Por Channing Brown (Ex-Senescal da OMCE)
O propósito da OMCE é produzir uma condição espiritual em um mundo material. Muitos grupos tentaram e muitos fingem tentar, mas todos nós temos um longo caminho a seguir para atingir esse fim. Primeiro, produzir uma condição espiritual em um mundo material não significa andar por aí com nossas cabeças nas nuvens e proferindo devoções triviais. Pensamentos bons são legais, mas atingir nossos objetivos significa chegar as raízes "do capim" e fazer nossos pensamentos se disseminarem pela ação. Estabelecer um estado espiritual no mundo pode começar com os menores passos e ações. É o realizar de nossos planos para um estado espiritual que nos faz ter sucesso em estabelecê-lo. Sem ação, planos são inúteis e acabam em nada. Se reclamarmos da escuridão, devemos perceber que podemos acender uma vela e fazer a escuridão ir embora.
Onde muitos de nós erramos, em nossos pensamentos, é no fato de acreditarmos que planos ou objetivos devem ser grandiosos ou precisam impressionar as pessoas com sua magnitude, ao invés de serem efetivos. Eles não o devem ser. Inícios e planos simples podem ser aqueles que se transformarão em grandes. Alguns, entretanto, permanecem pequenos e tencionam assim o ser. A grandiosidade pode entrar no caminho de se atingir os objetivos desses planos menores.
É fácil entender quantas pessoas podem se tornar confusas sobre quais objetivos são os melhores – os maiores ou os menores. Nos anos 70 e 80, fomos bombardeados por mensagens em que o “grande” era bom e o “maior”, melhor ainda. Agora sabemos que o grande pode ficar pelo caminho e pode, na verdade, prejudicar o progresso de atingirmos nossos objetivos. Entretanto, a nova confusão de se tornar pequeno demais está se tornando realidade. Tornar-se pequeno com a nova moda da minimização (*cortes de gastos) pode trazer seus próprios problemas e pode atrapalhar os mesmos objetivos. Em suma, descobrir até onde podemos minimizar é algo que ainda está em fase de testes, mas os rumores estão começando a aparecer. Nós podemos criar uma geração inteira de trabalhadores que não confiam em ninguém. Essa dificilmente será a forma de se estabelecer um estado espiritual. Embora seja a forma em que isso é tratado atualmente nas culturas corporativas, a mesma serve de exemplo de como não ter os melhores interesses, de longo prazo, com “humanidade” em mente.
Nós nos referimos ao “estado espiritual” em nossos objetivos. Não devemos confundir o estado espiritual com o desconhecido ou com aquilo que está além de nossa Terra. Nós, como homens, ficamos empolgados e reverenciamos o desconhecido. Vemos a humanidade explorando o universo com novos e poderosos instrumentos e telescópios. Todos os dias, eles nos revelam mistérios cada vez maiores e um desejo de saber quem somos e de onde viemos no esquema universal das coisas. Nossas mentes parecem pertencer as estrelas, e sonhamos com um estado espiritual que reside num universo maior, além do penoso trabalho de viver e das responsabilidades das tarefas diárias. Normalmente nos escondemos em nossos sonhos de como somos bons e corretos, e quantas coisas boas nós poderíamos fazer, se o universo nos revelasse seus segredos. Se apenas o universo nos desse a varinha mágica de Deus ou uma fórmula antiga que estivesse escondida por séculos... Sabemos que a Fórmula existe, mas ela foi escondida. Poderíamos ser mais benevolentes “se apenas” nos fosse dado o poder de ressuscitar a essência mágica e resolver os males do mundo? Pensar assim não é absurdo, é mais um sonho. Mas, talvez nós sonhemos muito. Se queremos resolver os males do mundo é melhor que comecemos aqui neste planeta. A resposta para colocar “humanidade” de volta ao homem está em nós mesmos, aqui e agora.
Para colocar “humanidade” de volta no homem, devemos nos perguntar, quais são os maiores obstáculos para nos ajudar a atingir nossos objetivos? Alguns obstáculos aparentam estar em nossas atitudes de quão importantes pensamos que somos, e como vemos nosso lugar no esquema das coisas e, finalmente, quando aparentemente acertamos, falhamos em tomar uma ação. Pensamos que somos importantes? Pode contar com isso. Decidimos que tudo na natureza é nosso, para nos apossarmos. Pensamos que nos tornamos mestres do ambiente porque aprendemos como extrair o que queremos da natureza - e então extraimos. Mas, como aprendemos a extrair, isso significa que realmente somos mestres (do ambiente)?
O homem, sem dúvida, é a espécie dominante no planeta. Mas houveram várias espécies dominantes antes de nós. A Natureza decidiu que o Homem é bom para ela? Nós tiramos muito do nosso ambiente para melhorar a humanidade. Certamente vivemos melhor. Pelo menos alguns de nós o fazem. Contudo, não creio que os deuses evolucionários já decidiram que nós, como espécie, teremos sucesso. Não creio que nós já entendemos nosso verdadeiro lugar. Não somos humildes em nossos empreendimentos. Decidimos ser a bola da vez. Até onde isso pode ir no sentido de trazer “humanidade” de volta ao homem? Penso que, em algum lugar, exista uma pequena criatura escondida debaixo de uma pedra rindo de nós, e apenas esperando que nós nos destruamos para ela se tornar a nova espécie dominante. Nós devemos aprender a ser humildes. Se realmente olharmos o universo, começaremos a pensar que somos tão insignificantes como grãos de areia. Temos um longo caminho para podermos nos afirmar. Escrevemos longas e gloriosas histórias sobre a humanidade; mas não seria interessante se essa história fosse escrita por outros ou por algo mais? O que a história refletiria? Pode ser que não fosse tão amável como nós a escrevemos. O homem é uma criatura muito orgulhosa e egoísta. O homem ainda não aprendeu a viver com o que a Natureza provê. Talvez, a Natureza irá, algum dia, dizer que ela já teve o bastante e … Puff! - próxima criatura por favor! Afinal, a Natureza que nos fez, e não o contrário.
