Outro ponto de grande importância a recordar é que o karma do passado tem características muito mescladas. Não nos cabe enfrentar apenas uma única corrente, a totalidade do passado, mas um curso d’água feito de correntes que se dirigem para vários pontos, algumas opondo-se a nós, outras nos ajudando; a verdadeira força que temos de enfrentar, o resultado que ficar quando todas essas forças de oposição tiverem se neutralizado mutuamente, pode ser a que não está, de modo algum, longe da nossa possibilidade de dominar presentemente. Diante de um caso de mau karma do passado, temos de nos aferrar a ele, esforçando-nos por dominá-lo, lembrando-nos de que ele encarna uma parte apenas do nosso passado, e que outras partes desse passado estão conosco, fortalecendo nos e revigorando-nos para a batalha. O esforço presente, levado a cabo com o acréscimo dessas forças do passado, pode ser, e com frequência é, o bastante para dominar as situações que nos são adversas.
Ou – tornamos a dizer – uma oportunidade se apresenta e hesitamos em aproveitá-la, temendo que nossos recursos sejam inadequados para atender às responsabilidades que ela traz. Ela, porém, não estaria ali a não ser que o nosso karma a tivesse trazido até nós como fruto de um desejo do passado. Tratemos de captar essa oportunidade, de forma corajosa e tenaz, e veremos que esse simples esforço desperta forças latentes que dormitavam em nós e que desconhecíamos.
Elas estavam à espera de estímulo exterior para despertar e se tornarem ativas.
Assim, muitos dos nossos poderes, criados pelo esforço do passado, estão a dois passos da expressão e só precisam da oportunidade para florescer em ação.
Devemos visar sempre algo mais do que aquilo que pensamos que estamos em condições de fazer – não uma coisa totalmente fora de nossa capacidade atual, mas aquilo que parece apenas estar fora do nosso alcance. Enquanto nos esforçamos para alcançar esse objetivo, todas as forças kármicas adquiridas no passado vêm em nosso auxílio para nos fortalecer. O fato de que quase podemos realizar algo significa que trabalhamos com esse algo no passado, e o vigor acumulado por esse esforço está conosco. O fato de podermos fazer um pouco significa o poder de fazer mais e, mesmo que fracassemos, o poder demonstrado no máximo passa para o reservatório das nossas forças. O fracasso de hoje representa a vitória de amanhã.
Quando as circunstâncias são adversas, ocorre o mesmo: pode ser que tenhamos chegado ao ponto em que um esforço a mais represente sucesso. É por isso que Bhishma aconselha o esforço em qualquer situação e diz esta frase encorajadora: “O esforço é maior do que o destino.” O resultado de muitos esforços passados tomou corpo no nosso karma, e se lhe acrescentarmos o esforço atual, ele pode adequar nossas forças para que alcancemos nossa meta.
Há casos em que a força do karma do passado é tão grande que esforço algum no presente pode ser suficiente para vencê-la. Ainda assim, esse esforço tem de ser feito, pois são poucos os que sabem quando um desses casos acontece com eles e, em última análise, o esforço feito diminui a força kármica para o futuro. Às vezes, um químico trabalha durante anos para descobrir uma força, ou uma combinação de matéria que lhe dê possibilidade de alcançar o resultado desejado, e com frequência vê-se frustrado, mas não se dá por vencido. Ele não pode modificar os elementos químicos, não pode modificar as leis das combinações químicas, mas aceita o fato resmungando, e nisso consiste “a sublime paciência do pesquisador”. Contudo, o conhecimento do pesquisador, sempre maior em vir- tude de seus pacientes experimentos, chega, por fim, ao ponto que o leva a encontrar o resultado que deseja. Esse é o espírito que o estudante do karma precisa adquirir; ele deve aceitar o inevitável sem queixas, mas, sem descanso, procurar os métodos através dos quais lhe seja garantida a obtenção da sua meta, seguro de que sua única limitação é a sua ignorância e de que o conhecimento perfeito deve significar o perfeito poder.