segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Gnose:As 4 Nobres Verdades


Havíamos prometido abordar hoje As Quatro Nobres Verdades em complemento aos temas anteriores. No encontro anterior abordamos sobre o Óctuplo Caminho de Buddha e antes disso havíamos falado sobre as Paramitas, salientando a importância do desenvolvimento das virtudes fundamentais para que possamos realmente ter êxito nesse caminho…

Desde muitos anos começamos a falar, abordar, insistir sobre a necessidade urgente de não ficarmos presos, focados somente em nossos defeitos, mas que deveríamos também nos voltarmos para o outro lado, para o lado da solução, que é justamente fortalecer as características de consciência que todos nós já possuímos, que já temos dentro de nós.

Neste momento é muito mais rápido e fácil despertar valores de cnsciência que estão atuantes em nós do que fazer um combate frontal e direto contra os inimigos ocultos [egos]. Podemos ter muito mais chance de sucesso adotando essa estratégia ou essa tática do que simplesmente ficarmos lutando contra o vento, contra o inimigo invisível.

Havíamos prometido abordar essa questão das quatro nobres verdades porque fomos inspirados a falar disso a partir de um livro escrito em 1958 pelo Mestre Samael. Trata-se do “Enigma do Apocalipse Decifrado”. Foi neste livro que, pela primeira vez, tomei conhecimento desses aspectos da doutrina buddhista, e só muitos anos mais tarde é que fomos realmente darmos-nos conta do valor desses ensinamentos…

Diz o Mestre Samael nessa obra que aquele que pratica essas 4 virtudes ou encarna essas 4 virtudes se torna um dragão das quatro verdades e que todo dragão das quatro verdades é um Buddha, que corresponde ao grau de Iluminado ou aquele que está desperto. Nessa obra, também, o Mestre Samael faz um convite para que os Buddhas não se limitassem apenas a esse grau e os convidava a encarnar o Cristo, que é feito renunciando ao Nirvana por amor à humanidade, e claro, trabalhando intensamente na frágua acesa de Vulcano; assim os Buddhas podem chegar a encarnar o Cristo.

Então, a importância de tomar consciência dessas quatro nobres verdades, o foco ou a abordagem destas quatro nobres verdades, é ligeiramente distinta do que os buddhistas ensinam hoje… Quais são essas quatro nobres verdades?

A primeira Nobre Verdade trata da existência do sofrimento. Por conseqüência, sabendo-se desse sofrimento, temos que superar, lutar contra isso, anular isso em nós. O Buddhismo entende como sendo o sofrimento ou causa do sofrimento, os renascimentos aqui no Sansara; também a velhice, a enfermidade, a morte geram sofrimentos; estar presente em ambientes ou com pessoas que não gostamos ou estar distante daquilo que se aprecia, que se ama, que se gosta igualmente geram sofrimentos; também gera sofrimento não ter aquilo que se deseja; também gera sofrimento perder aquilo que se deseja ou perder o objeto dos seus desejos.

O que vem a ser a causa de sofrimento? Nada mais do que a natureza insatisfatória de todas as experiências que vivemos. Isto é o sofrimento…

O Mestre Samael diz claramente que essas quatro verdades práticas desses princípios ocultos, escondidos nessas quatro verdades, têm o poder de aniquilar o “Príncipe deste mundo”… Essa primeira verdade corresponde, então, a fazermos consciência absoluta da dor e da amargura ou do sofrimento… Examinando-se as causas pelas quais sofremos, qual é a causa ou quais são as causas do sofrimento?

Dizemos que é devido ao nosso karma. Mas temos que saber que fomos nós quem criamos esse karma, somos nós os autores de todos os nossos próprios sofrimentos, somos nós que infligimos dor e sofrimento a nós mesmos quase sempre por ignorância. Mas não importa a causa. Se for por ignorância, descobrindo que nosso sofrimento vem por ignorância, então, fica bastante simples corrigirmos nossa própria ignorância…

Se nosso maior sofrimento é a doença ou a enfermidade, sabendo qual é a origem dessa enfermidade, é evidente que deixaremos de ser o que somos hoje; deixaremos de agir, de fazer, de pensar e de sentir da forma como fazemos hoje. A partir dessa constatação, dessa tomada de consciência, iniciaremos a fazer as mudanças necessárias para que, no girar da roda do Sansara, não mais venhamos a colher esses sofrimentos, dores e amarguras no futuro.

