quinta-feira, 17 de agosto de 2023

O Rito Adonhiramita


I. Problemática do tema

Pesquisar sobre o Rito Adonhiramita é defrontar-se com um monte de opiniões, teorias e ideias cristalizadas que, em geral, correspondem muito pouco à realidade histórica dos factos. Escrever sobre ele requer a disposição necessária para enfrentar a oposição dos que, de uma forma ou de outra, se sentem mais confortáveis com a mistificação e com a lenda, em prejuízo dos factos e da história documentada.


Desde a década de 1970 que se criou uma impressão de que o Rito seria místico em demasia, que traria ideias muito diferentes de outros ritos ou até, absurdamente, que seria, por essas tantas diferenças, um rito “irregular”.


As fontes oficiais, ou seja, os rituais e os documentos expedidos pelas instituições do Rito, não são rigorosas com os métodos de pesquisa histórica, o que leva a um emaranhado de informações não verificáveis e oriundas de fontes sem isenção ou sem valor para a pesquisa dos factos originais.


Uma rápida pesquisa pela internet revela uma verdadeira amálgama de relatos e resumos, cada um mais inexacto e fantasioso do que o outro.


Pretendemos com este artigo fornecer pistas de pesquisa e elementos básicos para que o pesquisador maçónico possa guiar-se e desenvolver ideias fiáveis sobre o Rito Adonhiramita, longe das invenções e das teorias sem base que abundam sobre ele.


II. Origens do Rito Adonhiramita

II.1. O contexto histórico: A França Maçónica do século XVIII

O Rito Adonhiramita é filho da Maçonaria francesa. Para compreender suas origens é necessário compreender como se desenvolveu a Maçonaria Francesa no século XVIII. Na França a Franco-Maçonaria obediencial, ou seja, regulada por um sistema institucionalizado, foi implantada por volta de 1725, através de imigrantes ingleses exilados por razões políticas ou religiosas. Em Paris é notável o seu número e a sua origem, em geral, é Londres. Junto com as suas bagagens trazem os costumes e procedimentos maçónicos utilizados na capital inglesa daquela época, da primeira Grande Loja de 1717. Esses primeiros costumes sofrerão significativas mudanças dentro de pouco tempo.


Na Inglaterra, a partir de 1725, com o desenvolvimento do Grau de Mestre, começam a desenvolver-se os Graus de Aperfeiçoamento. Muitas Lojas praticavam-nos e não existia nenhum regulamento em relação a eles. Os mais antigos fazem referência à lenda do terceiro grau e ao espírito cavalheiresco.


Obviamente que, com o trânsito de maçons entre Londres e Paris, estes desenvolvimentos, em pouco tempo, estarão em uso no território francês. Em 1730, a Grande Loja de Londres introduz inovações nos seus procedimentos litúrgicos como reacção ao tristemente célebre “Masonry Dissected” de Samuel Pritchard, que seria traduzido e reeditado na França em 1745 como “L’ Ordre des Francs-Maçons trahi”.


Com o sucesso de vendas da obra de Pritchard, e com a lenda de que os franco-maçons se ajudam financeiramente, de que nenhum maçon é deixado na miséria, de que sendo maçon a vida se torna mais fácil, há um verdadeira corrida de uma horda de profanos que, tendo-se apoderado dos segredos ritualísticos das Lojas através da citada obra, se apresentam às Lojas como sendo maçons…


As modificações introduzidas pela Grande Loja de Londres, visando identificar os falsos maçons produzidos pela obra de Pritchard são, basicamente, a inversão do pé da marcha, a inversão das Colunas dos Aprendizes e Companheiros, a mudança das palavras e a introdução de uma palavra de passe no Grau de Aprendiz.


Em 1728 estava organizada a primeira instituição maçónica na França, a “Grande Loja da França”. Em 1735, a Grande Loja da França solicita à Grande Loja de Londres a autorização necessária para se tornar uma Grande Loja provincial, o que foi negado. Em 1743, a autorização foi dada e uma instituição foi constituída com o nome de “Grande Loja Inglesa de França”. Essa mesma instituição mudaria seu nome para “Grande Oriente da França” em 1773.


Os rituais transplantados de Londres a Paris são, obviamente, os já modificados 13 anos antes, ou seja, com as Colunas invertidas, a mudança das palavras, o pé direito iniciando a marcha e a Palavra de Passe no Grau de Aprendiz.


As Lojas francesas praticavam tanto os 3 Graus Fundamentais (Aprendiz, Companheiro e Mestre), quanto os Graus de Aperfeiçoamento. Com o passar do tempo, quase que em cada província francesa se praticará um sistema diferente. A criação de sistemas ritualísticos como a “Reau-Croix”, conhecida como “Ordem dos Sacerdotes Eleitos do Universo” (Elus Cohen) na década de 1740, a Estrita Observância Templária (de origem alemã) e o sistema conhecido como “Rito de Perfeição de Heredom” (1758), originado com o discurso de Ramsay em 1738, que misturavam pretensões políticas, valores cavalheirescos e temas alquímicos, herméticos e esotéricos, produziram o caldo cultural necessário para uma verdadeira explosão de Graus Maçónicos.


II.2. Adonhiram

A Constituição da Grande Loja de Londres, dita “de Anderson”, cita Adonhiram como o chefe dos trabalhadores na Montanhas do Líbano, em número de 30.000, que se revezavam com os sidónios (p.10).


Na obra de Samuel Pritchard, na parte relativa ao Grau de Mestre, aparece o nome de Hiram e não Adonhiram. Há alguma hipóteses plausíveis para a utilização do nome “Adonhiram” em substituição a Hiram.


Alguns rituais franceses do século XVIII, como o reproduzido no “Le Régulateur du Maçon – 1785/1801”, falam de Hiram como aquele a quem Salomão deu a autoridade sobre todos os obreiros, a saber: 30.000 homens destinados a cortar os cedros do Líbano, 70.000 aprendizes, 80.000 Companheiros e 3.300 mestres.


Torna-se fácil perceber aqui a causa da confusão. Se Anderson fala que os 30.000 trabalhadores das Montanhas do Líbano estavam sob as ordens de Adonhiram, e os rituais falam que esses mesmos 30.000 homens, destinados a cortar os cedros do Líbano, estavam sob as ordens de Hiram, então, Hiram e Adonhiram devem ser o mesmo personagem. Só que a Constituição de Anderson, de seguida, refere que Hiram, Rei de Tiro, enviou seu homónimo “o maçon mais completo sobre a Terra”, Hiram ou Huram. (“But above all, He sent his namesake Hiram, or Huram, the most accomplish’d Mason upon Earth”.)


Em 1744 foi publicado o “Catechisme de Franc Maçons ou Le Secret Des Franc Maçons” (Catecismo dos Franco-Maçons ou O segredo dos Franco-Maçons), escrito por Louis Travenol que, utilizando o pseudónimo de Leonard Gabanon, chamava “Adonhiram” ao arquitecto chefe das obras do Templo de Salomão, o qual é chamado comummente, nos dias de hoje, apenas por Hiram.


Cabe frisar que em outros rituais franceses do período aparece também o nome Adonhiram e, inclusive, continua a aparecer em rituais do Rito Moderno de 1788 (Recueil des Trois Premiers Grades de La Maçonnerie – Apprenti, Compagnon, Maitre au Rite Français – 1788). Ou seja, não é uma particularidade da obra de Louis Travenol e nem uma “irregularidade” do Rito. Trata-se de algo bastante generalizado na Maçonaria Francesa do século XVIII.


A mim, como pesquisador maçónico, parece-me que houve alguma confusão entre os personagens bíblicos Adoniram, que era o chefe dos trabalhadores recrutados à força para a construção do Templo (2Sm.20,24; 1Rs.5,14) e que acabou sendo morto à pedrada pela população revoltada (1 Rs. 12,18), e Hiram Abiff, filho de uma viúva da tribo de Naftali e de um cidadão de Tiro, que era hábil no trabalho com bronze (1Rs. 7, 13-22) e muitos outros materiais (2Cr. 2, 13-14). Esta confusão pode ter sido aumentada e reafirmada pela prática de alguns Altos Graus onde a figura de Adonhiram reaparece.


II.3. A normatização dos Graus na Maçonaria Francesa e a “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita”

Ao longo de quase 50 anos, como podemos ver, os Graus e sistemas multiplicavam-se ao ponto de um mesmo Grau ter dezenas de versões diferentes e variações importantes nas palavras de reconhecimento.


Em 1773, devido ao caos instalado pela enormidade de graus praticados sem qualquer regulação, o Grande Oriente da França, tentando introduzir alguma uniformidade nesse emaranhado, cria uma comissão dos Altos Graus que permanecerá com uma actividade bastante modesta até 1782, quando será criada a Câmara dos Graus.


Em 1780, como reacção à publicação do “Catechism de Franc Maçons”, mais uma obra medíocre das tantas que abundavam (e ainda abundam), que desagradou profundamente a um grande estudioso maçónico da época, Louis Guillemain de Saint Victor, este decidiu preparar um estudo contendo pesquisas relativas aos mistérios da Antiguidade, e lançou dois anos depois a “Recueil Precieux de La Maçonnerie Adonhiramite” (Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita). A parte publicada em 1782 abrangia 4 graus, ou seja, Aprendiz, Companheiro, Mestre e Mestre Perfeito. Em 1785 ele lança uma segunda parte onde outros graus eram tratados. Eram eles:


Primeiro Eleito ou Eleito dos Nove;

Segundo Eleito ou Eleito de Perignam;

Terceiro Eleito ou Eleito dos Quinze;

Aprendiz Escocês ou Pequeno Arquitecto;

Companheiro Escocês ou Grande Arquitecto;

Mestre Escocês;

Cavaleiro da Espada ou Cavaleiro do Oriente ou da Águia;

Cavaleiro Rosa-Cruz.

