segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Biografia Giovanni Pico della Mirandola



Giovanni Pico della Mirandola (Mirandola, 24 de fevereiro de 1463 — Florença, 17 de novembro de 1494) foi um erudito, filósofo neoplatônico e humanista do Renascimento italiano.

Giovanni, o filho mais jovem de Gian Francesco I e Giulia Boiardo, conde e condessa de Concordia e de Mirandola no Ducado de Modena, desde a infância impressionava por seus dotes intelectuais que incluíam uma extraordinária memória e dons artísticos muito desenvolvidos. Decidiu dedicar a sua vida inteiramente aos estudos e com apenas catorze anos de idade, partiu para a Universidade de Bolonha com o objetivo de estudar Direito Canônico e preparar-se para seguir a carreira eclesiástica. Entretanto, insatisfeito com os estudos puramente jurídicos, decidiu aprofundar-se em Filosofia e Teologia que despertaram-lhe a predileção.

Giovanni passou ainda sete anos viajando pela Itália e França, estudando em suas principais faculdades em Ferrara, Pádua e Paris, enquanto se dedicava a aprender os idiomas latino, grego, hebraico, árabe e sírio.

Após adquirir, em suas viagens pela Europa, cerca de sessenta manuscritos atribuídos ao sacerdote e escriba judeu Esdras, filho do sumo sacerdote Seraías e autor bíblico de um dos livros históricos de mesmo nome do Antigo Testamento (cfe. mencionado em II Reis 25:18-21), Giovanni veio a interessar-se pelo estudo da Cabala e do Talmud, tendo a idéia de combinar esse conhecimento místico-religioso com a filosofia.

O seu objetivo principal era conciliar religião e filosofia. Assim como o seu mestre Marcílio Ficino, Giovanni baseava as suas concepções principalmente em Platão, em oposição à Aristóteles. Todavia Giovanni era em essência um eclético e em muitos aspectos, ele representava uma reação contra os exageros do humanismo. De acordo com ele, deveríamos estudar as fontes hebraicas e talmúdicas, enquanto que as melhores conquistas da escolástica deveriam ser preservadas. O seu Heptaplus, uma exposição místico-alegórica da criação do mundo de acordo com os sete sentidos bíblicos, segue essa ideia; ao mesmo período pertence De ente et uno, com explanações de várias passagens dos livros mosaicos, platônicos e aristotélicos.

Já em Roma, no ano de 1486, Giovanni com apenas 23 anos de idade, publica as suas polêmicas 900 teses intituladas Conclusiones philosophicae, cabalisticae et theologicae, onde ele acreditava ter desvelado as bases de todo o conhecimento da humanidade, combinando elementos do neoplatonismo, hermetismo e cabalismo, além de versar sobre lógica, matemática, física. Ele se oferece para pagar as despesas de qualquer um que estivesse disposto a vir até Roma e enfrentá-lo em uma discussão pública sobre as teses. Neste ano publica o seu trabalho mais conhecido, De hominis dignitate oratio (Discurso sobre a Dignidade do Homem), que serve como uma introdução às 900 teses.

Entretanto, das 900 teses, treze foram consideradas heréticas pela Igreja Católica e ele é proibido de ir adiante com as discussões públicas. Uma comissão de inquérito da igreja convida Giovanni para retratar-se, o que ele efetivamente faz. Giovanni tenta ainda defender as suas treze teses com o opúsculo Apologia Ioannis Pici Mirandolani, concordiae comitis, mas não obtém sucesso. Contrafeito com a condenação, decide viajar novamente, visitando a França e em seguida retornando à Florença.

Ao final de sua vida, destrói seus trabalhos poéticos e torna-se um defensor do Cristianismo contra os judeus, muçulmanos e astrólogos. Morre jovem em 1494, aos 31 anos, após sucumbir a uma febre, no dia em que Carlos VIII da França entrou em Florença, após expulsar Piero de Médici. Giovanni é considerado o primeiro erudito cristão a mesclar elementos da doutrina cabalística e teologia cristã.

Seu sobrinho, o também filósofo e erudito Giovanni Francesco Pico della Mirandola, escreveu uma detalhada biografia de Giovanni em 1496, chamada Ioannis Pici Mirandulae Vita.

Filosofia

Na Oratio, Giovanni justifica a importância da busca humana pelo conhecimento numa perspectiva neoplatônica. Ele afirma que Deus, tendo criado todas as criaturas, foi tomado pelo desejo de gerar uma outra criatura, um ser consciente que pudesse apreciar a criação, mas não havia nenhum lugar disponível na cadeia dos seres, desde os vermes até os anjos. Então Deus criou o homem, que ao contrário dos outros seres, não tinha um lugar específico nessa cadeia. Em lugar disso, o homem era capaz de aprender sobre si mesmo e sobre a natureza, além de poder emular qualquer outra criatura existente. Desta forma, segundo Giovanni, quando o homem filosofa, ele ascende a uma condição angélica e comunga com a Divindade, entretanto, quando ele falha em utilizar o seu intelecto, pode descer à categoria dos vegetais mais primitivos. Giovanni, deste modo, afirma que os filósofos estão entre as criaturas mais dignificadas da criação.

A ideia que o homem pode ascender na cadeia dos seres pelo exercício de suas capacidades intelectuais foi uma profunda garantia de dignidade da existência humana na vida terrestre. A raiz da dignidade reside na sua afirmação que somente os seres humanos podem mudar a si mesmos pelo seu livre-arbítrio. Ele observou na história humana que filosofias e instituições estão sempre evoluindo, fazendo da capacidade de auto-transformação do homem a única constante.

