quarta-feira, 6 de maio de 2020

Magia do Caos


O conceito de Magia do Caos (derivado diretamente do Caoísmo) é relativamente recente, tendo origem em West Yorkshire, na Inglaterra, nos anos 70 do século XX. Influenciada pelas práticas Thelêmicas de Aleister Crowley e Austin Osman Spare, a Magia do Caos é primeiramente uma prática que abrange diversos sistemas mágicos. Trata-se de uma das tendências modernas em ocultismo, construída com base na rejeição de qualquer forma de dogmatismo e a primazia da experiência mágica pessoal (que pode, por outro lado, incluir sistemas existentes). O movimento de Magia do Caos se originou no final de 1970 na Inglaterra, e até a década de 1990 permaneceu no meio underground; a sua ocorrência está associada ao crescimento do interesse no oculto entre as comunidades de jovens, e à subcultura. A máxima central deste tipo de prática é "se funciona, usa-a". A Magia do Caos usa o estado de Gnose, através de práticas como meditação, música, dança, uso de ervas, dor, ou orgasmos, como forma de realizar práticas divinatórias ou outras práticas mágicas. Os Magos do Caos acreditam que conseguem moldar a realidade, ascendendo a estes estados de consciência e projetando (ou lendo) imagens ou pensamentos.
Apesar de algumas práticas serem diretamente relacionadas à Magia do Caos - tal como o uso de "sigilos" (vide Sigilo (magia)) e o uso de "servidores" (vide Servidor) -, este tipo de práticas é normalmente baseado em sistemas de crenças individuais, e de base adogmática. Alguns Magos do Caos acreditam que algumas destas práticas constituem uma forma de paradigma de pirataria (Lifehacks). Algumas fontes comuns neste tipo de inspiração incluem áreas diversas como ficção científica, teorias científicas, teorias da conspiração, shamanismo, filosofia oriental, religiões, e experiências individuais. Apesar de enorme variação, os Magos do Caos frequentemente trabalham com paradigmas caóticos, incluindo humorísticos, como Hundun do Taoísmo e Éris do discordianismo.
A Magia do Caos é caracterizada pelo uso de ambas as técnicas tradicionais, baseadas em sistemas místicos orientais e ocidentais já existentes, e novas, desenvolvidas pelo próprio magista. Entre estes últimos, deve-se notar o método de sigilação de Austin Spare, além de conjuntos próprios de símbolos mágicos (estrela do Caos, Caosfera, conceitos probabilísticos e imutabilidade, entre outros). Outra característica, de acordo com os próprios seguidores, é o amplo uso de estados alterados de consciência, incluindo transe e alguns estado de êxtase que os proponentes da Magia do Caos chamam de Gnosis (não confundir a compreensão do termo com a sua interpretação tradicional hermética).

Influencias
Austin Osman Spare era inicialmente envolvido com a Ordem da Golden Dawn, e também com outras ordens como a O.T.O e a Astrum Argentum de Aleister Crowley; porém, mais tarde se afastou delas para trabalhar independentemente.
Dali em diante ele iria desenvolver práticas e teorias que iriam, após a sua morte, influenciar profundamente a I.O.T.. Especificamente, Spare desenvolveu o uso de sigilos, e técnicas envolvendo estados de êxtase para dar poder a estes sigilos. Spare também foi pioneiro no desenvolvimento de um "alfabeto sagrado pessoal", e, sendo um artista plástico talentoso, usou imagens como parte de sua técnica de magia. A maior parte dos trabalhos recentes em sigilos remete ao trabalho de Spare: a construção de uma frase detalhando o intento mágico, seguida da eliminação de letras repetidas e a recombinação artística (normalmente simétrica) das letras restantes em uma só imagem formando o sigilo (para outros métodos, vide Sigilo (magia).
Embora ele não tenha originado o termo, e talvez não aprovasse o mesmo, hoje ele é visto como o precursor da Magia do Caos.
Após a morte de Aleister Crowley (e a do então obscuro Spare), a magia praticada pelos ocultistas remanescentes no Reino Unido tendeu a se tornar cada vez mais experimentalista, pessoal, e bem menos ligada às tradições mágicas estabelecidas pelas ordens. Reações a isso incluem a disponibilidade pública de informações que eram secretas até antes do século XX (especialmente nos trabalhos publicados por Crowley e Israel Regardie), o Zos Kia Cultus (nome do estilo de magia radicalmente inortodoxa de Austin Osman Spare), a influência do Discordianismo e seu popularizador Robert Anton Wilson, o Dadaísmo, e a grande popularização da magia causada por cultos folcloristas embasados em sistemas mágicos de Crowley, como a Wicca, e o uso de drogas psicodélicas.
Toda uma série de músicos e artistas relacionados com a prática do rock and roll, e da música pop, viriam a ser influenciados pelo pensamento de Aleister Crowley, a saber, entre os mais conhecidos: os Beatles, Black Sabbath, Led Zeppelin, Sonic Youth ou até aplicações para telemóvel/celular que aplica o conceito de tecnomancia, entre outros.

Brasil
No Brasil, nomes como Zé do Caixão, ou Raul Seixas, viriam a ser altamente influenciados, pelo pensamento do mago que se auto-denominava, como a grande besta 666 (Fernando Pessoa telo-á feito ver que a leitura do mapa astral que o fazia ver isto em si estava, afinal, errada, nomeadamente no âmbito da sua correspondência com o mago oculista, e posteriormente, no seu encontro na Boca do Inferno em Sintra)

Origens e primeiros passos
O termo Magia do Caos apareceu pela primeira vez no Liber 0 (também chamado Liber Null) de Peter J. Carroll, publicado pela primeira vez em 1978. Nele, Carrol formulou vários conceitos de magia radicalmente diferentes daqueles considerados "mistérios mágicos" na época de Crowley. Este livro, junto ao Psychonaut (1981) do mesmo autor, mantém importantes fontes. magistas que se alinham a estas ideias costumam se chamar de várias formas, evitando repetir a mesma. Algumas destas formas de nomenclatura são: "Caoísta", "Caota", "Magista do Caos", "Caoticista", "Eriano", "Discordista", "Caoseiro", dentre outros tantos nomes - por vezes muito bem humorados e/ou pouco polidos.
Carroll também co-fundou com Ray Sherwin O Pacto Mágico dos Illuminates of Thanateros, ou, na abreviatura mais conhecida, I.O.T., uma organização que continua a pesquisa e desenvolvimento da Magia do Caos hoje em dia. A maior parte dos autores e praticantes renomados de Magia do Caos mencionam afiliação ou algum grau de influência a esta. Porém, a Magia do Caos tem como característica marcante ser uma das vertentes de magia menos organizadas do mundo, fazendo isso propositalmente.
O nome Caos, e consequentemente a estrela do caos, forma extraídos de um romance de Carroll: Michael Moorcock's "Elric of Melniboné - The Sage From the end of time". No entanto, Carroll não o definiu como o ponto de origem para o seu simbolismo. No seu trabalho tardio "Liber Kaos(...)", ele apresentou um sistema de magia baseado no "The Color of Magic" (1983), de Terry Pratchett's. Desta vez, ele apontou numa nota de rodapé para a origem do sistema e para a literatura.

Quebra de Paradigma Mágico - ou "Quebrar o Ego"
Uma das mais curiosas questões da Magia do Caos é o conceito de Quebra (ou Troca) de Paradigma Mágico, ou "Quebra do Ego". Usando o termo de Thomas Kuhn, Carroll criou a técnica de arbitrariamente modificar o modelo (ou paradigma) de magia das pessoas, uma questão principal na Magia do Caos. Através desta, o magista busca por trocar constantemente a crença em um paradigma, não apenas de forma linear como é visto nas outras pessoas, mas de forma objetiva e proposital, ziguezagueando entre crenças diferentes (e geralmente contraditórias) e "se aproveitando" dos resultados que elas geram, sem ficar preso a nenhuma.
Esta quebra é encontrada não apenas em ritos mágicos, mas também nos círculos psicanalíticos, através da chamada "quebra do ego". E, de fato, muitos Caoístas uniram a Magia do Caos ao uso de diversas ciências modernas, entre elas a Psicologia e a Psicanálise.
Como a base de trabalho dos ritos caoístas consiste na total desconstrução de estruturas rumo ao Caos (daí o nome Caoísmo), uma técnica muito utilizada no treinamento pessoal dos caoístas é a chamada "quebra do ego", que consiste em negar e trocar gostos pessoais como uma forma de banimento pessoal, indo contra tudo aquilo que o ego acredita, gerando em si mesmo a desconstrução buscada pela Magia do Caos. Um exemplo de quebra do ego é por exemplo, um vegetariano comer carne. Aqui cabe a imaginação ao magista, para aplicar estes exercícios em âmbitos profissionais, sexuais, familiares, religiosos, entre outros, e conseguir permanecer são - podendo ser até este conceito questionado.
O principal mote da Magia do Caos é: Nada é verdadeiro, tudo é permitido - atribuído a Haçane Saba - , líder da Ordem dos Assassinos que impôs seu poderio no Oriente Médio medieval, influenciando os Templários, e consequentemente as ordens de magia contemporâneas que neles se inspiraram.
Como o "Fazes o que tu queres há de ser toda a Lei" de Crowley, essa frase é por vezes mal compreendida e interpretada de forma literal como "Não há verdade, então faça o que você quiser", quando "Nada é verdadeiro, tudo é permitido" significa algo como "Não existe uma verdade objetiva fora da percepção pessoal; assim sendo, qualquer coisa pode ser verdadeira e possível a priori".
A ideia é que a crença é uma ferramenta que pode ser aplicada à vontade de formas conscientes. Alguns magistas do caos creem que ter crenças não usuais e por vezes bizarras é interessante como uma forma de considerar a flexibilidade de crenças e utilizá-las a seu dispor.

