sábado, 31 de outubro de 2015

Biografia São Cipriano Parte 2


São Cirpiano tornou-se numa lenda não só em Portugal como no Brasil e países latino-americanos. Durante muitos anos reinou a superstição que quando se começava a ler o Livro de São Cipriano não se podia parar e tinha de se ler até ao fim. Outros diziam que quem o lêsse do final para o principio veria Lúcifer em carne e osso e enlouqueceria para sempre.
São Cipriano, de cognome "O Feiticeiro", desde sempre foi considerado o padroeiro das bruxas e dos ocultistas.
Segundo as fontes, viveu am Antioquia (hoje província de Antália - Turquia), numa região montanhosa da Ásia Menor, no século III d.C. mas há quem afirme que, apesar de ele ter passado a maior parte da sua vida  em Antioquia de Pisídia, ele nasceu em Cartago.
Cipriano é sinónimo de Cipriota em português, uma ilha a sul da Turquia no Mar Egeu. Isto também nos pode levar a pensar que afinal nasceu no Chipre e não nos locais que citámos anteriormente. Portanto, podemos dizer que não há certezas quanto á sua nacionalidade.
Nascido no seio de uma família abastada de crenças pagãs, Cipriano foi consagrado a Apolo desde o dia em que nasceu e foi incentivado desde cedo a ter formação completa nas ciências mágicas. Diz-se que os seus estudos, patrocinados por seus pais, o levaram a conhecer diferentes países, culturas e formas de magia.
Foi iniciado com apenas sete anos de idade e aos dez foi levado para o Monte Olimpo (morada dos deuses) onde se realizavam numerosos cultos. Não nos deixemos enganar pelo famoso Monte Olimpo da mitologia grega. No leste europeu existem pelo menos sete  "Montes Olimpos", sendo que um deles se localiza no Chipre. Muitos autores apontam como sendo neste ultimo local que ele iniciou os seus estudos que o levaram a mago. Outros referem que ele se iniciou no Monte Olimpo grego durante uma passagem por Atenas.
Foi nesse monte que o jovem mago aprendeu todo o tipo de encantamentos: invocar trovões, ventos, chuvas, formando tempestades na terra e nomar. Aprendeu a amaldiçoar jardins e lavouras, a adoecer pessoas e animais, a ver demónios, espectros e fantasmas, e a conjura-los para que servissem os seus propósitos
Quando tinha quinze anos, a sua formação foi dada por sete poderosos feiticeiros. Anos mais tarde, foi para Argos servir a deusa Juno e iniciou-se nos seus mistérios. Passou mais uns tempos num templo dedicado a Diana em Taurapolis e, em Esparta, estudou e praticou a conjuração dos mortos fazendo-os falar através de encantamentos. Aos vinte anos foi para o Egipto, estabeleceu-se em Mênfis e enriqueceu a sua cátedra de mago.
Com trinta anos de idade este na Babilónia para aprofundar os seus estudos em Astrologia e outras ciências dos magos caldeus. Foi nesse local que se tornou discípulo da mítica Bruxa de Évora, cartomante, quiromante e oniromante.
Mas quem era esta Bruxa de Évora? O nome remete-nos logo para Portugal, mas sabe-se que o encontro entre ambos foi mesmo na Babilónia (actual Iraque). Quer Cipriano, quer a Bruxa de Évora fazem parte de um acervo de crenças e figuras mitológicas que chegaram á Península Ibérica em épocas diferentes: primeiro chega São Cipriano e logo a seguir a sua Mestra Yeborath.
Anos mais tarde, com as invasões mouras (715 d.C.), chegaram a Portugal as bruxas misteriosas do Oriente: umas mulheres quase ciganas, as bruxas das Yeborath ou Iebora, das encruzilhadas, das agulhas. Não existem registos históricos sobre a famosa Bruxa de Évora a não ser como o arquétipo de São Cipriano em documentos sobre a conversão dele.
Ela seria claramente versada no tipo magia característica da cultura Mesopotâmica: a magia das trevas, da mão esquerda, magia negra: Goecia, necromancia, vidência, evocações, parcerias com demônios, envultamentos (Vudus) e oráculos.
 
