sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Ordem Esotérica de Dagon



Baseado no artigo de Fra. Zebulon, Dunwich Lodge, E.O.D
Dos Arquivos do Círculo Iniciático dos Sete Caos
Tradução de Pássaro da Noite


A Ordem Esotérica de Dagon é uma rede internacional de magistas, artistas e outros visionários que estão explorando os ocultos mistérios inerentes nos escritos de horror e fantasia do escritor da Nova Inglaterra Howard Philips Lovecraft (1890-1937). O ‘Mito de Cthulhu’, como é geralmente conhecido, depende de um número de contos de Lovecraft, mais aqueles de outros escritores que empregaram dispositivos fictícios semelhantes. A premissa básica do ‘Mito de Cthulhu’ é que existe um grupo de entidades trans-dimensionais, conhecidos como os Grandes Antigos os quais, ‘quando as estrelas estão alinhadas’, podem entrar no nosso mundo via portões psíquicos ou físicos.

Os Grandes Antigos representam um conhecimento antigo que precede a civilização humana, e, para a percepção humana são tanto imensamente poderosos quanto alienígenas. Nos contos dos ‘Mitos de Cthulhu’ existe uma rede de conspiração mundial de cultos que adoram os Grandes Antigos e procuram apressar seu retorno à terra. A inspiração de Lovecraft para seus escritos vieram de seus sonhos, e suas cartas (ele manteve uma volumosa correspondência com colegas escritores, mostram que ele tinha um pesadelo cada noite de sua vida. No extrato seguinte de suas cartas, ele descreve um pesadelo sobre Nyarlathotep, um dos Grandes Antigos: “Enquanto eu era sugado para dentro deste abismo, emitia um ghincho retumbante, e a imagem cessou. Eu estava em grande dor, a fronte da cabeça pulsando e os ouvidos tilintando, mas eu tive um único impulso automático – escrever e preservar a atmosfera de terror sem comparação, e antes que percebesse, eu tinha pulado para luz e estava rabiscando desesperadamente... quando totalmente acordado, eu lembrei todos os incidentes, mas havia perdido a esquisita trilha de medo – a sensação da presença do hediondo desconhecido.”

Embora Lovecraft tenha escrito numerosas estórias de horror, ele não tinha crença ou fascinação particular com a ocorrência do fantástico. Enquanto ele veementemente negava a existência dos fenômenos ocultos, seus sonhos davam a ele acesso a uma larga variedade de experiências ocultas e conceitos, que ele não foi capaz de aceitar, e, portanto rotulou os Grandes Antigos como mal, e as práticas de seus cultistas como ‘blafemeas’. Entretanto ocultistas reconhecem o poder das imagens nascidas no sonhos. A capacidade de experimentar sonhos lúcidos que são internamente consistentes e contíguos uns com outros é o elemento primário do xamanismo.

De fato em algumas culturas os xamãs potenciais são reconhecidos pelas características de seus sonhos. O sonho como um portal psíquico para as ‘vibrações’ dos Grandes Antigos entrarem na consciência humana é o conceito que recorre muitas vezes nos contos de Lovecraft. Seus protagonistas algumas vezes assistiam a ‘sabbaths astrais’ nos quais eram iniciados em cultos secretos, assistiam a mistérios de tremer a sanidade e recebiam os benefícios dúbios do Conhecimento Antigo. Tais experiências são comuns entre magistas trabalhando em qualquer sistema, tanto quanto eventos espontâneos e o resultado de sonhos desejados, usando sigilos por exemplo, e experimentação com agentes psico-ativos.

Muitos dos Grandes Antigos aparecem para aqueles que buscam o Conhecimento Antigo através dos sonhos (para aqueles cuja busca no ‘desconhecido’ sintonizam-nos com as transmissões dos Grandes Antigos), e o mais proeminente dos Antigos é Cthulhu, um ser cefalóide alado que vive nos ‘sonhos de morte’ dentro de uma cripta da cidade antiga de R’Lyeh, abaixo do Oceano Pacífico.

A história ‘O Chamado de Cthulhu’ de Lovecraft relata os eventos envolvendo a breve aparência de R’Lyeh, que é precedida por uma onda mundial de insanidade, como certos indivíduos ‘sensitivos’ captaram das transmissões-sonho do grande Cthulhu. Nos ‘Mitos’, ele é o senhor dos sonhos e age como um tipo de intermediário entre a consciência humana e a real natureza alienígena dos Grandes Antigos tais como Azathoth ou Yog-Sothoth.

