domingo, 14 de agosto de 2016

Especial Gnosticismo


O Gnosticismo é um sistema religioso cujo início deu-se antes da Era Cristã. Considerado por muitos como resultado da interação do Judaismo, Cristianismo e as filosofia religiosas do Oriente. Possui seus próprios textos sagrados, sendo que o principal é o Evangelho de Tomás.

De fato, o Gnosticismo designa um dos movimento religioso Cristão que tornou-se bem conhecido durante os séculos II e III, cujas bases filosóficas eram as da antiga Gnose, com influências do neoplatonismo e dos pitagóricos. Este movimento revindicava a posse de conhecimentos secretos que, segundo eles, os tornava superiores aos cristãos comuns desprivilegiados do mesmo. Originou-se provavelmente na Ásia menor, e tem como base as filosofias pagãs, que floresciam na Babilônia, Egito, Síria e Grécia.

O gnosticismo combinava alguns elementos da Astrologia e mistérios das religiões gregas, como os mistérios de Elêusis, com as doutrinas do Cristianismo.

A palavra gnose, tem por origem etimológica o termo grego "gnosis", que significa "conhecimento". Mas não um conhecimento teórico e empírico (a "episteme" dos gregos), mas de caráter intuitivo e transcendental. Foi usada para designar um conhecimento profundo e superior do mundo e do homem.

O termo "Gnose" acabou designando nos tempos atuais um conjunto de tradições que acreditam no aspecto espiritual do Universo e na possibilidade de salvação por um conhecimento secreto. A Gnose é uma corrente de pensamento esotérica, normalmente identificada com o misticismo oriental, Teosofia, cabala, rosa-crucianismo e maçonaria.

Doutrina gnóstica

O gnosticismo tornou-se uma forte influência na Igreja primitiva levando muitos cristãos da época como Marcião (160 d. C.) e Valentim de Alexandria a ensinar sobre a cosmovisão dualista, premissa básica do movimento. Efetivamente, para os gnósticos, existem dois deuses: o criador imperfeito, que eles associam ao Jeová do Velho Testamento e outro, bom, associado ao Novo Testamento. O primeiro criou o mundo com imperfeição, e desta imperfeição é que se origina o sofrimento humano. Mas, o deus bom teve pena dos homens e dotou-os de uma "centelha divina", que lhes dá a capacidade de despertar deste mundo de ilusões e imperfeição.

A premissa essencial da filosofia gnóstica é o postulado da existência de uma "entidade imortal", que não é parte deste mundo, que pode ser chamado de Deus, divina essência, perfeito, puro, imaculado, vivendo no paraíso etc. que existe em todos os homens que é a sua única parte imortal. Tal deus gerou outros seres divinos (aeons), com, metaforicamente falando, os sexos definidos.Eles também são capazes de gerar proles perfeitas em si mesmas contanto que as gerem utilizando um parceiro do sexo oposto.

Os gnósticos consideram que o estado do homem neste mundo é "anti-natural", pois ele está submetido a todo tipo de sofrimentos. Para eles, é necessário que o homem se liberte deste sofrimento, e isto só pode ocorrer pelo conhecimento.

De um modo geral, os gnósticos acreditam que o Universo manifestado foi iniciado pelas emanações do Absoluto, seres finitos chamados de Æons que se reúnem no Pleroma. No princípio tudo era Uno com o Absoluto, então em um determinado momento, emanaram do Absoluto estes æons (éons), formando o pleroma.

O pleroma dos gnósticos é um plano arquetípico, abaixo do qual está o plano material, manifestado. Assim, o que antes era Uno e vivia no pleroma, se despedaça em partes. Este estado de infelicidade, pela descida no pleroma (e separação do Todo Uno), é o que ocasiona o sofrimento do homem neste mundo.

Um dos éons, Sofia, decidiu gerar sozinha um filho sem a ajuda de um parceiro. O resultado foi um deus imperfeito e mal formado, chamado de Yaldabaoth um Demiurgo (artesão em grego), que criou o mundo material "mal", juntamente com todos os elementos orgânicos e inorgânicos que o constituem. Consciente do erro, Sofia joga seu filho numa região separada do cosmo.

Tal entidade mal formada e ignorante, vendo-se sozinha, acredita ser o único deus. Ele então cria a Terra e os seres humanos. Sendo frutos de um deus imperfeito, somos igualmente incompletos, num mundo ilusório. Este deus, é o deus da Bíblia (antigo testamento).

Os gnósticos ensinam que a salvação vem por meio de um desses éons.

Cristo seria um enviado do verdadeiro deus perfeito, oriundo de outro plano de existência, mandado para nos ajudar a enxergar a verdade e nos libertarmos desta ilusão em que fomos gerados, escapando das armadilhas da matéria e alcançando as altas regiões espirituais. Tal processo ocorre através da consciência da nossa verdadeira natureza e origem. Porém, existem os Archons, entidades criadas para nos manter na ilusão, detendo a jormada espiritual.

Segundo a doutrina, Cristo, se esgueirou através dos poderes das trevas para transmitir o conhecimento secreto (gnosis) e libertar os espíritos da luz, cativos no mundo material terreno, para conduzi-los ao mundo espiritual mais elevado. Segundo algumas linhas gnósticas Cristo não veio em carne e nunca assumiu um corpo físico, nem foi sujeito a fraqueza e emoções humanas embora parecesse ser um homem, enquanto algumas defendem a tese do nestorianismo. O apóstolo João trata deste assunto e enfatiza que "o Verbo se fez carne" (Jo l .14), e em sua primeira epístola que "todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus..." (l Jo 4.3). Os escritos joaninos são do final do primeiro século, quando nasceu o "gnosticismo cristão".

Para que o homem possa se libertar dos sofrimentos deste mundo, segundo os gnósticos, ele deve retornar ao Todo Uno, por ascensão ao pleroma, e isto só pode ser alcançado pelo Conhecimento Verdadeiro (representado pela Gnose). Este despertar só pode ocorrer se o homem se descobre, "conhecendo-se a si próprio".

Fontes

Pouco material chegou até os dias de hoje, a maioria dos personagens e suas doutrinas só puderam ser conhecidos por meio dos críticos do gnosticismo, sendo estes a principal fonte. A maior polêmica contra os gnósticos apareceu no período patrístico, com os escritos apologéticos de Irineu (130-200), Tertuliano (160-225) e Hipólito (170-236).

Por isso a descoberta da Biblioteca de Nag Hammadi, em 1945, foi de suma importância, visto que seu conteúdo é eminentemente gnóstico. O achado impulsionou as pesquisas sobre o assunto na segunda metade do século XX.

Paralelos com religiões orientais

O gnosticismo tem alguns elementos em comum com o sufismo, o budismo e o hinduísmo.

Gnosticismo e psicologia

No século XX Carl Gustav Jung pesquisou profundamente as doutrinas gnósticas, inclusive ajudando no trabalho de organização da Biblioteca de Nag Hammadi, e fez uma ligação entre os mitos gnósticos e os arquétipos do inconsciente coletivo.

Gnosticismo cristão

Gnosticismo cristão é um termo utilizado pelo estudiosos com uma grande variedade de sentidos e níveis de especificidade. O gnosticismo cristão é uma fusão de símbolos bíblicos e gnósticos da salvação, que constituiu a heresia mais séria a ameaçar o evangelho em território helenista.

Gnosticismo cristão e gnosticismo não cristão

O gnosticismo não cristão é o que é referido em alguns tratados do Nag Hammadi mas principalmente no esoterismo hebraico enquanto o gnosticismo cristão é o geralmente referido como dualista.O gnosticismo foi inicialmente definido no contexto cristão embora alguns estudiosos supõem que o gnosticismo se desenvolveu antes ou foram contemporâneos do cristianismo, não há textos gnósticos até hoje descobertos que sejam anteriores ao cristianismo.

Para G. H. MacRae, os textos de Nag Hammadi não relevema nenhum documento pré-cristão, tratando-se de um modelo de desenvolvimento no interior do gnosticismo que levaria de um mito gnóstico a uma versão cristianizada, ele diz "Se este movimento corresponde à gênese do próprio gnosticismo, a sua importância está no fato de que o chamado gnosticismo cristão é um fenômeno secudários, não só ao cristianismo mas ao próprio gnosticismo".

Mesmo James M. Robinson, um defensor notável do gnosticismo pré-cristão, admitiu "o gnosticismo pré-cristão, como tal, dificilmente é atestado de modo a resolver este debate de uma vez por todas.

Gnosticismo siríaco-egípcio

A escola siríaca-egípcia foi uma escola gnóstica que deriva muito de sua forma geral das influências platônicas. Tipicamente, ela apresenta a criação numa série de emanações de um fonte primal monádica, finalmente resultando na criação do universo material. Como consequência, há uma tendência nestas escolas em ver o "mal" (ou a maldade) como a matéria, inferior à bondade, sem inspiração espiritual e sem bondade, ao invés de retratá-lo como uma força igual. Podemos dizer que estas escolas gnósticas utilizam os termos "bem" e "mal" como sendo termos "relativos", pois se referem aos relativos apuros da existência humana, aprisionada entre estas realidades e confusa na sua orientação, com o "mal" indicando a distância extremada do princípio e fonte do "bem", sem necessariamente enfatizar uma negatividade inerente. Como pode ser visto abaixo, muitos destes movimentos incluíram fontes relacionadas ao Cristianismo, com alguns inclusive se identificando como cristãos (ainda que de forma distintamente diferente das chamadas formas ortodoxas ou católica romana).

Escrituras siríaco-egípcias

A maioria da literatura nesta categoria nos é conhecida ou foi confirmada pela descoberta da Biblioteca de Nag Hammadi.

Obras Setianas

Assim chamadas em homenagem ao terceiro filho de Adão e Eva, Sete (ou Seth), que eles acreditavam possuir e ser o disseminador da gnosis. As obras tipicamente setianas são:

O Apócrifo de João
O Apocalipse de Adão
A Hipóstase dos Arcontes, também conhecido por "A Realidade dos Regentes"
Trovão, Mente Perfeita
Protenóia trimórfica
Livro Sagrado do Grande Espírito Invisível também conhecido por "Evangelho Copta dos Egípcios"
Zostrianos
Alógenes
As Três estelas de Sete
O Evangelho de Judas

Obras tomistas

Assim chamadas por causa da escola de Tomé Apóstolo. Todos são pseudepígrafos. Os textos geralmente atribuídos a ela são:

Hino da Pérola, também conhecido como "Hino de Tomé Apóstolo Dídimo no país dos Indianos"
Atos de Tomé
O Evangelho de Tomé
Livro de Tomé o Adversário

Obras valentianas

São assim chamadas em referência ao bispo e professor Valentim (ca. 153 dC). Ele desenvolveu uma complexa cosmologia fora da tradição setiana. Em certo ponto, chegou a estar próximo de ser nomeado o bispo de Roma, naquela que hoje é a Igreja Católica Romana. As obras geralmente atribuídas a eles estão listadas abaixo, sendo que os fragmentos que podem ser diretamente relacionadas a elas estão marcados com asterisco:

A Divina Palavra presente na Criança (Fragmento A) *
Sobre as Três Naturezas (Fragmento B) *
A Habilidade de falar de Adão (Fragmento C) *
Para Agathopous: O Sistema Digestivo de Jesus (Fragmento D) *
Aniquilação do Reino da Morte (Fragmento F) *
Sobre Amizade: A Fonte da Sabedoria Comum (Fragmento G) *
Epístola sobre Conexões Sentimentais (Fragmento H) *
Colheita de Verão *
Evangelho da Verdade *
A versão Ptolemaica do Mito Gnóstico
Oração do Apóstolo Paulo
Epístola de Ptolomeu à Flora
Tratado sobre a Ressurreição, ou Epístola a Reginus.
Evangelho de Filipe

Obras basilidianas

Assim chamadas por causa do fundador da escola, Basilides (132–? dC). Quase todas as obras são conhecidas por nós principalmente através da crítica de um de seus oponentes, Ireneu de Lyon, no seu livro Adversus Haereses. Outros trechos são conhecidos através das obras de Clemente de Alexandria, principalmente a Stromata:

O Octeto das Entidades Subsistentes (Fragmento A)
A The Singularidade do Mundo (Fragmento B)
Ser Eleito Naturalmente requer Fé e Virtude (Fragmento C)
O Estado da Virtude (Fragmento D)
Os Eleitos Trascendem o Mundo (Fragmento E)
Reincarnação (Fragmento F)
O Sofrimento Humano e a Bondade da Providência (Fragmento G)
Pecados Perdoáveis (Fragmento H)

Maniqueísmo

O maniqueísmo é uma filosofia religiosa sincrética e dualística fundada e propagada por Maniqueu, filósofo cristão do século III, que divide o mundo simplesmente entre Bom, ou Deus, e Mau, ou o Diabo. A matéria é intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom. Com a popularização do termo, maniqueísta passou a ser um adjetivo para toda doutrina fundada nos dois princípios opostos do Bem e do Mal.

História

Quando o gnosticismo primitivo já perdia a sua influência no mundo greco-romano, surgiu na Babilônia e na Pérsia, no século III, uma nova vertente, o maniqueísmo.

O seu fundador foi o profeta persa Mani (ou Manés) e as suas ideias sincretizavam elementos do zoroastrismo, do hinduísmo, do budismo, do judaísmo e do cristianismo. Desse modo, Mani considerava Zoroastro, Buda e Jesus como "pais da Justiça", e pretendia, através de uma revelação divina, purificar e superar as mensagens individuais de cada um deles, anunciando uma verdade completa.

Conforme as suas ideias, a fusão dos dois elementos primordiais, o reino da luz e o reino das trevas, teria originado o mundo material, essencialmente mau. Para redimir os homens de sua existência imperfeita, os "pais da Justiça" haviam vindo à Terra, mas como a mensagem deles havia sido corrompida, Mani viera a fim de completar a missão deles, como o Paráclito prometido por Cristo, e trouxera segredos para a purificação da luz, apenas destinados aos eleitos que praticassem uma rigorosa vida ascética. Os impuros, no máximo podiam vir a ser catecúmenos e ouvintes, obrigados apenas à observância dos dez mandamentos (citados abaixo).

As ideias maniqueístas espalharam-se desde as fronteiras com a China até ao Norte d'África. Mani acabou crucificado no final do século III, e os seus adeptos sofreram perseguições na Babilónia e no Império Romano, neste último nomeadamente sob o governo do Imperador Diocleciano e, posteriormente, os imperadores cristãos. Apesar da igreja ter condenado esta doutrina como herética em diversos sínodos desde o século IV, ela permaneceu viva até à Idade Média.

Agostinho de Hipona foi adepto do maniqueísmo até se decidir de vez pelo cristianismo.

Maniqueísmo e gnosticismo

O dualismo maniqueísta - cuja origem provém do elcasaismo do século II como prova o facto de extractos do Apocalipse de Elkasaï se encontrarem no codex de Manis conhecido como Vita Mani - diferencia-se do dualismo gnóstico uma vez que, se para este último, a divindade é superior ao demiurgo criador, para o primeiro trata-se de dois princípios igualmente poderosos, sem que haja subordinação, apenas igualdade de origens.

Valentianismo

O valentianismo foi um movimento gnóstico, que foi fundado por Valentim no século II. O valentianismo foi um dos principais movimentos gnósticos. Sua influência foi muito difundida, não apenas dentro de Roma, mas também no Egito através da Ásia Menor e Síria, a leste, e Noroeste da África.

Mais tarde na história do movimento que se quebrou em duas escolas, uma escola de oriental e uma escola ocidental. Discípulos de Valentino continuaram a ser ativos no século IV, após o Império Romano ser declarado cristão.

Valentino e o movimento gnóstico que leva seu nome foram considerados ameaças ao cristianismo por líderes religiosos e estudiosos cristãos, não só por causa de sua influência, mas também por causa de suas doutrinas, práticas e crenças. Gnósticos foram condenados como hereges, e os pais proeminentes da Igreja, como Irineu de Lyon e Hipólito de Roma escreveram contra o gnosticismo. A maioria das evidências para a teoria dos valentinos vem de seus críticos e detratores, sobretudo Irineu, já que ele estava especialmente preocupado em a refutar o valentianismo.