No final desta edição, constava também a tradução do alemão de um grau denominado “Noaquita ou Cavaleiro Prussiano”, o qual era atribuído a um autor maçónico denominado Bérage. Este “13º” foi interpretado por alguns autores como o último grau da Maçonaria Adonhiramita. No entanto, se bem analisado o contexto, fica claro que não existe qualquer ligação entre os graus anteriores e este 13º grau. Além do mais o próprio autor, Louis Guillemain de Saint Victor, afirmou que o grau de Cavaleiro Rosa- Cruz é o ápice e o término do seu sistema.


O período em que Louis Guillemain de Saint Victor escreve é extremamente significativo para a Maçonaria Francesa. Em 1 de Fevereiro de 1782, o mesmo ano em que foi lançada a primeira parte da “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita” ocorre a 121ª assembleia do Grande Oriente da França, onde os irmãos constituem a Câmara dos Graus que se reúne para debates em 19 de Fevereiro de 1782. Em 5 de Março, o Irmão Orador Roëttier de Montaleau, propõe o estudo de todos os graus existentes praticados na França para que se faça uma síntese dos mais importantes e se crie um sistema ordenado, que contemple toda a filosofia maçónica.


Em 21 de Fevereiro de 1783, a Câmara dos Graus apresenta o resultado de uma pesquisa sobre 38 Altos Graus sem nenhum resultado prático.


Em 2 de Fevereiro de 1784 é publicada uma circular anunciando que sete Lojas Capitulares Rosa-Cruz se associaram para formar o Grande Capítulo Geral de França. Este Capítulo Geral da França, vai analisar nada menos do que 81 Graus diferentes, onde se contavam 75 Altos Graus, só entre os chamados “escoceses” e mais de 135 sistemas ou ritos. O Capítulo Geral tentará resumi-los em 5 Ordens, que se tornarão, por assim dizer, o fundamento da “ortodoxia maçónica” em França, e que sintetizarão os elementos fundamentais dos ensinamentos e a forma mais tradicional da família de graus que ele representa.


Já na época da formação do Grande Capítulo Geral, depois de se definir que todos os Graus estudados seriam resumidos em 4 Ordens, estabeleceu-se uma 5ª Ordem, denominada de “Ilustre e Perfeito Mestre” que seria o Grau Académico e administrativo destinado a conservar e estudar todos os graus e sistemas e que serviria também para administrar o Grande Capítulo Geral.


Em 19 de marco de 1784, é publicado o ritual da 1ª Ordem – Eleito Secreto.


Em 18 de Dezembro de 1784 é publicado o ritual da 2ª Ordem, Escocês.


Em 19 de Maio de 1785 é publicado o ritual da 3ª Ordem, Cavaleiro do Oriente.


No segundo semestre de 1785 publica-se o ritual da 4ª Ordem, Soberano Príncipe Rosa- Cruz.


O Grande Oriente da França e o Grande Capítulo Geral da França entrariam em conflito diversas vezes, pelo facto de haver uma certa confusão em relação à autoridade sobre os Graus e as Lojas.


II.4. A estrutura da “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita”

A estrutura apresentada pela “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita” serviu-se da base lançada pelo Capítulo Geral da França a partir de 1784 (tendo em vista que a segunda parte da Colectânea sai exactamente no ano em que o Capítulo Geral da França publica o último de seus rituais, o da 4ª Ordem).


Louis Guillemain de Saint Victor apenas desenvolveu um pouco mais a estrutura apresentada pelo Grande Capítulo Geral da França, focando-se em temas que julgava importantes e desdobrando a 1ª e a 2ª Ordem em 3 Graus cada uma. Vejamos a estrutura de ambos:


II.5. A repercussão da “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita”

A obra de Louis Guillemain de Saint Victor teve repercussão extremamente positiva ao ponto de em 1785 (ou seja, apenas 3 anos após o lançamento da primeira parte e no mesmo ano do lançamento da segunda), já estar a ser publicada, em francês em Filadélfia, EUA. Esta obra tornou-se uma referência canónica do Rito Adonhiramita, e com ela o próprio rito alcançou ampla divulgação e expansão na Europa, chegando a tornar-se no principal rito do Grande Oriente Lusitano e sendo exportado para as suas colónias em África, Ásia e Novo Mundo, inclusive o Brasil.


Na França, tornou-se, junto com a estrutura proposta pelo Grande Capítulo Geral, o padrão da “Ortodoxia Maçónica”. Aliás, é sob o título de “Ortodoxia Maçónica” (“Orthodoxie Maçonnique suive de La Maçonnerie Oculte”, editada em 1837), que Jean Baptiste Marie Ragon (1781-1862) irá cometer dois erros grosseiros que se propagarão com grande sucesso.


O primeiro erro de Ragon é a atribuição da “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita” ao Barão de Tschoudy (Théodore Henry de Tschoudy). Este erro será repetido “ad nauseam” em Portugal e no Brasil.


Tschoudy não teve absolutamente nada a ver com o Rito Adonhiramita. A sua obra, “A Estrela Flamejante” lançava as bases de uma Ordem chamada “Ordem da Estrela Flamejante”, de características alquímicas.


Em 1766, Tschoudy instituiu, mais no papel do que efectivamente, a sua Ordem baseada na lenda de que tradições alquímicas teriam sido passadas pelos ascetas da antiga Tebaída às Ordens de Cavalaria cristã e destas para a Franco-Maçonaria. Tschoudy faleceu em 1769, ou seja, 13 anos antes do lançamento da primeira parte da “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita”.


Ragon confundiu portanto as coisas e atribuiu ao Barão a autoria da “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita”. O segundo erro de Ragon foi a afirmação de que o Rito Adonhiramita continha 13 Graus, pois, para Ragon, o Grau de Noaquita, seria o 13º Grau.


III. O Rito Adonhiramita no Brasil

III.1. Primórdios

A obra fundacional do Rito Adonhiramita, ou seja, a “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita” veio para o Brasil através de uma edição de 1810. Esta edição foi traduzida e publicada pela “Typographia Austral”, no Rio de Janeiro, no ano de 1836 como “Colecção Preciosa da Maçonaria Adonhiramita” .


A primeira Loja REGISTRADA no Grande Oriente do Brasil como praticante do Rito Adonhiramita foi a “Sabedoria e Beneficência”, um ano depois do lançamento da tradução à qual aludimos acima (1837).


Existe a hipótese de que a Loja “Reunião” (1801) e a Loja “Distintiva” (1812), ambas localizadas na actual Niterói, terem trabalhado no Rito Adonhiramita, mas não é possível afirmar isso com certeza.


O Grande Oriente do Brasil, à época, era uma Obediência Mista, ou seja, trabalhava os Graus Simbólicos e os Graus Superiores, sem divisão. A Carta concedida para a fundação do Grande Oriente do Brasil previa a autorização para se trabalhar em todos os Graus utilizados em França e em Portugal, com a excepção dos pertencentes ao Rito Escocês Antigo e Aceito que, desde 1801, exigiam a concessão de uma patente separada, patente essa que deveria ser emitida pelo Supremo Conselho de Charleston ou por Supremo Conselho por ele reconhecido. Justamente por isso, posteriormente (1854), o Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil tornar-se-ia também o Soberano Comendador do R:.E:.A:.A:., pois este era o único Rito trabalhado no Brasil (introduzido em 1829) que exigia uma autorização separada. Já em 1832 foi fundado o Supremo Conselho do R:.E:.A:.A:. no Brasil que trabalharia como uma Potência Maçónica Independente.


Tendo isso em mente, fica clara a tolice de se falar em “patente de regularidade” para o Rito Adonhiramita e Moderno, como se eles fossem o R:.E:.A:.A:.


Em 1839, o G:.O:.B:. criaria um “Grande Colégio dos Ritos”, que era uma espécie de departamento para a gestão dos Ritos Adonhiramita, Moderno e Escocês (de maneira irregular), já que o R:.E:.A:.A:. deveria funcionar, e de facto já funcionava, em separado. Em 1854, com a incorporação regular do Rito Escocês Antigo e Aceito no G:.O:.B:., o “Grande Colégio dos Ritos” sofreu uma transformação. Tendo em vista que, oficialmente, o R:.E:.A:.A:. se incorporaria no G:.O:.B:. e exigia uma gestão separada, não poderia ser simplesmente anexado ao “Grande Colégio de Ritos” ou fundido como era antes. Sendo assim, em 1855 foi criado o “Sublime Grande Capítulo dos Ritos Azuis” (i.e. Moderno e Adonhiramita), que comporia colateralmente ao Supremo Conselho do R:.E:.A:.A:., as Oficinas Chefes dos Ritos.


Para governar as Lojas e Câmaras do R:.E:.A:.A:., o Grão-Mestre teria de se tornar, também, o Soberano Comendador do Supremo Conselho. O “Sublime Grande Capítulo dos Ritos Azuis” teve existência curta. Em 1863, menos de dez anos após sua criação, ocorreu a dissidência liderada por Joaquim Saldanha Marinho, onde foi criado o “Grande Oriente do Vale dos Beneditinos”.