Depende de nós cessar, cortar aqui e agora a geração desses karmas negativos que se traduzem sempre como sofrimentos e dores… É preciso fazer essa tomada de consciência da dor e da amargura… Os buddhistas ensinam que as causas dos sofrimentos são provenientes ou resumidas nos três venenos da mente que são: ignorância, desejo e aversão.

O Mestre Samael é muito mais contundente e direto quando diz: “A dor é filha da fornicação… Todo aquele que derrama o vaso de Hermes é fornicário…” Consequentemente, está sempre gerando sofrimentos, porque, é claro que alguém que derrama o Vaso de Hermes por ignorância, porque aprendeu dessa forma, porque nunca ensinaram a preservar essa energia sagrada, esse potencial todo que está enterrado na energia da vida, causa sofrimento a si mesmo…

É por isso que a raiz de todo sofrimento está na fornicação; agora, por outro lado, não se vence e nem se supera a fornicação ou o hábito que temos de atirar fora nossa energia, só e simplesmente por mera informação que se recebe num livro; temos que fazer consciência disso, descobrir o que está oculto, o que está atrás desse hábito que se tornou um vício ou algo normal nessa humanidade, e que é assim hoje por ignorância…

Ninguém nos ensinou, até agora, a preservar, a valorizar ou a sacraliozar essa energia; então, a partir da própria ignorância, também nascem os desejos e esses mesmos desejos são alimentados [fortalecidos] pela própria fornicação…

A segunda nobre verdade é conhecer, investigar ou dar-se conta das causas dos sofrimentos…

Não superar a ignorância, o desconhecimento, é o que nos faz alimentar incessantemente a geração do karma negativo. No momento em que nos dermos conta de onde e como estamos falhando, temos a possibilidade de mudar isso e refazer o templo interior, reconstruir o templo divino, o templo do Deus vivo – uma vez que esse templo está alicerçado na pedra cúbica – e essa pedra cúbica é exatamente o sexo.

A Gnose diz que a terceira nobre verdade que temos que descobrir, aprender ou tomar consciência é que todos nós temos um ego e que devemos decapitar esse ego para poder encarnar o Verbo…

É evidente que se aniquilarmos o ego como um todo acaba-se a ignorância, o desejo, a aversão; acabam-se os venenos da mente… Acabamos com isso tudo decapitando o ego, acabando com o processo de contaminação, de intoxicação de nossa mente pelos egos, porque isso é um processo contínuo…

A ação do ego ou dos egos em nossa mente faz com que continuamente vivamos contaminados, intoxicados com esse veneno – e é claro, então, que a nossa mente, nessa condição, não tem a transparência necessária para perceber as verdades ocultas, eternas.

Se nossa mente é, como bem foi dito muitas vezes pelos sábios da humanidade, um espelho que reflete as imagens ou a sabedoria ou a luz que vem dos centros superiores do nosso próprio Ser, se esse espelho está embaçado, sujo, é evidente que não vai refletir nada…

Portanto, temos que purificar nossa mente, e a purificação de nossa mente se dá através da eliminação das toxinas ou desses venenos; não é exatamente como dizem as diversas linhas buddhistas que esse sofrimento vem apenas da ignorância, do desejo ou da aversão; ele vem do ego como um todo que acabamos criando a partir da primeira encarnação como seres humanos…

O ego não foi criado porque assim o quisemos um dia. Não! Ele foi sendo criado desde o primeiro retorno, da primeira encarnação nossa em corpo humano porque, na época, desconhecíamos tudo isso; é da escola da vida que para tomar consciência de algo primeiro temos que possuir esse algo; então, jamais poderíamos tomar consciência da dor sem que experimentássemos a dor, jamais poderíamos fazer uma opção consciente pelo Ser, pela alma, pelo Divino sem que primeiro tivéssemos experimentado o oposto, o pólo oposto, a natureza oposta a esses mesmos valores divinos…