Basílides

Basilides (em grego: Βασιλείδης) foi um dos primeiros professores religiosos gnósticos em Alexandria, Egito que ensinou entre 117-138 dC[a] e era um pupilo ou de Menandro ou de um suposto intérprete de São Pedro chamado Gláucias, esta última teoria rejeitada pelos estudiosos modernos. A obra "Atos da disputa com Mani, o heresiarca" (Acta Archelai), capítulo 52, afirma que ele ensinou por um tempo entre os persas. Acredita-se que ele escreveu mais de duas dúzias de livros com comentários sobre os Evangelhos (todos perdidos) intitulados Exegetica, o que o torna um dos mais antigos comentaristas dos Evangelhos. Apenas fragmentos de suas obras foram preservados além daqueles nas obras de seus opositores.

Os seguidores de Basilides, os basilidianos formaram um movimento que persistiu por pelo menos dois séculos depois de sua morte - Epifânio de Salamis, no final do século IV dC, reconheceu uma persistente seita gnóstica no Egito. É provável porém que a escola tenha se fundido no ramo principal (main stream) do Gnosticismo já pelo final do século II dC.

Padres da Igreja

Historiadores conhecem sobre Basílides e seus ensinamentos principalmente através dos escritos de seus detratores e é impossível determinar o quão confiáveis são estes relatos. A mais antiga refutação de Basílides, por Agripa Castor, se perdeu, e estamos dependentes nos relatos mais recentes de:

Eusébio de Cesareia, História Eclesiástica, principalmente o livro IV, capítulo VII. Escrito por volta do século IV dC.
Clemente de Alexandria, Stromata, livro I, capítulo XXI; Livro II, capítulos VI, VIII e XX; livro IV, capítulos XI, XII e XXV; livro V, capítulo I (além de outros). Escrito entre 208-210 dC.
Hipólito de Roma, Philosophumena, livro VII. Escrito por volta de 225 dC.
Pseudo-Tertuliano, Contra Todas as Heresias, um pequeno tratado geralmente anexado ao Prescrição contra Heréticos (este de Tertuliano) e que realmente foi escrito por outras mãos, talvez a de Vitorino de Pettau. Escrito por volta de 240 dC e baseado num "Compendium" que não sobreviveu de Hipólito.
Epifânio de Salamis, Panarion, livro I, seção XXIV.
Teodoreto, Compêndio de Relatos Heréticos, livro I, capítulo IV.

Escritos de Basílides

Quase todos os escritos de Basílides pereceram, mas os nomes de três de suas obras e alguns fragmentos chegaram até nós:

Fragmentos da Exegetica nos chegaram por Clemente (Stromata, IV 12)e por Arquelau (Atos 55)e provavelmente também na obra de Orígenes, Comentário sobre Romanos V]], livro I.

Orígenes afirma ainda que "Basílides teve a audácia de escrever um Evangelho de Basílides. Tanto Jerônimo quanto Santo Ambrósio repetiram depois Orígenes. Porém, não existe nenhum traço de um "Evangelho de Basilides" em nenhum outro lugar. É possível que Orígenes tenha se enganado sobre a natureza de Exegetica ou que este evangelho fosse conhecido por algum outro nome.

O mesmo Orígenes, numa nota em Jó, XXI, 1, fala sobre uma obra chamada "Odes" de Basílides.

Por fim, o Cânone Muratori termina da seguinte maneira: "É, então, conveniente que seja lido, ainda que não publicamente ao povo da Igreja, nem aos Profetas ´ cujo número já está completo , nem aos Apóstolos ´ por ter terminado o seu tempo. De Arsênio, Valentim e Melcíades não recebemos absolutamente nada; estes também escreveram um novo livro de Salmos para Marcião, juntamente com Basílides da Ásia..." (no original em latim, bastante obscuro, "etiam novu psalmorum librum marcioni conscripserunt una cum Basilide assianum catafrycum constitutorem").

Outras obras

Outros trechos são conhecidos através das obras de Clemente de Alexandria, principalmente a Stromata:

O Octeto das Entidades Subsistentes (Fragmento A)
A The Singularidade do Mundo (Fragmento B)
Ser Eleito Naturalmente requer Fé e Virtude (Fragmento C)
O Estado da Virtude (Fragmento D)
Os Eleitos Transcendem o Mundo (Fragmento E)
Reincarnação (Fragmento F)
O Sofrimento Humano e a Bondade da Providência (Fragmento G)
Pecados Perdoáveis (Fragmento H)

Doutrina

Basílides aparece ainda associado à lenda da Clavícula de Salomão, Bareket da Tribu Ruben Satanás. Consta a lenda que este a transformou numa Gema gnóstica do estilo Abraxas antes de esta passar para as mãos da seita herética dos Cainitas do Egipto. Admitiu um princípio incriado, o Pai, cinco hipóteses emanadas dele e trezentos e sessenta e cinco céus, um dos quais é o nosso mundo comandado por YHVH (Yahweh, Jeová ou Javé).

Criação

As descrições do sistema basilidiano dadas pelas fontes principais (vide Fontes) são tão fortemente divergentes que parecem ser irreconciliáveis. De acordo com Hipólito, Basílides seria aparentemente um panteísta evolucionista; de acordo com Ireneu, um dualista emanacionista.

Historiadores, como Philip Shaff, são da opinião que: "Ireneu descreveu uma forma de basilidianismo que não era a original, mas uma versão posterior, já corrompida, do sistema. Por outro lado, Clemente de Alexandria com certeza, e Hipólito, no extenso relato na sua Philosophumena, provavelmente aprenderam diretamente da obra de Basílides, a Exegetica, e portanto representam a forma da doutrina como ensinada por ele.

Fé e Eleição (dos que serão salvos)

Basílides acreditava que a fé era apenas "um reconhecimento da alma para tudo aquilo que não se podia experimentar, por não estarem presentes". Ele também acreditava que a fé era um assunto de "natureza" (ser) e não de "escolha", assim os homens deveriam "descobrir as doutrinas não por demonstração e sim por uma apreensão intelectual". Basílides também parece ter acumulado formas de dignidade de acordo com a fé de cada um.

Por acreditar que a fé era uma questão da natureza (de "ser" ao invés de "escolher"), sem dúvida ele estressou o argumento até o ponto de separar uma parte da humanidade do resto, como imbuída por um decreto Divino a receber uma forma maior de iluminação. É neste sentido que ele deve ter dito que "a eleição [dos que serão salvos] é estranha a este mundo, por ser supramundana por natureza.

Metempsicose

Basílides também trouxe a noção de que o pecado num estágio passado de existência poderia ter sua punição no estágio atual, com "a alma eleita sofrendo honrosamente o martírio, enquanto que as demais almas seriam purificadas pela punição apropriada". Esta doutrina de metempsicose dos basilidianos também foi acusada de ter se utilizado das palavras do Senhor sobre a recompensa das terceira e quarta gerações. Orígenes diz claramente que o próprio Basílides interpretou «Em outro tempo eu vivia sem a Lei, mas quando veio o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri» (Romanos 7:9) da seguinte forma:

O apóstolo disse, 'Em outro tempo eu vivia sem a Lei', ou seja, antes de eu chegar neste corpo, eu vivi num outro que não estava sob a lei, o de uma fera, por exemplo, ou de um pássaro. — Basílides, segundo Orígenes

Inferno

Orígenes reclamou que Basílides privou os homens de um temor salutar ao ensinar que as transmigrações são as únicas punições após a morte.

Martírio

Por acreditar numa visão fatalista da metempsicose, Basílides acreditava que os mártires cristãos estavam sendo punidos não por serem cristãos, mas por pecados cometidos no passado. É por este motivo que Orígenes diz que ele depreciava os mártires.

Paixões

Os basilidianos costumavam chamar as paixões de Apêndices, alegando que elas eram nada mais do que certos espíritos que se apendavam[b] em almas racionais num turbilhão primitivo e confuso. As paixões e desejos seriam então incutidos nas almas pelos apêndices, que imitavam os comportamentos de feras e bestas. Além disso, também imitavam a beleza e os movimentos das plantas. E podiam também trazer as características das coisas inanimadas (como a dureza do diamante, por exemplo).

É impossível determinar com precisção a origem desta teoria tão singular, mas é provável que estivesse conectada com a teoria da metempsicose dentro do mesmo sistema, que parece ter encontrado suporte em Timeu, de Platão.

Os Basilidianos

Uma seita gnóstica , fundada por Basilides de Alexandria , que existiam no segundo século. Seus seguidores disseram que receberam suas doutrinas esotéricas de Claucias , apóstolo de San Pedro . Os basilideans reconhecido para Abraxas como o ser supremo.

Seu sistema tinha três tipos: material, intelectual e espiritual, pelo qual inicia progrediram. Em adição, eles possuíam duas estátuas alegóricas , homem e mulher. Muitos pontos de semelhança share doutrina com a dos Ophites ea Cabala Judaica .

Ofitismo

Ofitas (do grego ὄφιανοι > ὄφις = serpente) é um nome genérico para várias seitas gnósticas cristãs da Síria e do Egito que se desenvolveram por volta do ano 100 d.C. Estas seitas atribuíam grande importância à serpente mencionada no livro do Gênesis como tentadora de Adão e Eva, considerando-a como portadora do conhecimento do Bem e do Mal e portanto como símbolo da gnose.

Fundamentos

Segundo os teólogos patrísticos como Orígenes de Alexandria e São Ireneu de Lião, a essência do doutrina ofita é a crença de que Jeová, o Deus do Antigo Testamento, é uma divindade misantrópica da qual a humanidade deveria ser libertada. Desta forma, a serpente e outros inimigos do Demiurgo se convertem em heróis para os ofitas.

Os membros das seitas ofitas passavam por cerimônias de iniciação que incluíam símbolos de purificação, vida, espírito e fogo. O sistema completa da seita parecia combinar ainda elementos do culto à deusa egípcia Ísis, conceitos da mitologia oriental e aspectos da doutrina cristã.

Seitas ofitas

naassenos, do hebraico na'asch = serpente) que consideravam a serpente como o ser supremo
setitas, para quem Sete era o patriarca dos espíritos
peratas, do griego peras = penetrar
cainitas, que viam em Caim seu líder espiritual
valentinianos, discípulos de Valentim

Os Ofitas Gnósticos

"Os Ofitas Gnósticos

Nos primeiros anos do primeiro milénio d. c., as crenças dos Ofitas Gnósticos constituíam a norma. Em contraste com isto, as ideologias posteriores de São Paulo, e outros, é que eram consideradas invulgares. Os Ofitas, também conhecidos por Setianos, igualmente o mesmo território... e viveram felizes, sem que quaisquer infelicidades sobre eles se abatessem, ate morrerem“.

Escrevendo sobre uma tradição que era já imensamente antiga no seu próprio tempo, Flávio afirma aqui que este povo antigo, que vimos descrito noutros sítios como «filhos das serpentes», vivia «feliz». Tal sugere que teriam algum tipo de conhecimento secreto sobre como viver uma vida prolongada, e ainda que este conhecimento teria sido mais tarde assimilado pela cultura popular.

Adorar a serpente, ou querer ser semelhante a uma serpente, é algo que parece remontar a um tempo em que os seres serpentinos xamânicos, Os Resplandecentes, estavam presentes sobre a Terra e detinham alguma influencia sobre as questões humanas, devido à sua sabedoria.

No seu livro ísis Unveiled, a teosofista Madame Blavatsky escreveu: «A maldade de Caim é repetida em Ham, Mas os descendentes de ambos revelam-se a mais sábia das raças... e são chamados a este propósito serpentes, e filhos de serpentes\» Pouca dúvida subsiste actualmente de que as primeiras seitas cristãs veneravam a serpente. Santo Epifânio pareceu pôr o dedo na ferida cm Adversus Haereses (Contra os Heréticos), quando afirmou que os adoradores de serpentes «veneram a serpente porque Deus a tornou na causa da Gnose». Ei-lo aqui a transmitir inadvertidamente o conhecimento secreto destas primeiras seitas. Ou seja, não podemos atingir a sabedoria e vida imortal associadas, tanto simbólica como literalmente, à serpente, sem primeiro experimentarmos o estado de profunda iluminação espiritual (isto é, Gnose), através da qual nos tornamos um «filho da serpente».

A sugestão de que algumas das primeiras seitas cristãs venerariam a cobra/serpente parecer-nos-ia absurda, não fosse o caso de termos provas dos seus rituais — rituais que acabariam por se tornar parte da adoração tradicional do Domingo cristão. Como explica Jean Doresse em The Secret Books of the Egyptian Gnostics:

Os Ofitas levavam a cabo um culto muito especial com estes répteis [cobras]: guardavam-nos e alimentavam-nos em cestas; tinham as suas reuniões próximo dos buracos em que elas viviam. Dispunham pães sobre uma mesa e, de seguida, por meio de feitiços, encantavam a cobra... só então partiam o pão, beijando cada um deles o focinho do animal que haviam encantado. Resta era, segundo afirmavam, a... verdadeira Eucaristia."

Cainismo

O cainismo ou caimismo foi uma seita gnóstica cristã do século II, considerada herética, que venerava Caim como filho de um espírito superior àquele que teria engendrado seu irmão Abel. Para os cainitas, Caim foi a primeira vítima do Demiurgo, uma divindade intermediária criadora do mundo material, inferior a Deus. Segundo eles, o Deus do Antigo Testamento não poderia ser o mesmo proclamado por Jesus, pois enquanto este último seria piedoso, benevolente, amoroso, aquele seria vingativo e cruel.

Recentemente, foi concluída a tradução de um texto atribuído aos cainitas do Evangelho de Judas, no qual existe um relato conciso do relacionamento entre o Messias e Judas, a quem teria sido confiada a mais dura de todas as missões: liberar o Cristo de sua envoltura humana.

Dados sobre os cainitas sobrevivem em citações patrísticas:

Irineu de Lyon, Contra Heresias I, 31, 1–2
Epifânio de Salamis, Panarion
Hipólito, Contra as Heresias
Pseudo-Tertuliano, Contra todas as Heresias
Tertuliano, Sobre o Batismo .

Carpócrates

Carpócrates de Alexandria foi o fundador de uma seita gnóstica da primeira metade do século II dC e que utilizava unicamente o Evangelho segundo os Hebreus. Assim como muitas outras seitas gnósticas, sabemos dos carpocracianos apenas pelos relatos dos Pais da Igreja, principalmente Ireneu e Clemente de Alexandria. Como o primeiro era fortemente contra a doutrina gnóstica, há certamente um viés negativo quando utilizada esta fonte. Ainda que haja divergências entre as várias fontes em alguns detalhes sobre os Carpocracianos, todas concordam sobre a característica libertina da seita.

Carpocracianismo

Carpocraciano é a denominação dada aos seguidores de um movimento cristão gnóstico do século II que professava as doutrinas de Carpócrates de Alexandria.

Epífanes, filho de Carpócrates e sua mulher Marcelina, organizaram a seita em Roma sob o pontificado do papa Aniceto.

Rejeitavam o Velho Testamento e sustentavam que José é o pai carnal de Jesus.

Defendiam a pre-existência das almas para explicar as imperfeições do homem e diziam que nosso fim supremo era nos unir ao Divino.

Irineu de Lyon os acusou de praticar magia e os repreendeu duramente.

São considerados hereges pela Igreja cristã.

Bogomilismo

O bogomilismo (de Bogomil, idioma proto-eslávico *bogъ ("Deus") e *milъ ("querido") foi uma seita gnóstica cristã fundada durante o Primeiro Império Búlgaro pelo padre Bogomilo durante o reinado de Pedro I da Bulgária no século X.Surgida provavelmente em torno do que hoje é a Macedônia como uma resposta à estratificação social ocorrida como resultado da introdução do feudalismo e como uma forma de movimento político opositor ao Estado búlgaro e a Igreja.

Os membros do bogomilismo são referidos como Babuni em diversos documentos. Topônimos que incluem o rio Babuna, a Montanha Babuna, a Cachoeira de Bogomil e a Aldeia Bogomila, todos na região de Azot, hoje onde é a Macedônia, sugere que o movimento foi muito ativo nesta região.

Para os bogomilos, o Deus criador do espírito diferenciava-se claramente do Deus criador da matéria. Eles seguiam as mesmas teorias pregadas pelo paulicianos como a igualdade social e o afastamento dos pobres do domínio do clero e da nobreza. No século seguinte, o bogomilismo se difundiu na região dos Bálcãs até a fronteira com Bizâncio sendo fortemente perseguidos pelos soberanos búlgaros e pelos imperadores bizantinos, os bogomilos se espalharam por toda a Europa Central e Ocidental, onde foram alvo de repressão das autoridades católicas.