No Grande Oriente “dos Beneditinos” o Rito Adonhiramita foi muito bem sucedido. O número de Lojas trabalhando no rito superou as do G:.O:.B:..


Foi o Grande Oriente “dos Beneditinos” que criaria o primeiro corpo capitular do Rito Adonhiramita no Brasil; em 3 de Outubro de 1872 seria criado o “Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas”.


No G:.O:.B:. foram fundadas as Lojas “Aliança” (1869) e a “Redenção” (1872), que perfaziam 3 Lojas (com a “Firmeza e União”) do G:.O:.B:. contra 5 em funcionamento no Grande Oriente dos Beneditinos.


Com estas 3 Lojas, o G:.O:.B:. criou pelo decreto nº 21 de 2 de Abril de 1873 o “Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas”, homónimo do seu concorrente no outro Grande Oriente. Cabe salientar que o erro de Ragon, o de que o Rito Adonhiramita tinha 13 Graus, sendo o último o de “Cavaleiro Noaquita”, vingou no Brasil.


III.2. Desenvolvimento

Até 1951, esse corpo seria, na prática, o departamento do G:.O:.B:. para o governo do Rito Adonhiramita. Nesse ano, em 23 de Maio, pelo decreto n. 1641, o Grão Mestre do G:.O:.B:., Joaquim Rodrigues Neves promulgava a nova Constituição, onde estava claro que, a partir de então, o G:.O:.B:. só regeria os 3 Graus Simbólicos, mantendo relações “da mais estreita amizade e tratados de reconhecimento”.


Aqui começa uma longa série de equívocos dentro da Maçonaria brasileira, equívocos esses que se mantêm até os dias de hoje. A separação entre Potência Simbólica e Filosófica, até por uma questão de simples lógica, não pode admitir qualquer tratado de “reconhecimento”. A Potência Simbólica só “reconhece” os Graus 1, 2 e 3, sendo, portanto, ilegítima a sua interferência ou “reconhecimento” em Graus que estão fora de sua competência jurisdicional. Da mesma forma, as Potências Filosóficas, enquanto instituição, não têm de ser consultadas ou dar quaisquer pareceres sobre rituais ou questões relativas aos Graus 1, 2 e 3.


Um Tratado de Amizade e Cooperação é muito diferente de Tratado de RECONHECIMENTO. É um espectáculo bizarro e deprimente ouvir que esta ou aquela Potência Filosófica é “irregular” por não manter Tratado de Amizade e Cooperação com a Potência Simbólica X ou Y.


Aos Irmãos que referem esse tipo de ASNEIRA, pedimos que perguntem na secretaria da Grande Loja Unida da Inglaterra, quais são as Potências Filosóficas ou os Graus Colaterais que são por ela reconhecidos. A resposta será “nenhum” e “nenhuma”. A Grande Loja Unida da Inglaterra não interfere, não autoriza ou mantém quaisquer relações oficiais com instituições que tratem de assuntos fora dos Graus 1, 2 e 3, incluindo o Arco Real (que é apêndice do Grau de Mestre). A Grande Loja Unida da Inglaterra não tem qualquer interesse ou ingerência sobre se os seus membros irão ou não irão integrar quaisquer Graus colaterais ou superiores ao Grau 3 e onde farão isso. Já no Brasil, a “confusão” é a regra…


É óbvio e gritante que um Grão-Mestre consciencioso, ao ver a necessidade de qualquer alteração, consultará aqueles Irmãos da Potência Simbólica (que eventualmente podem pertencer a uma Potência Filosófica do Rito, mas não obrigatoriamente) que forem mais eruditos e doutos nas questões históricas, filosóficas e ritualísticas, mas nunca como uma consulta institucional que se confunda com dependência.


Já presenciámos o absurdo de um Grão-Mestre Estadual exigir Graus Filosóficos para a composição da Grande Secretaria de Orientação Ritualística. Ou seja, a confissão de dependência em relação a outra instituição para tratar de assuntos internos. Da mesma forma, é uma declaração de tremenda ignorância maçónica tentar legitimar uma Potência Filosófica com “reconhecimento” por parte de Potência Simbólica.


A Potência Filosófica, no máximo, pode exigir como pré-requisito para a admissão nas suas fileiras que o candidato seja Mestre maçon de uma Potência Simbólica reconhecida por um determinado grupo de Potências. Mas isto não se pode confundir com a Potência Simbólica “indicar” em qual Potência Filosófica o seu membro se filiará e, muito menos, com a Potência Filosófica mendigar um “reconhecimento” institucional de uma Potência Simbólica (que, como dissemos, só tem legitimidade para reconhecer GRAUS SIMBÓLICOS).


Voltemos ao nosso tema…


Em 1953, o “Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas” passaria a designar-se “Muito Poderoso e Sublime Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas para o Brasil”. Em 15 de Abril de 1968, foi assinado entre o então Grão-Mestre do G:.O:.B:., Álvaro Palmeira e o Presidente do “Muito Poderoso e Sublime Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas para o Brasil”, Josué Mendes, um Tratado de Aliança e Amizade.


E nesse período, de 1953 a 1968, o Rito Adonhiramita ficou “irregular”? Respondam os defensores dos “reconhecimentos” por Potência Simbólica…


III.3. O Grande Cisma de 1973

Em 1973, ocorre a grande “reviravolta” no Rito Adonhiramita. Neste ano, treze Grandes Orientes Estaduais desligam-se do Poder Central do G:.O:.B:.. Isto significa para o G:.O:.B:., a perda da maior parte das suas Lojas praticantes do Rito Adonhiramita e uma cisão interna dentro do “Muito Poderoso e Sublime Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas para o Brasil”, que só poderia admitir Irmãos ligados ao G:.O:.B:..


Para recuperar o Rito Adonhiramita dentro do G:.O:.B:. e dentro do “Muito Poderoso e Sublime Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas para o Brasil”, é necessário atrair para ele, Irmãos de outros ritos. Como fazer isso?


Esta foi a questão colocada pelos Irmãos Adonhiramitas remanescentes. Em 1973, sob o comando do Irmão Aylton Menezes, o “Muito Poderoso e Sublime Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas para o Brasil” muda o seu nome para “Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita” (E:.C:.M:.A:.). Restava ainda a completa reformulação do Rito para que se tornasse mais atractivo para uma população maçónica maioritariamente do R:.E:.A:.A:., ou seja, habituada a um sistema de 33 Graus e que não se sentiria atraída por um rito com apenas 13 (12 na verdade).


III.4. As influências intelectuais no processo de reformulação

Na década de 1970, a literatura maçónica no Brasil estava fortemente influenciada pelas obras de autores como Joaquim Gervásio de Figueiredo, Charles Webster Leadbeater e Jorge Adoum. Tais obras eram fartamente publicadas pela Editora Pensamento. A chamada “Escola Histórica” ou “Documental” tinha pouca ou nenhuma influência na maior parte dos maçons brasileiros (tem hoje?).


Tanto Joaquim Gervásio de Figueiredo como Jorge Adoum e C.W. Leadbeater estavam ligados à Sociedade Teosófica (organização fundada nos EUA, em 1875, por Helena Petrovna Blavatsky e Henry Steele Olcott) e entusiastas da Co-Maçonaria (Maçonaria Mista, para homens e mulheres).


A Co-Maçonaria nasce na França com a Iniciação de Marie Deraismes em 1882 na Loja “Les Libres Penseurs”. Esta Loja pertencia à Grande Loja Simbólica Escocesa e foi desligada logo que correu a notícia da Iniciação de Marie Deraismes. A segunda Loja a adoptar a Iniciação feminina foi a “La Jérusalem Ecossaise”, onde Georges Martin foi Venerável Mestre. Ambas as Lojas adoptavam o Rito Escocês Antigo e Aceito. Este, obviamente, foi o rito adoptado inicialmente para o desenvolvimento da Co-Maçonaria.


A primeira Grande Loja fundada fora de França foi a de Zurich, em 1895. Ela constituía a secção nº 3 da “Grande Loge Symbolique Ecossaise Mixte de France”, e era considerada como uma das cinco Lojas (a quinta foi fundada em 1902) do “Le Droit Humain” ainda unicamente francês. Em 1900, a Ordem Co-Maçónica tornou-se internacional e, para tanto, foi fundado um Supremo Conselho Misto dito “universal”, bem como o “Le Droit Humain” Internacional.


Em 1902, a Loja nº 6 “Human Duty” foi criada em Londres, por iniciativa de Annie Besant, importante figura dentro da Sociedade Teosófica e autora de diversos livros ocultistas traduzidos para o português e consumidos por maçons brasileiros, de Francesca Arundale e de George Arundale.


A fundação, seguida da iniciação de quatro novos membros, teve lugar em 26 de Setembro no R:.E:.A:.A:., rito de base de “Le Droit Humain”. Contudo, a partir da reunião seguinte, foi implementado um ritual Inglês (muito provavelmente o de Emulação) com autorização das autoridades do “Le Droit Humain”.


Os fundadores da nova Loja londrina tinham consciência da necessidade de ter uma prática maçónica mais próxima possível da inglesa, para que a sua oficina se pudesse desenvolver numa Inglaterra totalmente indiferente, senão francamente hostil, à noção de Co-Maçonaria. Era preciso adoptar sem demora um ritual em harmonia com aqueles praticados nas lojas masculinas inglesas. Se a questão fosse simplesmente constituir uma loja co-maçónica de franceses que, por razões profissionais ou outras, se viessem instalar na Inglaterra, poder-se-ia continuar a utilizar o R:.E:.A:.A:., mas não era o caso: tratava-se de implantar e desenvolver a Co-Maçonaria na Inglaterra.