Após obter poderes sobrenaturais e de se tornar num mestre de Necromancia, oráculos, encantamentos e evocações, Cipriano firmou um pacto com o Diabo para ter ainda mais poderes do que aqueles que já possuía.
A biblioteca de Cipriano tinha não só os seus livros de estudo como também apontamentos que ele próprio fazia sobre tudo e em todo o lado. Diz-se que quando a sua mestra morreu (Bruxa de Évora), ele recebeu os seus cadernos, pergaminhos, memórias, poções, enfim... tudo o que ela tinha. Cipriano sentia-se bem com as suas crenças e desfrutava de todos os prazeres que o dinheiro e prestígio lhe proporcionavam.
Mas a sua vida estava prestes a mudar.
Foi nesse momento que se deparou com o famoso "Caso Justina".
 
Justina era uma jovem cristã rica e bela. Apesar de ter sido educada no paganismo ela tornou-se cristã e converteu os pais, Edeso e Cledónia. Muito devota, consagrou-se totalmente ao Cristo Jesus, manteve a virgindade e recusou casar. Vivia em retiro, mas mesmo assim um homem apaixonou-se por ela: o seu nome era Aglaide.
Sentindo-se rejeitado pela bela donzela, Aglaide apelou à feitiçaria e procurou Cipriano a fim de obter a simpatia de Justina através das forças ocultas. O bruxo, que desprezava o cristianismo e gostava de ridicularizar os seus símbolos, sacerdotes, chegou mesmo a perseguir os fiéis.
Perante o problema de Aglaide, aceitou prontamente fazer o "trabalho" empregando todos os seus conhecimentos e auxiliares diabólicos para enfraquecer e dominar a vontade determinada de Justina. Mas nada resultava e os recursos iam-se esgotando. Cipriano ficou incomodado e achou que não era suficientemente poderoso, ou não tanto quanto se achava ser.
Começou por atormentar a jovem com todas as aremadilhas de sedução mental. Como falhou, resolveu atacá-la enviando demónios que provocavam terríveis visões. Mas Justina não se intimidou, sempre protegida por uma infinita fé na proteção de Jesus. Contra o mago, Justina apenas fazia o Sinal da Cruz. Furioso com o seu fracasso, Cipriano pediu contas ao Demónio e questionou:
«– Pérfido, já vejo a tua fraqueza, quando não podes vencer a uma delicada donzela, tu, que tanto de jactas do teu poder de obrar prodigiosas maravilhas! Diz-me logo de onde procede esta mudança, e com que armas se defende aquela virgem para deixar inúteis os teus esforços?»
Foi então que o Diabo confessou que nada podia fazer contra a donzela devido ao Sinal da Cruz que ela usava com uma fé profunda e inabalável. Justina não tinha medo e ripostava contra qualquer ataque em nome de Jesus. 
«– Pois se isso assim é – replicou Cipriano – eu sou bem louco em não me dar ao serviço de um senhor mais poderoso do que tu. E assim, se o sinal da cruz, em que morreu o Deus dos cristãos, te faz fugir, não quero mais servir-me dos teus prestígios, antes renuncio inteiramente a todos os teus sortilégios, esperando na bondade do Deus de Justina que haja de me admitir por seu servo.»
Foi a primeira vez que Cipriano viu os seus esforços e magias serem em vão e caírem por terra.
 
