quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Os três destinos (Annie Besant)


“Deus criou o homem à sua própria imagem”, diz uma Escritura Hebraica, e as Trindades das grandes religiões são os símbolos dos três aspectos da consciência divina refletida na triplicidade do ser humano. O Primeiro Logos dos teosofistas, o Mahadeva dos hindus, o Pai do Cristão, têm a Vontade como característica predominante, e ela faz sentir o poder da soberania, a Lei pela qual o universo é construído. O Segundo Logos, Vishnu, o Filho, é Sabedoria, poder que tudo sustenta e tudo permeia e pelo qual o universo é preservado. O Terceiro Logos, Brahman, o Espírito Santo, é o Agente, o poder criador, pelo qual o universo é levado à manifestação. Nada existe na consciência divina ou humana que não se encontre dentro de uma dessas formas de Autoexpressão. 
Repetindo: a matéria tem três qualidades fundamentais, que correspondem, separadamente, a cada uma dessas formas de consciência. Sem elas, a matéria não poderia se manifestar, assim como a consciência não poderia se expressar. Ela tem inércia (tamas), o fundamento de tudo, a estabilidade necessária à existência, a qualidade que corresponde à Vontade. Tem mobilidade (rajas), a capacidade de ser movida que corresponde à Atividade. Tem ritmo (sattva), o equalizador do movimento (sem o qual o movimento seria caótico, destrutivo), que corresponde à Cognição. O sistema Ioga, considerando tudo do ponto de vista da consciência, chama a essa qualidade rítmica “cognoscibilidade”, que leva essa matéria a ser conhecida como Espírito. 
Tudo isso está na nossa consciência, afetando o ambiente, e todo o ambiente afeta a nossa consciência, constrói o nosso mundo. A inter-relação entre a nossa consciência e o nosso ambiente é o nosso karma. Com essas três formas de consciência, tecemos nosso karma individual, a inter-relação universal entre o Eu superior e o Não Eu superior, especializada por nós nessa inter-relação individual. 
Quando nos erguemos acima da separatividade, o individual torna-se de novo a inter-relação universal, mas essa inter-relação universal não pode ser transcendente enquanto durar a manifestação. Essa especialização do universal e a posterior universalização do especial constroem os “eternos caminhos do mundo”: a Trilha do Atual, para ganhar experiência; a Trilha do Retorno, trazendo para casa feixes de experiências. Essa é a Grande Roda da Evolução, tão inflexível quando observada do ponto de vista da matéria e tão bela quando observada do ponto de vista do Espírito. “A vida não é um grito, é uma canção.”