Entre 1915 e 1925 Annie Besant, ajudada por C.W. Leadbeater (1847-1934), outro notório teosofista e autor de livros fantasiosos baseados em “clarividência” ou em métodos que incluíam a conversa com uma gata, elaborou rituais específicos para a Federação Britânica. Tais rituais misturavam alguns elementos, a saber:


O ritual de Emulação Inglês,

alguns usos do Rito de York (Norte Americano),

o R:.E:.A:.A:. como era praticado em França,

alguns elementos do Rito de Mênfis-Misraim,

procedimentos muito influenciados por usos eclesiásticos (Leadbeater fora padre da Igreja Anglicana e era bispo da Igreja Católica Liberal, também ligada à Sociedade Teosófica) e

doutrinas teosofistas.

Em 1916 foi terminada a revisão dos rituais do “Craft” (Graus Simbólicos). C.W. Leadbeater escreveu logo um livro de interpretações ocultistas para o ritual – que ele mesmo tinha ajudado a compor-, e esse livro tornou-se um sucesso no Brasil: “A Vida Oculta na Maçonaria”, também editado pela Editora Pensamento.


Alguns dos membros do recém fundado “Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita” eram leitores dessas obras, sem contar com o expressivo número de maçons que também eram membros da Sociedade Teosófica.


A necessidade de reformulação e a possibilidade de alterar sensivelmente os rituais em uso, utilizando a apreciação pela doutrina teosofista de Leadbeater, caíram como uma luva. Os procedimentos descritos na “A Vida Oculta na Maçonaria” logo estariam embebidos nos novos rituais do Rito Adonhiramita…


A divisão em 33 Graus citada por Leadbeater com acentuadas explicações ocultistas etc., unida à necessidade de atrair Irmãos do R:.E:.A:.A:. para o Adonhiramita também veio a calhar.


Dentro de 9 anos, ou seja, em 1982, o Rito Adonhiramita no seio do G:.O:.B:. e do E:.C:.M:.A:. estava completamente transformado: 33 Graus, Cerimonial de Incensação, Cerimonial de Acendimento das Luzes, acentuada influência ocultista e uma tendência para contínuas modificações.


IV. A acomodação dos Graus Adonhiramitas aos Graus do R:.E:.A:.A:.

Para a plena acomodação dos Graus Adonhiramitas no esquema de 33 Graus do R:.E:.A:.A:., era necessária a divisão em Câmaras Ritualísticas. Essa divisão, obviamente, não existe na “Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita”, que foi escrita bem antes do aparecimento dessas divisões no seio do R:.E:.A:.A:..


O sistema de divisão em Lojas de Perfeição, Capítulos, Areópagos ou Oficinas de Kadosh, Consistório e Supremo Conselho foi adaptado ao Rito Adonhiramita com a manutenção dos 10 Graus “filosóficos” originais diluídos entre os Graus Escoceses. Todos, obviamente, com os cerimoniais do “Ritual de Lauderdale”, levemente modificados.


Tendo em vista que o Rito Adonhiramita até então só era praticado no Brasil, ou seja, que não havia a preocupação em se manter alguma uniformidade com outros corpos Adonhiramitas no estrangeiro, as modificações, invenções e teorizações desprovidas de base documental tornaram-se um hábito nos primeiros escalões do Rito.


V. As invenções místicas e os equívocos oficializados

Como tradicionalista, não tenho absolutamente nada contra os ensinamentos herméticos ou as tradições esotéricas. Leia-se bem: TRADIÇÕES esotéricas.


Uma Tradição é a transmissão, de forma ortodoxa, de um conjunto de ensinamentos cuja origem se perde na noite dos tempos e cujo rastro pode ser historicamente traçado através de escrituras, documentos, registros, mitos etc. que, em geral, contam com vasta fundamentação simbólica, filosófica e até antropológica.


Bem diferente de uma autêntica Tradição Esotérica é uma invenção baseada numa suposta clarividência, intuição ou achismo sem fundamentação, sem o apoio de qualquer tradição e sem uma lógica interna que possa, sequer, justificar a sua existência dentro de um determinado sistema de maneira coerente.


Não só o Rito Adonhiramita, mas infelizmente todos os Ritos Maçónicos são vitimados pelo que chamamos de “iluminados”, que tiram do bolso “descobertas”, “usos e costumes”, “melhorias”, “adaptações” ou “interpretações” que fazem com que intelectuais não iniciados e indivíduos externos mais qualificados, ao analisarem a Maçonaria, acabem por considerá-la como uma imensa mixórdia de crendices mal digeridas, coberta com o discurso de “combate à ignorância, à superstição e o fanatismo” para ocultar uma grande fraqueza intelectual.


Como instituição que deve zelar por ensinamentos tidos por “esotéricos”, ou seja, reservados a um grupo selecto, seria desejável que o processo de selecção contemplasse um rigor bem maior, especialmente no que se refere a atributos intelectuais e morais, além da adopção de critérios claros e rigorosos para qualquer tipo de alteração em rituais. No Rito Adonhiramita actual alguns procedimentos são invenções puras e simples. Um exemplo é a “circulação em infinito”, que não consta em nenhum documento histórico do Rito e nem em qualquer outro ritual de onde poderia ter sido tirado.


Apesar da interpretação forçada para enxertar um significado, o facto é que não há em toda a histórica litúrgica do Ocidente ou do Oriente, a tal “circulação em infinito”. Inventem explicações místicas, ocultistas, extraterrestres ou seja lá o que for. Mas não lhe chamem Tradição e nem tentem obrigar os outros a acreditar nisso.


Não contentes com a tal circulação, os “iluminados” ainda inventaram que é necessária uma inversão de sentido de acordo com o Grau trabalhado, transformando a circulação em Loja num verdadeiro bailado e num inferno para os oficiais que necessitam de se movimentar. Pior ainda é que o sentido das circulações muda a cada reforma nos rituais.


A passagem obrigatória por trás da cadeira do Venerável é outra invenção. Tentando imitar a “Ara” do Ritual de Lauderdale (que foi imitada do Rito de York Norte Americano), sobre a qual fica a luz perpétua ou “fogo sagrado” (imitada do Rito de Menfis-Misraim), mas arrastando a mesma Ara para o Oriente, alguém achou bonito imitar o uso norte-americano de não atravessar a linha entre a Ara e a mesa do V:.M:. e, como a Ara está no Oriente (pois o painel tem que ficar no meio da Loja, o que não acontece nem no Lauderdale, nem no York), a solução foi esmagar o pobre oficial em trânsito entre a cadeira do V:.M:. e a parede do Oriente.


Se o erudito Louis Guillemain de Saint Victor assistisse a uma Loja do Rito Adonhiramita hoje, ficaria bastante chocado por ver tantas e tantas inovações. Há também a longa e enfadonha história das cores de gravatas, as discussões sobre gravatas borboletas ou comuns, uso ou não uso de balandrau e muitas outras inutilidades completas que tomam o tempo de quem gostaria de se dedicar a estudos mais sérios e acaba sendo envolvido em debates sobre gravatinhas, frufrus, cor de fato e até de meias, mas que nada trazem em matéria de compreensão de si mesmo, do ser humano, da humanidade, do cosmos ou sequer da história ou das autênticas tradições do Rito que está a ser praticado.


Da mesma forma, vemos com espanto notórias invenções e teorias apócrifas sobre a história do Rito Adonhiramita (e também de outros ritos) sendo estampadas nas edições oficiais dos Rituais, que não apresentam fontes, bases ou elementos minimamente fiáveis sobre o que apresentam. É lamentável ver os Aprendizes a serem doutrinados com este tipo de material de baixo nível.


VI. Conclusão

O presente artigo, como foi dito na sua introdução, tem por objectivo despertar nos Irmãos, especialmente os do Rito Adonhiramita, o gosto pela pesquisa e dar-lhes elementos básicos, fiáveis e colhidos de forma metodologicamente correcta, para o desenvolvimento de pesquisas mais acuradas e específicas.


Não temos a fantasia de, em umas poucas páginas, esgotar um assunto tão vasto. No entanto, talvez este seja o primeiro texto sobre o Rito Adonhiramita no Brasil que apresenta, de forma cronológica e metódica, considerações sobre o desenvolvimento do Rito, as suas alterações, influências intelectuais e as formas tomadas ao longo do tempo.


Quanto mais profunda a pesquisa, menos abrangente ela deve ser. Justamente por isso optamos pela abrangência, para que, posteriormente, cada detalhe possa ser pesquisado com profundidade.


Autor: André Otávio Assis Muniz


VII. Bibliografia

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Rito de Memphis-Misraim

 

O Rito de Memphis-Misraim é uma junção de dois ritos: o de Memphis, constituído em 1815, e o de Misraim, constituído em 1788. A fusão foi realizada, em 1881, por Giuseppe Garibaldi, que foi o primeiro Grão-Mestre Geral da Obediência.

O Rito de Misraim surgiu em Veneza em 1788, quando um grupo ligado a uma seita protestante antitrinitária (dos “Sociniens”), solicitou uma patente de constituição a Cagliostro, que se encontrava em Trento. O grupo desejava, todavia, trabalhar de acordo com o Rito Templário e não com o ritual mágico-cabalístico de Cagliostro. Este, somente lhes deu a luz Maçónica, com os três primeiros Graus da Maçonaria Britânica e os Graus superiores da Maçonaria alemã, de marcante tradição templária.

