sábado, 31 de outubro de 2015

Biografia Gerald Brosseau Gardner Parte 2

Gerald Brosseau Gardner (13 de junho de 1884 - 12 de fevereiro de 1964) foi um funcionário público britânico, antropólogo amador, escritor, ocultista e Bruxo Tradicionalista que publicou alguns dos textos de referência sobre a Wicca, a Religião da Bruxaria Pagã, da qual foi grande divulgador.

Vida

Gardner nasceu na cidade de Blundellsands, no condado de Lancashire, perto de Liverpool, Inglaterra, numa família de classe média, sendo um de quatro irmãos e tendo vivido com dois deles, Bob e Douglas.A família tinha um negócio chamado Joseph Gardner & Sons, o importador de madeira mais antigo e importante do Império Britânico, e tinham origem escocesa.

Os Gardners tinham ao seu serviço uma enfermeira irlandesa chamada Josephine "Com" McCombie, que estava encarregada de cuidar do jovem Gardner, que sofria de asma desde cedo. Sua enfermeira ofereceu-se para levá-lo para climas mais temperados às custas do seu pai. Iniciaram suas viagens em 1891, começando pelas Ilhas Canárias, tendo ido depois para Accra (capital de Gana), seguindo para a Ilha da Madeira.De acordo o biografo oficial de Gardner, J.C. Bracelin, Com gostava bastante de namoriscar e as suas viagens eram principalmente de "caça ao homem".

Em 1900, Com casou com David Elkington, um homem afortunado do Ceilão (atual Sri Lanka), e concordaram com os Gardners que Gerald iria viver com ela numa plantação de chá, chamada Ladbroke Estate.

Em 1905, Gardner voltou para Inglaterra para uma visita durante a qual passou algum tempo com uns familiares, os Surgensons, que foi quando começou a ter contacto com o oculto. Descobriu através de um rumor na família que o seu avô, Joseph, praticava bruxaria, e que, em 1610, um outro antepassado escocês, Grissell Gairdner, foi queimado por prática de bruxaria, em Newburgh.

Gerald ficou em Ceilão até 1908 quando decidiu mudar-se, primeiro para Singapura e depois para Borneo.

Em 1908 tornou-se num plantador de borracha, primeiro em Borneo e depois na Malásia. Em Borneo tornou-se amigo de muitas tribos locais, tornando-se numa antropólogo amador e fascinado pelas suas armas, como também pelas suas crenças no politeísmo e espiritualidade.

Em 1923 tomou algumas posições de serviço civil como inspector na Malásia. Em 1936, com 52 anos, regressou à Inglaterra. Publicou o texto autoritário Keris and other Malay Weapons (Keris e Outras Armas Malaias), em 1936, baseado na pesquisa sobre armas no sul Asiático e práticas de magia. Também adotou o naturismo e aprofundou o interesse pelo oculto. Aqueles que o conheciam no movimento pagão moderno, como Doreen Valiente, dizem que era um forte adepto da terapia através do sol.

Gardner publicou entretanto dois trabalhos de ficção: A Goddess Arrives (Uma Deusa Chega), em 1939, e High Magic's Aid (Auxílio em Alta Magia), em 1949. Estes trabalhos foram seguidos de trabalhos já de investigação, e portanto factuais: A Bruxaria Hoje (1954) e O Significado da Bruxaria (1959).

Gardner foi casado com uma mulher de nome Donna durante 33 anos, mas ela nunca fez parte das atividades neo-pagãs do marido.

Em 1964, depois de sofrer de um ataque cardíaco, Gardner morreu a bordo de um navio que regressava do Líbano. Foi enterrado na Tunísia.

Wicca

Gardner afirmava ter sido iniciado em 1939 numa tradição de bruxaria religiosa que ele acreditava ser uma continuação do Paganismo Europeu. Doreen Valiente mais tarde identificou aquela que iniciou Gardner como sendo Dorothy Clutterbuck no livro A Witches' Bible (A Bíblia de Uma Bruxa), escrito por Janet e Stewart Farrar em 2002. Esta identificação foi baseada em referências que Valiente se lembrava de Gardner fazer a uma mulher a quem ele chamava de "Old Dorothy". Ronald Hutton diz, no entanto, no livro Triumph of the Moon (Triunfo da Lua), que a Tradição Gardneriana era largamente inspirada em membros da Ordem Rosacruz de Crotona e especialmente por uma mulher conhecida pelo nome mágico de "Dafo". O Dr. Leo Ruickbie, no livro Witchcraft Out of the Shadows (Bruxaria Fora das Sombras), 2004, analisou as evidências documentais e concluiu que Aleister Crowley teve um papel crucial ao inspirar Gardner a criar uma nova religião pagã.

Ruickbie, Hutton e outros também discutem a hipótese de muito do que foi publicado sobre a Gardnerian Wicca, como a prática de Gardner se tornou conhecida, ter sido escrito por Doreen Valiente e Aleister Crowley.

O que se sabe é que ele fez a Bruxaria Wicca (principal caminho Neo-Pagão da atualidade) ser reconhecida como uma legítima Religião, e tendo feito apenas algumas atualizações e adaptações na "Antiga Religião" ao mundo moderno para isto.

Etimologia

Gardner, nos dois livros sobre o assunto, refere-se à bruxaria como "Wica", ou "A Arte". Em Inglês Arcaico, "Wicca" é um nome relativamente obscuro, masculino, derivado do Latim "ariolus", i.e., "mago", enquanto "Wicce" é o feminino equivalente, derivado do Latim "phitonissa", i.e., "o possesso; como em Pythia". O uso histórico da palavra "Wicca" como um tipo de religião não é etimologicamente possível. O termo verbal, em Inglês "wiccian", e que significa "praticar bruxaria", não aparece no material escrito por Gardner, e não é usado tipicamente na literatura sobre este movimento religioso. Ele utilizou esta palavra porque em épocas remotas os "Bruxos" eram chamados as vezes por "wiccas" , os sábios.

Biografia Gerald Gardner Parte 1

O renascimento da Wicca pode ser encontrado no início do século XX nos trabalhos da antropóloga inglesa Margareth Murray, suas pesquisas sobre “as origens e a história da feitiçaria” começaram com a idéia comum de que “todas as feiticeiras eram velhas sofrendo de alucinações por causa do diabo”. Mas Murray...logo desvendou o diabo e descobriu em seu lugar um Deus com chifres de um culto à fertilidade, um Deus pagão que na época da inquisição foi considerado herético, transformado em uma incorporação do diabo. Murray estava convencida depois dos seus estudos profundos sobre esses registros de que esse Deus possuía um equivalente feminino, tratava-se de uma divindade, a caçadora medieval das épocas clássicas que os gregos chamavam de Ártemis e os romanos de Diana. Murray então...concluiu que as feiticeiras condenadas tinham Diana como uma líder espiritual e por isso a reverenciavam.

Segundo Margaret Murray, os vestígios dessa fé poderiam ser rastreados no passado a até cerca de 25 mil anos, época em que viveu uma raça aborígine composta de anões, cuja existência permaneceu registrada pelos conquistadores que invadiram aquelas terras apenas nas lendas sobre elfos e fadas. De acordo com ela, seria uma “religião alegre”, repleta de festejos, danças e principalmente abandono sexual, o que mais tarde seria incompreensível para os sombrios inquisidores, cujo único propósito foi destruí-la até as mais tenras raízes.

A egiptóloga Margaret A. Murray, pesquisadora ativa até sua morte, aos 100 anos.Finalmente em 1921, Murray publicou o primeiro (O Culto à Feiticeira na Europa Ocidental) dos três livros com as suas conclusões favorecia certa legitimidade à religião Wicca. Imediatamente outros estudiosos no assunto atacaram os métodos e as conclusões de Margaret Murray, um dos críticos classificou seu livro como “um palavrório enfadonho”. Apesar dos trabalhos de Murray não terem tanto prestígio nos círculos acadêmicos, recentes estudos arqueológicos induziram alguns historiadores a fazer ao menos uma releitura mais criteriosa de algumas de suas teorias mais polêmicas; Margaret Murray conseguiu através de uma reavaliação favorável da feitiçaria, abrir uma porta para um fluxo de interesse pelo culto a Diana.

Em 1899, mais de duas décadas antes de Murray apresentar suas teorias, Charles Leland, escritor e folclorista americano havia publicado “Aradia”, obra que segundo ele, era o evangelho de “La Vecchia Religione” (A Velha Religião), uma expressão que desde então passou a fazer parte do saber “Wicca”. O livro relata a lenda de Diana, Rainha da Feiticeiras, cujo encontro com o deus-sol Lúcifer resultara numa filha chamada “Aradia”, esta seria “la prima strega” (a primeira bruxa), a que revelara os segredos da feitiçaria para a humanidade.

Considerada uma fonte duvidosa, Aradia contudo...terminou servindo de inspiração para inúmeros ritos praticados por feiticeiros contemporâneos. Duramente criticado e mesmo com raros defensores no círculo acadêmico, o livro Aradia com sua ênfase no culto à Deusa tornou-se muito popular nas assembléias feministas.

Outro trabalho mais recente com enfoque similar, porém de reputação mais sólida, é o livro de Robert Graves, publicado pela primeira vez em 1948, “A Deusa Branca” que revela a existência de um culto ancestral centrado na figura de uma matriarcal deusa lunar. De acordo com o autor, essa deusa seria a única salvação para civilização ocidental. Robert Graves expressou profundas reservas com relação à bruxaria, mas o autor chama à atenção a longevidade e a força da religião Wicca e também faz críticas ao que ele considera como uma ênfase em jogos e brincadeiras. Na verdade, o ideal para a feitiçaria, escreve Grave, seria que “surgisse um místico de grande força para revestir de seriedade essa prática, recuperando sua busca original de sabedoria”.

A referência de Graves era uma irônica alfinetada em Gerald Brosseau Gardner, um senhor inglês peculiar e carismático, que exerceria profunda, embora frívola, do ponto de vista de Robert Graves, influência no ressurgimento do interesse pela feitiçaria.

Gardner nasceu em Blundellands, nas proximidades de Liverpool, Inglaterra no dia 13 de Junho de 1884. O seu pai foi Juiz de Paz, pertencendo a uma família de comerciantes de madeira. A família de Gardner tem origem Escocesa, remontando as suas raízes a uma mulher chamada Grissel Gardner, foi queimada como feiticeira no ano de 1610 em Newburgh. O avô de Gardner casou com uma senhora que supostamente teria sido feiticeira e muitos dos seus antepassados teriam assumidamente capacidades psíquicas extraordinárias. Na sua família inclui-se também Alan Gardner, um comandante naval e mais tarde vice-almirante e membro da Câmara dos Lordes, o qual ganhou distinções como comandante do Channel Fleet que preveniu a invasão de Napoleão Bonaparte em 1807.

Gerald Gardner tivera diversas carreiras e ocupações: funcionário de alfândega, plantador de seringueiras, antropólogo e, finalmente, místico declarado. Era um nudista convicto, professava um perpétuo interesse pela “magia e assuntos do gênero”, campo que para ele incluía tudo: desde os pequenos seres das lendas inglesas até as vítimas da Inquisição e os cultos secretos da antiga Grécia, Egito e Roma. Pertenceu à famosa sociedade dos aprendizes de magos chamada Ordem Hermética da Aurora Dourada.

