjacentes, os eventos que irão ocorrem no futuro devido ao ambiente, e suas causas especiais, escorados no fato de que sem este conhecimento quaisquer medidas de ajuda irão, na maior parte dos casos, falhar, porque não se aplicam a todos os corpos ou doenças; e, por outro lado, pelos meios da medicina, pelo seu conhecimento do que seja propriamente simpático ou antipático em cada caso, eles, na medida do possível, tomam as medidas de precaução contra as doenças que estão para se manifestar e prescrevem tratamentos infalíveis para as doenças já existentes.

Deixemos que este seja, neste ponto, nosso esboço preliminar resumidamente exposto. Devemos agora conduzir nossa discussão nos moldes de uma introdução, começando com as características de cada um dos corpos celestes em relação a seu poder ativo, de acordo com as observações físicas agregadas a eles pelos antigos, e em primeiro lugar os poderes dos planetas, do Sol e da Lua.

4. Sobre o Poder dos Planetas

Observa-se que o poder ativo da natureza essencial do Sol é aquecer e, em algum grau, secar. Isso se torna ainda mais fácil de perceber no caso do Sol do que para qualquer outro corpo celeste, devido a seu tamanho e à obviedade de suas mudanças sazonais, pois quanto mais ele se aproxima do zênite mais ele nos afeta desta forma.

O poder da Lua consiste principalmente em umedecer, claramente porque ela está perto da Terra e por causa das exalações úmidas que vêm daí. Sua ação então é precisamente esta, na maior parte, amolecer e causar putrefação em corpos, mas ela também tem, moderadamente, a sua parte no poder de aquecer por causa da luz que ela recebe do Sol.

A qualidade de Saturno é principalmente de esfriar e mais raramente, secar, provavelmente porque ele está mais afastado tanto do calor do sol como das exalações úmidas da Terra.

Tanto no caso de Saturno quanto no caso dos outros planetas existem poderes, também, que aparecem através da observação de seus aspectos com o Sol e com a Lua, porque alguns deles parecem modificar as condições do ambiente de uma forma, alguns de outra, por aumento ou diminuição.

A natureza de Marte é principalmente secar e queimar, em conformidade com sua coloração abrasiva e em razão da sua proximidade com o Sol, pois a esfera do Sol está localizada logo abaixo dele.

Júpiter possui uma força ativa temperada, porque seu movimento ocorre entre a influência fria de Saturno e o poder incinerador de Marte. Ele aquece e também umedece, e porque seu poder de cura é o maior em razão das esferas subjacentes, ele produz ventos fertilizantes.

Vênus tem os mesmos poderes e a mesma natureza temperada de Júpiter, mas age de forma oposta, pois ela aquece moderadamente por causa da sua proximidade do Sol, mas umedece principalmente, do mesmo modo como a Lua, por causa da quantidade da sua própria luz e porque ela se apropria das exalações da atmosfera úmida que envolve a Terra.

Mercúrio, em geral, em alguns momentos seca e absorve a umidade, porque ele nunca está muito longe, em longitude, do calor do Sol, e então umedece, porque está próximo, logo acima, da esfera da Lua, que está mais próxima da Terra; e muda rapidamente de uma ação para a outra, inspirado, por assim dizer, pela velocidade de seu movimento nas proximidades do próprio Sol.

5. Sobre os Planetas Benéficos e Maléficos

Uma vez que o que se segue é verdade, dois dos quatro humores são férteis e ativos, o quente e o úmido (porque todas as coisas são unidas e aumentadas por eles), e dois são destrutivos e passivos, o seco e o frio, através dos quais, mais uma vez, todas as coisas são separadas e destruídas, os antigos aceitavam dois dos planetas, Júpiter e Vênus, junto com a Lua, como benéficos por causa de sua natureza temperada e porque eles abundam no calor e na umidade, e Saturno e Marte como produzindo efeitos da natureza oposta, um por causa de seu frio excessivo e o outro por sua secura excessiva: o Sol e Mercúrio, no entanto, são considerados como possuindo ambos os poderes, porque eles possuem uma natureza comum, e juntam suas influências com quaisquer dos outros planetas com os quais eles são associados.

6. Sobre os Planetas Masculinos e Femininos

Mais uma vez, já que há dois tipos primários de natureza, masculino e feminino, e das forças já mencionadas a da umidade é especialmente feminina – pois de uma forma geral este elemento está presente em um grau maior em todas as fêmeas, e as outras estão mais presentes nos machos, de forma acertada a visão que nos foi passada é que a Lua e Vênus são femininas, porque elas compartilham em um grau maior da umidade, e que o Sol, Saturno, Júpiter e Marte são masculinos, e Mercúrio comum aos dois gêneros, pois ele produz tanto secura quanto umidade. Dizem também que as estrelas se tornam masculinas ou femininas de acordo com seus aspectos com o Sol, pois quando elas são estrelas da manhã e precedem o Sol elas se tornam masculinas, e femininas quando são estrelas da tarde e seguem o Sol. Isso também ocorre ainda com sua posição relativa ao horizonte, pois quando elas estão em posições entre o oriente e o meio-céu, ou ainda ente o ocidente e o fundo do céu, eles se tornam masculinas porque estão orientais, mas nos dois outros quadrantes, como estrelas ocidentais, elas se tornam femininas.

7. Sobre os Planetas Diurnos e Noturnos

De modo similar, já que dos dois intervalos mais óbvios entre aqueles que compõem o tempo, o dia é mais masculino por causa do seu calor e da sua força ativa, e a noite mais feminina por causa da sua umidade e do seu dom de repouso, a tradição em consequência estabeleceu que a Lua e Vênus são noturnos, o Sol e Júpiter diurnos, e Mercúrio comum do mesmo modo que antes, diurno quando ele é uma estrela da manhã e noturno quando dele é uma estrela da tarde.

Eles também associaram a cada um dos séquitos as duas estrelas destrutivas, mas não, desta vez, com base no princípio das naturezas similares, mas em seu oposto: pois, quando estrelas com a mesma características são unidas com aquelas de bom temperamento sua influência benéfica é aumentada, mas se estrelas dissimilares forem associadas com as destrutivas grande parte do seu poder de causar dano é aniquilado. Assim eles associaram Saturno, que é frio, ao calor do dia, e Marte, que é seco, à umidade da noite, pois desta forma cada um deles atinge uma boa proporção por mistura e se torna um membro efetivo do séquito, o que concede moderação.

8. Sobre o Poder dos Aspectos com o Sol

Agora, preste atenção, da mesma forma, de acordo com seus aspectos com o Sol, a Lua e três de outros planetas sofrem aumento e diminuição de seus próprios poderes.

Pois ao aumentar da Lua Nova para o quarto crescente a Lua é mais produtora de umidade; na sua passagem de crescente para cheia, de calo; de cheia para minguante, de secura; de minguante para a ocultação, de frio.

Os planetas, no aspecto oriental, somente, são mais produtivos de umidade do nascente até a sua primeira estação (MC), de calor da primeira estação (MC) ao nascer da tarde, de secura do nascer da tarde à segunda estação (FC), de frio da segunda estação (FC) ao nascente.

E é claro que quando eles estão associados uns com os outros eles produzem muitas variações de qualidade no nosso ambiente, sendo a própria força de cada um na maior parte do tempo persistente, mas sendo modificada na quantidade pela força das estrelas que dividem a configuração.

9. Sobre o Poder das Estrelas Fixas

Como o próximo ponto, na ordem, é relatar as naturezas das estrelas fixas, com referência a seus poderes especiais, devemos afirmar suas características observadas em uma exposição como a das naturezas dos planetas, e em primeiro lugar aquelas que ocupam as figuras do próprio zodíaco.

As estrelas na cabeça de Áries, portanto, tem um efeito como o de Marte e de Saturno, misturados; as da boca, igual ao de Mercúrio e moderadamente o de Saturno; as da pata traseira igual ao de Marte e as da cauda igual ao de Vênus.

Sobre as estrelas de Touro, as que estão ao longo da linha onde a figura é cortada têm uma temperatura como a de Vênus e em certa medida como a de Saturno; as das Plêiades, como a da Lua e a de Júpiter; das estrelas na cabeça, a mais brilhante e de certa forma avermelhada das Híades, chamada a Tocha, tem uma temperatura como a de Marte; as outras, como a de Saturno e, moderadamente, como a de Mercúrio; aquelas da ponta dos chifres, como a de Marte.

Sobre as estrelas de Gêmeos, aquelas nos pés compartilham da mesma qualidade que Mercúrio e, em um grau menos, Vênus; as estrelas brilhantes nas coxas, a mesma de Saturno; sobre as duas estrelas brilhantes nas cabeças, a da cabeça da frente tem a mesma de Mercúrio; ela também é chamada a estrela de Apolo; a da cabeça que segue a primeira, a mesma qualidade que Marte; ela também é chamada a estrela de Hércules.

Sobre as estrelas de Câncer, as duas nos olhos produzem o mesmo efeito que Mercúrio, e, em um menor grau, Marte; aquelas das patas, o mesmo que Saturno e Mercúrio; o aglomerado parecido com uma nuvem no peito, chamado de a Manjedoura, o mesmo que Marte e a Lua; e as duas de cada lado dele, que são chamadas de Asses, o mesmo que Marte e o Sol.

Sobre as estrelas de Leão, as duas na cabeça agem da mesma forma que Saturno, e em menor grau, Marte; as três na garganta, da mesma forma que Saturno e em menor grau, Mercúrio; a estrela brilhante no coração, chamada Regulus, da mesma forma que Marte e Júpiter; aquelas nos quadris e a estrela brilhante na cauda, da mesma forma que Saturno e Vênus; e aquelas nas coxas, da mesma forma que Vênus e, em menor grau, Mercúrio.

Sobre as estrelas de Virgem, aquelas na cabeça e aquela sobre a ponta da asa do sul têm um efeito como o de Mercúrio, e, em menor grau, como o de Marte; as outras estrelas brilhantes da asa e as da guirlanda como o de Mercúrio, e em certa medida, o de Vênus; a estrela brilhante na asa do norte, chamada de Vindemiator, como o de Saturno e Mercúrio; a assim chamada Spica, como o de Vênus e em um menor grau, de Marte; aquelas nas pontas dos pés e do trem como o de Mercúrio e em um menor grau, Marte.

Sobre as estrelas das Garras do Escorpião, as que estão bem na extremidade exercem a mesma influência que Júpiter e Mercúrio; aquelas nas partes do meio o mesmo que Saturno e, em um menor grau, Marte.

Sobre as estrelas do corpo do Escorpião, as estrelas brilhantes da fronte agem da mesma forma que Marte em certo grau, Saturno; as três no corpo, sendo que a do meio é avermelhada e bastante brilhante e se chama Antares, o mesmo efeito de Marte e em algum grau, Júpiter; aquelas das juntas, o mesmo efeito de Saturno e, em algum grau, Vênus; aquelas no ferrão, o mesmo de Mercúrio e Marte; e o assim chamado aglomerado com aparência de nuvem, o mesmo de Marte e da Lua.

Sobre as estrelas em Sagitário, aquelas na ponta da sua flecha têm um efeito como o de Marte e da Lua; aquelas no arco e no ponto onde sua mão agarra o arco, como o de Júpiter e Marte; o aglomerado em sua fronte, como o do Sol e de Marte; aquelas no manto e em suas costas, como o de Júpiter e, em menor grau, de Mercúrio; aquelas em seus pés, como o de Júpiter e Saturno; o quadrado sobre a sua cauda, como o de Vênus e, em menor grau, de Saturno.

Sobre as estrelas de Capricórnio, aquelas nos chifres agem da mesma forma que Vênus, e em algum grau, Marte; aquelas na boca, como Saturno e, em algum grau, Vênus; aquelas nos pés e na barriga, como Marte e Mercúrio; e aquelas na cauda, como Saturno e Júpiter.

Sobre as estrelas em Aquário, aquelas nos ombros exercem uma influência como a de Saturno e a da Mercúrio, juntamente com aquelas do braço esquerdo e do manto; aquelas nas coxas, como a de Mercúrio em um maior grau e como a de Saturno em menor grau; aquelas no fluxo d’água, como a de Saturno e, em algum grau, como a de Júpiter.

Sobre as estrelas de Peixes, aquelas na cabeça do peixe mais ao sul agem da mesma forma que Mercúrio e de alguma forma como Saturno; aquelas no corpo, como Júpiter e Mercúrio; aquelas na cauda e na corda do sul, como Saturno, e em algum grau, Mercúrio; aquelas no corpo e na espinha dorsal do peixe do norte, como Júpiter e, em algum grau, Vênus; aquelas na parte norte da corda, como Saturno e Júpiter; e a estrela brilhante no nó, como Marte e, em algum grau, Mercúrio.