A seita bogomilista

Entre as principais características da seita bogomilista destacam-se:

Separação rígida entre o Deus criador do espírito e o Deus criador da matéria, este último sendo considerado de natureza malévola
Observação das mesmas teorias pregadas pelos paulicianos como a igualdade social e o afastamento dos pobres do domínio do clero e da nobreza
Crença de que Cristo apenas parecia ser humano fisicamente
Rejeição da Eucaristia e demais sacramentos, assim como relíquias e o uso de objetos materiais de veneração
Ceticismo em relação ao Matrimônio
Rejeição ao consumo de produtos de origem animal (vegetarianismo)
Um aspecto importante do bogomilismo é aceitação somente do Novo Testamento e o Livro de Salmos como suas escrituras.

Guerra contra a Hungria

Em 1203, o papa Inocêncio III, com a ajuda do rei da Hungria, forçou um acordo com Ban Kulin para reconhecer a autoridade do papa e da religião: na prática, isso foi ignorado. Com a morte de Kulin em 1216, uma missão foi enviada para converter a Bósnia para o catolicismo, mas em vão. Em 1234, o bispo católico da Bósnia foi removido pelo papa Gregório IX por permitir práticas heréticas.Além disso, Gregório convocou a cruzada do rei húngaro contra os bogomilos.No entanto, os nobres bósnios foram capazes de expulsar os húngaros .Até então, a Bósnia não tinha sofrido com a inquisição franciscana imposta pela bula do papa Nicolau IV Prae cunctis.

Da Bósnia, a influência do bogomilismo estendeu-se à Itália (Piemonte). Os húngaros realizaram muitas cruzadas contra os hereges na Bósnia, mas no final do século XV, a conquista do país pelos turcos colocou um fim à sua perseguição. Pouco ou nenhum vestígio do bogomilismo existe na Bósnia. O ritual escrito por Radoslav em língua eslava, e publicado no vol. XV do Starine of the South Slavonic Academy at Agram, mostra grande semelhança com o ritual dos cátaros publicado por Cunitz em 1853.

Em 1203, o rei da França, Roberto II, a pedido da Igreja, mandou queimar na fogueira, em Orleães, uma dezena de hereges "maniqueístas", provavelmente bogomilos mais avançados ou, talvez, os primeiros cátaros. Um episódio análogo ocorreu em Milão por volta de 1208. Na Bósnia, o bogomilismo chegou a se tornar religião de Estado. Em 1203, no entanto, o soberano Kulin conseguiu manter-se no poder ao concordar em trocar a doutrina de Bogomilo pela católica romana e aceitar a tutela húngara.

Paulicianismo

O paulicianismo (em armênio: Պավլիկյաններ, também lembrado como Pavlikians ou Paulikianoi) foi uma seita adocionista, também acusada por fontes medievais como gnóstica e quase maniqueísta. Os paulicianos floresceram entre 650 e 872 na Armênia e partes orientais do Império Bizantino, como Anatólia e os Balcãs. De acordo com fontes medievais bizantinas, o nome do grupo foi obtido a partir do terceiro século do bispo de Antioquia, Paulo de Samósata, na época do cristianismo primitivo.

História

Os paulicianos eram um grupo de cristãos considerados hereges pelo catolicismo que predominavam na Armênia, antiga Babilônia, Síria, Palestina, monte Ararate, cordilheira do Touro e Antioquia no século VI, no Império Bizantino.

Os paulicianos diziam serem provindos dos apóstolos e terem seu início a partir das pregações dos mesmos no primeiro século depois de Cristo. Porém faltam registros comprobatórios para tal afirmação.

Durante os séculos V e VI, os Hunos formaram parte de uma confederação que avançava para o território armênio, muitos dos militares que protegiam as fronteiras armênias eram paulicianos.

Em 668, iniciou-se uma grande perseguição aos paulicianos que provocou, em 690, a morte de um de seus grandes líderes chamado Constantino, que foi morto apedrejado e seu sucessor queimado vivo. Durante o reinado do imperador Leão III, o Isáurio (r. 717–741) foram favorecidos nos Balcãs ocidentais pelo édito do imperador contra as imagens, tendo proteções do próprio filho de Leão III.

A imperatriz Teodósia (842–867) iniciou uma perseguição que matou 100.000 deles, pois eram acusados de gnósticos e maniqueístas, dualistas.

Após as perseguições os então denominados hereges paulicianos expandiram-se para os Balcãs ocidentais, dando a possível origem aos bogomilos. Segundo creem alguns historiadores quem? posteriormente originaram os albigenses nos Alpes do sul da França ao se unirem com os "hereges" que lá residiam.

Os paulicianos sobrevivem hoje na Bulgária, retendo seu dialeto peculiar e desde o século XIX se uniram ao catolicismo romano sob a influência de missionários franciscanos.

Catarismo

O catarismo (do grego καϑαρός katharós, "puro") foi um movimento cristão de ascetismo extremo na Europa Ocidental entre os anos de 1100 e 1200, estreitamente ligado aos bogomilos da Trácia. O movimento foi tão forte no sul da Europa e na Europa Ocidental que a igreja Católica Romana passou a considerá-lo uma séria ameaça à religião ortodoxa. As principais manifestações do catarismo centralizavam-se na cidade de Albi, motivo pelo qual seus adeptos também receberam o nome de "albigenses".

O catarismo teve suas raízes no movimento pauliciano na Armênia e no Bogomilismo na Bulgária que teve influências dos seguidores de Paulo. Embora o termo "cátaros" tenha sido usado durante séculos para identificar o movimento, ainda é discutível se o movimento se identificava mesmo com este nome.Em textos cátaros, os termos "homens bons" (Bons Hommes) ou "bons cristãos" são os termos comuns de auto-identificação.A ideia de dois deuses ou princípios, sendo um bom outro mau, foi fundamental para as crenças dos cátaros. O Deus bom era o Deus do Novo Testamento e criador do reino espiritual, em oposição ao Deus mau que muitos cátaros identificavam como Satanás, o criador do mundo físico do Antigo Testamento. Toda a matéria visível foi criado por Satanás, e portanto foi contaminada com o pecado, isto incluía o corpo humano. Esse conceito é oposto à Igreja Católica monoteísta, cujo princípio fundamental é que há somente um Deus que criou todas as coisas visíveis e invisíveis. Os cátaros também pensavam que as almas humanas eram almas sem sexo de anjos aprisionadas dentro da criação física de Satanás amaldiçoado a ser reencarnado até os fiéis cátaros alcançarem a salvação por meio de um ritual chamado Consolamentum.Desde o início de seu reinado, o papa Inocêncio III tentou usar de diplomacia para acabar com o catarismo, mas no ano de 1208, seu delegado Pierre de Castelnau foi assassinado quando voltava para Roma depois de pregar a fé católica no sul da França.Com a opção de enviar missionários católicos e juristas extinta, o papa Inocêncio III declarou Pierre de Castelnau um mártir e lançou a Cruzada dos Albigenses.

Origens

As crenças dos cátaros não são claras, mas a maioria das teorias concordam que se originaram no Império Bizantino principalmente através da rota de comércio e da propagação da Bulgária para a Holanda e Espanha (Catalunha). O nome búlgaros (Bougres) também foi aplicado aos albigenses, e eles mantiveram associação com o movimento cristão similar do bogomilos ("Amigos de Deus") da Trácia. "Que houve uma transmissão substancial de rituais e ideias do bogomilismo para o catarismo está além de qualquer dúvida razoável."Suas doutrinas têm inúmeras semelhanças com os dos bogomilos e mais cedo os paulicianos, assim como os maniqueístas e os cristãos gnósticos dos primeiros séculos depois de Cristo, embora, muitos estudiosos, principalmente Mark Gregory Pegg, têm apontado que seria errôneo extrapolar as conexões históricas diretas com base nas semelhanças teóricas percebidas pelos estudiosos modernos. São João Damasceno, escreveu no século VIII notas sobre uma seita anteriormente chamada de "Cátaros", em seu livro Sobre Heresias, título tirado do resumo fornecido por Epifânio de Salamis em seu Panarion, e diz: "Eles rejeitam aqueles que se casam pela segunda vez e rejeitam a possibilidade de penitência [isto é, o perdão dos pecados após o batismo]".

É provável que tenhamos apenas uma visão parcial de suas crenças, porque os escritos dos cátaros foram em grande parte destruídos por causa da ameaça doutrinária percebida pelo papado;muito do nosso conhecimento existente dos cátaros é derivado de textos de seus adversários. As conclusões sobre a ideologia dos cátaros continuam a ser ferozmente debatidas com comentaristas regularmente acusando seus adversários de especulação, distorção e preconceito. Existem alguns textos dos próprios cátaros que foram preservados por seus adversários (o Rituel Cathare de Lyon) que dá uma visão do funcionamento interno de sua fé, mas estes ainda deixam muitas perguntas sem resposta. Um grande texto que sobreviveu O Livro dos Dois Princípios (Liber de duobus principiis),elabora os princípios da teologia dualista a partir do ponto de vista de alguns dos albanenses cátaros.

É agora geralmente aceito pela maioria dos estudiosos que o catarismo histórico identificável não surgiu até pelo menos 1143, quando o primeiro relato confirmado de um grupo defendendo crenças similares é relatado ser ativo em Colónia pelo clérigo Eberwin de Steinfeld.Um marco na "história institucional" dos cátaros foi o Conselho de Saint-Félix, realizado em 1167 em Saint-Félix-Lauragais, com a presença de muitas figuras locais e também pelo "papa" do bogomilo, Nicetas, o bispo cátaro da França e um líder dos cátaros de Lombardia.

Crenças

Os cátaros, em geral, formavam um partido anti-sacerdotal em oposição à Igreja Católica, protestando contra o que consideravam ser a corrupção moral, espiritual e política da Igreja. G. K. Chesterton, autor inglês Católico-romano, afirmou: ".. o sistema medieval começou a ser quebrado em pedaços intelectualmente, muito antes de mostrar o menor indício de estar caindo aos pedaços moralmente. As enormes primeiras heresias, como os Albigenses, não tinham a menor desculpa de superioridade moral."

Relatos contemporâneos sugerem o contrário, no entanto. São Bernardo de Clairvaux, por exemplo, apesar de sua oposição aos cátaros, disse no Sermão 65 sobre o Cântico dos Cânticos:

Se você questionar a heresia sobre sua fé, nada é mais cristão; se sobre sua conversão diária, nada é mais inocente, e o que ele diz, ele provará por suas ações... No que diz respeito a sua vida e conduta, ele não engana a ninguém, não passa à frente de ninguém, não faz violência a ninguém. Além disso, suas faces são pálidas de jejum, ele não come o pão da preguiça, ele trabalha com suas mãos e, assim, faz sua vida. As mulheres estão deixando seus maridos, os homens estão deixando de lado suas esposas, e todos eles migram para a heresia! Clérigos e padres, o jovem e o adulto, entre eles, estão deixando suas congregações e igrejas, e são encontrados frequentemente na companhia de tecelões de ambos os sexos.

Quando o Bispo Fulk, um dos principais líderes das perseguições anti-cátaras, execrou um Cavaleiro de Languedoc por não perseguir os hereges com mais diligência, ele recebeu a resposta:

Nós não podemos. Fomos criados no meio deles. Temos parentes entre eles e vemos que levam uma vida de perfeição.


Sacramentos

Em contraste com a Igreja Católica, os cátaros tinham apenas um sacramento, o Consolamentum, ou Consolação, que envolvia uma breve cerimônia espiritual para remover todo o pecado do crente e empossar-lhe para o próximo nível superior como um perfeito ("parfait", em francês, ou "perfectus", em latim).Ao contrário da Penitência católica romana, o Consolamentum só poderia ser tomado apenas uma vez.

Assim, tem sido alegado que muitos crentes acabariam por receber o Consolamentum apenas quando a morte se aproximava, realizando o ritual de libertação num momento em que as obrigações pesadas de pureza exigidas para ser um perfectus seriam temporalmente curtas. Algumas das pessoas que receberam o consolamentum em seus leitos de morte podem, posteriormente, evitar comida ou bebida, a fim de acelerar a morte. Isso era chamado de endura.Alegou-se por alguns escritores católicos que, quando um dos cátaros, depois de receber o Consolamentum, começasse a mostrar sinais de recuperação, ele ou ela seria sufocada, a fim de garantir sua entrada no paraíso. Tais momentos de extremis têm pouca evidência para sugerir que essa era uma prática comum dos cátaros.

Os cátaros também recusavam o sacramento católico da Eucaristia dizendo que não poderia ser o corpo de Cristo. Eles também recusavam-se a participar da prática de Batismo pela água. As duas citações seguintes são retiradas do inquisitor católico Bernard Gui sobre as práticas e crenças dos cátaros:

Em seguida, eles atacam e insultam, por sua vez, todos os sacramentos da Igreja, especialmente o sacramento da Eucaristia, dizendo que ela não pode conter o corpo de Cristo, pois se mesmo que fosse tão grande quanto a maior das montanhas, os cristãos já o teriam consumido inteiramente. Afirmam que o hospedeiro vem da palha, que passa através da crina dos cavalos, a saber, quando a farinha é feita através de uma peneira (feita de crina de cavalo), para que do outro lado se torne seu corpo e chegar a um fim vil, o que, dizem, não poderia acontecer se Deus estivesse dentro dela.


Sobre o batismo, afirmam que a água é material e corruptível, portanto é criação do mal, não pode santificar a alma, mas os clérigos vendem essa água por avareza, da mesma forma que vendem a terra para o enterro dos mortos e o óleo para o doente para ungi-los e, assim também eles vendem a confissão dos pecados como fazem os sacerdotes.


Teologia

Alguns acreditam que a concepção cátara de Jesus se assemelhava ao monarquianismo modalista não-trinitário (Sabelianismo) no Ocidente e adocionismo no Oriente.

O biógrafo de Bernardo de Claraval e outras fontes acusam alguns cátaros de arianismo,e alguns estudiosos vêem a cristologia dos cátaros como tendo traços de raízes arianas anteriores.De acordo com alguns de seus inimigos contemporâneos, os cátaros não aceitavam a compreensão trinitária de Jesus, mas o consideravam a forma humana de um anjo semelhante à cristologia Docética.Zoé Oldenbourg (2000) compara os cátaros a "budistas ocidentais", porque ela considera que o ponto de vista que eles tinham da doutrina da "ressurreição" ensinada por Jesus foi, de fato, similar à doutrina budista da reencarnação. Os cátaros ensinavam que para recuperar o estatuto angelical a pessoa deveria renunciar completamente ao mundo material. Até que não estivesse preparado para fazê-lo, ele / ela estaria preso em um ciclo de reencarnação, condenado a viver na Terra corrompida.Os supostos textos sagrados dos cátaros, além do Novo Testamento, incluem O Evangelho da Ceia Secreta, ou o Interrogatório de João e O Livro dos dois Princípios.

Barbelo-gnósticos

Os assim chamados Barbelotas, Barbeliotas ou Barbelognósticos (cujo nome advém de Barbelos) foi o nome dado a um grupo gnóstico, reconhecido e narrado em seus textos pelo heresiologista e bispo de Lião, Irineu.até o ano de 1945, todavia a partir do mencionado ano, o termo barbelognósticos, passou a ser defendido e associado como um gênero a diversas escolas gnósticas dos grupos setianos, em virtude das descobertas da Biblioteca de Nag Hammadi.

Etimologia

Conforme Conchita Serrano, no livro 'Tes philies tade dora...', às pg 28 e 30, o termo "Barbelon (Barbilon, Barbelos, Barbelo, etc), tendo como origem o hebraico ('Bar B'lo"), significa "Filho de Deus" e foi uma designação empregada por Barbeliotas, Nicolaítas, Basilidianos, etc e assim como os nomes Abraxas, Balsamus, etc [...] Estes nomes não tinham apenas a unção iniciática de designar a divindade, senão também de transmitir ideias e doutrinas sobre os principais aspectos e sua relação com o homem e o cosmos..." Outro grupo igualmente chamado de Barbelitas, era o dos Nicolaítas todavia as práticas deste último evidenciam um rompimento com as tradições gnósticas e a alcunha talvez não seja meritória.