Magia do Caos no Brasil
A cada ano, novos magistas se tornam adeptos deste meta-sistema mágico, especialmente no Brasil. Encontra-se em plena atividade a sede sul-americana da I.O.T. com reuniões, em sua sede, no Rio de Janeiro. Mas neste mesmo método mágico há os magistas independentes, que trabalham na divulgação da Magia do Caos, mesmo não pertencendo à I.O.T. ou a qualquer outra ordem iniciática deste meta sistema mágicko.

Caoísmo e Magia do Caos


Ao longo dos Aeons, o ser humano tem tentado entender as leis que regem o funcionamento do universo. O próprio universo não torna as coisas mais fáceis, uma vez que está sempre à vista, nos mostrando comportamentos que em um primeiro momento parecem inexplicáveis, e não nos mostrando comportamentos que a teoria diz que deveriam ocorrer. De fato, a maioria das visões de mundo acredita que vivemos em um teatro, tendo acesso somente às imagens que passam pelo véu, enquanto por trás dos panos, nos bastidores, o universo “real” se desdobra e acontece.
Do universo, temos acesso apenas ao que vem até nós codificado por meio dos sentidos. Instrumentos podem ajudar a ampliar a abrangência, mas somente até onde permite o nosso nível tecnológico. Quando tentamos fazer o caminho inverso e explicar algo que estamos pensando, precisamos também de alguma forma de codificar este conteúdo, por meio de linguagem — corporal, gestual, falada, escrita, simbólica.

O Platonismo
Platão explica esta teoria usando a alegoria da Caverna. Nós, seres humanos, estaríamos em uma caverna, tendo acesso somente às sombras projetadas na parede. Alguns, é claro, tentam sair da caverna e ter acesso às coisas verdadeiras que estão formando aquelas sombras. Porém, ao tentarem explicar o que viram para seus companheiros, estas pessoas são taxadas como loucas.
Na teoria geral de Platão, existiria um mundo das ideias, onde ficariam os pensamentos das coisas. Neste mundo, tudo é perfeito, e cada elemento tem seus aspectos ideais. Por exemplo, um cavalo no mundo das ideias seria um cavalo ideal, um molde perfeito de como todo cavalo deve ser.
Por outro lado, existiria um mundo material, o mundo em que vivemos. Ao ser manifestada no mundo material, uma ideia perde parte de sua perfeição, e temos então um cavalo normal. O cavalo real possui imperfeições, machucados, leves deformações, e por mais perfeito que seja nunca será totalmente igual a um cavalo ideal.

Gnosticismo
O Gnosticismo, que é o nome coletivo dado a várias correntes, tem um pensamento similar ao Platônico. Considera que o universo inicialmente estava disperso na forma de uma mônada, um conjunto de todos os conteúdos que viriam a existir, porém estes se encontravam disformes e latentes. A partir da mônada, um Demiurgo ou Arquiteto teria criado o universo material, aprisionando faíscas de conhecimento, ou almas, dentro de formas físicas minerais, vegetais, animais e humanas.
Haveria, então, uma forma de se desprender — de forma temporária ou mesmo permanente — da forma física, para ter um vislumbre do que ocorre por trás do mundo, na mônada. Esta forma de obter conhecimento sobre as leis da realidade se chama Gnose, um estado onde um ser humano consegue se desdobrar do plano físico para ter acesso a conhecimentos sobre o âmago das coisas. Não somente sobre os elementos do mundo em si, mas sobre a faísca que habita nos elementos.

Psicanálise Junguiana
Na teoria de Jung, o funcionamento da mente ocorre com base em regras gerais, que são trazidas a manifestações específicas de acordo com a vivência de cada pessoa. No inconsciente, haveria um conjunto de símbolos — alguns inatos, provenientes do inconsciente coletivo, e alguns adquiridos, provenientes do inconsciente individual. Por sua vez, o consciente seria a parte da psiquê à qual temos acesso, e esta parte tem o poder de buscar conteúdos no inconsciente, porém acessando apenas uma parte dele de cada vez.
Os símbolos de mais alto nível contidos no inconsciente seriam os arquétipos. Estes não podem ser explicados completamente pela linguagem, mas podem ser classificados e explicados de um ponto de vista por vez. Dentre os principais arquétipos, destacam-se o Maná (que pode ser uma pessoa sábia e idosa), o Herói (que pode ser uma pessoa passando por uma jornada para adquirir maturidade), o Trickster (que pode ser uma pessoa que consegue seus objetivos enganando os outros), o Red Horn (que pode ser uma pessoa valente e determinada), os Twins (que pode ser uma pessoa equilibrada e completa), entre outros.
Com um nível um pouco menor — ou seja, com maior especificidade -, teríamos as imagens arquetípicas. Estas seriam formas pelas quais os arquétipos poderiam se manifestar em sonhos ou na vida de uma pessoa. O Maná, por exemplo, pode se manifestar na forma de um bruxo ancião e sábio, que fornece conhecimento, ou então na forma de um eremita que vive meditando no alto das montanhas.
No mais baixo nível, as imagens arquetípicas se manifestam como entidades, pessoas, personagens ou manifestações, que são uma roupagem específica adquirida pela imagem arquetípica no mundo, ou no sonho. No caso do bruxo ancião e sábio, podemos ter Gandalf, Merlin, ou Dumbledore, por exemplo.
A estrutura Junguiana permite que diversas manifestações compartilhem a mesma imagem arquetípica, e que diversas imagens arquetípicas compartilhem o mesmo arquétipo. Os arquétipos podem ainda, se sobrepor e se tangenciar, formando uma teia de significações que deve ser entendida para se alcançar o âmago do funcionamento da Mente.

Caoísmo
Os princípios do Caoísmo se assemelham muito aos do Platonismo, do Gnosticismo, da psicanálise Junguiana, entre outras filosofias. O Caoísmo considera que existe — e sempre existiu — um plano disforme e que contém tudo em sua forma latente, chamado Caos. Este seria o universo “real”, a partir do qual são formados um ou mais universos físicos, estes feitos de matéria e energia comuns. Porém, no Caos, as informações são armazenadas de uma forma extremamente complexa, e as ideias possuem conexões entre si, compartilhando aspectos e se opondo em outros. Quando estas ideias são manifestadas no mundo, ou precisam ser explicadas por alguém que teve acesso a elas, decaem para apenas uma das formas possíveis.
Esta consideração tem consequências importantes. Uma delas, já verificada pela física quântica, é a de que partículas podem ter mais de uma natureza, mas ao serem medidas ou observadas só podem se apresentar de uma forma. Este é o caso do gato de Schröedinger, que está vivo E morto até que se abra a caixa, quando então só poderá estar vivo OU morto. Também é o caso do elétron, que se encontra em uma sobreposição de naturezas particular e ondular, mas que se apresenta como partícula ou onda dependendo da situação.
Outra consequência seria a de que diferentes panteões de deuses no fundo desejam exprimir as mesmas ideias, adotando apenas subdivisões diferentes. Os diversos deuses da tempestade de fato possuem características comuns, e isso é intrínseco aos aspectos relacionados com as tempestades. Da mesma forma, não há muita diferença funcional, embora haja alguma diferença formal, em se dizer que acredita em vários deuses, ou em um deus com várias facetas.
Desta forma, o Caoísmo tem como foco as funções, os objetivos, e as ideias primordiais por trás de cada elemento, não se prendendo na forma de apresentação dos conceitos, ou nos nomes e mecanismos formais estabelecidos. Qualquer linguagem seria válida para explicar o que está por trás dos panos, sendo esta linguagem milenar e já criada por alguma cultura, ou uma linguagem totalmente nova criada por uma pessoa. O que importa é que esta linguagem atenda aos objetivos desejados.