Sobre as estrelas em configurações ao norte do zodíaco, as estrelas brilhantes de Ursa Menor têm uma qualidade similar à de Saturno e, em menor grau, a de Vênus; aquelas na Ursa Maior, similar à de Marte; e o aglomerado da Coma Berenices sob a cauda do Urso, à da Lua e de Vênus; as estrelas brilhantes em Draco, à de Saturno, Marte e Júpiter; aquelas de Cepheus, à de Saturno e Júpiter: aquelas de Boötes, à de Mercúrio e de Saturno; a estrela chamada Arcturo, avermelhada brilhante, à de Júpiter e Marte; a estrela na Corona Septentrionalis, à de Vênus e Mercúrio; aquelas no Geniculator, à de Mercúrio; aquelas em Lyra, à de Vênus e Mercúrio; e da mesma forma aquelas em Cygnus. As estrelas em Cassiopeia têm os efeitos de Saturno e Vênus; aquelas em Perseus, de Júpiter e Saturno; o aglomerado no cabo da espada, de Marte e Mercúrio; a estrela brilhante em Auriga, de Marte e Mercúrio; aquelas em Ophiuchus, de Saturno e, em algum grau, Vênus; aquelas na sua serpente, de Saturno e Marte; aquelas em Sagitta, de Marte e, em algum grau, de Vênus; aquelas em Aquila, de Marte e Júpiter; aquelas em Delphinus, de Saturno e Marte; as estrelas brilhantes no Cavalo, de Marte e Mercúrio; aquelas em Andrômeda, de Vênus; aquelas no Triangulum, de Mercúrio.

Sobre as estrelas nas formações ao sul do zodíaco, a estrela brilhante na boca do Piscis Australis tem uma influência similar à de Vênus e Mercúrio; aquelas em Cetus, similar à de Saturno; sobre aquelas em Órion, as estrelas em seus ombros têm influências similares à Marte e Mercúrio; e as outras estrelas brilhantes são similares à de Júpiter e Saturno; das estrelas em Eridanus, a última brilhante tem uma influência como a de Júpiter e as outras, como a de Saturno; a estrela em Lepus, como a de Saturno e Mercúrio; das em Canis, as demais como a de Vênus, e a brilhante na boca, como a de Júpiter e, em menor grau, Marte; a estrela brilhante Procyon, como a de Mercúrio e, em menor grau, a de Marte; as estrelas brilhantes em Hydra, como a de Saturno e Vênus; aquelas em Crater, como a de Vênus, e em um menor grau, de Mercúrio; aquelas em Corvus, como a de Marte e a de Saturno; as estrelas brilhantes de Argo, como a de Saturno e Júpiter; das estrelas de Centaurus, as no corpo humano, como a de Saturno e Júpiter, e as brilhantes no corpo eqüino como a de Vênus e Júpiter; as estrelas brilhantes em Lupus, como a de Saturno e, em menor grau, a de Marte; aquelas em Ara, como a de Vênus e, em menor grau, Mercúrio; e as estrelas brilhantes em Corona Austrais, como a de Saturno e Mercúrio.

Assim, então, são as observações dos efeitos das próprias estrelas como feitas pelos nossos predecessores.

10. Sobre os Efeitos das Estações e dos Quatro Ângulos

Das quatro estações do ano, primavera, verão, outono e inverno, a primavera excede em umidade por causa da sua difusão após o frio ter ido e porque o aquecimento está se estabelecendo; o verão, em calor, por causa da proximidade do sol com o zênite; o outono, em secura, por causa da absorção da umidade durante a estação quente que a precedeu; e o inverno excede no frio, porque o sol está no ponto mais distante do zênite.

Por esta razão, embora não haja um início natural do zodíaco, sendo ele um círculo, assume-se que o signo que começa com o equinócio vernal, ou seja, o de Áries, seja o ponto inicial de todos, tornando a umidade excessiva da primavera a primeira parte do zodíaco, como se ele fosse uma criatura vivente, e tomando por ordem em seguida as estações remanescentes, porque em todas as criaturas, as idades mais jovens, como a primavera, tem uma maior quantidade de umidade e são mais tenras e ainda delicadas.

A segunda idade, até o ápice da vida, excede em calor, como o verão; a terceira, quando o ápice já passou e se está no início do declínio, há um excesso de secura, como no outono; e a última, que se aproxima da dissolução, excede no frio, como o inverno.

De forma similar, das quatro regiões e ângulos do horizonte, dos quais, a partir dos pontos cardeais, os ventos se originam, o leste do mesmo modo excede em secura porque, quando o sol está nesta região, qualquer coisa que tenha sido umedecida pela noite começa então a secar, e os ventos que sopram desta região, os quais chamamos de Apeliotes, em geral, são sem umidade e de efeito secante.

A região ao sul é a mais quente por causa do calor abrasivo das passagens do sol pelo meio do céu e porque essas passagens, por causa da inclinação do nosso mundo habitado, se voltam mais, e os ventos que sopram de lá são chamados pelo nome geral de Notus e são quentes e rarefeitos.

A região ao oeste é ela mesma úmida, porque quando o sol está lá as coisas que secaram durante o dia começam então a se umedecer; da mesma forma, os ventos que ventam desta parte, que chamamos pelo nome geral de Zephyrus, são frescos e úmidos.

A região ao norte é a mais fria, porque através da inclinação do nosso mundo habitado ela é muito afastada das causas de aquecimento que surgem pela culminação do sol, e quando o sol está lá, também está em sua culminação mínima; e os ventos que ventam de lá, que são chamados pelo nome geral de Boreas, são frios e de efeito condensador.

O conhecimento destes fatos é útil para permitir que se forme um julgamento completo das temperaturas em exemplos individuais. Pois é facilmente reconhecido que, junto com condições como essas, de estações, de idades, ou de ângulos, há uma variação correspondente na potência das faculdades das estrelas, sendo que em condições similares a elas sua qualidade é mais pura e sua eficiência mais forte, como por exemplo aquelas que por sua natureza aquecem, por exemplo, no calor, e aquelas que por sua natureza umedecem, na umidade, enquanto que sob condições opostas seu poder fica adulterado e mais fraco. Assim, as estrelas que aquecem nos períodos frios e as estrelas que umedecem nos períodos secos ficam mais fracas, e de forma similar nos outros casos, de acordo com a qualidade produzida pela mistura.

11. Sobre os signos Solsticiais, Equinociais, Sólidos e Bicorpóreos

Após a explicação destas matérias o próximo assunto a ser exposto seriam as características naturais dos próprios signos zodiacais, da forma que foram estabelecidas pela tradição. Pois, embora seus temperamentos mais gerais sejam, cada um, análogos às estações que ocorrem neles, algumas qualidades peculiares suas surgem de sua relação com o Sol, a Lua e os planetas, como iremos relatar no que se segue, primeiro expondo os poderes isolados dos próprios signos sozinhos, considerados tanto absolutamente como em relação uns com os outros.

As primeiras distinções, então, são entre os assim chamados signos solsticiais, equinociais, sólidos e bicorpóreos.
Pois existem dois signos solsticiais, o primeiro intervalo de 30° a partir do solstício de verão, o signo de Câncer, e o primeiro a partir do solstício de inverno, Capricórnio; e eles receberam seus nomes do que ocorre neles, porque o Sol retorna quando ele está no começo de um desses signos e reverte seu progresso latitudinal, causando o verão em Câncer e o inverno em Capricórnio.

Dois signos são chamados de equinociais, o que é o primeiro a partir do equinócio da primavera, Áries, e o que começa com o equinócio do outono, Libra; e eles também recebem este nome devido ao que acontece neles, porque quando o sol está no começo destes signos ele faz as noites terem a exata mesma duração dos dias.

Dos signos restantes, quatro são chamados sólidos e quatro são chamados bicorpóreos.

Os signos sólidos, Touro, Leão, Escorpião e Aquário, são aqueles que seguem os signos solsticiais e equinociais; e eles são chamados assim porque quando o Sol está neles a umidade, o calor, a secura e o frio das estações que começam nos signos precedentes nos toca de forma mais firme, não que o clima seja naturalmente de qualquer modo menos ameno nesta época, mas nós é que estamos mais acostumados a eles e por esta razão somos mais sensíveis a seu poder.

Os signos bicorpóreos, Gêmeos, Virgem, Sagitário e Peixes, são aqueles que seguem os signos sólidos, e são chamados assim porque eles estão entre os signos sólidos e os solsticiais e equinociais e compartilham, por assim dizer, no começo e no final, as propriedades naturais dos dois estados do clima.

12. Sobre os Signos Masculinos e Femininos

Novamente, da mesma forma, os antigos apontaram seis dos signos como de natureza masculina e diurna e um número igual como da natureza feminina e noturna.

Uma ordem alternante foi imposta a eles porque o dia sempre domina a noite e está sempre próximo dela, e do mesmo modo são a fêmea e o macho.

Assim, como Áries é considerado o ponto inicial pelas razões que mencionamos, e como o macho da mesma forma comanda e possui o primeiro lugar, uma vez que, também, o ativo é sempre superior ao passivo em poder, os signos de Áries e Libra foram considerados como masculinos e diurnos, sendo que uma razão adicional é o fato de que o círculo equinocial que é inscrito através deles completa o movimento mais poderoso e primário de todo o universo. Os signos em sucessão após eles correspondem, como dissemos, em ordem alternada.

Alguns, no entanto, empregam uma ordem de signos masculinos e femininos pela qual o masculino se inicia com o signo que está ascendendo, chamado de horóscopo. Pois, da mesma forma que alguns começam os signos solsticiais com o signo da Lua porque a Lua muda de direção de forma mais rápida do que o resto, da mesma forma eles começam os signos masculinos com o horóscopo porque ele está mais para o leste, alguns, como antes, utilizando a ordem alternada dos signos, e outros os dividindo por quadrantes inteiros, e designando como matutinos e masculinos os signos do quadrante do horóscopo ao meio do céu e os do quadrante oposto, do ocidente ao fundo do céu, e como vespertinos e femininos os outros dois quadrantes.

Tem outras descrições para os signos, derivadas de seus formatos: eu me refiro, por exemplo, a “de quatro patas”, “terrestres”, “comandantes”, “fecundos”, e designações similares. Consideramos que a enumeração destas denominações, já que sua razão e sua significação são diretamente deriváveis, são supérfluas, uma vez que a qualidade resultante destas conformações pode ser explicada em conexão com as predições onde isto for claramente útil.

13. Sobre os Aspectos dos Signos

Das partes do zodíaco, as que são mais familiares umas com as outras são as que estão em aspecto. Estes são os que estão em oposição, que compreende dois ângulos retos, seis signos, e 180 graus; os que estão em trígono, que compreende um ângulo reto e um terço, quatro signos, e 120 graus; os que se diz que estão em quartil, compreendendo um ângulo reto, três signos, e 90 graus, e finalmente os que ocupam a posição de sêxtil, que compreende dois terços de um ângulo reto, dois signos e 60 graus.

Iremos aprender, do que se segue, porque apenas estes intervalos foram levados em consideração.

A explicação da oposição é imediatamente óbvia, porque ela faz com que os signos estejam em uma linha reta. Mas se tomarmos as duas frações e os dois superparticulares mais importantes em música, e se as frações um meio e um terço forem aplicadas à oposição, compostas de dois ângulos retos, o meio faz o quartil (90º) e o terço o sêxtil e o trígono. Dos superparticulares, se o sesquialter e o serquitertian forem aplicados ao intervalo de quartil de um ângulo reto, que se posiciona entre eles, o sesquialter produz a proporção do quartil para o sêxtil e o sesquitertian a proporção do trígono para o quartil. Destes aspectos, o trígono e o sêxtil são chamados de harmônicos porque eles são compostos de signos do mesmo tipo, tanto completamente de signos femininos ou completamente de signos masculinos; enquanto o quartil e a oposição são inarmônicos porque são compostos de signos de tipos opostos.

14. Sobre Os Signos Comandantes e Obedientes

Da mesma forma, os nomes “comandantes” e “obedientes” se aplicam às divisões do zodíaco que se dispõem em distâncias iguais do mesmo signo equinocial, qualquer que seja, porque eles ascendem em um período igual de tempo e estão em paralelos iguais. Destes, os que estão no hemisfério de verão são chamados de “comandantes”, enquanto os que estão no hemisfério de inverno, “obedientes”, porque o sol faz o dia mais longo que a noite quando ele está no hemisfério de verão, e mais curto no inverno.

15. Sobre os Signos que se Observam e sobre os Signos de Mesmo Poder

Mais uma vez, dizem que as partes que estão igualmente afastadas do mesmo signo tropical, qualquer que seja, têm o mesmo poder, porque quando o Sol entra em qualquer um deles, os dias são iguais aos dias e as noites às noites, e as durações das suas próprias horas são iguais. Eles também são considerados como “observando” uns aos outros tanto pelas razões apresentadas quanto pelo fato de que o par ascende pela mesma parte do horizonte e se põe na mesma parte.

