Joseph Paul Oswald Wirth (Brienz, Suíça, 5 de agosto de 1860 - Poitie, França, 9 de março de 1943)
“Em todos os tempos, temos visto falsos profetas pregarem em tom doutoral e com absoluta boa fé sobre o que pensavam saber. Antigamente, inspirava-os a religião e, em sua crença de possuir a Verdade graças à iluminação, vinham nos revelar aquilo em que deveríamos crer, dando-nos precisas idéias a respeito da divindade, dos anjos e dos demônios". "Em nossos tempos, costumam dá-las os Iniciados instruídos nos supremos mistérios que permanecem velados à penetração da generalidade dos homens". |
"A iniciação confere tal sorte de pretexto a certos ensinamentos equívocos, mas nem sempre inofensivos, sobretudo, quando a investigação de conhecimentos anormais conduz ao desequilíbrio dos indivíduos. Em presença de tão grande número de elucubrações malsãs, que preconizam o desenvolvimento de um estado alucinatório considerado erroneamente como conquista de um privilégio iniciático, não será demais formular os princípios da sã e verdadeira iniciação tradicional”.
Joseph Paul Oswald Wirth nasceu a 5 de agosto de 1860, às 9 horas da manhã, em Brienz, pequeno burgo suíço de 2.500 habitantes às margens do lago de mesmo nome. De três irmãos, dois morreram jovens, mas Elisa, nascida em 1875, foi a companheira de Oswald desde a juventude até a morte. Wirth dizia tudo dever a Stanislas de Guaita, que conheceu em 1887 e de quem foi secretário:
Estabelecer relações com Stanislas de Guaita foi, para mim, um acontecimento capital.
Ele fez de mim seu amigo, seu secretário e seu colaborador. Sua biblioteca ficou ao meu dispor e, beneficiando-me de sua conversação, tive nele um professor de Qabbala e de alta metafísica, tanto quanto de francês. Guaita deu-se ao trabalho de formar-me o estilo, de desbastar-me literariamente. Devo a ele o fato de escrever legivelmente. (Dedicatória aposta noTarot des imagiers du moyen âge).
Mesmo que pudéssemos facilmente nos convencer do fato de Guaita haver ensinado a Oswald Wirth a arte de talhar felizmente as frases, é inegável que o discípulo igualou, — se não ultrapassou mesmo, — o mestre, ao menos no domínio do simbolismo, sobretudo na obra Le Tarot des imagiers du moyen-âge, onde retoma o estudo dos arcanos maiores que ele havia desenhado para Guaita. Contudo, de modo geral, Wirth sempre se mostrou bem mais interessado pela Franco-Maçonaria do que pela Rosa-Cruz, ao contrário de seu mestre.
Espírito poderoso, Wirth é considerado um dos mais completos teóricos do simbolismo que já existiram. Com Stanislas de Guaita, analisou o magnetismo em “L’Impositiom des Mains” (A imposição das mãos), o Tarô em “Le Tarot des Imagiers du Moyen Age” (O tarô no imaginário medieval), a astrologia, o hermetismo, o ocultismo sob as suas diversas formas em outras obras, assim como na longa série de seus estudos publicados na revista “Le Symbolisme” (O Simbolismo) e estudou, com o mesmo espírito, o esoterismo da “Serpente Verde” de Goethe e do mito babilônico de “Ishtar”.
É contudo sua obra maçônica que mais merece admiração. Iniciado em 1892, reagiu desde a sua juventude contra o abandono lamentável do simbolismo, – a despeito de uma tentativa sem futuro de um precursor como Blatin, – pela Franco-Maçonaria francesa. A Loja “Trabalho e Verdadeiros Amigos Fiéis” foi, a esse respeito, de acordo com suas próprias palavras, “sua Loja de eleição” no seio da Grande Loja da França. Chegaria ao 33º Grau. Sua primeira obra, “Le Livre de L’Apprenti”, provocou escândalo e atraiu-lhe a hostilidade rancorosa do Grande Colégio dos Ritos do Grande Oriente de França que alertou as Lojas contra ele por meio de circular confidencial.
Não foi por isso que deixou de publicar o “Livre du Compagnon” e o “Livre du Maître”, depois o “L’Idéal Initiatic” e o admirável “Mystères de L’Art Royal”. Estas cinco obras, por sua singular importância, serão todas disponibilizadas aos nossos Irmãos, em português, completas e em edições virtuais. Em sua fonte, o pensamento wirthiano dá continuidade ao hermetismo em sua pureza, e sua aplicação aos símbolos maçônicos é, ao mesmo tempo, coerente de uma maneira que se poderia qualificar de genial e feita de esoterismo profundo. Não deixou de ser objeto de uma grave crítica, ao se recusar a explicitar a metafísica que este pensamento recobre. Crítica fundamentada para o racionalista, mas que não compreende que a característica própria do simbolismo é precisamente exprimir-se de uma forma diferente do pensamento conceitual.
Deixado em sua ansiedade, o discípulo de Wirth deve escolher entre recusar todo o wirthismo ou recusar o valor tradutor da linguagem. Também, ao lado de admiradores sem reservas, Wirth encontrou críticos que o condenaram por ter usado o caráter equívoco dos símbolos para dissimular um pensamento mais profundo sobre o qual não se explica. Talvez seja essa a razão por que a obra de Wirth não penetrou nas maçonarias anglo-saxônicas, onde o seu nome é pouco conhecido. Foi, em todo o caso, o motivo certo que provocou a hostilidade e, por vezes, a ironia densa da maçonaria “livre-pensadora”.
Além disso, e a despeito de sua probidade intelectual de autêntico erudito, Wirth não é um historiador, e essa é a parte fraca de sua obra, a que mais envelheceu.
Finalmente, não é contestável que ele interprete a mitologia da maneira mais subjetiva, sem levar em conta os dados da arqueologia científica. O epíteto pejorativo de “profano” com que qualifica em sua bibliografia do “Livre du Maître” o “Orpheus” de Reinach é, a esse respeito, característico, e o fato de que esse livro assim qualificado esteja atualmente há muito tempo “ultrapassado” é indiferente. Sejam quais forem as críticas, Oswald Wirth é não somente um grande iniciado, mas também um grande escritor francês, cuja linguagem clara e clássica lembra a de seu contemporâneo Anatole France.Oswald Wirth morreu a 9 de março de 1943, às 11 horas, e foi sepultado em Monterre-sur-Blourde, ao sul de Poitie.
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