Misraim é o plural de egípcio, mas o Rito Egípcio só lhe transmitiu a personalidade obediencial. A partir de 1788, o Rito espalhou-se rapidamente por Nápoles, Génova e Milão, chegando a França em 1810, tendo-se ali desenvolvido bastante, sob a protecção do Rito Escocês, já que à sua frente, se encontravam nomes ilustres do Escocismo francês. Sendo absolutamente anticlerical e antimonarquista, foi dissolvido por obra da política da Restauração (Restauração é a época que se estende desde o restabelecimento dos Bourbons, em 1814, até à sua queda, em 1830, com os reinados de Luis XVIII e Carlos X). Clandestino durante dezoito anos, restaurado em 1838, novamente dissolvido em 1841, novamente saído da clandestinidade em 1848, o Rito de Misraim caminhou para a fusão com o Memphis, em 1881.

O Rito de Memphis foi constituído pelos Maçons que participaram na Campanha do Egipto, com Napoleão Bonaparte. A maior parte dos membros desta missão eram Maçons dos antigos Ritos Iniciáticos: Rito Primitivo, Rito Hermético, Irmãos Africanos, Philalètes (alusivo à ilha de Philae, e no Alto Egipto, antigamente consagrada à deusa Isis), além de muitos do Grande Oriente de França. Tendo descoberto, no Cairo, uma sobrevivência gnóstico-hermética e, depois, no Líbano, a Maçonaria drusa, que remontava aos Maçons operativos e que tinha acompanhado os Templários, seus protectores, os Maçons que acompanhavam Bonaparte decidiram renunciar à filiação Maçónica vinda, anteriormente, da Grande Loja de Londres, juntando-se num novo Rito, que nada devia a Inglaterra, então a grande inimiga da França. E assim nasceu o Rito de Memphis, em Montauban, 630 quilómetros ao sul de Paris, em 1815. Da mesma maneira que o Rito de Misraim reuniu os jacobinos com saudade da república e os carbonários, o Rito de Memphis juntou os soldados da antiga Grande Armada e os bonapartistas fiéis. O Grande Oriente, todavia, ainda monarquista, na sua maioria, obtém a dissolução do Rito, embora esta não tenha durado, pois ele ressurgiu em 1826, sob a égide do mesmo Grande Oriente. Dissolvido novamente em 1841, tornou-se clandestino só reaparecendo em 1848, com a república; novamente dissolvido em 1850, reaparece em 1853, unindo-se ao Grande Oriente em 1862, até à sua união com o Rito de Misraim em 1881.

A partir de 1881, o rito passou a ser de Memphis-Misraim, tendo esta unificação sido realizada por Garibaldi, o grande Maçon e carbonário, herói do Novo e Velho Mundo, iniciado no Brasil, mais precisamente no Rio Grande do Sul na Loja “Asilo da Virtude”. Isto não é de estranhar, pois no século XIX, os Ritos de Misraim e Memphis foram as duas Obediências onde se recrutaram os Carbonários que fariam, em 1870, a unificação da Itália: Garibaldi, Mazzini e Cavour entre os principais Herdeiros e depositários das velhas Obediências iniciáticas do século XVIII. O Rito de Misraim representava-as em 90 Graus e o de Memphis em 95; o Rito de Memphis-Misraim, em decorrência disto, ficou com 95 graus.

Estes 95 graus, todavia, devem ser considerados como um simples caminho onde se encontram os velhos Graus Maçónicos que não são mais praticados e não como uma escala de valores. Na realidade, os acordos de 1863 com o Grande Oriente da França e de 1896 com a Grande Loja Simbólica Escocesa (futura Grande Loja de França) apoiam-se apenas nos 33 graus clássicos do Rito de Perfeição, seguido pelo Escocês Antigo e Aceito. As Oficinas superiores do Rito de Memphis-Misraim praticam, obrigatoriamente, os seguintes Graus: 90º (Mestre Eleito dos Nove), 18º (Cavaleiro Rosa-Cruz), 30º (Cavaleiro Kadosh), 32º (Príncipes do Real Segredo) e 33º (Soberano Grande Inspector Geral); os graus 66º, 90º e 95º são honoríficos e concedidos aos velhos Maçons, como recompensa pelo seu valor e a sua fidelidade. Os demais graus são facultativos e deixados ao critério dos obreiros dos graus superiores.

Hoje, o Rito de Memphis-Misraim está espalhado por diversos países, principalmente da América do Sul e Central (Argentina, Chile, Bolívia, Venezuela, Colômbia, Haiti), mas também na Europa (França, Itália, Suíça, Bélgica, Países Baixos), além da Austrália. Ele perpetua as tradições de fidelidade aos princípios democráticos e às ciências iniciáticas. É deísta, mas sem qualquer intransigência, adoptando a definição da “Religião Maçónica”, definida pelas Constituições de Anderson, de 1723, a qual consiste na “moral geral das pessoas honestas”.

Disposição e decoração do Templo
A disposição do templo é como em todas as outras Lojas. No Oriente, todavia, atrás do Venerável, um Painel representa uma Porta de marfim e ouro, fechada e sem uma fechadura aparente, flanqueada por duas colunas de estilo egípcio, entre as quais está, em parte, estendido um véu transparente azul celeste, ou azul turquesa, cobrindo uma parte da porta. Acima da porta está o Delta, com um ponto no meio.

No centro do templo há um grande rectângulo (como o Tapete de outros ritos), com lajes brancas e negras, num total de cento e oito casas; sobre este rectângulo, em três dos ângulos, estão três colunas, dispostas em esquadria, com base para o Ocidente, com um foco de luz sobre cada uma delas . No centro deste rectângulo, há uma pequena mesa, representando um fragmento de Obelisco egípcio, sobre a qual se encontra o Livro da Sabedoria, um foco de luz e um incensório, ou caçoula para queimar perfumes. Os perfumes têm a seguinte composição: 3 partes de pó de incenso, 2 partes de pó de mirra, 1 parte de pó de benjoim e 1/2 parte de açúcar em pó.

As mesas dos oficiais são recobertas de tecido azul turquesa, debruado na cor violeta. Sobre a mesa do Venerável há um candelabro de três braços, enquanto que sobre a mesa de cada vigilante há um candelabro com um só foco de luz. Os Aprendizes tomam lugar na coluna “J”, como nos Ritos Moderno e Adonhiramita.

A Câmara de Reflexão é muito simples: há apenas um crânio humano verdadeiro, um castiçal com uma vela acesa, material de escrita, uma mesa, banco sem encosto e uma caçoula com brasas, sobre as quais é queimado pó de mirra, com perfume dos funerais antigos.

Paramentos
Os Aprendizes e Companheiros usam avental branco, aqueles com a abeta levantada e estes com a abeta abaixada: o avental dos Companheiros poderá ter cordão que o prende na cor violeta. Os mestres usam aventai branco com orla azul turquesa e com três rosetas da mesma cor, formando os três ângulos de um triângulo equilátero (um na abeta e dois no corpo do avental). Os oficiais usam, à tiracolo, uma faixa azul turquesa, com orla violeta. O Venerável e os Ex Veneráveis usam a mesma faixa, mas com orla dourada. Todos os obreiros, em Loja, usam luvas brancas.

Algumas Particularidades Ritualísticas
Os Obreiros entram de acordo com a hierarquia de Graus e Cargos: os Aprendizes à frente, seguidos dos Companheiros, Mestres, Oficiais, Visitantes (que sejam Mestres) e, finalmente, o Venerável, com o Mestre de Cerimónias abrindo o cortejo.
Quando da verificação se todos os presentes são Maçons, todos os Obreiros se viram para o Oriente (isto deve acontecer em qualquer rito) e os Vigilantes passam em revista os Irmãos da sua Coluna, cruzam-se diante do Oriente e tornam-se a cruzar no Ocidente, quando voltam aos seus lugares; à sua passagem, os obreiros colocam-se, um após outro, à ordem.
Os três focos de luz das colunas do rectângulo central são acesos pelo Experto e pelo Mestre de Cerimónias; o Mestre de Cerimónias também acende o foco sobre o obelisco. O 1º Vigilante acende a sua luz na coluna da Força e o 2º Vigilante na da Beleza, enquanto que o Mestre de Cerimónia leva ao Venerável, uma vela acesa naquela do obelisco, para que ele acenda o candelabro de três braços. Finalmente, o Mestre de Cerimónias aviva as brasas da caçoula dos perfumes.
É o Venerável Mestre que abre, em qualquer lugar (como no Rito de York), o Livro da Sabedoria, colocando, sobre ele, o Esquadro e o compasso na posição do Grau e, sobre estes dois instrumentos, a Régua.
A bateria é feita como nos Ritos Moderno e Adonhiramita, por dois golpes seguidos e um mais espaçado: 0 – 0 — 0. Na abertura e no encerramento dos Trabalhos, a bateria é tripla, acompanhada da aclamação.
A aclamação é: Liberdade! Igualdade! Fraternidade! Huzzé! Huzzé! Huzzé!.
Na Cerimónia de Iniciação também ocorre o desnudar parcial do candidato e a retirada dos seus metais.
As três viagens são como o Rito Moderno, com o Experto representando, respectivamente, o pai (Meu filho, vinde comigo), o mestre (meu discípulo, (acompanhai-me) e o amigo (meu amigo, apoie-se em mim) do candidato, em cada uma das três fases da existência humana.
Não há a Cerimónia da Taça Sagrada de outros Ritos. Todavia, no início da cerimónia é dado, para que o candidato beba, um copo com a Bebida do Esquecimento (que é uma infusão fria de espinheiro-alvar), enquanto que, próximo do final, antes do juramento e de lhe ser dada a luz, o candidato é convidado a ingerir a Bebida da Memória (que é uma infusão de genciana). Nesta parte, o Venerável explica, depois da Bebida do Esquecimento, que se fez do candidato um corpo morto, sem vontade própria, a Bebida da Memória fará dele um Maçon activo, um verdadeiro Filho da Viúva.
Depois do compromisso, o Mestre de Cerimónias perfura, com a ponta de uma espada, o Testamento Filosófico do Recipiendário, que estava em poder do Venerável, e queima-o numa das chamas do altar, enquanto o Venerável explica que “a palavra humana altera-se e apaga-se, mas aquilo que é confiado ao fogo, perdura eternamente”.
Quando a Luz é dada ao neófito, a Estrela Flamejante fulgura durante um breve instante. A Estrela simboliza a “Senhora do Ocidente”, ou seja, a Isis antiga, e brilha na cerimónia de recepção dos três Graus Simbólicos, mas de maneira diferente em cada uma delas.
No final de cada Sessão é formada a Cadeia de União Fraternal e, antes dela, há a cerimónia do Beijo de Paz com os obreiros de pé e à ordem, o Venerável abraça o Irmão que está imediatamente à sua direita e o Beijo da Paz circula do Norte ao Ocidente, do Ocidente ao Sul, para voltar através do Irmão que está mais próximo da sua esquerda (há um ritual abreviado, onde esta passagem é abolida).