16. Sobre os Signos Disjuntos

Signos “disjuntos” e “estranhos” são os nomes aplicados para aquelas divisões do zodíaco que não têm quaisquer das familiaridades mencionadas acima uns com os outros. Esses são os signos que não pertencem nem à classe dos signos Comandantes ou Obedientes, nem à classe dos que se observam ou que têm o mesmo poder, e além disso eles estão completamente desprovidos dos quatro aspectos mencionados acima, oposição, trígono, quadratura e sêxtil, e estão um ou cinco signos distantes um do outro, pois aqueles que estão um signo distantes uns dos outros são como se tivessem aversão uns aos outros, e, embora sejam dois, estão ligados ao ângulo de um, e aqueles que estão cinco signos distantes uns dos outros dividem o círculo inteiro em partes diferentes, enquanto que os outros aspectos perfazem uma divisão equitativa do perímetro.

17. Sobre os Domicílios dos Diversos Planetas

Os planetas também têm familiaridade com as partes do zodíaco, que devido a isso são denominadas seus domicílios, triângulos (triplicidades), exaltações, termos, entre outros.

O sistema de domicílios é da seguinte natureza. Uma vez que dos doze signos os mais ao norte, que estão mais próximos do que os outros do nosso zênite e são portanto mais produtores de calor são Câncer e Leão, designaram estes dois signos como domicílios dos maiores e mais poderosos corpos celestiais, ou seja, os luminares, Leão, que é masculino, ao Sol e Câncer, que é feminino, à Lua.

Com o mesmo raciocínio, consideraram o semicírculo de Leão a Capricórnio como solar e o de Aquário a Câncer como lunar, de forma que em cada um dos semicírculos um signo seria consignado a cada um dos cinco planetas como seu, um signo fazendo aspecto com o Sol e outro com a Lua, consistentemente com as esferas de seu movimento e as peculiaridades de suas naturezas.

Pois a Saturno, em cuja natureza o frio prevalece, em oposição ao calor, e que ocupa a órbita mais alta e mais distante dos luminares, foram designados os signos opostos a Câncer e Leão, especificamente Capricórnio e Aquário, com a razão adicional que estes signos são frios e invernais, e além disso seu aspecto diamétrico não é consistente com a beneficência.

A Júpiter, que é moderado e está abaixo da esfera de Saturno, foram designados os dois signos próximos dos anteriores, fecundos e com bastante vento, Sagitário e Peixes, em um aspecto triangular com os luminares, que é uma configuração harmoniosa e beneficente.

Então, a Marte, que é seco por natureza e ocupa uma esfera abaixo da de Júpiter, foram designados novamente os signos contíguos aos anteriores, Escorpião e Áries, que possuem uma natureza similar e, de forma concordante com a Natureza destrutiva e desarmônica de Marte, em aspecto de quadratura com os luminares.

A Vênus, que é temperada e está abaixo de Marte, foram dados os dois signos seguintes, que são extremamente férteis, Libra e Touro. Estes dois preservam a harmonia do aspecto sextil; outra razão é que este planeta nunca está mais de sois signos afastado do Sol, em qualquer direção.

Finalmente, foram dados a Mercúrio, que nunca está mais de um signo afastado do Sol em qualquer direção e está abaixo dos outros e mais perto de certa forma de ambos os luminares, os dois signos remanescentes, Gêmeos e Virgem, que estão próximos dos domicílios dos luminares.

18. Sobre os Triângulos (Triplicidades)

A familiaridade dos triângulos é a seguinte. Na medida em que a forma triangular equilateral é a mais harmoniosa em si mesma, o zodíaco também é limitado por três círculos, o equinocial e os dois trópicos, e suas doze partes são divididas em quatro triângulos equilaterais.

O primeiro deles, que passa por Áries, Leão e Sagitário, é composto de três signos masculinos e inclui os domicílios do Sol, de Marte e de Júpiter. Esse triângulo foi dado ao Sol e a Júpiter, uma vez que Marte não é do séquito solar.

O Sol assume o governo em primeiro lugar durante o dia e Júpiter durante a noite. Além disso, Áries está próximo do círculo equinocial, Leão do solstício de verão e Sagitário do solstício de inverno. Este triângulo é preeminentemente do norte por causa da partilha de seu governo com Júpiter, uma vez que Júpiter é fecundo e causador de ventos similares aos ventos do norte. No entanto, por causa do domicílio de Marte ele sofre uma mistura de sudoeste e é Borrolibycon, misto, porque Marte causa esses ventos e também por causa do séquito da Lua e da qualidade feminina do ocidente.

O segundo triângulo, que é o que é desenhado através de Touro, Virgem e Capricórnio, é composto por três signos femininos, e consequentemente foi dado à Lua e Vênus.

A Lua o governa de noite e Vênus de dia. Touro está perto do trópico de verão; Virgem, do equinócio, e Capricórnio do trópico de inverno. Este triângulo é principalmente do sul por causa da dominância de Vênus, uma vez que é esta estrela, através do calor e da umidade, que produz ventos similares aos do sul; no entanto, como ele recebe uma mistura de Apeliotes – já que o domicílio de Saturno, Capricórnio, está incluído nele – ele é Notapeliotes, misto, em contraste com o primeiro triângulo, uma vez que Saturno produz ventos deste modo e está relacionado ao primeiro grupo porque participa do séquito do Sol.

O terceiro triângulo é o desenhado através de Gêmeos, Libra e Aquário, compostos por três signos masculinos, não tendo nenhuma relação com Marte, mas ao contrário, com Saturno e Mercúrio por causa de seus domicílios.

Ele foi dado, por sua vez, a eles, com Saturno governando durante o dia devido a seu séquito e Mercúrio durante a noite. O signo de Gêmeos se localiza próximo ao trópico de verão, Libra ao equinócio e Aquário ao trópico de inverno. Este triângulo também é primariamente de constituição leste, por causa de Saturno, mas por mistura nordeste, porque o séquito de Júpiter tem familiaridade com Saturno, na medida em que ele é diurno.

O quarto triângulo, o que é desenhado através de Câncer, Escorpião e Peixes, foi deixado ao único planeta remanescente, Marte, que está relacionado a ele através de seu domicílio, Escorpião; e junto com ele, devido a seu séquito e à feminilidade dos signos, seus co-regentes são a Lua durante o dia e Vênus durante a noite. Câncer está próximo do círculo do verão, Escorpião ao círculo de inverno e Peixes ao equinócio. Este triângulo é constituído preeminentemente de oeste, porque ele está dominado por Marte e a Lua; no entanto, por mistura ele se torna sudoeste através da dominação de Vênus.

19. Sobre as Exaltações

As assim chamadas exaltações dos planetas têm a seguinte explicação. Uma vez que o Sol, quando está em Áries, está fazendo sua transição para o semicírculo maior e mais ao norte, e em Libra ele está passando para o semicírculo menor e mais ao sul, os antigos de forma acertada deram Áries a ele como sua exaltação, uma vez que lá a duração do dia e seu poder de aquecimento começam a crescer, e Libra como sua depressão pelas razões opostas.

Novamente, Saturno, de forma a ter uma posição oposta à do Sol, como também é no assunto de seus domicílios, considera, ao contrário, Libra como sua exaltação e Áries como sua depressão, pois quando o calor aumenta o frio diminui, e onde o primeiro diminui, o frio ao contrário aumenta.

Uma vez que a Lua, se fizer uma conjunção com o Sol na exaltação deste, Áries, irá mostrar sua primeira fase e começará a aumentar sua luz e, por assim dizer, sua altura, no primeiro signo de seu próprio triângulo, Touro, este foi denominado sua exaltação, e o signo diametralmente oposto, Escorpião, como sua depressão.

Júpiter, então, que produz os fecundos ventos do norte, atinge sua posição mais ao norte em Câncer e aí leva sua própria força à completude; assim tornaram este signo sua exaltação e Capricórnio sua depressão.

Marte, que por sua natureza é abrasante e se torna mais ainda assim quando está em Capricórnio porque nele ele está mais afastado ao sul, naturalmente recebeu Capricórnio como sua exaltação, e ao contrário de Júpiter, Câncer como sua depressão.

Vênus, no entanto, já que ela é úmida por natureza e aumenta seu próprio poder da forma mais forte em Peixes, onde o começo da úmida primavera é indicado, têm a sua exaltação em Peixes e a sua depressão em Virgem.

Mercúrio, pelo contrário, uma vez que ele é mais árido, em contraste é naturalmente exaltado, por assim dizer, em Virgem, no qual o seco outono é significado, e é deprimido em Peixes.

20. Disposições dos Termos

Com relação aos termos, dois sistemas principais estão mais em circulação; o primeiro é egípcio, o qual está baseado primeiramente no governo dos domicílios, e o segundo é caldeu, que se baseia no governo das triplicidades.

Pois bem, o sistema egípcio dos temos comumente aceitos não preserva de forma alguma a consistência nem da ordem nem da quantidade individual, pois, em primeiro lugar, na questão da ordem, eles em algumas vezes deram o primeiro lugar para os senhores dos domicílios e em outras para os senhores das triplicidades; até mesmo para os senhores das exaltações. Por exemplo, se é verdade que eles seguiram os domicílios, porque eles deram precedência a Saturno, por exemplo, em Libra, e não a Vênus, e porque a Júpiter em Áries, e não a Marte? E se eles seguiram as triplicidades, porque deram a Mercúrio, e não a Vênus, o primeiro lugar em Capricórnio? Ou caso tenham seguido as exaltações, porque dar a Marte, e não a Júpiter, a precedência em Câncer; e se eles observaram os planetas que tem o maior número dessas qualificações, porque deram o primeiro lugar em Aquário em Mercúrio, que tem apenas a sua triplicidade ali, e não a Saturno, pois ele é tanto o domicílio quanto a triplicidade deste planeta? Ou porque eles deram o primeiro lugar a Mercúrio em Capricórnio, acima de tudo, uma vez que ele não tem nenhuma relação de governo com este signo? É possível encontrar o mesmo tipo de coisas no resto do sistema.

Em segundo lugar, o numero de termos manifestamente não possui consistência, porque o número derivado de cada planeta a partir da adição de seus termos em todos os signos, de acordo com o que eles dizem que os planetas determinam anos de vida, não fornece nenhum argumento adequado ou aceitável. No entanto, mesmo se confiarmos no número derivado desta soma, de acordo com essa simples proposição dos egípcios, descobriríamos que a soma seria a mesma, mesmo que as quantidades, signo a signo, frequentemente mudem de várias formas. E em relação à afirmação espúria e sofista sobre eles que alguns tentam fazer, ou seja, que o número de vezes dados a cada planeta individual pelo esquema de ascensões em todos os climas se soma a essa mesma quantia, ela é falsa, pois, em primeiro lugar, eles seguem o método comum, baseado em aumentos regularmente maiores nas ascensões, o que não está nem perto da verdade. De acordo com este esquema, os signos Virgem e Libra, no paralelo que corta o Baixo Egito, ascenderiam, cada um, em 38 e 1/3 unidades de tempo, e Leão e Escorpião, cada um, em 35, embora esteja demonstrado pelas tabelas que esses signos ascendem em mais de 35 e Vigem e Libra em menos. Além do mais, aqueles que tentaram estabelecer esta teoria nem mesmo parecem seguir o número comumente aceito de termos, e são compelidos a realizar diversas falsas afirmações, chegando mesmo a usar a parte não inteira das frações em uma tentativa de salvar sua hipótese, que, como dissemos, nem é em si mesma verdadeira.

21. De Acordo com os Caldeus

O método caldeu envolve uma sequência, simples, com certeza, e mais plausível, embora não tão autossuficiente em relação ao governo das triplicidades e à disposição da quantidade, de forma que, ao contrário, ela fosse facilmente inteligível mesmo sem um diagrama. Pois na primeira triplicidade, Áries, Leão e Sagitário, que tem neste caso as mesmas divisões por signos que no sistema dos egípcios, o senhor da triplicidade, Júpiter, é o primeiro a receber termos, e então o senhor do próximo triângulo, Vênus, e então o senhor do triângulo de Gêmeos, Saturno, e Mercúrio, e finalmente o senhor da triplicidade restante, Marte. Na segunda triplicidade, Touro, Virgem e Capricórnio, que novamente tem a mesma divisão por signos, Vênus vem primeiro, então Saturno, e então Mercúrio, após esses, Marte, e finalmente, Júpiter. Esse arranjo de uma forma geral é observado também nas duas triplicidades restantes. Sobre os dois senhores da mesma triplicidade, no entanto, Saturno e Mercúrio, de dia é Saturno que toma o primeiro lugar na ordem de posse, e à noite, Mercúrio. O número designado a cada um também é uma questão simples, pois para que o número de termos de cada planeta seja sempre menor em um grau do que o precedente, para corresponder com a ordem descendente no qual o primeiro lugar é decidido, eles sempre dão 8° ao primeiro, 7° ao segundo, 6° ao terceiro, 5° ao quarto e 4° ao último; assim se completam os 30° de um signo. A soma do número de graus assim dados a Saturno é de 78 durante o dia e 66 à noite, a Júpiter 72, a Marte 69, a Vênus 75, a Mercúrio 66 durante o dia e 78 à noite; o total é de 360 graus.

