Mestre Philippe nasceu em Rubathier (loisieux, Savoie) em 25 de abril de 1849, às três horas da manhã. Seu pai chamava-se José e sua mãe Maria Vachod; Tiveram cinco fi-lhos, sendo um deles, denominado Benoit, que morreu de varíola aos 26 anos de idade. Era um rapaz com grandes possibilidades iniciáticas. Philippe disse que fariam uma bela dupla se seu irmão houvesse permanecido sobre a terra.
Aos 14 anos, o jovem Philippe veio habitar Lyon, para estudar. Foi recebido por um tio, açougueiro, com o qual Nizier trabalhava nas horas vagas, para pagar seu próprio sus-tento. O tio Vachod era uma grande pessoa, porém materialista. No leito de morte o jovem sobrinho colocou o seu dedo sobre a testa do tio e lhe disse: "O Senhor não foi um crente, veja agora! "O velho iluminou seu rosto com as imagens que lhe foram proporcionadas pelo jovem Nizier e expirou!
Participou da guerra de 1870 entre a França e a Prússia, mas não ficou muito tempo. Por essa época já possuía uma sala no bairro Lyonez de Perrache, onde recebia os do-entes. As pessoas que frequentavam o salão de Philippe solicitaram ao prefeito da cidade que o liberasse do exército, para que ele pudesse dedicar-se com exclusividade e seus doentes.
Philippe foi recebido pelo prefeito e na ocasião, uma pessoa presente à entre-vista, um vereador alto e robusto, desafiou o Mestre Philippe a lhe dar uma prova de seus po-deres. Nesse mesmo momento o conselheiro caiu desmaiado.(1)
Na Santa Casa de Lyon ele seguiu cursos regulares de medicina com o Profes-sor Benédict Tessier; os médicos e colegas ficavam admirados da freqüência e dos tipos de curas que seguidamente realizava. Um dia prometeu a um doente, que chorava em seu leito, porque no dia seguinte iriam amputar sua perna, que isso não se realizaria. Os médicos vieram no dia seguinte prontos para a cirurgia e, boquiabertos, ficaram sabendo que tinha sido o "jovem senhor castanho" que tinha feito a cura.
Outra vez visitou três soldados que estavam com a febre tifóide e que aguarda-vam a morte para qualquer momento. O Mestre, aproximando-se dos leitos onde se encontra-vam, lado a lado, e lhe disse: "Todo o mundo vos considera perdidos, não creiam nisso; todos os três ficarão curados. Amanhã entrareis em convalescência e sereis enviados a Longchène. "Isso se realizou e despertou o ódio dos médicos. Em seguida, por razões análogas, o Mestre Philippe foi expulso da Escola de Medicina, acusado de praticar medicina oculta e charlata-nismo.
O Mestre Philippe continuou com suas sessões de curas e demais trabalhos es-pirituais. Em 1877 esposou Jeanne Julie Landar, uma jovem que foi curada pelo Mestre e que após continuou assistindo às reuniões. Em 11 de novembro de 1878, nasceu em Arbresle, a 20 quilômetros de Lyon, sua filha Jeanne Victoire, que foi mais tarde esposa de Emmanuel La-lande (Marc Haven).
Várias vezes foi acusado de exercício ilegal de medicina. Em todos os processos saiu vitorioso. Sempre se mostrou tranqüilo quanto ao que lhe poderia acontecer:
"Se o tribunal me condena, o Tribunal Celeste absolver-me-à, pois ele deu-me uma missão a cumprir e não será a potência humana que irá executá-la por mim e não poderá impedir-me de cumprir e não poderá impedir-me de cumprir os meus deveres. A hora soou e deu o sinal de minhas provações; estarei firme e não cederei um palmo do território confiado por meu Pai."
Em outra ocasião falou: "Meu Pai enviou-me aqui para que cuidasse e encora-jasse seus filhos, que são meus irmãos, para lhes amar, abençoar, liberá-los a Ele, tirando-os das dificuldades. Não cessarei minha obra a não ser quando ela estiver concluída."
"Meus amigos e irmãos: não se preocupem; creiam, vim trazer a luz na confusão e não vim sem armas, sem escolta, vim armado com a verdade e a luz!"