Gerald Gardner recolheu-se em Isle of ManGardner enfureceu os círculos acadêmicos quando anunciou que as teorias de Margaret Murray eram verdadeiras. A feitiçaria, declarou ele, havia sido uma religião e continuava a ser. Ele dizia saber disso simplesmente porque ele próprio era um bruxo. Em 1954, seu surpreendente depoimento veio à luz com o lançamento de “A Feitiçaria Moderna”, o livro mais importante para o renascimento da feitiçaria. Se a prática não havia desaparecido, como “A Feitiçaria Moderna” tentava provar, o próprio Gardner admitiu ao menos que a feitiçaria estava morrendo quando ele a encontrou pela primeira vez, em 1939.

Gardner gerou muita polêmica ao afirmar que, após a catastrófica perseguição medieval, a bruxaria tinha sobrevivido através dos séculos, secretamente, à medida que seu saber canônico e seus rituais eram transmitidos de uma geração para outra de feiticeiros. Segundo Gardner, sua atração pelo ocultismo havia feito com que se encontrasse com uma herdeira da antiga tradição, “a Velha Dorothy Clutterbuck”, que supostamente seria alta sacerdotisa de uma seita sobrevivente. Logo após esse encontro, Gardner foi iniciado na prática, embora mais tarde tenha afirmado, no trecho mais improvável de uma história inconsciente, que desconhecia as intenções da velha Dorothy até chegar ao meio da cerimônia iniciática, ouvir a palavra “Wicca” e perceber “que a bruxa que eu pensei que morrera queimada há centenas de anos ainda vivia”.

Considerando-se devidamente preparado para tal função, Gardner gradualmente assumiu o papel de porta-voz informal da prática. Assim, lançou uma nova luz nas atividades então secretas da bruxaria ao descrever em seu livro, por exemplo, a suposta atuação desses adeptos para impedir a invasão de Hitler na Inglaterra. De acordo com Gardner, os feiticeiros da Grã-Bretanha reuniram-se na costa inglesa em 1940 e juntos produziram “a marca das chamas” – uma intensa concentração de energia espiritual, também conhecida como “cone do poder”, para supostamente enviar uma mensagem mental ao Fuhrer: “Você não pode vir. Você não pode cruzar o mar”. Não se pode afirmar se o encantamento produziu ou não o efeito desejado mas, como Gardner salientou prontamente, a história realmente registra o fato de Hitler ter reconsiderado seu plano de invadir a Inglaterra na última hora, voltando-se abruptamente para a Rússia. Gardner declara também, que esse mesmo encantamento teria, aparentemente, causado o desmoronamento da Armada Espanhola em 1588, quando muitos feiticeiros conjuraram uma tempestade que tragou a maior frota marítima daquela época.

Quando não reescrevia a história, Gerald Gardner assumia a tarefa de fazer uma revisão da feitiçaria. Partindo de suas próprias pesquisas sobre magia ritual, ele criou uma “sopa” literária sobre feitiçaria feita com ingredientes que incluíam fragmentos de antigos rituais supostamente preservados por seus companheiros, adeptos da prática, além de elementos de ritos maçônicos e citações de seu colega Aleister Crowley, renomado ocultista que se declarava a Grande Besta da magia ritual. Gardner decidiu então acrescentar uma pitada de Aradia e da Deusa Branca e, para ficar no ponto, temperou seu trabalho incorporando-lhe um pouquinho de Ovídio e de Rudyard Kipling. O resultado final, escrito numa imitação de inglês elisabetano, engrossado ainda com pretensas 162 leis de feitiçaria, foi uma espécie de catecismo da Wicca, ressuscitado por Gardner. Assim que completou o trabalho, seu compilador tentou fazê-lo passar por um manual de uma bruxa do século XVI, ou um Livro das Sombras.

Esse volume transformou-se em evangelho e liturgia da tradição gardneriana da Wicca, como veio a ser chamada essa última encarnação da feitiçaria. Era uma “pacífica e feliz religião da natureza”, nas palavras de Margot Adler em “Atraindo a Lua”.

As bruxas reuniam-se em assembléias, conduzidas por sacerdotisas. Adoravam duas divindades, em especial, o Deus das florestas e de tudo que elas encerram, e a Grande Deusa tríplice da fertilidade e do renascimento. Nuas, as feiticeiras formavam um círculo e produziam energia com seus corpos através da dança, do canto e de técnicas de meditação. Concentravam-se basicamente na Deusa; celebravam os oito festivais pagãos da Europa, buscando entrar em sintonia com a natureza.

Como indaga o próprio Gardner em seu livro: Há algo errado ou pernicioso nisso tudo? Se praticassem esses ritos dentro de uma igreja, omitindo o nome da Deusa ou substituindo-o pelo de uma santa, será que alguém se oporia?

Talvez não, embora a nudez ritualística recomendada por Gardner causasse, e ainda cause, um certo espanto. Mas para Gardner as roupas simplesmente impedem a liberação da força psíquica que ele acreditava existir no corpo humano. Ao se desnudarem para adorar a Deusa, as feiticeiras não só se despiam de seus trajes habituais, como também de sua vida cotidiana. Além disso, sua nudez representaria um regresso simbólico a uma era anterior à perda da inocência.
A recomendação da nudez, acrescentada à defesa feita por Gardner do sexo ritualístico – O Grande Rito, como ele o chamava – virtualmente pedia críticas. Rapidamente o pai da tradição gardneriana ganharia reputação de “Velho Obsceno”.

Mas, sendo um nudista e ocultista vitalício, Gardner estava habituado aos olhares reprovadores da sociedade e em seu livro “A Feitiçaria Moderna”, parecia antever as críticas que posteriormente receberia.

Alguns críticos, após um exame minucioso dos trabalhos de Gerald Gardner, começaram a questionar a validade do suposto antigo “Livro das Sombras”, entre os seus críticos mais ferrenhos encontrava-se o historiador Elliot Rose, que em 1962 desacreditou a feitiçaria de Gardner, afirmando que era um sincretismo. Outro crítico, um destacado cronista britânico do ocultismo, acusou Gardner de fundar “um culto às bruxas elaborado e escrito em estilo romântico, um culto redigido de seu próprio punho”.

Aidan Kelly, outro crítico, o fundador da Nova Ordem Ortodoxa Reformada da Aurora Dourada, uma ramificação da prática da magia, declarou trivialmente que Gardner inventara a feitiçaria moderna e que ele, em sua tentativa desorientada de reformar a velha religião, formara outra, inteiramente nova. Kelly ainda assegurou que na tradição gardneriana não há base alguma que relacione a tradição com o antigo paganismo europeu.

Selena FoxAidan Kelly no entanto contrabalançou suas virulentas críticas a Gardner ao creditar-lhe não só uma criatividade genial, mas também a responsabilidade pela vitalidade da feitiçaria contemporânea.

J. Gordon Melton, um ministro metodista e fundador do Instituto para o Estudo da Religião Americana, comentou que todo o movimento neopagão deve seu surgimento, bem como seu ímpeto, a Gerald Gardner. “Tudo aquilo que chamamos hoje de movimento da feitiçaria moderna pode ser datado a partir de Gardner”, declarou Melton.

Dúvidas e polêmicas sobre suas fontes à parte, a influência de Gerald Gardner no moderno processo de renascimento da Wicca é indiscutível, assim como seu papel de pai espiritual dessa tradição específica de feitiçaria que hoje carrega seu nome. Embora os métodos de Gardner revelassem um certo toque de charlatania e seus motivos talvez parecessem um tanto confusos, sua mensagem era apropriada para sua época e foi recebida com entusiasmo dos dois lados do Atlântico. Quer ele tenha ou não redescoberto e resgatado um antigo caminho de sabedoria, aparentemente seus seguidores foram capazes de captar em seu trabalho uma fonte para uma prática espiritual que lhes traz satisfação.

Além do mais, na condição de alto sacerdote de seu grupo, Gardner foi pessoalmente responsável pela iniciação de dúzias de novos feiticeiros e pela criação de muitas novas assembléias de bruxos. Estas, por sua vez, geraram outros grupos, num processo que se tornou conhecido como “a colméia” e que, de fato, resultou numa espécie de sucessão apostólica cujas origens remontam ao grupo original criado por Gardner. Outras assembléias gardnerianas nasceram a partir de feiticeiras autodidatas, que formaram seus próprios grupos após ler as obras de Gardner, adotando sua filosofia.

Contudo, nem todas as feiticeiras estão vinculadas ao gardnerianismo. Muitas professam uma herança anterior a Gardner e desempenham seus rituais de acordo com diversos modelos colhidos das tradições Celta, Escandinava e Alemã. Além disso, alguns desses pretensos tradicionalistas declaram-se feiticeiros hereditários, nascidos em famílias de bruxos e destinados a transmitir seus segredos aos próprios filhos.

Biografia George Ivanovitch Gurdjieff Parte 2

George Ivanovitch Gurdjieff nasceu em Alexandropol, uma cidade na Rússia, na fronteira com a Turquia. Não existe certeza sobre a data de seu nascimento, sendo que seus biógrafos apontam como sendo mais provável o ano de 1866. Seu pai era grego e sua mãe, armênia. Sua infância e juventude foram marcadas por contatos com diversas formas de conhecimento e espiritualidade pois sua cidade natal era berço de uma mistura bastante rica de tradições e isso permitiu a Gurdjieff experiências muito peculiares.

As primeiras influências em sua juventude vieram de seu próprio pai e do decano Borsh, um padre, que ao redor de 1878 assumiu pessoalmente sua educação. Nessa época, a família de Gurdjieff vivia na cidade de Kars, uma cidade turca próxima à fronteira da Rússia, que havia sido tomada quando os russos declararam guerra à Turquia.

Depois de sair da casa de seus pais, em 1883, Gurdjieff mudou-se para Tiflis (mais tarde chamada de Tbilisi) e nesta época começou suas viagens e estudos junto a centros religiosos e esotéricos da época. Nestas buscas ele estabeleceu contato com duas pessoas que seriam seus amigos mais próximos, Sarkis Pogossian e Abram Yelov. Anos depois ele viajou para Constantinopla onde, segundo o que seus biógrafos afirmam, ele teria conhecido algumas téquias sufis, notadamente a ordem dos Mevlevi e a dos Bektashi. Ele voltou então para Alexandropol em 1885, para onde seus pais haviam retornado.

Em 1886 Gurdjieff e Pogossian encontram referências sobre Sarmoung, uma Escola de Sabedoria que se diz ter sido fundada na Babilônia e resolvem empreender uma viagem para o Kurdistão. Porém, eles decidem modificar sua rota ao encontrar mapas antigos do Egito e decidem então, ir para Alexandria e Cairo. É no Cairo que Gurdjieff conhece o Príncipe Yuri Lubovedsky e o Professor Skridlov, duas pessoas com as quais ele manteria estreita relação.

Nos anos entre 1888 e 1893 Gurdjieff viaja novamente por vários países. Em 1894, de volta a Alexandropol, Gurdjieff organiza o grupo auto denominado de Buscadores da Verdade, e junto a seus companheiros, empreende todo o tipo de estudo acerca do conhecimento esotérico. Dá-se início então, outra série de viagens entre 1896 e 1907. Segundo alguns autores, em 1898 ele encontra o Monastério de Sarmoung junto com Soloviev, e lá, ambos encontram Lubovedsky. É importante notar que não existem evidências conclusivas de que isso tenha realmente acontecido.