O fato é que nos primeiros retornos como humanos, por desconhecimento e por imaturidade, por inocência, fomos imitando os mais velhos, nossos pais, os companheiros, os nossos semelhantes naquelas tribos onde nascemos pelas primeiras vezes e onde fomos desenvolvendo um pequeno ego humano; mais tarde, com as complicações, com a sofisticação dos retornos e da vida e das nossas experiências como seres humanos ou almas, seres sencientes revestidos de corpos tricerebrados, com um intelecto que nos permitia discernir, aí, sim, acabamos gostando de certas sensações e nos viciamos nessas sensações; formamos uma memória dessas sensações e a cada retorno sempre fomos levados a repetir, a provar, a experimentar, a vivenciar essas mesmas sensações…

Por isso se diz que o prazer é Satã [o ego]… Ou que Satã é prazer – porque esse prazer é a síntese de todas as sensações agradáveis proporcionadas pelos nossos cinco sentidos mais a mente que recolhem permanentemente impressões que alimentam a memória desta vida e a memória subconsciente de outras vidas – e assim vivemos eternamente repetindo os mesmos gestos, as mesmas experiências, e vivendo as mesmas sensações…

Quando nós nos damos conta que esta experimentação, esse tipo de gratificação não nos dá felicidade, muito ao contrário, são causas de nossos sofrimentos, são causas de amarguras, de dor, de doenças inclusive, enfermidades, aí podemos, então, fazer uma opção consciente – e essas quatro nobres verdades acabam sendo os quatro degraus fundamentais que nos permitirá no devido tempo fazer com que nossa mente brilhe e reflita esses valores puros que advém, que são provenientes das esferas superiores de consciência universal…

Por fim, a quarta e última nobre verdade: seguir o caminho ou adotar a práxis da cessação do sofrimento…

A forma de cessar o sofrimento, de acordo com o Buddhismo, é seguir o óctuplo Sendeiro ou o óctuplo caminho de Buddha, tema este da conferência anterior…

Para a Gnose, a quarta nobre verdade é o Arcano AZF ou a Alquimia Sexual. Somente com a Alquimia podemos decapitar ou dissolver o “Príncipe deste mundo”. Sem a alquimia sexual não poderemos decapitar o ego… Isso é muito claro dentro da Gnose – e isso nos remete à conclusão bastante simples: a escola e o caminho buddhista, tal qual é proposto, leva-nos a limpar, a purificar a mente, e assim podemos nos transformar em pessoas de mente iluminada…

É claro que podemos gozar de um elevado grau de consciência estando a mente limpa, porém, para encanar o Buddha, para se tornar um Dragão das Quatro Verdades, para que nos tornemos realmente Buddhas, não um Buddha elemental, temos que obrigatoriamente passar a praticar a quarta nobre verdade – que é o Arcano AZF, a alquimia sexual…

É através dessa prática que decapitamos, que vamos além da simples limpeza e purificação da mente, e efetivamente decapitamos, eliminamos até as raízes da dor, do sofrimento e da amargura.

Bem verdade que nós jamais conheceremos a felicidade plena sem que tenhamos realmente a mente não só limpa, mas totalmente isenta da fonte ou das raízes, das sementes dessa mesma intoxicação, desses venenos todos…

Fica aí realmente o convite que o Mestre Samael deixou registrado para que vibrasse no cosmo inteiro durante essa era de Aquário: “Oh nobres Buddhas, necessitais encarnar o Cristo! Somente renunciando ao Nirvana por amor à humanidade e trabalhando intensamente na frágua acesa de Vulcano que se dará o advento do Cristo…”

Isso significa que temos que ir além da simples mente iluminada, que temos que buscar um objetivo bem mais profundo…

As quatro nobres verdades se complementam com o Óctuplo caminho de Buddha e com as Paramitas, especialmente aquelas seis Paramitas abordadas nestas três últimas conferências que realizamos neste canal…

Até aqui nossas palavras de hoje e ficamos à disposição agora para complementar aqueles aspectos que vocês acharem por bem alargarmos ou aprofundarmos…

