quarta-feira, 5 de setembro de 2018

As leis da natureza (Annie Besant)


O próximo passo do nosso estudo consiste na consideração das “Leis da Natureza”. O universo inteiro está incluído nas ideias de sucessão e causação, mas quando chegamos àquilo que chamamos de leis da natureza, não temos possibilidade de dizer quais são as áreas sobre as quais elas se estendem. Os cientistas se sentem compelidos a falar cada vez com maior cautela, quando ultrapassam os limites da observação real. Causas e efeitos que são contínuos dentro da área da nossa observação podem não existir em outras áreas; trabalhos que aqui são vistos como invariáveis podem ser interrompidos pela irrupção de alguma causa que esteja fora do que é “conhecido” no nosso tempo, embora provavelmente não esteja fora do que pode ser conhecido. Entre 1850 e 1890 houve muitas exposições positivas quanto à conservação de energia e indestrutibilidade da matéria. Dizia-se existir no universo certa quantidade de energia, incapaz de diminuição ou de aumento; dizia-se que todas as forças eram formas dessa energia e que podiam ser transmudadas de uma para outra; dizia-se ainda que a quantidade de qualquer força conhecida, como o calor, poderia variar, mas não a quantidade total dessa energia. 
Assim como o número 20 pode ser formado de 20 unidades, ou de dois 10, ou de cinco 4, ou de 12 mais 8, e assim por diante, sempre com o mesmo total, assim acontece com as várias formas e a quantidade total. No que se refere à matéria, repetimos, declarações semelhantes foram feitas: ela era indestrutível, por isso permanecia sempre na mesma quantidade. Alguns, como Ludwig Buchner, declararam que os elementos químicos são indestrutíveis, que “um átomo de carbono sempre foi um átomo de carbono”, e assim por diante. 
Com essas duas ideias foi formada a ciência, e elas constituíram a base do materialismo. Agora, entretanto, sabe-se que os elementos químicos são solúveis, e que o próprio átomo pode ser um remoinho no éter, ou talvez um simples buraco onde não haja éter. É possível que haja átomos através dos quais a força flua para dentro, e outros através dos quais a força flua para fora – mas de onde? – para onde? A matéria física não poderá tornar-se intangível, desmanchar-se no éter? O éter não poderá dar nascimento a uma nova matéria? Tudo isso é duvidoso, antes tinha-se certeza disso tudo. Ainda assim um universo tem o seu limite intransponível. Dentro de determinada área só podemos falar com certeza de uma “lei da natureza”. 
O que é uma lei da natureza? O Sr. J. N. Farquhar, na Contemporary Review de julho de 1910, num artigo sobre hinduísmo, declarou que “se os hindus quiserem levar suas reformas adiante devem abandonar a ideia do karma”. Isso é como se alguém dissesse que, se um homem pretende voar deve abandonar a ideia de atmosfera. Compreender a lei do karma não significa renunciar à atividade, mas conhecer as condições sob as quais essa atividade é mais bem conduzida. O Sr. Farquhar que, evidentemente, estudou com zelo o moderno hinduísmo, não captou a ideia do karma como é ensinada na escritura antiga e na ciência moderna. 
Uma lei da natureza não é uma ordem, mas uma exposição de condições. 
Nunca é demais repetir isso, nem se insiste nisso com excessiva ênfase. A natureza não ordena isto ou aquilo. Ela diz: “Aqui estão certas condições e, onde elas existem, tais e tais resultados invariavelmente se seguirão.” Uma lei da natureza é uma sequência invariável. Se você não gostar dos resultados, mude as condições precedentes. Se conti nuar a ignorá-las, estará sem defesa, à mercê das forças impetuosas da natureza; se as conhecer, será o mestre, e essas forças irão servi-lo obedientemente. Toda lei da natureza é uma força que nos torna capazes e não nos constrange; mas o conhecimento é necessário para que se possa fazer uso de seus poderes. 
A água ferve a 100 graus centígrados, sob pressão normal. Essa é a condição. 
Se você sobe por uma montanha, essa pressão diminui: a água ferve a 95 graus.
Bem: água aos 95 graus não faz bom chá. A natureza estará proibindo que você tome um bom chá no topo de uma montanha? Nada disso. Sob pressão normal a água ferve na temperatura necessária para se fazer chá. Se essa pressão diminui, supra a sua falta, aprisionando o vapor que escapa, até que ele acrescente a pressão necessária, e poderá fazer o seu chá com água a 100 graus. Se quiser obter água com a união de hidrogênio e oxigênio, você precisa de uma certa temperatura, e poderá obtê-la com uma faísca elétrica. Se insistir em manter a temperatura a zero, ou em substituir o hidrogênio por nitrogênio, não poderá obter água. 
A natureza expõe as condições que bastam à produção de água, e você não pode modificá-las. Ela não fornece nem esconde a água: você é livre para obtê-la ou para ficar sem ela. Se a deseja, deve reunir os itens necessários, e assim realizar as condições exigidas. Sem essas condições, nada de água. Com elas, você inevitavelmente terá água. Você está preso ou é livre? É livre para obter as condições; está preso quanto aos resultados, quando as tiver obtido. Sabendo disso, diante de uma dificuldade, o cientista não fica sentado, indefeso; busca as condições sob as quais poderá obter o resultado desejado, aprendendo a estabelecer as condições, certo de que pode confiar nos resultados.