sexta-feira, 19 de março de 2021

Os Mundos da Cabala

 


A origem e objetivo da Cabala é voltar ao mundo real. Partimos do princípio que nossa vida cotidiana cheia de leis de trânsito, bolachas de chocolate e amores de verão não é tudo a única que temos para viver. Não que vivamos em um mundo completamente falso, mas ele é longe de ser completamente verdadeiro.

Os cabalistas ensinam que entre as causas originais e nossa experiência regular existem cinco fases, cincos camadas, cinco véus, ou se quiser, cinco mundos. É como se cada mundo superior deixasse sua marca no mundo inferior. Desta forma não podemos dizer que o mundo dos nossos cinco sentidos sejam falsos, assim como uma marca de papel carbono da nota fiscal não é falsa, mas é uma impressão de algo anterior.

Uma forma de entender isso é imaginar que o mundo das causas é uma festa de aniversário. Só quem está lá pode interagir e experenciar a festa. Mas ess afesta é tão legal que alguém resolve gravar com uma câmera do celular; o vídeo não é a festa em si, mas não existiria sem ela. Esse vídeo vai para alguma rede social e viraliza, até que alguém dá um print em uma parte do vídeo e posta como uma foto. A foto não é nem o vídeo, nem a festa mas não existiria sem ela.

Atzilu, Mundo da Emanação
Beriá, Mundo da Criação
Ietzirá, Mundo da Formação
Assiá, Mundo da Ação

O Rabino Lamed Ben Clifford em seu livro ‘The Chicken Qabalah’, descreve uma forma muito boa de entender estes quatro mundo. Uma forma boa mas que eu mudarei um pouco para atender meus propósitos aqui. Imagine que estamos entrando na fábrica de cadeiras: “Cadeiras JHVH”, um edifício de quatro andares que faz cadeiras de todos os tipos além de ser uma ótima metáfora para o que chamamos de mundo real.

Assiá: O Chão de Fábrica

O primeiro andar é o chão da fábrica. Assiá, o Mundo da Ação. Quando entramos vemos inúmeras linhas de montagem quase completamente automatizadas cuspindo a mais recente criação da ‘Cadeiras JHVH ltda’: uma série de cadeiras de balanço ultra-confortáveis. Este andar é o que a maioria das pessoas conhece como “Natureza” e integra em si a logística de distribuição sendo responsável por responder duas perguntas muito importantes: “Onde?” e “Quando?”. Somente Assiá pode responder estas questões por uma razão muito simples: nos andares superiores o espaço-tempo não existe.  Os peões recebem instruções via malote e email do departamento logo acima e sua equipe projeta tudo segundo os padrões que recebeu.

Ietzirá: Departamento de TI

O andar de cima Ietzirá está repleto de nerds (também chamados por alguns de anjos) que fazem os projetos das cadeiras que são enviadas para baixo. Em vez de chão de fábrica temos aqui cubiculos e salas de reuniões. Estes engenheiros abastecidos de café usam o AutoCAD e o pacote Office para criar novas cadeiras segundo seus elevados padrões de qualidade. Aqui eles respondem uma pergunta valiosa: “Como?” e para isso isso eles usam não só o alfabeto hebraico, mas muitas outras linguagens de programação além de muita, muita matemática. Mas eles só projetam aquilo que recebem do andar de cima, geralmente de modo vago por telefone.

Beriá: O Departamento de Criação

O andar acima é Beriá, onde está a equipe de criação. A pergunta respondida em Beriá é “O que?” Os cubiculos são substituidos por uma ambiente mais criativo e os funcionários parecem estar eternamente fazendo brainstorm. Muitas idéias morrem aqui mesmo sendo descartadas por alguns dos funcionários mais realistas, mas eventualmente uma ideia parece tão boa que é enviada para os andares de baixo. Recentemente o pessoal se divertiu muito imaginando uma cadeira com amarras e circuito elétrico capaz de matar um ser humano. Mas porque eles, neste caso, gostariam de matar um ser humano? A ideia é deles, mas todas as vontades vem do andar de cima.

