segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Os Gnósticos na História


Historicamente, os gnósticos viveram, em sua larga maioria, durante os três ou quatro primeiros séculos da Era Cristã. Bastante provável que eles mesmos não se considerassem gnósticos porquanto eram sabedores do significado oculto dessa palavra. Mas, certamente, eram formados por cristãos, judeus e até adeptos de antigos cultos egípcios, babilônicos, gregos e romanos.

Ao contrário do que diziam seus detratores, os gnósticos não formavam uma religião específica nem eram sectários, fanáticos ou arrogantes. Simplesmente, compartilhavam de uma atitude comum para com a vida e o mundo e, essa atitude, sabemos, era fundamentada no conhecimento do coração (Gnozis kardias) como diz O Evangelho da Verdade, também conhecido como O Evangelho de Felipe.

Quando consideramos hoje o gnosticismo como a raiz mesma da psicologia profunda, como descobriu e atestou Jung, torna-se fácil entender porque havia tanta divergência entre os gnósticos e os crentes católicos antigos. É que a sabedoria do coração (Gnozis kardias) não pode ser conseguida com preces, promessas e uma obediência cega às instituições humanas, mas sim, por meio de vivências e disciplinas muito próprias e específicas. Incluía-se aqui a visão gnóstica do próprio sacrifício de Jesus que, para os crentes, veio para lavar a humanidade de seus pecados, mas que, para os gnósticos, apontava um exemplo de vida a ser imitado em seu Reino Interno, onde, cada Adepto deve se lavar nas águas da renúncia dos apegos, dos afetos, da vida, do mundo e de tudo que ele oferece (alquimia psicológica).

Já se passaram uns dezessete (17) séculos desde que os gnósticos fizeram história. Nesse ínterim, os gnósticos não só foram esquecidos como, principalmente, foram perseguidos, caluniados e mortos. Examinando-se atentamente a história vemos que os gnósticos foram dizimados, numa das mais implacáveis e longas perseguições religiosas que se tem notícia. Obras teológicas antigas, hoje acessíveis, comentam que “os gnósticos foram perniciosos hereges do cristianismo primitivo”. “A última grande perseguição – só para exemplificar – terminou com o extermínio de aproximadamente duzentos gnósticos (cátaros ou albigenses) em 1244, no castelo de Montségur, na França”.

É inegável o fato de que judeus, cristãos, católicos, protestantes e os ortodoxos orientais (e, no caso da Gnose Maniqueísta, até os zoroastristas, os muçulmanos e outros odiaram e perseguiram os gnósticos com persistente determinação).

Voltamos à pergunta: Por que os gnósticos eram temidos?

Certamente não era apenas pela sua desconsideração pela lei moral que escandalizava os rabinos. Ou, porque suas dúvidas relativas à encarnação física de Jesus e sua reinterpretação da ressurreição enfurecia os sacerdotes. Nem porque eles rejeitavam o casamento e a procriação, como afirmam alguns de seus detratores.

A verdade é que os gnósticos realmente possuíam um conhecimento que os tornava uma ameaça a todos aqueles que buscavam perpetuar uma instituição com vistas a usufruir vantagens e poderes pessoais e políticos. Os gnósticos sempre souberam que o mundo, tal como se apresenta aos nossos olhos, simplesmente atende às necessidades da economia natural ou da Lei do Trogo-auto-ego-crático Cósmico Comum (devorar e ser devorado; alimentar-se e servir de alimento).

Vivendo-se dessa forma, na eterna esperança de Messias e Ungidos que venham melhorar nossa sorte, jamais tornaria possível a experiência e a vivência das grandes realidades transcendentais. Logo, dinheiro, poder, governo, constituição de família, pagamento de impostos, a infinita série de armadilhas das circunstâncias e obrigações da vida cotidiana, tudo isso jamais foi tão rejeitado de forma tão acentuada quanto o foi pelos gnósticos.

Os gnósticos sempre souberam que nenhuma revolução política ou econômica poderia ou deveria eliminar todos os elementos iníquos do sistema em que a alma humana encontra-se aprisionada. Portanto, sua rejeição não se referia a um governo, a um sistema religioso ou político. Pelo contrário, dizia respeito à total e predominante sistematização da responsabilidade pessoal para com o todo. Logo, os gnósticos eram detentores de um segredo tão fatal e terrível que os governantes deste mundo (os poderes secular e religioso, que sempre lucraram com os sistemas estabelecidos da sociedade) não podiam permitir-se ver esse segredo conhecido e, muito menos, vê-lo publicamente proclamado em seus domínios.

Ontem, como hoje, os gnósticos sabem que não é possível atingir a auto-realização íntima ou a completa auto-realização de seu próprio Ser enquanto viverem atrelados cegamente às estruturas e instituições sociais, porque estas representam, na melhor das hipóteses, apenas obscuras projeções de outra realidade mais fundamental. Não é possível vivenciar as realidades íntimas do Ser enquanto formos o que a sociedade espera que sejamos nem fazendo o que ela diz para fazermos. Ao contrário, esses ditames constituem, com maior freqüência, as próprias algemas que nos alienam de nosso real destino espiritual.

Foi essa visão do mundo que levou aqueles grupos gnósticos dos primeiros séculos a serem perseguidos, caluniados e qualificados de hereges.

Autor: Karl Bunn

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