O Mestre Philippe pregava a reencarnação a todos os que presenciavam suas sessões de cura. Dizia ele que a dor presente era o resultado de dívidas contraídas com seu semelhante nesta existência ou em encarnações passadas. É a lei do Carma. Ninguém, dizia ele, arrancará um fio de cabelo de seu próximo que não seja obrigado a pagar. O sofrimento vem a ser uma maneira do homem tornar-se melhor e mais consciente da espiritualidade.
Dizia ele ter vivido no tempo de Jesus Cristo e que era um pobre pecador. "Ainda sou pequeno, dizia, e é por isso que Deus exalta minhas orações. Vocês são grandes demais e é por isso que Deus não vos ouve. Quando forem humildes e tão velho como eu, te-reis o poder de elevar o véu que separa os planos. É necessário, igualmente, amar vosso pró-ximo como a vós mesmos".
"Meu país não é este. Vim inspecionar uma propriedade que devo comprar a qualquer momento, mas não me arrependo de ter vindo. Vim por minha livre e espontânea vontade e o que vejo interessa-me".
"Tenho um amigo que esta sempre comigo, mas que vocês não vêem. Esse amigo, que não me abandona jamais, não gosta que me insultem. Posso perdoar aqueles que me insultam, mas ele jamais o faz! Nosso Senhor Jesus Cristo não tinha dito isto: "Se você insultar Aquele que está comigo, não terá seu perdão". Aquele que me ofende, ofende Aquele que está comigo. O que diria uma pessoa se na sua frente déssemos um pontapé em seu ca-chorro?".
Além de suas curas milagrosas, as predições que efetuava e o conhecimento do passado das pessoas ficou marcado na memória de todos aqueles que o cercavam. Um dia, viajando em um compartimento de um trem, juntamente com um amigo e um bispo, foi desafi-ado por este último a contar-lhe algo de seu passado ou de sua família.
"Pois bem, disse-lhe o Mestre, vou satisfazer sua curiosidade: há alguns anos, um membro de sua família apareceu enforcado junto à janela e todos acreditaram em suicídio. Seu parente foi assassinado primeiro e depois dependurado para simular o suicídio". O bispo, surpreso, concordou que era verdade, mas se julgava o único depositário daquele segredo de sua família.
Um dia ele negou-se a curar um paralítico. Admirado, Haehl perguntou-lhe porque não curava se tinha poderes para tal. "Acontece que é a segunda existência que esse infeliz está neste estado, mendigando, pois não quer trabalhar.
Em uma das reuniões um homem arrogante dizia em alta voz que era preciso ser um idiota para acreditar no que Philippe dizia e fazia. Mais tarde, o Mestre chamou-lhe em uma sala contíguo e perguntou-lhe porque motivo em tal lugar, em tal hora, tinha estrangulado esta mulher (mostrando-lhe a cena) Eu estava a teu lado, disse-lhe. O homem caiu de joelhos pedindo-lhe perdão, e rogando-lhe que não entregasse a polícia. "Satisfaço teu desejo se muda-res de vida e se seguires tua religião de nascimento", disse-lhe Philippe. "Se eu seguir minha religião, terei de confessar-me", replicou o assassino. "Não precisa, respondeu-lhe o Mestre, tu já te confessaste a mim e isto basta". O homem foi embora chorando.
Um dia em uma das sessões um camponês saiu precipitadamente de seu lugar e sacudiu violentamente a maçaneta da porta. Mestre Philippe perguntou-lhe se ele queria demo-lir a casa. "Não senhor, disse humildemente o camponês, eu apenas quero ir imediatamente ao banheiro". "Então, diga apenas à porta que se abra e ela abrir-se-á". "Porta, abre-te, gritou o camponês". Imediatamente, os enormes batentes da porta se abriram. Os presentes olharam quem poderia ter aberto a porta. O corredor e a escada estavam vazios. A admiração foi geral e alguns riram, face ao poder do Mestre e a grande fé do humilde camponês.
Certa vez alguém desafiou o Mestre, dizendo-lhe que era capaz de realizar pro-dígios com sua baqueta. Encontrando-se os dois nos arredores de Arbresle, na propriedade de Philippe, este tomou uma pedra e após marcá-la com um sinal e ter vendado os olhos do desa-fiante, jogou-a longe e mandou que ele a encontrasse. Isso foi feito em poucos instantes.