Mas obviamente que o Diabo não ia deixar um servo seu partir e tentou apoderaer-se do corpo de Cipriano. Pela primeira vez o mago fez o Sinal da Cruz e invocou a protecção do Deus de Justina. Nesse momento o pacto com o Diabo foi quebrado e Cipriano iniciou um novo caminho com duras provas que confirmaram a sua fé em Cristo. Quando se converteu definitivamente confessou o seguinte: 
«Eu vi o próprio príncipe das trevas depois de oferecer a ele os sacrifícios. Ele apareceu. Cumprimentei-o e à corte que o seguia, formada por diabos muito antigos. Ele gostava de mim. Elogiou minha inteligência e disse: Aqui está um novo JAMBRES, sempre pronto para a obediência, digno de comunhão conosco. E prometeu fazer de mim um príncipe depois da minha morte e durante minha vida terrena, dispôs-se a ajudar-me em tudo. E concedeu uma legião de demônios para me servir.
Sua aparência era semelhante a uma flor: a cabeça coroada por uma tiara espectral dourada como ouro e ornada com pedras brilhantes. Como resultado, o espaço à sua volta resplandecia... Me entreguei totalmente a seu serviço naquela época, obedecendo a seu comando todos os dias.»
Sendo então um cristão convertido, queimou todos os seus cadernos de feitiçaria e distribuiu os seus bens pelos pobres.
O facto de existirem registos de que São Cipriano queimou todos os cadernos e livros que possuía lleva-nos a questionar a autenticidade de tudo o que nos chegou até hoje. Há quem diga que ele escondeu um exemplar, enterrando-o na terra, para que a sua memória não se perdesse.
Mais tarde, sendo cristão convertido, ele foi perseguido, preso e julgado pelo imperador Diocleciano (Gaius Aurelius Valerius Diocletianus), imperador romano que era contra o Cristianismo.
Cipriano e Justina foram mortos em 26 de setembro de 304 em Antioquia, degolados após um terrível martírio.
 
Frequentemente, o cristão considerado teimoso e arrogante era submetido a duras penas antes do desfecho fatal: assados vivos, cozidos em fornos ou caldeiras. Foi o que aconteceu com Cipriano e Justina. Primeiro, foram chicoteados com açoites guarnecidos com ponteiras de ferro.
Irritado com a indiferença dos condenados à dor dos açoites, o imperador mandou executá-los lentamente, sob tortura, com requintes de maldade imergindo-os, cozinhando-os numa caldeira com banha e cera quentes. Mas sem resultado. Cipriano e justina permaneciam impassíveis e vivos. Nesse momento foi apelado que lhes cortassem as cabeças.
Cipriano e Justina foram enterrados lado a lado, em Roma, na Basílica de São João de Latrão, perto do Batistério.
 
Pela sua história, conversão e suplício, Cipriano tornou-se no célebre São Cipriano que se conhece hoje. Textos remanescentes do seu período satânico foram recuperados e reunidos nos famosos Livros de São Cipriano. São simpatias e bruxedos para obter sorte no amor, sucesso nos negócios, etc.
Como Santo Católico, e com o seu nome sempre associado a Justina, ele tinha a sua festa no calendário da Igreja Romana desde o século XIII. No entanto, em 1969, este São Cipriano foi retirado do calendário de festividades por falta de evidências históricas da sua existência. Em 2001 o seu nome foi retirado do martirólogo Romano após revisão científica e académica. Hoje contém cinco santos de nome Cipriano.

