quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Autoexame (Annie Besant)


O primeiro passo a examinar, refletidamente, é o que se refere ao que podemos chamar de nosso “estoque de mercadorias”, e são nossas faculdades e qualidades inatas, boas e más, são os nossos poderes e as nossas fraquezas, as nossas oportunidades presentes e o nosso ambiente atual. Nosso caráter é o que pode ser modificado mais rapidamente, e nele temos de começar a trabalhar, selecionando as qualidades que convém fortalecer e as fraquezas que constituem nosso perigo mais premente. Vamos tomá-las, uma a uma, e usar a força do pensamento da forma antes descrita, lembrando sempre que jamais devemos pensar em fraqueza e, sim, na força de que o pensamento é dotado. Pensamos naquilo que desejamos ser e, aos poucos, de uma forma inevitável, nos tornamos aquilo em que pensamos. Essa lei não pode falhar. A nós cabe, apenas, trabalhar para que ela obtenha êxito. 
A natureza do desejo também é modificada pelo pensamento, e criamos as formas-pensa-mento de que necessitamos. Alerta para ver e captar uma oportunidade conveniente, nossa vontade se fixa nas formas que o nosso pensamento cria, e assim coloca-as ao nosso alcance, produzindo-as, literalmente, e aproveitando as oportunidades em que o karma do passado não nos apresenta. 
O mais difícil de se modificar é o nosso ambiente, porque nesse caso estamos tratando com a forma mais densa de matéria, aquela sobre a qual a força do nosso pensamento tem menos força. Nesse caso, nossa liberdade fica muito limitada, porque estamos no ponto mais fraco, e o passado está em seu ponto mais forte. 
Ainda assim, não estamos de todo desamparados, porque, nesse ponto, seja pelo combate, seja pela aceitação, poderemos, finalmente, obter êxito. A parte indesejável do nosso ambiente que podemos modificar com vigoroso esforço é a que temos de modificar de imediato. O que não conseguirmos modificar, aceitamos e ficamos observando o que isso tem a nos ensinar. Quando tivermos aprendido essa lição, essa parte indesejada irá desprender-se de nós como uma roupa usada. 
Temos uma família indesejável: bem, ela é formada pelos egos que chamamos para junto de nós no passado; realizamos todas as obrigações com ânimo e paciência, pagando com honradez nossas dívidas; adquirimos paciência através dos transtornos que ela nos causa, vigor através das irritações diárias e perdão através de seus erros. Nós a usamos como o escultor usa seus instrumentos de trabalho: para aplainar nossas excrescências e alisar e polir nossas arestas. Quando a utilidade desses egos terminar para nós, eles serão levados embora pelas circunstâncias ou afastados para outro lugar qualquer. O mesmo acontecerá com os outros aspectos do nosso ambiente, que, aparentemente, são aflitivos. Como o marinheiro experiente que move suas velas conforme o vento que ele não pode modificar e então força-as a colocá-lo na rota, usamos as circunstâncias que não podemos alterar adaptando-nos a elas, de forma que se vejam compelidas a nos ajudar. 
Assim, em parte somos compelidos, em parte somos livres. Temos de trabalhar entre e com as condições que criamos; mas somos livres, dentro delas, para trabalhar sobre elas. Nós próprios, Espíritos eternos, somos inerentemente livres, mas só podemos trabalhar dentro e através da natureza do pensamento e do desejo que criamos. Esses são os nossos materiais e as nossas ferramentas; não poderemos ter outros enquanto nós mesmos não os produzirmos.