Para estabelecer uma condição espiritual em um mundo material, e para trazer “humanidade” de volta ao homem, uma atitude mística é requerida. Eu não quero dizer tipos "sonhadores". Eu me refiro a pessoas normais com atitudes boas. Apesar de eu, e muitos outros, sempre terem considerado aqueles com atitudes místicas como ligeiramente “descentrados”, não posso deixar de pensar que o processo evolucionário sempre dependeu daqueles que são um pouco “descentrados” e nem sempre daqueles que estão sempre cumprindo as regras. A norma realmente nunca foi uma medida confiável do que é “certo”; ela é apenas a norma. Por que uma atitude mística? Ela põe a humanidade na perspectiva de que somos parte do processo completo da Natureza. Não somos o final dos planos da Natureza. Concebemos que toda a natureza tem o direito de viver e, no processo de extrair, participamos do processo de retribuir. Em nossas lutas pela sobrevivência, esquecemos de retribuir. É no processo de retribuir que também trazemos “humanidade” de volta ao homem. Não penso que a Natureza, a longo prazo, possa continuar permitindo e compensando o homem por suas loucuras. Deve haver um ponto de parada. Nós podemos ver que o Homem deve participar do fluxo da Natureza e tentar não dominar o processo.
Dificultamos o processo de trazer “humanidade” de volta ao homem, mesmo quando pensamos que estamos no caminho certo. Apesar de podermos tomar atitude em muitas coisas, esse processo de fazer o "bem" aparenta ser elusivo. Nós beijamos as roupas dos santos, nós mostramos os anéis que usamos, nós consagramos seus ossos, mas as coisas pelas quais eles viveram e morreram - nós ignoramos. A mesma pessoa que deixa sua igreja ou templo, vai para casa, xinga seus vizinhos e chuta o cachorro. Ela deixa sua moralidade na porta do templo. Essa porta aparenta ter feixe mágico que muda as pessoas. O que aconteceria se essa mesma pessoa carregasse esse feixe mágico para fora do templo, para o mundo lá fora? Isso certamente ajudaria a trazer “humanidade” de volta ao homem. Segmentar a nossa vida em partes como "aqui é onde eu faço o bem" e "aqui é onde eu faço o mal" não ajuda a humanidade. O bem, em toda ação, deveria ser a parte central de toda nossa estrutura como pessoas.
Continuar a tomar ações também aparenta ser elusivo no centro de nossa sociedade. Com que frequência nós vemos grupos cozinhando biscoitos, ou indo ao supermercado e comprando alguns enlatados para dar aos pobres, para que possam se sentir bem? Eu duvido que essas mesmas pessoas iriam convidar os pobres para um jantar em suas casas. Eles não iriam querer sujar seus tapetes orientais novos. Apesar de não ser uma crítica a vários trabalhos benevolentes que vem sendo feitos em nossas comunidades, acho que outras atitudes deveriam ser tomadas para ajudar a educar os pobres a melhorar suas situações. Nós todos aprendemos que "retribuir" pode tomar dimensões maiores. Dar algo a alguém é apenas uma solução temporária, não resolve realmente a origem do problema. Pode até criar um problema maior, o da dependência. Educar é a melhor forma. Ensinar os outros a "cozinhar seus próprios biscoitos" é melhor.
Em todas as minhas reclamações sobre o homem não trazendo “humanidade” de volta ao homem, eu não posso evitar pensar que o homem em todas as suas loucuras do presente e do passado ainda tem a capacidade de fazer o bem. Em nós está o "edifício". Em nós se acha o pequeno negócio para sermos os arquitetos. Devemos ser arquitetos e construtores de nossos sonhos. Mas como podemos construir se nós não colocamos o primeiro tijolo, damos o primeiro passo em trazer “humanidade” de volta ao homem? Esse primeiro tijolo é também para sermos capazes de dizer: "Eu sou uma pessoa boa e decente e fiz muitas coisas memoráveis". O processo de ser bom com o próximo é tão apavorante que algumas pessoas preferem não fazer nada? Ou o processo de fazer o mal é mais atraente? Bom, conheço pessoas às quais isso é verdade, mas para a maioria, fazer o bem ainda é a melhor opção.
Sair por aí e fazer o bem é parte do processo de iniciação. A maioria ensaia bem o processo, mas aparenta parar no bem necessário lá fora. Se você aceitar "fazer o bem" como parte do processo iniciatório na "mente da Natureza", ele deixa de ser tão apavorante. Ele não mais se torna um trabalho árduo. Ele pode se tornar divertido. Quanto mais se envolve, mais você se ergue acima de suas idéias e comportamentos pré-concebidos, você supera seus medos e lida progressivamente com os desafios e oportunidades de seu crescimento espiritual.
Colocado de forma simples: o homem deve trazer a humanidade de volta ao homem - se o homem como espécie quiser sobreviver. Nós podemos dizer que estamos fazendo nosso melhor, mas como Winston Churchill disse: "Dizer que está fazendo o seu melhor não tem utilidade alguma. Nós devemos ter êxito fazendo o que é necessário." Isso é o que separa aqueles que são bem-intencionados daqueles que fazem o dever de casa. Quando você está no escuro, e quer luz, não apenas pense sobre isso: acenda uma vela, e a escuridão irá embora.