Em 1908 Gurdjieff estabelece-se em Tashkent e começa a ensinar. Mas é de volta a Moscou em 1912 que ele atrai seus primeiros associados, Sergei Mercourov, Vladimir Pohl e Rachmilievitch. É também nesta época que ele lê o livro de Ouspensky entitulado Tertium Organum e o identifica como um futuro discípulo. No ano seguinte, em São Petersburg, Gurdjieff adota o pseudônimo de Príncipe Ozay e atrai como seus alunos Lev Lvovitch e seu primeiro estudante inglês, o músico Paul Dukes. Em 1914 um novo discípulo importante se associa a ele, Dr. Leonid Stjoernval, que permanecerá ao seu lado ao longo de quase toda a sua trajetória. É nesse ano também que ele anuncia seu bale A Luta dos Magos e atrai a atenção de Ouspensky.

No ano seguinte, em Moscou, Gurdjieff admite Ouspensky como seu discípulo e viaja a Petrogrado para dar palestras e encontrar-se com Ouspensky e seus associados. No ano seguinte, ainda em Petrogrado, sob intensa atividade, Gurdjieff apresenta seu sistema de idéias integralmente a seus discípulos que eram então aproximadamente trinta pessoas. É nesse ano que ele conhece Thomas de Hartmann e sua esposa Olga, duas pessoas que o acompanhariam fielmente até quase o final de seus dias.

Nos anos de 1917 e 1918 Gurdjieff e seus discípulos são forçados a mudanças constantes por causa da Revolução. Por algum tempo eles se estabelecem em Essentucki para então, rumarem para Tbilisi em 1919, em meio a plena guerra civil. É neste ano que Alexandre de Salzmann e sua esposa Jeanne se unem ao seu grupo. Junto com Jeanne e suas alunas, dançarinas treinadas nas técnicas da Ginástica Rítmica de Dalcroze, Gurdjieff faz as primeiras apresentações de Danças Sagradas no Tbilisi Opera House. É nesse ano também que ele funda o Instituto para o Desenvolvimento Harmonioso do Homem. Ao mesmo tempo, a ênfase sobre o estudo das Danças Sagradas se intensifica no sentido da montagem do bale A Luta dos Magos.

No ano seguinte, por causa de problemas sócio-políticos, ele ruma com alguns de seus discípulos para Constantinopla, onde continua seus trabalhos. No final ainda de 1920 Gurdjieff recebe uma carta de Jacques Dalcroze convidando-o a ir para a Europa. Em 1921 eles embarcam para a Alemanha, mas por causa de problemas com passaportes, ele e seu grupo não podem se estabelecer lá. Ouspensky, já em vias de se separar definitivamente de Gurdjieff, havia partido de Constantinopla para Londres. E então, Gurdjieff resolve ir também para Londres, e lá ele conhece um dos discípulos mais importantes de Ouspensky, A. R. Orage, que abandonaria Ouspensky e se uniria a ele. É nessa época que ele conhece também J. G. Bennet. Bennet permaneceria durante os vários anos seguintes sendo um discípulo de Ouspensky, até a morte deste (1947), quando então Bennet se une a Gurdjieff.

A relação entre Gurdjieff e Ouspensky nessa época já estava bastante delicada e Gurdjieff não esconde sua ascendência sobre Ouspensky aos discípulos deste. Alguns então escolhem se unir ao grupo de Gurdjieff e partem com ele para França, onde se estabelecem em outubro de 1922 na Prieure em Fontainebleau-Avon, em Paris.

É nessa fase que seu trabalho floresce completamente. Seus discípulos se unem a ele totalmente no desenvolvimento do bale A Luta dos Magos e em seus estudos e exercícios. Em dezembro de 1923 ele faz a primeira apresentação de seu bale no Teatro de Champs-Elysees.

Em 1924, com 35 de seus discípulos ele embarca para os EUA onde faz apresentações de seu bale em Nova York e Filadélfia. Ao atrair vários interessados, ele funda um novo ramo de seu Instituto em Nova York sob a direção de Orage. É também em 1924, de volta a Paris que ele sofre seu primeiro acidente sério de carro. Ao se convalescer, ele decide começar a escrever seu livro mais importante Beelzebub's Tales to His Grandson, que seria apenas publicado depois de sua morte.

Nos anos seguintes, frente à constante necessidade por dar estabilidade ao seu trabalho, Gurdjieff aos poucos se separa de seus discípulos mais antigos (notadamente do casal de Hartmann) e também de Orage. Viaja ainda várias vezes para os EUA e termina por fechar a Prieure em 1934, passando a viver em um apartamento ainda em Paris. Nos anos seguintes ele mantém contato com novos discípulos de menor expressão.

Ele sobrevive à Segunda Guerra Mundial e ajuda seus discípulos a superar as privações dos tempos de guerra. Ouspensky morre em 1947 e alguns de seus discípulos, entre eles Bennet, juntam-se ao grupo de Gurdjieff em Paris. Porém em 1948, Gurdjieff sofre um novo acidente de carro, do qual se recupera apenas parcialmente. Gurdjieff morre em 29 de outubro de 1949 e é enterrado em Fontainebleau-Avon.

Além dos livros que foram publicados por seus alunos acerca das metodologias e teoria de sua Escola - o mais conhecido deles, e traduzido para o português é Fragmentos de Um Ensinamento Desconhecido de P. D. Ouspensky - o próprio Gurdjieff escreveu três livros: Encontro com Homens Notáveis, The life is Real only then, when I am e Relatos de Belzebu a seu Neto. O primeiro deles foi também remontado em um filme de Peter Brook sob o mesmo nome. Neste livro Gurdjieff fala dos mestres que ele conheceu e que o influenciaram. O segundo livro é mais fragmentário e foi o único que foi publicado quando ele estava vivo. O terceiro livro, Relatos de Belzebu a seu Neto , é sua obra mais importante e extensa. Nele, sob uma linguagem fortemente incomum, pode ser encontrada a maior parte de sua teoria.


A continuidade e influência do pensamento de Gurdjieff
Não há certeza absoluta do que aconteceu nos momentos que sucederam a morte de Gurdjieff. Ao que parece, ele teria chamado Jeanne de Salzmann em seu quarto pouco antes de sua morte, mas a conversa que houve entre eles é desconhecida. No entanto, existe a afirmação de alguns estudiosos e envolvidos nos trabalhos do Quarto Caminho de que Gurdjieff haveria deixado seus grupos aos cuidados dela. Outros indicam ainda que Idries Shah, um sufi de origem afegã, autor de vários livros, teria comparecido ainda no velório de Gurdjieff e se apresentado como aquele que daria continuidade ao Trabalho.

O fato é que pouco depois da morte de Gurdjieff, Jeanne de Salzmann conclamou a todos os que haviam trabalhado com ele a comparecer e se unir aos grupos do Trabalho, que seriam liderados por ela. Desta sua iniciativa nasce a Fundação Gurdjieff em Paris, ativa até os dias de hoje, principalmente na França e Japão. Essa Fundação, entretanto, nunca chegou a servir como um fator de aglutinação de todas as pessoas que haviam participado ou que tinham interesse em participar do Trabalho. Acusada de adotar uma postura de certa rigidez e elitização, a Fundação chegou a decretar na década de 80 um "voto de silêncio" no sentido de proibir que seus participantes tornassem públicos os "segredos" que ela guardava, procurando restringir principalmente o acesso às técnicas de Movimentos. Esse fechamento parecia mais indicar uma falta de material mais aprofundado acerca das questões essenciais da Escola de Gurdjieff, fato este também sinalizado pela própria busca da Fundação pela Escola de Sarmoung.

Uma crítica frequente a Gurdjieff é que ele não deixou nenhum discípulo preparado para suceder-lhe e atuar como um mestre frente aos seus antigos e futuros discípulos. Jeanne de Salzmann, apesar de ter tentado assumir o Trabalho, permanece mais como a guardiã do material de Gurdjieff, e sua Fundação acaba por atuar mais como um culto ao antigo mestre do que como uma escola real de conhecimento.

Além da Fundação Gurdjieff organizada por Jeanne de Salzmann e seus colaboradores, existiu ainda inicialmente, a tentativa de Bennet, que em associação com Idries Shah, procurou dar continuidade aos ensinamentos de Gurdjieff. É importante enfatizar porém, como já foi dito acima, que Bennet foi durante toda a sua vida, aluno de Ouspensky, juntando-se a Gurdjieff apenas depois que Ouspensky morreu, o que aconteceu dois anos antes da morte de Gurdjieff. Bennet fundou Beshara, um Instituto nos moldes da Prieure na Inglaterra. Porém, ao se associar com Idries Shah, este último convence Bennet a vender-lhe a propriedade inteira, e ao fazer isso, Idries Shah, afirmando uma "impureza" em termos dos ideais e propostas de Beshara, demole as construções e vende o terreno. Mais tarde ele monta uma nova instituição voltada mais à edição e publicação de livros que se chamaria Coombe Springs, que por sua vez, daria origem à famosa editora Octagon. Posteriormente, Beshara foi reconstruída e existe ainda hoje, com o subtítulo de Intensive Esoteric School, promovendo alguns cursos.

Algumas pessoas se organizaram ao redor do trabalho de Bennet, mas seu ramo diminuiu em força depois de sua morte. Um de seus discípulos foi Rodney Collins, autor de alguns livros importantes e que, por sua vez, foi professor de E. J. Gold, um americano que vive atualmente em Nevada City em uma pequena comunidade que busca dar seqüência ao trabalho de Gurdjieff. Autor de vários livros bastante interessantes, Gold se dedica também à formas diversas de arte.

Uma outra derivação atual dos trabalhos de Bennet foi o desenvolvimento de um conjunto de técnicas empregadas em empresas e por profissionais de recursos humanos chamada de Synergetics, que usa o Eneagrama como fundamento. Outros autores também desenvolveram técnicas psicológicas usando o Eneagrama como base, como é o caso de Charles Tart, com o desenvolvimento da idéia dos Tipos Psicológicos e também Claudio Naranjo, mais ligado ao movimento New Age. Outra autora da atualidade que tem ligações com as escolas sufis e utiliza o Eneagrama como apoio de suas teorias é Laleh Bakhtiar que publicou uma série de três livros sob o nome God's Will Be Done, onde ela propõe uma série de atitudes e reflexões acerca da "cura moral" e condutas esperadas daqueles que se colocam dentro de um caminho espiritual.

É ainda dos grupos de Bennet que surge a Dervish, uma instituição com ramificações inclusive aqui no Brasil. Por longo tempo, a Dervish associou-se a Idries Shah e a seu irmão Omar Ali Shah, mas no início da década de 80, aqui no Brasil, envolveu-se em uma série de escândalos que chegaram a receber a atenção da Interpol. Além do trabalho com grupos de pessoas, a Dervish organizou-se também como editora e traduziu e publicou alguns livros básicos sobre o Quarto Caminho.

