quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Sepher Yetzirah


Sepher Yetzirah (Ou Sefer Ietzirá) é um texto cabalístico cuja origem a tradição remonta à Abraão. Seu título pode ser traduzido como “O Livro da Formação” e é a obra que descreve pela primeira vez na história o poder de criar e moldar a realidade atribuído aos números e as letras do alfabeto hebraico e suas combinações.  O tratado discute a formação do universo através dos números de 1 a 10 e das 22 letras do alfabeto hebreu. Juntos os dez algarismos e as 22 letras são chamados de as 32 partes do conhecimento. A tradução seguinte foi feita no século 19 por Papus celebrado ocultista do período.


CAPÍTULO I – Exposição Geral

É com as trinta e duas vias da sabedoria, vias admiráveis e ocultas, que IOAH (Iod-He-Vau-He) DEUS de Israel, DEUS VIVO e Rei dos Séculos, DEUS de Misericórdia e de Graça, DEUS Sublime tão Exaltado, DEUS vivendo na Eternidade, DEUS santo, grava seu nome por três numerações: SEPHER. SEPHAR e SIPUR, isto é. o NÚMERO, O QUE NUMERA e o NUMERADO (Também traduzido por Escritura, Número e Palavra – Abendana), contido nas dez Sephiroth, isto é, dez propriedades, com exceção do inefável, e vinte e duas letras.

As letras são constituídas por três mães, sete duplas e doze simples. As dez Sephiroth, com exceção do inefável (EN SOF), são constituídas pelo número dez, como os dedos das mãos, são cinco mais cinco, mas no meio deles está a aliança da unidade. Na interpretação a língua e da circuncisão encontram-se as dez sephiroth, com exceção do inefável.

Dez e não nove, dez e não onze, compreende isto em tua sabedoria e saberás dentro de tua compreensão. Exercita o teu espírito sobre elas, pesquisa, relaciona, pensa, imagina, restabelece as coisas em seus lugares e assenta o Criador no seu Trono.

Dez Sephiroth, com exceção do inefável, cujas dez propriedades são infinitas: o infinito do princípio, o infinito do fim, o infinito do bem, o infinito do mal, o infinito em elevação, o infinito em profundidade, o infinito ao Oriente, o infinito ao Ocidente, o infinito ao Norte, o infinito ao Sul. Só o Senhor está acima; Rei fiel, ele domina tudo do alto do seu Trono pelos séculos afora.

Vinte e duas letras fundamentais, três mães: Aleph Mem Shin, a elas correspondem ao prato do mérito, ao prato do demérito e à balança da lei que conserva o equilíbrio entre eles; sete duplas, Beth, Ghimel, Daleth, Caph, Phe, Resh e Thau, que correspondem à vida, à paz, à sabedoria, à riqueza, à posteridade, à graça, à dominação; doze simples: He, Vau, Zain, Cheth, Teth, Iod, Lamed, Nun, Samech, Hain, Tsade, Cuph, que correspondem à visão, ao ouvido, ao olfato, à palavra, à nutrição, à cohabitação, à ação, ao caminhar, à cólera, ao riso, ao pensamento e ao sono.

Pelo qual Yah, Eterno Sebaoth, Deus de Israel, Deus Vivo, Deus Onipotente, elevado, sublime, vivendo na Eternidade e cujo nome é santo, propagou três princípios e suas posteridades Ar, ;Agua e Fogo), sete conquistadores e suas legiões (Os Planetas e as Estrelas), doze arestas do cubo ( O nome Aleph Lamed Beth Samech Iod – não parece significar diagonal…).

A prova das coisas é (dada por) testemunhos dignos de fé, o mundo, o ano e o homem, que tem a regra das dez, três, sete e doze; seus prepostos são o dragão, a esfera e o coração.


CAPÍTULO II – O Sephiroth ou as Dez Numerações

Dez Sephiroth, com exceção do inefável; seu aspecto é semelhante ao das chamas cintilantes, seu fim perde-se no infinito. O verbo de Deus circula nelas; saem e voltam sem cessar, semelhantes a um turbilhão, e executam a todo instante a palavra divina e se inclinam diante do Trono do Eterno.

Dez Sephiroth, com exceção do inefável; considera que seu fim está junto ao princípio como a chama está unida ao tição, porque só o Senhor está acima e não há segundo. O que poderia enumerar-se antes do número um ?

Dez Sephiroth, com exceção do inefável. Fecha teus lábios e suspende tua meditação, e, se teu coração desfalece, retorna ao ponto de partida. Porque está escrito: sair e retornar, pois por isso a aliança foi feita: Dez Sephiroth, com exceção do inefável.

A primeira das Sephirah, um, é o Espírito do Deus Vivo, é o nome abençoado e bendito de Deus eternamente vivo. A voz, o espírito e a palavra, é o Espírito Santo.

Dois é o sopro do Espírito. e com ele são gravadas e esculpidas as vinte e duas letras, as três mães, as sete duplas e as doze simples; cada uma delas é espírito.

Três é a Água que vem do sopro. Com eles esculpiu e gravou a matéria prima inanimada e vazia, edificou TOHU, a linha que volteia ao redor do mundo, e BOHU as pedras ocultas enterradas no abismo, de onde saem as Águas.

Eis uma variação desta passagem por M. Mayer Lambert – “Em terceiro lugar: criou a água e o ar; traçou e talhou com ela o TOHU e o BOHU, o lodo e a argila; fez uma espécie de canteiro, talhou-os em uma espécie de muro, encobriu-os com uma especie de telhado; fez correr água em cima, e ela penetrou a terra, como está escrito: Pois à neve dise: sê a terra (TOHU é a linha verde que engloba o mundo inteiro; BOHU são as pedras esburacadas e enterradas no Oceano, de onde sai a água, como está dito: Ele esticará sobre ela a linha de TOHU e as pedras de BOHU)”.

Quatro é o Fogo que vem da Água, e com eles esculpiu o trono de honra, os Ophanim (rodas celestes), os Serafins, os Animais santos e os Anjos servidores; e de sua dominação fez sua morada como diz o texto: Foi ele quem fez seus anjos e seus espíritos ministros se movendo no fogo.

Cinco é o sinete com o qual selou a altura quando a contemplou acima dele. Ele a selou com o nome Iod He Vau – IEV.

Seis é o sinete com o qual selou a profundidade quando a contemplou abaixo dele. Ele a selou com o nome de Iod Vau He – IVE.


… e assim por diante:

Sete

Oriente

EIV

Oito

Ocidente

VEI

Nove

Sul

VIE

Dez

Norte

EVI


Tais são os dez Espíritos inefáveis do Deus vivo: o Espírito, o Sopro ou o Ar, a Água. o Fogo, a Altura, a Profundidade, o Oriente, o Ocidente, o Norte e o Sul.


CAPÍTULO III – As Vinte e Duas Letras

As vinte e duas letras são constituidas por três mães, sete duplas e doze simples.

As três mães são Aleph Mem Shin, isto é, o Ar, a Água e o Fogo. A Água é muda, o Fogo é sibilante, o Ar é intermediário entre os dois, como a balança da lei O C H ( Cuph He) tem o centro entre o mérito e a culpabilidade. Essas vinte e duas letras tomam forma, peso, misturando-se e transformando-se de diversas maneiras, criando a alma de tudo que foi ou que será criado.

As vinte e duas letras são esculpidas na voz, gravadas no Ar, e colocadas, pela pronúncia em cinco partes: na garganta, no céu da boca, na língua, nos dentes e nos lábios.

As 22 letras, os fundamentos, estão colocadas sobre a esfera do número 231. O círculo que as contem pode variar diretamente; e, então, significa felicidade, o retrógrado passa a ser o contrário. Por isso ele as tornou pesadas e as permutou, Aleph com todas e todas com Aleph, Beth com todas e todas com Beth, etc.

É por este meio que nascem 231 portas, que todos os idiomas e todas as criaturas derivam desta formação e em consequência, toda a criação procede de um único nome. Foi assim que ele fez (Thau Aleph), isto é Alfa e Ômega, o que não se transformará nem envelhecerá jamais.

O sinal de tudo isto é vinte e dois totais em um só corpo:

22 letras fundamentais: três principais, sete duplas, doze simples. Três principais: Aleph Mem Shin; o fogo, o ar e a água. A origem do céu é o fogo, a origem da atmosfera é o ar, a origem da terra é a água: o fogo sobe, a água desce e o ar é a regra que põe equilíbrio entre eles; o Mem é grave, o Shin é agudo e o Aleph intermediário entre eles. Aleph Mem Shin é selado por seis selos e contido no macho e na fêmea. Sabe, pensa e imagina que o Fogo suporta a Água.

Sete duplas, b, g, d, k, p, r, t, que são usadas com duas pronúncias: bet beth, guimel ghimel, dalet dhalet, kaf, khaf, pé, phé, resch, rhesch, tau, thau, uma suave, outra dura, à semelhança do forte e do fraco. As duplas representam os contrários. O contrário da vida é a morte, o contrário da paz é a desgraça, da sabedoria é a tolice, riqueza probreza, cultura deserto, graça fealdade, poder servidão.

Doze letras simples, he, vau, zain, chet, teth, iod, lamed, nun, samech, hain, tsade, coph. Ele as traçou, talhou, multiplicou, pesou e permutou; como as multiplicou ? Duas pedras constroem 2 casas, três constroem 6 casas, quatro constroem 24 casas, cinco 120, seis 720 e sete 5040 casas. A partir daí, vai e conta o que tua boca não pode exprimir, o que teu ouvido não pode escutar.