"Agora, disse-lhe Philippe, é a minha vez de fazer alguma coisa. Estás vendo que não há nenhuma nuvem no céu e ninguém prevê mau tempo. Pois bem, eu desejo que den-tro de 15 minutos caia uma forte chuva sobre toda vila de Arbresle, assim como sobre esta propriedade, e que nenhuma gota d'água nos atinja no terraço em que estamos".
Dito e feito. O homem da baqueta desapareceu da vida do Mestre tão logo a chuva passou.
Fatos extraordinários foram contados pelo próprio Mestre: "Certa vez compa-receu a reunião um policial alto, louro, mas a paisana. No momento em que roguei a todos que se levantassem, ele permaneceu sentado, com o chapéu sobre a cabeça ; enrolou um cigarro e começou a fumar. No mesmo instante, eu vi um anjo que atravessava o teto da sala e que, vindo a ele, marcou-o sobre o Livro da Morte. Três dias após o homem estava morto".
"Certa feita, contou Philippe a seus discípulos, o comissário especial das dele-gações judiciárias, que eu conhecia, pediu-me que desse a um de seus amigos de passagem uma sessão especial, e que eu convidasse apenas gente fiquei pois seu amigo era pessoa impor-tante. No dia combinado, ele veio com seu secretário e mais duas pessoas, que eram policiais. Na frente da casa havia um contingente de policiais. Eu fui advertido para não realizar ne-nhuma experiência. Tido acabado a sessão, o comissário ordenou-me que fechasse a porta, pois tinha ordens de revistar a casa. Ele tomou o nome dos presentes e levou alguns papéis".
"Ao mesmo tempo era feita uma revista em minha casa em Arbresle, onde for-çaram as janelas e portas; outra revista efetuaram na casa de meu pai em Savoire. À noite, disse ele a Papus, eu tinha decidido punir esse homem. Ele me foi trazido em corpo e em espí-rito e alguém colocou uma espada em minha mão. Na última hora desisti, isso não valia a pena. Caí de joelhos e orei por ele. Dentre todos os que o ajudaram nas revistas, os únicos sobrevi-ventes são ele e seu secretário. Este último, a meu conselho, ajuda todos que eu envio. No entanto, estão entregues à justiça de Deus".
Mas não eram somente as curas milagrosas e seus diversos atos que chamava a atenção dos presentes, mas também seus ensinamentos. Alguém um dia lhe perguntou porque tanto trabalho e porque dizia coisas tão belas para auditórios tão medíocres. "Acontece, disse-lhe Philippe, que tudo o que digo e se faz aqui, repercute-se em todo o Universo".
"A maioria das pessoas que vêm aqui ficam marcados no Livro da Vida e após terem recebido um raio de luz todos ficam mais fortes".
Dizia também que Jesus pedia a seus ouvintes que não pecassem mais e que ele apenas recomendava a todos que procurassem tornar-se melhores a cada dia que passava; pois todo aquele que fica pelo menos alguns instantes com bons sentimentos, mergulhando seu es-pírito no bem, já se sente melhor. Querem viver bem, com saúde, merecendo a Graça Divina? Pois então não falem mal do seu próximo, costumava repetir o Mestre. Todos têm a obrigação moral de levantar seu próximo, não devendo, portanto, rebaixá-lo com maus pensamentos ou com palavras. Esses atos não só prejudicam o próximo, como se repercutem (choque em re-torno) e voltam sobre aquele que os praticou.
Recomendava, também, que todo aquele que estivesse aberto processo contra seu próximo devia parar seu andamento, pois se não está de acordo neste mundo como poderá estar bem no outro? Ele não curava ninguém que perseguisse seu semelhante. "Teu vizinho quer um pedaço de terreno, dizia ele, afirmando que lhe pertence? Pois dá-lhe! Toda a terra pertence a Deus e o homem aqui em baixo não passa de um ocupante provisório. Após à morte, nada levará. Os herdeiros que trabalharem para conquistar o necessário para viver ou para enriquecer se desejarem. A riqueza, dizia, não é um mal em si, pois pode dar ocupação a outras pessoas. O que não se deve é guardar para si sem beneficiar o próximo, mas fazer circu-lar. Não se deve, também, querer o dinheiro como um fim em si, mas como um meio de ajudar o próximo".