Pois bem, desses termos aqueles que são constituídos pelo método egípcio são, como dissemos, mais dignos de crédito, tanto devido à forma na qual eles foram coletados pelos escritores egípcios que os julgaram dignos de registro devido à sua utilidade, quanto por causa de na maior parte do tempo os graus desses termos terem sido consistentes com as natividades que foram registradas por eles como exemplos.

Como estes mesmos escritores, no entanto, não explicam em nenhum lugar a disposição de seus números, sua incapacidade de concordar em uma explicação do sistema pode bem se tornar objeto de suspeita e alvo de críticas.

Recentemente, por outro lado, chegou até nós um manuscrito antigo, muito danificado, que contém uma explicação natural e consistente de sua ordem e  número, e ao mesmo tempo percebemos que os graus relatados nas natividades acima mencionadas e os números dados nas somas concordaram com a tabulação dos antigos.

O livro era muito alongado em suas expressões, muito excessivo em suas demonstrações, e seu estado danificado o tornou difícil de ler, de modo que eu mal pude fazer uma ideia de seu propósito geral; e isso apesar da ajuda fornecida pelas tabulações dos termos, melhor preservadas porque estavam localizadas no fim do livro.

Com relação ao seu arranjo dentro de cada signo, as exaltações, as triplicidades e os domicílios foram levados em consideração. De maneira geral, a estrela que tiver duas regências deste tipo no mesmo signo é posta em primeiro lugar, mesmo que ela seja maléfica.

Entretanto, onde quer que esta condição não exista, os planetas maléficos são sempre postos por último, e os senhores da exaltação em primeiro, os senhores da triplicidade em seguida e então os do domicílio, seguindo a ordem dos signos. E, novamente, em ordem, aqueles que têm duas senhorias têm preferência sobre os que têm apenas uma no mesmo signo. Uma vez que não se dá termos para os luminares, no entanto, Câncer e Leão, os domicílios do Sol e da Lua, são dados aos planetas maléficos porque eles foram privados de sua parte na ordem, Câncer a Marte e Leão a Saturno; nestes a ordem apropriada a eles é preservada.

Com relação ao número dos termos, quando não há nenhuma estrela com duas prerrogativas, nem no signo mesmo nem nos que o seguem dentro do quadrante, são concedidos a cada um dos benéficos, ou seja, Júpiter e Vênus, 7º, aos maléficos, Saturno e Marte, 5º cada e a Mercúrio, que é comum 6º, de forma que o total perfaz 30º. Entretanto, uma vez que alguns sempre têm duas prerrogativas, pois Vênus sozinha se torna a regente da triplicidade de Touro, já que a Lua não participa nos termos, é dado a cada um dos planetas nesta condição, seja no mesmo signo ou nos signos seguintes no mesmo quadrante, um grau extra; esses foram marcados com pontos; os graus, no entanto, adicionados por causa da prerrogativa dupla são retirados dos outros, que têm somente uma, e de forma geral, de Saturno e de Júpiter porque eles têm o movimento mais lento.

22. Sobre os Lugares e Graus

Alguns autores ainda realizaram divisões mais finas de regência do que essas, utilizando os termos “lugares” e “graus”.

Definindo “lugar” como a décima segunda parte de um signo, ou 2 1/2°, deram o domínio sobre eles aos signos, na ordem.

Outros seguem outras ordens ilógicas; e novamente deram a cada “grau” a partir do começo a cada um dos planetas de cada signo de acordo com a ordem caldeia de termos. Iremos omitir esses assuntos, já que foram apresentados a seu favor argumentos apenas plausíveis e não naturais, mas ao contrário, sem fundamentos.

Não devemos ignorar o assunto seguinte, no entanto, sobre o qual vale a pena permanecer um certo tempo, que é o fato de ser razoável que consideremos os inícios dos signos também a partir dos equinócios e solstícios, em parte porque os escritores deixaram este ponto bem claro, e em parte porque, a partir de nossas demonstrações anteriores, observamos que suas naturezas, poderes e familiaridades têm sua causa nos pontos iniciais dos solstícios e dos equinócios, e de nenhuma outra fonte.

Pois, se outros pontos iniciais são presumidos, não seremos mais compelidos a utilizar as naturezas dos signos para prognósticos, ou, se as utilizarmos, estaremos errados, uma vez que os espaços do zodíaco que conferem os poderes aos planetas os passariam a outros e se tornariam, então, alienados.

23. Sobre as Faces, Carruagens e Assemelhados

Tais são, então, as afinidades naturais das estrelas e dos signos do zodíaco. Dizem que os planetas estão em sua “própria face” quando um planeta individual mantém com a Lua ou o Sol o mesmo aspecto que o seu domicílio mantém com os seus domicílios; por exemplo, quando Vênus está em sextil com os luminares, desde que ela esteja ocidental ao Sol e oriental à Lua, de acordo com o arranjo natural de seus domicílios.

Considera-se que eles estejam em sua própria “carruagem” e “trono” e coisas similares quando acontece que eles tenham familiaridade em dois ou mais modos com os lugares nos quais se encontram; pois então a efetividade do seu poder aumenta bastante devido à similaridade e à cooperação das propriedades familiares dos signos que os contêm.

Considera-se que eles se “regozijem” quando, mesmo que os signos que os contenham não possuam familiaridades com as estrelas em si, no entanto eles as possuem com estrelas do mesmo séquito; desta forma, a simpatia surge menos diretamente. Eles compartilham, no entanto, da similaridade da mesma forma; assim como, ao contrário, quando eles se encontram em regiões estranhas pertencentes ao séquito oposto, uma grande parte de seus próprios poderes é paralisada, porque o temperamento que surge da dissimilaridade dos signos produz uma natureza diferente e adulterada.

24. Aplicações e Separações e os outros Poderes

Em geral, aqueles que precedem são considerados como “se aplicando” a aqueles que se seguem, e aqueles que se seguem como “se separando” daqueles que precedem, quando o intervalo entre eles não é grande.

Considera-se que uma relação como essa exista tanto se ocorrer uma conjunção corporal quanto se ocorrer um dos aspectos tradicionais, exceto que em relação às aplicações e separações corporais dos astros celestes é útil, também, observar suas latitudes, de modo que apenas aquelas passagens que forem do mesmo lado da eclíptica possam ser aceitas.

No caso das aplicações e separações por aspecto, no entanto, essa prática é supérflua, porque todos os raios sempre caem de qualquer direção e convergem da mesma forma para o mesmo ponto, ou seja, para o centro da Terra. De tudo isto, então, é fácil ver que a qualidade de cada uma das estrelas deve ser examinada com relação tanto às suas próprias características quanto com relação aos signos que as incluem, ou do mesmo modo com relação à característica de seus aspectos com o sol e com os ângulos, da forma como explicamos. Seus poderes devem ser determinados, em primeiro lugar, do fato de que eles estejam orientais e aumentando seu próprio movimento – pois eles estão então mais poderosos – ou ocidentais e diminuindo em velocidade, pois então sua energia é menor. Em segundo lugar, deve ser determinada da sua posição relativa ao horizonte; pois elas estão mais poderosas quando estão no meio do céu ou se aproximando dele, e depois quando eles estão exatamente no horizonte ou no local sucedente, seu poder é maior quando eles estão no oriente, e menor quando eles culminam abaixo da terra ou estão em algum outro aspecto ao oriente; se eles não fizerem nenhum aspecto com o oriente, eles estão totalmente sem poder.


 

Tetrabiblos de Ptolomeu II

 


O Tetrabiblos na História: Um Percurso de Traduções da Obra Astrológica de Ptolomeu

Introdução

Este artigo tem a intenção de apresentar a trajetória de uma das obras mais celebradas da história da astrologia: o Tetrabiblos, de Cláudio Ptolomeu. Para isso, montaremos aqui uma visão do cenário em que esse texto veio à luz e também alguns episódios do seu percurso de traduções ao longo do tempo. Decerto, essas passagens têm como referência o tratado astrológico de Ptolomeu, escrito em grego, na Alexandria do século II. Entretanto, como veremos, reconstruir essa rota não é uma tarefa trivial, posto que, embora seja evidente o caráter de anterioridade do original grego, é na tradução que o original se renova no âmbito de línguas que estão vivas, em constante metamorfose e suscitando novas traduções. Nesse sentido, podemos dizer que é por meio de um processo tradutório que nos aproximamos da obra em questão, o que evidencia o papel dos estudos da tradução no descortinamento de novos horizontes para os estudos históricos, literários e culturais das ciências, em especial, da astrologia.

Entendida a tradução como a realidade histórica do nosso texto – um constructo histórico –ficamos mais à vontade para lidar com o material que chegou até nós, colocando em segundo plano o problema de estabelecer o original, que, no caso de obras antigas, é uma tarefa hercúlea. O original do Tetrabiblos, por exemplo, já não existe mais, porém ele chegou até os dias de hoje na forma de manuscritos e livros, que são cópias, traduções ou comentários do original de Ptolomeu, feitos em locais e tempos distintos e nas mais diversas línguas. Como veremos, as traduções para o árabe, para o latim e para os vernáculos, cada qual num contexto cultural diferente, atendendo a demandas de saber e poder diversas, definem uma trajetória que, ao mesmo tempo em que constitui a história desse texto e de suas traduções, também esclarece aspectos obscuros da própria astrologia e das relações de poder que se estabelecem entre astrologia e ciência desde a antiguidade.

Trata-se aqui, portanto, de uma breve biografia de uma obra canônica da literatura astrológica. É comum encontrarmos biografias de astrólogos, contudo, há uma lacuna na história da astrologia em relação às biografias de textos astrológicos. Para entendermos a relevância de uma biografia de texto, basta pensarmos que a prática astrológica, como qualquer outra, tem como objeto de disseminação, e até mesmo condição de possibilidade, justamente a sua produção textual. Além disso, o que sabemos hoje sobre os eruditos do passado é resultado dos trabalhos que produziram, que se mantêm vivos por meio de textos considerados canônicos por uma certa tradição ou comunidade de pesquisa. No nosso caso, o Tetrabiblos é uma obra importante para a comunidade astrológica, mas pouco se sabe da sua biografia.

Parafraseando José Ortega y Gasset, “um texto é um texto e sua circunstância”*, ou seja, uma escrita não se tece de maneira asséptica, ela é perpassada pelos sentidos que a rodeiam. Sentidos estes que se engendram sob os modelos ideológicos e poetológicos vigentes. Dessa maneira, postulamos aqui que cada contexto que gera uma tradução do Tetrabiblos merece ser investigado na sua particularidade como produtor de uma obra que veicula as ideias de Ptolomeu, mas que também conta com a intervenção de agentes que não podem ser neutros – o tradutor e o patrocinador –, já que eles também estão enredados em suas circunstâncias. O mesmo se aplica, evidentemente, a quem descreve esse percurso, que é também uma perspectiva, por definição peculiar e parcial. Neste trabalho, o foco será no encontro entre história da ciência, estudos da tradução e astrologia, de onde nasce um recorte híbrido, às vezes pendendo para um lado, às vezes para outro, mas tendo sempre como referência básica o papel da tradução na transmissão do saber astrológico.

* Referência à fórmula de Ortega y Gasset, “eu sou eu e minha circunstância”, que anuncia seu peculiar perspectivismo: “Não existem mais que partes da realidade; o todo é a abstração das partes e delas necessita. […] Quando nos abandonaremos à convicção de que o ser definitivo do mundo não é matéria, nem alma, nem coisa nenhuma determinada, e sim, uma perspectiva? […] Havemos de buscar para nossa circunstância, tal e como ela é, precisamente no que tem de limitada e peculiar, o lugar acertado na imensa perspectiva do mundo”.

Alguns Subsídios Teóricos

Neste momento, pretendemos conectar os estudos da tradução e os estudos da ciência não só por acreditarmos na via interdisciplinar como fator de enriquecimento acadêmico, como também por percebermos a compatibilidade das discussões nos dois campos de estudo, que, igualmente, passaram por “viradas” histórico-sociológicas nas três últimas décadas. É exatamente dessas viradas que se originaram seus rótulos atuais, Translation Studies e Science Studies, numa tentativa de afastamento das concepções tradicionais de tradução e ciência implicadas em seus respectivos campos de estudos.