Segundo S. G. F. Brandon, em seu Diccionario de religiones comparadas, à pag 275, : "Barbelo-gnósticos era uma forma de gnosticismo, assim designada por por Irineu (ca. 130-200)... [...] ...De acordo com Irineu, Barbelo era um Espírito primário ou Virginal (Aeon, revelado pelo "Pai inominável". Barbelo encabeçava uma série de Eons que produziram a luz e, logo, ungiram o Pai com o Cristo. A origem da Barbelo é desconhecido, mas a idéia subjacente poderia ser a identificação da Alexandria Isis com Sophia (Sabedoria). No pleroma dos barbelo-gnósticos, Barbelo difere da Sophia, mas essas idéias relativas a um princípio original feminino, sem dúvida, dão vez ao conceito da Grande Deusa, que são representadas por Isis, Ishtar, Atargatis, Cibele, Astarte, Anahita, entre outras tantas manifestações. Irineu tomou seus dados a partir do texto grego do Livro Secreto de João; Barbelo aparece no Apócrifo de João, o Nag Hammadi, equiparado ao pensamento primordial ( Ennoia)." E, segundo Eugène de Faye, citado por José Ferrater Mora, no volume II de seu Diccionario de filosofia, à pag 1210, eles poderiam ser os assim chamados, Os "...adeptos da Grande Mãe, por admitirem existência de um princípio feminino ou Primeira Mulher, como terceiro princípio de uma tríade fundamental, que incluía como primeiro princípio, além disso, a Absoluto, Pai, Luz ou Primeiro Homem, ou o Filho do Homem."

Doutrina

Segundo eles, um Aeon imortal uniu-se sexualmente ao um espírito feminino chamado Barbeloth, a quem concedeu sucessivamente, presciência, incorruptibilidade e a vida eterna. Barbeloth assim criou a luz. Esta luz fora aperfeiçoada pela unção do Espírito Santo. Esta luz foi chamada de Cristo. Cristo foi dotado de inteligência, razão e a incorruptibilidade, com isto fora engendrado o Autógeno(ou O Grande Espírito Invisível); o Autógeno gerou Adamas, o homem perfeito, e sua esposa, o conhecimento perfeito; Adamas e sua esposa geraram a madeira; o primeiro anjo gerou o Espírito Santo, a sabedoria ou Prunie. Prunie, tendo tomado um esposo, engendrou o Protarchonte (Proto Arconte) ou primeiro príncipe, que era insolente e tolo; o Protarchonte gerou as criaturas. Com este conhecimento e sua arrogância, eles engendraram, carnalmente, vícios em todas as ramificações posteriores.

Assim Barbelotas ou Barbelognósticos eram aqueles que buscavam a Morada de Barbelos, também chamada de o "Oceano da Grande Luz". E o corpo carnal era chamado de a "Matéria de Barbelos". Eles buscavam a suprema sabedoria ou conhecimento, chamados de os "Mistérios da Região da Verdade" e Sofia, surgida de Pistis era igualmente filha de Barbelo.

"...Eu trouxe o Fogo e a Água do Lugar de Luz, o depósito de Luz, onde existe a Luz. E eu trouxe o vinho e o sangue da morada de Barbelos..."

Encratismo

Os Encratitas ("auto-controlados") eram uma seita cristã ascética do século II d.C. que proibia o casamento e que aconselhava a abstinência de carne. Eusébio afirma que Taciano era o criador desta heresia. Supõe-se que sejam estes os gnósticos encratitas que foram admoestados por Paulo em 1 Timóteo 4:1-4.

História

A primeira menção de uma seita cristã com este nome ocorre em Ireneu. Eles foram mencionados mais de uma vez por Clemente de Alexandria, que afirma que eles são assim chamados por sua "temperança". Hipólito se refere a eles como "reconhecendo o que é de Deus e de Cristo de maneira similar à Igreja. Porém, sobre seu estilo de vida, eles passam os dias inflados com orgulho."; "se abstendo de comida animal, bebendo apenas água e proibindo o casamento"; "estimados cínicos ao invés de cristãos". Baseando-se nestas afirmações, supõe-se que os encratitas fossem ortodoxos na doutrina e que eles erraram apenas na prática. Orígenes diz que eles não reconheciam as epístolas de Paulo.

Encratitas severianos

Um pouco depois desta época, a seita recebeu nova energia com a ascensão de um tal Severus, em cuja homenagem os encratitas muitas vezes são chamados de "severianos". Estes encratitas severianos aceitavam a Lei, os Profetas, os Evangelhos, mas rejeitavam os Atos dos Apóstolos e amaldiçoavam Paulo e suas epístolas. Porém, o relato dado por Epifânio sobre os severianos mostra uma tendência gnóstica siríaca ao invés de tendências judaicizantes. Em seu ódio ao casamento, eles chegaram a declarar que as mulheres seriam a obra de Satã, e por seu ódio aos intoxicantes, eles chamaram o vinho de "gotas de veneno da grande Serpente". Epifânio afirma ainda que estes encratitas eram muito numerosos na Ásia menor, em Pisídia, na Frígia, em Selêucia Isáuria, em Panfília, Cilícia e na Galácia. Em Antioquia e no restante da província romana da Síria eles também eram encontrados de forma esparsa. Eles se dividiram em diversas pequenas seitas, das quais os apostolici se destacaram por sua condenação à propriedade privada e os aquarii, que substituíam o vinho pela água durante a Eucaristia. Num édito em 382, Teodósio declarou a sentença de morte para todos os que tomassem o nome de encratitas e aquarianos, e ordenou que Florus, o magister officiarum, realizasse extensivas buscas por estes heréticos, considerados maniqueístas disfarçados.

Severianismo

Os Severianos foram uma subdivisão da seita gnóstica dos encratitas. Epifânio de Salamina propõe que o seu líder, Severus, é anterior à Tatiano (fundador do encratismo), mas Eusébio, Teodoreto e Jerônimo afirmam que ele foi sucessor de Tatiano. Os historiadores posteriores dão crédito aos últimos e o silêncio de Ireneu e Hipólito, autores anteriores, reforçam a tese da sucessão.

Severianos

Epifânio atribui ao grupo a crença no bem conhecido Arconte Yaldabaoth, que aparece no sistema ofita como a primeira criatura vinda do Bythos ("Profundidade") e da Ennoia (Sophia). Os severianos acreditavam que ele um grande governante e que dele teria se originado o Diabo que, uma vez lançado à terra na forma de uma serpente, produziu a vinha, cuja forma dos galhos seriam indicação de sua origem. E teria também criado a mulher e a metade de baixo do homem.

Justinianos (gnosticismo)

Justinianos seriam, segundo alguns autores, os seguidores de uma escola gnóstica que teria existido no século II, criada e orientada por Justino, o Gnóstico.

Segundo Hipólito de Roma Justino propagou sua doutrina secretamente vinculando seus discípulos por juramentos solenes.

Lectorium Rosicrucianum

O Lectorium Rosicrucianum (ou Escola Espiritual da Rosacruz Áurea) fundamenta-se no cristianismo gnóstico e possui fortes influências do catarismo e do hermetismo. Divulga a possibilidade da libertação da roda da vida e da morte por meio de um processo de purificação e subsequente transfiguração - a qual se inicia com a revivificação da centelha divina adormecida no coração dos homens.

O Lectorium Rosicrucianum tem sede em Haarlem, Holanda, e possui núcleos em diversos países da Europa, América do Sul e do Norte, África e Oceania. No Brasil, existem diversos Centros de Conferência, Núcleos e salas de contato, que realizam semanalmente atividades abertas para o público em geral, onde a filosofia dessa Escola é apresentada.

História

O Lectorium Rosicrucianum começou a se estruturar em Haarlem, Holanda, em 1924, através do trabalho de J. van Rijckenborgh (pseudônimo de Jan Leene) e Z.W. Leene, quando esses dois irmãos entraram para a Sociedade Rosacruz (Het Rozekruisers Genootschap), divisão holandesa do grupo americano The Rosicrucian Fellowship, fundado entre 1909 e 1911 por Max Heindel.

Em 1929, os irmãos Leene se tornaram dirigentes do grupo holandês e em 1930 a sra. Catharose de Petri (pseudônimo de H. Stok-Huizer) se uniu ao grupo. Em 1935 o grupo holandês se tornou independente da Rosicrucian Fellowship. Em 1938, Z.W. Leene faleceu, mas J. van Rijckenborgh e Catharose de Petri continuaram o trabalho juntos.

Durante a Segunda Guerra Mundial, as forças de ocupação nazista proibiram as atividades da Sociedade Rosacruz, que só puderam ser retomadas publicamente após o término da guerra. A partir de então, com a publicação do livro Dei Gloria Intacta, o movimento passou a se denominar Lectorium Rosicrucianum, ou Escola Internacional da Rosacruz Áurea, procurando frisar cada vez mais o aspecto gnóstico de seu ensinamento. O Lectorium Rosicrucianum considera-se continuador do trabalho de fraternidades como a dos Maniqueus e a dos Cátaros, além da própria Rosa-cruz Clássica, do século XVII.

Desde 1945, o grupo se expandiu por vários países da Europa, América, Oceania e África, além de publicar inúmeros livros, muitos dos quais com comentários sobre antigos textos da sabedoria universal, como os Manifestos Rosacruzes do Século XVII, o Corpus Hermeticum (textos atribuídos a Hermes Trismegisto), o Evangelho Gnóstico da Pistis Sophia, o Tao Te King, entre outros.

A partir da morte de J. van Rijckenborgh em 1968, o Lectorium Rosicrucianum passou a ser dirigido por um colegiado de dirigentes, uma Direção Espiritual Internacional organizado por Catharose de Petri. Desde 1990, com a morte desta, sua direção continuou a cargo de uma Direção Espiritual Internacional, auxiliada por direções nacionais e grupos de trabalho.

Ensinamentos

Alguns pontos importantes de seus ensinamentos são:

Existem duas ordens de natureza. O mundo transitório, onde tudo está sujeito a uma transformação constante, e o reino imutável.

Existe uma centelha divina adormecida no coração humano, chamada pelos rosa-cruzes de rosa do coração ou átomo centelha do espírito.

O homem é um microcosmo ou “pequeno mundo”, do qual o corpo físico é apenas um aspecto. Em seu centro, encontra-se a centelha divina. O microcosmo é de origem divina e eterno, mas devido a um acidente cósmico denominado "queda" em antigos mitos, ele encontra-se mutilado e preso à matéria.

O microcosmo pode conquistar completa libertação da “roda da vida e da morte” que é a existência no mundo transitório, por meio da revivificação da centelha divina que se encontra em seu centro. Isso é iniciado mediante a compreensão da natureza transitória de todas as coisas nesse mundo pela personalidade, que, com base nessa compreensão, abre espaço para que o microcosmo siga o "caminho de retorno" à sua condição divina.

As escrituras sagradas, inclusive a Bíblia e mais particulamente os Evangelhos, são representações simbólicas desse processo espiritual de libertação que será vivenciado por todos os homens - portanto, não devem ser compreendidas como meros relatos históricos.

As duas ordens de natureza

A ordem em que vivemos atualmente é uma ordem de emergência, uma morada transitória. Ela inclui tanto o mundo dos vivos quanto o reino dos mortos. Tudo nesta natureza está sujeito ao ciclo do nascer, crescer, envelhecer, morrer e renascer. A outra ordem é o mundo da eternidade, o Reino dos Céus. Os homens estão ligados a esse reino por meio da centelha divina, ou botão de rosa, latente no coração do homem como um último vestígio de uma glória perdida. Esse princípio faz surgir nos pesquisadores um anseio indefinido, uma vaga recordação de um estado original perdido, de um estado de ser unido a Deus no reino da imortalidade.

O despertar do Cristo interno

No homem que possui em seu coração um botão de rosa ativo, surge o anseio de retornar à ordem divina original. O Lectorium Rosicrucianum ensina que isso só pode ser realizado através do processo de "renascimento da água e do Espírito". Esse renascimento ou "transfiguração" é um processo em que a velha natureza do homem, sua consciência eu, "morre diariamente", para dar lugar à natureza divina: o Cristo interno, que retorna à vida.

O homem como microcosmo

O ser humano é visto como um microcosmo, um pequeno mundo: um "campo magnético" limitado por um "firmamento microcósmico" ou "lípika", que contém dentro de si a personalidade. A personalidade não consiste apenas do corpo físico visível, mas também de três corpos invisíveis, o corpo etérico, o corpo astral e o corpo mental.

O caminho da Transfiguração

O caminho da transfiguração pode ser dividido em 5 fases:

Compreender o atual estado de queda do ser humano e da natureza (adquirir discernimento e auto-conhecimento).
Desejar a salvação, o retorno à condição divina.
Permitir que a natureza egocêntrica seja substituída por uma nova natureza, divina.
Adotar um novo comportamento ou atitude de vida, sob a direção da centelha divina.
Por fim, despertar conscientemente para uma condição de vida absolutamente nova.

Livros publicados em português

De autoria de J. van Rijckenborgh

O Chamado da Fraternidade da Rosacruz (análise esotérica da Fama Fraternitatis R.C., um manifesto dos rosacruzes do século XVII, publicado em 1614)
A Confissão da Fraternidade da Rosacruz (análise esotérica da Confessio Fraternitatis R.C., um manifesto dos rosacruzes do século XVII, publicado em 1615)
As núpcias alquímicas de Christian Rosenkreuz (Obra em dois tomos - análise esotérica do texto rosacruz publicado em 1616)
Christianopolis (comentários sobre a obra de Johann Valentin Andreae)
A arquignosis egípcia (Obra em quatro tomos - baseada na Tabula Smaragdina e no Corpus Hermeticum de Hermes Trismegisto)
Os mistérios gnósticos da Pistis Sophia (Comentários do Livro I da Pistis Sophia)
A Gnosis em sua atual manifestação
A Luz do mundo
O mistério iniciático cristão - Dei gloria intacta
Desmascaramento
Filosofia elementar da Rosacruz moderna
Não há espaço vazio
O advento do novo homem
O mistério das bem-aventuranças
O novo sinal
O Nuctemeron de Apolônio de Tiana
Um novo chamado
O remédio universal

De autoria de Catharose de Petri

Transfiguração
O selo da renovação
Sete vozes falam
Verbo vivente

De autoria de J. van Rijckenborgh e Catharose de Peti

A Gnosis Chinesa (comentários sobre os 33 primeiros aforismos do Tao Te King)
A Fraternidade de Shamballa
O caminho universal
A Gnosis universal
A grande revolução
Reveille

De outros autores

O livro de Mirdad (Mikhail Naimy)
No caminho do Santo Graal (Antonin Gadal)
Algumas palavras do mais profundo do ser (Karl von Eckartshausen)
Do castigo da alma (atribuído a Hermes Trismegistus)
O Livro secreto de João (texto original e comentários)
O conhecimento que ilumina (texto original e comentários do Evangelho da Verdade e do Evangelho de Maria)
Gnosis, religião interior
Os animais dos mistérios
O evangelho dos doze santos

Mandeísmo

O mandeísmo é uma religião étnica classificada por estudiosos como gnóstica.

Os mandeístas ou mandeus são assim classificados devido à etimologia da palavra manda em mandeu: conhecimento, que é a mesma palavra gnosis em grego.É considerada uma das religiões gnósticas remanescentes até os dias atuais, junto com o pseudognosticismo de Samael Aun Weor (que alguns segmentos gnósticos rejeitam por não considerar o mundo como obra de um deus maligno). Os mandeístas, assim como Samael Aun Weor e Clemente de Alexandria, não consideram o mundo material como sendo maligno, não rejeitam o casamento, nem a procriação.

Os mandeístas veneram João Baptista como o Messias e praticam o ritual do batismo.

Possuem cerca de 100 mil adeptos em todo o mundo, principalmente no Iraque.

A religião mandeísta tem uma visão dualística mais estrita que a maioria dos gnósticos. Ao invés de um grande pleroma, existe uma clara divisão entre luz e trevas. O senhor das trevas é chamado de Ptahil (semelhante ao Demiurgo gnóstico) e o gerador da luz (Deus) é conhecido como "a grande primeira Vida dos mundos da luz, o sublime que permanece acima de todos os mundos". Quando esse ser emanou, outros seres espirituais se corromperam, e eles e seu senhor Ptahil criaram o nosso mundo.