Ninguém conseguirá entrar no Paraíso sem ter vencido o inimigo que está no interior de cada um. Esse inimigo fica enfraquecido toda a vez que se pratica o bem, que se perdoa o próximo.
Essas pequenas exigências que o Mestre Philippe fazia a todos aqueles que so-licitavam um favor (exigências pequenas, porém difíceis) eram conhecidas de muitos, como atesta a seguinte história:
Havia em Lyon um verdureiro que vendia a crédito para um grande número de pessoas. O bairro onde encontrava-se instalado era bastante populoso. Um dia ele veio deses-perado atrás de Philippe pedindo-lhe que fosse ver seu filho que havia acabado de falecer, ví-tima da difteria. O Mestre disse-lhe que estaria em sua casa em pouco tempo.
Lá chegando, perguntou-lhe se muitas pessoas lhe deviam dinheiro. "Sim disse o verdureiro, veja todas essas contas dos clientes nestes cadernos. Poucos são os que me têm pago".
- E tu exiges o pagamento de todas essas dívidas?
- Não e vou jogá-los agora mesmo no fogo.
O verdureiro jogou os cadernos na lareira, sendo logo devorados pelas chamas.
O Mestre entrou no quarto do morto, onde já se encontravam algumas pessoas. Perguntou-lhes Philippe se já haviam solicitado a algum médico o atestado de óbito. Diante da negativa, Philippe chamou o jovem pelo seu primeiro nome e pediu todos os presentes que nada revelassem do que viram, "porque é proibido fazer milagres". (2)
Apesar de seus cuidados em se manter oculto, sua fama correu a França, a Itá-lia, a Tunísia, a Rússia e muitos outros países. "Um dia ele assistia uma reunião na Rua Tête-d´Or, 35, conta-nos Hael, onde o prof. Brouardel da Faculdade de Medicina de Paris veio ve-rificar o que fazia Mestre Philippe".
"Na sala havia uma doente arquejante, que caminhava com muita dificuldade, com o ventre e as pernas muito inchadas, que chamou a atenção do Professor. Philippe pediu-lhe que examinasse a mulher em uma sala contígua, em presença de alguns alunos designados por ele, sendo eu próprio um deles. No fim da reunião, ele veio nos ver e disse:
"Bom, o que o senhor diz dessa mulher? O Professor explicou que ela sofria de hidropisia generalizada e que ela, provavelmente, teria poucos dias de vida. Quando a mulher retornou à sala da reunião, apoiada nos alunos e caminhando com dificuldade a mais extrema, sua respiração curta e apressada mal se fazia ouvir. O mestre ordenou-lhe: "Caminha!"
"Não posso, disse ela!" "Caminha mais rápido", ordenou o Mestre! Eis que no fim de alguns instantes, seu caminhar hesitante tornou-se mais fácil e ela gritou alegremente: "E agora eu vou dançar". Ela se movimentava, segurando suas roupas que se tornaram de re-pente muito grandes para seu físico. A inchação de seu ventre tinha desaparecido, assim como o das pernas; a alegria de viver retornou ao corpo que a faculdade a poucos instantes tinha condenado. O mais impressionante é que não havia sobre o assoalho nenhuma gota d'água!"
"O Professor Brouardel dirigiu-se ao Philippe e disse-lhe a meia-vóz: "Eu me inclino, mas a Ciência não pode compreender o que acabou de se passar." Após ter saudado o Mestre Philippe e as testemunhas, retirou-se". (3)
Apesar do maravilhoso dom que o Mestre possuía, nem sempre podia curar os doentes, pois às vezes a morte era algo que devia acontecer para o próprio bem da pessoa. São as situações cármicas. Foi o que ocorreu com a própria filha. Seu genro, Marc Haven, e sua esposa lhe imploraram que a curasse e ele não pôde. "Não me é permitido, disse ele; contudo, ela ficará melhor de hoje a segunda feira, mas terça feira ela ficará pior". Foi o que ocorreu, vindo ela a falecer, para sofrimento do próprio Philippe.