Atzilu: A Diretoria

Atzilu é o nome do andar onde está o poderoso chefão, o dono da empresa, cujo nome é Adam Kadmon. Foi ele que decidiu que ‘morte’ e disse as 17:50 da sexta feira que a equipe de Criação teria que varar a noite até terem uma ideia de cadeira apropriada. Mas ele não quer só morte. Foi graças a ele que temos hoje as cadeiras de rodas também. Embora tenha fama de mal, ele não é nem bom nem mal, mas quando quer algo, esse algo acontece e ponto final. A pergunta que Atzilu responde é “Por que?” e ao contrário dos departamentos abaixo geralmente a resposta é uma só: “Porque Eu Quero.”

Rabi Baruch Habas


Árvore Qliphotica

 


Este material é um acompanhamento do curso de Qlipoth: A Árvore da Morte, oferecido por Marcelo del Debbio adicionado de alguns insights pessoais do autor e apresenta uma introdução ao estudo da árvore da morte da cabala qliphótica. Esse estudo pode trazer medo quem só está acostumado com o lado luminoso da cabala e ilusões quem não está acostumado com cabala nenhuma. Ele fornece entretanto conceitos importantes tanto para quem quer evitar os erros do caminho com para quem quer se proteger da malícia dos demais.

Lida de cima para baixo a árvore da morte é um manual de como a opressão é criada e mantida,  Lido de baixo para cima entretanto pode ser vista como uma rota de fuga. Um mapa capaz de denunciar os mecanismos usados para nos escravizar. Este resumo trará a segunda opção com os nomes e características de cada Qlipha, bem como dos túneis que as ligam. Também foi incluído um pequeno questionamento meditativo em cada qlipha sobre os obstáculos que a árvore da morte impõe.Também será fornecida uma referência de ficção da literatura ou do cinema de uma distopia .

Entretanto a forma mais de compreender a árvore da morte é comparar cada um de seus elementos com seu correspondente na árvore da vida. Trata-se sempre de uma versão corrompida, prostituída e degenerada de sua contraparte. Por essa razão a cada elemento estudado será sempre mencionada a sephira ou caminho da qual é a sombra. Se estes nomes forem novidades para você, interrompa a leitura e faça um estudo da cabala pela via luminosa antes de continuar.

Conceitos chave:

 Árvore da morte: É o oposto da árvore da vida. Composta por qliphoth e túneis.Algumas pessoas tratam a árvore da morte como como as raízes subterrâneas, a sombra ou ainda o reflexo invertido da árvore da vida.
Qlipha: Qlipha (plural Qliphoth) é para a árvore da morte o que uma sephiras é para a árvore da vida. Cada uma possui sua correspondente em uma das duas árvores. Qlipha significa literalmente casca no mesmo sentido da casca de uma fruta, que depois de separada de sua polpa doce e nutritiva e só que só serve para ser jogada fora para servir de adubo.
Túneis: Os túneis ligam duas qliphoth na árvore da morte da mesma maneira que os caminhos ligam duas sephiroth na árvore da vida. São pontos em que duas forças se influenciam mutuamente gerando um resultado específico e que engana e prende a luz como uma teia.

Vejamos agora as Qliphoth e seus túneis separadamente:

X – Nahema (Os sussuradores)
Sombra de Malkuth

Conceito chave: escravidão

Ficção distópica: Matrix

Também chamada de Lilith. Esta é a masmorra, o porão da árvore da morte. É o resultado concreto em um reino de escravidão, ignorância e servidão onde em vez de perseguirem sua verdadeira vontade as pessoas aceitam, servem e obedecem completamente um sistema criado para aprisioná-las. É uma jaula fácil de ver por fora mais difícil de enxergar por dentro. Por essa razão é trivial detectar as ideologias, sistemas e religiões que manipulam outras pessoas mas é muito difícil detectar os sistemas que manipulam a nós mesmos. A primeira atitude para quem quer liberdade é se tornar consciente da falta dela.

Questionamento meditativo:

“Consigo enxergar os mecanismos de escravidão em que estamos imersos?”