Idries Shah continuou atuante até sua morte no final da década de 90. Ele afirmava ser um Sayed, ou seja, um descendente direto da família do Profeta Muhammad. Seu pai era um sufi importante e autor de um livro básico sobre sufismo. Idries Shah afirmava ter estado também em Sarmoung no Afeganistão. Algumas descrições de sua estadia nesta Escola foram inclusive registradas em alguns de seus livros. Porém, pouca certeza existe acerca desses relatos. Autor de uma obra extensa, ele se dedicou também a coletar as chamadas "histórias de ensinar" que surgiram ao longo do tempo. Publicou coletâneas dessas histórias sob títulos diversos, entre eles Histórias dos Dervixes e a Gazela Velada, assim como uma coletânea das histórias de Nasrudin. Sob o pseudônimo de Rafael Leffort, ele escreveu alguns livros criticando o trabalho de Gurdjieff, afirmando que suas bases não eram verdadeiras. Apesar de permanecer como um personagem dúbio, sua obra literária permanece como sendo talvez, seu maior legado.

É importante abrir aqui um parênteses sobre Sarmoung. Na maioria das vezes, a referência à Sarmoung é feita em termos de um Monastério, ou seja, um lugar físico localizado em algum ponto geográfico talvez no Afeganistão. Porém, a definição mais precisa de Sarmoung é a de uma Escola de Sabedoria que não necessariamente existia (ou existe) como um lugar físico, mas sim como uma tradição envolvendo homens e mulheres, cuja função era coletar, manter e desenvolver os conhecimentos espirituais mais importantes para a humanidade. Ou seja, se existe um "lugar" onde esse conhecimento se concentra, é na própria mente e coração das pessoas que faziam e fazem parte dessa linhagem. O próprio símbolo de Sarmoung refere-se a essa atitude de seus participantes: foi escolhido uma abelha para simbolizar essa tradição, uma referência direta ao trabalho de coleta e proteção daquilo que seria o néctar da humanidade. Quando se faz referência ao fato de Gurdjieff ou seus associados terem descoberto Sarmoung, essa referência deve ser compreendida frente à essa explanação. Porém, se isso realmente aconteceu no caso de Gurdjieff, o contato dele com essa Escola de Sabedoria, deve ter acontecido de forma superficial, talvez num espaço curto de tempo, pois não vemos um aprofundamento dos temas e técnicas principais de sua Escola seja em seus escritos ou no desenvolvimento de sua tradição como um todo. (Para maiores referências sobre esse assunto ver Scott 1983 e Bennet 1977).

Um outro segmento que surge depois da morte de Gurdjieff é um grupo que se denomina de Gurdjieff-Ouspensky. Esse grupo, atualmente, ganhou um certo destaque, infelizmente de forma negativa, com a Fellowship of Friends de Robert Earl Burton. Esse grupo tinha princípios extremamente elitistas e aceitava apenas pessoas das altas camadas sociais. Uma série de escândalos foram descobertos recentemente acerca do uso dos fundos monetários e também de ordem sexual. Isso denegriu bastante a visão das derivações do trabalho de Gurdjieff frente à mídia.

Muitos outros grupos menores surgiram ao longo do tempo que afirmavam ser continuadores do pensamento de Gurdjieff. A maioria centrou-se num "guru" carismático e não teve continuidade depois de sua morte.

Um dos continuadores dos trabalhos de Gurdjieff foi Boris Mouravieff, um russo que chegou a conhece-lo, apesar de não ter participado diretamente de seus grupos. Ele foi para a Suíça, onde passou a escrever uma obra dedicada a buscar as conexões entre o Cristianismo e o Trabalho, pois o próprio Gurdjieff afirmava que o Trabalho era uma forma avançada de Cristianismo Esotérico. Depois de sua morte em 1972 seu trabalho permaneceu esquecido para, mais recentemente, reviver nos EUA.

Outra personalidade atual que se diz um continuador do Trabalho é N. Tereschenko, também russo, e que vem publicando alguns livros sobre o assunto. Patrick Patterson, um americano, é outro autor atual que afirma ser um continuador do Quarto Caminho e que tem buscado associar ao Quarto Caminho outras tradições como o Zen Budismo. Existem também na Austrália alguns grupos que dão seqüência à tradições de Gurdjieff e se apoiam nos materiais de M. Nicoll e de Bennet.

Assumindo formas diferente, as idéias de Gurdjieff se dispersaram nos anos que seguiram sua morte. Podemos ver referências de seu trabalho, veladas ou explícitas, em vários segmentos humanos como certas revistas em quadrinhos, teatro e cinema, nas idéias veiculadas por grupos artísticos como o Monthy Python e até na série Jornada nas Estrelas, com a divisão clara dos 4 personagens principais assumindo as características dos 4 primeiros Tipos Psicológicos que Gurdjieff descrevia: o homem motor, o emocional, o intelectual e o homem esperto.

Na Psicologia suas idéias também exerceram forte influência, não só através do uso do Eneagrama e das Tipologias como citado acima, mas principalmente com a idéia dos múltiplos "eus" ou personalidades e também com a idéia da mecanicidade das reações humanas. O primeiro destes tópicos viria a abalar algumas das convicções e práticas mais arraigadas da Psicologia Clássica.

É curioso notar que a alguns anos atrás o trabalho de Gurdjieff não recebia muito crédito. Ele era freqüentemente confundido com mais um guru, um personagem polêmico e algo charlatão. Porém, de algum tempo para cá, essa visão mudou e vemos hoje várias referências de cunho mais acadêmico ao seu trabalho. Além das referências dentro da Psicologia, vemos outras citações de seus trabalhos em vários segmentos da cultura e arte contemporâneas.

Talvez a herança mais importante da Escola de Gurdjieff tenha sido o fato que, sua idéia básica de que o homem está adormecido, de uma forma ou de outra, acabou por ser incorporada nas massas e passou a ser praticamente de domínio público. Esta idéia não só está presente como também é reconhecida pelas pessoas como sendo verdadeira. Isso não implica que a maioria das pessoas consiga modificar o estado de adormecimento, e nem mesmo que elas reconheçam a fonte dessa afirmação como sendo Gurdjieff, mas ela existe incorporada na cultura humana e pode ser reconhecida com facilidade. É importante frisar que essa idéia em si não é nova, mas no entanto, ela parece ter sido incorporada por um número bastante grande de pessoas depois do trabalho de Gurdjieff e seus discípulos.


As fontes de Gurdjieff e as críticas mais freqüentes ao seu trabalho

Muito se fala das viagens que Gurdjieff realizou ao longo de sua vida e dos constantes contatos com professores e tradições diversas. Porém, apesar de pouco citado, Gurdjieff parece ter sido influenciado principalmente pela Teosofia de Blavatsky. Uma análise do material teosófico mostra várias conexões com o do Quarto Caminho.

Além da Teosofia, um outro personagem que parece ter sido uma fonte importante para Gurdjieff é P. B. Randolf da Pensilvânia. Randolf também é citado nos trabalhos relacionados com a Teosofia e ele parece ter sido uma fonte não só para Gurdjieff como também para Aleister Crowley, um personagem polêmico, também contemporâneo de Gurdjieff, cujo trabalho desperta muita curiosidade entre vários grupos ocultistas que existem atualmente. Crowley e Gurdjieff chegaram a se conhecer. Crowley visitou a Prieure, mas ambos se desentenderam e não chegaram a desenvolver um contato mais próximo.

É importante mencionar também a conexão com Jacques Dalcroze, um austríaco contemporâneo de Gurdjieff e professor de Jeanne de Salzmann. Dalcroze desenvolveu um método de educação musical chamado de Ginástica Rítmica. Em seus fundamentos ele afirma que todo o processo de aprendizado pode ser estimulado através do uso de ritmos musicais e movimentos corporais. Extenso material pode ser encontrado atualmente sobre sua escola. As técnicas corporais de Dalcroze são bastante semelhantes às utilizadas por Gurdjieff em seus estudos de Movimentos e Danças Sagradas, técnica nuclear de sua escola e que como dito acima, foi apresentada no bale A Luta dos Magos. Parece que ao incorporar Jeanne de Salzmann e um grupo de suas alunas ao seu Instituto, Gurdjieff somou à sua própria metodologia muito da escola de Dalcroze.

Seria pouco correto falar sobre as influências que Gurdjieff recebeu sem citar o Sufismo de forma mais cuidadosa. Muitos de seus biógrafos afirmam que ele esteve em contato com muitas linhagens sufis em suas andanças e que estes teriam sido uma fonte importante de conhecimento para ele. O Sufismo é uma tradição cujas origens podem ser discutidas apenas com muita dificuldade. Idries Shah escreveu um extenso livro que costuma ser colocado como uma referência sobre esse assunto. O Sufismo é constantemente associado com a religião islâmica, porém, ele pode ser encontrado na raiz de muitas religiões, fortemente identificado com o caráter mais interno e esotérico delas. De uma forma ou de outra, durante muito tempo, o Sufismo foi associado com o que havia de mais perfeito em termos da busca religiosa e parece que a tentativa de associar Gurdjieff ao Sufismo buscava legitimar a tradição dele. Porém, é possível reconhecer a presença da influência do Sufismo no Quarto Caminho apenas em algumas das assertivas básicas do seu corpo teórico (ver próximo tópico). Gurdjieff sempre deu uma ênfase científica e psicológica ao seu trabalho, sem dúvida para tentar atrair as mentes ocidentais, e o aspecto religioso de sua tradição fica sempre em segundo plano, apenas com algumas poucas referências no seu livro Beelzebub's Tales. Além disso, o Sufismo se apoia em uma série de técnicas básicas e qualquer estudioso que se debruce sobre essa tradição perceberá a ausência delas na tradição de Gurdjieff. Por outro lado, um fato curioso, é que alguns xeiques sufis se interessaram pelo trabalho de Gurdjieff e buscaram mesmo aplica-lo em suas escolas, como é o caso de um dos xeiques dos Halveti al Jerrahi que afirmava que os métodos de Gurdjieff podiam ser interessantes no início do treinamento dos discípulos. Esse interesse do Sufismo em Gurdjieff provavelmente, é devido mais a necessidade deles por uma linguagem que o ocidente aceite e reconheça do que a uma falta de técnicas e conhecimentos, que são bastante variados e sofisticados no Sufismo.

Aliás, esse ponto introduz uma das críticas mais importantes que se faz ao Quarto Caminho. Apesar de apontar para as dimensões superioras do ser humano, utilizando-se dos modelos dos Centros Emocional e Intelectual Superiores, por exemplo (ver próximos tópicos), muito pouco se é dito de como desenvolve-las. Todas as afirmações básicas se fundamentam em questões mais psicológicas, como a falta de atenção, a mecanicidade, a multiplicidade dos eus, e as técnicas descritas atuam fundamentalmente sobre estas áreas. As próprias descrições das atividades de Gurdjieff e de seus discípulos, apontam sempre para o desenvolvimento da área motora, com suas danças e exercícios de super esforço, e muito pouco se sabe de técnicas mais profundas e sofisticadas que ele teria desenvolvido. Por exemplo, o controle das emoções negativas é apontado como sendo um dos trabalhos que Gurdjieff desenvolvia em relação às emoções. Suas referências sempre descrevem as emoções negativas, como ódio, inveja, raiva, medo, etc., mas, tendências atuais do Trabalho afirmam que o trabalho sobre apenas esse aspecto das emoções não basta. As emoções negativas seriam as emoções reativas e incluiriam portanto, a alegria, prazer, etc.. Ou seja, não se trata apenas de controlar algumas emoções específicas, mas sim de controlar o aspecto mecânico e reativo das emoções como um todo. E ainda assim, essa seria apenas uma das primeiras técnicas de trabalho sobre as emoções. Um desenvolvimento efetivo do Centro Emocional Superior implicaria em outras técnicas, algumas das quais serão descritas nas páginas que se seguem.