A escritura mandeísta mais importante é o Ginza Rba, juntamente com o Qolastā. A linguagem usada por eles é o mandeu, uma subespécie do aramaico.

Existe forte controvérsia sobre sua origem, se seria de fato pré-cristãos, contemporâneos de João Batista ou tem origem mesopotâmica.

Marcionismo

História

Foi estabelecida por Marcião de Sinope (110-160), filho de um bispo. Propagou-se na Ásia Menor e na antiga Roma, em comunidades que se multiplicaram e constituíram uma vasta rede na bacia do Mediterrâneo. Foi considerada herética e Marcião excomungado em 144.

Características

De características gnósticas, tinha base no cristianismo ligado à tradição paulina. Simplificou as cerimónias dos primeiros cristãos, praticando uma moral severa, com interdição ao casamento, jejuns rigorosos, preparação para o martírio e fraternidade austera.

O seu corpo doutrinário partia da oposição entre Justiça e Amor, Lei e Evangelho. Rejeitava o Antigo Testamento como ultrapassado, anunciando um cristianismo autêntico baseado na contradição entre dois deuses:

O Deus da Lei, o Demiurgo, que seria o deus do Velho Testamento; e o Deus do Amor, como revelado por Jesus Cristo.

Marcião acreditava no mesmo dualismo que os gnósticos a respeito do mundo material, no sentido que a matéria é antagônica do bem e que, portanto, o deus criador do ser humano, o “demiurgo”, é limitado e mau, pelo que sua criação material também deveria ser má. Todavia, é importante ressaltarmos que Marcião não era gnóstico, embora certamente tenha tido contato com as ideias gnósticas. Pelo sistema de Marcião, o ser humano era criação do Deus da Lei, o deus do Velho Testamento judaico, severo e cheio de ira. Este Deus concedeu ao ser humano uma lei impossível de cumprir e, por isso, o ser humano viveria sob uma maldição.

Mas o Deus Primeiro da Bondade, o Ser Primeiro, tivera piedade do ser humano e mandara seu filho, Jesus Cristo, para salvar a humanidade. Essa manifestação do Deus Primeiro seria um Cristo docético, não feito de carne e sangue, mas puramente espírito, não estando submetido ao nascimento ou a morte. Ele se vestira com a forma de um homem de 33 anos de idade, que o demiurgo fez com que fosse crucificado - por causa disso, seguindo o destino do Salvador, os cristão deveriam sofrer perseguições para merecerem a libertação no fim dos tempos, quando o deus do Amor finalmente os libertaria da ferocidade da Lei e da Matéria.

Porém, Cristo uma vez tendo ressuscitado acusou o demiurgo de agir contra sua própria lei e, por causa disso, o demiurgo foi obrigado a entregar ao Deus Bom as almas dos redimidos que tinham morrido. Com a finalidade de atrair estes bons para si, o Deus Bom criou Paulo, o único que entendia a doutrina tanto do Deus do Amor quanto do Deus da Lei, sendo também o único que compreendia a antítese entre o Velho Testamento e o Novo Testamento e entre o Deus da Lei e o Deus do Amor.

Alguns chegaram a julgar que os marcionistas eram antissemitas. A palavra marcionismo é mesmo por vezes usada para referir as tendências antijudaicas nas igrejas cristãs. A razão para este ressentimento contra os judeus tem a ver com o contexto em que surgiu. Em Roma, naquele tempo, os romanos lembravam-se ainda das guerras romano-judaicas - a primeira entre 66 e 73, que levou à queda do segundo Templo; a segunda sendo a revolta de Kitos (115-117) e a terceira (132-135) a de Simão bar Kokhba. Consequentemente, os judeus eram muito impopulares, muitos eram escravos no Império Romano e eram inclusive atirados aos leões no Coliseu de Roma.

Antigo e Novo Testamento

A sua teologia propunha assim dois deuses distintos, um no Antigo Testamento e outro no Novo Testamento, e foi denunciada pelos Pais da Igreja pelo que foi excomungado.

Curiosamente esta separação será posteriormente adoptada pela igreja e utilizada a partir de Tertuliano  que aliás tinha escrito o célebre Contra Marcião de onde se pôde reconstruir grande parte do chamado Evangelho do Senhor escrito por Marcião.

Evangelho de Marcião

O Evangelho de Marcião, chamado por seus seguidores de Evangelho do Senhor, foi um texto utilizado na metade do século II d.C. pelo professor cristão Marcião, como alternativa única aos demais Evangelhos. O que se pôde reconstruir dele aparece agora entre os apócrifos do Novo Testamento. Foram muitos os apologistas católicos romanos que escreveram tratados a combater Marcião após a sua morte, como o do notório tratado de Tertuliano, Contra Marcião, a partir do qual foi possível reconstruir quase todo o "Evangelho do Senhor" de Marcião.

Marcião, que é conhecido apenas através de seus críticos, foi considerado herético por suas doutrinas, pelo que foi excumungado, mas curiosamente esta sua separação entre Antigo e Novo testamento, será posteriormente adoptada pela igreja e utilizada a partir de Tertuliano.

Relação com o Evangelho de Lucas

Há duas possíveis relações entre o Evangelho de Marcião e o Evangelho de Lucas.

Marcião como um revisionista de Lucas

Os Padres da Igreja escreveram, e a maioria dos estudiosos modernos concorda, que Marcião editou Lucas para que se conformasse com a sua teologia, o marcionismo. O autor do século II Tertuliano escreveu que Marcião "...expurgou [do Evangelho de Lucas] todas as coisas que se opunham ao seu ponto de vista... mas manteve todas as que estavam em acordo com a sua opinião". Este ponto de vista é consistente com a forma como ele alterou outros livros em seu reduzido cânon, como nas epístolas paulinas, e parece provável uma vez que o Evangelho de Lucas já estava completo no tempo de Marcião.

Neste evangelho, Marcião eliminou os dois primeiros capítulos sobre a natividade de Jesus, começando já em Cafarnaum, e fez modificações no resto conforme o marcionismo. As diferenças entre os textos abaixo iluminam o ponto de vista marcionista de que, primeiro, Jesus não seguiu os profetas e, segundo, que a terra é maligna.

Lucas

«Disse-lhes Jesus: Ó néscios, e tardos de coração para crerdes em tudo o que os profetas disseram!» (Lucas 24:25)

«Começaram a acusá-lo, dizendo: Achamos este homem pervertendo a nossa nação...» (Lucas 23:2)

«Naquela hora exultou Jesus no Espírito Santo, e exclamou: Graças te dou a ti, Pai, Senhor do céu e da terra...» (Lucas 10:21)

Marcião

Disse-lhes Jesus: Ó néscios, e tardos de coração para crerdes em tudo o que eu disse!

Começaram a acusá-lo, dizendo: Achamos este homem pervertendo a nossa nação...e destruindo a Lei e os Profetas.

Naquela hora exultou Jesus no Espírito Santo, e exclamou: Graças te dou a ti, Pai, Senhor Celestial...

Marcião sendo anterior à Lucas

Em 1881, Charles B Waite sugeriu que o Evangelho de Marcião poderia ter precedido o de Lucas. John Knox (não o famoso reformador escocês John Knox), em Marcion and the New Testament, também defende esta hipótese. Como exemplo de uma evidência que poderia apoiar este ponto de vista, compare Lucas 5:39 - onde se afirma que o velho é melhor - com Lucas 5:36-38 - que afirma o inverso. No livro de 2006, "Marcion and Luke-Acts: a defining struggle", Joseph B. Tyson defende que não apenas Lucas, mas também os Atos dos Apóstolos seriam uma resposta à Marcião ao invés de o Evangelho de Marcião ser uma montagem sobre o de Lucas.

Justificativas

O teólogo Adolf von Harnack - em acordo com a visão tradicional de Marcião como um revisionista - discute as razões destas alterações em Lucas. De acordo com ele, Marcião acreditava que só poderia haver um único evangelho verdadeiro, sendo todos os demais falsificações feitas por elementos pró-judaicos, determinados a manter a veneração a YHWH. Ademais, ele acreditava que o verdadeiro evangelho fora dado diretamente à Paulo pelo próprio Cristo, mas foi depois corrompido por estes mesmos elementos, que também corromperam as epístolas paulinas. Ele entendia que a atribuição deste evangelho à "Lucas" como sendo outra falsificação. Marcião, portanto, iniciou o que ele entendia como uma restauração do evangelho original como fora dado à Paulo.

Von Harnack escreveu:

Para esta missão, ele não recorreu à revelação divina, à nenhuma instrução especial e nem à nenhuma ajuda pneumática [...] Daí decorre imediatamente que para a sua purificação do texto - e geralmente se esquece isto - ele não alegou, e nem poderia, certeza absoluta.

Movimento Gnóstico Cristão Universal

Movimento Gnóstico Cristão Universal (ou simplesmente Movimento Gnóstico) é o nome de uma escola fundada por Samael Aun Weor na qual se estudava a doutrina gnóstica, para divulgar suas ideias em benefício da humanidade. Esta escola foi organizada e transformada por Joaquin Enrique Amortegui Valbuena, também conhecido como Rabolu ,de acordo com as ordens manifestadas em documentos pelo fundador desta instituição.

Neognosticismo

Neognosticismo é o termo usado para se referir às religiões e seitas místicas que surgiram com o renascimento das idéias gnósticas no século XIX, especialmente devido ao livro Pistis Sophia, que teria sido ditado por Jesus, cuja manuscrito foi adquirido pelo Museu Britânico em 1795. Neognóstico também se refere a todo e qualquer buscador moderno do conhecimento arcano e praticante das Artes que visam à consecução da gnose (conhecimenno interno e metafísico) do verdadeiro Eu Superior individual.

Muitos ocultistas modernos estudaram o gnosticismo e basearam suas concepções e práticas nele, como por exemplo, Aleister Crowley , Arnold Krumm-Heller e Samael Aun Weor etc.

Naassenos

Os naassenos ou naasseni (do hebraico נָחָשׁ naḥash ou naas, "serpente") eram os membros de uma seita gnóstica cristã surgida por volta do ano 100 d.C. Os naassenos alegavam que suas doutrinas lhes haviam sido passadas por Mariamne, uma discípula de Tiago, o Justo.

É possível que o nome seja um portmanteau de "nasoreano" (notzrim) e "essênios" e a retenção da forma hebraica mostra que suas crenças podem representar os primeiros estágios do gnosticismo. Os naassenos, os setianos, os mandeanos, os peratas e os borboritas são considerados como seitas Ofitas. Porém, Hipólito os considera entre os primeiros a serem chamados simplesmente de "'gnósticos', alegando que somente eles teriam atingido as profundezas do conhecimento."

A narrativa naassena

Os naassenos tinham um ou mais livros a partir dos quais Hipólito de Roma cita em sua Philosophumena e que supostamente continham os discursos comunicados por Tiago, irmão de Jesus, à Mariamne. Eles continham tratados de natureza mística, filosófica, devocional e exegética, em vez de uma exposição cosmológica.

O autor (ou autores) é possivelmente de língua grega. Ele de fato se utiliza das palavras hebraicas naas e caulacau, mas elas já tinham passado para o vocabulário comum gnóstico a ponto de já serem conhecidas inclusive pelos que não sabiam hebraico. Ele mostra grande conhecimento das religiões de mistério das várias nações da época, algo que poderia ser realizado também em Roma, sem nunca deixar a cidade.

Primeiro homem

Os naassenos estão em acordo com os outros Ofitas em chamar o primeiro princípio de "Primeiro Homem" e "Filho do Homem", chamando-o em seus hinos de Adamas (Adão):

O Primeiro Homem (Protanthropos): o ser fundamental antes de sua diferenciação em indivíduos.

O Filho do Homem: o mesmo ser após a individualização em coisas reais e, portanto, já afundado na matéria.

Em vez de, porém, reter o princípio feminino dos ofitas da Síria (província romana), eles representaram o "Homem" como andrógino e, da[o, um dos hinos segue "De ti [vem] Pai e através de ti [vem] Mãe, dois nomes imortais, progenitores de aeons, Ó habitante dos céus, Homem ilustre".

Embora os mitos de um sistema ofita anterior quase não são citados, há um traço de conhecimento dele quando, por exemplo, o mito afirma que Adão surgiu da terra espontaneamente e ali ficou deitado sem respirar, sem se mover, como uma estátua, tendo sido feito à imagem do Primeiro Homem através da obra de diversos arcontes. Como forma de aprisionar o Primeiro Homem, uma alma foi dada à Adão e através dela a imagem do Primeiro Homem superior pôde então sofrer e ser disciplinada em servidão.

Três classes

Os naassenos também ensinavam que este Primeiro Homem era, como Gerion, triplo, contendo em si as três naturezas to noeron ("racional"), to psychikon ("psíquica") e to choikon ("terrena", "mundana"). Declararam que "o princípio da Perfeição é a gnosis do Homem, mas a gnosis de Deus é a Perfeição absoluta". Que em Jesus as três naturezas se combinaram e através dele falaram às diversas classes de homens. E toda humanidade estava dividida entre os "eleitos", os "chamados" e os "cativos", cada qual ligado respectivamente à uma das naturezas, sendo que a mais alta era a ligada ao racional, o conhecimento, a gnosis.

Assim as três classe de homens (e as três igrejas correspondentes) eram:

Material (os "Cativos") - os pagãos, cativos no domínio da matéria.
Psíquica (os "Chamados") - os cristãos ordinários, não iniciados.
Espiritual (os "Eleitos") - os membros da seita, familiares com o conhecimento secreto.

Relações sexuais

Para os Naassenos, a relação sexual com uma mulher é algo terrivelmente maligno e uma prática desprezível. Segundo Hipólito:

Isto, ele diz, é o oceano, geração de deuses e geração de homens sempre rondado pelos turbilhões da água, ora correndo para o alto, ora para baixo. Mas ele diz que a geração de homens ocorre quando o oceano corre para baixo, mas quando corre para cima, para a muralha e fortaleza e o penhasco de Luecas, uma geração de deuses ocorre. Isto, ele afirma, é que estava escrito: Eu disse, vocês são deuses e todos filhos do altíssimo; Se vocês se esforçam para fugir do Egito, através do Mar Vermelho em direção ao deserto, ou seja, da relação sexual terrena para a Jerusalém no alo, que é aão dos viventes. Se, porém, novamente você retorna para o Egito, ou seja, para a relação sexual terrena, irá morrer como homem. Pois mortal, ele diz, é toda geração que ocorre abaixo, mas o imortal é gerado acima, pois é nascido da água apenas, e do espírito, sendo espiritual e não carnal. Mas o que nasce abaixo é carnal, ou seja, diz ele, o que está escrito. Aquele que é nascido da carne, é carne, e o que nasceu do espírito é espírito (João 3:6). Isto, de acordo com eles [os naassenos], é a geração espiritual. Isto, ele diz, é o grande Jordão [de Josué 3:7-17] que, correndo (aqui) para baixo, impedindo assim os filhos de Israel de deixarem o Egito - as relações sexuais, pois o Egito é o corpo - Jesus inverteu e o fez correr para cima.
  — Philosophumena V, 2, Hipólito de Roma

Hipólito afirma ainda que os versos de Paulo em Romanos 1:27 contém a chave para todo o sistema naasseno. "Do mesmo modo também os homens, deixando o uso natural da mulher, inflamaram-se em sua concupiscência uns para com os outros, cometendo homens com homens a torpeza" - agora a expressão do que é "torpe" significa, segundo estes naassenos, a primeira e mais abençoada substância, sem forma, a causa de todas as formas das coisas que são moldadas em formatos - "..., e recebendo em si mesmos a devida recompensa do seu desvario".

É certamente possível que os naassenos percebessem a homossexualidade como um exemplo do conceito de androginia. Carl Jung afirmou: "... tal disposição não deve ser julgada como negativa em todas as circunstâncias, desde que ela preserve o arquétipo do Homem Original, que um ser com apenas um gênero sexual, até certo ponto, perdeu." Porém, como evidência de qualquer ato "torpe", Hipólito lamenta que, de toda forma, "...eles não foram emasculados e, ainda assim, eles agem como se tivessem sido".