Por elas Yah, o Eterno Sebaoth, o Deus de Israel, Deus vivo, Senhor todo-poderoso, elevado e sublime, habitando a eternidade e cujo nome é santo, traçou o mundo. YaH se compõe de três letras, Iod He Vau He (IEVE) de quatro letras. Sebaoth: é como um signo no seu exército. Deus de Israel (Israel) é um príncipe perante Deus. Deus vivo: três coisas são chamadas vivas: Deus vivo, água viva e Árvore da Vida. El – Forte. Sadday – até aí é suficiente. Elevado – porque Ele reside no alto do mundo, e está acima de todos os seres elevados. Sublime – porque ele carrega e sustenta o alto e o baixo, enquanto que os carregadores estão em baixo e a carga no alto. ELE está no alto e dirige para embaixo; carrega e sustém a eternidade. Habitando a Eternidade – porque seu reino é cruel e ininterrupto. Seu nome é santo – porque ele e seus servidores são santos e lhe dizem cada vêz: santo, santo, santo.

A prova da coisa (é fornecida por) testemunhos dignos de fé: o mundo, o ano, a alma. Os doze estão em baixo, os sete estão acima deles e as três acima dos sete. Das três faz seu santuário, e todos estão ligados ao Um: Sinal do Um que não tem segundo, Rei Único em seu mundo, que é um cujo nome é um.


CAPÍTULO IV – As Três Mães

Três mães A, M, S são os fundamentos. Elas representam o prato do merecimento, o prato da culpabilidade e a balança da lei O C H ( Coph He) que está no meio.

Três mães Aleph Mem Shin. Insígnia secreta, tão admirável e tão oculta, gravada por seis anéis dos quais saem fogo, água e ar que se divide em machos e fêmeas.

Três mães  A, M, S e três pais; com eles todas as coisas são criadas.

Três mães  A, M, S no mundo, o Ar, a Água, o Fogo. No princípio, os céus foram criados do Fogo, a Terra a Água e o Ar do Espírito que está no meio.

Três mães A, M, S no ano, o Quente, o Frio e o Temperado. O Quente foi criado do Fogo, o Frio da Água e o Temperado do Espírito, meio-termo entre eles.

Três mães  A, M, S no Homem, a Cabeça, o Ventre e o Peito. A Cabeça foi criada do Fogo, o Ventre da Água e o Peito, meio-termo entre eles, do Espírito.

Três mães  A, M, S. Ele as esculpe, as grava, as compões e com elas foram criadas três mães no mundo, três mães no ano, três mães no Homem, machos e fêmeas.

Ele fez reinar Aleph sobre o Espírito, ligou-os por um laço e os compôs um com outro, e com eles selou o ar do mundo, o temperado no ano e o peito do homem, machos e fêmeas. Machos em A M S, isto é no Ar, na Água e no Fogo, fêmeas em A S M, isto é no Ar, no Fogo e na Água.

Ele fez reinar Mem sobre a Água, ele o encadeou de tal maneira e os combinou um com outro de tal modo que selou com eles a terra no mundo, o frio no ano, o fruto do ventre no homem, machos e fêmeas.

Ele fez reinar Shin sobre o Fogo e o encadeou e os combinou um com outro, de tal modo que selou com eles os céus no mundo, o quente no ano, e a cabeça no homem, machos e fêmeas.

De que maneira os misturou ? Aleph Mem Shin, Aleph Shin Mem, Mem Shin Aleph, Mem Aleph Shin, Shin Aleph Mem, Shin Mem Aleph. O céu é do fogo, a atmosfera é do ar, a terra é da água. A cabeça do homem é do fogo, seu coração é do ar, seu ventre é da água.

CAPÍTULO V – As Sete Duplas

As Sete Duplas (B Beth – G Ghimel – D Daleth – CH Caph – R Resh – T Thau, constituem as sílabas: Vida, Paz, Ciência, Riqueza, Graça, Semente, Dominação).

Duplas porque elas são reduzidas, em seus opostos, pela permutação; no lugar da Vida é a Morte, da Paz a Guerra, da CIência a Ignorância, da Riqueza a Pobreza, da Graça a Abominação, da Semente a Esterilidade, e da Dominação a Escravidão. As sete duplas são opostas aos sete termos: o Oriente, o Ocidente, a Altura, a Profundidade, o Norte, o Sul e o Santo Palácio fixado no centro que tudo sustenta.

Essas 7 duplas, ele as esculpe, as grava, as combina e cria com elas os Astros do mundo, os Dias no ano, e as aberturas no Homem, e com elas esculpe sete céus, sete elementos, sete animalidades vazias desde a obra. E é por isso que ele escolheu o setenário sob o céu.

1. Sete letras duplas, ele as traçou, talhou, misturou, equilibrou e permutou; criou com elas as palavras, os dias e as aberturas.

2. Fez reinar o Beth e lhe colocou uma coroa, e combinou um com outro e criou com ele Saturno no mundo, o Sabbat no ano e a boca no homem.

3. Fez reinar o Ghimel, colocou-lhe uma coroa e os misturou um com outro, com ele criou Júpiter no mundo, domingo no ano e o olho direito no homem.

… e assim por diante, como se resume no capítulo VII.

Separou as testemunhas e as colocou cada uma à parte, o mundo à parte, o ano à parte e o homem à parte.

Duas letras constroem 2 casas, 3 edificam 6, 4 fazem 24, 5 -> 120, 6 -> 720 e daí em diante o número progride para o indescritível e o inconcebível.

Os astros no mundo são o Sol, Vênus, Mercúrio, Lua, Saturno, Júpiter e Marte. Os dias no ano são os 7 dias da criação, e as sete portas do homem são 2 olhos, 2 ouvidos, 2 narinas e uma boca.

CAPÍTULO VI – As Doze Simples

Doze Simples (E He – V Vau – Z Zain – H Cheth – T Teth – I Iod – L Lamed – N Nun – S Samech – GH Hain – TS Tsade – K Cuph).

Seu fundamento é o seguinte: a Visão, a Audição, o Olfato, a Palavra, a Nutrição, o Coito, a Ação, a Locomoção, a Cólera, o Riso, a Meditação, o Sono. Sua medida é constituida pelas doze partes do mundo.

O Norte-Leste, o Sul-Leste, o Leste-Altura, o Leste-Profundidade.

O Norte-Oeste, o Sul-Oeste, o Oeste-Altura, o Oeste-Profundidade

O Sul- Altura, o Sul-Profundidade, o Norte-Altura, o Norte-Profundidade.

Os marcos se propagam e avançam pelos séculos afora e são os braços do Universo.

As doze simples, ele as esculpe, as grava, as reúne, as pesa e as transmuta e cria com elas os doze signos no Universo, a saber: O Carneiro, O Touro … etc

Essas 12 letras são as 12 diretrizes do Homem, como se segue: Mão Direita e Mão Esquerda, os 2 pés, os 2 rins, o fígado, a bílis, o baço, o cólon, a bexiga, as artérias.

Ele fez reinar o He, colocou-lhe uma coroa, misturou-os um com outro e com ele criou o Carneiro no mundo, nisan (março) no ano e o fígado no homem.

… e assim por diante, como resumido no capítulo seguinte…

CAPÍTULO VII
1 – Quadro das Correspondências

Mem

Mem

Shin

Ar

Água

Fogo

Atmosfera

Terra

Céu

Temperado

Frio

Calor

Peito

Ventre

Cabeça

Regra do Equilíbrio
(Flagelo)

Prato do Desmerecimento

Prato do Mérito

 

Beth

Saturno

Sabbat

Boca

Vida e Morte

Guimel

Júpiter

Domingo

Olho Direito

Paz e Desgraça

Daleth

Marte

Segunda

Olho Esquerdo

Sabedoria e Ignorância

Caph

Sol

Terça

Narina Direita

Riqueza e Pobreza

Phe

Vênus

Quarta

Narina Esquerda

Cultura e Deserto

Resh

Mercúrio

Quinta

Ouvido Direito

Graça e Fealdade

Tau

Lua

Sexta

Ouvido Esquerdo

Domínio e Servidão

 

He

Carneiro

Nisan

Fígado

Visão e Cegueira

Vau

Touro

Iyyar

Bílis

Audição e Surdez

Zain

Gêmeos

Sivan

Baço

Olfato e Ausência

Cheth

Câncer

Tammuz

Estômago

Palavra e Mudez

Teth

Leão

Ab

Rim Direito

Deglutição e Fome

Iod

Virgem

Elul

Rim Esquerdo

Comércio Sexual e Castração

Lamed

Balança

Tischrei

Intestino Delgado

Atividade e Impotência

Nun

Escorpião

Marheschvan

Intestino Grosso

Andar e Claudicação

Samech

Sagitário

Kislev

Mão Direita

Cólera e Arrebatamento do Fígado

Hain

Capricórnio

Tebet

Mão Esquerda

Riso e Arrebatamento do Baço

Tsade

Aquário

Shebat

Pé Direito

Pensamento e Arrebatamento do Coração

Cuph

Peixes

Adar

Pé Esquerdo

Sono e Apatia


E todos estão ligados ao Dragão, à esfera do coração.

 

Três coisas estão no poder do homem: as mãos, os pés e os lábios.