Apesar das críticas colocadas, deve-se compreender que, ainda assim, o corpo de conhecimento de Gurdjieff constitui-se uma das tentativas mais importantes, que surgiu ao longo da humanidade, de promover um crescimento genuíno do ser humano. Por ser extremamente direto, prático e objetivo, ele oferece pouco espaço seja para condescendência com o estado de adormecimento ou ilusões acerca de um falso crescimento. É importante notar que Gurdjieff inseriu-se dentro de uma linhagem mestres pertencentes à Escolas de Sabedoria que existiam antes dele e que continuam atuando ainda hoje, de uma forma geralmente mais oculta.

Os fundamentos básicos de sua Escola e as técnicas principais serão apresentados nas páginas que se seguem. É necessário enfatizar que muito do que será apresentado a seguir é fruto de estudos da bibliografia relacionada ao material de Gurdjieff e principalmente, de estudos em grupos e contatos com tendências atuais do Trabalho, de tal forma a expandir e aprofundar a visão inicial que Gurdjieff apresentou.

Autoria: Grupo Sol - Instituto Nokhooja

Biografia Franz Bardon Español


Franz Bardon (1 de diciembre de 1909 - 10 de julio de 1958) fue un esoterista y ocultista checo nacido en Opava, actual República Checa.
Durante la Segunda Guerra Mundial fue internado en un campo de concentración por negarse a colaborar con el esoterismo nazi.

Continuó sus investigaciones hasta 1958 cuando fue encarcelado por el gobierno comunista bajo la excusa de no pagar impuestos por el alcohol usado en sus medicinas espagíricas. Muere ese mismo año en el hospital de la prisión de Brno de una pancreatitis.

Su Obra

Su trabajo sistematizó muchos conceptos esotéricos y mágicos.
Sus principales obras son:

“Iniciación al Hermetismo”
“La práctica de la evocación mágica”
“La clave de la verdadera Cabala”
“Frabato, el mago”

Iniciación al Hermetismo

Es sin duda la obra principal de Bardon, siendo un auténtico compendio mágico. Puede ser adoptado como un curso de magia en 10 “pasos”.

En esta obra el autor divide a la persona en tres planos: físico, mental y astral y brinda ejercicios para cada uno de esos planos.

Revela el secreto de la primera Carta del Tarot. Es un curso de instrucción de magia científica en diez etapas. Teoría y práctica para una iniciación Mágica.

La práctica de la evocación mágica

Esta obra versa sobre la evocación de los espíritus y marca una diferencia con la “invocación”.

La clave de la verdadera Cabala

Esta obra trata sobre leyes herméticas, el esoterismo de las letras, mantras, fórmulas mágicas, vocalización de diferentes letras hebreas para su uso mágico y diversos rituales de orientación cabalística.

El considera como prerrequisito para acceder a los conocimientos y prácticas de este libro el haber realizado las prácticas de “Iniciación al Hermetismo”.

Frabato el mago

Frabato, el mago es una novela esotérica donde denuncia a algunas logias masónicas por su práctica del asesinato ritual y del satanismo. Lo verdaderamente esencial de esa obra es un anexo que se le integró al libro que se denomina "El libro dorado de la sabiduría" que da algunas claves fundamentales sobre el trabajo con la cuarta carta del tarot, "El emperador".


Biografia Franz Bardon Parte 2


Franz Bardon, também chamado Frabato e Meister Arion, nome de batismo František Bardon (Kateřinky, 1º de dezembro de 1909 – Brno, 10 de julho de 1958) foi um mago de palco, naturopata, grafólogo, professor e estudante de magia , mas é mais conhecido atualmente por ter escrito três volumes científicos sobre o Hermetismo prático: O Caminho do Verdadeiro Adepto, Die Praxis der magischen Evokation (A Prática da Evocação Mágica) (abrev.: PEM) e Der Schlüssel zur wahren Quabbalah (A Chave para a Verdadeira Quabbalah)

Infância

Apenas poucas referências a seu respeito são encontradas em seus trabalhos (normalmente relatos de como ele próprio testou determinados experimentos ou rituais e os resultados obtidos). Com menor quantidade de informação a respeito da pessoa de Bardon, pois ao contrário de outros grandes nomes do ocultismo, buscava sempre não criar uma lenda ao redor de si mesmo. O resultado disto parece ter sido o oposto ao desejado por Bardon e sua vida acabou sendo recheada de lendas, que jamais poderão ser negadas ou comprovadas, e histórias místicas que beiram o incrível.

Nascido em Opava (em alemão, Troppau), mesma terra do botânico Gregor Mendel, na República Tcheca, foi o primeiro de treze filhos, apenas quatro deles chegando à idade adulta. O pai de Franz, Victor, trabalhava numa fábrica de ferramentas e, nas horas de lazer, dedicava-se ao estudo do Hermetismo, e sobre sua mãe, Hédrodkova, nada se sabe.

Franz freqüentou a escola primária e estagiou profissionalmente numa fábrica como serralheiro-reparador de máquinas. Mais ou menos nessa época, provavelmente entre 14 e 20 anos, diz seu filho Lumir, Bardon transformou-se totalmente, mostrando capacidades de clarividência e mudança total de caráter, como se fosse outra pessoa. Diz-se que um espírito passou a ocupar o corpo físico do jovem Franz Bardon. Bardon fala sobre tal transformação em A Prática da Evocação Mágica: “(...) Acontece, algumas vezes, que pessoas que já alcançaram um alto nível de perfeição na Terra são capazes de continuar seu desenvolvimento espiritual no mundo astral até a perfeição, mas essas pessoas são selecionadas pela Providência Divina a cumprir uma ou mais missões na Terra. Tais líderes espirituais são, portanto, magos ou iniciados de nascença, que, em certa parte do desenvolvimento de seus corpos físicos (geralmente pouco após a puberdade) tornam-se, de repente, conscientes de seu estado, de seu grau de desenvolvimento espiritual, e só precisam de pouco mais experiência para se tornarem maduros o suficiente para sua missão divina.”

Bardon começou a usar suas habilidades mágicas nessa época, passando a ser conhecido por Frabato, uma abreviação de Franz (Fra) Bardon (Ba) Troppau (em alemão) (T) - Opava (em tcheco) (O).

Casamento e Filhos

Franz casou-se com Marie, que passou a se chamar Marie Bardonová, lpor volta de seus 21 anos. Apesar de não querer um filho, para não ser "impedido" em sua missão, sua esposa queria muito e Lumir nasceu prematuro no dia 4 de janeiro de 1937. Nesta mesma época, houve um certo momento em que Bardon foi e voltou dos campos de concentração, mas sobre isso pouco foi revelado. Depois desse período, trabalhou como diretor de um hospital e comprou uma casa em Bogengasse, casa que ocuparia até o fim de sua vida. Bardon convidou sua esposa a se mudar para a nova casa, mas ela recusou, para não deixar sua mãe nem o trabalho agrícola em Gillschwitrz. Bardon contratou, para cuidar de sua casa, uma empregada.

A Época de Frabato

Começou a fazer demonstrações públicas de magia e de princípios herméticos em vários pontos do país. Foi nessa época em que começou a aceitar estudantes, como o Dr. M.K., com apenas 16 anos. Iniciava alguns até além da terceira carta de tarô, e também se correspondia com muitos discípulos em outras partes do mundo. Fazia hipnose, lia cartas dentro de envelopes lacrados, localizava objetos escondidos, entre outras coisas. Comprou motos e carros, indo frequentemente aos campos para buscar ervas especiais. Durante essa época, atendia pessoas pedindo ajuda, prevendo o futuro, contribuindo à busca de exilados da Guerra e achando os corpos de pessoas afogadas usando, como ponto de auxílio, fotografias. Também, na cozinha de sua casa, mantinha um laboratório no qual fazia remédios e elixires alquímicos.

Publicação dos Livros, Prisão e Morte

Formou-se como naturopata e daí vem sua grande influência em condensadores fluídicos, ervas e medicamentos naturais.

Ditou, com a ajuda de uma de suas discípulas em Praga, Otti Votavova, os quatro primeiros volumes científicos dos cinco que pretendera escrever. O quarto, O Livro de Ouro da Sabedoria, já estava pronto, mas foi confiscado e destruído completamente pelos oficiais do Governo. O quinto livro de Bardon, relativo à quinta carta de tarô, era relacionado à Alquimia.

Bardon foi preso sob acusação de charlatanismo e foi obrigado a fazer trabalhos forçados. Depois, foi preso de novo em 26 de março de 1958, sob a acusação de preparação de drogas ilegais. Se essa prisão foi apenas um pretexto para outra coisa, como dizem as teorias sobre Adolf Hitler e a Loja 99, não sabemos até hoje. Não sabemos também o porquê de ter morrido de, provavelmente, inflamação no pâncreas, após comer um pedaço de presunto defumado que sua própria esposa preparou. Isso aconteceu no dia 10 de julho de 1958. Há muitas teorias sobre sua morte, desde a de que envenenaram esse presunto defumado até a de ele ter se suicidado.

As Obras de Franz Bardon

As obras de Franz Bardon constituem um sistema de magia bastante completo, totalmente científico e racional. Suas obras dão especial ênfase à prática, visando à obtenção de resultados tangíveis e observáveis, além de serem claras, completas e sérias, retratando assim um autor honesto, competente e cuidadoso. Seu sistema é isento de ideologias ou conceitos religiosos, sendo adequado a todos os estudiosos de quaisquer religiões.

Magia Prática - O Caminho do Adepto (Título original em inglês: "Initiation into Hermetics" ou "Iniciação ao Hermetismo") - Publicado em 1956 e lançado no Brasil pela Editora Ground, é a única obra de Bardon disponível em português. Um verdadeiro clássico do Hermetismo, esse livro é divido em uma parte teórica e uma parte prática. A parte teórica explica sobre os Quatro Elementos, os fluidos Elétrico e Magnético, os três planos da existência, etc. Já a parte prática é subdividida em dez graus, de acordo com a evolução do estudante, e cada grau contém instruções para desenvolver o Corpo Físico, a Alma (ou Corpo Astral) e o Espírito. É considerada a obra mais bem-escrita de Bardon. Trata-se de um Sistema de magia completo e gradual, e considerado por muitos, incluindo na lista Rawn Clark, William Mistele, David Coleman, Ray del Sole, Iris Rinkenbach, Bran O. Hodapp, Justin Beldwell, Kurt Walchensteiner e os gêmeos Chris e Daniel Murphy (Fra. Veos e Fra. Ramose da escola The Divine Science) um dos melhores Sistemas de Desenvolvimento Mágico do século XX.