Exegese

O autor se utiliza livremente do Novo Testamento. Ele parece ter usado todos os quatro Evangelhos, sendo que o mais utilizado foi o de João. Ele também cita as epístolas paulinas de Romanos, I Coríntios e II Coríntios, Gálatas e Efésios. O Antigo Testamento também é utilizado copiosamente, assim como o Evangelho dos Egípcios e o Evangelho de Tomé, obras apócrifas. Porém, o que é mais característico é o uso abundante de escritos pagãos, uma vez que o método exegético do autor permite que ele encontre seu sistema em Homero com a mesma facilidade que ele o faz na Bíblia.

A serpente

Novamente citando Hipólito:

E que para ela apenas - ou seja, Naas - é dedicado cada um dos templos, todos os ritos iniciatórios e todos os mistérios. E, em geral, que uma cerimônia religiosa não pode ser descoberta sob o céu em que um templo (Naos) não exista e que o templo em si é Naas, de quem ele recebeu a sua denominação de templo (Naos). E eles afirma que a serpente é uma substância úmida, como Tales também, o milesiano, [falou de água como um princípio originador,] e que nada do que existe, mortal ou imortal, animado ou inanimado, poderia existir sem ela. E que todas as coisas estão sujeitas a ela e que ela é boa e que ela tem todas as coisas em si, como no único chifre de um touro com um chifre só. Desta forma, ela atribui beleza e para tudo o que existe de acordo com sua natureza e peculiaridade, como se passando através de tudo, exatamente como [o rio] nascendo do Éden e se dividindo em quatro cabeças.
— Philosophumena v. 2, Hipólito de Roma

Éden

O Jardim do Éden no sistema naasseno é o cérebro e o Paraíso, a cabeça humana, com cada um dos quatro rios (veja Gênesis 2:10 em diante) tendo um significado especial:

Pisom = Olhos, pois por sua honra entre os demais orgãos e por suas cores, dá testemunho ao que é dito.

Giom = Audição, pois é um rio tortuoso, lembrando uma espécie de labirinto.

Tigre = Respiração e Olfato, empregando a veloz corrente do rio (como analogia do sentido). Mas ele corre contra o país dos assírios, pois em cada ato de respiração seguido de expiração, o folêgo capturado da atmosfera exterior entra com um movimento mais rápido e com mais força. Pois esta, ele diz, é a natureza da respiração.

Eufrates = Boca, através da qual passa a oração para fora e, para dentro, a alimentação. A boca faz feliz, cultiva e forma o Homem Perfeito Espiritual.

Livros

O Fragmento Naasseno (citado por Hipólito como um sumário do sistema naasseno inteiro)
O Evangelho da Perfeição
O Evangelho de Eva
As questões de Maria
Sobre os filhos de Maria
O Evangelho de Filipe (diferente do Evangelho de Filipe da Biblioteca de Nag Hammadi)
O Evangelho de Tomé

O Evangelho Grego dos Egípcios

Peratas (gnosticismo)

Os Peratas ou Peratae (em grego: Περατής, "caminho", "travessia"; πέρας, "aprofundar-se") foram gnósticos de uma seita do século 2 dC. O "Philosophumena" de "Hipólito" é a nossa única fonte real de informação sobre a sua origem e crenças. Os fundadores dessa escola foi um certo Eufrates (a quem Orígenes atribui a fundação de uma outra seita, a dos Ofitas e a quem Celso se refere nas proximidades de 175 dC) e em outros textos o fundador é mencionado como "Ademes", também chamado de "Celbes" (Kelbs) e "Acembes" (Akembes). Constituíram uma Sociedade Iniciática, uma Escola de Mistérios e pregavam em sua doutrina, entre outros estudos, a Ressurreição Iniciática, a exemplo dos Nazarenos, dos Pitagóricos, dos Setianos, dos Valentinianos, dos Justinianos, etc.

Introdução

Eles tiveram suas atividades registradas por volta dos idos de 150 d.C. Suas atividades, a princípio reservaram-se à ilha de Éubeia. Eram conhecidos de Clemente de Alexandria, que faz referência a uma seita de mesmo nome, embora não diga nada a respeito de seus princípios. Hipólito, por sua vez, estava familiarizado com alguns de seus livros e escritos. Um destes tinha o nome de "Oi Proasteioi", cujo conteúdo parecia versar sobre astrologia, tratando da influência dos astros sobre a raça humana, e estabelecia uma conexão de vários deuses da mitologia com as influências e características planetárias. Havia, além deste, um tratado que se assemelhava à doutrina dos Naassenos.

Doutrina

De acordo com os Peratas, o cosmos é um só, mas também consiste em uma divisão tríplice; a dinâmica do cosmos eles simbolizavam por um círculo que circunscreve um triângulo. O círculo denota a unidade e a unicidade do cosmos, enquanto o triângulo representado a trindade dos "Três Mundos", do "Pai", do "Filho" e do "Espírito Santo" (ou Patēr, Huios, Hulē [Greek: πατηρ, ὕιος, ὕλη]). Estes "três Mundos" ou "três deuses", como eram chamados, possuía, cada um, certas características:

Pater (Pai) - a bondade perfeita e não gerada; megethos patrikon [A grandeza paternal] Huios (filho) - agathon autogenes [a bondade auto-gerada / A perfeição] Hule (Espírito Santo) - matéria básica [primordial] ou substância sem forma, gennēton [O gerado/criado]

Nesta concepção do cosmos, o "Filho" classifica-se como um intermediário entre a fonte perene de toda a existência (o Pai) e o caos, ainda informe, da Matéria. O Filho, como a Palavra [λογος] é representado por uma serpente em constante transformação, primeiro submete-se ao Pai, adquirindo os poderes divinos (ou ideias, formas), e depois dirige-se a Hule (o Espírito Santo), despejando os poderes sobre ele. É desta forma que Hule tome forma e se transforma em realidade material, o sensível cosmos, assim, espelha o divino, uma noética da qual recebe a sua existência. Este processo é semelhante a várias outras concepções cosmogônicas do mundo antigo (especialmente aquelas encontradas no estoicismo (Física estóica), platonismo (ver também Teoria das ideias de Platão), neoplatonismo, hermetismo e o aristotélico hilemorfismo).

A concepção Perata do cosmos foi usada para explicar determinados versículos bíblicos. Por exemplo, quando Jesus diz: "Seu Pai que está no céu", eles eles entenderam que ao dizer Pater, ele referia-se ao pai celestial, o primeiro princípio, a partir do qual as formas foram derivadas. Mas, quando ele diz: "...seu Pai. Ele foi assassino desde o princípio", (João 8:44) ele queria dizer o governante e criador do Hule, que, tendo manifestando-se através do Filho, trabalha a geração no cosmos material, uma obra que é destruição e morte (porque da natureza transitória o mundo se transforma).

A redenção

Pois para a redenção deste mundo inferior, foi que Cristo desceu nos dias de Herodes, a partir da região do não-gerado, como sendo ele o próprio tríplice-homem, tendo em si mesmo incorporadas as três partes do mundo, "pois nele todo o Pleroma havia se estabelecido corporalmente", e nele estava toda a Divindade. Sua missão era a de preparar os elementos que desceram do alto, para que ao alto pudessem retornar, enquanto que os elementos que conspirassem contra os "Céus" ficariam à deriva, aguardando sua punição.

Segundo Lucas:

«o Filho do Homem não veio para destruir o mundo, mas para que o mundo através dele pudesse ser salvo» (Lucas 9:56)

De "o mundo" se entende as duas partes superiores, a "agenneton" (não gerada) e a "autogenneton" (auto-gerada).

Segundo a Primeira Epístola aos Coríntios:

«...para não sermos condenados com o mundo.» (I Coríntios 11:31-32)

"O mundo" seria uma referência à terça parte ou ao kosmos idikos; pois esta deve ser destruída enquanto as duas outras, superiores, serão livradas da destruição.

Quando, então, o Salvador se apresenta, assim como o âmbar atrai a palha e o imã, o ferro, da mesma forma esta serpente atrai para si aqueles cuja natureza é capaz de receber sua influência. Tais pessoas são chamadas de peratae pois, por meio de sua gnosis ("conhecimento") aprenderam como superar de forma segura através (perasai) a corrupação à qual tudo o que é criado está sujeito.

Fisiologia

Todos os ignorantes são egípcios. Egito é o corpo, saindo do Egito é o mesmo que sair do corpo, e atravessando o Mar Vermelho, que é a água da destruição, ou, em outras palavras, a geração. Aqueles, porém, que supõem-se ter passado o Mar Vermelho, ainda são passíveis de serem atacados pelos deuses da destruição, a quem Moisés chamou as serpentes do deserto, que picam e destroem aqueles que tinham a esperança de escapar do poder dos deuses de geração. Para estes Moisés exibiu a verdadeira e perfeita serpente, aos que acreditavam que não seriam picados pelos deuses da destruição. Nenhuma outra, mas esta verdadeira serpente, o perfeito do perfeito, pode salvar e libertar aqueles que saem do Egito, isto é, do corpo e do mundo.

É-nos dada a introspecção adicional por Hipólito em que G.R.S. Mead chama de "processo psico-fisiológico analógico no homem":

Para uma prova disso, ele apresentou a anatomia do cérebro, assimilando, a partir do fato de sua imobilidade, o próprio cérebro como sendo o Pai, e ocerebelo o Filho, por causa de sua mobilidade e da forma de apresentar-se com se (a cabeça de) uma serpente. Alegou ele que ele (o cerebelo), por um processo inefável e imperscrutável, atrai através da glândula pineal a substância espiritual e vivificante que emana da câmara abobadada (em que o cérebro está incorporado). E ao receber esta, o cerebelo de uma maneira inefável transmite as idéias, assim como o Filho o faz, com a matéria, ou, em outras palavras, as sementes e os gêneros das coisas produzidas segundo a carne fluírem ao longo e dentro da mesma medula espinhal. Empregando este exemplo, (os hereges) parecem apresentar habilmente seus mistérios secretos, que são entregues em silêncio.

Origens

Eufrates

Hipólito,seguido por Teodoreto,[8] fala do Peratae como fundada por Eufrates o "Perata", e Acembes o Caristiano. Há, certamente, um caso de suspeita de que este Eufrates, o Perata, seja o suposto fundador da mesma seita dos Perata, pode ser tão mítico personagem como Ebion, o fundador homônimo dos ebionitas. Não se lê em outra parte de quaisquer documentos sobre Eufrates, o estóico, mas o filósofo estóico, que viveu no reinado de Adriano, a quem não se supões seja ele o orientador da doutrina Ofitas. Mas o nome do rio Eufrates foi amplamente utilizado entre os Peratae com uma significação mística, e é possível que os membros da seita, por sabê-lo, utilizaram, para horá-lo, este nome, entre eles, e até mesmo por não ter se tratado de um orientador eminente, chamaram-no assim, como uma forma de estabelecê-lo como seu fundador. Por outro lado, é evidente que o tratado Peratae de que Hipólito dá um resumo, e que também pode ter sido visto por Orígenes, continha o nome de Eufrates, juntamente com a de Acembes, o Caristiano, um personagem que não havia motivo para inventar. Não há nada de incrível na suposição de que estes sejam os nomes de fato dos fundadores Ofitas, muito obscuros para deixar qualquer registro de sua existência, fora da sua própria seita.

Etimologia

O título "Perata", como aplicado à seita, é explicada por Clemente de Alexandria como um derivado do lugar. Neste sentido, ele pode ter tido sua origem na frase Ἅβραμ ὁ περατής (Genesis :14:13, LXX), que foi entendida como aquele que veio do outro lado do rio Eufrates. Plínio, Plínio, fala de uma certa goma que veio da Arábia, Índia, Média e Babilônia, acrescenta que a que veio da média foi chamado por alguns de Perática. Este parece ser o mesmo que o incenso Perático mencionado por Arriano.É provavelmente que tenha havido uma mera alteração por parte de Sofrônio de Jerusalém quando fala de Eufrates como o Pérsico, pois este tem claramente o nome de Teodoreto e, esta alteração pode ainda ter se originado na mudança de uma palavra desconhecida em um suposto equivalente. Em geral, podemos concluir que este Eufrates, se existiu, veio do extremo leste.

Bunsen sugeriu que essa designação pode significar a ilha de Euboea. Ele funda esta conjectura sobre os fatos de que Acembes, com quem Eufrates é acoplado, vieram de Eubéia, e que às vezes o termo Eubéia é pronunciado como ἡ πέραν, do outro lado. Mas isso não prova que o nome Perático ou Perata, em momento algum, teria sido entendido como equivalente a "Euboeano", ou seja, em nenhum lugar se afirmou que Eufrates e Acembes eram compatriotas, e se fossem, não seria provável sua designação, um após o outro, desde sua cidade para além da ilha.

Simonianismo

Os Simonianos eram uma seita gnóstica do século II dC que considerava Simão Mago como seu fundador e cujas doutrinas, chamadas Simonianismo, eram também baseadas nos ensinamentos dele. A seita floresceu na Síria, em vários distritos da Ásia Menor e em Roma. No século terceiro, remanescentes da seita ainda existiam, como relatado por Orígenes na sua obra Contra Celso e sobreviveram até o século IV dC. Segundo ele:

Também Simão o samaritano, um mago, desejava roubar alguns [fiéis] com sua mágica. E naquele tempo ele de fato conseguiu com sua fraude, mas agora eu acredito que não seja possível encontrar 30 simonianos ao todo no mundo; e talvez eu tenha colocado um número muito mais alto do que realmente é. Mas na palestina há uns poucos, e nos resto do mundo, onde ele desejava espalhar sua própria glória, seu nome não é mais mencionado. E se é, só acontece por causa dos Atos dos Apóstolos. Sãos os cristãos que dizem o que é dito sobre ele e hoje é claro como a luz do dia que Simão não era nada divino”
  — Orígenes, Contra Celso.

Quando Justino Mártir escreveu em sua Primeira Apologia em 152 dC, a seita dos simonianos parecia ser formidável, pois ele cita quatro vezes o seu fundador, Simão Mago.

Os simonianos também foram mencionados por Hegesipo, reutilizado depois por Eusébio de Cesareia. Suas doutrinas foram citadas e contra-argumentadas por Ireneu em seu Adversus Haereses, por Hipólito em Philosophumena e depois por Epifânio. Orígenes também menciona que alguns da seita eram chamados de Heleniani.

A Grande Declaração (Apophasis)

Em Philosophumena de Hipólito, a doutrina de Simão é relatada de acordo com sua obra A Grande Declaração e é evidente que o que nos chegou são as opiniões doutrinárias dos simonianos como elas haviam se desenvolvido no século II dC. Como o próprio Hipólito afirma em mais de um lugar, o simonianismo é uma forma mais primitiva do valentianismo, com alguns resquícios de aristotelismo e estoicismo.

Linhas gerais

O livro todo é uma mistura de influências helênicas e hebraicas no qual as mesmas alegorias são aplicadas a Homero, Hesíodo e Moisés. Começando com a afirmação de Moisés que «Pois Jeová teu Deus é um fogo consumidor...» (Deuteronômio 4:24), Simão a combina com a filosofia de Heráclito onde o fogo é o primeiro princípio de tudo. Este primeiro princípio ele chamou de "Poder sem limites" e declarou que ele está dentro dos filhos dos homens, seres nascidos de carne e sangue. Mas o fogo não era tão simples como muitos imaginavam e Simão fez distinção entre suas propriedades escondidas e manifestas, mantendo que as primeiras era a causa das últimas. Como os Estóicos, ele concebeu este fogo como um ser inteligente. Deste ser não-gerado brotou o mundo como conhecemos, por meio do qual existiam seis raízes, cada uma com seus lados de dentro e de fora, organizadas assim (em inglês):


Diagrama dos Aeons de Simão, por G.R.S. Mead


Esta seis raízes, Mente, Voz, Razão, Reflexo, Nome e Pensamento são também chamadas "Seis Poderes". Misturado com elas estava o grande poder, o "Poder sem Limites". Este é o que "permaneceu, permanece e permanecerá" ("He who has stood, stands, and will stand" em inglês no diagrama). O sétimo poder ("Raíz") corresponde ao sétimo dia após os seis dias da criação. Este sétimo poder existia antes do mundo e é o "Espírito de Deus que pairava sobre as águas" («...mas o espírito de Deus pairava por cima das águas» (Gênesis 1:2)). Ele existe potencialmente em cada um dos filhos dos homens e pode ser desenvolvido em cada um até sua própria imensidão. O pequeno pode se tornar grande, o ponto pode ser aumentado ao infinito. Contudo, caberia a cada um desenvolve-lo e é sobre esta responsabilidade que estaria implícita nas palavras «...para não sermos condenados com o mundo» (I Coríntios 11:32). Pois se a imagem "Daquele que Permanece" não for atualizada em nós, ela não sobrevive à morte do corpo. "O machado", ele disse, "está perto das raízes da árvore: cada árvore que não produzir bons frutos é cortada e atirada ao fogo"(como «O machado já está posto à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não dá bom fruto, é cortada e lançada no fogo» (Mateus 3:10)).