Magia do Caos
A Magia do Caos descende diretamente do Caoísmo, e é sua aplicação no campo mágico. Nesta vertente mágica, estudam-se as estruturas gerais e as classificações globais dos elementos de magia, para isto muitas vezes utilizando termos de sistemas mágicos já existentes, ou criando-se novos termos para evitar a confusão com elementos já consagrados.
O foco é o objetivo, e não importa qual a metodologia utilizada na prática mágica, qual o conjunto de símbolos utilizado, ou qual mecanismo explica o funcionamento do método.
A Magia do Caos teve sua formulação realizada principalmente por Peter J. Carroll com base em trabalhos de Austin O. Spare e da Golden Dawn, e tem como principais obras de referência o Liber Null e o Psiconauta. Há ainda o Livro dos Resultados, de Ray Sherwin, que apresenta uma abordagem mais prática dos conceitos, e os livros PsyberMagick, de Peter J. Carroll, e Chaotopia, de David Lee, que derivam considerações mais avançadas a partir dos princípios da Magia do Caos.
Várias outras vertentes mágicas bebem das mesmas fontes que a Magia do Caos, como é o caso do Discordianismo e da Thelema de Crowley. Estas fontes, por sua vez, foram agrupadas, consolidadas e estudadas por cada um dos diferentes membros da Golden Dawn, que publicaram tratados sobre a utilização de cada sistema mágico, recuperaram informações valiosas há muito perdidas nas areias do tempo, e traçaram correlações que permitiram o uso conjunto de mais de um sistema.

Alguns dos elementos importantes nas práticas da Magia do Caos são:

Gnose
A Gnose é a prática de se alcançar o estágio de libertação temporária em relação ao corpo físico, e que permite vislumbrar o âmago das energias, o que há por trás dos panos. É similar à projeção astral, ou ao desdobramento do plano etérico, e pode ser alcançado de diferentes formas, como por inibição ou hiper-excitação dos sentidos.

Sigilo
Um sigilo (selo, do latim sigilum) consiste na codificação de uma intenção na forma de um desenho, símbolo ou figura. Pode ainda ser uma frase, porém geralmente se aplica a elementos pictóricos. No caso dos hiper-sigilos, pode ainda ser algo mais complexo, construído e alimentado por maior tempo em relação aos sigilos simples, como uma música, um livro, uma obra civil ou um pseudônimo.

Servidor
Servidores são, de forma geral, entidades animadas que adquirem existência com base em um sigilo, uma intenção, uma ideia ou um elemento. Podem ter forma humanoide ou não, e podem ser criados pelo magista para realizar suas intenções.

Meta-Sistema
Tecnicamente, a Magia do Caos não se trata apenas de um sistema mágico, e sim de um meta-sistema. Assim como o Caoísmo permite conciliar sistemas de funcionamento do universo, considerando que todos tratam-se de diferentes formas de se explicar a mesma coisa, a Magia do Caos concilia Sistemas Mágicos, considerando que todos são válidos a partir do momento que apresentam resultados.
Em adição ao uso de qualquer sistema existente, o Caoísmo e a Magia do Caos permitem a qualquer magista criar seu próprio conjunto de símbolos, sua própria teoria de funcionamento do Cosmos, e seu próprio método mágico, usando também elementos já existentes. O foco, como já mencionado, é o resultado final.
Se a magia ocorre apenas de forma psicológica, ou se ocorre mediante fluxos de energias tão sutis que ainda não somos capazes de medir, não importa. Pois, se por trás dos panos tudo é Caos, qualquer prática é válida desde que haja resultados.

Illuminates of Thanateros


Os Illuminates of Thanateros (pronunciado ĭ-'lū-mə-, nĭts ŭv, thăn-ə-'târ-ōs, em português: Iluminados de Thanatheros) é uma organização mágica internacional que se concentra no trabalho prático de grupo na magia do caos. A ideia foi anunciada pela primeira vez em 1978, enquanto a ordem propriamente dita foi formada em 1987. Esta sociedade mágica fraterna tem sido uma influência importante em algumas formas de ocultismo moderno.

Nome
O nome "Thanateros" é uma combinação dos nomes " Thanatos " e " Eros " - os deuses gregos da morte e do sexo, respectivamente. A ideia é que o sexo e a morte representam os métodos positivos e negativos de atingir a "consciência mágica". A palavra "Ilumina" é usada de acordo com a tradição reivindicada de chamar tais sociedades - nas quais aqueles que dominam os segredos da magia ajudam a trazer outros a maestria - "os Illuminati ".
Seu nome formal é O Pacto Mágico dos Iluminados de Thanateros, que geralmente é encurtado para "o Pacto".

Magia do caos
A Magia do Caos tem origem nos trabalhos de Austin Osman Spare, redescobridor do Culto de Priapo. A Magia do Caos é atualmente bastante divulgada por seu organizador Peter James Carroll, além de Adrian Savage. Os praticantes da Magia do Caos consideram-se herdeiros mágicos de Aleister Crowley (e da O.T.O.) e de Austin Osman Spare (e da Zos Kia Cultus). Seu sistema procura englobar tudo quanto seja válido e prático em Magia, descartando tudo quanto for mais complexo que o necessário. Caracteriza-se por não ter preconceitos contra nenhuma forma de Magia, desde que funcione. Está se tornando o mais influente Sistema de Magia entre os intelectuais da modernidade. Entre suas práticas mais importantes vale ressaltar o uso da Magia Sexual, em especial dos métodos de mão esquerda. Seus graus mágicos são cinco, em ordem decrescente: 4º, 3º, 2º, 1º e 0º.

Caoísmo


O Caoísmo é um paradigma ou uma visão de mundo que considera que existe — e sempre existiu — um plano disforme e que contém tudo em sua forma latente, chamado Caos. Este seria o universo “real” e intangível a partir do qual são formados um ou mais universos físicos, estes feitos de matéria e energia comuns.
Porém, no Caos, as informações são armazenadas de uma forma extremamente complexa, e as ideias possuem conexões entre si, compartilhando alguns aspectos e se opondo em outros. Quando estas ideias são manifestadas no mundo físico, ou precisam ser explicadas por meio da linguagem, decaem para apenas uma das formas possíveis, e essa dualidade exclui as outras possibilidades de explicação. Assim, são criados panteões de deuses, bibliotecas simbólicas e conjuntos de elementos da natureza, que podem parecer diferentes entre si para cada cultura, quando na verdade trata-se de formas diferentes de se explicar o mesmo Universo.
A Magia do Caos descende diretamente do Caoísmo, e é sua aplicação no campo mágico. Nesta vertente mágica, estudam-se as estruturas gerais e as classificações globais dos elementos de magia, para isto muitas vezes utilizando termos de sistemas mágicos já existentes, ou criando-se novos termos para evitar a confusão com elementos já consagrados.
Os princípios do Caoísmo se assemelham muito aos do Platonismo, do Gnosticismo, da Psicanálise Junguiana (de Carl Gustav Jung), entre outras filosofias. Além disso, o conceito de Caos é muito similar ao do Vácuo Quântico.

Símbolo do Caos

O Símbolo do Caos origina-se das histórias de Eternal Champion do autor Michael Moorcock e a sua dicotomia da Lei e Caos. Neles, o símbolo do caos é composto por oito setas em um padrão radial. Em contraste, o símbolo da Lei é uma única flecha vertical. É também chamado de Braços do Caos, as Flechas do Caos, a Estrela do Caos, a Cruz do Caos, a Caosfera (quando representada como uma esfera tridimensional), ou o Símbolo dos Oito .
Os símbolos alternativos do caos (não devendo nada a Moorcock) incluem O Sagrado Chao do Discordianismo e A Mão de Cinco Dedos de Eris .
Moorcock declarou que ele concebeu este símbolo enquanto escrevia as primeiras histórias Elric de Melniboné no início dos anos 1960. Posteriormente adotado no mainstream pop-cultural, surgindo em lugares como tradições ocultistas modernas e jogos de RPGs .
Há um número de símbolos tradicionais que têm o mesmo padrão geométrico do símbolo do Caos de Moorcock, como qualquer uma das várias estrelas de oito pontas, a estrela de Ishtar/Vênus, o Dharmacakra indiano e a Roda do Ano, mas nenhuma delas eram símbolos do caos e seus membros não são flechas.
O '8' de Wands no baralho do Tarot de Thoth criado por Aleister Crowley, apresenta proeminentemente uma estrela de oito pontas com flechas nas extremidades. Crowley descreveu a carta como representando dispersão de "energia" em "alta velocidade" que conseguiu criar a figura de oito pontas representada.

Éris


Éris (em grego: Ἔρις, transl.: Éris), na mitologia grega, era a deusa da discórdia. Filha dos reis do Olimpo, Zeus e Hera, fora desprezada por sua mãe por não ter muita beleza. Seu equivalente romano é Discordia, que significa "discórdia". O oposto grego de Éris é Harmonia, cuja contraparte latina é Concordia. Homer igualou-a com a deusa da guerra Enyo, cuja contraparte romana é Bellona. O planeta anão Eris é nomeado sobre a deusa. Foi desposada pelo deus primordial Éter (Deus do espaço imaterial), com o qual concebeu catorze filhos. Cada um deles dotado de um poder maligno o que a alcunhou como Mãe dos Males. Éris sempre fora companheira de seus irmãos em questões terrenas, sobretudo de Ares nas batalhas.