Três coisas não estão no poder do homem: os olhos, os ouvidos e as narinas.

Há três coisas penosas a escutar: a maldição, a blasfêmia e a notícia maldosa.

Há três coisas agradáveis a escutar: a bênção, o louvor e a boa nova.

Três olhares são maus: o olhar do adultero, o olhar do ladrão e o olhar do avarento.

Três coisas são agradáveis de se verem: o olhar do pudor, o olhar da franqueza e o olhar da generosidade.

Três odores são ruins: o odor do ar corrompido, o odor de um vento pesado e o odor dos venenos.

Três odores são bons: o odor das especiarias, o odor dos banquetes e o odor dos perfumes.

Três coisas são nefastas à língua: a tagarelice, o ano e o olho esquerdo na pessoa.

Três coisas são boas para a língua: o silêncio, a reserva e a sinceridade.

 

Resumo Geral

Três mães, sete duplas e doze simples. Tais são as 22 letras com as quais é feito o tetragrama IEVE, isto é, Nosso Deus Sabaoth, o Deus Sublime de Israel, o Todo-Poderoso residindo nos séculos; e seu santo nome cria três pais e seus descendentes e sete céus com suas cortes celestes e doze limites do Universo.

A prova de tudo isto, o testamento fiel, é o universo, o ano e o homem. Ele os erigiu em testemunho e os esculpiu por três, sete e doze. Doze signos Chefes no Dragão Celeste, no Zodíaco e no coração. Três, o fogo, a água e o ar. O fogo mais acima, a água mais abaixo e o ar no meio. Isto significa que o ar participa dos dois.

O Dragão Celeste significa a Inteligência do mundo, o Zodíaco no ano e o coração no homem. Três, o fogo, a água e o ar. O fogo superior, a água inferior, e o ar no meio, porque participa dos dois.

O Dragão Celeste é no universo semelhante a um rei sobre o trono, o Zodíaco no ano é semelhante a um rei em sua cidade, o Coração no homem, assemelha-se a um rei em guerra.

E Deus os fez opostos, Bem e Mal. Ele fez o Bem do Bem e o Mal do Mal. O Bem demonstra o Mal e o Mal o Bem. O Bem inflama nos justos e o Mal nos ímpios. E cada um é constituído pelo ternário.

Sete partes são constituídas por dois ternários no meio dos quais têm-se a unidade.

O duodenário é constituído por partes opostas, três amigos, três inimigos, três vivos vivificam, três matam, e Deus, rei fiel, domina a todos no limiar de sua santidade.

A unidade domina sobre o ternário, o ternário sobre o setenário, o setenário sobre o duodenário, mas cada parte é inseparável de todas as outras desde que Abraão nosso pai compreendeu e que considerou, examinou, penetrou, esculpiu, gravou e compôs tudo isso, e fez assim, a criatura unir-se ao criador. Então o mestre do Universo manifestou-se para ele, chamou-o de seu amigo e empenhou-se numa aliança eterna com ele e sua posteridade; como está escrito: Ele creu em IOAH (Iod He Vau He) e foi incluído como uma obra de Justiça. Ele contraiu com Abraão um pacto entre seus dez dedos dos pés, é o pacto da circuncisão, e um outro entre os dez dedos da mão, é o pacto da língua. Ele ligou as 22 letras à sua língua e descobriu seu mistério. As fez descer à água, subir ao fogo, lançou-as ao ar, iluminou-as nos sete planetas e as espalhou pelos doze signos celestes.

Tradução do livro da formação por Papus

Sepher HaBahir

O Sepher haBahir também chamado de Midrash do Rabi Nehuniah ben Hakana é, juntamente com o Sepher Yetzirah que o precedeu e o Sepher haZohar que o suscedeu, um dos trabalhos clássicos da Cabala.

Seu nome vem do primeiro versículo citado no seu próprio texto: (Jó, 37-21) “E agora não se vê luz, o céu é luminoso (bahir)”.

Citado no comentário de Raavad a respeito do Sepher Yetzirah e pelo Ranban (Rabi Moshe Nachman) em seu comentário sobre a Torah, é também, por diversas vêzes, parafraseado no Zohar, conforme Aryeh Kaplan em sua introdução à tradução e comentário do Bahir.

Dizia Moshe Cordovero (1522-1570): “As palavras deste texto são lumionosas (Bahir) e cintilantes, mas o seu brilho pode cegar…”.

Acredita-se que o Bahir foi composto em meados do século XII (1175), na escola cabalística de Provance (França), e circulou por quase cinco séculos em forma de manuscrito, restrito a um círculo restrito de cabalistas judeus, antes que fosse impresso em Amsterdã no ano de 1651.

Sua primeira edição em outra língua deu-se em 1923 para o alemão e após em 1980 para o inglês. Assim, o Bahir é, como o Zohar um trabalho não muito popular, seu texto é porém muito menor que o do Zohar, em torno de 12.000 palavras, e maior que o Sepher Yetzirah.

Embora o Bahir seja considerado como produto dos ensinamentos do Rabi Nehuniah, partes consideráveis do trabalho são atribuidos a outros autores de sua escola ou descendência. Dentre estes, são citados o Rabino Akiba, o Rabino Eliezer o Grande, Rabino Berachia, Rabino Yochanan ben Dahabai, Rabino Levitas ben Tavros e Rabino Rahumai o mais citado dentre todos, suscessor do Rabi Nehuniah como líder da escola, que também conheceu o Rabi Pinhas ben Yair, sogro do Rabi Shimon bar Yochai, autor do Zohar. Diz a lenda que Rabi Rahumai estava junto com o Rabi Pinhas, quando Rabi Shimon saiu de sua caverna no Kineret, onde o Zohar lhe foi revelado…

Conta-nos Aryeh Kaplan, que com o encerramento do período Talmúdico, o círculo de cabalistas diminuiu e, em certas épocas, pode não ter ultrapassado uma parca dúzia de indivíduos. Porém este grupo era tão unido que, muitas vêzes, pessoas estranhas nem suspeitavam de sua existência. Embora fosse importante manter a tradição da Cabala, também era importante evitar que caísse em mãos erradas…Dentre os cabalistas “pré-Bahir”, podemos citar Natronai Gaon (794-861), Sherira Gaon(906-1006), Hai Gaon (939-1038).

Por outro lado, sábios como Maimônides (1135-1204) que escreveu a Mishné Torah e o Rabi Yehudá ben Barzilai (1035-1105) autor de um dos mais extensos comentários sobre o Sepher Yetzirah, nunca viram ou comentaram nada sobre o Bahir.

Ainda dentre os conhecedores da Tradição encontram-se Ravaad o Rabino Avraham ben David de Posquieres (1120-1198), filho de Avraham ben Itzrak e pai de Isaac o Cego, que embora fosse cego possuia a reputação de poder ver a alma de uma pessoa e de ser capaz de ler os seus pensamentos. Isaac o Cego, que foi chamado de “Pai da Cabala” pelo Rabi Bachya Asher (1276-1340) em seu comentário sobre a Torah, transmitiu a tradição a seus discípulos Ezra e Ariel, e estes ao Rabino Moshe ben Nachman (Nachmanides), conhecido como Ranban (1194-1270) que citou frequentemente o Bahir em seus comentários sobre a Torah.

O Bahir foi o texto mais importante da Cabala Clássica, até a publicação do Zohar em 1295. E este último extende-se em muitas oportunidades sobre comentários e conceitos encontrados inicialmente no Bahir. De fato um estudo cuidadoso revela uma considerável semelhança entre os dois trabalhos, o que pode ser explicado pelo fato de que o Rabino Shimeon bar Yochai, autor do Zohar, conhecia os ensinamentos de Rabi Nehuniah, mesmo antes da revelação mística especial da caverna o Rabi Shimeon já devia ter sido iniciado na Tradição dos “Mistérios da Carruagem” conforme o Bahir chama a Cabala, e a ligação deve ter sido o Rabi Pinhas ben Yair, sogro de Shimeon e amigo do Rev Rahumai, conforme citado. De especial interesse é também o fato de que ambos os trabalhos Zohar e Bahir referem-se à Luz e a Brilho…

Ainda conforme Kaplan, resumimos a seguir a estrutura do Bahir e seus ensinamentos:


1 – Primeiros versículos da criação (1-16)

2 – O alfabeto (27-44)

3 – As Sete Vozes e Sephiroth (45-123)

4 – As dez Sephiroth (123-193)

5 – Mistérios da Alma (194-200)


O Texto inicia-se por uma declaração do Rabino Nehuniah:


Disse o Rabi Nehuniah ben Hakanah – como está escrito:


“E agora não se vê a luz, o céu é luminoso (bahir)”.

“Ele fez das trevas o Seu esconderijo”.

“Nuvens e trevas O envolvem”.

“Mesmo a treva não é para Tí”.

“A noite reluz qual dia – luz e treva são o mesmo”.

…prossegue com o Rabi Berachiah, está escrito:

“A terra era Caos (Tohu) e Desolação (Bohu)”.


Rabi Rahumai e Amorai entram no debate, sobre o conceito de “o que preenche” (maley) – (Isaias 6:3) “Sua glória preenche toda a terra”.


A letra beith, que inicia a Torah recebe considerável atenção.