A Prática de Magia Evocatória - A continuação de "Iniciação ao Hermetismo". Nesta obra, Bardon explica passo-a-passo a teoria e a prática da Evocação Mágica. Explica como um Mago evoca entidades dogmáticas, como anjos e espíritos das esferas planetárias de nosso Sistema Solar, também evocam entidades pragmáticas, como demônios e gênios. O leitor irá aprender o significado do círculo mágico, do triângulo mágico, da varinha, vestimenta e outras ferramentas evocatórias. Além disso, Bardon fornece nessa obra centenas de selos de anjos, gênios e elementais, que podem ensinar ao Mago uma miríade de assuntos e de técnicas, como Alquimia, Astronomia, Adivinhação, etc., e ainda podem ajudar o Mago, colocando à sua disposição seus espíritos subordinados.
A Chave para a Verdadeira Quabbalah - No terceiro livro de Bardon, publicado em 1957, Bardon ensina o mistério do misticismo das letras e números da Verdadeira Quabbalah (aqui, no caso, não se trata da Kabbalah Judaica, e sim da Quabbalah Hermética). Como obter o mais alto nível de realização mágica através do conhecimento dos sons cores, números e vibrações expressadas pela Quabbalah, e, assim, como criar palavras e sentenças que produzem efeitos no mundo físico, tal como os milagres descritos na Bíblia e outros livros sagrados.
Frabato, O Mago - Embora escrito na forma de um livro de ficção, na verdade trata-se de uma autobiografia de Franz Bardon. Nessa obra, o Mago Frabato, (na verdade o próprio Bardon) conta sua história na Alemanha na década de 1930, fala de sua batalha com Magos Negros, revela as forças ocultas que causaram a ascensão do Terceiro Reich, e nos conta ainda o começo da missão espiritual que culminaria com a criação da trilogia de livros sobre Hermetismo.
Perguntas e Respostas - Uma obra póstuma, na qual discípulos de Bardon compilaram sob a forma de perguntas e respostas anotações de ensinamentos orais que foram transmitidos pelo Mestre aos seus discípulos em vida.

Bases da Filosofia

Bardon postulava um modelo de Universo obtido através de sua interpretação das teorias orientais, tais como o Hinduísmo e o Taoísmo. Seus fluidos "magnético" e "elétrico", atuando complementarmente, remetem ao Yin e ao Yang. E mesmo possuindo conceitos diferentes das forças físicas de mesmo nome, guardam ainda uma certa proximidade das mesmas. O "magnetismo" seria uma força negativa, de emanações azuladas; a "eletricidade" seria uma força positiva e de emanações avermelhadas. Em "Iniciação ao Hermetismo", ele refere-se às forças "OR" e "OB". Possivelmente tais significam o Vermelho (OR = "Odyle Rot") e o Azul (OB = "Odyle Blau"), ou seja, as forças "elétrica" e "magnética". Uma outra possibilidade seria uma referência às forças OD e OB de Levi. O conceito de OD ou Odyle foi utilizado por Kark von Reichenbach, anteriormente, em meados do século XIX. Até hoje vê-se resquícios deste pensamento no hábito de se pintar o pólo negativo de um magneto de azul e o positivo de vermelho (dizia-se serem estas as cores vistas por sensitivos ao observarem um imã). Originalmente Bardon referia-se também, por vezes, a este conceito como "Energia Vital" ("lebenskraft"). Segundo ele, cada parte do corpo era governada por uma destas formas de energia e o desequilíbrio das mesmas resultava do desequilíbrio entre as mesmas.
Na visão de Bardon o mundo era composto dos Quatro Elementos clássicos (Fogo, Ar, Terra e água) unidos ao Akasha (a Quintessência). Mantinha relativamente as mesmas atribuições para cada um destes elementos que as utilizadas por outros sistemas. Considerava que um mago deveria tornar-se um mestre na manipulação destes Elementos e só assim poderia alcançar os resultados mágicos desejados, através da harmonização e do controle dos mesmos, principalmente dentro de si próprio. Alegava a superioridade do Homem sobre todos os espíritos, demônios e anjos pois apenas o Ser Humano era composto dos Quatro Elementos. Todos os outros seres espirituais, por sua vez, compunham-se de um ou, no máximo, dois e raramente três destes. Chegava a alertar seus discípulos que se acautelassem no trato com estas criaturas, cujo principal objetivo seria capturar a parte da alma Humana que lhes faltava. Dizia também que tudo podia ser alcançado através de um cuidadoso trabalho com os elementos e que o Akasha não deveria ser acumulado em "molduras mentais" e sim devolvido ao Universo pois a própria mente era uma forma deste Princípio Quintessensial e não deveria moldar-se em padrões rígidos.

Este equilíbrio entre os princípios elementais dentro do próprio estudante era para Bardon a base de todo o trabalho mágico. Ninguém que estivesse em desequilíbrio, seja pela falta ou pelo excesso de um dos elementos, poderia conseguir um sucesso significativo em seus experimentos. Outra assertiva sua era de que, uma vez iniciado um processo, o estudante deveria diligentemente seguí-lo passo a passo, sem pular nenhuma das sessões de treinamento. Era necessário o absoluto domínio de cada passo antes de se passar para o seguinte.

O registro acurado de um diário mágico era também considerado imprescindível. Apenas através dele seria possível ao estudante repetir experimentos bem-suscedidos e evitar erros passados.

Prática Mágica em Iniciação ao Hermetismo

Bardon dividiu o progresso dos estudos mágicos em dez Graus. Seguem explicações rápidas de alguns dos exercícios e práticas mágicas desses Graus:

Auto-Análise e Exercícios Básicos - O estudante deveria trabalhar diligentemente na compreensão de si mesmo e na harmonização dos Quatro Elementos em si próprio antes de buscar qualquer outro tipo de trabalho ocultista. Eram prescritas várias semanas de uma auto-observação minuciosa, honesta e imparcial, com registro de todas as descobertas, positivas ou negativas. O estudante deveria classificar-se em cada um dos quatro Elementos para descobrir onde estavam seus desequilíbrios. Exercícios similares classificavam suas falhas e outros, suas virtudes. A partir do momento em que os Quatro Elementos estivessem devidamente balanceados e controlados, o estudante não poderia permitir-se cair novamente em desequilíbrio ou manter quaisquer obsessões que bloqueassem sua eficácia ou gerassem pontos de fraqueza em si.

Concentração Intermediária e Respiração O passo seguinte era reforçar no estudante a capacidade de concentração e o domínio de técnicas de respiração e auto-sugestão. Dizia ser esta a chave secreta para o subconsciente humano. Bardon separava a respiração em duas formas, a pulmonar (normal) e a cutânea. Acreditava na capacidade de se controlar esta segunda através da prática, combinando-a com a pulmonar normal. O objetivo era a inspiração dos Quatro Elementos.

Exercícios Avançados de Visualização e de Manipulação dos Elementos - Aqui o estudante aprendia a alcançar estados de intensa concentração e à visualização de objetos de formas cada vez mais complexo bem como a "inalação" dos Elementos para dentro do corpo. Era também ensinada ao estudante a preparação e "carga" de talismãs, aposentos, objetos de proteção, cura e outros.

Acumulação dos Elementos e Rituais - Estando o estudante perfeitamente equilibrado em relação aos Quatro Elementos passava-se ao domínio das técnicas de sua acumulação e concentração no próprio corpo. No conceito de Bardon, os rituais eram complexos mnemônicos, baseados em fórmulas verbais e gestuais e de visualização, utilizados para a manipulação das energias elementais. Uma vez que estes já estivessem dominados, bastaria um simples gesto ou fórmula silenciosa para que seu objetivo fosse cumprido.

Transposição de Consciência e Levitação (Limitada a Certas Regiões do Corpo) - Este passo consistia em uma série de exercícios destinados à preparação do estudante para a levitação física e astral em certas partes do corpo, além dos processos de viagem astral. Estes serviam como uma base para todos os processos de comunicação com as entidades astrais, passivamente. A comunicação ativa só viria nos Graus posteriores.

Apresentação às Entidades Astrais e Viagem Astral - Mais do que a pura viagem astral ou o contato com entidades astrais, esta parte do treinamento capacitava o estudante à criação de entidades não-físicas para seu uso. É também feito um alerta quanto à criação não intencional das mesmas, que poderiam atacar e parasitar o seu criador.

Desenvolvimento da Percepção Extrassensorial e Criação de Elementares - Bardon dava ao estudante instruções e indicava a instrumentação necessária para o desenvolvimento de habilidades extrassensoriais tais como a Clarividência, a Clariaudiência e outros. Discutia também a Vitalização de estátuas e de imagens.

Condensadores Fluídicos - Neste ponto o estudante era instruído na construção de um instrumental mágico que lhe permitisse concentrar, armazenar e manipular os fluidos "magnético" e "elétrico", bem como os outros Elementos e a Energia Vital. Eram dadas instruções precisas de sua confecção, carga e utilização.

Espelhos Mágicos para Viagens Astrais e Cura - Segundo Bardon, os espelhos mágicos (dentre os quais classificava as bolas de cristal) eram instrumentos valiosos em muitos experimentos de PES. Tais instrumentos eram listados e explicados em seu uso. Ensinava-se também o tratamento de doenças através dos fluidos "magnético" e "elétrico", além da carga mágica de talismãs, amuletos e pedras preciosas.

Elevação do Espírito a Níveis Superiores - A parte final do caminho mágico de Bardon eram as diversas formas pelas quais um estudante poderia elevar suas qualidades espirituais. Dentre outros tópicos., eram discutidas práticas tais como a levitação, produção de fenômenos naturais, sugestão e hipnose, psicometria e impregnação de ambientes com um elemento ou uma energia à distância.

Referências
 
Dr. Lumir Bardon & Dr. M. Kumar. Souvenirs de Franz Bardon. Editado por Alexandre Moryason. ISBN 3-921338-19-0

Biografia Franz Bardon Parte 1


Texto de Júnio Rodrigues

Franz Bardon nasceu em 1909, na antiga Tchecoslováquia. Era o mais velho de uma família de 13 filhos. Seu pai, Viktor Bardon, era um homem que possuía um desenvolvimento espiritual em estágio avançado, porém não era um Iniciado. Todos os dias, ele orava fervorosamente para que pudesse encontrar um Mestre legítimo.  Assim, a Divina Providência, atendendo às suas preces, permitiu que o espírito de um Grande Iniciado encarnasse no corpo de seu filho mais velho, Franz. Esse espírito seria a última encarnação de uma Inteligência que já habitou corpos de Iniciados, como Apolônio de Tiana (o grande Mago grego, contemporâneo de Jesus Cristo); Lao – Tse, o sábio chinês fundador do Taoísmo; e Michel de Nostradamus.

Ao atingir a idade adulta, Franz Bardon, utilizando o nome mágico de Frabato, passou a ganhar a vida como mágico de palco e ilusionista. Segundo sua principal biógrafa, discípula e amiga íntima Sra. Otti Votavova, ele era um “estouro”! Porém secretamente, era um Mestre das Artes Ocultas, tornando-se muito conhecido nos Círculos Iniciáticos alemães durante as décadas de 1920/1930.