Tanto nos estudos da tradução quanto nos da ciência, tem havido um esvaziamento dos modelos tradicionais adotados, notadamente essencialistas, normativos e demarcacionistas, preocupados em ditar regras universais, a priori e distintivas tanto para a tradução quanto para a ciência. Nos estudos da tradução, essas abordagens prescritivistas, que se preocupam em ensinar a fazer uma tradução com base em regras que sirvam em qualquer caso, sempre predominaram desde as primeiras reflexões sobre tradução, usualmente reputadas a Marco Túlio Cícero (século I a.C.), até as propostas teóricas de base linguística do século XX, como as de Eugene Nida e J. C. Catford. A partir dos anos 70, começam a soprar novos ventos nos estudos da tradução, em muito identificados ao pós-estruturalismo, aos estudos culturais e à hermenêutica. É aí que se inscrevem os estudos descritivos da tradução (DTS), em cujo posicionamento teórico nos deteremos. O termo “estudos descritivos” foi usado pela primeira vez por Itamar Even-Zohar e Gideon Toury, da Escola de Tel Aviv, na década de 70. Ao contrário do que possa parecer, os DTS não se restringem a descrever, mas também a esclarecer e explicar os produtos, funções e processos tradutórios, quiçá também fazer previsões de comportamentos futuros, sem emitir juízos de valor essencialistas sobre as traduções. Nos estudos sobre a ciência, igualmente, os modelos prescritivos têm a pretensão de fornecer o método universal para a ciência, que sirva em qualquer ocasião, como é o caso de duas grandes forças da filosofia da ciência do século XX: o positivismo lógico do Círculo de Viena e o falseacionismo de Karl Popper. A partir dos anos 60, ambos foram colocados em xeque pela chamada “nova filosofia da ciência”, que questionava a possibilidade de critérios absolutos de cientificidade e de um método universal, atemporal e válido para todas as ciências.

Não seria novidade associar essas mudanças de perspectivas nos dois domínios a concepções filosóficas marcantes do século XX, das quais destacamos o “jogo de linguagem”, de Ludwig Wittgenstein. Outros filósofos importantes na reflexão contemporânea sobre a linguagem são Walter Benjamin, Martin Heidegger e Michel Foucault, só para citar alguns. Todos eles, de alguma maneira, aproximam-se, por outros caminhos, da noção de “jogo de linguagem” de Wittgenstein. Essa noção de Wittgenstein, além de informar boa parte dos estudos da linguagem e da tradução, também é mencionada por Thomas Kuhn no best-seller da filosofia da ciência, A estrutura das revoluções científicas. Com esse ensaio, Kuhn afastou-se da tradição epistemológica, enfatizando a comunidade científica e as questões psicossociais, políticas, econômicas e éticas envolvidas com a produção nessa área. Para ele, a ciência é uma criatura histórica, e a história da ciência é um processo cíclico, com períodos de ciência normal, nos quais o paradigma vigente seria cumprido por meio da solução de quebra-cabeças, e períodos de crise, que culminariam com a emergência das descobertas científicas e a quebra do paradigma, ou seja, revolução científica. Segundo Kuhn, a ciência normal é a prática científica tradicional, com a qual os cientistas ocupam a maior parte do seu tempo, e que pressupõe o comprometimento e o consenso da comunidade científica, e os quebra-cabeças são os problemas que certamente têm solução, pois são compatíveis com o paradigma vigente. Constituem, dessa maneira, os únicos problemas aceitos como científicos pela comunidade e caracterizam-se por regras bem definidas, enunciados reconhecidos e limitação de soluções aceitáveis. As principais conexões com os posicionamentos teóricos dos estudos da tradução que serão objeto das reflexões aqui iniciadas serão encontradas em Kuhn e na nova filosofia da ciência2.

2 TRATA-SE AQUI APENAS DE UM REGISTRO EM RELAÇÃO À FILOSOFIA DA CIÊNCIA, POIS NÃO NOS ATEREMOS A APRESENTAR ESSAS CONCEPÇÕES TEÓRICAS NESTE TEXTO. PARA MAIS INFORMAÇÕES, CONFERIR A MINHA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO.
Antes disso, um pequeno esclarecimento sobre a concepção wittgensteiniana de linguagem, posto que ela parece pressuposta no modelo teórico que começaremos a apresentar. Wittgenstein propõe um método de análise do uso da linguagem com a intenção de esclarecer o significado da experiência, ou seja, tomando a linguagem em seu contexto. A “expressão jogo de linguagem deve aqui realçar o facto de que falar uma língua é uma parte de uma actividade ou de uma forma de vida”. Temos, portanto, uma concepção de linguagem não essencialista, ou seja, o real não é um mundo de objetos preexistente sobre o qual “fala” a linguagem. Pelo contrário, a realidade é algo que sempre existe, mas em relação com o falante e com as atividades nas quais se insere, ou seja, a verdade está no contingente, não há “fora”, não há existência metafísica, não há correspondência com realidade única. Dessa maneira, o significado pode mudar conforme as atividades: “chamarei também ao todo formado pela linguagem com as actividades com as quais está entrelaçada o jogo de linguagem”. Nesse sentido, a linguagem nem sempre é um sistema de comunicação, dado que, em certos domínios, operamos com palavras de maneiras singulares. Nesses casos, o significado independe da palavra, sendo mais tributário de uma prática, e da existência de um falante e de um ouvinte, do que do objeto, ou seja, o significado deixa de ser determinado por uma relação externa, da linguagem com a realidade, e passa a ser determinado por uma relação interna, da linguagem com as atividades que lhe concernem.

Rompe-se, portanto, a dualidade linguagem/realidade que subjaz à tese semântica tradicional de univocidade do significado, por meio da qual o significado está no objeto. A ela, Wittgenstein contrapõe a sua concepção pragmática, na qual o significado está no uso. De fato, do ponto de vista pragmático, não faz sentido perguntar sobre a relação entre o real e a linguagem, considerando-se que estão entrelaçados. Não há conteúdos proposicionais separados, e a pergunta “a que este signo se refere?”, que decorre da abstração da separação sintaxe-semântica-pragmática, será sempre equivocada. Talvez pudéssemos pensar também na tradução como instauradora de uma linguagem, de um jogo de linguagem, de uma prática, de uma forma de vida. É importante esclarecer que isso se aplica a contextos diversos, como o literário, o científico, o historiográfico, entre outros.

Como já afirmamos antes, do ponto de vista dos estudos da tradução, nosso posicionamento teórico baseia-se nos DTS, mais precisamente na função das traduções no sistema receptor, enfatizando os contextos em vez de somente os textos. Dessa maneira, ao buscar o impacto da tradução num certo contexto, toma corpo, nos DTS, a noção de tradução como fundadora de um novo jogo de linguagem na cultura de chegada, o que pode produzir novas práticas, novas formas de vida. Nesses termos, fica clara aqui a adesão ao conceito de linguagem já mencionado.

Um dos nossos instrumentos teóricos será a teoria dos polissistemas, de Even-Zohar, desenvolvida por Gideon Toury, Theo Hermans e James Holmes, para quem a literatura traduzida constitui um sistema que é parte, junto com outros sistemas, de um polissistema maior, o polissistema literário da língua-alvo. O polissistema literário, por sua vez, é um sistema entre outros que compõem um sistema cultural, que, por sua vez, também mantém relações com outros sistemas daquela e de outras culturas, engendrando um grande mecanismo de trocas inter – e intrassistêmicas.

O entendimento de sistema como pensamento relacional, como uma rede de relações sobre a qual se podem levantar hipóteses, como um constructo aberto, dinâmico, heterogêneo, histórico e com interseções também nos instrumentaliza, entre outras coisas, para dar conta do complexo processo de tradução como transferência cultural, no caso deste trabalho especificamente, da transmissão dos textos astrológicos entre culturas ao longo do tempo. Segundo Even-Zohar, a força de um polissistema é justamente a interdependência entre processos e produtos, o que implica processos de intervenção nos produtos (seleção, manipulação, amplificação, remoção etc.) de acordo com as coerções que atuam no polissistema, que são legitimadas pelos grupos dominantes e que vivem em constante tensão com o que é rejeitado por esse grupo. Por isso, caso só se trabalhe com produtos canônicos, ou seja, aqueles que os grupos dominantes aceitam como legítimos por seguirem as normas e modelos em vigor, essa conexão será invisível, já que as tensões e coerções não poderão ser detectadas. Dessa maneira, tornam-se objetos de estudo textos rejeitados ou ignorados por uma perspectiva tradicional de tradução, que, em relação ao nosso objeto, é também amparada por uma perspectiva tradicional de ciência. Como se sabe, a comunidade científica, que governa o sistema da literatura científica, abandonou certos repertórios relacionados à astrologia a partir do advento da ciência moderna, definindo gradualmente quais seriam os cânones científicos e não científicos, incluindo-se, neste último, a bibliografia astrológica. No entanto, na antiguidade, no medievo e no renascimento, a astrologia compunha, junto com a astronomia, uma única ciência, produzindo então outras relações no sistema da literatura científica, que é o que estamos investigando, partindo do modelo teórico polissistêmico.

É importante destacar que, nessa teoria, não é o repertório que define a canonicidade, assim como não é a linguagem que define o que é padrão, gíria etc., mas sim a dinâmica do sistema, cujo “poder central” pode estar na mão de elites conservadoras ou inovadoras que, igualmente, forçam padrões culturais. Associando esse vocabulário polissistêmico ao de Kuhn, poderíamos dizer que o cânone científico é definido pelo paradigma vigente, nada tendo a ver com uma suposta qualidade intrínseca, pois é no bojo do paradigma, que implica um acordo, um certo consenso da comunidade de especialistas, que se define a literatura canônica de uma certa área. Além disso, os limites entre sistemas também são dinâmicos, já que suas margens são flexíveis, e os sistemas adjacentes (ou partes deles) podem pertencer à mesma comunidade ou não.

As concepções de “reescrita”, de André Lefevere, e de “tradução presumida”, de Gideon Toury, ambas associadas à teoria polissistêmica, juntam-se ao nosso repertório teórico. A tradução é um tipo de reescrita que, como todas as outras (paráfrase, historiografia, compilação etc.), é capaz de influenciar, por meio de suas estratégias poético-ideológicas, a recepção e canonização de certas obras. Além disso, esse conceito é muito importante na nossa pesquisa, porque partimos de várias reescritas que se autodenominam paráfrases, adaptações, interpretações e traduções do Tetrabiblos, posto que não há mais originais, apenas cópias de cópias de cópias de manuscritos, e os textos que circulam atualmente no meio astrológico como traduções, que, como veremos a seguir, são traduções presumidas.

O conceito de “tradução presumida”, de Toury, implica os postulados do texto-fonte, da transferência e da relação. Ou seja, a tradução presumida parte do princípio de que: 1) existe um texto-fonte; 2) certas características do texto-fonte são transferidas para a tradução; e 3) há relações verificáveis entre a tradução e o texto-fonte. Contudo, nada disso precisa realmente ser confirmado, tendo em vista que é pressuposto pela comunidade em questão. Trata-se, portanto, de um acordo, ao qual a comunidade adere por boa-fé, como é o caso da comunidade astrológica em relação aos textos que circulam hoje como tradução do Tetrabiblos, apesar de, como vimos no parágrafo anterior, nem todos serem traduções num sentido estrito.

As formulações de Lawrence Venuti sobre a domesticação de textos filosóficos (aos quais poderíamos acrescentar também os astrológicos) propõem que a filosofia deva considerar a tradução a partir de novos pressupostos, retirando-a da condição de marginalidade a que esteve por longo tempo confinada. Facilmente recaímos num discurso de autoridade, e conseqüentemente num dogmatismo, quando adotamos o critério de correspondência entre original e tradução, ignorando todo um processo complexo pelo qual o texto passou. Isso nos leva ao idealismo filosófico, que negligencia a tradução para não expor suas próprias mazelas metafísicas. Mazelas essas já assinaladas por vários filósofos que pensaram a relação linguagem-verdade, como Nietzsche, Wittgenstein, Benjamin, Heidegger, Foucault e Deleuze, só para citar alguns. Nesse sentido, segundo Venuti, a filosofia tem muito a ganhar com a tradução, que não precisa perder seu compromisso com a construção do conceito, mas apenas ter clareza sobre a sua materialidade histórica.

É possível acrescentar que filósofos e obras passam a ser vistos como constructos, pois, mesmo que se leia Platão, Aristóteles ou, como é o nosso caso, Ptolomeu em grego, afirmar que se está diante de um original seria acreditar demasiadamente na invisibilidade de copistas, tradutores e comentadores ao longo dos séculos. Como sabemos, mesmo no caso dos manuscritos antigos, o que temos são cópias de cópias, nada mais que tenha sido realmente escrito de próprio punho pelos antigos filósofos. E mesmo que ainda tivéssemos esse material, há que se considerar também a interferência dos próprios leitores. Por isso, com base no ideário pós-estruturalista, acreditamos que toda leitura é também um constructo, fruto da sua circunstância, bem como a escrita, ambas sempre tributárias dos sentidos que as perpassam. No caso do Tetrabiblos, os manuscritos mais antigos referentes a essa obra são do século X, ou seja, oito séculos depois de sua escrita.