A segunda parte trata das oito primeiras letras do aleph-beth, de Aleph à Cheth. No final desta parte (40-44) trata-se das vogais e de alguns dos sinais massoréticos, Kaplan, em seu comentário sobre o Bahir curiosamente vincula-os ao Sephiroth.

A terceira parte inicia-se pelo exame das sete vozes escutadas no Sinai, e ao indagar a relação entre estas e os Dez Mandamentos, inicia um exame do Sephiroth.

Subseções importantes nesta parte incluem explicações sobre Isaías (51-56) e do terceiro capítulo de Habacuc (68-81). Numerosos conceitos do Sepher Yetzirah são introduzidos e comentados (63-106) o que conduz a um exame dos diversos nomes místicos de Deus (106-112). Importância especial é dada ao número 32, que corresponde aos Caminhos da Sabedoria ao valor numérico de Lev (coração) e ao número de fios do Tzittzit:


63. O que é o seu coração ?


… O coração (Lev) é trinta e dois. Esses são secretos, e com eles o mundo foi criado (alusão ao Sepher Yetzirah).


Que são esses trinta e dois ?


Disse ele: São os 32 Caminhos.

É qual um rei que estivesse na mais recôndita de várias câmaras. Deveria o rei, então, trazer todos para sua câmara através destes caminhos ? Concordareis que ele não deveria. Deveria ele revelar suas jóias, suas tapeçarias, seus segredos ocultos e escondidos ? Concordareis mais uma vez que ele não deveria. O que faz o rei ? Ele toca a Filha e inclui todos os caminhos nela e em suas vestimentas.


Aquele que desejar entrar, deve alí fitar.

Ele a casou com um rei e, também lhe deu ela como presente.


Por causa do seu amor por ela, ele, às vezes, a chama de “minha irmã”, pois são ambos do mesmo lugar. Às vezes, a chama de minha filha, pois ela é de fato sua filha. E, às vezes a chama de “minha mãe”.

Em seu comentário, Kaplan esclarece várias passagens, sendo interessante que o Coração (Lamed Beth) representa a Torah em sua totalidade pois esta inicia-se com a letra Beth e termina com a letra Lamed).


Kaplan continua, com a complexa explicação do parágrafo final:


…Embora a origem da revelação seja Netzach (Vitória) e Hod (Esplendor), em sua última instância, toda revelação vem através do Reino (Malchuth), que é Fêmea. É também, a Presença Divina – Schinah. Por isso os Trinta e Dois Caminhos são revelados principalmente por intermédio da Filha.

…Entretanto o conceito de Fêmea está dividido em dois conceitos, os quais nos ensinamentos cabalísticos, são representados pelas duas esposas de Jacó: Lia e Raquel. Raquel é o coneito de Fêmea que se origina de Malchuth própriamente dito. Lia, por outro lado, é de fato o Malchuth (Reino) de Imma (Mãe) de Binah (Compreensão), e, como tal, representa o nível mais inferior de Imma (Mãe), que está no lugar de Malchuth (Reino). Normalmente, considera-se Lia em posição superior à Raquel.

Originando-se ambos, Zeir Anpin e Raquel, do útero de Imma (Mãe), são representados como irmão e irmã. São também, marido e mulher, sendo este significado de “minha irmã, minha noiva” (Cantico dos Canticos 4:9, 5:1). A Fêmea ;e, também a filha de Zeir Anpin, do mesmo modo que Eva, derivou-se da costela de seu companheiro. Além disso, sendo Lia um aspecto da Fêmea, que, de fato, é o nível mais inferior de Imma (Mãe), em parte, ela também é, realmente, mãe do Zeir Anpin.

Está portanto escrito: “Diga à Sabedoria, és minha irmã, e chama à Compreensão de mãe”. (Provérbios 7:4)….

Na quarta parte do Bahir encontra-se o primeiro exame do Sephiroth, introduzido por uma explicação sobre a benção sacerdotal, onde diz-se que os dez dedos correspondem às dez Sephiroth, conceito também encontrado so Sepher Yetzirah. A palavra Sephirah, é definida como sendo aquilo que expressa (saper) o poder e a glória de Deus (125). Existem nesta parte subseções relativas a permanência dos israelitas em Elim (161-167) e sobre o mandamento a respeito do Lulav (172-178). A seção termina com uma análise entre o relacionamento do Sephiroth e as esferas (179ss), e uma breve introdução à reencarnação (183), igualmente em relação ao Sephiroth.

A parte final, de número cinco, trata da alma, iniciando-se com um discurso sobre a reencarnação e seu relacionamento com a justiça Divina (194). O conceito da alma é relatado por Raba e Rav Zeira, dentro do contexto da criação da vida através das artes místicas (196).

No final, o Bahir trata dos conceitos de alma feminina e masculina, com uma análise do Tamar (197) e uma explicação de porque Eva foi a pessoa a ser tentada…O Bahir, não emprega o termo Cabala (Kabbalah), que conforme a lenda foi utilizado por Isaac o Cego, posteriormente, mas sim Maaseh Mercavah ou “Mistérios da Carruagem” numa referência à visão de Ezequiel, e diz que: sondar estes mistérios é tão aceitável quanto a oração (68), mas, adverte ser impossível fazê-lo sem errar (150).

Conforme o Talmud, a Kabbalah deve ser ensinada apenas através de sugestões e alusões, diretriz que é seguida ao pé da letra pelo autor ou autores do Bahir. Quem ler este trabalho como um livro qualquer, encontrará longas passagens que aparentemente não fazem nenhum sentido. Nào é pois um trabalho para leitura casual, mas para estudo sério e concentrado, o que era aceito pelos cabalistas, para os quais os principais textos foram escritos para serem compreendidos apenas quando analisados de modo integrado. Somos advertidos de que quem lê sobre a Cabala de maneira literal e superficial, decerto não a compreenderá… conclui Kaplan.

Dentre os conceitos mais explorados no Bahir está o Sephiroth e, com exceção de tres, seus nomes são também introduzidos. A ordem do Sephiroth é tal que as sete últimas correspondem aos sete dias da semana e derivam do versículo – Teus são, Ó Deus, a Grandeza, a Força, A Beleza, a Vitória e o Esplendor, tudo (Fundação) que se encontra entre o céu e a terra, Teu, Ó Deus, é o Reino (1 Crônicas 29:11). Embora esta seja a ordem adotada na grande maioria dos textos cabalistas, no Bahir, as últimas quatro são invertidas: Reino (Aravot, 7), Fundação (8), Vitória (9) e Esplendor (10).

Outro importante conceito encontrado no Bahir é o da transmigração das almas (Gilgul) ou reencarnações, conceito introduzido em nome do Rabi Akiba (121, 155). Este conceito é melhor desenvolvido no Zohar, e em maiores detalhes no Sepher Gilgulim e nos diversos trabalhos da escola do Ari.

O Bahir trata das letras do alfabeto hebraico, das quais quinze são mencionadas e de alguns mandamentos como Tefilim, Tzitzit, Lulzv e Etrog.

Dois termos incomuns são encontrados, e ambos referem-se aos anjos ou forças angélicas: Tzurá – que significa forma, e Komah, que pode ser traduzido como estrutura (8, 166). Na cultura cabalística são mais conhecidos em sua forma aramaica, sendo a primeira Diukna e o último Parzuf. Outros termos para designar os anjos são Manhiguim (Diretores) e Pedikim (Funcionários).

Outra revelação importante são os nomes de Deus. O Nome contendo 12 letras é examinado (107, 111), como é igualmente o Nome de 72 combinações.

112 – São esses os Sagrados Exaltados Nomes Explícitos. Existem doze Nomes, uma para cada uma das doze tribos de Israel:


AH-TzYTzaH-RON

ACLYTha-RON

ShMaKTha-RON

DMUShaH-RON

Ve-TzaPhTzaPhYth-RON

HURMY-RON

BRaChYaH-RON

EReSh GaDRa-AON

BaSAVaH MoNA-HON

ChaZHaVaYaH

HaVaHaYRY HAH

Ve-HaRAYTh-HON


Todos eles estão incluídos no Coração do céu. Incluem macho e fêmea. São cedidos ao Eixo, à Esfera e ao Coração, e são os poços da Sabedoria…



Em seu comentário, Kaplan diz que o total de letras destes nomes, quando escritos corretamente e sem computarem-se sufixos, é setenta e dois. Esses nomes não são encontrados em nenhum outro texto cabalístico, nem existem quaisquer instruções a respeito de sua utilização. O sufixo on ou ron é também encontrado nos nomes de alguns anjos, como por exemplo Mitatron e Sandalphon…


TZIMTZUM


A auto-constrição da Luz Divina ou TzimTzum é um dos conceitos filosóficos mais importantes da Cabala, e é introduzido pelo Bahir.

Kaplan afirma que a explicação mais clara para o TzimTzum pode ser encontrada nos escritos do Ari – Rabi Itzrak Luria (1534-1572).