Fontes literárias
Hesíodo em Os Trabalhos e os Dias e Teogonia aponta Éris como a filha primogênita de Nyx, a Noite, e mãe de outras entidades peculiares.
Por sua parte, Éris deu à luz o doloroso Ponos (desânimo e fadiga), aos Macas (batalhas), Limos (fome) e Horcos (juramento); e a Lete (esquecimento), as chorosas Algea (tristeza), Hisminas (discussões e disputas), as Fonos (dor e matança), as Androctasias (devastações e massacres), as Neikea (ódio), as Pseudólogos (palavras mentirosas), as Anfilogias (ambiguidades; dúvidas e traições), Disnomia (desrespeito) e Até (insensatez) todos eles companheiros inseparáveis. Chamados pelos gregos de Daemones; as "desgraças" para os romanos.
Já Homero, na Ilíada, refere-se a Éris como irmã de Ares e, portanto, presume-se ser filha de Zeus e Hera (IV, 440-443, tradução livre):

"(...) a Discórdia infatigável,
Companheira e irmã do homicida Ares,
Quem a princípio se apresenta timidamente, mas que logo
Anda pela terra enquanto a fronte toca o céu."

A lenda mais famosa referente a Éris relata o seu papel ao provocar a Guerra de Troia. As deusas Hera, Atena e Afrodite haviam sido convidadas, juntamente com o restante do Olimpo, para o casamento forçado de Peleu e Tétis, que viriam a ser os pais de Aquiles, mas Éris fora desdenhada por conta de seu temperamento controvertido - a discórdia, naturalmente, não era bem-vinda ao casamento. Mesmo assim, compareceu aos festejos e lançou no meio dos presentes o pomo da discórdia, uma maçã dourada com a inscrição καλλίστη (kallisti, ou "à mais bela"), fazendo com que as três deusas discutissem entre si acerca da destinatária. Príamo, o rei de Troia foi o escolhido por Zeus para resolver a contenta, que não queria também sofrer a cólera das duas perdedoras da escolha. Porém, o rei já estava velho e deixou tal pendência para seu filho, o incauto Páris, um pastor de rebanhos e Príncipe de Troia, para escolher a mais bela. Cada uma das três deusas presentes imediatamente procurou suborná-lo: Hera ofereceu-lhe poder político e a chance de ser o mais forte rei de todos os tempos; Atena, habilidade na batalha e o homem mais sábio de todos os tempos; e Afrodite, a atual mulher mais bela mulher do mundo, Helena, esposa de Menelau de Esparta. Páris elegeu Afrodite para receber o pomo, atraindo assim a ira de Hera e Atena. Tal história marca o início da Guerra de Troia, seja com o rapto de Helena, como por parte dos seres mitológicos na divisão entre Troia, protegida por Afrodite, e as cidades gregas com a benção de Hera e de Atena. Assim, a escolha de Páris acabou condenando sua cidade, que foi destruída na guerra que se seguiu.
Em um adendo moderno de 1965, no livro Principia Discordia, é dito que após ela jogar a maçã de ouro dentro do salão do banquete ela saiu e foi comer um cachorro quente. Sendo este pelos adeptos do discordianismo a causa da "Esnobada original"

Derivações
A palavra "erística", em português, vem do nome da deusa grega da discórdia. Significa a arte da disputa argumentativa no debate filosófico, desenvolvida sobretudo pelos sofistas, e baseada em habilidade verbal e acuidade de raciocínio (Houaiss).
Também leva o nome Éris um planeta anão no disco disperso do Sistema Solar (com a designação oficial 136199 Éris). Seu satélite natural chama-se Disnomia (segundo os antigos gregos, uma das filhas de Éris).
Os discordianos idolatram Éris como sua deusa.

Estados Alterados de Consciência


Estados alterados de consciência (EAC) ou estados não ordinários de consciência (ENOC) (em inglês, altered states of consciousness) são estados de consciência diferentes do estado normal de vigília. O termo foi cunhado por Arnold M. Ludwig em 1966 e popularizado por Charles Tart em 1969, para descrever mudanças quase sempre temporárias no estados de consciência dos indivíduos. Não deve ser confundido com níveis alterados de consciência (em inglês, altered level of consciouness).
Estados alterados de consciência é um conceito desenvolvido com base em estudos interdisciplinares, envolvendo pesquisas dentro da antropologia, psicologia, neurociências, arqueologia cognitiva, entre outras áreas. Exemplos de estados alterados de consciência são visões de padrões geométricos como espirais, vórtices, zigue-zagues, linhas onduladas, pontos luminosos, entre outras formas muito presentes na arte rupestre, na arte indígena e no trabalho de artistas visionários atuais, supondo que elas sejam características inatas do ser humano.
Exemplos estudados por cientistas como Michael Wilkelman e Graham Hancock indicam que certas experiências sobrenaturais são naturais para os seres humanos como o contato com seres divinos em diversas religiões. Elas fazem parte do funcionamento normal do cérebro humano, apenas variando conforme as tendências pessoais e culturais dos indivíduos. David Lewis-Williams, em seus livros The Mind in the Cave e Inside The Neolithic Mind (Inside The Neolithic Mind foi escrito em parceria com David Pearce), relata uma série de pesquisas laboratoriais com o uso de psicoativos e de práticas meditativas, religiosas e xamânicas, sendo que os resultados despertaram os cientistas para o conceito de estados alterados de consciência. Nas palavras dos autores:

[...] implica que existe uma "consciência ordinária" que é considerada genuína e boa, daí existindo uma "consciência pervertida" ou "alterada". Mas nós vimos, em todas as partes do espectro, que todas as consciências são igualmente "genuínas". A expressão "estados alterados de consciência" é suficientemente útil, mas nós necessitamos lembrar que carrega muito da nossa bagagem cultural.

Conceito
O termo estados alterados de consciência foi definido por Ludwig em 1966. Estado alterado de consciência é um estado mental induzido por agentes farmacológicos, fisiológicos ou psicológicos que deriva de um estado normal de consciência. Certos comportamentos anormais e apáticos observáveis apresentam características de estados alterados de consciência. Estados alterados de consciência também podem estar associados à criatividade artística ou a diferentes níveis de concentração. Eles ainda podem ser compartilhados entre os indivíduos e estudados em pesquisas sociológicas.

Causas
Estados alterados de consciência podem ser causados tanto por fatores acidentais ou patológicos quanto por fatores intencionais (recreação, meditação ou escuta de ondas cerebrais como ondas bineurais). Podem ser causados por drogas psicoativas ou por intoxicação, de maneira acidental, patológica ou intencional. Em algumas ocasiões, dois ou mais fatores podem levar a estados alterados de consciência como transtornos psiquiátricos e uso de substâncias psicoativas. Emoções provocadas por vários estímulos também podem levar a comportamentos que alteram o estado de consciência.
Estados alterados de consciência podem ser constatados por meio de observações ou de imagens do cérebro como tomografias computadorizadas, ressonâncias magnéticas ou eletroencefalogramas que identificam as atividades das ondas cerebrais. Imagens podem favorecer o diagnóstico, em situações em que o histórico do paciente não está acessível ou em que os exames físicos não são confiáveis. (Dandan, 2004) 

Causas acidentais e patológicas
Causas acidentais e patológicas referem-se a eventos despropositais e a doenças. De acordo com o professor de clínica pediátrica Dr. Jeffrey R. Avner, a alteração dos estados de consciência é desencadeada pela diminuição da autoconsciência seguida pela diminuição da consciência ambiental. Causas acidentais e patológicas incluem experiências traumáticas, epilepsia, falta de oxigênio, infecções, privação de sono, jejum e psicoses.

Causas intencionais
Causas intencionais referem-se a eventos propositais como privação sensorial, tanque de isolamento, sonhos lúcidos, hipnose, meditação e uso de drogas psicoativas. Drogas psicoativas incluem cannabis, ecstasy, opiáceos, cocaína, LSD e álcool.