Eden

O livro tem também uma fascinante interpretação fisiológica do Jardim do Éden que evidencia um certo conhecimento anatômico por parte se Simão ou seus seguidores. Aqui o Paraíso é o útero e o rio que corre para fora do Éden, o cordão umbilical.

O umbigo [o cordão umbilical], ele diz, é dividido em quatro canais, pois de cada lado do umbigo [cordão] estão colocados dois dutos de ar para levar a respiração e duas veias para levar o sangue. Mas, ele continua, o umbigo [cordão] saindo do Éden é conectado ao feto nas regiões epigástricas, no que é comumente chamado por todos de umbigo... e as duas veias por onde o sangue flui e é transportado da região Edênica através do que é chamado de portas do fígado [porta hepatis], que alimenta o feto. E os dutos de ar, que dissemos que eram canais para respiração, abraçando a bexiga em cada um dos lados da pelvis, são unidos por um grande duto que é chamado de aorta dorsal.... O todo (do feto) é embrulhando num envelope, chamado âmnio e é alimentado pelo umbigo e recebe a respiração do duto dorsal, como já disse
  — Simão Mago, A Grande Declaração.

Os cinco livros de Moisés são representados como os cinco sentidos:

Gênesis: Concepção e Visão
Êxodo: Nascimento e Audição
Levítico: Respiração e Olfato
Números: Fala e Paladar
Deuteronômio: Síntese e Tato

Fragmento

Como o lado feminino do ser original aparece o "pensamento" ou "concepção" (Ennoia), que é "mãe" de todos os Aeons. Há uma passagem mística sobre a unidade de todas as coisas, que lembra o Tablete Esmeralda.

A vocês, portanto, Eu digo o que eu digo e escrevo o que escrevo. E o que foi escrito é isto.

Dos Aeons universais há dois ramos, sem começo e nem fim, brotando de uma única Raiz, que é o Poder invisível, inapreensível Silêncio. Destes ramos, um é manifestado de cima, que é o Grande Poder, a Mente Universal organizando todas as coisas, masculino, e o outro, de baixo, o Grande Pensamento, feminino, produzindo todas as coisas.

Assim, emparelhando-se com o outro, eles se uniram e manifestaram a Distância do Meio, o Ar incompreensível, sem começo e nem fim. Nele está o Pai que sustenta todas as coisas e que nutre todas as coisas que tem começo e fim.

Este é Aquele que permaneceu, permanece e permanecerá, um poder masculino-feminino como o pré-existente Poder sem Limites, que não tem começo e nem fim, existindo em unicidade. Pois é deste que o Pensamento na unicidade ocorreu e se tornou dois.

Então ele era um; por ter tido ela em si, ele era um, não porém o primeiro, embora pré-existindo, mas sendo manifestado de si para si, ele se tornou segundo. E ele não era chamado de Pai antes de (Pensamento) chamá-lo de Pai.

Produzindo, portanto, a si próprio sozinho, ele manifestou para si seu próprio Pensamento, assim também o Pensamento que estava manifestado não fez o Pai, mas contemplando-o escondeu-o - o Poder - nela, e é masculino-feminino, Poder e Pensamento.

Daí eles se emparelharam se tornando um, pois não há diferença entre Poder e Pensamento. Das coisas acima se descobriu o Poder, das de baixo, Pensamento.

Da mesma maneira também aquele que foi manifestado a partir deles embora seja um é porém encontrado como dois, o masculino-feminino tendo o feminino dentro de si. Assim Mente está em Pensamento - coisas inseparáveis uma da outra que embora sejam um uma são porém duas”
  — Simão Mago, A Grande Declaração..


Práticas

Os simonianos foram acusados de usar mágica e teurgia, encantamentos e poções do amor; tratar a idolatria com indiferença, reputando-a nem como boa nem como má, proclamar que todo sexo era amor perfeito e, de maneira geral, de viver vidas muito desordenadas e imorais. Eusébio afirma que os simonianos são a mais imoral e depravada seita do mundo. De modo geral, dizia-se que eles não acreditavam que nada em si era bom ou mau por natureza: não eram boas obras que faziam dos homens santos no próximo mundo, mas a graça impingida por Simão e Helena naqueles que os seguiam.

Até o fim, acreditava-se que os simonianos veneravam Simão Mago sob a imagem de Zeus e Helena sob a de Atena. Porém, Hipólito adiciona que "Se algum, vendo as imagens de Simão ou Helena, os chamar por estes nomes, ele é retirado por mostrar ignorância nos mistérios". Daí fica evidente que os simonianos não permitiam que se adorassem diretamente os seus fundadores. Na texto Clementino Reconhecimentos, Helena é chamada de Luna, o que pode significar que as imagens seria representações do sol e da lua.

Tudo isso, porém, são informações que nos chegaram por relatos de segunda mão dados por oponentes dos simonianos. É discutível se estes detratores iriam fielmente e acuradamente relatar a verdade sobre Simão e seus seguidores, ainda que eles tivessem informação suficiente pra isso.

Testemunho da Verdade

Fora destas fontes patrísticas, os simonianos foram brevemente mencionados no Testemunho da verdade(58,1-60,3)[19] da Biblioteca de Nag Hammadi, uma coleção de manuscritos gnósticos descobertos em 1945 no Egito. O autor aparentemente os incluiu numa longa lista de heréticos:

Eles [não] concordam entre si. Pois os Si[mo]nianos se casam e tem filhos, mas os ...anos se abstém de suas... natureza ... uma paixão ... as gotas de ... os unge ... que nós ...
[Uma linha faltando]

... eles concordam entre si ... ele ... eles ...

[Da linha 14 até o final da página, faltando]

... julgamento(s) ... para eles, por causa de ... eles ... os heréticos ... cisma(s) ... e os homens ... são homens ... eles irão pertencer ao mundo dos governantes-terrenos das trevas ...

[Uma linha faltando]

... do mundo ...

[Uma linha faltando]

... eles tem ... os arcontes ... poder ...

[Uma linha faltando]

... julga[-los] ... Mas os ... palavra(s) de ...

[Da linha 20 até o final da página, faltando]

... falar, enquanto eles ... se tornar ... em um [inapagável] fogo ... eles são punidos.”
  — Testemunho da verdade.

O tradutor Birger A. Pearson diz que esta passagem provavelmente lida com as práticas de seitas gnósticas libertinas, mas pelo estado fragmentário do texto é impossível saber a que grupos eles se referem. O ascético e decidido autor pode ter não ter tido nenhum outro problema com os simonianos exceto eles se casarem e terem filhos. Porém, Epifânio acusou os simonianos de "se entregarem aos mistérios da obscenidade e - argumentando mais seriamente - nos líquidos corporais (em latim: emissionum virorum, feminarum menstruorum) que deveriam ser coletados para uso em mistérios de uma forma imunda; e que esses seriam os mistérios da vida e a mais perfeita gnosis.

Legado

Duas outras seitas tinham uma conexão muito próxima com os simonianos, os dositeanos e os menandrianos, provavelmente ramos do simonianismo. Seus nomes são heranças de seus fundadores, Dositeu e Menandro, respectivamente.

Acredita-se que Dositeu, um samaritano, tenha originalmente sido professor e depois pupilo de Simão Mago. Até pelo menos o começo do século VII dC, Eulógio de Alexandria se opôs aos dositeanos que consideravam Dositeu como o grande profeta previsto por Moisés. Dositeu morreu de inanição.

Assim como Simão, Menandro - seu pupilo e, após sua morte, seu mais importante sucessor - também proclamou a si mesmo como sendo o enviado de Deus, o Messias. Da mesma forma, ele ensinou sobre a criação do mundo por anjos enviados pelaEnnoia (Sophia). Ele afirmava também que os homens receberam a imortalidade e a ressurreição pelo seu batismo e praticava as artes mágicas. A seita fundada por ele, os Menandrianos, continuaram a existir por um considerável período de tempo.

Dositeu

Dositeu (ocasionalmente Nathanael, ambos significando "presente de Deus") foi um líder religioso Samaritano, fundador de uma seita, frequentemente definida como gnóstica. É reputado por ter sido discípulo de João Batista e por ter sido professor de Simão Mago.

Fontes cristãs e judaicas

Ele viveu provavelmente no primeiro século da era comum. De acordo com o documento Pseudo-Tertuliano foi o primeira a negar os Profetas,embora todos os samaritanos rejeitassem os livros proféticos da Bíblia judaica aceitando apenas o Pentateuco como escritura.

Priscilianismo

O priscilianismo foi doutrina cristã pregada por Prisciliano, no século IV, com base nos ideais de austeridade e pobreza. Desenvolvida na península Ibérica (a Hispânia romana), derivado de doutrinas gnóstico-maniqueísta ensinadas por Marcus, um egípcio de Mênfis, e, mais tarde considerado uma heresia pela Igreja Ortodoxa. Foi condenado como heresia no Primeiro Concílio de Braga em 563. Anteriormente, foi discutido no Concílio de Toledo em 400.

História

Após a execução de Prisciliano em 385, o movimento herético manteve-se em vigor durante ao menos dois séculos mais, como o demonstram os sucessivos concílios convocados para tratar o tema.

Imediatamente depois do processo de Tréveris, Magno Máximo, governador da Britannia, envia dois comissários a Hispânia para depurar as sedes episcopais de tudo rasto de priscilianismo, iniciando-se uma cadeia de justiçamentos e deportações que acabaram por despertar as iras de setores da igreja oficial descontentes com o curso dos acontecimentos.

Martinho de Tours, Jerónimo de Estridão em Roma e Ambrósio de Milão representavam uma facção dentro do quadro de ortodoxos leais a Roma, que se opusera desde um princípio à ingerência imperial em assuntos eclesiásticos. São estes pais da Igreja, em especial Martinho,quem detêm o desproporcionado movimento itaciano, denominado assim pelo seu principal impulsionador, Itácio, o bispo de Ossónoba.

Em 388 Máximo é derrotado e decapitado por Teodósio I, imperador dos territórios Orientais, e a situação dá uma virada até o ponto de o próprio Itácio ser excomungado em 389 pela sua implicação direta no julgamento secular contra Prisciliano. Neste ano, segundo Sulpício Severo, vários discípulos viajam até Tréveris com a licença de Roma para exumar os restos do seu líder. À cabeça desta delegação encontra-se Dictinio,autor de um dos poucos opúsculos priscilianistas dos quais se conhece sua existência (embora não se conserve nenhum exemplar). Desse livro, intitulado Libra, conservam-se tão só referências indiretas na obra de Santo Agostinho de Hipona "Contra mendacium". Refere este autor que os priscilianistas consideram lícito mentir para proteger sua existência, até o ponto de que se recolhe um santo e senha mediante o que se reconhecem: Iura, periura, secretum prodere noli (Juramento de inviolabilidade dos segredos do grupo, ainda à custa de mentir).

Em 396 foi convocado um Concílio de Toledo no qual os seguidores de Prisciliano abjuraram das suas idéias e declararam abandonar os erros da seita, mas a constatação da sobrevivência de costumes priscilianistas (consagração da eucaristia com leite e uvas, jejum, a presença de clérigos com o pêlo longo…) obrigou à celebração de um novo concílio em Toletum em 400.Neste sínodo assegura-se que onze dos doze bispos da Galécia eram priscilianistas. O único bispo não priscilianista era o da diocese de Bretoña, não galaica senão britânica (entre os séculos IV e V milhares de celtas da província romana de Britânia sob comando do bispo Maeloc cruzam a Armórica, na Gália, e a Galécia, fundando a província-bispado de Bretoña. Um par de séculos depois será também um monge bretão, Pelágio da Bretanha, o que anuncie a descoberta da tumba do apóstolo Santiago). As atas desse concílio recolhem o testemunho de abjuração da sua heresia de Simpósio, seu filho Dictinio e o presbítero Comásio.

Após a morte de Máximo, Teodósio é proclamado imperador de Oriente e Ocidente, mas sua morte em 395 deixa de novo o império dividido entre seus dois filhos. Ao maior, Arcádio, correspondem os territórios orientais e ao novo Honório, com apenas onze anos, o império ocidental, tutelado por Estilicão.

O movimento priscilianista foi-se transformando neste tempo numa sociedade segreda, que detenta suficiente poder no Noroeste peninsular para que o papa Papa Inocêncio I decrete a Regula fidei contra ones hereses, maxime contra Priscillianistas em 404. Entre as filas do movimento priscilianista alguns autores incluíram Baquiario, um monge itinerante de finais do século IV, e Egeria, autora da primeira crônica de viagens a terra santa do cristianismo escrita por uma mulher.

Em 409 Honório define sua política contra o movimento priscilianista, condenando os seus seguidores a perder seus bens e direitos civis, chegando a impor multas aos funcionário públicos civis remissos a perseguir a heresia.

É o ano em que os bárbaros se rebordarão pelo império, e o priscilianismo sobreviverá no Noroeste peninsular, sobretudo no rural, ao amparo da confusão. Em meados do século V, Santo Toríbio, bispo de Astorga, tratou de arrebatar de mãos dos fiéis todos os livros priscilianistas e, compreendendo que ainda este remédio fosse ineficaz, remitiu ao papa Leão I o Communitorium, enumeração dos erros consignados nos livros apócrifos, e o Libellus, no qual refutava o priscilianismo. São Leão aconselhou a celebração de um concílio nacional, ou, se isto era impossível pelo estado de guerra em que ardia a península, um sínodo de bispos galaicos. Foi convocado o sínodo de Aquis Caelenis (atual Caldas de Reis), onde os heterodoxos, ainda aparentando admitir a Assertio fidei, perseveraram nos seus doutrinas e práticas, até meados do século VI.

Finalmente o primeiro Concílio de Braga (561) volta a fazer referência ao problema, condenando em sete dos seus dezessete cânones as proposições priscilianistas.O segundo concílio de Braga, celebrado vários anos depois, ainda reflete nas suas atas alusões à seita, e mesmo aparece uma alusão no IV concílio de Toledo (683) no qual é condeado, como lacra priscilianista, o "delirante pecado" de não se cortar o pêlo da clerezia galega.

Corpus ideológico do priscilianismo

Prisciliano fundou uma escola ascética, rigorista, de talante libertário, precursora do movimento monacal, inspirada na tradição gnóstica, e oposta à crescente opulência da hierarquia eclesiástica imperante no século IV. Os aspetos mais polêmicos, em questões formais, são a nomeação de "mestres" ou "doutores" a laicos, a presença de mulheres nas reuniões de leitura e seu marcado caráter ascético.

As fontes principais que informam da particular liturgia do priscilianismo são os cânones promulgados nos sucessivos concílios. No concílio de Caesaraugusta de 380, por exemplo, faz-se referência a costumes indesejáveis como "mulheres que assistem a leituras da Bíblia em casas de homens com quem não têm parentesco; o jejum dominical e a ausência das igrejas durante a quaresma; a recepção das espécies eucarísticas na igreja sem as consumir de imediato; o apartamento em celas e retiros nas montanhas; andar descalços (nudis pedibus incedere)".

Intentou a reforma do clero através do celibato e a pobreza voluntária, e posteriormente ampliou a reforma a todos os fiéis. Seu caráter maniqueu (dualismo alma-corpo, a primeira divina, o segundo mortal e, pelo tanto, corrupto) leva o estabelecimento de um ascetismo difícil de praticar, sentando assim as bases (de maneira parecida à heresia Donatista) do caminho de perfeição cátaro: uma moral mais laxa para os fiéis e outra mais estrita para os "perfeitos".