Conforme descrito em Etz Hahaiim (Árvore da Vida), o processo era o seguinte:

Antes de todas as coisas serem criadas… a Luz Divina era simples e enchia toda a existência. Não havia espaço vazio…

Quando a Sua simples Vontade decidiu criar todos os universos… Ele comprimiu os lados da Luz, deixando um espaço vazio… Este espaço era perfeitamente redondo…

Após essa compressão ter ocorrido… passou a existir um lugar onde todas as coisas poderiam ser criadas… Ele, então, traçou uma única linha reta da Luz infinita… e a trouxe até aquele espaço vazio… A Luz infinita foi trazida para baixo por intermédio desta linha…

O espaço vazio e redondo do Tzimtzum, mostrando-se a fina Linha de Luz da Criação

Dizem os cabalistas modernos, que não se deve considerar o conceito de Tzimtzum literalmente, pois é impossível aplicar-se qualquer conceito espacial à Deus. A referencia ao Tzimtzum é meramente conceitual, pois se Deus preenchesse cada perfeição, não haveria motivo para a existência do homem. Deus portanto, comprimiu a sua perfeição infinita, permitindo a existência de “um lugar” para o livre arbítrio e consequente realização do homem.


No Zohar, podemos encontrar uma referência ao Tzimtzum:


Na cabeça da autoridade do Rei

Ele talhou da luminescência divina,

uma Lâmpada de Trevas

E alí emergiu do Oculto dos Ocultos

o Mistério do Infinito

uma linha sem forma, embutida em um anel…

medida por uma linha…



A razão do Tzimtzum é a solução de um aparente paradoxo, detectado pelos cabalistas: Deus deve estar no mundo, contudo, se Ele não Se restringir, toda a criação seria completamente dominada por Sua Essência. O Bahir alude tanto ao paradoxo, como à sua solução (54).

O Tzimtzum trás também um paradoxo mais difícil: a Sua Essência deveria estar então ausente do espaço vazio, pois Deus removeu dalí a Sua Luz… Todavia Deus deve também preencher este espaço, pois “não existe lugar onde Ele não esteja”…

Este paradoxo relaciona-se com a dicotomia da imanência e transcendência de Deus.

A Lâmpada das Trevas citada no Zohar, assim como a própria abertura do Bahir, mostrada no início, escolhida pelo Rabi Nehuniah, tratam deste tema da Cabala teórica: Como Deus absolutamente transcendental pode interagir com a sua criação ?

A estrutura do Sephiroth, e os conceitos a eles ligados, é que formam a ponte ente Deus e o Universo segundo a Cabala.

Para não se pensar que isso inclui qualquer transformação no próprio Deus, é que o Rabi Nehuniah afirma claramente que as trevas do espaço vazio são, de fato, luz, no que diz respeito à Deus. A criação do espaço vazio e todas as posteriores transformações e mudanças de fase (conforme o Zohar), pois não transformam ou diminuem a luz de Deus…

Semelhante afirmação faz o Rabi Shimon no princípio da Idra Raba, uma das partes mais misteriosas do Zohar, ao citar: “Amaldiçoado é o homem que faz qualquer imagem… e a coloca em lugar escondido.” (Deuteronômio 26:15).

Rabi Nehuniah também faz uma advertência semelhante: “Não pense que as Sephiroth sejam luzes destinadas a preencher qualquer escuridão referente à Deus, pois, para Ele, tudo é Luz…”.

Kenneth Grant - A Luz que Não é

 

De acordo com o conhecimento oculto Consciência Cósmica manifesta-se na humanidade como sentiência que concentra a si mesmo em um centro individualizado de vigília, e divide-o em sujeito e objeto. Sujeito identifica a si mesmo com o princípio cósmico como ego, e objeto é o mecanismo de vigília. Esta identificação da consciência com o ego é ilusória e portanto o Princípio de Consciência é velado. (n.t. nota de rodapé, isto é descrito no Liber LXV como o “Erro do começo”. Isto é a falha essencial anotada pelos Árabes, a ‘Queda’ original) O ego imagina a si mesmo como uma entidade diferente dos objetos que ele sente (n.t. 5 sentidos), e, invés de puro sentir, ouvir, ver, saborear e saber, está a falsa assunção que ‘Eu sinto’, ‘Eu ouço’, ‘Eu vejo’, ‘Eu gosto’, ‘Eu sei’. É então que o mundo fenomenal (o mundo das aparências) é representado a nós como Malkuth. O processo inteiro, de Kether a Malkuth, é um sucessivo velar acompanhado da gradual aumento de vigília do Princípio de Consciência, o propósito global da encarnação sendo a ‘redenção’ e reintegração do Princípio perdido.

Budistas e Adventistas referem a estes véus como completamente ilusórios, enquanto outros referem a eles como modificações do Princípio original. Em qualquer uma das visões o problema permanece inalterado: como resolver o perpétuo jogo de pique-esconde que Kether joga através dos véus primários de sujeito e objeto (Chokmah e Binah), o nexo de qual é localizado em Daath. A causa do mistério, glamour, ou ignorância como os Budistas o chamam, é a errônea identificação inicial do Sujeito com seus objetos. Isto é principalmente causado pelo fato de que, como os Cabalistas clamam, ‘Kether está em Malkuth e Malkuth em Keter, mas de uma maneira diferente’. A presença de Kether em Malkuth (n.t. rodapé Consciência ou Sujeito em todos objetos) cria uma ilusão de realidade em todos os objetos. Este glamour engendra sentiência que confunde e sufoca o ego em engano. Sri Ramakrishna compôs e cantou muitos hinos de surpreendente beleza para este “enfentiçante mundo Ilusório (nt.Maya)’, ou jogo mágico de glamour e ilusão gerado nos sensos da humanidade pela confusão do irreal com o Real.

Kether é o foco da Consciência Cósmica, e sua primeira manifestação é Luz. O ‘Ain’, que é sua fonte, não é escuridão mas ausência de luz, e portanto a verdadeira essência da Luz. Kether é o infinitesimal ponto no espaço tempo na qual a Ausência da Luz torna-se Presença pela sintonia do Vácuo(Ain) de dentro para fora. Kether, e a resultante Árvore da Vida, podem então serem concebidas como o interior do Vácuo manifestando em Espaço, que é o ‘menstruum’ (n.t. meio) da Luz.

No microcosmo esta Luz manifesta-se como lua da consciência que ilumina a forma. Esta é a Luz pela qual, e em qual, um pensamento pode ser visualizado na escuridão da mente; como sonhos aparecem nas escuridão do sonho. Na esfera celestial, consciência manifesta-se como luz física, o Sol. No reino mineral se manifesta como ouro. Biologicamente considerando, é o falo que perpetua a semente da luz (consciência) no reino animal. Estão luzes são Uma Luz (Kether) e elas procedem da infinita ausência de luz (Ain). Enquanto derrama através de Kether ela separa-se em três raios que formam os três ramos da Árvore. Estes tem três pilares: Chokmah, Daath e Binah, concentranto então 16 kalas (2 para Chokmah, 11 para Daath e 3 para Binah), que, em seus reflexos no mundo da anti-matéria (Ain) constituem os 32 Caminhos ou Kalas da Árvore da Vida.

Escuridão é ausência da luz, e ausência que possibilita a presença de tudo que ‘aparece ser’. Não-ser, cujo símbolo é escuridão, é a fonte de Ser, e entre estes dois terminais existe uma ‘solução de continuidade’ representada pelo Abismo que separa o nomenal mundo de Kether, com seus terminais gêmeos (Chokman-sujeito e Binah-objeto), do mundo fenomenal de Malkuth. O ponto preciso de descontinuidade é marcado pelo pilão de Daath no meio do Abismo. Daath é o conhecimento do mundo fonomenal refletido para baixo através dos túneis de Set na parte de trás da Árvore. Este conhecimento, ou Daath, é a morte do Self.
Representa o estágio primário nos quais os cerementos são trançados sobre a múmia que entra Amenta nos Desertos de Set. Aparece na parte de frente da Árvore como o aparentemente vivo semblante do ego, o qual identifica a sim mesmo na sua gradual descida na matéria (Malkuth). Seu despertar para a consciência mundana é em realidade um sono e a morte de qual o Principio de Consciência pode ser salvado unicamente viajando pelos caminhos de Amenta ‘no reverso’. Esta jornada reversa através dos Túneis de Set começa em Tuat, a passagem preliminar or 32o. caminho que leva de volta de Malkuth (consciência mundana) para as esferas astrais de Yesod.

Tradições orientais têm tipicicado esta descida da Consciência em termos dos três estados de consciência sushupti (dormindo), svapna (sonhando) e jagrat (acordado), e sua reintegração em um quarto estado – turiya – que não é realmente um estado, mas um substrato dos outros três, ‘ e o único real elemento nos outros três’. Turiya iguala com Kether (Consciência Indiferenciada), Sushupti iguala com Daath, Svapna com Yesod, Jagrat com Malkuth. Este esquema iguala-se a doutrina cabalista: "o estado de profundo sono sem senho (sushupti) é o estado em qual a mente nào está consciente do universo fenomenal ou objetivo. Ele é vazio no senso que ele é vazio de pensamentos (imagens), e escuro no sentido que dentro sua luz é ausente. Sushupti combina com Svapna, o estado de objetividade subjetiva, ou sonhos, porque Kether cria no vazio de Sushupti um stress que manifesta como vibração. Este stress refletido no mundo dos sonhos (Yesod) como sentiência latente nas microcósmicas zonas de poder (chacras) na qual assume a forma elemental de ether, fogo, ar, agua e terra. Em outras palavras, esta vibração manifesta como os seis sentidos, que a seu tempo, são projetados como fenômenos objetivos no estado acordado (jagrat, Malkuth). Desta maneira um estado ou mundo de consciência junta-se no outro. Similarmente, um estado ou nível de Consciência Cósmica desenvolve e envolve em outro enquanto o original Princípio de Consciência é objetivado com densidade crescente. Desta maneira o mundo de ‘nome e forma’ aparece ao ego (o pseudo-sujeito) como ‘realidade’, enquanto em fatos atuais Realidade retira-se como o Princípio de Consciência retrocede, e retorna para o ponto de sua original ausência.