Sua cidade, R’Lyeh, foi recentemente identificado com Nam-Madol, uma cidade-ruína de pedras consistindo de ilhotas artificiais na ilha Pacífica de ‘Ponape’. Nos Mitos, R’Lyeh é construída ao longo de linhas sobrenaturais de geometria não-euclideana, com estranhos ângulos e perspectivas, nas quais um incauto poderia ser engolido. Toda a cidade é uma série de portais para outras dimensões, e pode ser vista como uma forma dos Túneis de Set de Kenneth Grant.

Ângulos sobrenaturais e matemáticos também foram de interesse de Austin Osman Spare, que percebeu tais coisas em sonhos, mas não pode estabelecê-las em papel. R’Lyeh é o portal psíquico para a camada mais profunda da consciência e sonhos formam a interface pela qual existe este tráfico em mão-dupla de imagens da consciência desperta para a Mente Profunda.

Nas estórias de Lovecraft, muito do Conhecimento Antigo é preservado numa coleção de grimórios, dos quais o mais infame é o Necronomicon (O Livro dos Nomes Mortos), que ao passar dos anos, apareceu em várias formas.

O Necronomicon é reconhecido com o arquétipo dos ‘Livros Astrais’ – chave primária do discurso que são ‘segredados’ no mundo dos sonhos e os quais podem ser ‘aterrados’ em formas fragmentados pelos artistas, magistas e outros visionários. Novamente, isto é uma experiência oculta e recorrente, existindo aí uma grande variedade de trabalhos que tem sido recebido clarividentemente ou canalizados por várias entidades. Dentro da ‘Ordem Esotérica de Dagon’ existe uma ‘Escola de Sonho’, contatada através do sonhar, que consiste em uma variedade de lugares, alguns dos quais são tirados dos contos do Mito de Cthulhu, e nos quais iniciados podem ter acesso a artefatos e livros extraordinários.

Há alguns anos atrás, por exemplo, em um monastério cyclope no topo do ‘Platô de Leng’, me foram mostradas uma série de imagens do Tarot, de detalhes tão intrincados e vívidas cores que apesar de ser quase impossível para mim desenhá-los, é bem fácil para mim recordá-los na mente, mesmo enquanto escrevo este artigo.

O ‘guardião’ das imagens estava muito desejoso em mostra-las, mas como ele cinicamente comentou naquele momento, sabia que eu não seria capaz de traduzi-los do mundo dos sonhos para o mundo físico. O mundo dos Sonhos Lovecraftiano tem sua própria topologia, tendo ligações ambos com lugares terrenos e com lugares que só são acessíveis para sonhadores intrépidos e habilidosos.

Ao explorá-los, é possível conversar com seus habitantes sobre o Conhecimento Ancião, visitar lugares desconhecidos e viajar através do tempo e espaço, usando uma forma de exploração astral que de novo, é primariamente xamânica, aquela da mudança de forma.

Imagens relacionadas a mudança de forma ocorrem do começo ao fim do Mito de Cthulhu, tal como a transição do humano ao ‘Ser Profundo’ – uma raça de batráqueos marinhos que são servos de Cthulhu, relacionado ao deus Dagon., ou a transição de humano em um Ghoul. O conceito mágico relacionado com tais transformações é aquele da Ressurgência Atávica – a revificação de encarnações primevas da consciência humana, das profundezas da mente para o estado da consciência desperta.

Lovecraft mostrou o caminho para acessar estados específicos de consciência os quais relacionam com nossos ancestrais reptilianos e o assim chamado ‘cérebro de dragão’ – o sistema límbico primitivo que é o berço de nossa consciência primal. Outra chave para abrir os segredos do Conhecimento Ancião é a técnica de adivinhação via bola de vidro ou cristal. Tanto a adivinhação na bola de cristal ou vidro que estão sintonizadas para transmitir certas vibrações produzidas nos contos dos Mitos de Cthulhu, muitas vezes em um processo de duas vias. A pessoal que usa estes dispositivos percebem outras dimensões, mas ao mesmo tempo, os habitantes destas dimensões tornam-se cientes, e eventualmente ameaçam o observador. Esta era a única maneira que Lovecraft podia aceitar o processo de tornar-se receptivo às imagens e ‘transmissões’ da mente profunda, como sendo carregadas com ameaça, insanidade e eventualmente morte. Todas as técnicas até agora descritas tendem a ser a dos praticantes solitários, e são introspectivamente orientadas (para dentro do observador). Mas Lovecraft também fez uso extenso dos ‘frienzied rites’, que são, de novo, reminiscentes do xamanismo, Vodu ou até mesmo Bruxaria. Tais feitiços físicos são relacionados com os pontos de poder físico, tipicamente círculos de pedra, prédios especialmente construídos ou estranhas divisas. Eles comumente envolvem sacrifício humano ou animal, procriações incestuosas, e no ‘Dunwich Horror’, um ‘casamento sagrado’ entre a entidade conhecida como Yog-Sothoth e uma cultista fêmea. Lovecraft alude continuamente a natureza ‘degenerada’ dos cultistas de Cthulhu, provavelmente referindo suas atitudes para consecução intelectual e de raça. Mas existe também uma consciência da degeneração das práticas cultistas enquanto a influência dos Grandes Antigos espalha-se no mundo, dada a propagação do materialismo e o decaimento das comunidades ruralistas.