 

IX –  Gamaliel (Os obscenos)
Sombra de Yesod
Conceito chave: Ilusão
Ficção distópica: Jogos Vorazes, a Ilha

Gamaliel é a terra das ilusões. Enquanto a imaginação consciente pode ser libertadora a mera fantasia é um grande obstáculo para o desenvolvimento. Em Gamaliel são produzidas as aspirações e ideias de que que um dia, de alguma forma a verdadeira realização virá e justificará toda escravidão dando então ao oprimido os mesmos benefícios que os opressores já tem.  Essa mitologia artificial deve de preferência durar toda a vida, por isso tradicionalmente nos sistemas religiosos a justificação só ocorre depois da morte. Enquanto isso, em termos de política, o socialismo convence as massas que a elite do partido é um mal temporário é necessário e o capitalismo convence os pobres que um dia, se tiverem sorte ou trabalharem muito poderão se tornar ricos. Tudo isso faz os prisioneiro serem os primeiros a defender suas prisões e a defender o mesmo sistema que os vampiriza. Na escala pessoal se trata da preguiça e da auto-ilusão que tudo consome e nada produz.

Questionamento meditativo:

“Quanto da minha criatividade é limitada pelas fantasias que consumo?”

 

Túneis:
32 (IX – X)

Thantifarax (Intolerância)

Sombra do Mundo

Afim de vender as ilusões de Gamaliel dominar os escravos de Nahema, Thantifarax, o carcereiro do jardim do éden, é a intolerância que garante exclusividade dos sonhos. Individualmente é a incapacidade de imaginar. Na sociedade  é o consumo apenas dos mitos enlatados e autorizados rechaçando qualquer sonho que saia da norma como ridículo, insano ou perverso.

 

VIII – Samael (O veneno de Deus)
Sombra de Hod

Conceito chave: Mentira

Ficção distópica: 1984

Esta qlipha é a ninho da mentira e da desonestidade intelectual e da auto-ilusão. Aqui os interesses são mais importantes do que a verdade e a própria linguagem é manipulada para não mais expressar a realidade mas sim favorecer nossos planos. No indivíduo essa sombra se manifesta sempre que pronunciamos inverdades e distorcemos os fatos por interesse próprio. Em uma escala maior ela faz nascer o controle da mídia para atender interesses políticos. Por essa razão quem tem o poder político sempre tentará controlar o poder midiático. Além disso o próprio controle de quais palavras e rótulos são usados para descrever uma situação já é uma expressão de poder. Usualmente em um sistema opressor bem estabelecido a liberdade de expressão é cerceada e toda produção intelectual precisa de aprovação.

 

Questionamento meditativo:

“Fui convencido de que algo é tão complicado que não possa entender?”

“Minto para mim mesmo por conforto ou comodismo?”

 

Túneis:
 

31(VIII-X) Shalicu  (preconceito)

Sombra do Julgamento
As mentiras fabricadas em Samael são perpetuadas no reino de Nahema através do preconceito. A cultura de escravidão e das falsas idéias são disseminada aqui por meio do uso de imagens, símbolos, piadas, histórias e linguagem viciadas que sustentam algumas mentiras essenciais.

 

30 (VIII-IX) Raflifu (falsos ídolos)

Sombra do Sol

Para assegurar que as mentiras se integrem a sociedade são construídos ídolos que representam o sucesso dentro de um sistema particular.  Estes falsos ídolos, são castas ou heróis que representam os sonhos encarnados dos escravos, mostrando que é possível chegar lá. Para serem como eles as massas o imitarão e farão tudo o que ele disser.

 

VII – A’arab’zarak (Os corvos da dispersão)
Sombra de Netzach

Conceito chave: Distração

Ficção distópica: Admirável Mundo Novo

Aqui gralham os corvos da dispersão cujo grande objetivo é tirar o nosso foco. Na esfera pessoal a influência dessa qlipha é sentida no escapismo de distrações usadas como válvula de escape para os problemas reais. Na esfera coletiva essas distrações reafirmam as ilusões criadas em Gamaiel e as mentiras criadas em Samael quando as autoridades desviam a atenção das massas mantendo-as ocupadas e longe das questões importantes e dos problemas reais. É o famoso Pão e Circo de Roma que se desenvolveu hoje para se transformar na indústria do entretenimento vazio onde o burlesco e o grotesco impede as pessoas de pensarem.