Perguntas

P: O que é o sofrimento de um Mestre?
R: O sofrimento de um Mestre é ver seus irmãos, a humanidade, debater-se na ignorância, nas trevas, achando que as trevas são luz; é sofrimento de um Mestre ver que seus esforços, seus trabalhos acabam não despertando a consciência dos seus irmãos menores, não porque ele, Mestre, tenha por meta ou por obrigação fazer despertar…; ele faz isso por amor a humanidade, não como um objetivo, um resultado a ser buscado, e se esse resultado não é alcançado ele sofre em função disso como uma pessoa comum que busca um objetivo e quando não o alcança sofre por frustração… Um Mestre quando não consegue despertar alguém, apesar do esforço, simplesmente expressa compaixão e se retira…

P: Existe uma obra especifica do Mestre Samael sobre o tema de vegetarianismo e jejum?
R: Nos primeiros anos de Gnose o Mestre Samael foi vegetariano… Inclusive, em seus livros mais antigos consta certas afirmações como: “o estudante ou o adepto está proibido de comer carne”; depois ele teve que desdizer isso… Então, jamais o Mestre Samael escreveu sobre o vegetarianismo, até porque a Gnose não é uma escola vegetariana. A Gnose que é uma escola que ensina o princípio da sustentação dos mundos baseada na lei do Trogoautoegocratico cósmico comum – que é alimentar-se e servir de alimento. Nós trabalhamos para a Mãe Terra e a Terra se alimenta de nós e nós também nos alimentamos da Terra. A Terra, por sua vez, serve de alimento para o sistema solar, o sistema solar para a galáxia, a galáxia para o universo. Então, todos se alimentam e servem de alimento… Quando alguém segue apenas o vegetarianismo, isso é uma questão de opção, de escolha pessoal, não tem porque criticar alguém que fez essa opção e também não tem que impor nenhum regime, seja ele frugal, lacto vegetariano, carnívoro ou o que quer que seja… Não pode ensinar e esperar, por exemplo, que um esquimó seja vegetariano…

Sobre o jejum, sim, o Mestre Samael fala disso no livro Medicina Oculta; sobre jejuns recomendava, por exemplo, o jejum de nove dias. Essas práticas de jejum podem auxiliar o processo de morte psicológica desde que sejam feitas com a consciência necessária; senão não vai servir pra nada… Aquele que tem o intelecto muito embrutecido, um jejum, um retiro, com a prática de jejum ou alimentos bem leves, ajudaria nesses processos. É claro que seria apenas um princípio e que teria que dar seqüência a toda uma disciplina espiritual posterior, do contrário de nada serviria esse jejum…

P: Para Siddhartha Gautama as quatro verdades seriam outras: dor, doença, velhice, morte! Houve uma atualização da doutrina com a vinda do Mestre Samael ou a história encontra-se enganada?
R: Diria por meu próprio sentimento, mas também baseado nas revelações, nos ensinamentos do Mestre Samael e outras fontes também que o budismo só foi escrito quatrocentos anos depois da morte de Buddha e sabemos também que esse Buddhismo foi alterado tal qual o cristianismo. Então, entendemos que o Senhor Buddha não ensinou exatamente isso que hoje as distintas escolas de Buddhismo ensinam, assim como o Cristianismo hoje se tornou, se transformou em correntes puramente de crenças, crendices, nada tendo a ver com a essência da doutrina deixada pelo Cristo, que se encontra, por exemplo, no Pistis Sophia ou em evangelhos chamados apócrifos… A mesma coisa ocorreu com os ensinamentos do Senhor Buddha quando foram passados ao papel, 400 anos depois, o que significa que isso ocorreu aproximadamente pelo ano 200 a. C. Depois disso o Buddhismo, como o Cristianismo, também passou por diversas diferenças, rachas, atualizações; é por isso que de dois em dois mil anos sempre vem a este mundo um enviado, um Avatar para atualizar as doutrinas de um modo geral. É aconselhável estudar-se outras correntes do passado, porém isso deve ser feito com o esquadro e o compasso da nova doutrina; se não nos perderemos no labirinto das idéias e dos símbolos do passado…