A entidade Nyarlathotep aparece ocasionalmente como o mítico ‘black man’ ou líder dos cultos de reunião sabháticas, sugerindo um avatar humano como base de adoração cultista, usando as gnoses mais físicas como dança flagelação, sexo, canto, tambores, hiper-ventilação e sangramento. Comentaristas modernos sobre a magia dos Mitos de Cthulhu assumiram erroneamente que o Terror é a principal gnose emocional, porque isto era o freqüente sentimento experimentado pelos protagonistas de Lovecraft, inclusive ele mesmo. Embora medo possa ser inicialmente empregado, ele logo atinge um nível ineficaz para gnose.

Todavia, o emprego de feitiçaria física tem levado a uma larga variedade de experimentos pelos iniciados da ‘Ordem Esotérica de Dagon’ em todo o mundo, tais como o uso dos trabalhos terrenos pelo uso da ‘Serpent Mound’ no Vodu Gnóstico, perfeitos pela Loja de ‘Yig’ em Cincinatti (Yig é a deidade serpente nos Mitos). Evocações dos ‘Seres Profundos’ também têm sido feitas em um lago de Wisconsin. Alguns iniciados da ordem estão atualmente interessados no uso de mantras e ‘fala primal’, tanto quanto padrões chave de sons usados como um background para a evocação das entidades dos Mitos. Magistas ocidentais parecem Ter a tendência de tentar e encaixar os Mitos de Cthulhu em sistemas lógicos de correspondência. O executor literário de Lovecraft, August Derleth, também tentou colocar os Antigos em um tipo de estrutura, dando a eles associações elementais e ligando-os a lugares e formas particulares.

Isto pode ser feito apenas em um pequeno alcance, antes de perder-se o ‘sabor’ dos Grandes Antigos, o qual reside em sua natureza altamente mutante.

Lovecraft deixa bem claro que humanos não podem perceber claramente os Grandes Antigos, e as entidades são raramente descritas em termos objetivos ou coerentes. Invés disto, eles são aludidos em sua verdadeira natureza que são ‘primais e não - dimensionais’ – eles mal podem ser percebidos, e ‘espreitam’ eternamente nos limite da consciência. As energias mais poderosas são aqueles que não podem ser nominadas, entendidas ou concebidas claramente. Elas mantêm-se tenuas e intangíveis. Muito parecido com o sentimento de acordar de um pesadelo aterrador, mas incapaz de se lembrar o porquê. Lovecraft entendeu isto muito bem, provavelmente porque muito de seus escritos foram evoluídos de seus sonhos. Os Grandes Antigos ganham seu poder da intangibilidade e indefinição. Uma vez que eles são formalizados em sistemas simbólicos e relacionados com meta-sistemas intelectuais, parte da sua intensidade primal é perdida. William Burroughs coloca desta forma: “Tão cedo quanto você nomeia algo, você remove seu poder... Se você puder olhar a Morte no rosto ela perderá o poder de lhe matar. Quando você pede a Morte por suas credenciais, seu passaporte é indefinido.” – ‘The Place of Dead Roads’. É esta mesma intangibilidade dos Grandes Antigos que dá-lhes seu poder, e permite ao magista mais envergadura para exploração pessoal de suas naturezas. É geralmente concordado que as magias mais ‘poderosas’ são encontradas nos cultos xamânicos primais e sobreviventes. A ‘Ordem Esotérica de Dagon’ é preocupada em reunir o conjunto de técnicas que possam ser vistas como ‘primais’, magia xamânica ‘negra’, como o escopo amplo para desenvolvimento e expansão futura. Ela alude a sobrevivência da sabedoria de base estelar (‘quando as estrelas estiverem certas’), e as raízes que se estendem por todo o mundo; e um conhecimento antigo que permanece enterrado dentro de nossa mentes, ainda que possa ser interceptado, tanto conscientemente, quanto inconscientemente no caso de Lovecraft.


Nota: Este ensaio apareceu originalmente em ‘Starry Wisdom’, uma coleção de ensaios dos membros da ‘Esoteric Order of Dagon’, Pagan News Publications, 1990. Desde então, a E.O. D. tem movimentado novamente para o despertar, e mesmo agora, seus tentáculos podem estar rastejando até você!

Jacques Bergier - Melquisedeque

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