quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Pensamento, o construtor (Annie Besant)


O pensamento trabalha sobre a matéria. Cada mudança de conscientização é recompensada com uma vibração da matéria, e uma mudança semelhante, embora frequentemente repetida, traz vibração idêntica. Essa vibração é mais forte na matéria que está mais próxima de nós, e a matéria que está mais próxima de nós é a do nosso corpo mental. Se você repetir um pensamento, ele repete a vibração correspondente e, assim, quando a matéria tiver vibrado de uma forma particular uma vez, é mais fácil para ela vibrar de novo do mesmo modo do que uma forma nova; e quanto mais você repetir esse pensamento, com maior presteza terá a resposta vibratória. Dentro em breve, depois de muita repetição, a tendência estará instalada na matéria do seu corpo mental, para repetir automaticamente, por conta própria, essa vibração. Quando isso acontece – já que na conscientização a vibração da matéria e a do pensamento estão inseparavelmente ligadas – o pensamento aparece na mente sem qualquer atividade prévia por parte da consciência. 
Desde que você pensou em alguma coisa – uma virtude, uma emoção, um desejo – e, deliberadamente, chegou à conclusão de que é uma coisa desejável possuir essa virtude, sentir essa emoção ou ser movido por esse desejo, você, serenamente, põe-se a trabalhar no sentido de criar o hábito de pensar. 
Você pensa nisso de propósito todas as manhãs, durante uns poucos minutos, e logo observa que o pensamento nasce em você espontaneamente (consequência da referida atividade automática da matéria). Você persiste na criação do pensamento, até ter formado um vigoroso hábito de pensar, hábito que só pode ser transformado por um processo igualmente longo de pensar no sentido oposto. 
Mesmo contra a oposição da vontade, o pensamento retorna à mente – como várias pessoas percebem quando não conseguem dormir em consequência da volta involuntária de pensamentos importunos. Se você estabeleceu o hábito, digamos, da honestidade, automaticamente agirá com honestidade, e se certa rajada de desejo o arrasta à desonestidade em alguma ocasião, o hábito da honestidade irá atormentá-lo como você jamais atormentaria um ladrão contumaz. Você criou o hábito da honestidade; o ladrão não tem esse hábito; portanto, você sofre mentalmente quando o hábito é rompido ao passo que o ladrão nada sofre. A persistência no fortalecimento desse hábito mental até que ele se torne mais forte do que qualquer força que possa surgir para pressioná-lo cria o homem confiável: ele, literalmente, não pode mentir, não pode roubar; ele construiu para si mesmo uma virtude inexpugnável. 
Pelo pensamento, então, você pode adquirir qualquer hábito que resolva obter. 
Não há virtude que você não possa criar pelo pensamento. As forças da natureza trabalham com você, porque você sabe como usá-las e elas se tornam suas reservas. 
Se você ama seu marido, sua mulher, seu filho, sabe que essa emoção de amor leva felicidade aos que a sentem. Se espalhar o amor para os outros, o resultado será um aumento de felicidade. Vendo isso, você, que deseja a felicidade de todos, deliberadamente começa a pensar em dar amor para os outros, num círculo cada vez maior, até que essa atitude de amor seja a sua atitude normal com relação a tudo e a todos. Você criou o hábito do amor e generalizou uma emoção fazendo dela uma virtude, porque a virtude é apenas uma boa emoção que se tornou geral e permanente. 
Tudo está sob a lei: você não pode obter capacidade mental ou virtude moral sentado, parado, nada fazendo. Você pode obter ambas essas coisas com pensamento firme e perseverante. Pode construir sua natureza moral e mental pensando, porque “o homem é criado pelo pensamento; ele se torna aquilo que ele pensa, portanto, pense”¹ naquilo que deseja ser, e, inevitavelmente, isso virá ao seu encontro. Assim, você irá tornar-se um atleta mental e moral, e seu caráter crescerá rapidamente: você elaborou no passado o caráter com que nasceu; agora você está elaborando o caráter com que irá morrer, e com o qual voltará. Isso é o karma. Cada qual nasce com um caráter, e o caráter é a parte mais importante do karma. O muçulmano diz que “o homem nasce com seu destino enrolado no pescoço”, visto que o destino de um homem depende unicamente do seu caráter. 
Um caráter forte pode dominar as circunstâncias mais desfavoráveis e ultrapassar os obstáculos mais difíceis. Um caráter fraco é abatido pelas circunstâncias e fracassa diante do mais trivial dos obstáculos.