Em termos de historiografia da tradução, podemos registrar que as formulações de Antony Pym sobre a intervenção da tradução na história das idéias e das práticas compõem o nosso entendimento sobre uma historiografia da tradução centrada no seu contexto social e nos fatores culturais atuantes na reescrita de textos astrológicos. Em relação à história da ciência, em muitos aspectos nos aproximamos da abordagem de Kuhn, posto que se trata aqui de uma história não positivista, não teleológica e com foco nas comunidades de pesquisa. Alguns conceitos usados por Scott Montgomery em relação à história da tradução científica, como “biografia de texto” e “constructo”, foram fundamentais para elaborar a nossa perspectiva historiográfica, bem como o de “sobrevida”, de Walter Benjamin, conceito onipresente nas teorias de tradução mais recentes.

O termo “biografia” parece descrever bem o que estamos fazendo, ou seja, uma biografia de texto, uma escrita sobre a vida do Tetrabiblos, vida esta que se constitui historicamente, conforme os jogos de linguagem e as agendas políticas de cada circunstância que produziu uma versão dessa obra. Decerto que o Tetrabiblos hoje, aqui no Brasil, não tem o mesmo significado e nem a mesma relação com o saber estabelecido que tinha na Alexandria de Ptolomeu, na Bagdá de Hunayn Ibn-Ishaq, na Toledo de João de Sevilha ou na Lisboa de Pedro Nunes. Em nenhum momento essa noção de biografia pretende se aproximar de algum essencialismo, como buscar as intenções reais da obra ou do autor, ou descrever a verdade sobre o Tetrabiblos, isso é exatamente o oposto das nossas prerrogativas teóricas.

O Lugar do Tetrabiblos no Cânone Astrológico Helenístico

A rica bibliografia astrológica data de aproximadamente 2122-2102 A.C., originária da região de Lagash, na Mesopotâmia, mas o principal documento que nos restou dessa astrologia é o Enuma Anu Enlil, uma compilação de cerca de setenta tabuletas de argila encontradas na biblioteca real de Nínive, escritas no século VII a.C.. Ao migrar para a Grécia, o sistema astrológico ganha tonalidades peculiares ao mundo helênico, onde, de fato, começa a nossa investigação, mais especificamente com o Tetrabiblos, de Ptolomeu. Essa obra é de extrema importância, tendo em vista seu caráter de compilação do conhecimento astrológico antigo.

Ptolomeu produziu também em outras áreas, notadamente na astronomia (Almagesto) e na geografia (Geografia), e sua visão de mundo, derivada de Aristóteles3, vigorou por cerca de quinze séculos. Com a mesma trajetória de grande parte do pensamento grego, que, como veremos, encontrou-se com a cultura árabe no período medieval, a obra de Ptolomeu, assim como a de Aristóteles, só voltará a ser estudada na Europa a partir do século XIII, depois de um processo tradutório complexo. É justamente nesse período que Tomás de Aquino e outros intelectuais se apropriarão da astrologia ptolomaica, tendo em vista que se tratava de um “estudo rigoroso dos fenômenos que ocorriam na natureza, incluindo o homem e a sociedade”.

3 ESQUEMATICAMENTE, TEMOS EM ARISTÓTELES UMA COSMOLOGIA ONDE: 1) O CÉU E OS CORPOS CELESTES SÃO TRATADOS COMO INCORRUPTÍVEIS E IMUTÁVEIS; 2) O MOVIMENTO DOS ASTROS É REGULAR, ETERNO, CIRCULAR E PERFEITO; 3) HÁ UMA DIFERENCIAÇÃO ENTRE MUNDO SUPERIOR E MUNDO INFERIOR; 4) O MUNDO INFERIOR É O MUNDO DA PHYSIS, DO DEVIR; E 5) O MUNDO SUBLUNAR É GOVERNADO PELO MUNDO SUPRALUNAR.
No Almagesto– corruptela do árabe Al majisti (em grego, Μαθηματικης συνταξεως ou μεγιστη  συνταξεως) – Ptolomeu apresenta a “compilação matemática”, a “grande compilação”, a “maior compilação”, ou seja, a astronomia, que, segundo ele, é “aquela pela qual apreendemos os aspectos dos movimentos do sol, da lua e das estrelas em relação uns aos outros e à Terra, conforme ocorrem de tempos em tempos”. No Tetrabiblos (em grego, Μαθηματικης τετραβιβλιου συνταξεως, “compilação matemática em quatro livros”), Ptolomeu apresenta a astrologia, “aquela em que, por meio do caráter natural desses mesmos aspectos, investigamos as mudanças que eles provocam naquilo que englobam”. Em outras palavras, a astronomia é definida, nesse momento, como a ciência que trata dos movimentos dos corpos celestes, que são regulares, imutáveis e perfeitos, e a astrologia, como a ciência que trata das mudanças que os movimentos dos corpos celestes provocam nas coisas terrenas4. É exatamente por essa abordagem teórica e sistemática, e não por sua originalidade, que o Tetrabiblos se destaca no cânone astrológico, pois, até então, os textos astrológicos eram apresentados na forma de versos ou de manuais práticos5. Para Ptolomeu, que reflete concepções filosóficas do seu tempo, a astrologia é um estudo científico, porque opera segundo leis naturais, e não uma teologia ou arte mística, e é ele que “estabelece um fundamento científico para a astrologia: cria os conceitos básicos do seu sistema de astrologia, elabora os detalhes desse sistema, tentando unificar os diversos fenômenos do cosmos de acordo com esse conjunto de conceitos”6.

4 A PARTIR DO SÉCULO XII, COM O MOVIMENTO DE TRADUÇÃO DOS TEXTOS ASTROLÓGICOS DO ÁRABE PARA O LATIM, NOVAS DESIGNAÇÕES FORAM FEITAS, SURGINDO OS TERMOS “CIÊNCIA DOS MOVIMENTOS” (ASTRONOMIA) E “CIÊNCIA DOS JULGAMENTOS” (ASTROLOGIA). A PROPÓSITO, SEGUNDO RICHARD LEMAY, TRATA-SE DE UM ACIDENTE DE TRADUÇÃO, PORQUE O ESTRANHO TERMO “JULGAMENTO” NÃO SE JUSTIFICA NEM NO GREGO ΠΡΟΓΝΩΣΤΙΚΌΣ _ NEM NA SUA TRADUÇÃO ÁRABE “TAQDIMATU’L-MA’RIFA” (CONHECER ANTECIPADAMENTE).
5 VALE LEMBRAR QUE SÓ DUAS OBRAS ANTERIORES A PTOLOMEU CHEGARAM À ATUALIDADE, O ASTRONOMICA, DE MARCUS MANILIUS, E O CARMEN ASTROLOGICUM, DE DOROTHEUS DE SIDON, AMBAS ESCRITAS EM VERSOS. SEU CONTEMPORÂNEO, VETTIUS VALENS, ESCREVEU EM PROSA UM TEXTO QUE RECEBEU POSTERIORMENTE O TÍTULO DE ANTOLOGIA, UMA COLETÂNEA DOS MANUSCRITOS QUE RESTARAM DE SUA OBRA.
6 PODE SOAR ANACRÔNICO O USO DOS TERMOS “CIÊNCIA” E “CIENTÍFICO” NO CONTEXTO ALEXANDRINO, DADO QUE NO MUNDO ANTIGO NUNCA HOUVE UMA DISTINÇÃO CLARA ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO, COMO SE BUSCA ATUALMENTE, ENTRETANTO, RESERVEMO-NOS O DIREITO DE USAR ESSE TERMO NUM SENTIDO LATO, ABARCANDO INCLUSIVE O IMPULSO CIENTÍFICO DE PENSAMENTO ABSTRATO, ANÁLISE, DEDUÇÃO E PESQUISA. ALÉM DISSO, SEGUNDO RILEY, “[O TERMO] ‘CIENTÍFICO’ NÃO É UM ANACRONISMO. NO TRABALHO DE PTOLOMEU, A PALAVRA ΦΥΣΙΚΟΣ É MELHOR TRADUZIDA COMO ‘CIENTÍFICO’”.
O manuscrito grego mais antigo do Tetrabiblos data do século XIII, e as três impressões do texto grego são: de 1535, por Camerarius, em Nürnberg; de 1553, por Camerarius, em Basel; e de 1581, por Junctinus, em Leyden. Devido à importância dessa obra, várias traduções, comentários e traduções de comentários foram realizados ao longo do tempo. Por enquanto, o que temos é o seguinte: o neoplatônico Proclo (século V) fez uma paráfrase em grego do Tetrabiblos, ou seja, uma tradução intralingual, que é conhecida como Paráfrase, cujo manuscrito mais antigo que nos restou data do século X (este é o documento mais antigo referente à obra astrológica ptolomaica que chegou à atualidade). O tradutor da edição crítica do Tetrabiblos questiona a autoria de Proclo, mas, após comparar com os manuscritos do Tetrabiblos que selecionou para a sua edição, afirma que a Paráfrase segue fielmente o texto de Ptolomeu. A tradução mais recente da Paráfrase para o inglês foi feita por J. M. Ashmand. A tradução espanhola que temos disponível atualmente (1985), de Demetrio Santos, origina-se da interpretação latina de Haly Geber Rodoan, também conhecido como Ali Ibn-Ridwan, médico e astrólogo egípcio que viveu no século XI. A tradução para o francês, feita por André Barbault, é, segundo ele, uma adaptação para o francês atual da tradução de Nicolas Bourdin. A edição crítica do Tetrabiblos é bilíngüe (grego/inglês), de 1940, e se baseia numa série de manuscritos (selecionados pelo tradutor, F. E. Robbins) que se encontram espalhados em bibliotecas europeias. Curiosamente, não se tem notícia de uma tradução portuguesa antiga do Tetrabiblos, apesar da grande tradição astrológica e tradutória em Portugal na Renascença. Recentemente, entretanto, a editora portuguesa Sadalsuud (The star of the third magnitude having nature of Mercury and Saturn) produziu uma tradução oriunda da edição crítica de Robbins. Há também traduções para o italiano e o alemão, às quais ainda não tivemos acesso.

Como se percebe nos termos destacados acima – interpretação, paráfrase, adaptação –, todas essas traduções implicam uma atuação criativa de seus agentes, ao contrário do que normalmente se supõe com a imagem da tradução como um processo mecânico e invisível. É claro que se poderia alegar, com base numa concepção tradicional, que interpretações, paráfrases e adaptações não se tratam de traduções, entretanto, numa outra perspectiva – a dos estudos descritivos da tradução (DTS)7 –, podemos considerar que, se um texto circula como tradução, ou seja, se é uma tradução presumida, ele pode ser considerado um objeto de estudo legítimo, já que atende a três postulados: 1) existe um texto-fonte; 2) certas características do texto-fonte são transferidas para a tradução; e 3) há relações verificáveis entre a tradução e o texto-fonte. E esse é o caso das publicações acima, que, sem dúvida alguma, hoje em dia circulam como traduções8.

7 OS DTS CONSTITUEM UM RAMO DOS ESTUDOS DA TRADUÇÃO, DEDICADO AOS ESTUDOS TEÓRICOS E DESCRITIVOS. O TERMO FOI USADO PELA PRIMEIRA VEZ POR EVEN-ZOHAR E GIDEON TOURY, DA ESCOLA DE TEL AVIV, NA DÉCADA DE 70. AO CONTRÁRIO DO QUE PODE PARECER, OS DTS NÃO SE RESTRINGEM A DESCREVER, MAS TAMBÉM A ESCLARECER E EXPLICAR OS PRODUTOS, FUNÇÕES E PROCESSOS TRADUTÓRIOS, SEM SE PREOCUPAR EM EMITIR JUÍZOS SOBRE AS TRADUÇÕES.
8 ISSO PARA NÃO ENTRAR NA DISCUSSÃO SOBRE A POSSIBILIDADE DE ENTENDER O PRÓPRIO ORIGINAL, OU SEJA, QUALQUER ESCRITA, COMO UM TIPO DE TRADUÇÃO, AINDA MAIS NO CASO DO TETRABIBLOS, QUE SE TRATA DE UMA COMPILAÇÃO.
Conquanto Ptolomeu e o Tetrabiblos sejam motivos de destaque na história que estamos delineando, é importante mencionar também alguns outros personagens que formam o cânone astrológico helenístico. Dentre eles, destacam-se: Marcus Manilius (século I), que escreveu uma obra em versos, o Astronomica, Dorotheus de Sidon (século I), que também escreveu em versos, o Carmen astrologicum, além da Mathesis, de Firmicus Maternus (século IV), e da Apotelesmatica, de Hefaísto de Tebas (século IV). Vetius Valens, contemporâneo de Ptolomeu, é uma fonte fundamental sobre como era a prática astrológica do seu tempo. Em sua obra, Antologia, compilou cerca de 130 mapas. Natural da Síria, Valens escreveu com dificuldade em grego – esse era o pré-requisito para um escritor ser levado a sério – provavelmente entre 154 e 174. Essas e outras obras que sobreviveram podem oferecer mais subsídios para o entendimento da astrologia desse período e do contexto que as produziu9.

