O Evangelho de Maria é o primeiro tratado do papiro de Berlim. Este papiro foi adquirido no Cairo por C. Reinhardt e ele é conservado desde 1896 no departamento de Egiptologia dos Museus Nacionais de Berlim. Ele seria proveniente de Achmin ou de suas cercanias, desde que apareceu inicialmente em um antiquário desta cidade. De acordo com Carl Schmidt, teria sido recopiado no inicio do século V. A descrição papirológica do manuscrito foi feita por W. C. Till, em continuação aos trabalho de Carl Schmidt, em seguida tornado adequado e completado por H. M. Schenke.
Como os outros escritos do papiro de Berlin e como o Evangelho de Tomé, o Evangelho de Maria está escríto em copta saídico, com um certo número de empréstimos de dialetos; pode-se notar igualmente alguns erros de escrita ou erros de transcrição.
Quanto à datação do escrito original, é interessante nota que existe um fragmento grego cuja identidade com o texto copta foi confirmado pelo professor Carl Schmidt: o papiro Rylands 463. Ele provinha de Oxyrhynque e foi datado do início do século III. A primeira redação do Evangelho deveria, pois, ter sido feita anteriormente, quer dizer, no decurso do século II. W. C. Tyll a situa em torno do ano 150. Como os demais Evangelhos, tratar-se-ia, por tanto, de um dos textos fundadores ou primitivos do cristianismo. Se isto é verdade, de onde vêm as reticências que se pode experimentar com a leitura ?
Estas são ainda hoje as mesmas reações de Pedro e de André, após ter escutado Míriam de Mágdala, André então tomou a palavra e dirigiu-se a seus irmãos:
O que pensais vós do que ela acaba de contar ?
De minha parte, eu não acredito que o Mestre tenha falado assim; estes pensamentos diferem daqueles que nós conhecemos.
Pedro ajuntou:
Será possível que o Mestre tenha conversado assim, com uma mulher, sobre segredos que nós mesmos ignoramos?
Devemos mudar nossos hábitos; escutar todos esta mulher?
Será que Ele verdadeiramente escolheu-a e preferiu-a a nós?
(Ev. Maria, 17, 9-20)
A dificuldade em receber este texto é o que o faz igualmente interessante:
É um Evangelho senão escrito, pelo menos inspirado por uma mulher: Míriam de Magdala. Míriam não é somente a pecadora da qual nos falam os Evangelhos canônicos, nem aquela das tradições recentes, que confundem seu ´pecado´com uma certa desorientação de suas forças vivas e sexuais.
Ela é também a amiga mais íntima de Yeshua (Jesus), a ´iniciada´ que transmite seus ensinamentos mais sutis.
A dificuldade em receber o Evangelho de Maria virá sobretudo da natureza deste ensinamento, da antropologia e da metafísica que eles pressupõe: não mais uma antropologia dualista nem uma metafísica do Ser ou das essências às quais estamos habituados no Ocidente, mas uma antropologia quaternária e uma metafísica do imaginal, que os espíritos mais livres e melhor informados deste séculos começam a redescobrir as chaves.
(Fonte: Leloup, Jean-Yves. O Evangelho de Maria. Trad. Lise Mary Alves de Lima. 10 a. ed – Petropolis, RJ : Vozes, 2006. pgs. 08/10).