P: … Só não pode comer carne de porco?
R: Bom, a carne de porco, dos animais que conhecemos, sem dúvida é uma das que é menos recomendável, mas o javali pode… Há outros animais involutivos também… Por exemplo, peixes de pele lisa não devem ser consumidos ou seu consumo deve ser evitado… Em verdade hoje poucas espécies de animais estão na pauta do dia do consumo humano. Mas muita gente, isso a gente nota até hoje nos mercados, é viciada em carne de porco; então, para o gnóstico, aquele que quer o caminho, renunciar ao consumo da carne de porco, seja ela pura ou processada, é altamente aconselhável, porque os átomos dessa carne são demasiadamente pesados; ingerindo-se um alimento pesado, como esse, no final de todo processo de alquimia desses átomos de nosso corpo, isso vai se resumir na qualidade da energia sexual, e teremos um hidrogênio Si-12 muito denso – o que é contra indicado para aqueles que querem construir corpos solares… Essa é a razão de se evitar certos alimentos atomicamente densos…

P: Porque a Essência, em suas primeiras manifestações no reino humano, comete tantos erros?
R: Meu amigo, é muito simples; devolvo a pergunta para você tirar sua própria resposta e conclusão: Quando você nasceu, quando era bem pequenino, por que cometeu tantos erros ou fez tanta bobagem ou até mesmo se machucou, puxou toalha da mesa e de repente caiu um ferro de passar roupa na sua cabeça, ou puxou a televisão, por que fez isso? Por desconhecimento, por inocência, certo!? Nem por isso o ferro deixou de cair na sua cabeça ou a televisão cair no chão e quebrar, ou, eventualmente, por um descuido do seu pai ou sua mãe, você pegou uma faca lá no armário da cozinha e de repente se cortou… Isso se dá por inocência, por ignorância – como se diz…

P: Os sofrimentos e as experiências desagradáveis são necessárias no caminho iniciático?
R: Não, necessárias não são… Vamos diferenciar as coisas; elas não são necessárias. Isso acontece porque não temos uma maneira distinta de fazer esse caminho; supondo que alguém tivesse consciência suficiente, optaria pelo caminho do amor e não pelo caminho da dor. Se estudarmos bem essa questão do sofrimento encontramos, além da ignorância clara, encontramos outro fator que também está relacionado à ignorância: o apego. O próprio Mestre Samael expressava isso da seguinte maneira: “O ser humano é capaz de renunciar a tudo menos ao seu sofrimento”. Devido a essas idiossincrasias tortas de nosso psiquismo nos aferramos demasiadamente aos nossos sofrimentos e fazemos disso, inclusive, canção psicológica de grande sucesso nas paradas das rádios interiores, na troca de informação, nas fofocas, nos relacionamentos sociais. Devemos estar atentos a isso; o apego ao sofrimento e a tudo e todas as coisas, é a questão básica… As vezes a gente tem a impressão que desapegar-se das coisas desagradáveis é fácil, mas, na prática, acaba se tornando mais difícil do que desapegar-se dos objetos de desejos nossos; meditem sobre isso; é muito importante esse aspecto do apego… Se uma pessoa começa a falar de seu sofrimento, logo surge outro e diz que sofreu mais, e outro que é mais heróico, e assim sucessivamente. Isso aí me lembra muito aquelas conversas de bêbados em bares e botecos; é algo assim, só que está bêbado com sua própria tragédia; nesses ambientes, os bêbados se apóiam mutuamente em suas desgraças…

