domingo, 18 de outubro de 2015

Biografia Antoine Fabre D'olivet

Fazer do invisível o objeto de um culto revolucionário foi o projeto que animou Antoine Fabre d´Olivet, o primeiro dos grandes ocultistas do século XIX.
Nasceu em 1767, em Ganges, filho de uma família de protestantes Cevenóis, era o mais velho dos seis filhos, seu pai era um negociante de meias de seda. Foi discípulo do filó-sofo panteísta Delisle de Sales, suas primeiras composições foram poemas e peças de teatro.
Em Paris, durante a revolução, fez parte do Clube dos Jacobinos, foi amigo de Thierry Ducloseau, chefe de uma conjuração para derrubar Luis XVI. Durante o Diretório, fundou em 20/05/1797 o jornal político, literário e moral: L´Invisible, onde se apresentava como um descendente de Gygés, que pretendia como ele, ter o poder de se tornar invisível.
Em 700 números, sustentou diariamente esta ficção de ser um observador pos-suidor de uma vara que lhe permitia ver, sem ser visto, os trabalhos do corpo legislativo ou cenas de costumes do Palácio Real. Publicou um romance do gênero trovador: Azalais et le gentil Aymar, em 1799, em 1801, através de correspondência com sua irmã, produziu: Lettres à Júlia sur L´histoire , definida por ele como um romance cosmogônico, mitológico e histórico que encerrava visões extensas e pormenorizadas sobre a Atlântida e modo de vida dos Atlan-tes. Também em 1801, escreveu sob o pseudônimo de Mme. de B., Le Savent de Societé que continha regras de numerosos jogos de sociedade: jogos de memória, de ação, de espírito.
Por ter traçado um plano de recuperação financeira que interessou aos republi-canos que conspiravam contra Bonaparte, estes incluíram-no na sua lista de um futuro governo e por este motivo foi condenado à deportação pelo primeiro cônsul, mas graças à intervenção do senador Lenoir-Laroche, foi salvo.
A partir daí ficou obcecado de ser perseguido pelo soberano francês, dizia: "Napoleão seguia-me pessoalmente", desejando parecer-lhe como um homem de letras pací-fico, dedicou-se aos seus trabalhos de erudição e de mistificação literária, escreveu em 1803 Trouvador, poésies occitaniennes du XIII siéle, atribuindo a um poeta medieval obras que ele próprio tinha redigido em dialeto da Languedo que. Era um filósofo e lingüista, conhecia a fun-do o grego, o latim, o inglês, o italiano, o espanhol, o português. Aprendeu hebraico com os rabinos, também possuía conhecimentos de sanscrito e de céltico.
Em 1800, Fabre d´Olivet apaixonara-se por uma jovem de 24 anos, Julie Mar-cel, cunhada de um deputado, mas ela morreu em 19/10/1802, ele sofreu tal desgosto que se preparou para se juntar a ela no túmulo. Foi então que ela se manifestou através de inúme-ros sonhos: "Após ter-me tranqüilizado sobre seu estado, foi suficientemente engenhosa para me anunciar sua visita positiva a fim de que os meus sentidos não fossem perturbados por uma aparição brusca e bastante forte para a executar. Apareceu à hora que me tinha indicado ante-riormente (antecipadamente), vi-a apesar de ter os olhos perfeitamente abertos e de estar des-perto. Este espectro causou-lhe um choque que o levou a edificar a sua doutrina oculta, ele diz: "As conseqüências deste acontecimento foram imensas para mim, não serão talvez para o conjunto da humanidade".
Infelizmente, uma mão anônima apagou, no manuscrito de suas lembranças, passagens relativas aos seus amores com Julie Marcel.
Em 1805 casou-se com Marie Warin, futura diretora de uma instituição de mo-ças, ocupou um lugar de comissário no ministério da Guerra, no qual sentiu-se suspeito: "Apesar de ser um emprego insignificante, vi claramente que ele inquietava Napoleão, não po-dia escrever uma única linha sem que a censura rigorosa se colocasse a examinar as expres-sões".
Em 1811 decidiu curar um surdo-mudo de nascença, Rodolfo Grivel, através de um método que consistia em fazer ouvir ao paciente, por sugestão hipnótica, sons de flauta ou de viola que se produziam atrás das suas costas, foi chamado cinco vezes para depor na polícia sobre seu tratamento.
Não deixando-se deter por essas peripécias, Fabre d´Olivet iniciou o melhor de suas obras: em 1813: Os versos dourados de Pitagoras, no qual traduziu em versos alexandri-nos não rimados o texto que ele atribui a Lysis e do qual faz um comentário pessoal, entre 1815 e 1816: A língua hebraica restituída, na qual desenvolve a sua teoria sobre a origem da lingua-gem, em 1819: Noções sobre o sentido da audição, edição revisada e completada de uma bro-chura de 1811 na qual fazia o balanço de seus tratamentos de surdos-mudos, Caim de Byron traduzido em versos franceses, em 1823 e em 1824: A História Filosófica do Gênero Humano, que já havia aparecido dois anos antes sob o título: Do estado social do homem, nela expõe como se constituiu o quartoreino ou reino hominal e a sua evolução desde as primeiras civili-zações.
Toda a atividade de Fabre d´Olivet foi mal compreendida no tempo da restau-ração e também a sua relação passional com a falecida Julie Marcel provocou o desentendi-mento com a sua mulher, que separou-se dele em 22 de março de 1823, levando consigo os três filhos do casal.
Em 1824, inspirado pelo espírito de Julie Marcel, que ele chamava de Egéria Teofania, Fabre d´Olivet fundou um culto teodoxo universal, com um simbolismo agrário que evocava a celeste cultura, ele era o seu Pontífice ou Venerável Cultivador.
O seu culto era dividido segundo os graus: Amigos da verdade, Celícolas e Cul-tivadores Uraniatas da Imortal, seu santuário ficava em seu domicílio parisiense da Rua das Velhas Tulherias, 35 e reuniam-se para quatro celebrações anuais: o Equinócio da Primavera, no dia da Páscoa, o aniversário da Egéria Teofania, em 19 de outubro, a solenidade das almas, em 2 de novembro e o solstício de inverno, em 25 de dezembro. Ele concebeu os trajes, ritos, hinos e o alfabeto secreto de seu culto aos quais colocou em um livro que ficou inacabado: théodoxine Universelle.
Durante a cerimônia de 19 de outubro de 1824, Fabre d´Olivet revelou na sua alocução as vicissitudes das suas relações com Julie, o espectro da morta apaixonada vinha visitá-lo regularmente, mas havia encontrado uma hostilidade em seu ambiente, "Um espírito demoníaco, de qual ainda não me permitiu que divulgasse o nome, declarou-se seu inimigo, entre ele e a minha fiel Egéria trava-se um combate terrível".
"A minha Julie foi vencida nesta luta fatal e foi forçada a retroceder e a sofrer as leis do destino que ela tinha derrotado para me provar seu amor, caiu do mundo das Essências para o das Realidades e foi obrigada a retomar um corpo e renascer para seguir mais uma vez, os trâmites da vida mortal".

