Para compreender o karma, o estudante deve começar com uma visão clara de certos princípios fundamentais, porque a ausência de tais princípios provoca em muitos deles constante perplexidade e infinitas perguntas que não podem ter respostas completas sem que suas bases concretas sejam estabelecidas. Portanto, nestas considerações, começo com eles, embora sejam familiares para muitos dos meus leitores devido às exposições anteriores, feitas por mim mesma ou por outras pessoas.
A concepção fundamental, sobre a qual repousa todo o pensamento posterior correto sobre o karma, é a de que o karma é lei – lei eterna, imutável, invariável, inviolável, lei que jamais pode ser rompida e que faz parte integrante da natureza das coisas. A ignorância dessa concepção é que leva o teosofista mal-informado a dizer: “Você não deve interferir no seu karma.”
Entretanto, sempre que uma lei natural se manifestar, você deve interferir nela tanto quanto puder. Jamais ouvirá alguém lhe dizer: “Você não deve interferir na lei da gravidade.” Compreende-se que a gravidade é uma das condições que a pessoa precisa saber avaliar, a fim de ter total liberdade para se opor a qualquer inconveniente que ela possa causar, contrapondo-lhe outra força, construindo uma base segura para aquilo que, de outra maneira, viria a cair por terra sob a ação da gravidade, ou por outro motivo qualquer.
Quando uma condição da natureza nos incomoda, usamos nossa inteligência para fugir dela, e ninguém sonharia, sequer, em nos dizer que não devemos “interferir” ou modificar qualquer condição que nos desagrade. Só podemos interferir quando temos conhecimento, pois não há possibilidade de aniquilar qualquer força na tural, nem de evitar que ela se manifeste. Podemos, entretanto, neutralizála, podemos desviar a sua ação se tivermos força suficiente para tanto. Embora não possamos abater, em nosso benefício, uma só partícula dessa atividade, podemos resistir, nos opor, nos desviar dela, de acordo com o conhecimento que temos da sua natureza e de sua ação, segundo os meios de que dispomos. O karma não é mais “sagrado” do que qualquer outra lei natural: todas as leis da natureza são expressões da natureza divina, e nós vivemos e nos movemos dentro delas. Não são, porém, obrigatórias; são forças que armam as condições entre as quais existimos, e que atuam tanto interior como exteriormente. Quando as compreendemos podemos manipulá-las, e, se nossa inteligência evoluir, nos tornaremos cada vez mais seus senhores, até que o homem venha a se tornar um super- homem, e a natureza material passe a ser a sua servidora.