Os Altos Graus na Maçonaria

 

O tema sugerido de Altos Graus na Maçonaria tem ligação directa com alguma da minha vivência de Ritos de Altos Graus. E com troca de experiências de Jurisdições estrangeiras Irmãs. Como um simples Aprendiz de Maçonaria ganho sempre mais “espritualmente” quando partilho informação maçónica com Irmãos ou estudiosos da Maçonaria. Penso que todos aprendemos uns com os outros. Como sabem, existem escassa divulgação de obras sobre altos graus, pelo que tentarei fazer uma súmula sobre este tema referente a três estruturas de Altos Graus de Ritos diferentes.

Começarei por ditar estes apontamentos com o que se entende por regularidade maçónica e liberal. E com a “devida vénia” citarei aqui a melhor destrinça que encontrei nas minhas pequisas e cujo autor se encontra nesta sala.

“Os maçons regulares, também chamados tradicionais ou de via sagrada, são os que trabalham nas suas Lojas sob a invocação de Deus, Grande Arquitecto do Universo, sobre o Livro Sagrado, o Esquadro e o Compasso.
Os maçons liberais ou de via substituída, reunem-se segundo os mesmos ritos, decorações e ideais, já dispensam a via espiritual, e trabalham sobre as Constituições de Anderson, a do (Publicado em freemason.pt) seu País, sobre a Declaração Universal dos Direitos do Homem e sem nacessariamente invocarem Deus, o Grande Arquitecto do Universo.
Isto é, os regulares pressupõem a crença no Criador e situam-se no plano do sagrado, os liberais partem do postulado da liberdade de crença ou não no Criador e colocam-se no campo do laicicismo e, portanto envolvem-se mais directamente na vida profana, que procuram aperfeiçoar e transformar.
Ambos buscam o seu próprio aperfeiçoamento, mas com efeitos diversos ao nível de intervenção na sociedade. Para o maçom regular a sociedade será mais perfeita se isso decorrer do processo de aperfeiçoamento pessoal enquanto que para o maçon liberal o essencial é ele ser o agente da transformação da sociedade.”
Na verdade, cada jurisdição maçônica tem os seus Regulamentos e Estatutos e quer sejam regulares ou liberais são constituídas por maçons que se respeitam desde que ambas sigam os Landmarks. Mas não é maçom quem quer. Não basta autoproclamar-se. É imprescindível que os seus irmãos “o reconheçam como tal”, ou seja é necessário que tenha sido iniciado, por outros maçons, cumprido com as suas obrigações de maçon, esotéricas, simbólicas e que esteja integrado numa Loja, que por sua vez pertença regulamentarmente a uma Grande Loja ou Grande Oriente, que fossem devidamente consagrados.

Luís Nandin de Carvalho, no seu livro “A Maçonaria Entreaberta” publicado em 1997.

O espírito maçônico de fraternidade, igualdade e liberdade floresceu nas sociedades profanas e influenciou para sempre as grandes conquistas conseguidos em acontecimentos mundiais como a Independência dos Estados Unidos, a Revolução Francesa, a Revolução Russa e a Independência do Brasil.

E em muitos outros países incluindo o nosso, embora os governos vigentes e as pressões da Igreja Católica entrassem em choque direto com a fraternidade.

Após esta introdução passemos a algumas citações e reflexões sobre Maçonaria.

A Franco-Maçonaria atual foi fundada em 24 de Junho (dia de S. João) de 1717, em Londres. Para muitos estudiosos a Ordem Maçônica remonta às lendas da construção do Templo do Rei Salomão, de acordo com relatos do Antigo Testamento. A sua origem está ligada também às lendas de Ísis e Osíris, no antigo Egito; ao culto a Mitra, vindo até à Ordem dos Templários e à Fraternidade Rosa-Cruz. Em 1723, o Rev. Anglicano James Anderson publicou as Constituições da Maçonaria que são universalmente aceites e são utilizadas como base em todas as Lojas maçônicas.

Em 1717, a Maçonaria passou do campo operativo em que efetivamente se construíam catedrais para o campo especulativo em que os maçons iniciaram um processo de “construção” sim da “catedral da humanidade”. A Maçonaria utiliza métodos para transmitir os ensinamentos e organizar as cerimônias maçônicas, a que chama Ritos ou procedimentos maçônicos.

Existem no mundo cerca de 200 Ritos e se continuar a atual desorganização social talvez em 2050 existam 300. No entanto, os principais podem contar-se por sete dedos. A saber:

Rito Escocês Antigo e Aceite (REAA) – o mais universal
Rito de York (RY) – o mais antigo do mundo
Rito Francês ou Moderno (RF/M)
Rito Schröeder (RS)
Rito Brasileiro (RB)
Rito Adonhiramita(RA)
Rito Escocês Rectificado (RER)
Como sabem a atual Maçonaria divide-se:

Maçonaria Simbólica constituída pelos três primeiros graus obrigatórios e que estão pre-vistos nos Landmarks. Que se divide em Obediências Maçônicas designadas por Grande Loja ou Grande Oriente e que administram diversas Lojas.
Altos Graus, que constituem os graus Filosóficos ou Superiores que não são obrigatórios e constituem uma opção. Estes estão normalmente subordinados a Supremos Conselhos ou Supremos Grandes Capítulos, Grandes Comendas e Grão-Priorados, de acordo com as Leis de cada Grande Corpo Maçônico. Destes, escolhemos o Rito mais universal, o mais antigo e o que considero o mais seletivo.
A saber:

Rito Escocês Antigo e Aceite (REAA)
Rito de York(RY) e rito de Emulação(REm)
Rito Escocês Rectificado (RER)
Na Maçonaria Regular a maioria das Grandes Lojas e Grandes Orientes são consagradas, instaladas e reconhecidas por Grandes Obediências Irmãs Estrangeiras mais antigas. Cada Obediência tem a sua própria Grande Loja-Mãe ou Grande Oriente e a que está ligado indissoluvelmente.

Nos Corpos de Altos Graus, a Maçonaria segue sempre a regra trinitária, isto é, para ser consagrado e instalado um Supremo Conselho, um Grande Capítulo, uma Grande Comenda, um Grão-Priorado, etc a base de construção é como em Grande Loja ou Grande Oriente(com as suas (Publicado em freemason.pt) Lojas azuis ou de S.João) ou seja três Lojas, três Conselhos, três Capítulos, três Comendas. No RER existem as Lojas verdes e a Ordem Interna como veremos mais adiante.

Rito Escocês Antigo e Aceite – R.E.A.A.
Este Rito provem do Rito de Heredom e da época da fuga dos Cavaleiros Templários para a Escócia e está ligado ao Antigo Testamento e à lenda de Hiram. A influência do Templarismo existia no Rito de Heredom sob a mestria de Andrew Ramsay (criador deste rito em solo francês), mas não no R.E.A.A.. Aliás, de acordo com os historiadores Christopher Knight e Robert Lomas a formação deste rito deve-se ao facto da Grande Loja Unida de Inglaterra (United Grand Lodge of England) se recusar a reconhecer os altos graus da maçonaria regular, o que originou a formação em 1819 de um Supremo Conselho para a Inglaterra dos graus do Rito Escocês.

Por influência do Cavaleiro Ramsay as primeiras referências a estes graus, são oriundos de França, no período de 1715 a 1745. Ramsay foi tutor dos filhos do rei escocês Jaime VIII que se encontrava exilado em França. Foi nesta época que surgiram as primeiras referências ao termo escocês (écossais). Na “História da Franco-Maçonaria” de Albert Mackay, este autor refere que os partidários do Rei Jaime e da dinastia dos Stuarts todos exilados em França estavam fortemente envolvidos em actividades maçónicas.

Esta é uma das razões porque, devido ao termo escocês, muitos maçons pensam que este rito terá tido origem na Escócia, o que como vemos não corresponde à verdade. As suas regras e fundamentos foram elaborados no dia 1º de Maio de 1786 e desde essa data constituiram-se os 33 graus. O que caracteriza o REAA é a ligação entre a tradição hermética, principalmente nos três primeiros graus e a uma graduação dos Altos Graus (do 4º ao 33º) e que é normalmente rejeitada pela maçonaria inglesa.