Fabre d´Olivet, persuadido de que Julie tinha reencarnado, procurava-a incansa-velmente, sem deixar de adorar sob o nome de Egéria Teofania, a sua qualidade de inspiradora da teodoxia: "Apesar de ter feito alguns esforços, ainda não consegui saber exatamente em que lugar da terra caiu Julie, nem qual a pátria que deve alojar uma alma assim pura. Sei unica-mente que ela esta na Europa e que é orgulho de uma família distinta, neste momento tem 13 ou 14 anos de idade..."
Sabe-se que Fabre d´Olivet nada tinha de necromante ou espírita, imagina que pôde obrigar uma alma a vir às suas ordens, a de Julie continua sendo para ele misteriosa, ina-cessível, errante.
Também, em sua cerimônia de solenização, onde ele evoca todas as almas he-róicas que receberam o troféu de imortal, não tem a pretensão de atrair fantasmas para os in-terrogar. Reunido com os seus discípulos, no momento de consumir o mel e o leite dos vasos sagrados, pronuncia o nome dos defuntos que convida e diz: "Peço-lhes que provem conosco este mel e este leite e ao mesmo tempo que nós, em sinal de união fraternal e de indissolúvel concórdia". Não se trata de necromância, mas de um rito comparável, às cerimônias druídicas que ele admirava.
A sua filosofia punha em prática o princípio da psicurgia, que representa uma ciência desconhecida, extraída da ordem mais elevada onde pode chegar a inteligência humana.
O seu objeto, era o homem universal, o homem concebido abstratamente, o ser que compreende na sua essência universal todos os homens que são, que foram e que serão, o homem universal é o arquétipo vivo da espécie humana, ou do reino hominal. Ele é todos os homens em conjunto e todos os homens em conjunto não são ele, ele sabe tudo o que os ho-mens sabem e tudo o que eles souberam. Mesmo que um cataclismo aniquilasse um dia toda a humanidade sobre a terra, o homem universal não morreria e criaria para si novas formas, pois ele é feito para governar o mundo das realidades, como o destino governa o mundo das Es-sências Intelectuais e a providência o dos princípios internos: O Universo do qual fazemos parte da nossa qualidade de homens e como parte do reino hominal, esta dividido em três mundos: O mundo das realidades físicas, em que vivemos, o mundo das Essências intelectuais, para o qual tendemos e o mundo dos Princípios eternos que é o fim da nossa existência.
Estes três mundos fundem-se num só que engloba a esfera divina e nenhum de-les poderia subsistir sem o homem universal: Abaixo dele está o destino, a natureza naturada, acima dele está a Providência, natureza naturante. Ele é, como reino hominal, a Vontade medi-adora, a força colocada entre estas duas naturezas para lhes servir de elo, de meio de comuni-cação e reunir duas ações, dois movimentos, que seriam incompatíveis sem ele.
A vontade do homem universal, agindo no mundo das realidades é o que resta da faculdade volitiva principiante de Adão. Traduzindo o Sepher Bereshith e reconstituindo a cosmogonia de Moisés, Fabre d´Olivet identificou a vontade, a Aisha: a mulher intelectual do homem universal, precedendo Eva: a existência elementar e mostrou que ela tornava tudo pos-sível. Esta verdade deve sair da sombra dos santuários, a vontade era criadora no homem uni-versal, tudo o que esse homem queria era quando e como queria.
A psicurgia, arte de utilizar a energia mental, depende diretamente, de um fluido magnético que não é, como dizem os mesmeristas, excitado pelos influxos astrais, este fluido é o homem universal estimulado e colocado em movimento por uma das suas emanações.
Fabre d´Olivet morreu subitamente em Paris, em 27/03/1835(ou 1825) aos 58 anos, Saint Yves deu crédito à lenda de que ele teria suicidado-se com um punhal, em posição ritual, para realizar um sacrifício cósmico, mas Pierre Leroux, que o conheceu, disse: Foi ata-cado de apoplexia nos degraus do seu altar, no momento, creio, que celebrava a sua missa.