 

Questionamento meditativo:
“As distrações que me ocupam me afastam de meus problemas reais?”

 

Túneis:
 

29 (VII-X) Quliefi (Medo)

Sombra da Lua

Por outro lado quando os corvos da distrações falam diretamente com os escravos é sempre em um contexto de restrição no intuito de gerar um medo institucionalizado. Enquanto Tzuflifu diz que tudo vale, Quliefi brada que tudo é proibido. Isso torna os escravos confusos, sem saber como agir, para onde seguir e prontos para obedecer.

 

28 (VII-IX) Tzuflifu (Desejos)

Sombra do Imperador

As distrações de  A’arab’zmak quando conversam com as ilusões de Gamaliel criam um espaço onde finalmente os oprimidos podem dar vazão aos seus desejos. Numa escala pessoal aqui estão os vícios m geral Seguindo uma receita aprovada todos os desejos e paixões podem ser satisfeitos. Estes desejos não são apenas permitidos, mas compulsórios e quem quer que não os alimente é um proscrito.

 

27 (VII-VIII) – Paraxitas (Ódio ao diferente)

Sombra da Torre

As distrações de  A’arab’zmak somadas as mentiras de Samael se unem para formar uma casca mental de o ódio a tudo o que for diferente.  Assim esse túnel é a origem de toda cultura do “nós contra eles” e faz uma eficiente separação de seres humanos em grupos opostos. Se você identifica um certo ódio irracional a um tipo específico de ser humano, provavelmente já está respirando o ar deste túnel.

 

VI – Thagirion (O Sol Negro)
Sombra de Tipheret

Conceito chave: Egoísmo

Ficção distópica: V de Vingança

Thagirion é o agente centralizador das ações de todas as esferas vistas anteriormente. Ela queima com a  obsessão de fazer valer seus desejos acima de todas as outras  vontades e arde ao extremo de não emitir mais qualquer luz de cima. Isso faz  a estrela da vontade entrar em colapso gravitacional tornando-se um grande buraco negro no centro da árvore da morte. Em uma escala pessoal é o egoísmo autoritário, na história tem se traduzido na ascensão de imperadores na antiguidade e dos grandes ditadores industriais como Stalin, Hitler e Mao.

 

Questionamento meditativo:

“Abro mão de minha verdadeira vontade por medo e insegurança? Sou autoritário com alguém?”

 

Túneis:
 

26 (VI-VIII) A’ano’nin (Propaganda)

Sombra do Diabo

O imperativo egolatria de Thagirion é reforçado por meio da máquina da propaganda. Ou seja, um esforço ativo e oficial de promulgar sua ideologia e, muitas vezes, um culto a sua imagem divina. Na política pode surgir como um monopólio declarado dos meios de comunicação ou como criptocracia das mídias por parte

dos poderosos.

 

25 (VI-IX) SakSakSalin (Status Quo)

Sombra da Temperança

A normalização da realidade para atender os designeos de Thagirion é o que dá origem ao status quo. A idéia aqui é que a opressão não é apenas uma configuração arquitetada com malícia mas sim o estado natural e original das coisas. Qualquer tentativa de mudança é portanto não natural e fadada ao fracasso.

 

24 (VI-VII) Niantiel (Culto a juventude)

Sombra da Morte

Uma das maneiras de tornar seu controle certo é criar nos escravos um culto a juventude no qual qualquer acúmulo de sabedoria ou vivência é visto como não desejável. A indústria da moda, os padrões de beleza são alguns de seus efeitos físicos na coletividade. Mas o culto a ignorância e a infantilização são também sinais mais sutis deste túnel.