P: Como você fez para se desapegar do sofrimento no começo?
R: Minha história? A gente faz como todo mundo faz, dando-se conta dos próprios sofrimentos a partir de uma informação… Evidente que houve um momento em que ocorreu uma “revelação” [compreensão] acerca de determinada realidade psicológica; a partir daí a gente passa a observar em si mesmo essas coisas; comigo isso ocorreu naturalmente. Se alguém direta ou indiretamente, se algum amigo me comunicava algo, eu passava a observar; se um inimigo fazia uma crítica ou ataque violento, também passava a observar isso em mim; de alguma forma sempre soube que nada muda da noite ao dia. As mudanças se dão por conscientização e o processo de conscientização de cada um se nós, é diferente;
há pessoas que percorreram esse caminho três, quatro ou cinco vezes. Então, a maneira de caminhar é de cada um; você pode observar as pessoas caminhando na rua: cada uma tem um jeito distinto e próprio de caminhar, que o caracteriza. O trabalho interior também é feito de uma maneira especial e própria a cada um, segundo seu raio, sua história, educação, karma, etc. Qualquer um de nós pode fazer esse trabalho a partir de uma simples informação… Eu sou muito agradecido a todos os adversários, nem vou chamar de inimigos; não se pode dizer que são inimigos; os inimigos estão aí adormecidos desde outras vidas; os deixemos por aí. As vezes nós reagimos em relação a aceitar isso como sendo algo simples e natural. Uma vez que aceitamos isso, que não opomos mais resistência às pessoas – porque entendemos o que está acontecendo dentro de nós – a convivência se torna simples, natural, e as palavras dos demais não têm mais força no sentido de desestabilizar a você mesmo. Se alguém não elogia ou critica que importância isso tem? Vamos estar atentos se o que ele diz corresponde à verdade ou não. Se alguém nos elogia, também vamos ter o bom senso e o discernimento para reconhecer em nós se aquele elogio realmente tem alguma procedência, porque muitas vezes é só bajulação, é interesses atrás disso. Aí a convivência se torna muito boa, agradável, o caminho deixa de ser essa briga diária, evita muitas situações de discussões inúteis, brigas, desavenças, desentendimentos. Você começa a ver que dentro de você aqueles elementos já não reagem e que antes estavam muito vivo… Muitas vezes as pessoas perguntam: “Como sei que eliminei um defeito?” Resposta: você o vê… Ele não se expressa mais; eventualmente v. pode perceber num sonho… Se v. lembrar dos sonhos, a primeira coisa que deve fazer no dia seguinte é trabalhar sobre as impressões e memórias daqueles sonhos porque ali está revelando que existe algo ou há coisas para serem estudadas, analisadas, compreendidas; dia após dia sem mudar a sua determinaçãom você vai fazendo o seu trabalhom de forma naturalm como você caminha… Um dia qualquer você se dará conta que despertou bastante ou despertou muito ou multiplicou a sua consciência em relação àquilo que você era há cinco, dez, quinze, vinte anos atrás. Tudo se dá de forma natural…

P: O trabalho predecessor para desenvolver o amor!
R: Alguém só começa expressar compaixão, bondade, tolerância, ser compreensivo e paciente – que são traços disso que chamamos amor – quando começamos a nos dar conta de que somos assim, que o mundo é assim, que as pessoas são assim, que as pessoas são inconscientes e que não têm como mudá-las; o máximo que se pode fazer é dar o ensinamento e respeitar o momento e a livre decisão do outro; não se pode colocar esses ensinamentos à força na cabeça do outro. Isso é impossível, é uma violência. Quem faz isso é mago negro; forçar o outro a pensar de uma maneira distinta, isso fazem os magos negros; a Gnose não é escola de magia negra. A Gnose mostra, aponta o caminho, dá os ensinamentos para isso e o outro decide para si aquilo que for melhor.

P: Há possibilidade de alguém passar pelo reino humano sem receber alguma informação desse caminho?
R: Sim, se uma pessoa não tem inquietude interna, ela pode passar as 108 chances ou retornos sem informação desse caminho… Aliás, se contabilizarmos no mundo sete bilhões de pessoas, menos de 3% têm inquietudes. A média universal é de 3% de consciência desperta quando se nasce, então isso já é um indicativo de que 3% da humanidade pode ter inquietudes. Mas isso não quer dizer que essas inquietudes se transformem em fatos concretos!

P: Como ter acesso às vidas passadas?
R: Apenas despertando a consciência ou saindo em corpo astral conscientemente, porém para despertar consciência ou sair em astral consciente precisa morrer em defeitos. Por isso insistimos nas quatro nobres verdades, no óctuplo caminho de Buddha e também nas paramitas; porque isso é fundamental para quem quer despertar a consciência ou sair em astral de forma consciente; o resto é teoria, perda de tempo.