9 TODAS AS OBRAS GREGAS DE ASTROLOGIA FORAM REUNIDAS NOS 12 VOLUMES DO CATALOGUS CODICUM ASTROLOGORUM GRAECORUM (1898-1953). ALGUMAS DELAS ESTÃO SENDO TRADUZIDAS NO ÂMBITO DO PROJETO HINDSIGHT. ESSE PROJETO COMEÇOU EM 1993, NOS EUA, TENDO COMO UM DE SEUS OBJETIVOS TRADUZIR (PARA O INGLÊS) E INTERPRETAR OS TEXTOS ASTROLÓGICOS DA TRADIÇÃO OCIDENTAL, MAIS PRECISAMENTE DO PERÍODO HELENÍSTICO. OS ESTUDIOSOS DO PROJETO HINDSIGHT PARTEM DO PRINCÍPIO DE QUE A ASTROLOGIA OCIDENTAL SÓ SE CONSTITUIU DE MANEIRA COESA NESSE PERÍODO E PASSARAM A CHAMAR ESSE SISTEMA QUE ESTAVA, E AINDA ESTÁ, SENDO RECONSTITUÍDO, DE SISTEMA HERMES. PARA OBTER MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O SISTEMA HERMES E OS TEXTOS ANTIGOS. SOBRE O PROJETO HINDSIGHT.
Para além do helenismo10, há que se mencionar também a contribuição egípcia, que influenciou a astrologia hermética11. Contudo, os textos atribuídos aos “antigos egípcios”, que são considerados textos herméticos pela tradição, podem ser uma versão egípcia da literatura astrológica mesopotâmica. Apesar disso, ao longo do século I da era cristã, a crença vigente era de que astrologia teria se originado no Egito, até porque Alexandria tornara-se o centro intelectual do mundo ocidental. Dessa maneira, muitos astrólogos cultivavam ou faziam referência aos textos herméticos. Para o astrólogo Demetrio Santos, tradutor da versão espanhola do Tetrabiblos, o Corpus Hermeticum teve sua última redação entre 100 e 300 da nossa era, tratando-se mais propriamente de uma renovação das doutrinas da Mesopotâmia, que complementa a obra de Ptolomeu. A diferença principal é que “Ptolomeu fabricou um esquema astrológico que, como fruto de uma só mente, é o mais razoável de todos, um resumo de conhecimentos anteriores, mas outros dados ficaram fora de seu Tetrabiblos e foram se agrupando em diferentes centros de cristalização, dos quais um, sem dúvida, foi atribuído a Hermes”.

10 COSTUMA-SE CONSIDERAR O PERÍODO HELENÍSTICO, POR CONVENÇÃO, DESDE A MORTE DE ALEXANDRE (323 A.C.) ATÉ A VITÓRIA DE OTAVIANO SOBRE MARCO ANTONIO, EM 31 A.C. O PERÍODO QUE SE SEGUE É CHAMADO DE IMPÉRIO ROMANO, E SE ESTENDE ATÉ A SUA QUEDA PELA INVASÃO DOS BÁRBAROS, NO FIM DO SÉCULO V. NO ENTANTO, A INFLUÊNCIA DA CULTURA GREGA É FUNDAMENTAL EM TODO ESSE PERÍODO, E OUTROS AUTORES DENOMINAM DE HELENISMO TODO O PERÍODO DESDE O SÉCULO IV A.C. ATÉ O SÉCULO V D.C. É NESSE SENTIDO QUE USAMOS O TERMO AQUI.
11 A ORIGEM DO HERMETISMO REMONTA A HERMES TRISMEGISTO, PERSONAGEM SEMIDIVINO DO ANTIGO EGITO. PLATÃO E PITÁGORAS SÃO CONSIDERADOS “INICIADOS” NA FILOSOFIA HERMÉTICA, BRUNO E CAMPANELLA DEFENDERAM O HERMETISMO, E COPÉRNICO CITA HERMES NA INTRODUÇÃO DO DE REVOLUTIONIBUS. DE MANEIRA GERAL, O HERMETISMO É CONSIDERADO UM ENSINAMENTO SECRETO QUE ASSOCIA UMA SÉRIE DE DOUTRINAS, COMO O PLATONISMO, A ASTROLOGIA E A ALQUIMIA.

A Tradução Astrológica em Bagdá e Toledo

Uma primeira pergunta que se pode formular é: como os textos gregos foram parar no mundo árabe? Tudo começou ainda no Império de Alexandre (século IV a.C.), que, ao se expandir para o Oriente Médio, acabou constituindo zonas de troca cultural. É nesse período que a astrologia da Mesopotâmia começa a migrar para a Grécia, onde será sistematizada. Mesmo após a conquista romana da Síria e do Egito, as tradições e a língua gregas foram mantidas nessas regiões, cujos principais centros eram Alexandria, Antióquia e Pérgamo. Como os romanos eram bilíngues e fizeram relativamente poucas traduções na área filosófico-científica12, boa parte do acervo grego manteve-se no seu idioma original, resguardada pelas escolas filosóficas que ainda restavam. Ademais, com o advento do cristianismo, vários seguidores de outras correntes exilaram-se no Oriente, pois passaram a ser considerados hereges, e esse processo culminou com o fechamento das escolas pagãs, inclusive da Academia de Platão, em 529, pelo imperador Justiniano, depois de quase mil anos de atividade. Os filósofos, astrólogos e todos os eruditos refugiados foram acolhidos na Pérsia, onde deixaram mais sementes de helenismo. O desmantelamento do Império Romano também levou para o exílio mais uma série de pensadores e textos gregos.

12 DESTACA-SE AQUI “A FIGURA DE CÍCERO (SÉCULO I A.C.), JURISTA, MESTRE DE ORATÓRIA, DISCÍPULO DA ACADEMIA, FILÓSOFO ECLÉTICO, GRANDE TRADUTOR DE TEXTOS GREGOS PARA O LATIM E CRIADOR DE GRANDE PARTE DO VOCABULÁRIO FILOSÓFICO LATINO, QUE CHEGOU ATÉ NÓS”.
A partir do século VIII, com a chamada revolução abássida (750) e a transferência da capital de Damasco para Bagdá, o Califado13 passou a ter um caráter teocrático, tornando-se muçulmano, e não apenas árabe. Nesse contexto, os árabes passaram a ter interesse pela astrologia helênica e começaram a traduzir os tratados astrológicos gregos, como o Tetrabiblos. Mais do que mero interesse diletante, a “astrologia era o campo para o qual havia a maior necessidade prática e, de fato, residia no centro da ideologia imperial de Al- Mansur”. Além disso, os eruditos árabes consideravam a astrologia como a mãe de todas as ciências, e essa atitude foi adotada pela elite dominante, o que determinou uma cultura de tradução astrológica sem precedentes14.

13 O TERMO “CALIFA” SIGNIFICA SUCESSOR. APÓS A MORTE DE MAOMÉ (632), SUCEDERAM-SE NO GOVERNO OS CHAMADOS CALIFAS PIEDOSOS OU ORTODOXOS (632-661), QUE CONSOLIDARAM A UNIFICAÇÃO DA ARÁBIA, ENTRE OUTROS MOTIVOS, POR INCENTIVAR A CONVERSÃO AO ISLAMISMO, OFERECENDO CARGOS E ISENÇÃO DE IMPOSTOS. QUASE TODOS ESSES CALIFAS FORAM ASSASSINADOS, O QUE GEROU OS PRIMEIROS MOVIMENTOS DISSIDENTES DO ISLAMISMO: OS CARIDJITAS E OS XIITAS. DE 661 A 750, A DINASTIA DOS OMÍADAS, QUE GOVERNAVA A SÍRIA, ESTEVE NO GOVERNO DO IMPÉRIO, QUE INSTITUIU DAMASCO COMO CAPITAL E REINICIOU O PROCESSO DE EXPANSÃO. APESAR DE O CALIFA SER AINDA UM CHEFE RELIGIOSO, O ESTADO TORNOU-SE LEIGO, NÃO SE PREOCUPANDO MAIS COM AS CONVICÇÕES RELIGIOSAS DE SEUS FUNCIONÁRIOS. O IMPÉRIO FOI DIVIDIDO EM PROVÍNCIAS, O ÁRABE TORNOU-SE A LÍNGUA OFICIAL E UNIFORMIZOU-SE O SISTEMA MONETÁRIO. EM 750, COM A CHEGADA AO PODER DA DINASTIA DOS ABÁCIDAS, OS OMÍADAS FORAM MASSACRADOS, EXCETO ABN AL- RAHMAN, QUE FUGIU PARA A ESPANHA, ONDE ORGANIZOU O EMIRADO DE CÓRDOBA (756). EM 912, CÓRDOBA TRANSFORMOU-SE EM CALIFADO.
14 É IMPORTANTE RESSALTAR QUE O MUNDO ÁRABE JÁ TINHA A SUA PRÓPRIA PRODUÇÃO ASTROLÓGICA, ANTES DE SE INTERESSAR PELA ASTROLOGIA GREGA.
Em geral, os próprios estudiosos árabes é que faziam ou coordenavam as traduções, cópias e comentários dos textos gregos, com apoio da elite e patrocínio público e privado. Inicialmente, como poucos tradutores dominavam o grego e o árabe, o siríaco era usado como língua intermediária, já que vários textos já tinham sido traduzidos para essa língua anteriormente. Um destaque desse período é Hunayn Ibn-Ishaq (século IX), que traduzia tanto para o siríaco quanto para o árabe, além de reunir em torno de si um grupo de colaboradores para poder dar conta da farta demanda. A metodologia rigorosa e os bons resultados alcançados por Hunayn e seus contemporâneos deveram-se, sobretudo, ao incentivo dos patrocinadores, ao prestígio que a tradução alcançou na sociedade e ao conhecimento do conteúdo com o qual estavam trabalhando. Foi também Hunayn quem efetuou a tradução mais antiga (de que temos notícia) do Tetrabiblos.

Foram os tradutores árabes que conservaram todo o legado astrológico da Grécia Antiga, agregando novos elementos15 e “intermediando”, posteriormente, o retorno não só da astrologia, mas de todo o saber grego para a Europa. “Intermediar” talvez não seja o verbo mais adequado, ainda mais à luz das novas teorias de tradução, já que sugere uma atividade mecânica de transporte de carga de um lugar para outro. É comum, hoje em dia, a substituição dessa imagem de tradução como transporte de carga pela eloquente imagem borgiana do “palimpsesto, nele que se deve transluzir os rastros – tênues, porém não indecifráveis – da ‘prévia’ escritura”. Segundo Rosemary Arrojo, o palimpsesto é um “texto que se apaga, em cada comunidade cultural e em cada época, para dar lugar à outra escritura (ou interpretação, ou leitura, ou tradução) do ‘mesmo’ texto”.

15 SEGUNDO MARTINS, OS ÁRABES FORAM ALÉM DE PTOLOMEU, FUNDINDO DEFINITIVAMENTE A FILOSOFIA ARISTOTÉLICA, A ASTROLOGIA E A MEDICINA.
Os árabes usavam bastante a astrologia horária, a astrologia eletiva e a astrologia mundial. Por isso, o islamismo aceitou a astrologia melhor do que o cristianismo, pois essa prática não teria nenhuma relação com o destino do indivíduo. Só para ilustrar, os astrólogos da corte de Al-Mansur – Messahalla e Ibn-Nawbaht – calcularam o mapa astrológico que determinou o dia inicial (30 de julho de 762) da construção da cidade de Bagdá, e um dos mais famosos astrólogos da época, Albumassar (falecido em 886), que se envolveu profundamente no movimento de tradução, compôs “tratados independentes e estabeleceu a astrologia como uma ciência na nascente civilização islâmica”, integrando definitivamente a astrologia à física. Ou seja, Albumassar é um exemplo de tradutor-astrólogo, que talvez fosse o caso geral, dado que as traduções – num sentido amplo, que englobariam também as paráfrases e adaptações – eram uma parte do trabalho do estudioso. Sua obra foi traduzida, no século XII, por João de Sevilha, que estabeleceu a terminologia astrológica latina.

O movimento de tradução greco-árabe atinge o seu auge no século X, com um grande desenvolvimento das ciências, principalmente em Bagdá e Alexandria, que foram os principais centros intelectuais do mundo árabe. Do ponto de vista da história da civilização ocidental, esse movimento de tradução “tem o mesmo significado e pertence à mesma narrativa, diria eu, que a Atenas de Péricles, o Renascimento italiano ou a revolução científica dos séculos dezesseis e dezessete, e merece ser reconhecido e incorporado às nossas consciências históricas”.