Outro caso foi o do jovem Fier, que o Mestre muito estimava. Fier possuía um bócio e Philippe negou-se a curá-lo, pois, segundo ele, dentro de um ano ele deveria passar para o outro lado. Apesar disso, os amigos insistiram e Philippe curou o jovem. Um ano mais tarde, o Mestre estava à cabeceira de Fier, juntamente com Haehl e os familiares do doente.
-Fier, olhe, disse Philippe. Elevando a mão mostrou-lhe um lugar.
-Consegues ver o que eu te mostro?
-Sim, disse o jovem, mas como é belo!
-Sim, é belo e é lá que tu deverás ir. E quando lá estiveres, não esqueças aque-les que aqui vai deixar.
Após alguns instantes o Mestre disse ao doente:
-Fier, dá-me tua alma. "Neste momento, diz Haehl, Fier com um sorriso nos lá-bios deu um profundo suspiro e entregou sua alma àquele que a pedia. A senhora Boudarel, a jovem Félicie, assim como a mãe de Fier estavam presentes".(4)
Mas a atividade do Mestre não se reduzia apenas em curar e pregar para as pes-soas simples que participavam das reuniões de curas e de orações. Ele possuía um auditório mais reduzido, composto por discípulos selecionados, onde ele explicava a Divindade do Cristo, os mistérios da vida e da morte, os dogmas sobre o Espírito Santo, a Criação, sobre os Anjos, e os demais espíritos, os demônios, os clichês, os mundos, a astrologia, a alma humana e a iniciação em geral.
Sua filosofia não diferia da dos grandes Mestres do Ocultismo Ocidental e seu livro texto eram os Evangelhos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Seus ensinamentos sobre os clichês, por exemplo, explicavam porque não se deve falar mal do próximo e qual era o papel fundamental da oração e da prática da caridade. Os clichês nascem antes dos fenômenos. O homem, antes de criar, encontra. As idéias existem antes dos fatos. Elas estão no ar. Essas idéias ou clichês podem ser criadas pelos homens ou pelos seres que habitam o invisível, em todos os planos.
O clichê é inteligente, ele é pensamento e está em todos os lugares. Ele aparece ao homem atrás de sua cabeça, na altura do cerebelo. O desenvolvimento da intuição permite a distinção entre o clichê bom e o clichê mau. Os clichês atuam sobre o homem e o induz a prati-car uma ação. Quando pela sua vontade o homem repele um clichê, os fenômenos não aconte-cem. Quando imagina um fato bom ele acaba por acontecer, pois cria um clichê; o mesmo ra-ciocínio é válido para os maus pensamentos: ao falar mal de seu semelhante, o homem estará prejudicando a si próprio, assim como a um terceiro, pela criação de um clichê. Esse clichê agirá sobre as demais pessoas e, após, sobre seu próprio criador.
"A alma é a vida do espírito, o pão do espírito. Ela é uma centelha divina; de-vemos fazê-la crescer. É necessário que ela se torne um sol em nós. Nossa alma cresce quando progredimos no caminho do bem.
"Antes de descer na matéria, as almas estavam no paraíso e no estado de ino-cência e, por conseguinte, no estado de não-conhecimento. Elas brincavam como crianças ou como anjos e degustavam os frutos do Paraíso. Deus as fez degustar o bem e o mal, enviando-as no mal sob a influência dos demônios, no egoísmo, para aí crescer na provação e na dor, ao longo dos caminhos impostos. Se o homem não houvesse caído não conheceria nada. Caindo e depois se elevando ele ficará acima dos anjos.(5)
"Quando Deus lançou as almas na matéria, Ele deu a cada uma delas um cami-nho a percorrer, dizendo-lhes: "Eis o caminho que deveis seguir: desbastai-o e tornai-o livre, pois o Senhor por aí deverá passar". Se soubéssemos o significado dessas parábolas, nos senti-ríamos possuídos por um imenso orgulho. Tal caminho está cercado, a cada passo, por inúme-ras provas impostas por Deus às almas. Essas provas diferem segundo os caminhos.