Avogou pela interpretação pessoal dos textos evangélicos, concebendo o princípio do livre exame. Exigiu que a Igreja voltasse a ligar-se com os pobres. Enfatizou o estudo dos símbolos e a superação do literalismo na interpretação da Bíblia. Não é fácil separar as asserções genuínas de Prisciliano das atribuídas a ele pelos seus inimigos, nem das quais posteriormente fizeram grupos que fossem etiquetados como "priscilianistas". O fato é que, para conseguir a sua condenação, foi acusado de usar magia (delito castigado pela lei romana), de reuniões noturnas com mulheres, gnosticismo e maniqueísmo, e posteriormente de negar que as três pessoas de Deus fossem diferentes e com isso negar o mistério da Trindade. Seu pensamento real ou suposto é chamado priscilianismo.

As suas reuniões, frequentemente noturnas, em florestas, covas ou em villae afastadas das cidades, e com a dança como uma parte importante da liturgia, incluíam tanto a homens como a mulheres. Substituiu a consagração oficial com pão e vinho por leite e uvas; acolheu as mulheres e os escravos nas sessões de leitura de textos evangélicos (incluindo apócrifos) e incorporou o conceito do emanatismo: a alma "surge" de uma espécie de armazém e deve descer até o mundo terrenal, onde é inevitavelmente corrompida pelo maligno. Esta origem divina da alma, junto com a concepção sabeliana do dogma da trindade, são os principais motivos de controvérsia teológica com os setores mais ortodoxos da Igreja.


As Pedras de Abraxas com simbologia priscilianista, como galos, remetem à influência gnóstica do movimento.


“Quero desamarrar e quero ser desamarrado.
Quero salvar e quero ser salvo.
Quero ser engendrado.
Quero cantar; cantai todos.
Quero chorar: batei nos vossos peitos.
Quero enfeitar e quero ser enfeitado.
Sou lâmpada para ti, que me vês.
Sou porta para ti, que chamas a ela.
Tu vês o que faço. Não o menciones
A palavra enganou a todos, mas eu não fui
totalmente enganado.”

— Hino a Jesus Cristo, de forte inspiração gnóstica, Atribuído a Prisciliano

Nicolaísmo

Nicolaísmo (ou Nicolacionismo ou Nicolaitismo) é uma heresia cristã cujos aderentes são chamados de Nicolaítas. A característica pela qual são mais lembrados é a sua posição em relação ao casamento. Segundo alguns autores (citar fontes), eles defendiam a poligamia (ou ter esposas em comum). Também é conhecido como Nicolaíta aquele que defende o casamento do clero.

Etimologia

Nico significa "conquistar" em grego e laíta significa "pessoas" (ou "povo"); daí, a palavra pode significar "conquistador de pessoas" ou "conquistador das pessoas". Todavia, "Nicolaíta" é , o nome dado aos seguidores do herético Nicolau (grego: Nikolaos) - o nome por si significando "vitorioso sobre as pessoas" (do grego "Nike" - vitória) ou "vitória das pessoas", que teria recebido ao nascer.Versão alternativa: Em Grego "Nikao" significa "conquistar" e "laíta" é uma derivação "laikos" que vem de "laos" que significa "os "leigos", povo, a massa, a plebe, aquele que não tem conhecimento aprofundado em determinada área", o nome significa "conquistando os leigos"(pg 74)

História

A menção mais antiga aos Nicolaítas é no Apocalipse, no Novo Testamento. De acordo com Apocalipse 2:6-15, eles eram conhecidos nas cidades de Éfeso e Pérgamo. Neste trecho, a Igreja de Éfeso é enaltecida por "odiar os feitos dos Nicolaítas, que eu também odeio" e a Igreja de Pérgamo é acusada por "abrigar aqueles que tem as doutrinas deles (os Nicolaítas)". Não há nenhuma outra fonte primária para nos dar certeza sobre a natureza desta seita.

Diversos pais da igreja, incluindo Ireneu de Lyon, Epifânio de Salamis e Teodoreto mencionam este grupo. Ireneu o discute, mas nada acrescenta ao Apocalipse exceto que "eles levam vidas de indulgências ilimitadas". Hipólito de Roma diz que o diácono "Nicolau" dos Sete diáconos (veja Atos 6:1) era o autor da heresia e líder da seita. São Vitorino de Pettau (ou Victorinus) diz que eles comiam oferendas dos ídolos. O venerável Beda afirma que Nicolau permitiu que muitos homens se casassem com sua esposa. Eusébio diz que a seita teve vida curta. Tomás de Aquino era da opinião que Nicolau incentivava ou a poligamia ou que os homens tivessem esposas em comum.

Interpretação

A declaração comum, de que os Nicolaítas suportavam a heresia antinômica de Corinto, não parece ter sido provada. Outra opinião, preferida por alguns autores, é que, por causa do caráter alegórico do Apocalipse, as referências aos Nicolaítas são apenas uma forma simbólica de referência.

Nicolaísmo (também é frequentemente citado com referência ao casamento do clero, especialmente em áreas rurais da Inglaterra, onde era geralmente aceito até o século.

Cyrus Scofield

Cyrus Scofield, em seu Notas sobre a Bíblia, seguindo o pensamento dispensacionalista, sugere que os Sete Selos no Apocalipse prenunciam as várias eras da história Cristã e que "Nicolaítas" "refere-se à primeira forma da noção de ordem clerical, ou 'clero', que depois dividiu igualmente a irmandade entre 'padres' e 'leigos'.

Albert Barnes

Sobre os Nicolaítas citados no Apocalipse:

Vitringa supõe que a palavra é derivada do grego νικος, vitória, e λαος, pessoas, e que portanto ela está relacionada ao nome "Balaão", como significando tanto "senhor das pessoas" ou "ele venceu as pessoas"; e que, o mesmo efeito foi produzido pelas suas doutrinas quanto pelas de Balaão, que as pessoas eram levadas a fornicar e a se juntarem à adoração de ídolos. Elas poderiam ser chamadas de Balamitas ou Nicolaítas - ou seja, corruptores das pessoas.

Mas a isto, podemos contrapor:que isso é forçado e só foi adotado para remover uma dificuldade;de que há inúmeras razões para supor que a palavra aqui utilizada refere-se a uma classe de pessoas que detém este nome e que eram bem conhecidas nas duas igrejas citadas;que, em «Assim tu tens igualmente aos que seguem o ensino dos nicolaítas» (Apocalipse 2:15), eles são claramente diferenciados daqueles que suportam a doutrina de Balaão”

Nicolau

O Nicolau de Atos 6:5 é um nativo de Antioquia, um proselitista e um judeu convertido ao Cristianismo. Quando a Igreja ainda estava confinada a Jerusalém, ele foi escolhido pelo conjunto dos discípulos para ser um dos primeiros dentre os Sete Diáconos e ele foi ordenado pelos apóstolos, em cerca 33 dC. Os Nicolaítas, pelo menos até o tempo de Ireneu, alegavam que ele era o fundador da seita.

Em Epifânio

Epifânio de Salamis, um impreciso autor, relata alguns detalhes da vida de Nicolau, o diácono, e o descreve gradualmente afundando na mais grotesca impureza. e se tornando o originador dos Nicolaítas e outras seitas gnósticas libertinas:

(Nicolau) tem uma bela esposa e se absteve de relações sexuais imitando àqueles que ele acredita serem devotos de Deus. Ele persistiu nisto por um tempo, mas no fim não conseguiu suportar controlar sua incontinência....Mas por estar envergonhado da sua derrota e suspeitar que tenha sido descoberto, ele se aventurou em dizer "Não terá a vida eterna aquele que não copular todos os dias"
  — Epifânio, Panarion (Haer., 25.1).

Em Clemente de Alexandria

Acreditam no relato anterio, pelo menos em parte, Jerônimo e outros escritores do século 4 dC. Porém ele é irreconciliável com a visão tradicionalista dada ao caráter de Nicolau por Clemente de Alexandria, um autor mais antigo e mais criteriosos que Epifânio. Ele diz que Nicolau levou uma vida casta e criou seus filhos na pureza; que numa certa ocasião, tendo sido severamente repreendido pelos apóstolos como um marido ciumento, ele respondeu à acusação oferecendo sua esposa como candidata à esposa de qualquer outro; e que ele tinha o hábito de repetir um ditado que era atribuído ao evangelista Mateus também: "É o nosso dever lugar contra a carne e abusar dela". Suas palavras foram perversamente interpretadas pelos Nicolaítas como dando respaldo às suas práticas imorais. Teodoreto, em seu relato sobre seita, repete o argumento de Clemente, e acusa os Nicolaítas de falsidade ao lidar com o uso do nome do diácono. Louis-Sébastien Le Nain de Tillemont (teólogo francês do século XVII) conclui portanto que, se não o verdadeiro fundador, faltou-lhe sorte pois deu motivo para fundação da seita. Já August Neander (teólogo alemão do século XIX) argumenta que o fundador foi outro Nicolau.

Didaquê

Didaquê ou Didaqué (Διδαχń, "ensino", "doutrina", "instrução" em grego clássico), Instrução dos Doze Apóstolos (do grego Didache kyriou dia ton dodeka apostolon ethesin) ou Doutrina dos Doze Apóstolos é um escrito do século I que trata do catecismo cristão. É constituído de dezesseis capítulos, e apesar de ser uma obra pequena, é de grande valor histórico e teológico.
O título lembra a referência de «E perseveravam na doutrina dos apóstolos ...» (Atos 2:42).

Data e autenticidade

Estudiosos estimam que são escritos anteriores a destruição do templo de Jerusalém, entre os anos 60 e 70 d.C. Outros estimam que foi escrito entre os anos 70 e 90 d.C., contudo são coesos quanto a origem sendo na Palestina ou Síria. Segundo Willy Rordorf, a Didaquê é uma "compilação anônima de diversas fontes derivadas da tradição viva, de comunidades eclesiais bem definidas", portanto a questão da datação equivale à questão das datas das tradições ali registradas, que indubitavelmente remontariam ao século I d. C., derrubando as teses de datação tardia (séc. II).

Quanto à sua autenticidade, é de senso comum que o mesmo não tenha sido escrito pelos doze apóstolos, ainda que o título do escrito lhes faça menção. Contudo, estudiosos acreditam na compilação de fontes orais tendo recebido os ensinamentos que resultaram na elaboração do texto. Também é senso comum que tenha sido escrito por mais de uma pessoa.

O texto foi mencionado por escritores antigos, inclusive por Eusébio de Cesareia que viveu no século III, em seu livro "História Eclesiástica", mas a descoberta desse manuscrito, na íntegra, em grego, num códice do século XI ( ano 1056 ) ocorreu somente em 1873 num mosteiro em Constantinopla, o chamado Codex Hierosolymitanus.

É considerado apócrifo por Eusébio, Atanásio (c. 367) e Rufino (c. 380).

Conteúdo

Nos escritos da Didaquê, além da catequese e liturgia cristã, o evangelho de Jesus é recomendado. A Didaquê também cita a oração do “Pai Nosso” como sendo “ensinada pelo Senhor” e finda com a afirmação em consonância com o livro Apocalipse, do Novo Testamento, de que Jesus voltará:

... conforme foi dito: "O Senhor virá e todos os santos estarão com ele". Então o mundo assistirá o Senhor chegando sobre as nuvens do céu."
  — Vários, Didaquê.

Nos escritos da Didaquê também são reforçados o batismo no nome do Pai, Filho e Espírito Santo, sendo argumento para os que aceitam o dogma da Trindade, contrapondo-se a defesa dos não trinitários de que não existiam escritos cristãos do primeiro século que defendessem o batismo no nome de Jesus.

A respeito de Jesus, ainda sobre o batismo, diz:

Que ninguém coma nem beba da Eucaristia sem antes ter sido batizado em nome do Senhor, pois sobre isso o Senhor [Jesus] disse: "Não dêem as coisas santas aos cães"
  — Vários, Didaquê.

Tais escritos também sustentam argumentos de que existiam escritos do primeiro século apoiando a defesa da tese teológica de que Jesus é Deus.

Sobre questões polêmicas como o batismo, adverte para o batismo em imersão; sendo admitido por aspersão na inexistência de água corrente. A Didaquê também acentua a disposição ao jejum por parte do candidato ao batismo e daquele que o vai batizar por cerca de três dias antes do batismo.

Nos escritos da Didaquê há uma similaridade quando se referencia ora ao Pai como o Senhor, ora a Jesus como o Senhor, o que é aceito por alguns como a interposição entre as duas pessoas. Também fazendo a distinção de pessoa chamando Jesus de servo do Pai.

A Didaquê faz registro da celebração da eucaristia:

Reuni-vos no dia do Senhor, para romperdes o pão e dardes graças...
  — Vários, Didaquê.

A Didaquê cita diretamente ou faz menção indireta a diversos livros do novo testamento: Mateus, Lucas, I Epístola aos Coríntios, Hebreus, I Epístola de Pedro, Atos dos Apóstolos, Romanos, Efésios, Carta aos Tessalonicenses e Apocalipse.

Sete Diáconos

Os Sete Diáconos foram líderes eleitos pela igreja antiga para pregar para as pessoas de Jerusalém. Consta que houve lamentos da parte dos "judeus que falavam grego" ("hellēnistōn") contra os "judeus que falavam hebraico" ("hebraious") porque suas viúvas estavam sendo preteridas na distribuição (diakoniāi) diária de alimentos (Atos 6:1). Os apóstolos convocaram então os discípulos e propuseram que fosse formada uma comissão de "sete homens acreditados (martyroumenous), cheios de espírito e de sabedoria" (Atos 6:3), que se incumbiriam da distribuição. Esta história está descrita nos Atos dos Apóstolos (Atos 6:1-7) e os sete são objeto de muitas tradições posteriores, como a que afirma que eles eram todos parte dos Setenta Discípulos que aparecem no Evangelho de Lucas.

São os sete: Estevão, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Parmenas e Nicolau.

Os diáconos

Apenas Estevão e Filipe são discutidos com alguma profundidade nos Atos e a tradição nada mais acrescenta sobre Nicanor e Parmenas. Estevão se tornou o primeiro mártir da igreja quando ele foi morto por uma multidão, com a complacência de Saulo, o futuro apóstolo Paulo (Atos 8:1). Filipe evangelizou a Samaria, onde ele converteu Simão Mago e um eunuco da Etiópia, um ato que tradicionalmente marca o início da Igreja Ortodoxa Etíope.

A tradição afirma que Prócoro era sobrinho de Estevão e o companheiro de João Evangelista, que o consagrou bispo de Nicomédia, na Bitínia (atualmente na Turquia). A ele também foi atribuída a autoria do apócrifo Atos de João e acredita-se que ele tenha terminado sua vida como um mártir na Antioquia no século I d.C.De acordo com os Annales Ecclesiastici de Baronius, atualmente considerado como historicamente incorreto, Nicanor era um judeu cipriota que retornou para sua terra natal e morreu lá como um mártir em 76 d.C. Outros relatos afirmam que ele teria sido martirizado em "Berj", um local não identificado, possivelmente uma confusão com Botrys. Ele é comemorado como um santo no dia 10 de janeiro.Acredita-se que Timão tenha sido um judeu helenizado que se tornou um bispo na Grécia ou em Bosra, na Síria. Num relato posterior, sua pregação provocou a fúria de um governador local, que mandou queimá-lo vivo.

Nicolau e o nicolaísmo

Nicolau, descrito nos Atos como um pagão convertido ao judaísmo,não é lembrado com carinho pelos primeiros escritores cristãos. De acordo com Ireneu de Lyon em sua Adversus Haereses, os nicolaítas, uma seita herética condenada já no Apocalipse, tomou seu nome deste diácono.Na Philosophumena, Hipólito escreve que Nicolau inspirou a seita através de sua indiferença com a vida e pelos prazeres da carne. Seus seguidores tomaram este ensinamento como uma licença para se entregarem à luxúria.A Enciclopédia Católica relata a história de que depois que os apóstolos admoestaram Nicolau por maltratar sua bela esposa por causa de seu ciúme, ele a deixou e permitiu que outro se casasse com ela, dizendo que a carne deveria ser maltratada.O texto também afirma que a veracidade da história é discutível, embora seja provável que os próprios nicolaítas acreditassem que Nicolau era o fundador da seita.Na Stromata, Clemente de Alexandria afirma que a seita corrompeu as palavras de Nicolau, cujo sentido original era controlar os prazeres do corpo, para justificar sua libertinagem.