 

V – Golachab (Os incendiários)
 

Sombra de Geburah

Conceito chave: Violência

Ficção distópica: MadMax

Esta é a esfera da violência e da subjugação por meio do uso da força. Sua diretriz é reinar pelo terror causando danos, sofrimento ou morte em qualquer oposição. No mundo particular se traduz em ira ou mesmo violência doméstica e em termos de geopolítica na indústria bélica. O monopólio das armas e o constante pensamento belicoso é um dos mais antigos artifícios de tomada e concentração da autoridade. Se a concentração de força for desproporcional a opressão está garantida, permitindo como disse Sun Tzu, em A Arte da Guerra, subjugar o inimigo sem lutar. Quem controla as armas coloca-se ainda acima de todos os conflitos menores e geralmente prospera vendendo munição para os dois lados.

 

Questionamento meditativo:

“De quem ou do que tenho medo? Do que esse medo me afasta?”

 

Túneis:
 

23 (V-VIII) Malkunofat (Burocracia)

Sombra do Enforcado

A força de Gloachab se expressa no mundo das mentiras de Samael por meio da regularização extrema e imposição de regras e procedimentos explícitos. Aqui nascem os impostos dos governos,  as regras inúteis capazes de validar ou invalidar rituais e em particular a hierarquia das castas que colocam cada pessoa em seu devido lugar.

 

22 (V-VI) Lafoursian (Injustiça)

Sombra da Justiça

Enquanto as regras de  Malkunofat algemam toda intelectualidade, Lafousian estabelece a injustiça por meio de uma política de exceção. Por um lado isso significa que algumas pessoas terão tratamento especial enquanto outras pessoas enfrentarão todo o rigor da lei. A decisão de quem é quem cabe a quem possui o monopólio da violência.

 

IV – Gma’Asheklah (Os perturbadores)
Sombra de Chesed
Conceito chave: Ganância
Ficção distópica: Elysium

A influência dessa qlipha se revela quando a prosperidade e riqueza serve apenas a si mesma.  Quando isso acontece o comércio e a indústria não prosperaram mais provendo soluções, mas sim perpetuando problemas. Aqui nascem as atuais indústrias químico-farmacêutica-alimentar onde as sementes só podem ser plantadas uma vez para serem compradas e remédios de uso prolongado recebem mais pesquisas do que a cura das doenças propriamente ditas. É também a casa da indústria financeira onde riqueza não tem mais origem no trabalho e sim na especulação e nos juros sobre juros. Em uma escala microcósmica a influência dessa qlipha pode ser vista quando o dinheiro torna-se um fim em si mesmo.

 

Questionamento meditativo

“Quais são as coisas que cobiço? Do que essa cobiça me afasta?”

 

Túneis
 

21 (IV-VIII) Kurgasiax (Poluição)

Sombra da Roda da Fortuna

A fim de vender e enriquecer cada vez mais Gma’Asheklah produz neste túnel toda sorte de poluição. De um lado do túnel o vendedores vendem qualquer coisa que gere lucro, do outro lado o comprador compra qualquer coisa que lhe sirva de distração. Isso significa total negligência com as consequências de longo prazo, o meio ambiente e as outras pessoas.

 

20 (IV-VI) Yamalu (Suborno)

Sombra do Heremita

O poder do ego aliado ao desejo da riqueza por si só faz nascer o corrupto e o corruptor. Sabendo disso Gma’Asheklah e Thagirion se manipulam mutuamente o tempo todo, um para acumular ainda mais recursos e o outro para impor mais facilmente seus planos

 

19 (IV-V) Temphioty (Desumanização)

Sombra da Força

O acúmulo de poder como meta e a violência extrema como método nos levam ao último limiar da árvore da morte que ainda pode ser considerado humano. Aqui ocorre a completa desumanização e não existe mais nenhuma barreira. O “Nós contra eles” se degenera ainda mais e dá origem ao “Eu contra todos”.