Drogas psicoativas
O uso de drogas psicoativas está entre os vários fatores que alteram o estado de consciência do indivíduo. Drogas psicoativas podem ser definidas como substâncias químicas que circulam no sangue e comprometem a atividade cerebral, provocando mudanças de atitude, de comportamento e de consciência (Revonsuo, A., Kallio, S., & Sikka, P. 2009).
Cannabis afeta a atividade mental, a memória e a percepção de dor. O indivíduo que está sob os efeitos da cannabis pode experimentar diferentes níveis de paranoia, sensibilidade aguçada e reações lentas.
Ecstasy altera o estado de consciência, provocando o aumento dos sentimentos positivos e a redução dos sentimentos negativos (Aldridge, D., & Fachner, J. ö. 2005). Os usuários de ecstasy têm as suas emoções intensificadas, geralmente acompanhadas de sensações de intimidade ou de conexão com as outras pessoas.
Opiáceos geralmente produzem analgesia e sentimentos de euforia. O abuso do uso de heroína, morfina, hidrocodona, oxycoidona, entre outros opiáceos pode resultar na queda da produção de endorfina no cérebro, analgésicos naturais cujos efeitos podem ser intensificados pelo uso de drogas. A ingestão de largas doses de opiáceos para compensar a falta de endorfinas naturais pode resultar em morte (Berridge, V. 2001).
Cocaína afeta os neurotransmissores usados na comunicação entre os nervos. Cocaína inibe a recaptação de noradrenalina, serotonina, dopamina, entre outros neurotransmissores durante a sinapse, o que resulta na alteração do estado de consciência (Aldridge, D., & Fachner, J. ö. 2005).
LSD ativa os receptores de serotonina no cérebro. Os efeitos do LSD são mais intensos no córtex cerebral, área responsável pela atitude, pelo pensamento e pela reflexão que recebe sinais de todas as partes do corpo. Os principais efeitos do LSD são emocionais e psicológicos. Os sentimentos dos usuários podem mudar rapidamente do medo ao êxtase (Humphrey, N. 2001).
Álcool altera o estado de consciência mudando os níveis de neurotransmissores. O álcool intensifica o efeito do neurotransmissor GABA no cérebro. GABA provoca reações lentas e comunicação verbal inaudível em usuários de álcool (Berridge, V 2001). O álcool também diminui os efeitos do neurotransmissor glutamato, o que resulta na desaceleração das atividades fisiológicas. O álcool ainda eleva a quantidade de dopamina no cérebro, uma das causas do alcoolismo.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Caminho da Alquimia


A alquimia é a arte de terminar algo que a natureza não realiza sem ajuda do homem. Então, torna-se muito saboroso o pão do trigo, muito delicioso o vinho da videira e um bom professor estimula o desenvolvimento dos germes da alma de seus alunos.

Aprendemos na arte da alquimia hermética que a fórmula original da vida é como um germe unigênito em toda criatura e em todo objeto que, no curso do processo da eterna evolução, se realiza de degrau em degrau. “Deus dorme na pedra, respira na planta, sonha no animal e desperta no homem.” É a tarefa do homem sábio liberar essa semente divina do escuro abraço da matéria. Paracelso diz: “Santo é o espírito que acende a luz da natureza.” Na “Voz do Silêncio”, de H.P. Blavatsky, lemos: “Ajudai a natureza, trabalhai em conjunto com ela, e a natureza vos terá como seu criador e vos obedecerá.” Alexander von Bernus, o alquimista e poeta do século 20, escreveu em palavras alegóricas: “A luz está adormecida no sal e a meta da alquimia é despertar de novo essa luz encantada”.

A visão “vertical” do Mundo

A frase núcleo da alquimia foi enunciada por Hermes Trismegisto: “Assim como é em cima, também é embaixo.” Essa verdade se encontra nos três pilares da cultura da humanidade: a religião, a ciência e a arte… Oramos: “Assim no céu, como na terra” (Pai Nosso). Paracelso nos lembra: “Como o cosmo, também o homem.” Ou seja, como o macrocosmo, assim o microcosmo.  C. G. Jung afirma: “Como a imaginação, assim a obra”. O neo-gnóstico físico conclui: “Como o elétron, assim o universo.” E a filosofia quântica sabe: “De acordo com a consciência do observador é o resultado do experimento.” A arte da alquimia, que é uma ciência espiritual universal, prova que a mesma fórmula original da vida é ativa de modo sincrônico em todos os níveis, material, anímico e espiritual. Então, para a arte da alquimia, a partir dessa visão “vertical” do mundo, se explicam todos os fenômenos da vida, do mais alto espírito até o menor grão de poeira.

Ora, sabemos todos e aprendemos diariamente que a nossa realidade humana de hoje pune a desobediência do axioma hermético. Então, porque o homem não age mais de acordo com as leis celestiais, o seu mundo não é mais paradisíaco. Assim, ele vive em uma realidade fragmentada, porque ele projeta no mundo as formas-pensamento de seu ego. Mas, a fórmula original divina ainda vive dentro dele, e também em seu mundo caído da Unidade. Lemos no Bhagavad Gita: “Brahma – sublime acima de todas as criaturas, mora, todavia, em todos. Ele não está fragmentado nas criaturas, mas age em todas.”

Agora é a obra da arte da alquimia reconduzir essa lei à sua realidade. Por isso, sublinha Paracelso: “A alquimia é uma arte proveniente de Deus e a correta arte da natureza”, para que a lei da unidade entre o macrocosmo e o microcosmo seja restabelecida novamente. Ela é um auxílio do Criador para os filhos da luz decaídos.

Os três princípios da alquimia

Os três níveis, do espírito, da alma e do corpo, encontramos em todos os lugares na arte hermética e, portanto, em sua filha, a alquimia. Lá o enxofre simboliza o nível espiritual, ele como elemento é de fogo e volátil. Na linguagem hermética consta: “O espírito usa o mais rápido dos elementos, o fogo.” O nível da alma é representado por mercúrio. Mercúrio, como elemento, tem duas naturezas, ele é gasoso e líquido. O mercúrio simboliza a mente do homem, a sua alma. Ele tem uma forma baixa de consciência, o pensamento, e uma forma mais elevada, o conhecimento direto, a iluminação. Por isso, os alquimistas falam de duplo mercúrio e compreendem a sua missão central de preparar o “Mercúrio de Mercúrio”. Isso significa: Elevar a mente do transitório para o eterno, e abrir a razão para a iluminação divina. Portanto, o mercúrio é o princípio central da Opus alquímica. O nível da forma material é representado pelo sal. Sal simboliza a matéria, os metais, e também o homem físico.

Paracelso fala de uma alquimia menor e uma alquimia superior. A alquimia menor é a obra engenhosa realizada, em laboratório, em dedicação incansável, com paciência e firmeza. No entanto, antes de qualquer trabalho em laboratório, o alquimista realiza o Invocatio Dei, a invocação do Altíssimo. Este ora et labora acompanha o trabalho dos verdadeiros alquimistas por toda a vida, unindo a alquimia menor com a superior. Assim, é simultâneo o trabalho de transmutação do verdadeiro alquimista em sua retorta e em seu microcosmo. O trabalho complexo e sutil é descrito com as palavras: “Solve et Coagula”.

Nesse processo algo também vai ser dissolvido, purificado de todas as escórias inúteis, para depois se tornar uma nova criação. No trabalho de dissolução deve ser liberada a “Quinta Essência”. O quinto elemento de base é a “Semente da Luz” que está presa à matéria. É uma força que atrai tudo que tem vida, livre de toda impureza e separada de todos os elementos. É o Spiritus Vitae, o “Espírito da Vida”, a sua essência. O Espírito da vida de todas as coisas (“Lebensgeist des Dinges”)

A matéria em si é composta de forças e características dos quatro elementos — do fogo, ar, água e terra. O processo de “Solve et Coagula” é repetido até que todos os elementos de base estejam em sua perfeição e a escória material, como Caput Mortuum, como um corvo negro ou um crânio, seja repelida.  O objetivo desse trabalho interior e exterior era a recuperação da “Pedra Filosofal”, o elixir pelo qual todas as coisas não nobres podem ser convertidas em perfeição e tudo o que é doente pode ser curado. A preparação dessa pedra Lapis philosophorum no homem se realiza pelo renascimento da Água e do Espírito, dessa realidade mais elevada da grande Opus alquímica.

Os sete metais planetários como pontes intercósmicas

Por que os metais tem uma posição chave na grande obra da alquimia? Os metais são ligados de três maneiras com a obra. No plano material, os metais formam substâncias resistentes, cujo germe de luz não morre quando são retirados fora de seus minérios. Quando se colhem plantas, elas morrem e, nesse caso, a quinta essência escapa rapidamente.  Portanto, os metais são, desde os tempos antigos, as substâncias mais adequadas para a Opus alquímica menor e essa é a razão pela qual a metalurgia já era bem desenvolvida nos primórdios da civilização.

Mas os metais têm também uma função-chave para a Opus superior da alquimia. São germes que os planetas semearam na Terra para acompanhar e estimular o desenvolvimento dela. Eles ligam o superior do mundo planetário com a terra mais baixa. Penetram todos os reinos da natureza e catalisam com oligoelementos todos os processos metabólicos dos seres vivos. Mas, além disso, os metais também determinam as disposições da alma do homem e formam as suas antenas internas através das quais as forças espirituais dos planetas se tornam ativas. Rudolf Steiner confirmou esse conhecimento quando disse: “O Homem é uma metalidade sétupla”.

Essa relação íntima do homem com os metais possibilita compreender os processos transmutativos síncronos dos metais em laboratório e a transformação da alma do adepto, a Opus no laboratório como uma metáfora visual de um processo espiritual de converter o chumbo da matéria em ouro do espírito. O “Martírio dos Metais” no laboratório, de que os alquimistas falam, se assemelha ao padecimento do adepto em seu caminho espiritual. Na realidade, ambos os aspectos, a alquimia inferior e a superior são idênticas; elas se condicionam e se possibilitam reciprocamente. Por isso, um texto alquímico diz: “O Alquimista somente pode encontrar a pedra filosofal quando antes a houver encontrado em si mesmo”.