"A cada dia que passa a alma aproxima-se de Deus; e quando ela estiver pronta, aparecerá diante Dele. É preciso que para isso ela seja mais brilhante que o sol; de outro modo, ela não poderia resistir. É por isso que é necessário sofrer. Somente o sofrimento pode enobre-cer a alma; é o único modo de avançar. Nossa alma é julgada segundo o mal que fez, pois tudo o que fizermos de mal deve ser reparado. Devemos pagar nossas dívidas, porque uma dívida contraída no mundo não pode apagar-se a não ser neste mundo. Tudo o que está ligado neste mundo não pode desligar-se no outro.
"Suportemos, pois, nossas provações com calma e resignação, mesmo quando não soubermos porque sofremos. Deus é justo e infinitamente bom. Ele não pode enganar-se. Se ele nos envia provações é porque merecemos. Não conhecemos o passado e, por isso, não sabemos porque sofremos. Talvez tenhamos feito muito mal nesta existência. Porém, como nossa alma existe há muitíssimo tempo, ela pode ter praticado muito mal e esse mal deverá ser resgatado. Não conhecemos o passado, porque, se Deus nos permitisse esse conhecimento, teríamos medo. É por isso que sofremos sem saber porquê. Mais tarde, quando conseguirmos ver no passado, saberemos de onde provêm nossas provações". (6)
Para que o homem consiga pagar todas as suas dívidas é necessário inúmeras encarnações. A alma é bem mais velha do que o corpo; a ressurreição é pela reencarnação. É dito que o neto pagará as dívidas do avô. Muitas vezes o avô encarna na própria família, tor-nando-se descendente dele próprio. Não conhecemos nossas existências anteriores para o nosso próprio bem, pois conhecendo evitaríamos certos acontecimentos que nos surgem para nossa própria evolução.
Segundo Philippe, todo trabalho tem uma grande utilidade para a evolução do homem. Desenvolvendo uma atividade, adquirimos conhecimentos e experiência que nos per-mitirão evoluir espiritualmente.
"O que sei e afirmo, dizia o Mestre, é que não devemos ser preguiçosos. Para ir ao Céu é preciso muito trabalho e como ninguém o procura é necessário que o próprio Céu nos force a trabalhar. É preciso sofrer e que Ele nos envie as provações, pois ninguém as pro-cura". (7)
A Função do trabalho é desenvolver a vontade do homem e torná-lo melhor a cada dia que passa. O desejo de adquirir serve mais para desenvolver os sete pecados capitais. Nada pertence ao homem, mas a Deus. Tudo nos foi emprestado para desenvolvermos nossa evolução; a matéria é um instrumento e não um fim em si.
"Você considera a riqueza um grande bem e muitas vezes Deus a envia aos ho-mens como um meio de provação".(8) Quem possui a riqueza deve fazê-la circular para o bem do próximo, não se permite a avareza. Quem venera o ouro no lugar de Deus não entrará no reino dos Céus.
Além da avareza, o homem deve combater o conjunto dos demais vícios para merecer a Graça Divina, tais como o ciúme, a mentira, a cólera, o fumo, o álcool, os maus pensamentos, o habito de falar mal de seu próximo. A cólera degrada o homem, o avilta e o coloca em nível inferior, em relação aos demais homens.
"Existem seres que não vemos, mas que estão em nosso redor e que nos jul-gam". (9)
O morno é um homem que estaciona na evolução; ele é repudiado tanto pelo céu como pelo inferno. "Não devemos viver no isolamento do mundo para não pecar. Se tens um campo, tu iria cobri-lo com areia e cinzas para que nada cresça nele e para que tu não te-nhas o trabalho de retirar dele as ervas daninhas? Não, o Céu proíbe. O que ele deseja, ao con-trário, é que coloques sandálias nos pés, tomes um bastão ou uma espada se fores fraco, e que te lances na luta". (10)
É preciso viver no mundo para evoluir e apagar o orgulho, que é o pensamento constante em si mesmo. Quem pensa muito em si não tem tempo de pensar no seu semelhante, nem mesmo para injuriá-lo. O egoísmo é a raiz de todos os vícios, pois os anjos-da-guarda afastam-se dos egoístas. A humildade é a maneira que se tem para combater o orgulho. O pró-prio Cristo não lavou os pés de seus Apóstolos? Ele quis, com isso, dar um exemplo de humil-dade.