Com o surgimento de Adolf Hitler e o Nazismo, diversos grupos como a O.T.O., e a Franco – Maçonaria foram proibidos, e alguns de seus membros presos. Sociedades Ocultas são consideradas uma ameaça aos Regimes Totalitários, porque mostram, através de seus ensinamentos, a forma de se alcançar uma liberdade impossível de ser reprimida. O próprio Hitler teria pertencido ao legendário “FOGC”,  ou “Loja 99”, de Magia Negra, e, alguns de seus oficiais seriam membros da “Fraternidade de Thule” (“Thule Order”),  que era o instrumento externo de uma Ordem de Magia Negra Tibetana.

Por negligência de um dos discípulos de Bardon (que não tinha destruído a correspondência, como Bardon tinha ordenado), Franz Bardon e seus discípulos foram presos pelos Nazistas, entre 1941/1942. Adolf Hitler ofereceu a Bardon altos cargos no Terceiro Reich, com a condição que ajudar a Alemanha a vencer a guerra através de seus conhecimentos mágicos. Como Bardon recusou-se a ajudar, os Nazistas o torturaram cruelmente. Entre as formas de tortura, incluía-se operação cirúrgica sem o uso de anestesia. È conhecida a história de que enquanto Bardon e seus discípulos estavam sendo chicoteados, um dos discípulos descontrolou-se e proferiu um encantamento cabalístico para imobilizar os torturadores. Porém, depois de algum tempo, o efeito do encantamento passou, e o discípulo foi vingativamente executado com rajadas de metralhadora.

Após recuperar a liberdade, Bardon recomeçou o trabalho oculto e passou a curar pessoas. Podia curar câncer até o 2º grau, sem cirurgias, com a própria medicina feita de plantas e fórmulas alquímicas. Por isso, os doutores da medicina oficial ficaram muito invejosos porque não obtiveram sucesso através de seus tratamentos químicos e nucleares. Bardon descobriu também, através de seus poderes mágicos, que Hitler havia fugido para outro país, e sofreu diversas cirurgias plásticas para não ser reconhecido.

Devido ao seu trabalho de cura natural, Bardon passou a ter problemas com o governo de seu país. A ideologia comunista então vigente na Tchecoslováquia pós-guerra perseguia todos os livre-pensadores, judeus, ciganos, maçons e qualquer um que se interessasse por assuntos ocultistas ou esotéricos. Com a publicação de seus livros, no final da década de 1950, diversas  pessoas vieram da Alemanha para visitar-lhe. Os doutores aproveitaram essa ocasião para acusar Bardon de ser um espião do Oeste, ocasionando novamente sua prisão.

Assim, Franz Bardon faleceu em 10 de julho de 1958, no hospital de um presídio militar tcheco.

Suas Obras

As obras de Franz Bardon constituem um Sistema Mágico completo e perfeito, totalmente científico e racional. Suas obras dão especial ênfase à prática, visando à obtenção de resultados tangíveis, além de serem claras, completas e sérias, retratando assim um Mestre honesto e competente. Seu Sistema é isento de isento de ideologias ou conceitos religiosos, sendo adequado a todos os estudiosos, pois pouco importa sua tendência filosófica ou mística.

Magia Prática - O Caminho do Adepto - (Título original em inglês: “Initiation into Hermetics”) - Lançado no Brasil pela Editora Ground, infelizmente é a única obra de Bardon disponível em português. Um verdadeiro clássico do Ocultismo, esse livro é divido em uma parte teórica e uma parte prática. A parte teórica explica sobre os quatro elementos, os fluidos elétrico e magnético da natureza, e outras coisas. Já a parte prática é subdividida em dez graus, de acordo com a evolução do “adepto”, e cada grau contém instruções para desenvolver o espírito, a mente e o corpo. Trata-se de um Sistema de Magia completo. O método é lento, se você quiser faze-lo com perfeição, porém extremamente eficiente.

Prática de Magia Evocatória - Nesta obra, a segunda da trilogia, Bardon explica passo-a-passo os mistérios da Evocação Mágica. Explica como um Mago Branco evoca entidades positivas, como anjos e espíritos das esferas planetárias de nosso Sistema Solar, e como Magos Negros evocam entidades malévolas. O leitor irá aprender o significado do círculo mágico, do triângulo mágico, da vara mágica, vestimenta e outras ferramentas. Além disso, Bardon fornece nessa obra centenas de selos de anjos, gênios e espíritos dos elementos, que podem ensinar ao Mago todos os tipos de assuntos conhecidos universalmente, como alquimia, astronomia, adivinhação, etc., e ainda podem ajudar em todos os tipos de situações pessoais ou profissionais.

A Chave da Verdadeira Kabbalah - Neste último livro da trilogia, Bardon ensina o mistério do misticismo das letras e números da Verdadeira Kabbalah (aqui, no caso, não se trata da Kabbalah Judaica, e sim da Kabbalah Hermética). Como obter o mais alto nível de realização mágica através do conhecimento dos sons cores, números e vibrações expressadas pela Kabbalah, e, assim, como criar palavras e sentenças que produzem efeitos no mundo físico, tal como os milagres descritos na Bíblia e outros livros sagrados.

Frabato, O Mago - Embora escrito na forma de um livro de ficção, na verdade trata-se de uma autobiografia de Franz Bardon. Nessa obra, o Mago Frabato, (na verdade o próprio Bardon) conta sua história na Alemanha da década de 1930, fala de sua batalha com Magos Negros, revela as forças ocultas que causaram a ascensão do Terceiro Reich, e nos conta ainda o começo da missão espiritual que culminaria com a criação da trilogia de livros sobre Hermetismo.

Perguntas e Respostas - Uma obra póstuma, onde um discípulo de Bardon compilou sob a forma de perguntas e respostas anotações de ensinamentos orais que foram transmitidos pelo Mestre aos seus discípulos.

Biografia Franz Anton Mesmer Parte 2



Franz Anton Mesmer foi místico, édico e inventor de um tratamento denominado "mesmerismo", o predecessor do hipnotismo, Ele nasceu em 23 de maio de 1734 em Iznang, uma vila perto do lago Constança, que naquela época pertencia à Áustria, atualmente território alemão. De família católica e sendo seu pai intendente e guarda de campo do bispo de Constança Mesmer passou sua infância passeando pelos campos que ficavam à margem do tranqüilo lago.

Quando chegou a idade escolar foi matriculado numa escola pública e posteriormente transferido a um convento franciscano onde aprendeu música e latim. Em seguida freqüentou um colégio de jesuítas e as universidade de Dilling e Inlogstadt, na Áustria. doutorando-se em teologia. Estudou ainda filosofia e direito. Seu terceiro doutorado, foi em Medicina, pela Universidade de Viena onde defendeu em 1766 sua tese em latim: "Dissertatio physicomedica de planetarum influxu in corpus humanum". (“Da influência dos planetas sobre o corpo humano”). Nela sustentava a teoria de que o homem, sendo feito da mesma substância que o universo está sujeito a influências oriundas do infinito. Para ele um fluído magnético misterioso emanaria das estrelas enchendo todo o universo, influenciando todos o equilíbrio do vis vitae, ou força vital dos organismos vivos. A má distribuição desse fluído causaria as doenças.

Os relatos e retratos da época descrevem Mesmer como uma figura fascinante de estatura elevada, porte imponente, fronte larga, rosto bem delineado, lábios fortes e olhos claros cinza aço. Seu olhar era ao mesmo tempo dominador e extremamente magnético. Tinha cuidado notório com a indumentária vestindo-se com luxo e bom gosto para sua época. A par de uma excelente e sólida cultura aristocrática possuía atitudes serenas e um caráter forte e voluntarioso.

Em 10 de janeiro de 1768 casou-se com Marie Ane von Posch, uma rica viúva uma década mais velha do que ele. O casal foi morar numa propriedade nos arredores de Viena, onde o médico instalou seu consultório. Boa parte do seu tempo era dedicado à sua apreciação por música e organização de sarais em sua própria residência. Mesmer incentivava a apreciação cultural e foi nesta mansão que Mozart estreou aos 12 anos a ópera Bastien et Bastienne encomendada por Mesmer

Origem do Magnetismo Animal
 
Em 1774 vivia em Viena o padre Maximiliano Hell ( 1720 -1792) que sabia confeccionar imãs para diversas finalidades. Certa vez o jesuíta foi procurado por um casal inglês, cuja esposa sofria de fortes cólicas estomacais. Nenhum médico havia conseguido curá-la. O imã aplicado por Hell, entretanto teve um efeito positivo sobre a moça. Quando Mesmer, que era amigo do padre, soube disso, começou a aplicá-lo em seus próprios pacientes. Quando clinicava empregava os imãs passando sobre o corpo do enfermo para produzir um estado semelhante ao sono durante o qual acreditava que o magneto exercia seu poder curativo, especialmente sobre úlceras, fistulas, fluxos nasais, menstruais e dores de cabeça.

Em 1776 já concluíra que o imã era desnecessário e o magnetismo mineral foi substituído pelo magnetismo animal que poderia ser dado pelo próprio magnetizador. Começou então a tratar seus pacientes através de imposição das mãos, fricções e toques nas regiões afetadas sempre prezando em mater um ambiente agradável com música suave. Sua técnica consistia em retirar do fluído cósmico universal a transferir para o corpo doente acelerando o ciclo da doença, antecipando sua crise (crisis hipocrática) e restabelecendo o estado de equilíbrio do corpo. Os doentes reagiam de várias maneiras: alguns choravam, outros riam, tinham convulsões ou se debatiam. Por fim se acalmavam e voltavam ao normal.

Perseguição em Viena e glória em Paris
 
Com este método Mesmer curou muita gente e aos poucos sua fama começou a se espalhar e a clientela aumentou consideravelmente. Uma das pessoas que o procurou foi Maria Teresa Paradis, famosa cantora e pianista da época cega desde os dois anos. Sua cegueira foi considerável incurável por dois conhecidos oftalmologistas de Vieva, o professor Barth e dr. Shoerk. Usando seus métodos Mesmer conseguiu restituir-lhe a vista e de brinde ganhou dois poderosos inimigos. Comentou-se muito o fato e , por fim, a mando da imperatriz da Àustria nomeou-se uma comissão para examinar o caso. O parecer foi desfavorável ao médico e foi alegado que na verdade o problema de Maria Teresa era de origem histérica e que impressionada pelos exames realizados pela comissão ela tornara a ficar cega. Não apenas isso, mas recebeu posteriormente uma intimação para não retornar ao tratamento oferecido por Mesmer.

Aborrecido com a falta de apoio de seus colegas Mesmer determinou-se a nada mais realizar publicamente em Viena. Viajou por diversos países da Europa anunciando a sua descoberta. Visitou a Suábia, a Baviera, a Suíça e a Hungria e por fim se estabeleceu em Paris em 1778. Procurou então as associações oficiais e academias francesas para que seus métodos fossem observados e estudados. Nada conseguiu no setor médico mas ganhou a graça da corte e algumas pessoas influentes lhe deram proteção e aos poucos ele recuperou a fama.

Obras de Franz Mesmer
Na França escreveu uma longa carta endereçada ao médico Johann Christoph Unzer que mais tarde foi transformada em um livro chamado 'Mémoire sur la découverte du magnétisme animal' (“Memória sobre a descoberta do Magnetismo Animal”) sua primeira obra descrevendo suas técnicas e descobertas. Mais tarde escreveu ainda em 1781 um livro mais completo chamado "Précis historique des faits relatifs au magnétisme animal jusqu’en avril" ("Sumário Histórico dos Fatos Relativos ao Magnetismo Animal”).