A Magnum Opus alquímica, nos dois níveis, é o trabalho de uma vida, pois que, em última instância, a meta é o conhecimento. Alexander von Bernus expressa essa ideia em palavras poéticas, quando escreve: “Esta é a alquimia, ela é sem tempo, antiquíssima, gradualmente proporciona a elevação, em conhecimento, aos mundos cósmicos, até a sua origem, até a árvore da vida”.

A Tabula Smaragdina, a chave para a alquimia

O “Livro Sagrado” da alquimia baseia-se na Tabula Smaragdina de Hermes Trismegisto. De um lado do painel verde, uma imagem aponta simbolicamente para a Opus Magnum, do outro lado, podemos encontrar a missão de Hermes. Ela é criptografada (cifrada) três vezes. É possível deduzir no nível mais baixo uma instrução para dois processos sucessivos no laboratório, a produção de sulfato ferroso e de ácido sulfúrico, o “vitriolo verde” como Paul Chevallier realizou em laboratório. Mas, ao mesmo tempo, pode ser encontrada no texto pictórico: A “pequena obra”, a purificação da alma até a sua prima matéria, sua prontidão virginal; e a “grande obra”, que mostra o caminho para a realização do homem perfeito, ressuscitado no microcosmo. Apresentamos aqui o texto da Tabula Smaragdina, para que você possa assimilar de novo o seu ensinamento:

É verdade! É certo! É a verdade toda! 
O que está embaixo é como o que está em cima,
o que está em cima é como o que está embaixo,
para que os milagres do Uno se realizem.
E assim como todas as coisas se fizeram do Uno
através de uma mediação,
todas elas nasceram desse Uno por transmissão.
O seu pai é o sol,
a sua mãe é a lua,
o ar as teve em seu regaço,
e a sua ama foi a terra.
O pai de todos os talismãs é onipresente no mundo inteiro. 
Sua força permanece imaculada quando é usada na terra. 
Separa, com grande amor e profunda visão interna e sabedoria,
a terra do fogo, o que é delicado do que é duro, denso e solidificado. 
Da terra sobe ao céu, e de lá desce novamente à terra, adquirindo,
assim, para si a força do que está em cima e do que está embaixo. 
Assim possuirás a glória do mundo todo,
e por isso toda a treva fugirá de ti.
Essa é a força mais poderosa de todas as forças,
porque vencerá tudo o que é mole
e penetrará tudo o que é duro.
Assim o mundo foi criado. E dele se originarão, do mesmo modo,
criações maravilhosas. Por isso fui chamado Hermes,
o três vezes grande, porque possuo os três aspectos da
doutrina de sabedoria do mundo inteiro.
Completo está o que eu disse com referência à preparação do ouro.

Passamos agora para os sete degraus ou estágios de toda a Opus alquímica – e nos surpreende como os passos de purificação da alma e a revelação espiritual da nova criatura imortal estão em relação íntima com o mistério iniciático cristão; por isso não tem que se admirar que precisamente os místicos cristãos identificaram-no tão intimamente com o caminho interior da alquimia. Os primeiros degraus da Opus referem-se à purificação da alma que é uma condição necessária para garantir que a grande obra espiritual se realize. O objetivo do trabalho interior é de novo reconduzir a alma ao seu estado original em que ela começou a sua jornada no mundo da matéria. Uma frase básica da alquimia diz mesmo: ”Os corpos não podem ser transformados, mas retornarem a sua primeira matéria” (Eduard Kelly). Também os metais devem ser devolvidos à sua matéria original, antes de serem transformados (transmutados e transfigurados).

A “Prima Matéria”, o segredo da alquimia

A prima matéria é o desmedido mar primordial de maneira inominável. É o caos antes da obra do espírito de criação do mundo, a infantil inocência. É a essência, a semente de todas as coisas, a natureza eterna de Deus, a ideia que é a base da existência. Quando uma forma morre, a prima matéria sempre retorna outra vez para uma nova realização.

A representação anímica da prima matéria é o estado inocente da alma, o “aspecto-Eva” antes de ela ter provado do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal e, assim, ter se tornada culpada. Mas, através da vontade de divisão – do homem do paraíso, cresceu, ao mesmo tempo, a oportunidade de se desenvolver a consciência individual no caminho da experiência no mundo bipolar de espaço e de tempo.  Por esse caminho, então, a alma humana se envolveu e se ligou cada vez mais com o mundo da materialidade e acabou sendo capturada inteiramente e incluída no campo terrestre, onde ela espera a sua salvação. Bem, este Opus da alquimia interna prepara esta salvação via a força da alma do mundo, o espírito de Cristo.

Na alquimia é dito: “A prima matéria deve ser gerada do estado final do chumbo material satúrnico”. No nível da alma, isso significa: Nesse processo, o homem de hoje estando no estado individual e consciente, passo a passo, é enobrecido ao estado de alma pura, como simboliza a virgem Maria que esmaga a cabeça da serpente da tentação, prepara-se para a recepção do Espírito Santo e traz para o nascimento o filho da Luz. 

Os sete passos da “Opus Magnum”

Vamos olhar para as sete etapas por que passam os metais na retorta; e o homem em seu microcosmo antes de estar maduro para esse novo nascimento.

A Calcinatio 
Essa é a operação do fogo.

No laboratório se realiza a calcinatio quando um material é durante muito tempo aquecido até se transformar em pó fino e branco. Análogo a esse evento, a alma é nesse fogo da calcinatio livre de todas as escórias de origem terrena. O “Arcano” – a  nova alma, deve ser puro de elementos materiais brutos; Indestrutível pela dúvida e não passível de ser queimado com o fogo de paixão. A calcinatio pode ser realizada – ou pelos movimentos do destino, ou pelo homem que se tornou razoável e livremente se submete a este processo. Uma alma que não se movimenta, não pode também ser erguida e ficará petrificada. O inferno dos cristãos, que Dante na Divina Comedia também relatou, é uma calcinatio projetada no além. O fogo é a chave de toda a opus magnum. Assim, é importante fazer a sutil distinção entre as diversas qualidades do fogo e a sua origem. Há também o princípio do em cima e do embaixo. Para o nosso caminho interior, a alquimia superior, a qualidade do fogo superior é crucial. Há novamente três aspectos:

O primeiro aspecto é o mais alto poder do fogo, o divino arqui-fogo central que vive, como uma centelha do mar de Luz da divindade, no coração de nosso microcosmo. Essa centelha de fogo é a semente da vida eterna, livre do ouro terreno e vaidoso, e do amor-próprio no lótus do coração.

O segundo aspecto é o fogo Luz de Cristo, o fogo do amor, em cujo poder a purificação da alma pode ser concluída.

O terceiro aspecto do fogo, por fim, é o fogo de vida etérico, o Arqueus, como é chamado por Paracelso, que circula no corpo etérico e, por intermédio dos sete chacras, servirá como fonte de força ao homem material.

Os três aspectos do fogo inferior são:

O fogo natural interno, inato, a natureza de Arqueus, a semente universal latente da matéria;
O fogo natural gerado na retorta do alquimista, portanto, que decorre da separação realizada quimicamente dos princípios de enxofre, mercúrio e sal; e
O fogo elementar externo que é consumido no processo. Para manejá-lo, o alquimista precisa de grande experiência, prática e paciência.

Com isso, apenas temos descrito diferentes qualidades do fogo que é para que se possa entender que a verdadeira calcinatio acontece a partir do fogo superior, o amor radiação de Cristo que vive como a rosa das rosas em nossos corações, e ela não pode ser uma ação forçada da vontade do ego, o qual, pelo contrário, muitas vezes faz com que a flama interior fique asfixiada.

Cristo fala para os seus discípulos: “Sem mim nada podeis”. Nesse fogo interior, a nossa alma será tocada, completamente purificada e sempre de novo erguida, para um dia ser bem-vinda na casa do Pai.

E no evangelho de Tomé ele diz: “Aquele que está perto de mim, está perto do fogo, e aquele que está distante de mim, está distante da casa do Pai”.

As diferenças na qualidade do fogo superior que purifica e do fogo inferior que consome revelam-se muito impressionantes na figura de duas árvores de fogo – do místico Jacob Boheme. Ele diz: “A árvore da vida era acesa como fogo do Espírito Santo e a sua qualidade era queimada na inescrutável Luz e claridade. E a árvore da qualidade sombria, que é a outra parte da natureza, era acesa e queimada na ira de Deus”.

O “punitivo” aspecto do fogo inferior consumidor é manifestado nos símbolos cristãos do inferno e do julgamento. Devemos entender que o fogo infernal é um fogo autocriado, cuja alimentação provém de nossas próprias faltas. A vontade desenfreada e a ira devem ser queimadas. Esse é um processo doloroso, necessário para remover a raiz do mal. Ele faz sangrar o coração e faz gritar a natureza torturada.

O fogo divinal torna-se a inspiração para a alma purificada. Com perplexidade, vemos o milagre de Pentecoste, em que o Espirito Santo, na forma de línguas de fogo, desce sobre os apóstolos que o esperavam. O segredo pelo qual podemos acender o fogo interior é a flama do anseio de salvação.