Daath como o ego é a sombra-‘shakti’ ou poder velado de Kether no momento relampejante de sua bifurcação em Chokmah(sujeito) e Binah(objeto).

O ego é a sombra, mas é a sombra da realidade. É impossível expressar este conceito em linguagem de dualidade. Realidade é Não-Ser, e o ego é o reflexo ou reverso da Realidade nas aguas do Abismo; mas não somente a imagem é revertida, ela também é invertida. Em termos da Tradição Draconiana o ego é a miragem que aparece nos Desertos de Set.

A exaltação do ego em Daath e seu clamor de ser a Coroa (Kether) é ‘A’ blasfêmia contra a cabeça de Deus, e aqueles que criaram este falso ídolo tem sido chamados Irmãos Negros. Por este ato eles banem a si mesmos para o Deserto de Set pela duração de um aeon; ou, se profundamente comprometido com a hierarquia aversa, eles podem manter esta sobrevivência-sombra por ‘um aeon e um aeon e um aeon’, um ‘kalpa’ inteiro ou Grande Círculo do Tempo. O falso rei dura até o ‘kalpa’ ser terminado por um ‘Mahapralaya’. Tais Irmãos Negros não devem, entretanto, serem confundidos com aqueles Black Brothers cujo ídolo é uma certa Cabeça secreta de uma verdadeira hierarquia aversa que resume todos os 777 caminhos atrás da Árvore. Eliphas Lévi falou desta hierarquia em termos de ‘magia negra’ e da Cabeça Bafomética acesa com o enxofre dos infernos adorada pelos Templários. Outro Adepto que vislumbrou esta Hierarquia Negativa foi H.P.Blavatsky, ainda que sua enorme luta de rascunhar através do véu alguns de seus mistérios terminou um uma massiva confusão de suas duas monumentais obras. Talvez a Isis que ela buscava desvelar não fosse a Isis da natureza manifesta em matéria, mas a Nova Isis do Inatural, da antimatéria, com seus vazios sendo os buracos negros do espaço. Antes de explorar os túneis de Set, nós temos que estabelecer o fato que os mistérios do Não-Ser, embora não interpretado nos tempos antigos da mesma forma que os interpretamos hoje, eram guardados com a significância que eram tanto vital e ameaçador. Isto é surpresa ainda maior desde que só nos últimos cinquenta anos estas questões obscuras estão sendo iluminadas por estonteantes descobertas nos campos da física nuclear e sub-nuclear, e da psicologia, nenhuma das quais tinha sido demostrada cientificamente quanto a doutrina cabalística estava sendo desenvolvida.

Kenneth Grant, Nightside of Eden. 

Os 32 Caminhos Da Sabedoria Por Papus


O primeiro caminho é chamado Inteligência admirável, coroa suprema. É a luz que faz compreender o princípio sem princípio e esta é a glória primeira; nenhuma criatura pode atingir sua essência.


O segundo caminho é a Inteligência que ilumina, é a coroa da Criação e o esplendor da Unidade suprema da qual se aproxima mais. Ela é exaltada além da inteligência e chamada pelos cabalistas de Glória Segunda.


O terceiro caminho é chamado Inteligência santificante e é a base da sabedoria primordial, chamada criadora da Fé. Ele é, efetivamente, o antepassado da fé, do qual esta emana.


O quarto é chamado Inteligência parada ou receptora, porque se levanta como um marco para receber as emanações das inteligências superiores que lhe são enviadas. E dele que emanam todas as virtudes espirituais pela sutileza. Ele emana da coroa suprema.


O quinto caminho é chamado Inteligência radicular, porque, mais semelhante do que qualquer outra à suprema unidade, ele ema na das profundezas da sabedoria primordial.


O sexto caminho é chamado Inteligência de influência média, porque é nele que se multiplica o fluxo das emanações. Ele faz influir esta própria afluência sobre os homens abençoados que ali se unem.


O sétimo é chamado Inteligência oculta, porque faz brotar um esplendor resplandecente sobre todas as virtudes intelectuais contem pladas pelos olhos do espírito e pelo êxtase da fé.


O oitavo é chamado Inteligência perfeita e absoluta. E dele que emana a preparação dos princípios. Não tem raízes para aderir, excetuando as profundezas da Esfera Magnificente da substância própria da qual emana.


O nono caminho é chamado inteligência purificada. Purifica as Numerações, impede e retém a quebra de suas imagens, porquanto institui sua unificação o fim de preservá-las, por sua união com elas, da destruição e da divisão.


O décimo é chamado Inteligência resplandecente, porque é exaltado além do inteligível e tem sua sede em Binah; ilumina o fogo de todos os luminares e faz emanar a formo do princípio das formas.


O décimo primeiro é chamado Inteligência do fogo. E o véu colocado frente às disposições e à ordem das semontes superiores e inferiores. Aquele que domina este caminho goza de grande dignidade, a de estar diante da causo das causas.


O décimo segundo é chamado inteligência da Luz, porque é a imagem da magnificência; dizem que é o lugar de onde vêm as visões dos que vêem aparições.


O décimo terceiro é chamado Inteligência indutiva da Unidade. É a substância da Glória; faz cada um dos espíritos conhecer a verdade.


O décimo quarto é chamado Inteligência que ilumina, é o instituidor dos arcanos, o fundamento do Santidade.


O décimo quinto é chamado Inteligência construtiva, porque constitui a criação no calor do mundo Ele próprio é, segundo os Filósofos, o calor do qual a Escritura fala (Jó. 38), o calor e seu invólucro.


O décimo sexto é chamado Inteligência triunfante e eterna, volúpia da Glória; paraíso de volúpia preparado para os justos.


O décimo sétimo é chamado inteligência da predisposição. Pré-dispõe os piedosos à Fidelidade e por ela torna-os aptos a receber o Espírito Santo.


O décimo oitavo caminho é chamado Inteligência ou Morada da afluência. E daí que saem os arcanos e o sentido oculto que está adormecido em sua sombra.


O décimo nono é chamado Inteligência do oculto ou de todas as atividades espirituais. A afluência que recebe vem da Bênção sublime e da glória suprema.


O vigésimo é chamado Inteligência da Vontade. Prepara todas as criaturas e cada uma delas em particular para a demonstração da existência da Sabedoria primordial.


O vigésimo primeiro caminho é chamado inteligência que agra da àquele que busca. Recebe a influência divina e influi por sua bênção sobre todos as existências.


O vigésimo segundo é chamado Inteligência fiel, porque nele estão depositadas as virtudes espirituais que ali aumentam até que se dirijam para unto dos que habitam sob sua sombra.


O vigésimo terceiro é chamado Inteligência estável. E a causa da solidez de todas as numerações (Sefirotes)


O vigésimo quarto é chamado Inteligência imaginativa. Dá a semelhança a todos os seres semelhantes que segundo seus aspectos e sua conveniência são criados.


O vigésimo quinto é chamado Inteligência de tentação ou de prova, porque é a primeira tentação com que Deus prova os piedosos.


O vigésimo sexto caminho é chamado Inteligência que renova, porque é por ele que DEUS (bendito seja) renova tudo o que pode ser renovado na criação do mundo.


O vigésimo sétimo é chamado inteligência que agita, Com efeito, é dele que é criado o Espírito de toda criatura do Orbe supremo e a agitação, isto é. o movimento ao qual estão sujeitos.


O vigésimo oitavo caminho é chamado inteligência natural, por ele que é concluída e aperfeiçoada a natureza de tudo o que existe no Orbe do Sol.


O vigésimo nono é chamado Inteligência corpórea. Forma todo corpo que está corporificado sob todos os orbes e seu crescimento.


O trigésimo é chamado inteligência coletiva, porque é dele que os Astrólogos extraem, pela análise das estrelas e dos signos celestes, suas especulações e o aperfeiçoamento de sua ciência segundo o movimento dos astros.


O trigésimo primeiro caminho é chamado Inteligência perpétua, porque regula o movimento do Sol e da Lua segundo sua constituição e os faz gravitar um e outro em seu respectivo orbe.


O trigésimo segundo é chamado Inteligência auxiliar, porque dirige todas as operações dos sete planetas e suas divisões e concorre para elas.

A Cabala e os Anjos

 


O povo judeu, ao longo de sua existência, sofreu continuas perseguições e exílios. Desde o período bíblico, com os cativeiros no Egito e na Babilônia até sua execução em massa na Alemanha nazista, sua expulsão da Espanha e da Inglaterra, entre tantos outros acontecimentos, sempre se mantiveram unidos como um povo, mantendo intactas sua cultura e sua língua. Para isso, valiam-se da Cabala, que condensa seus ensinamentos religiosos e, ao mesmo tempo, protege-os da extinção, pois é tão complexa e de difícil interpretação que poucos a ela têm acesso.

A palavra Cabala vem de uma raiz hebraica KBL, ou receber e, segundo consta, surgiu no primeiro século depois de Cristo. Seus livros mais importantes são o Zohar, ou Livro do Esplendor, o Livro da Criação e o Livro da Imagem.

A correta interpretação desses textos revelaria o mapa a ser trilhado pelas almas para percorrer esse caminho de volta ao seu Criador.