O PORQUÊ DO LIVRO DE SÃO CIPRIANO SE TORNAR TÃO FAMOSO: PARA O SEU ENQUADRAMENTO HISTÓRICO
 
O Livro de São Cirpiano enquadra-se na perfeição na categoria dos livros de necromãncia, dedicando-se quase exclusivamente à magia negra. Existem pequenas coisas de magia branca, mas rapidamente somos levados para o lado negro.
A linha entre a magia negra e a magia branca é muito ténue, sendo que o que diferencia uma da outra é a energia e o fim que utilizamos para um certo fim.
Há quem diga que a magia que tem por fim beneficiar o mago e que corta a liberdade do próximo pela invocação de espíritos malignos para os colocar ao seu serviço é a magia negra. Trabalhos de amarrações põe em causa o livre arbítrio do próximo e ninguém deve estar com ninguém contra a sua vontade. Acima de tudo é preciso consciência quando se recorre aos meios espirituais para alcançar um fim. E não esperem pedir, receber e nada dar em troca. Tudo é cobrado um dia (e nesta vida) e a Lei do Divino Retorno existe e cumpre-se quando menos esperamos.
São livres de ler o Livro de São Cipriano. Todos somos. Mais não seja para termos conhecimento e para o analisarmos á luz da época em que supostamente foi escrito. Falamos do carácter histórico-cultural. Mas antes de tentar fazer alguma coisa para prejudicar o próximo pare e reflicta: Vale a pena correr riscos desnecessários para conseguir vergar o próximo à nossa vontade?
O conteúdo do livro articula-se com o conceito de pacto com potências sobre-humanas. Esta ideia de pacto difundiu-se pela Europa a partir do século IX. A necromância divide-se em três partes: preparação do próprio necromante e dos utensílios mágicos (que implicava muitas vezes o uso de materias primas muito difíceis de conseguir como partes de animais, metais preciosos, etc.), a realização do círculo mágico para se defenderem das entidades que invocavam e, por fim, colocar em prática o ritual e receitas mágicas.
Os necromantes combinam a magia astral, típicamente árabe e de origem grega e persa (actua através do poder dos astros celestes e depende dos signos, dias, horas, posições planetárias), com os exorcismos (típicamente cristãos e judaicos - ver post sobre o exorcismo), a magia natural e a magia diabólica. Tudo isto não era facil de fazer e levou os eruditos medievais a discutirem entre eles se o tipo de práticas mágicas eram malignas ou não.
Voltando aos necromantes (sim, o Livro de São Cipriano é um manual de necromancia), a sua origem é incerta. Sabe-se que no Antigo Egipto já existiam livros e copiavam-se esconjuros. Os seus antecedentes claros procedem da magia babilónica, a qual infkuenciou a magia judaica. Nos últimos séculos de existÑecia do Império Romano, circularam várias obras de magia, muitas delas possivelmente de origem judaica, que deixaram a sua marca nos grimórios medievais.
Na Europa, a sua difusão começou a partir do século XII com as ligações entre o mundo cultural e intelectual europeu, com o florescimento das Cortes de das Universidades como centros culturais, a margem dos Mosteiros. Isto promoveu uma sede intelectual de busca em fontes fora da ortodoxia ou do conhecimento clássico estimado pelo mundo islâmico.
O Islão herdou da Antiguidade clássica, juntamente com o saber clássico, a astrologia e a alquimia, também o saber árabe.
No século XIV já aparecem mencionados alguns livros mágicos e no século seguinte, com a chegada do Renascimento, com a queda do Império Bizantino e com a invasão de Constantinopla pelos turcos e expulsão dos judeus da Península Ibérica, deu-se uma divulgação do saber clássico e dos conhecimentos mágicos judaicos. A época de esplendor da prática da magia ritual foi entre 1480 e 1680 com a edição de muitas obras clássicas de magia. Mas o uso dos mesmos foi sempre dentro do âmbito eclesiástico, já que a população nao sabia ler e existem registos históricos da condenação de frades, monges e clérigos por os possuírem.
Circulavam nas cidades, copiados à mão em segredo, dado o evidente perigo que existia por se terem estes livros, o que fez com que, com o passar do tempo, as várias versões de um mesmo grimório (livro de necromancia) fossem diferentes.
A difusão e popularização deste tipo de livro deu-se sobretudo em França durante os séculos XVII e XVIII, quando foram para às mãos de alguns mestres impressores que decidiram publicá-los para ver a sua rentabilidade económica. No entanto, ocultavam o editor, título da obra e tinha locais de impressão falsos.
A partir do século XVIII, os grimórios entraram em descrença recuperando apenas a sua fama no século XIX, quando houve um "boom" de literatura sobre magia e ocultismo em geral. Nesta época reeditaram-se os grimórios mais famosos dos sécculos anteriores e publicaram-se novos livros de necromancia fantásticos (de ficção). Isto fez com que se tivesse de procurar materiais inéditos em antigas bibliotecas e tinham de ser editados em compilações com os mais variados títulos pela falta de fontes. Foi aqui que apareceu o Livro de São Cipriano, que não é mais do que uma compilação de factos, histórias e magia.
Na Península Ibérica existem referências a grimórios desde os tempos mais remotos, como o Livro de Salomão e a Clavícula de Salomão. As condenações aumentaram drásticamente nos séculos XVI e XVII por se possuir este último livro, assim como o "Alma de Salomonis" e o "Picatrix: Liber Imaginibus Salomonis". Na Península Ibérica a corrente dos grimórios não foi tão forte como no resto da Europa devido à perseguição feroz e implacável da Inquisição.
No final do século XIX e início do século XX houve um grande número de edições dos grimórios, nomeadamente o Livro de São Cipriano

Jacques Bergier - Melquisedeque

  Melquisedeque aparece pela primeira vez no livro Gênese, na Bíblia. Lá está escrito: “E Melquisedeque, rei de Salem, trouxe pão e vinho. E...