Em um Yantra de fogo indiano, de Sri Poonja, podemos sentir a força de atração da saudade que “queima”: ”Se você tem um desejo ardente de liberdade, você tem tudo que precisa. Todo o universo é queimado por este desejo, também o seu ego e a sua identificação com o corpo. Abana as flamas de seu desejo e, se alguma coisa restar, jogue-a imediatamente de novo no fogo”.


O solutio
              Essa é a operação da água.

No solutio, a substância desaparece e se transforma em líquido; a matéria diferenciada retorna a um estado não-diferenciado primordial. A partir da analogia do que acontece no laboratório, somos rapidamente introduzidos no sentido interior do processo. Heráclito diz: ”Para as almas da natureza é morte se tornar água.” Essa dissolução completa na retorta conduz a um escurecimento do vaso. Mas como podemos ver a partir do tratado ”Aureus Hermetis” essa morte não é realmente o fim. Nele se afirma mesmo: ”Bendita é a fôrma da fonte de água que dissolve os elementos. Então o dia da elevação esta lá, então fogem as trevas e a morte e, lá em frente, a sabedoria progride”. E o rei ”eu” está se afogando para que um rei renovado possa ascender das águas do lago da vida.

No batismo cristão temos um símbolo do solutio. O batizando é submergido em uma energia transcendente, purificadora e rejuvenescedora, que o envolve como um manto protetor e lhe tira das limitações polares individuais e o leva de volta para o nível da prima matéria. A linguagem de Paulo é clara quando diz: “Para quantos fostes batizados em Cristo, atraindo o Cristo, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo”.

O dilúvio é um solutio mandado por Deus. Todo o velho foi dissolvido e o mundo foi reduzido na Prima Materia, por uma troca para uma nova-realização. Os alquimistas dizem: ”Cada coisa resulta naquilo em que deve ser diluída de novo”. Um grupo gnóstico antigo fala, em conexão com o processo do solutio, do “mar vermelho”. O mar vermelho devorou os egípcios (os ignorantes); no entanto, para os conscientes, pelo contrário, é um símbolo da água batismal de renascimento.

Então agora entendemos a profundidade do processo alquímico do solutio para alma: o verdadeiro eu deve mergulhar no mar vermelho dos contrários impulsos sanguíneos para emergir de lá renovado. O solutio significa a dissolução voluntária do ego no verdadeiro eu, o afogamento do ego na alma do mundo. Por isso, os Rosacruzes clássicos disseram: ”In Jesu morimur” – em Jesus morremos.

No final desta reflexão sobre o solutio, gostaríamos de citar uma palavra de João que nos liga diretamente com o núcleo do solutio bem sucedido:

“Aquele que bebe da água que eu (Jesus) lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der será para ele de uma fonte borbulhante cuja água dá a vida eterna.”

O Coagulatio
           Esta é a operação da terra

Aqui, a parte superior, o volátil, torna-se “fixo”, isto é, ligado com a parte inferior.

No laboratório, por arrefecimento ou por evaporação, forma-se uma substância tal como, na nossa cozinha, o processo de aquecimento coalha o branco do ovo. Algo será concretizado em um molde transformado em “terra”, mas sem a solidificação final total.

Nos Upanishads, é nos dada uma imagem clara: ”Como a manteiga escondida no leite assim a pura consciência habita em cada ser”.

O processo de coagulação é promovido por meio de ação. Para assentar o espírito é necessária a coagulação; colocar uma idéia fugaz expressa em uma palavra significa um processo de coagulação. A analogia é por si já uma coagulação para o entendimento. O processo de encarnação é uma coagulação – o espírito será ligado à individualidade.

Em um texto neoplatônico lemos: ”Assim como a alma, do pico mais alto e da Luz eterna, olha para baixo e pondera com o desejo secreto a tendência instintiva do corpo; desce, gradualmente, por seus meros pensamentos terrenos para um mundo inferior”.

Em cada esfera particular ela recebe uma capa etérica, a fim de que, assim, passo a passo, possa entrar em comunhão com vestuário terrestre. E assim “ela chega por tantas mortes, pela travessia das esferas, nesta chamada vida na terra”.

Que bela é a parábola da canção da pérola dos atos apócrifos de Tomé, em que o filho do rei deixa o palácio celestial de seus pais, tira o seu vestido de raios, desce para o Egito e veste as roupas do povo que vive lá. Sua missão era conquistar a pérola escondida no mar – a semente da Luz aprisionada, que era guardada por um dragão, e trazê-la para a sua casa. Isto se torna possível apenas com o auxilio de seus pais celestiais. Após o seu retorno, depois de receber o seu vestido de raios com o emblema de vencedor, ele é levado ao trono do rei dos reis. Reconhecemos nesta lenda antiga uma relação interior com a parábola cristã do filho pródigo. O desejo da vida na matéria provoca a encarnação e está sempre associada com a culpa.

Buda diz: ”Você somente é livre para o Nirvana quando a sua fome por vida estiver totalmente silenciada”.

Embora o processo do coagulatio seja conectado com o tornar-se culpado, ele contém o seu próprio poder para salvação. Se a pressão do cativeiro na matéria se transformar em nostalgia e arrependimento, a salvação torna-se possível. Sem se tornar culpado por coagulação na carne, não podemos desenvolver a consciência individual e não nos tornamos aptos para a salvação. Por isso se diz em um antigo ritual cristão: ”O feliz falso passo de Adão foi quem nos possibilitou o salvador Cristo.” A coagulação que salva é a encarnação do Verbo, cuja meta é a salvação da raça humana.

O ritual mais sublime da coagulação é a Ceia do Senhor. A força imortal da alma do mundo – Cristo, coagula no pão e liga o homem com o corpo celestial do Cristo. ”E o pão que darei é a minha carne, que darei pela vida do mundo.”

É a tarefa para alma humana em sua opus magnum realizar o nascimento da Luz no vaso terrestre do próprio microcosmo, o Verbo eterno no próprio sistema permite se tornar carne.

O sublimatio
         Esta á a operação do ar

Na sublimação transforma-se um estado sólido em estado gasoso. Há uma operação de elevação. Aqui vemos a inversão da coagulação: o inferior, o sólido, torna-se volátil.

O Sublimatio libera o espírito que está oculto na matéria, a quinta essência, ele separa o baixo do alto, o sutil do denso. No nível da alma, isso significa um avanço consciente para o plano das ideias puras para contemplar as leis da vida divinal e, em seguida, com a seriedade do recolhimento interior, realizá-las na própria personalidade.

Temos muitos símbolos mitológicos para a sublimação:

Hércules se levanta da sua fogueira diretamente para o céu.
Elias foi sublimado pelo fogo. Sua ascensão foi fruto de seu fervor religioso.
Cristo levou 40 dias, após a sua ressurreição, para se elevar ao céu.
A escada para o céu é um símbolo da sublimação. A alma se levanta e sobe degrau a degrau até o céu. Na divina comédia de Dante, encontramos uma bela imagem desta subida.
A sublimação significa um arrebatamento final na eternidade, que a alma realizou no tempo. A sublimação é intimamente ligada com a coagulação. Um texto alquímico diz: ”Sublima o corpo e coagula o espírito”. O movimento ascendente da circulação imortaliza, enquanto o movimento descendente personaliza-se na consciência.

A Tabula Smaragdina diz: “Da terra sobe ao céu, e de lá desce novamente à terra, adquirindo, assim, para si, a força do que está em cima e do que está embaixo. Assim possuirás a glória do mundo todo, e por isso toda a treva fugirá de ti”.

A atenção do verdadeiro alquimista não é direcionada para a sua própria salvação, mas para a libertação de Deus da escuridão da matéria.

O Mortificatio ou o Putrefactio
       Este é um processo de decomposição pela putrefação

O mortificatio vem após o coagulatio porque na morte se realiza a verdadeira dissolução dos corpos. O que se fez carne deve morrer. Na alquimia é dito: ”A decomposição antecede a produção de uma nova forma.” A instrução direta é: ”Conhecei, filhos da sabedoria, que vós deveis deixar o composto se decompor durante 40 dias”. Mais uma vez estamos diante de uma analogia com o mito da iniciação cristã: 40 dias os israelitas marcharam pelo deserto; Elias jejuou 40 dias no deserto; 40 dias Jesus ficou no deserto e foi tentado; 40 dias decorrem entre a ressurreição e a ascensão.

A mortificação está ligada ao medo. A confrontação com a sua própria mortalidade provoca o medo, mas ao mesmo tempo possibilita a consciência. ”O temor ao Senhor” é o início do conhecimento, diz Paulo. No evangelho de João há uma bela parábola do mortificatio: ”Se o grão de trigo não cai na terra e morre, ele permanece grão, mas se morre dá muitos frutos.” Paulo mostrou de uma forma impressionante o processo alquímico da transformação interna da mortificação com as seguintes palavras: ”Semeia-se em corrupção e renasce em incorrupção, semeia-se um corpo natural e ressuscita um corpo espiritual”.