Enquanto o mundo árabe esbanjava traduções, o acesso do mundo ocidental aos saberes gregos, nos séculos VIII e IX, restringia-se aos enciclopedistas latinos, tendo em vista que o conhecimento da língua grega começou a declinar16. No século X, entretanto, o papa Silvestre II adquiriu alguns tratados árabes que foram traduzidos para o latim. A propósito, diversas traduções de obras sobre geometria e instrumentos astronômicos, do árabe para o latim, já eram feitas nessa época no Mosteiro de Santa Maria de Ripoli, norte da Espanha. Houve uma presença árabe importante na Europa até o século XV, especialmente na Espanha. Inúmeras traduções datam desse período, transformando a Espanha num centro internacional de tradução – a chamada “Escola de Toledo”–, pois recebia tradutores de diversas partes da Europa, que trabalhavam sob o patrocínio do rei de Leão e Castela, D. Afonso X, O Sábio (1221-1284).

16 AS ÚNICAS EXCEÇÕES TALVEZ TENHAM SIDO A ITÁLIA E A SICÍLIA, ONDE ALGUMAS TRADUÇÕES SIGNIFICATIVAS FORAM FEITAS DIRETAMENTE DO GREGO PARA O LATIM, JÁ QUE SEUS CONTATOS COM O IMPÉRIO BIZANTINO, E CONSEQÜENTEMENTE COM A LÍNGUA GREGA, NUNCA FORAM INTERROMPIDOS.
Com o advento das universidades europeias (século XII) e das referências cada vez mais freqüentes a tratados em grego ou árabe que só eram conhecidos pelo título, isso quando não eram totalmente desconhecidos, os estudiosos europeus começaram a se movimentar para ter acesso à herança intelectual do passado. Essas traduções do árabe e do grego para o latim atenderam à demanda por um novo tipo de conhecimento por parte dos próprios eruditos, que não queriam mais apenas transmitir o que já conheciam, mas também aprender coisas novas. De 1125 a 1200, ocorreu um intenso fluxo de traduções do árabe para o latim, que se estendeu ao longo do século XIII.

Do ponto de vista da história da ciência, só ocorreu algo semelhante, como vimos, nos séculos VIII-X, com as traduções do grego para o árabe. Nesse contexto, Plato de Tivoli e Gerardo de Cremona traduziram o Tetrabiblos, de Ptolomeu, do árabe para o latim, e Hermann da Dalmácia, do grego para o latim. Outra tradução do grego para o latim foi feita no século XVI por Camerarius e Melanchton.

Não se deve, contudo, achar que só se traduziram as grandes obras. Os critérios de tradução eram geralmente a disponibilidade e a brevidade do trabalho. Vários tratados importantes foram ignorados17, assim como textos menores acabaram sendo traduzidos e estudados intensamente. Era comum também a tradução da mesma obra em lugares diferentes, tendo em vista o raro contato entre os tradutores. Ademais, a autoria não era prioridade nessa época, sendo os textos traduzidos, copiados, comentados etc., sem a preocupação de registrar a origem ou o autor do texto. Dessa maneira, evocando novamente a imagem do palimpsesto, os textos “originais” eram reescritos, transformando-se em novos originais.

17 NO CASO DA ASTROLOGIA, ALGUNS TEXTOS SÓ COMEÇARAM A SER TRADUZIDOS NAS DUAS ÚLTIMAS DÉCADAS PELO JÁ MENCIONADO PROJETO HINDSIGHT.
É importante destacar que, na região da atual Espanha, identificam-se pelo menos três grandes pólos tradutórios. O primeiro, principalmente no século XII, caracteriza-se por um grande afluxo de traduções para o latim (tanto do árabe quanto do grego e também do hebraico), patrocinadas pela Igreja e tendo como público-alvo os eruditos. Identificaremos o segundo pólo ao grupo de trabalho em torno do filósofo Averróis (1126-1198), que buscava um novo horizonte de compreensão para a filosofia de Aristóteles. Inicialmente, houve apoio do califa de Córdoba, de quem Averróis era também médico, mas suas opiniões acabaram atraindo suspeitas, e ele tornou-se persona non grata. Seus livros foram queimados, e ele caiu no ostracismo, como podemos ver no filme O Destino, de Youssef Chahine (1997)*, sobre a vida de Averróis. No resto da Europa, até fins do século XIII, quando os teólogos cristãos começaram a desconfiar da incompatibilidade da obra de Aristóteles e do averroísmo com o pensamento cristão, Averróis era considerado o principal intérprete da obra do Estagirita. O terceiro pólo (século XIII) tem como figura de destaque o já mencionado rei de Leão e Castela, Afonso X, que patrocinou não só traduções para o castelhano, mas a investigação científica de maneira geral e as artes, visando o público local. Num franco projeto nacional que implicava uma saudável “zona de troca”, onde cristãos, judeus e muçulmanos conviviam pacificamente18 em prol da recepção e divulgação da ciência greco-árabe, várias pérolas da história da ciência foram produzidas, mais especificamente da “astrolomia”19. É a esse contexto que diz respeito o trecho que selecionamos de uma das primeiras fontes da historiografia portuguesa – a Crónica geral de Espanha de 1344 –, “Das escrituras que o rei Dom Afonso mandou tirar em linguagem e como fazia cada ano o aniversário por seu pai”:

Na era de mil duzentos e noventa e oito anos, quando andava o ano da nascença de Jesus Cristo em mil II LX, o rei dom Afonso, para saber todas as escrituras, fez torná-las de latim em linguagem. (…) Outrossim, mandou tornar em linguagem todas as estórias da Bíblia e os livros das artes das naturezas e da astronomia e muitos outros livros de desvairadas ciências e saberes.

* FILME O DESTINO (AL MASSIR) FRANÇA/EGITO – 1997 – DRAMA HISTÓRICO – 135 MIN. – DIREÇÃO: YOUSSEF CHAHINE.
18 A SITUAÇÃO DE JUDEUS E MUÇULMANOS NA PENÍNSULA SEMPRE TEVE UMA TONALIDADE CONTRADITÓRIA, CONSIDERANDO-SE QUE HAVIA UMA RIVALIDADE RELIGIOSA E COMERCIAL, MAS TAMBÉM UM INTERCÂMBIO TÉCNICO, ARTÍSTICO E DE SABERES.
19 ESSA FUSÃO DOS TERMOS ASTRONOMIA E ASTROLOGIA NO CLÁSSICO ESMERALDO DE SITU ORBIS, DO NAVEGADOR PORTUGUÊS DUARTE PACHECO PEREIRA (QUE TERIA DESBRAVADO A COSTA BRASILEIRA UM POUCO ANTES DE PEDRO ÁLVARES CABRAL), ILUSTRA O AMÁLGAMA ENTRE OS SABERES ASTRONÔMICO E ASTROLÓGICO QUE EXISTIA DESDE A ANTIGUIDADE E SE PERPETUOU ATÉ O RENASCIMENTO. O CAPÍTULO 8 COMEÇA ASSIM: “NESTA VERDADEIRA E CERTA TEMOS EM ASTROLOMIA, QUE O CÍRCULO DA EQUINOCIAL PARTE IGUALMENTE A REDONDEZA DO MUNDO PELO MEIO, CORRENDO DO ORIENTE EM OCIDENTE”.
Os Libros del saber de astronomia, compilados por astrônomos-astrólogos muçulmanos, judeus e cristãos, sob patrocínio de Afonso X, foram oferecidos a seu neto, D. Dinis – rei de Portugal de 1279 a 1325 – que fundou a Universidade de Lisboa, em 1290, e criou a Marinha Nacional de Portugal. D. Afonso X também escreveu outros textos, como o Lapidario (que trata, entre outros assuntos, da astrologia), as Cantigas de Santa Maria e os Libros del axedrez. Destacam-se, dentre as obras coordenadas por Afonso X, as Tábuas Afonsinas, que vigoraram por cerca de 300 anos21.

21 AS TÁBUAS SÃO “SEQUÊNCIAS DE NÚMEROS INDICANDO AS POSIÇÕES E OS MOVIMENTOS DOS ASTROS EM FORMA DE TABELAS, ELABORADAS PARA SEREM UTILIZADAS NOS CÁLCULOS DAS POSIÇÕES E DESLOCAMENTOS DOS ASTROS AO LONGO DOS ANOS”.
Apesar do claro interesse do patrono da Escola de Toledo e de seus descendentes portugueses pela astrologia, não temos informação sobre nenhuma tradução antiga do Tetrabiblos para o castelhano ou para o português22, sendo para o francês a primeira tradução para um vernáculo de que temos notícia, cujo manuscrito do rei-astrólogo da França, Carlos V, data de 1363.

22 ESSA LACUNA TRADUTÓRIA NUM PERÍODO EM QUE TANTAS TRADUÇÕES ERAM REALIZADAS SUSCITA UMA PESQUISA MAIS DETALHADA, A SER FEITA POSTERIORMENTE, MAS DUAS HIPÓTESES JÁ PODEM SER LEVANTADAS: A CENSURA DA INQUISIÇÃO E DA PRÓPRIA HISTÓRIA DA CIÊNCIA, CUJO TEOR POSITIVISTA DO SÉCULO XIX CHEGOU A COLOCAR EM DÚVIDA QUE PTOLOMEU TIVESSE ESCRITO UMA OBRA ASTROLÓGICA. OUTRO CASO EXEMPLAR É O DE NEWTON, CUJAS IDÉIAS ASTROLÓGICAS E ALQUÍMICAS FORAM EXPURGADAS DA SUA BIOGRAFIA.

Seguindo os Rastros de um Texto

Se acompanharmos a trajetória dos textos astrológicos helenísticos, partindo especificamente do Tetrabiblos, teremos um percurso instigante, delineado por uma série de cópias, traduções e comentários, que respondem às necessidades de saber e poder de cada circunstância. Como vimos, o texto original não existe mais, e os manuscritos mais antigos que nos chegaram são do século X, referentes à paráfrase de Proclo (século V). A primeira tradução que se conhece do Tetrabiblos foi feita para o árabe, no século IX, pelo grupo de Hunayn Ibn-Ishaq, que atendia a uma farta demanda astrológica do próprio Império. Nesse período, destaca-se também o tradutor-astrólogo Albumassar. Temos notícias da interpretação em latim feita no século XI, por Ali Ibn-Ridwan, médico e astrólogo egípcio. Em seguida, no século XIII, ainda no mundo árabe, mas na região da Espanha, o Tetrabiblos foi traduzido do árabe para o latim, por Plato de Tivoli e Gerardo de Cremona, e do grego para o latim, por Hermann da Dalmácia. A demanda aqui era por novas formas de saber, praticamente desconhecidas na Europa. Outra tradução foi feita posteriormente para o latim, já no século XVI, por Camerarius e Melanchton. A primeira tradução para um vernáculo, como vimos, foi para o francês.

Atualmente, o Tetrabiblos é encontrado em traduções para o inglês, francês, espanhol, português, alemão e italiano, oriundas de cópias, paráfrases e traduções diferentes, o que suscita ainda uma observação sobre as motivações e a relevância desse estudo. Há anos estudando astrologia, interesso-me especialmente pela sua fase helenista, quando se começou a formar o cânone astrológico. Pouco lidos e difundidos, por motivos que variam desde a dificuldade linguística até o desprestígio acadêmico que a astrologia começou a enfrentar com o advento da ciência moderna, passando pelas novas concepções e demandas astrológicas do mundo contemporâneo, esses textos antigos tornaram-se praticamente peças de museu. Há algumas exceções, como o já mencionado projeto Hindsight.

Acompanhar a trajetória de traduções da obra astrológica de Ptolomeu diz muito acerca não só da sua relevância e do prestígio do seu autor, que, como vimos, também produziu em outras áreas, mas principalmente ajuda a esclarecer as práticas astrológicas de cada período e região que as produziu, e também o contexto em que isso se deu, constituindo propriamente uma biografia do Tetrabiblos. E já que biografias de pensadores são muito comuns, mas não de seus textos, este trabalho foi uma primeira iniciativa para dar conta dessa falta no que tange a uma das obras astrológicas mais prestigiadas pelos astrólogos de todas as épocas. Contudo, ainda há muito por fazer, pois, como vimos, o Tetrabiblos (e isso se aplica a todos os textos antigos) frutificou no tempo e no espaço, gerando novos produtos em cada comunidade linguística em que aportou.

Para finalizar, parece claro que o estudo do cânone astrológico helenístico é um componente importante para um melhor entendimento não só da astrologia e da sua história, mas também das relações de poder que estabelecem o lugar da astrologia na história da ciência. A tradução da bibliografia astrológica, que, como qualquer outra, está submetida às normas e aos modelos vigentes, revela as particularidades dessa trama complexa que hoje chamamos de astrologia ocidental, e mais precisamente deste constructo histórico que chamamos de Tetrabiblos, e também da sua mobilidade no tempo e entre culturas. Voltando à epígrafe deste artigo – “as idéias têm asas, ninguém pode deter o seu vôo” –: a astrologia, como Hermes, tem asas nos pés.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE, L. (1983) CIÊNCIA E EXPERIÊNCIA NOS DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES. LISBOA: INSTITUTO DE CULTURA E LÍNGUA PORTUGUESA.
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