Através da numerologia, que se vale dos algarismos de 1 a 9, muitas revelações vão surgindo aos olhos do iniciado e dos poucos que tem o privilégio de compreenderem suas mensagens ocultas.

De qualquer forma, preciosas informações já foram assimiladas pelos estudiosos do assunto, fornecendo regras para o entendimento, ainda que precário, da relação dos homens com os Anjos e de como ter acesso a estes. Angelólogos se debruçaram sobre isso ao longo dos séculos, chegando às informações que, hoje, já se encontram consolidadas e à disposição de quem delas queira fazer uso.

Para descobrirem os nomes dos Príncipes e dos Anjos de cada uma das falanges, os cabalistas partiram de um número inicial, o 72, que nada mais é que o resultado da inscrição do nome de Deus, Ieve ou Jehovah, dentro de um triângulo considerado sagrado e chamado de Tetragramaton, com a seguinte configuração:

I
I E
I E V
I E V E

Nesse triângulo, o I equivale a 10, porque corresponde a YOD, décimo caractere do alfabeto hebraico, que simboliza tempo, espaço, ciclos de existência, tudo que nasce, cresce, se reproduz e desaparece. O E equivale a HE, equivalente a 5, significando a dualidade do ser diante da natureza e do universo. O V corresponde a VAU, equivalente a 6, simbolizando a presença do espírito. Aplicando isso às letras do Tetragramaton, temos:

10
10 + 5
10 + 5 + 6
l0 + 5 + 6 + 5

Efetuando-se essa soma, obtém-se o 72, que foi a base inicial para a descoberta dos nomes dos Anjos. Esse número aparece, também, em outras passagens bíblicas. 72 nações e línguas se originaram da intervenção de Deus na Torre de Babel. Em todas essas línguas, o nome de Deus sempre foi escrito com 4 letras. Eram 72 os anciãos das sinagogas e são 72 também o número de quinários, graus ou dias, do ano cabalístico, que se inicia em 20 de março, no signo de Áries.

A partir desse número, os cabalistas descobriram que os versículos 19, 20 e 21 do Capítulo 14 do Êxodo, tinha cada um deles 72 caracteres hebraicos. Na tradução de João Ferreira de Almeida, são os esses os versículos citados:

(Ex 14:19)
“E o anjo de Deus, que ia diante do exército de Israel, se retirou e ia atrás deles; também a coluna de nuvem se retirou de diante deles e se pôs atrás deles.”

(Ex 14:20)
“E ia entre o campo dos egípcios e o campo de Israel; e a nuvem era escuridade para aqueles e para estes esclarecia a noite; de maneira que em toda a noite não chegou um ao outro.”

(Ex 14:21)
“Então Moisés estendeu a sua mão sobre o mar e o Senhor fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite; e o mar tornou-se seco e as águas foram partidas.”

Para chegar a esses nomes, os versículos foram dispostos paralelamente e os primeiros caracteres da esquerda dos versículos 19 e 21 foram ligadas ao primeiro letra da direita do versículo 20. Aos três caracteres resultantes foram acrescentados a terminação HE ou VAU, extraídas do sagrado nome de Deus. Feito isso, o processo é repetido com os segundos caracteres, até completar todos os setenta e dois.

Reduzindo-se numerológica e cabalisticamente o número 72, temos 7 +2= 9. Nove foram, portanto, as falanges, cada qual com 8 Anjos, mais um Príncipe comandante, assim como nove eram os planetas do ano cabalístico. Desse conhecimento surgiram os nomes dos Príncipes, totalizando 81 Anjos, cuja redução numerológica e cabalística também resulta em 9, como toda a hierarquia angelical, diga-se de passagem.


Liber Sephiroth

 


O – A possibilidade do espaço, o zero [círculo] representa a possibilidade da formação do corpo de Baphomet, onde tudo, o espaço e o tempo em si se materializarão.

1 – O ponto. A manifestação da Vontade, que ainda não possui forma ou foco, a coroa ardente.

2 – A reta. A vontade segue uma direção, já possui seu foco.

3 – Forma-se uma superfície. Agora existe a primeira noção de relação entre os pontos, podemos traçar a relação que tem entre si, qual está mais próximo ou mais afastado. Surge a forma.

4 – A cristalização, surge a primeira manifestação tridimensional, aqui a ideia passa a existir, a forma cria volume.

5 – Equilíbrio, os pólos opostos se formam, o objeto está finalizado.

6 – O movimento, o objeto, com um propósito passa a agir, ter consciência de si mesmo. É a forma mais sublime e perfeita. O ser consciente seguido sua Vontade.

7 – O caminho, a experiência. Este não é o objetivo da jornada, mas a jornada em si.

8 – A Sabedoria, o 8 remedia as consequências que os atos causados pela falta de vivência.

9 – A Maturidade. A manifestação em seu estado mais sublime.

10 – O objetivo alcançado. A porta atravessada. A iniciação, o esconderijo do devorador de almas. A morte.

11 – A ilusão.

Assim se completa esta faceta da G’O’


Apêndice I – Considerações de Ratz Tnb.
Ratz Tnb.


Que Satã, a Grande Mãe Negra, inunde com seu amor este seu servo!

Apenas como ilustração e não como forma de diminuir este excelente texto do Tenebrae Petrus, que o amor Dela o nutra sempre, coloco abaixo uma analogia que usei para instruir uma colega nesta Via Sombria. Não passa de apenas um véu mais mundano, mas que serviu para mostrar os contornos da Grande Sabedoria aqui contida.

Na tentativa de tornar o Subjetivo algo mais palpável criei esta parábola, que como todos sabemos é o artifício preferido de todos que A servem desde os tempos em que o povo que se dizia escolhido perambulou pela terra do calor e do pó.

Imagine que um belo dia você se apercebe de algo que não exatamente te incomoda, mas que está se revirando dentro de você. Tem dias que esse algo passa desapercebido, em outros momentos é como tentar se lembrar de um nome que está na ponta na língua mas não se revela, algo enlouquecedor? Isto é como o 0 (zero). Você não sabe o que é, mas é algo que está ai, não existe ainda, mas está se formando, é como olhar para a terra e imaginar a semente que virará a árvore e então a maçã, é algo que vai ser um desejo, mas ainda não é.

Um belo dia você está andando e vê um Porsche e então cai a ficha, você quer o carro. Surge ai o número 1. A primeira manifestação deste algo, mas como um ponto a coisa não tem forma nem direção, “quero um carro!”, e ai percebe outra coisa: você tem pernas para te levar para cima e para baixo, tem transporte público, tem uma bicicleta, mas isso não interessa você quer o carro. É para chegar mais rápido nos lugares? É para conseguir possuir um carro? Para impressionar pessoas e conseguir mais sexo? Não interessa é um impulso.

Você vai a uma consecionária e procura vários carros e chega um novo momento: nenhum carro te satisfaz, você tem aquilo que te impulsiona, que é o solo/local/espaço onde a vontade se manifesta (zero), sabe que a vontade é de ter um carro (1), mas essa vontade não está manifesta ainda, ter um carro é vago. Você volta para casa e vai pensando, acha aqueles carros sem graça, ou eles não tem a ver com você, seja porque são pequenos, feios, amarelos… Isso já dá uma direção para o seu desejo, sabe o que não quer, é como formar uma reta, por exclusão sabe para que lado não ir, tem o seu caminho. Você pára para pensar então o que foi que te mostrou que a sua vontade era ter um carro, e ai se lembra do Porsche.

Surge o número 3, você quer um carro, e ele tem que ser um porshe, seu desejo de um carro tomou uma forma definitiva, sua idéia tem uma cara. Você pode desenhar o que você quer no papel. Mas um desenho tem apenas duas dimensões, não é um Porsche de fato.

E ai você descobre os meios de conseguir seu Porsche. Chega em casa do trabalho e está na sua garagem o seu Porche 911 Turbo, negro como nossa Mãe, estofado de couro, cheiro de carro novo que obviamente alguém levou anos para desenvolver em um laboratório. O número 4 se manifestou na sua frente. A cristalização do seu desejo. A idéia passa da mente para o papel para o “mundo real”.

Mas o problema do “mundo real” é que não podemos simplesmente nos sentar atrás de um volante e sair por ai curtindo o carro. Então você tira vai a uma auto escola, tira carta de motorista, enquanto isso registra o carro, arranja o seguro dele, deixa tudo em ordem. Isto é o 5, é o equilíbrio, para se ter um carro de forma legal não adianta apenas o lado do “ter o carro” estar em ordem o resto é necessário, quando esses dois lados da moeda forem resolvidos chegamos ao número 6.

Você está na fissura do seu Porsche novo, entra nele, sai guiando, não quer nem saber. Enche a cara, vai pra balada, cavalos de pau, descobre até onde o ponteiro do velocímetro chega, arrasa. Curte o Porsche como um prêmio bem merecido. E de fato ele é.

E ai o inevitável acontece, e você, depois de bater em outro carro, afinal estava curtindo a vida adoidada, capota algumas vezes e uma das suas portas ganha o decalque de um poste. O 7 é o que acontece quando você está em movimento tempo o suficiente. Quem não arrisca não petisca, dificilmente você petisca muito sem se estrepar em alguma coisa. Já disseram que você pode equilibrar três pratos no fim de varetas por horas e dias, mas uma hora esse equilíbrio, esse movimento, termina com um prato quebrado no chão.