Para que Deus exalte nossa oração é preciso que não sejamos orgulhosos, mas muito humildes. É preciso ainda amar nossos semelhantes e nos subjugarmos à vontade do terno. Para ter a prece exaltada, é preciso ter o coração puro; para ter o coração puro, é pre-ciso muito sofrimento em todas as encarnações sucessivas. É preciso ter se tornado um Filho de Deus.
Para nos tornarmos Filho de Deus, é necessário agir segundo sua Vontade, pois somente assim Ele nos confiará seus segredos. O filho de Deus pode comandar a Natureza, pois ele próprio obedece aos desígnios do Criador.
"Ninguém poderá subir ao Céu se não tiver o conhecimento de tudo. Porém, avançando por nossa vontade esse conhecimento nos será dado quando chegarmos a amar nos-sos semelhantes como a nós mesmos". (11)
O próprio Mestre Philippe sofreu imensamente em sua vida. A morte de sua fi-lha em 1904 causou-lhe muita tristeza. Ela ficou doente em agosto desse ano; seus familiares pediram-lhe que a curasse mas ele recusou, dizendo que era preciso que ela partisse para pre-parar o terreno, pois ele próprio deveria desencarnar em breve. Eles insistiam, principalmente a mãe e o marido (Marc Haven). " A vontade do Céu é que ela se vá; entretanto, para vos provar que o Céu é Onipotente, farei com que ela fique melhor durante dois dias, mas no terceiro dia ela voltara ao estado em que se encontra neste momento."(12)
Ela faleceu no dia 29 de agosto de 1904 conta Haehl que no outro dia ele pro-curou o Mestre Philippe que foi recebê-lo chorando: "Quando um soldado cai é preciso avan-çar ainda mais".
O Mestre Philippe preparou seus amigos com bastante antecedência à cerca de sua morte. Eu devo partir, vocês não me irão ver, mas lhes deixo o Caporal" (Jean Chapas). A partir de fevereiro de 1905 ele não saia mais de casa, em Arbrele; não podendo deitar-se, pas-sava as noites em uma poltrona. Sofria de falta de ar e de dores agudas no coração. Seu genro, o Doutor Lalande examinava com freqüência e não encontrava nada nenhuma doença.
Na manhã do dia 2 de agosto de 1905, ocasião em que a sogra e o genro esta-vam olhando no jardim através da vidraça e no momento em que a esposa tinha ido até à cozi-nha, Philippe levantou de sua poltrona, deu alguns passos dentro do quarto e caiu. Sua alma abandonou o plano físico e ganhou as alturas das Regiões Celestes.
Jean chapas continuou com as reuniões na rua Tête-d´Or até sua morte, ocor-rida no dia __ de setembro de 1932. Os discípulos asseguravam que a atmosfera espiritual continuava semelhante. Philippe e seus Amigos do Invisível continuavam certamente a dar todo o apoio espiritual aos que ficaram. Dizem que até hoje, quando relembram seu nome e quando evocam sua obra, ele desce aos planos inferiores do Invisível e dela nos envia suas ce-lestes influências, encorajando todos a seguirem a senda iniciática e espargindo suas luzes para o bem da humanidade.
NOTAS
01 - Cfe HAEHL, Alfred. Vie et Paroles du Maître Philippe. Paris, Dervy Li-vres, s/d.
Haehl viveu cinco anos junto ao Mestre em Lyon, após tê-lo conhecido. Em seu livro, além das anotações feitas pessoalmente das parábolas do Mestre, consta depoimentos dos principais discípulos do Mestre Philippe e de familiares, como Papus, Marc Haven (genro do Mestre), Jean Chapas, Auguste Philippe (irmão), Victoire Lalande (filha), Sédir etc.
02 - Haehl, A. Op. Cit., p. 85
03 - Idem.
04 - Idem, p.86.
05 - Idem, p. 180.
06 - Idem, p.181.
07 - Dito em 14.11.1894, cfe. Haehl, p. 229.
08 - Dito em 22.05.1902, idem, p. 249.
09 - Dito em 07.01.1903, idem, p.254.
10 - Cfe. Haehl, op. cit., p. 261.
11 - Dito em 03.03.1895, Cfe. Haehl, p. 350.
12 - Cfe. Haehl, op. cit., p. 28.