Em conjunto com sua crença que toda a criação constitui um reflexo simbólico da Divindade, a filosofia de Giovanni teve uma profunda influência nas artes, ajudando a elevar o status de escritores, poetas, pintores e escultores, como Leonardo da Vinci e Michelangelo, de um papel de meros artesãos medievais a um ideal renascentista de artistas considerados gênios que persiste até os dias atuais.

Obras

Suas principais obras são:

Heptaplus, (Florença, 1480)
De ente et uno, (1480)
De hominis dignitate oratio, (1480)
Conclusiones philosophicae, cabalisticae et theologicae, (Roma, 1486)
Apologia Ioannis Pici Mirandolani, concordiae comitis, (1489)
Disputationes adversus astrologiam divinatricem, (Bolonha, 1495)
Aureae ad familiares epistolae, (Paris, 1499)

Ducado de Mirandola

O Ducado de Mirandola (em italiano Ducato della Mirandola) foi um estado italiano independente entre 1310 e 1711, e cuja capital foi a cidade de Mirandola. A família Pico, à qual pertenceu o célebre humanista Giovanni Pico della Mirandola, governou este ducado que, em 1711 foi integrado no Ducado de Módena, governado pelos Este.

No curso da sua história, Mirandola, cidade poderosamente fortificata, foi sujeita a dois assédios, o primeiro em 1510 durante o governo do Papa Júlio II e o segundo, em 1551, sob o Papa Júlio III .

Governantes de Mirandola

Ao senhorio de Mirandola foi, desde logo, associado o senhorio de Concordia, uma localidade vizinha, governados em conjunto pela família Pico, conhecida como os Pico della Mirandola.

Senhores de Mirandola

Francisco I (Francesco I Pico), 1311-1311

Senhores de Mirandola e Concordia

Francisco II (Francesco II Pico), 1354-1399
Francisco III (Francesco III Pico) com João I (Giovanni I Pico) e Aiace Pico, 1399-1429
Francisco III (Francesco III Pico) com João I (Giovanni I Pico), 1429 - 1432
Senhores de Mirandola e Condes de Concordia[editar | editar código-fonte]
Francisco III (Francesco III Pico) com João I (Giovanni I Pico), 1432-1451
Francisco III (Francesco III Pico), 1451-1461
João Francisco I (GianFrancesco I Pico), 1461-1467
Galeotto I, 1467-1499
João Francisco II (GianFrancesco II Pico), 1499-1502
Frederico I (Federico I Pico) com Luís I (Ludovico I Pico), 1502-1504
Luís I (Ludovico I Pico), 1504-1509
Galeotto II, 1509-1511
João Francisco II (GianFrancesco II Pico), 1511-1511
Galeotto II, 1514-1533

Condes de Mirandola e Concordia

Galeotto II, 1533-1550
Luís II (Ludovico II Pico), 1550 - 1558
Galeotto III, 1568-1592
Frederico II (Federico II Pico), 1592-1596

Príncipes de Mirandola e Marqueses de Concordia

Frederico II (Federico II Pico), 1596-1602
Alexandre I (Alessandro I Pico), 1602-1619

Duques de Mirandola e Marqueses de Concordia

Alexandre I (Alessandro I Pico), 1619-1637
Alexandre II (Alessandro II Pico), 1637-1691
Francisco Maria (Francesco Maria Pico), 1691-1708

Família Pico

Os Pico, também conhecidos por Pico della Mirandola, foram uma família nobre italiana que detinha a soberania do Ducado de Mirandola e sobre outros territórios vizinhos, como Concordia, durante mais de quatro séculos, até que os seus domínios foram anexados pelos Este de Módena em 1711.

A família tem origem num certo Hugo (Ugo) Pico, filho de Manfredo Pico, ao qual é entregue, como recompensa dos serviços prestados, o castelo de Mirandola.

O mais conhecido membro da família foi o humanista e filósofo Giovanni Pico della Mirandola.

Linha dinástica

Senhores de Mirandola

1311 - 1322 ca: Francisco I Pico

Senhores de Mirandola e Concordia

1354 - 1399: Francisco II Pico
1399 - 1429: Francisco III Pico com João I Pico e Aiace Pico
1429 - 1432: Francisco III Pico com João I Pico

Senhores de Mirandola e condes de Concordia

1432 - 1451: Francisco III Pico com João I Pico
1451 - 1461: Francisco III Pico
1461 - 1467: João Francisco Pico
1467 - 1499: Galeotto I Pico
1499 - 1502: João Francisco II Pico
1502 - 1504: Frederico I Pico com Ludovico I Pico
1504 - 1509: Ludovico I Pico
1509 - 1511: Galeotto II Pico
1511 - 1511: João Francisco II Pico
1514 - 1533: Galeotto II Pico

Condes de Mirandola e Concordia

1533 - 1550: Galeotto II Pico
1550 - 1558: Ludovico II Pico
1568 - 1592: Galeotto III Pico
1592 - 1596: Frederico II Pico

Príncipes de Mirandola e Marqueses de Concordia

1596 - 1602: Frederico II Pico
1602 - 1619: Alexandre I Pico

Duques de Mirandola e Marqueses de Concordia

1619 - 1637: Alexandre I Pico
1637 - 1691: Alessandro II Pico
1691 - 1708: Francisco Maria II Pico

Outros membros ilustres da família

Agnese Pico (1303-1340), casou com Guido Gonzaga, senhor de Mântua
Brigida Pico (1633-1720), regente (1691-1706) em nome do seu sobrinho neto e último duque Francisco Maria II Pico
Ludovico Pico della Mirandola (1668-1743), cardeal