 

III – Satariel (Os ocultadores)
Sombra de Binah

Conceito chave: Negação

Ficção distópica: Fahrenheit 451

Ocultar recursos, informações e possibilidades é o que rege esta qlipha. A idéia é que as pessoas não podem lutar contra um inimigo que você nem sabem que existe e não podem buscar por tesouros dos quais você nunca ouviram falar. Daí vem o impulso imediato de todo criminoso de ocultar o próprio crime e de todo ser humano de negar as próprias falhas. Além disso, quanto mais subimos na hierarquia de uma corporação, mais avessa ela será a transparência. Existem câmeras de vídeo apontando para a cabeça de todo caixa, mas nenhuma janela nas salas de reunião de cúpula. O governo nega ter conhecimento.

 

Questionamento meditativo:

“Sou um agente de luz e libertação ou um agente da restrição e ocultamento?”

 

Túneis:
18 (III – V) – Characith (Censura)

Sombra da Carruagem

A ocultação violenta se traduz em censura.  Ou seja, no uso sistemático de uma força superior para suprimir idéias, recursos e pessoas. Queimar livros, controlar acesso, proibir manifestações e calar pessoas são os primeiros degraus deste túnel, o último deles é a execução  de qualquer pessoa que pense ou fale demais.

 

17 (III-VI) – Zanradiel (Difamação)

Sombra dos Amantes

Difamação é outra arma usada para ocultar esforços da oposição. Numa escala pessoal este túnel se traduz na fofoca e na inveja, mas na humanidade não faltaram exemplos históricos do uso sistemático da difamação como no macartismo e na inquisição espanhola.

 

II – Ghogiel (Os estorvadores)
Sombra de Chokmah

Conceito chave: Confusão

Ficção distópica: Arquivo X

Enquanto Satariel preocupa-se em ocultar a realidade por meio da restrição e da falta de acesso, Gkogiel faz a mesma coisa por meio de um lamaçal de lixos inúteis, vomitando infinitas versões deturpadas da verdade. A idéia aqui é que a razão se não pode ser completamente eliminada ela será então ocultada em uma multidão de irracionalidade. A verdade desaparece assim em meio a um mar de mentiras. Um governo por exemplo pode criar e soltar as mais bizarras teorias da conspiração para ocultar a conspiração verdadeira tornando-se impossível distinguir o certo do errado. Os estorvadores causam a alienação pelo excesso de informação.

 

Questionamento meditativo:

“As coisas que consum, defendo, e acredito colaboram com minha verdadeira vontade?”

 

Túneis:
 

16 (II-IV) Uriens (Sectarismo)

Sombra do Hierofante

O enxame de lixo de Gkogiel  encontra a ganância de  Gma’Asheklah e dá origem ao túnel do sectarismo.  Em pequena escala aqui nascem as panelinhas, mas nas grandes corporações gera círculos internos dentro de círculos internos e eventualmente no surgimento de dissidências concorrentes.

 

15 (II-VI) Hemetherith (Loucura)

Sombra da Estrela

O ego inflado em Thagirion dá a luz a todo tipo de extravagância que reforça seu poder e caráter único distanciando-o das demais pessoas. Desvirtuada da verdadeira vontade quando mais poder, mais loucura ao ponto de não haver diferença entre o poder supremo e a loucura completa.

 

14 (II-III) Dagdagiel (Corrupção)

Sombra da Imperatriz

Ação dos ocultadores e dos estorvadores dão origem a corrupção em seu sentido mais abstrato, de essência estragada, ou core (núcleo), rupto (rompido). Se estabelece uma versão invertida do lema caoista e então “Nada é permitido e tudo é verdadeiro”. Daqui o erro se multiplica de forma virulenta para todos os outros túneis abaixo como uma herança maldita, um pecado original e um câncer fora de controle que cresce até consumir tudo, incluindo a si mesmo.

 

I – Thaumiel (O Gêmeo de Deus)
Sombra de Kether.