O mortificatio será experimentado na personalidade como uma tragédia – de uma derrota e fracasso, então, ao medo é dado espaço. Na paixão de Jesus, experimentamos também esse medo de morrer: ”Pai se possível afasta de mim este cálice”. ”Pai, por que me abandonaste?” Como um vencedor da cruz da natureza ele transmite a seus sucessores: ”Quem quiser ser meu discípulo, negue a si mesmo e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá, mas quem perde a sua vida por minha causa acha-la-á”.

O mortificatio é o processo do eterno “morrer e devir”, da aceitação da diária morte na cruz da natureza. O segredo desta cruz da natureza é o segredo do fracasso. Nossos pecados originais, pelos quais podemos falhar de novo e de novo, são também ao mesmo tempo as deformações das sete funções dos metais em nossa existência:

O pecado original do chumbo de saturno é a avareza,

Do estanho de Júpiter é a avidez,

Do ferro marciano é a raiva,

Do ouro do sol é a arrogância,

Do cobre de Vênus é a luxúria,

Do mercúrio de Mercúrio é a inveja e

Da prata da Lua é a indolência.

É o Cristo quem transmuda esses nossos pecados-raízes em frutos do espírito, e Deus quem transforma, em seu filho, as nossas derrotas em sua vitória. Assim, os metais em nós finalmente serão transmutados em talismãs, como Apollonius de Tyana experimentou e descreveu em seu livro “O Nuctemeron”.

O separatio
Ela será alcançada por destilação, sublimação e evaporação.

É a ultima grande provação antes da perfeição. Trata-se da separação dos componentes que estão ligados e em parcial oposição em um composto. Dentro deste processo, por meio de repetidas destilações, serão separados, um do outro, os princípios enxofre, mercúrio e sal. Da confusão e da mistura, cria-se ordem. Vemos este processo na historia da criação que é repetida simbolicamente no laboratório. Deus separa a luz das trevas, o céu da terra, o mar da terra. O agente da separação era o Logos, que moldou a si mesmo como matriz onipresente no processo de separação e, portanto, representa o conjunto coeso que prevalece sobre tudo que é separado.

A experiência dos opostos possibilita uma consciência crescente. Por isso, o primeiro homem decidiu comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Mas, com essa decisão, ele realizou um segundo separatio muito incisivo. Ele, o portador de uma alma imortal, mergulhou no mundo efêmero do espaço e tempo. Assim, ele se tornou um cidadão de dois mundos. Ele criou ao mesmo tempo o seu mundo, que é isolado da unidade, e realizou a ruptura entre o superior e o inferior. Por isso, ele deve reverter a decisão de sua vontade e, com ajuda do grande opus da transmutação, reconduzir para o estado da prima matéria a si mesmo, os seus metais, caídos em si mesmo, e, finalmente, todo o mundo, para que a verdade do “em cima como em baixo” seja restaurada.

Mestre Eckhart experimentou esse conhecimento em uma visão mística e a concentrou nas seguintes palavras: ”A pureza da alma depende de que ela seja purificada de uma vida que é dividida, entrando em uma vida que é unidade”.

O processo de separatio repetido sempre no laboratório, através de muitas destilações que freqüentemente duram semanas inteiras, executa uma clara separação de todas as misturas. Para o processo de transmutação da alma, isso significa que a joia do discernimento deve ser sempre de novo desenvolvida com muito cuidado. Por isso, a primeira condição é o conhecimento de o próprio ser e a percepção crescente das duas ordens de natureza em o próprio ser. ”Decompõe a terra do fogo, o sutil do denso, suavemente e com muito cuidado”. O retorno final à unidade consiste em adquirir agudeza de consciência do poder de distinção, para que a separação final do eu e do não-eu se realize. Deve ser realizada a distinção clara do mundo divino, do único bom, e do mundo terrestre espaço-temporal, em que dirigem as forças gêmeas “bem e mal” e seu jogo da confusão. No livro “A voz do silêncio”, de H.P. Blavatsky, lemos: ”Saiba distinguir o falso do verdadeiro, o sempre em movimento do eterno ser, antes de dar o primeiro passo em seu caminho”.

O juízo final é um ato de separatio, mas ao mesmo tempo um ato de justiça compensador. No evangelho de João é dito: ”O filho do homem separará as ovelhas dos carneiros, os perfeitos dos imperfeitos”.

Os imperfeitos serão lançados no fogo de uma nova calcinação. Dessa perspectiva, o separatio não é a ultima etapa no grande Opus, mas vai adiante do conjuntio, assim como no laboratório alquímico. ”Limpa o marido e a mulher, separadamente, de modo que eles se unam mais intimamente, porque se você não os limpa, não podem amar um ao outro”.

O separatio é a ultima operação de limpeza, sobre a qual Johann Valentin Andreae, em seu “Casamento Alquímico do Christian Rosenkreuz”, escreveu uma rima:

“Hoje, hoje, hoje

            É o casamento do Rei…

            Cuida!

            Observa a ti mesmo.

            Se não tomares banho,

            O casamento poderá fazer mal a ti”

O conjunctio
É a culminação do Opus Magnum

No laboratório, temos uma parábola impressionante: Sulfur e Mercurius, enxofre e mercúrio, se ligam e produzem Zinnober (Zinabre), uma nova substância com novas qualidades. Há um menor conjunctio quando a limpeza das duas substâncias ainda não está totalmente realizada; aqui deve seguir novamente o mortificatio.

Uma bela parábola diz: ”Mas este casamento começa com a expressão da felicidade e tem por conseqüência a amargura da tristeza”. Essa amargura é produzida sempre quando “a alma prefere o casamento com o corpo, ao casamento com o espírito”, como lemos no Corpus Hermeticum. Assim, o aspecto de Vênus de amor terreno é uma boa alegoria e uma tentativa de aproximar em harmonia as forças gêmeas da natureza em sua própria alma; é uma virtude especial, mas apenas o primeiro degrau para o grande conjunctio. No processo da transmutação no laboratório, será realizado o refinamento até alcançar o degrau da prata pura.

No grande conjunctio, trata-se da preparação para o casamento alquímico entre a alma purificada e o espírito, o Pymander. A alma que de novo se tornou a água da prima matéria, ”mercúrio do mercúrio”, se casa com o espírito. O estado do início, quando o espírito pairava sobre as águas, é alcançado. É a realização do “nascer de novo da água e do espírito” do mistério de iniciação crístico. Dessa união, nasce uma nova criatura – a partir do poder do Santo Espírito. A alma renascida, a transmutada personalidade do homem e o espírito se tornaram em uma unidade perfeita no vaso microcósmico. Esta nova criatura, este filho da sabedoria, tornou-se para si mesmo em pedra filosofal. Ele personifica o puro ouro do espírito e pode estimular a todos os seres vivos a atingir a perfeição por meio do poder de seu amor e curar todos os doentes, como o ouro purificado transforma no laboratório todos os metais comuns (não nobres) em ouro.

Na alquimia, então, esse é o significado universal de ”multiplicatio”, o aumento maravilhoso que alimenta tudo para o enobrecimento. Alquimia é a arte de enobrecimento, como dissemos no inicio. No nível mais alto da alquimia, a visão de Paulo, para uma manifestação do Espírito, será para nós o que confirma essa lei interior:

Ele escreve na primeira carta aos Coríntios, capítulo 15: ”O primeiro Adão era uma alma vivente, o último Adão será um espírito vivificante”

Aqui você encontrará a arte hermética em plena realização. A forma mais pura de conjunctio é o se tornar Um, do Filho com o Pai Divino. Lembramos as palavras bíblicas: ”o Pai e Eu somos Um”. Então, o filho de luz pródigo, agora filius sapientiae, retorna à casa do Pai. Assim, “em verdade, certamente e sem dúvidas o baixo é o mesmo do alto, e o alto se assemelha ao baixo, para que se realizem os milagres de uma única coisa”.

A atemporal Arte da Alquimia

A alquimia é uma mestra no tear do tempo, que tem à disposição, sem parar, a sua capacidade de transformar. Nestes dias, da era de aquário, em que se trocou uma física mecanicista para uma oitava superior de uma filosofia quântica, uma “Al-física”, encontramos de modo atual uma oportunidade que nos traz de volta para o limiar da Prima Matéria, para a onipotência não manifestada.

Esta porta, aberta pela percepção da presença consciente, ante o mar das infinitas possibilidades e da onipresença, fica franqueada diante de nós. Nesta terra de ninguém, entre o ontem incorrido e o ainda não nascido amanhã, está uma folha não escrita em nosso livro da vida, o Eterno Agora. No espaço da plenitude não-manifestada, nosso eu, que é o do espaço e do tempo, não tem entrada e somos de novo ligados com a nossa fonte interior criadora, o cintilar divino na arca de nosso coração. Nossa consciência associada com esta Fonte se torna um criador que chama da indefinida matriz universal uma nova manifestação.

Assim, podemos, agora e imediatamente, nos tornar verdadeiros alquimistas, alguém que, no processo de transmutação para a perfeição, colabora.