Você, não morreu, e tinha seguro no carro. Fica mais experiente, e já queimou muito da animação dirigindo o carro, dar cavalos de pau já não tem a mesma graça e o seguro bancou todos os consertos, mas disseram: nós vimos o que você fez, tome seu carro consertado, mas não vamos renovar o seguro, qualquer outro erro será responsabilidade sua, está sozinha agora, por conta própria. E você se sente como se tivessem te tirado o bilhete de passagem livre pela prisão no meio da partida de Banco Imobiliário. O 8 é a maneira com que a realidade lida com a bagunça causada pelo 7, ele é o remédio que aparece porque você ficou doente de cama.

Então você tem as suas cicatrizes, suas fraturas foram consertadas, seu Porsche chegou novinho da oficina, não tem mais aquele cheiro de carro novo, mas tem aquele cheiro de lugar familiar que faz você se sentir bem. Está mais sábia com as experiências, não tem mais aquele fogo da inconseuqência, está muito mais madura, e tem o Porsche ainda. Tudo está da melhor forma possível. Teve suas experiências, tem tudo o que deseja e tem a vida pela frente. Você está neste momento no 9. Repare que qualquer número multiplicado por 9 tem como resultado final da soma de seus algarismo o 9 novamente (9-mente, again and again and again?)?

9 x 1 = 9

9 x 4 = 36 ~ 3 + 6 = 9

9 x 93 = 837 ~ 8 + 3 + 7 = 18 ~ 1 + 8 = 9

9 x 3427 = 30.843 ~ 3 + 0 + 8 + 4 + 3 = 18 ~1 + 8 = 9

9 x 0,008273 = 0,074457 ~ 0 + 0 + 7 + 4 + 4 + 5 + 7 = 27 ~ 2 + 7 = 9

Note também que quanto somamos qualque número com 9 ao somarmos os algarismos temos o número orginal:

9 + 1 = 10 ~ 1 + 0 = 1

9 + 15 = 24 ~ 1 + 5 = 6 = 2 + 4

9 + 371 = 380 ~ 3 + 7 + 1 = 11 = 3 + 8 + 0 ~ 1 + 1 = 2

É só brincar, o 9 então é a realização plena da sua vontade com o que você gosta com o mundo real.

Chega o momento do cuidado supremo então. Um belo dia você vai até sua garagem, olha para o seu carro e pensa: e agora? Tudo o que eu queria era um Porche e eu consegui. Fiz de tudo com ele. O que eu faço da vida agora?

É aqui que você tem dois caminhos na sua frente: por um lado, se acomodar e pensar que a vida é boa e você chegou onde queria, por outro pensar “so far, so good, so what?” O Porsche era apenas uma coisa, mas não é a minha vida, agora que cheguei aqui vou ver pra que lado vou. Ver se se forma em você um novo incômodo como aquele que se tranformou no Porsche na sua frente.

O primeiro caminho leva à estagnação, ao falso conforto. Quem somos nós para julgar o que é conforto real ou auto ilusão, mas o objetivo de uma jornada não é o tesouro no final, e sim fazer o heroi crescer a cada decisão que tem que tomar. Se você se aconchega deixa de ser o herói, e na prática isso pode ser ruim, você pode ficar ultrapassada, nostalgica e se descobrir sem propósito.

O segundo caminho não leva a um lugar novo, simplesmente é a continuação do caminho que você está seguindo, sem parada, sem descanso, apenas o seu desenvolvimento que continua. Aqui morrem os seus dogmas e eles se transformam em adubo para a sua crença que mudou. Pense assim. Se você luta para chegar no seu primeiro milhão de dólares, quando junta a grana pode empilhar ele na mesa na sua frente e deixar ela desvalorizar e juntar pó, ou pode reinvestir ela e fazer a soma chegar a dez milhões de novo.

O 10 é traiçoeiro, tem que tomar cuidado com o que parece a recompensa merecida e com a areia movediça.

O 11 fica como exercício para você, consegue imaginar de porque ser A Ilusão? Se você consegue é porque se enganou, olhe par ao outro lado.

Que a Mãe Negra sorria sempre para Eu & Eu.


Apêndice II- Anotações pessoais do Rev. Obito
Rev. Obito, Sacerdote do Templo de Satã


Este texto pode ser lido como base e até mesmo como uma correção para muitos textos que se baseiam na numerologia, inclusive na numerologia proposta por Crowley, e por conseguinte por quase todos estudiosos e pseudo-estudiosos de Thelema.

Pontos que acho importante levantar:

I – A relação entre o 1 e o O

Muitos tratam o O como negativo, a oposição ao 1. Isso é falho. A real oposição ao 1 é o -1, o mesmo valor, volume e espaço só que negativado. O Zero não se qualifica sequer como numeral. Ele é uma possibilidade de algo a vir se tornar. O Zero é o vazio apenas no sentido de o vazio ser na realidade não a ausência de algo, mas a possibilidade de algo vir a surgir. Enquanto o vazio como ausência é estagnação ele como possibilidade é dinânico em si mesmo, como a realidade.


II – Relações dos números com a Geometria de Crowley

Crowley em seu An Essay Upon Number, publicado no 777 faz a seguinte comparação:


0-     ponto

1-     linha

2-     superfície

3-     sólido

4-     o sólido existindo no tempo

5-     o sólido em movimento

6-     mente

7-     desejo


Acho que esta definição se esquece de que o ponto apenas existe em um espaço, e que não existe diferença entre espaço e tempo a não ser na física newtoniana, e a realidade iniciática não condiz com a proposta por Newton. Não podemos ignorar que o espaço/tempo também precisa existir para que a equação seja plena.

Temos um ponto, um ponto não possui massa, ele é apenas uma localização no espaço, uma coordenada, num espaço bidimensional precismos de duas coordenadas para ter um ponto X e Y. Num espaco tridimensional precisamos de três coordenadas, X,Y e Z, num espaço quadridimensional quatro coordenadas e assim em diante.

Com dois pontos temos a informação para traçar uma reta, são apenas com três pontos que temos uma superfície. O primeiro geométrico surge com quatro pontos, passamos de duas dimensões para três. Nosso universo palpável possui três dimensões, o tetrahedro é a forma geométrica mais simples, não vou falar da esfera no momento.

Veja que com o quinto ponto surge a simetria. O sexto coloca o objeto simétrico em movimento. O sétimo ponto pode ser comparado com desejo, mas o que Crowley parece não ter levado em mente é que para o ponto existir tem que haver um espaço seja como for a nossa noção de espaço. O Zero é a folha, a tela, a representação deste espaço necessário. Querer separar espaço de tempo cria a necessidade de localizar o objeto manifesto em 2 momentos diferentes que não é real, como algo pode de fato existir no tempo sem estar localizado no espaço?


III – Relações com o Taro e com a Árvore da Sabedoria

Utilizando o modelo proposto por Petrus temos uma aproximação muito maior tanto do Taro quanto do modelo satânico da Árvore da Sabedoria.

Sobre o Taro

1 = Ás

O Ás aqui é usado tanto na sua forma de arcano menor (Ás,2,3,4,5,6,7,8,9 e10) quanto na sua forma de carta da corte (Ás, Princesa, Príncipe, Rainha, Cavaleiro – que erroneamente é chamado de Rei, na cosmologia do Tarô; o rei seria representado pelo elemento que dá origem ao Ás).

Nesta comparação o 1 (ponto) surge tanto como numeral quanto como elemento, isso ficará claro quando o aplicarmos à Árvore da Sabedoria.

Quando nos atemos aos significados numéricos dos arcanos menores, sem levar em conta o seu elemento/naipe, o modelo proposto no Liber Sephiroth se encaixa com perfeição, a carta 2 sendo a manifestação da idéia mas ainda sem forma, o 3 sendo a forma da idéia mas ainda não cristalizada e o 4 a cristalização final da idéia (ou do elemento representado pelo naipe). O 5 é a idéia cristalizada se desenvolvendo (sendo posta em movimento).

Da mesma forma que o Ás, quando aliado às cartas da corte representa a forma mais pura e essencial do elemento administrado pelas cartas da corte.


Sobre a Árvora da Sabedoria

O 1 surge aqui como a emanação Coroa. É o elemento que representa a essência da árvore. Quando montamos o esquema da Árvore da Sabedoria  refletida pelos Naipes do Tarô cada  Ás representa a coroa de determinado elemento (Paus = fogo = Satã, Espadas = Ar = Lúcifer, Copas = Água = Leviatã e Discos ou Ouros = Terra = Belial). O O é o estado/local de onde as emanações surgem, a possibilidade a que chamamos Baphomet.

Os números de 4 a 9 são o processo que teve início com a união do 2 e do 3 e que resultará na manifestação física do 10. Ele é “gerenciado” pelo príncipe – filho embrião da rainha, filha do rei, com o cavaleiro.

Dai o erro de igualar o O com o ponto, que é a unidade em sua forma mais simples e poderosa.

O O é um universo em sí de onde temos o Infinito em suas três facetas, o Vazio, o Vazio Sem Limites e o Vazio Transcendete, que não pode ser descrito ou sequer compreendido.

Existe mais um momento entre o número 3 e o 4 na Árvore da Sabedoria, ele não é um número ou uma emanação, é uma condição, chamada de Conhecimento ou Abismo, mas não cabe aqui entrar em detalhes sobre ele, por isso não aparece na imagem acima.