Em primeiro plano, “a purificação” pelos quatro elementos inclui-se uma orientação nítidamente hermética. Não remonta ao alquimistas da Idade Média, mas é provável a inspiração nos tratados de alquimia vulgares no séc. XVIII e adaptado por maçons à iniciação maçónica. A purificação pela Terra, pelo Ar, pela Água e pelo Fogo induzem no candidato, à medida que passa pelas provas, a percepção gradual do sentido esotérico da “passagem” que faz ,vindo das profundezas do mundo terreno para a ascese que lhe é dada pelo sopro do espiritual. É só na Câmara de Reflexão que percepciona o enorme sentido esotérico- o enxofre, o sal e o mercúrio- que lhe serão fundamentais à iluminação final.

Em segundo plano, muito importante também, é a sua evolução nos graus Superiores das Lojas de Perfeição (do 4º ao 14º), dos Capítulos (do 15º ao 18º), dos Aréopagos (do 19º ao 30º) e dos graus administrativos (do 31º ao 33º). Neste Rito os graus e a lenda do Mestre constroi-se passo a passo. A reconstrução do Templo de Salomão tem aqui uma particular importância. Aqui a reflexão filosófica sobre o Homem, o seu destino, a sua centelha divina e os valores que ditam a sua dimensão racional, minada por vezes, pelo desleixo, a incúria e o dislate.

Graus do REAA
SIMBÓLICOS
1º – Aprendiz
2º – Companheiro
3º – Mestre
FILOSÓFICOS
Lojas de Perfeição
4º – Mestre Secreto
5º – Mestre Perfeito
6º – Secretário Íntimo
7º – Preboste e Juíz
8º – Intendente dos Edifícios
9º – Mestre Eleito dos Nove
10º – Ilustre Eleito dos Quinze
11º – Sublime Cavaleiro dos Doze
12º – Grande Mestre Arquitecto
13º – Cavaleiro do Real Arco
14º – Prefeito e Sublime Maçon – Grande Eleito da Abóbada Sagrada
Capítulos
15º – Cavaleiro do Oriente ou da Espada
16º – Príncipe de Jerusalém
17º – Cavaleiro do Oriente e do Ocidente
18º – Soberano Príncipe Rosa-Cruz
Areópagos
19º – Grande Pontífice ou Sublime Escocês
20º – Soberano Príncipe da Maçonaria ou Mestre Ad Vitam
21º – Cavaleiro Prussiano ou Noaquita
22º – Cavaleiro do Real Machado ou Príncipe do Líbano
23º – Chefe do Tabernáculo
24º – Príncipe do Tabernáculo
25º – Cavaleiro da Serpente de Bronze
26º – Príncipe da Mercê ou Escocês Trinitário
27º – Grande Comendador do Templo
28º – Cavaleiro do Sol ou Príncipe Adepto
29º – Grande Cavaleiro Escocês de Santo André da Escócia
30º – Cavaleiro Kadosch ou Cavaleiro da Águia Branca e Negra
Tribunais
31º – Grande Inspector Inquisidor ou Grande Juíz Comendador
Consistório
32º – Sublime Cavaleiro do Real Segredo
Supremo Conselho
33º – Soberano Grande Inspector Geral
A estrutura do R.E.A.A. é dirigida por um Soberano Grande Comendador que preside ao Sacro Colégio e aos Soberanos Grandes Inspectores Gerais. É um Corpo Maçónico com Jurisdição independente, reconhecido internacionalmente e que tem a responsabilidade de manter a regularidade.

Rito de York (R.Y.)
Ritual e Rito de Emulação (R.E.M.)
O Rito de York moderno também conhecido como o Real Arco, teria sido criado por volta de 1743 e levado para Inglaterra em 1777. É o Rito mais difundido em todo o mundo maçónico . É o Rito predominante nos Estados Unidos. Por ser teísta está mais ligado aos países onde predominam os cultos evangélicos, onde o clero tem dado o apoio e o suporte necessário à sua evolução e desenvolvimento. Neste país, a sua fundação vem (Publicado em freemason.pt) do ano de 1799 pela mão de Thomas Smith Webb que lhe deu a estrutura e doutrina filosófica com procedimentos gerais adaptados ao sistema maçónico, pelo que é normalmente identificado como “Rito Americano ou de York”.

No entanto, o Manuscrito Régio de 1389 (conservado no British Museum em Londres), diz-nos que sob o reinado de Athelstan, na cidade de York no ano de 926 houve um grande Congresso de maçons, convocado e presidido por seu filho o Príncipe Edwin e que teria sido nessa magna Assembleia que a Maçonaria teve o seu primeiro Regulamento Geral. Já neste Regulamento havia regras de comportamento no trabalho, na sociedade e até dentro da igreja., entre outros.

Posteriormente, o Manuscrito de Coke em 1583 refere também esta Assembleia e as reuniões feitas pelo rei Athelstan que convocava e dirigia as assembleias dos numerosos maçons operativos, associados em guildas. Nesta fase a Lenda de York passou definitivamente da tradição oral para a tradição escrita da Maçonaria Especulativa.

Assim, os autores crêem que o Rito de York seria o rito tradicionalmente praticado desde os tempos do rei Athelstan e que confirma a multissecular tradição maçónica de acordo com o Livro das Constituições de 1723. Num outro manuscrito conhecido como a Constituição de York, diria que a tradução dos anteriores documentos em 1807 teriam passado do Latim( que era o idioma das pessoas cultas) para o Inglês e em 1808 para o Alemão pelo I:. J.A. Schneider. Esta última tradução é publicada pelo editor I:. Krause, conhecido pelo Manuscrito de Krause e que estaria muito próximo da Constituição da Grande Loja Unida de Inglaterra em 1813.

Esta é a lenda de York. Contudo perante tantas evidências históricas que confirmam a veracidade do seu conteúdo, a maioria dos autores chamam-lhe a “Tradição de York”.

Na união dos maçons “antigos”(Grande Loja dos Antigos -1751) e dos “modernos”(Grande Loja dos Modernos – 1717) em 1813 foi oficialmente aprovado o ritual dos antigos como ritual oficial da Grande Loja Unida de Inglaterra e naquele momento recebeu o nome de Ritual de Emulação( o Emulation Working) com a particularidade de se manter a tradição de nada escrever e por isso nada se sabe ao certo o que foi aprovado.

Mas até chegar a esta fase muito fizeram para conciliar as diferenças ritualísticas das duas Grandes Lojas rivais, passando pela Loja da Reconciliação que harmonizou os rituais durante 3 anos até que em 1816 foi aprovado um novo ritual mantido até 1986, ano em que a GLUI decidiu que todas as referências a penalidades físicas fossem omitidas dos juramentos assumidos pelos candidatos nos três graus e pelo Mestre Eleito na sua instalação, mas mantendo-as nas cerimónias noutro momento.

Apenas em 1969, o Rito de Emulação foi oficialmente impresso com autorização oficial da GLUI, embora nesse ano já existissem diversas impressões não oficiais. Embora denominado Rito, os Ingleses consideram-no mais como um Ritual. O Rito representa as regras e cerimónias de carácter sacro ou simbólico que seguem preceitos estabelecidos e que se devem observar na prática. Em suma, representa o sistema de organizações maçónicas.

O ritual representa o livro que contém o conjunto de práticas consagradas pelo uso e por normas que deverão ser observadas em determinadas ocasiões. Isto é o cerimonial. Mas a principal característica deste Rito/Ritual é que todas as intervenções são realizadas de cor. No Rito de Emulação, os graus superiores estão agregados numa Loja de Marca ou num Capítulo do Arco Real com os seguintes graus:

Mestre de Marca
Ex-Mestre ou Past Master
Muito Excelente Mestre
Mestre do Arco Real
Escocês Trinitário
Este é o Rito por excelência praticado em Inglaterra e largamente difundido em todos os paises de influência Inglesa. As jusisdições anglo-saxónicas mantém outras ordens de altos graus como por exemplo:

o Grande Conselho da Ordem dos Graus Aliados,
o Grande Conclave da Ordem do Monitor Secreto,
a Grande Loja e Grande Conselho da Real Ordem da Escócia,
a Ordem de Cavaleiros Templários e Ordem de Malta(honorária),
a Ordem da Cruz Vermelha da Babilónia.
Toda esta explicação era necessária para melhor compreendermos a génese do York.

Em relação ao Rito de York para além das Lojas Simbólicas (1º, 2º e 3º grau), os seus Altos Graus estão classificados assim:

Graus Capitulares (conhecidos como Maçonaria do Real Arco)
4º grau – Mestre de Marca
5º grau – Past Master
6º grau – Mui Excelente Mestre
7º grau – Maçon do Arco Real
Conselho Críptico (conhecido como Conselho de Mestres Reais e Escolhidos)
8º grau – Mestre Real
9º grau – Mestre Escolhido
10ºgrau – Super Excelente Mestre
Comendadoria Templária (conhecida como Ordem dos Cavaleiros Templários)
11ºgrau – Ordem da Cruz Vermelha
12ºgrau – Ordem de Malta
13ºgrau – Ordem do Templo

Os graus Capitulares enfatizam as lições de regularidade, disciplina, integridade e reverência, a consagração do Sanctum Sanctorum e a descida do Espirito Santo no Templo. Ser exaltado como Mestre do Arco Real coroa de forma grandiosa os conhecimentos do Mestre Maçon.. É o momento em que a Lenda do Templo de Salomão é concluída. È o cume dos graus originais das Lojas Simbólicas, tal como praticadas nas antigas Lojas de Inglaterra antes de 1820. Estes graus explicam as origens da palavra substituta encontrada no grau de Mestre Maçon, o resgate da Palavra Inefável e o seu ocultamento no Real Arco. Os Capítulos são presididos e geridos por Sumo Sacerdotes.