Em 1785, durante seus anos dourados em Paris, alguns alunos alunos de Mesmer entre eles (entre eles, Louis Caullet de Veaumorel) organizaram e publicaram os Aforismos de M.Mesmer. Os 344 aforismos não são escritos propriamente por Mesmer, mas são anotações destes seus alunos que refletem não só sua técnica do Magnetismo Animal, mas também sua filosofia de vida e visão de mundo. Por fim em 1799 lançou sua principal obra "Mémoires de F. A. Mesmer, docteur en médicine, sur ses découvertes" . (“Memória de F. A. Mesmer, Doutor em Medicina, Sobre suas Descobertas”) sendo esta sua obra definitiva contendo a principal descrição de suas terapias.

Princípios do Magnetismo Animal
 
Todo o modelo teórico do Magnetismo Animal contido em “Mémoires” pode ser entendido pelo excelente resumo dos 27 pontos disponibilizados por André Guéret e Pierre Oudinot em seu livro “Os Imponderáveis”. Vemos essa descrição essencial agora:

1º Existe uma influência mútua entre os corpos celestes, a terra e os corpos animados.

2º Um fluido universalmente propagado e contínuo, de modo a não sofrer qualquer vazio, cuja sutileza não permite comparações, e que, por sua natureza é suscetível de receber, propagar e comunicar todas as impressões do movimento, é o meio desta influencia.

3º Essa ação recíproca está submetida a leis mecânicas desconhecidas até o presente.

4º Resultam dessa ação efeitos alternativos que podem ser considerados como um fluxo e refluxo.

5º Este fluxo e refluxo é mais ou menos geral, mais ou menos particular, mais ou menos composto, segundo a natureza das causas que o determinam.

6º É por essa operação, a mais universal que a natureza nos oferece, que as relações de atividade se exercem entre os corpos celestes, a Terra e suas partes constitutivas.

7º As propriedades da matéria e dos corpos organizados dependem desta operação.

8º O corpo animal prova os efeitos alternativos deste agente, que ao se insinuar na estrutura dos nervos, afeta-os imediatamente.

9º Ele manifesta, especialmente no corpo humano, propriedades análogas ao ímã. Distinguem-se pólos igualmente diferentes e opostos, que podem ser comunicados, trocados, destruídos e reforçados; o próprio fenômeno da inclinação é também ai observado.

10º A propriedade do corpo animal que o torna suscetível à influencia dos corpos celestes e a ação recíproca daqueles que o cercam, manifesta pela sua analogia com o ímã, me determinou a chama-lo: “Magnetismo Animal.

11º A ação e a virtude do Magnetismo Animal, assim caracterizados, podem ser comunicados a outros corpos animados e inanimados. Uns e outros, entretanto, são mais ou menos suscetíveis.

12º Essa ação e essa virtude do Magnetismo Animal podem ser reforçadas e prolongadas por esses mesmos corpos.

13º Observa-se, em experiências, o escoamento de uma matéria, cuja sutileza penetra todos os corpos, sem perder praticamente sua atividade.

14º Sua ação realiza-se a distância afastada, sem a intervenção de qualquer corpo, intermediário.

15º Ela é aumentada e refletida pelos espelhos, tal como a luz.

16º Ela é comunicada propagada e aumentada pelo som.

17º Essa virtude magnética pode ser acumulada, concentrada, transformada.

18º Disse que os corpos animados não são igualmente suscetíveis; acontece mesmo, ainda que muito raramente, que têm uma propriedade tão oposta que sua simples presença destrói todos os efeitos desse magnetismo em outros corpos.

19º Essa virtude oposta também penetra todos os corpos; ela pode ser comunicada, propagada, acumulada e transformada, refletida por espelhos e propagada pelo som; o que constitui não apenas uma privação, mas uma virtude oposta: positiva.

20º O ímã, natural ou artificial, é suscetível ao magnetismo animal e à virtude oposta, sem que sua ação sobre a agulha seja alternada; o princípio do magnetismo animal difere, portanto, do mineral.

21º Este sistema fornecerá esclarecimentos sobre a natureza do fogo e da luz, bem como pela teoria da atração, sobre o fluxo e o refluxo do ímã e da eletricidade.

22º Ele permitirá saber que o ímã e a eletricidade artificial tem, em relação as doenças, apenas propriedades comuns a um grande número de outros agentes e que, se resultam alguns afeitos úteis da administração daqueles, isso se deve ao magnetismo animal.”

23º Reconhecer-se-á, por esses fatos, segundo as regras práticas que estabelecerei, que o princípio pode curar diretamente as doenças dos nervos e indiretamente as demais.

24º Com sua ajuda, o médico é esclarecido sobre a utilização dos medicamentos; aperfeiçoa sua ação, provoca e dirige as crises salutares, de modo a se tornar o senhor da situação.

25º Ao comunicar meu método, demonstrarei por uma nova teoria das doenças, a unidade universal do princípio que lhe aponho.

26º Com este conhecimento, o médico julgará seguramente a natureza e o progresso das doenças, mesmo das mais complicadas; ele impedirá seu desenvolvimento e alcançará sua cura, sem jamais expor o doente a efeitos perigosos ou a resultados inoportunos, seja qual for a idade, o temperamento ou o sexo. As mulheres grávidas e por ocasião dos partos gozarão das mesmas vantagens.

27º Esta doutrina, enfim colocará o médico em condições de julgar corretamente o grau de saúde de cada indivíduo e de preserva-lo das doenças às quais ele possa estar exposto. A arte de curar chegará à sua maior perfeição.

Estudantes de ocultismo terão muita familiaridade com vários dos pontos levantados por Mesmer. De fato, em seu livro 'História da Magia' Eliphas Levi, renomado ocultista do século XIX exalta esta técnica com as seguintes palavras: “Mesmer teve a gloria de encontrar, sem iniciador e sem conhecimentos ocultos, o agente universal da vida e de seus prodígios; seus Aforismos que os sábios de seu tempo deviam considerar como tantos paradoxos, virão um dia a ser as bases da síntese física.”

A Tina Mesmérica

Como o número de seus clientes cresceu bastante durante sua morada em Paris, Mesmer idealizou uma forma de tratamento em grupo. Para tanto criou a chamada ‘tina mesmérica’. Uma espécie de reservatório de água que cotinha no fundo, limalha de ferro e cacos de vidro, além de garrafas concentricamente dispostas. Sua utilização é descrita da seguinte forma por um de seus discípulos:

“O fundo da tina do senhor Mesmer é composto de garrafas arranjadas entre si de maneira particular. Acima dessas garrafas, coloca-se água até uma certa altura; varas de ferro, cujas extremidades tocam a água, saem dessa tina; e a outra extremidade, terminada em ponta, se aplica sobre os doentes. Uma corda, em comunicação com o reservatório magnético e o reservatório comum, liga todos os doentes uns aos outros; de modo que existe uma circulação de fluido ou de movimento que serve para estabelecer o equilíbrio entre eles. (...) Se desejar, utiliza-se uma vara de ferro, terminada em ponta, apoiada no meio da tina, que se pode tocar de tempo em tempo, ou de uma recarga que se pode operar à vontade, mantendo este movimento na direção dada; e por intermédio da corda que serve para ligar todos os doentes entre si, chega, como já disse acima, um combate, em cada indivíduo, pelo restabelecimento do equilíbrio, do fluido ou movimento elétrico animal. (...) Toca-se cada uma das garrafas que entram no reservatório magnético, e se lhe comunica então uma impulsão elétrica animal; carrega-se também a água que recobre as garrafas, e, por esta operação, determinam-se as correntes de movimentos que serão levadas para os pontos necessários dos doentes. "

A tina, sem a ajuda do magnetizador, não era vista como suficiente para o tratamento magnético, pois tinha um papel de manter um movimento já impresso e não de imprimi-lo um por si mesma. Por isso, Mesmer passeava pela sala no meio dos doentes enquanto estes entravam em convulsões, vomitavam e gritavam, etc.. Depois se acalmavam e muitos ficavam curados.

É verdade que Mesmer ficou riquíssimo com esses tratamentos, mas é verdade também que sempre foi um destacado filantropo. Para atender a população carente, ele magnetizava árvores e pendurava cordas em seus galhos. Os que seguravam as cordas recebiam o fluido vital que precisavam. Segundo relatos da época os brotos das plantas transplantados para outros lugares também passaram a curar os doentes. Contudo, tanto as tinas quanto as árvores mesmerisadas eram tidas por Mesmer como acessórios muitas vezes dispensáveis utilizados apenas para que ele pudesse atender mais pessoas em menos tempo.

As últimas perseguições
 
Todos estes fatos entretanto antagonizaram os médicos e sua vida em Paris começou a tornar-se complicada, esta citação retirada de suas memórias dá um parecer de sua postura geral frente esta rivalidade: “Não teria nada a dizer àqueles que se comprazem em me combater com disposições puramente hostis ou sem nada melhor para substituir aquilo que pretendem destruir, e eu verei com prazer melhores gênios remontar a princípios mais sólidos, mais luminosos; talentos mais amplos que os meus descobrir novos fatos e tomar, por suas concepções, e seus trabalhos, minhas descobertas ainda mais interessantes: em uma palavra, eu devo desejar que se faça melhor do que eu.". De qualquer forma, conforme a idade chegava tinha menos forças para comater seus inimigos e acabou se mudando oara um pais vizinho, a Suiça, onde morreu em março de 1815. Nos seus últimos anos levou uma vida bastante simples, pois perdeu sua fortuna durante a Revolução Francesa, subsistindo apenas com a pensão de três mil francos que o governo francês lhe dava como credor do Estado.

A Origem do Hipnotismo
 
Mesmer é lembrado ainda como o percursor do hipnotismo. Segundo o parapsicólogo Karl W. Goldstein, mesmo depois de abandonar Paris, ele continuou exercendo grande influência sobre seus discípulos, pacientes e admiradores. O marquês Armand Marie Jacques Chastenet de Puysegur (1751-1825), a quem se atribui a descoberta do hipnotismo foi um fiel seguidor das técnicas de sonambulismo induzido que seu mestre desenvolveu nos final de sua obra.

Conta-se que certa vez foi procurado por um pastor de 18 anos, Victor Race, que sofria de dores nas costas e respirava com dificuldade. Puysegu aplicou-lhe os costumeiros passes magnéticos, mas, em vez de ter convulsões, o jovem adormeceu. Ele tentou acordá-lo não obtendo sucesso. Mandou então que se levantasse. Surpreendentemente, Victor colocou-se de pé e , de olhos fechados , começou a andar pela sala. Quando voltou a si, estava curado. De uma outra vez, este mesmo paciente, em estado hipnótico, começou a descrever cenas que aconteciam a distância e com os olhos fechados. Além disso, quando falava, usava expressões muito além do que sua cultura permitia. Impressionado com essa estranha reação, ele começou a observar o comportamento de outras pessoas submetidas ao mesmo tratamento. Foi mais além: deu-lhes ordens pós-hipnóticas, sugerindo tarefas para serem cumpridas após voltarem a si. As ordens dadas em estado hipnótico não só eram atuantes, mas os pacientes também ser orientados a não se lembrar das seções. Sem saber, Puységur descobria o hipnotismo.