P: Este trabalho de evangelização serve para o jardim de infância?
R: Sim, todos esses ensinamentos buddhistas, cristãos, sufistas, judaicos, maometanos, tudo isso serve de jardim de infância. Sobre isso o Mestre Samael foi muita claro. Isso é a base… Todos nós nascemos sobre os influxos de uma dessas correntes e isso serve de fundamento para pautar nossos primeiros anos de vida.
Mas é claro também que se alguém busca o caminho não pode ficar preso a isso. E querem saber de algo? Um dos maiores problemas, uma das maiores barreiras que temos visto por aí, inclusive em estudantes gnósticos antigos, é que essas pessoas não se dão conta, ainda estão vivendo segundo os padrões do ensinamento religioso de quando nasceram… Vemos por aí pessoas reagirem ainda em função dos valores católicos, por exemplo, que receberam na sua infância. Inconscientemente ainda se pautam segundo essas crenças… Sinal visível que não fizeram uma reflexão evidente e profunda da sua forma de pensar; ainda continuam se pautando por crenças antigas e de forma inconsciente é claro, não conseguiram fazer nem o básico ainda. Isso demonstra um atraso… Até o Mestre Samael, em conferências de terceira câmara, dizia: “Vejo aqui irmãos que estão há tantos anos conosco, mas continuam pensando, sentindo, agindo de acordo com a moral das crenças dos primeiros anos de vida”. Como alguém pode querer o caminho se continua preso e condicionado a estas crenças primeiras da vida?

P: O caminho da dor como sendo uma verdade, então como encarar aqueles que se autoflagelam em busca da iluminação?
R: Isso aí são práticas equivocadas… A Gnose ensina como fundamento cuidar do corpo que a Divina Mãe nos deu; então, todo aquele que mutila o seu corpo, inflige torturas ao seu corpo, está desrespeitando o trabalho da Mãe Divina. Como alguém pode obter a iluminação se não respeita o presente que foi dado pela sua própria Mãe? O caminho da iluminação não passa por isso, por essa tortura. Agora, diferente é você disciplinar o seu corpo para triunfar, para seguir pelo caminho; isso não tem nada ver com tortura. Submeter o corpo a uma ginástica, a um exercício físico, é necessário; diferente é você mutilar seu corpo ou flagelar seu corpo… Isso não tem nada a ver com iluminação; isso são violências que se comete contra o corpo e se paga karma por isso. Então, são os sinceros equivocados que praticam esse tipo de coisa…

P: Deixar a mente em silêncio é estar concentrado no que está fazendo?
R: Não exatamente…! O enunciado está meio incoerente: não é deixar a mente em silêncio. A mente só fica em silencio quando não há nenhum tipo de resistência ou contrariedade, agitação, em seu fundo… A mente naturalmente silencia quando cessarem as causas da sua própria agitação… O que agita a mente de cada um? Só a própria pessoa pode saber o que faz com que sua mente agite ou fique agitada. Por informação dizemos: “Ah! os egos é que agitam a mente”. Sim, mas qual ego? Quais egos? Por que eles estão atuando neste momento? Não temos nenhum poder sobre nossos egos, pelo menos os egos profundos. Então, podemos acalmar nossa mente num nível superficial, mas nos níveis internos não temos poder; isso depende de um poder superior à mente, e esse poder é nossa Divina Mãe Kundalini. Se não somos devotos de nossa Divina Mãe, dificilmente teremos respostas ou resultados em nossas práticas…

P: Por que precisamos estar encarnados aqui na terceira dimensão para fazer o trabalho espiritual? Por que não se pode dar continuidade a isso depois da morte no astral?
R: Há uma ligeira confusão nisso aí, e por isso a pergunta é interessante; a sua pergunta é: por que precisamos estar encarnados aqui na terceira dimensão para fazer o trabalho espiritual? Isso se limita exclusivamente ao caso terrestre, mas outras humanidades têm corpo físico não na terceira dimensão, percebe a diferença? Oxalá, sim! Por exemplo, nos paraísos jinas, que se localizam na quarta dimensão, as pessoas têm corpo físico também, e lá também podem trabalhar pela sua auto-realização. Essas sutilezas é que têm derrubado os irmãozinhos gnósticos por aí; eles acham que em Vênus, por exemplo, as pessoas não têm corpo físico só porque em Vênus a vida está na quinta dimensão… Sim, eles têm corpo físico, só que o corpo físico deles está na quinta dimensão…

Autor: Karl Bunn