A cúpula dos Graus Capitulares é um Supremo Grande Capítulo do Arco Real com jurisdição própria e reconhecimento internacional e é presidida por um Grande Sumo Sacerdote responsável por todos os Capítulos constituintes.

A Maçonaria Críptica forma o corpo central do Rito de York da maçonaria livre. Um Mestre Maçon que tenha aderido a um Capítulo de Maçons do Arco Real, recebido os quatro graus e queira depois procurar mais conhecimento pode ser admitido num Conselho de Maçons Crípticos. Os graus da Maçonaria Críptica são dos graus mais belos da Maçonaris Livre. A Maçonaria Livre é muito filosófica e ensina os seus ideais através de alegorias. É moralista e religiosa, mas não é uma religião. Não oferece uma teologia nem um plano de salvação. Contudo, oferece um plano moral para ser aplicado neste mundo.

O Rito Críptico tem o nome derivado da Palavra Críptica porque a cena dos graus de Mestre Real e Mestre Escolhido ocorre na Críptica subterrânea sob o Templo do Rei Salomão. A Palavra representa na alegoria maçónica a busca pelo homem de objectivos para a vida e para a natureza de Deus. Simbólicamente, a Maçonaria Livre ensina, na Loja, como a palavra se perdeu e sobre a esperança da sua recuperação. O Arco Real, no Capítulo, ensina como ela foi redescoberta. A Maçonaria Críptica, no Conselho, completa esta história (Publicado em freemason.pt) ensinando como se preserva a Palavra inicial. O Grande Conselho de Maçons Reais e Escolhidos é presidido e dirigido por um Grão-Mestre Críptico sob cuja administração estão os Conselhos Crípticos geridos pos Ilustres Mestres.

As Ordens Cavalheirescas diferenciam-se de outras pela sua estrutura paramilitar. Os Estados Unidos por exemplo seguem a preceito a parafernália que é semelhante ao uniforme militar. Neste Rito só pode pertencer á Ordem do Templo quem for cristão.

A Comendadoria Templária com as respectivas Ordens da Cruz Vermelha, de Malta e do Templo está estruturada numa Grande Comenda de Cavaleiros Templários também com Comendas subordinadas. Estas Ordens Cavalheirescas são presididas por um Grande Comendador.

O Rito de York mantém para além da Ordem dos Sumo-Sacerdotes Ungidos e Consagrados e da Ordem da Trolha de Prata muitas outras estruturas de Altos Graus como por exemplo:

Grande Conclave Imperial da Ordem de Constantino e das Ordens do Santo Sepúlcro e de S. João Evangelista.
Soberana Ordem dos Cavaleiros Preceptores
Cavaleiros Defensores da Cruz
Grande Conselho de Cavaleiros Maçons
Ordem Maçónica de Bath
Conselho de Grande Preceptores da Ordem de S. Tomás
Grande Colégio dos Cavaleiros Templários do Arco Real.
Cavaleiros Honorários da Cruz de York
E por outras estruturas laterais tais como:

Alto Conselho da Sociedade Rosacruciana
Real Sociedade dos Cavaleiros do Ocidente
Grande Colégio de Ritos
Conselho Imperial dos Nobres do Santuário Místico (Shrine).

Os Altos Graus do Rito de York apoia organizações maçónicas dirigidas por maçons, esposas e familiares como a Ordem de Amaranth, a Ordem da Estrela do Oriente, a Ordem do Santuário de Jerusalém bem como organizações para jovens, nomeadamente para rapazes a partir dos 12 aos 21 anos a conhecida Ordem DeMolay , e para raparigas a Ordem das Filhas de Job e a Ordem do Arco-Iris dos 12 aos 20 anos.

Rito Escocês Rectificado – R.E.R.
O Rito Escocês Rectificado é um rito cristão com origem na Doutrina da Estrita Observância Templária do séc. XVIII (do Barão Carl von Hund -1722/1776- ) escrita no mais antigo documento maçónico francês (La carte inconnue de la franco-maçonnerie chrétienne). È um código maçónico cujo texto segue a lógica das Constituições do pastor Anderson mas sintonizado na crença do cristianismo como requisito primordial para a crença maçónica, o que o liga a uma tradição cavalheiresca que remonta aos cavaleiros templários.

O francês Jean-Baptiste Willermoz(1734-1824) – (iniciado em 1750, venerável em 1752 e grão-mestre em 1761) – realizou um intenso trabalho de pesquisa, condensação e depuração que resultou na sua actual versão. Willermoz sofreu a influência de Martinez de Pasqually fundador da Ordem dos Eleitos Coens (Elus Cohens) cuja obra continuou.

Willermoz foi assíduo frequentador das Lojas regulares françesas, dos Capítulos Templários Alemães da Estrita Obediência e dos Philalèthes, fundando em 1779 a Ordem dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa que reuniu à sua volta um grupo de maçons devotados a uma leitura espiritualizada e “mágica” dos ritos maçónicos, entre os quais Martinez de Pasqually, Luis Claude de Saint-Martin, Joseph de Maistre e o Conde de Saint-Germain.

Ensinava Willermoz que para encontrar a pedra cúbica, que contém em si todos os dons, virtudes ou faculdades, é necessário encontrar o princípio da vida. Esse espírito tem a faculdade de purificar o ser anímico do homem, prolongando a sua vida. E tem o condão de transformar os vis metais em ouro, encontrando-se nos três reinos da natureza. O Adepto teria que encontrar maneira de o manipular.

O código do Rito inspira-se no teosofismo de Martinez de Pasqually em que a doutrina esotérica deve comportar a revelação de verdades primordiais, comunicadas noutros tempos a seres privilegiados, mas com a possibilidade de ser transmitida aos que escolham a via do diálogo íntimo com o Criador.

O R.E.R. contou também com o trabalho de organização e depuramento ritualísta feito pelo Barão de Weiler, que rectificou algumas das lojas de Estrasburgo seguindo o rito da Estrita Observância Templária da Alemanha. Weiler instalou em 1774, em Lyon, o primeiro Grande Capítulo na região tendo colocado Willermoz como delegado regional. Posteriormente, foram constituídos mais capítulos em Montpellier e em Bordeaux. O sistema era constituído por 9 graus agrupados em 3 classes:

A primeira classe – Aprendiz, Companheiro e Mestre.
A segunda classe – Escocês Vermelho e Cavaleiro da Águia da Rosa Cruz.
A terceira classe – Escocês Verde, Escudeiro Noviço, Cavaleiro e Professo.
Estava e está ligado à mensagem de Amor e Tolerância do Novo Testamento sem detrimento da Justiça vinculada no Antigo Testamento.

Actualmente, o R.E.R. completa-se por seis graus organizados em:

Lojas Azuis ou de S. João
1º – Aprendiz
2º – Companheiro
3º – Mestre
Maçonaria Rectificada (Lojas Verdes ou de Santo André)
4º – Mestre Escocês de Santo André
Cavalaria Rectificada (Ordem Interior)
5º – Escudeiro Noviço
6º – Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa
Existiam também os graus de inspiração sacerdotal integrados em Colégios de Profissão, hoje ocultos e portanto não praticados e que eram os Professos e os Grande Professos.

Os Altos Graus do R.E.R. são administrados por um Grande Priorado Independente sob a direcção jurisdicional de um Grão-Prior. E como todos os outros Altos Graus reconhecidos internacionalmente.

Todas as estruturas de Altos Graus mantem tratados de mútuo reconhecimento com a Grande Loja ou Grande Oriente a que os seus Irmãos pertencem e nos quais se devem manter em situação regular para poderem ter lugar naquelas estruturas.

Em resumo e para finalizar, na tradição judaico-cristã o conceito de rito refere-se a um corpo de tradição litúrgica normalmente correspondente a um determinado centro. Exemplos- falamos do rito romano ou latino, do rito bizantino , do rito ciríaco.

O conceito refere-se também a várias formas de actos religiosos agrupando três tipos de rito:

De Passagem, que produzem alterações na qualidade de um indivíduo(exemplo, os sacramentos do baptismo, do casamento ou de uma graduação);

Os de Adoração à divindade que tem lugar numa Igreja Cristã, numa capela, num mosteiro, numa sinagoga, numa mesquita;

E os ritos de Devoção pessoal que ocorrem em qualquer lugar sagrado ou numa peregrinação religiosa a um local de particular devoção (Fátima, Lourdes, Meca, etc…)

Na tradição simbólica e esotérica o rito é essencialmente uma expressão da interpretação dos usos e costumes da Fraternidade, das tradições transmitidas oralmente, desde (Publicado em freemason.pt) que os maçons se reúnem a coberto para glorificar o Criador e evoluir na Arte Real. Isto, de acordo com as fontes de há 300 ou há 1000 anos.

O mais importante é que os ritos não são para os maçons e as suas organizações, bíblias, dogmas ou repositórios inquestionáveis de uma Verdade absolutizada ou sectarizada. São interpretações, exegeses, mergulhos na mais profunda dimensão dos Homens Livres, a sua profunda espiritualidade e sede de perfeição.

Vitor Azevedo Duarte

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