Conceito chave: Destruição

Ficção distópica: H.P. Lovecraft

Toda perversão vista nas outras sombras e que causam a escravidão ao desembocar em Nahema podem ser rastreadas até essa qlipha que essencialmente fala da essência do mal sendo causada por um ato de vontade externo ao sistema em uma intenção de destruí-lo. Essa é a única explicação possível para a existência da arte da morte, pois ela existe em uma constante situação de auto-destruição com diversos sistemas de opressão concorrendo uns com os outros e  se destruindo mutuamente. Segundo a tradição da cabala sepharadita, por exemplo, entidades de fora do nosso sistema solar, não podendo participar da criação de nosso mundo lançaram no coração humano suas sementes de corrupção e essas sementes por sua vez destroem toda a árvore da vida, de dentro para fora. Esses seres anti-cósmicos são retratados também nos mitos de H.P Lovecraft que fala de deuses extraterrenos completamente fora de nossa realidade, sem qualquer interesse humano e capazes de destruir tudo o que existe.

 

Questionamento meditativo:

 

“Eu mesmo colaboro com a escravidão e opressão de outras pessoas?”

 

Túneis
 

13 (I-IV) Gargoprias (Traição)

Sombra do Sacerdotiza

O agente externo é o verdadeiro manipulador que puxa os cordões de quem puxa o cordão. Ele promete o domínio completo da árvore ao mesmo tempo que estimula sua destruição, o resultado não poderia ser outro senão a traição. O ego pensa estar traindo o mundo quando na verdade está sendo traído e colaborando com sua aniquilação final.

 

12 (I-III) Barachial (Feitiçaria)

Sombra do Mago

As sementes do mal de Thaumiel podem corromper mais facilmente o sistema quando existe dentro dele um agente colaborador. A figura do mago negro como alguém que usa a feitiçaria de um poder sombrio superior é fácil de visualizar e representa bem este túnel, mas em outras escalas a feitiçaria está presente em qualquer ato intencional e consciente de maldade. Esse agente entende que a árvore da morte não pode ser mantida por muito tempo e, decidido a tirar o maior proveito possível antes da destruição final, opta pelo mal.

 

11 (I-II) Amprodias (Suicídio)

Sombra do Louco

O terceiro túnel que liga a Thaumiel é o daquelas pessoas que, entendendo que a árvore da morte é por si só decadente e que esconde em sua própria estrutura a essência de sua destruição, não vê outra solução senão destruir a si mesmo em antecipação da destruição do todo. Essas pessoas também optam pelo mal, mas levam seu ódio ao cosmos a última consequência acabando com sua própria vida numa tentativa de escapar do sistema.

 

Considerações finais
 

Embora essas explicações possam dar a entender que a Árvore da Morte só existe em grandes instituições, seitas e organizações, devemos considerar que o aspecto sombrio pode estar presente em qualquer manifestação. Mesmo uma relação a dois pode ser qliphotica. Ainda mais, é possível e bastante comum sabotarmos nós mesmos e assim fazemos sempre que nos desvirtuamos do caminho de nossa verdadeira vontade.

 

Rápidas Análises Qliphotica

Com base no que foi passado tentamos estruturar duas árvores da morte para servirem de comparação.

Este primeiro exemplo foi escolhido para mostrar como é muito fácil ver os mecanismos de escravização dos outros, particularmente um tão reforçado atualmente como a alemanha nazista. Por outro lado o atual sistema ocidental também tem um viés escravizador que muitas vezes passa despercebido.

A segunda análise traz duas aproximações genérica para facilitar o reconhecimento de uma natureza Qliphotica em cultos e organizações políticas. O primeiro caso é um bom exemplo de árvore da morte de ação particular, e o segundo de ação coletiva, embora é claro uma coisa afete a outra. Note que em ambos os casos em Thaumiel temos alguém que sobrevive ao desmoronamento de toda estrutura e que pode facilmente fundar outro grupo para reiniciar o processo de vampirização. Outro ponto interessante é que nestes exemplos fica clara a natureza fractal destas estruturas. Assim com a árvore da vida cada qlipha tem dentro de si uma mini árvore da morte. Dentro da Gestapo certamente os membros e subdivisões se organizam de modo semelhante, assim como o Politicamente Correto que rege o que é ou não pecado no mundo moderno tem expressões em todas as outras Qliphas.

QliphaGrupos ReligiososGrupos Políticos
I. ThaumielAlta hierarquiaAlta Cúpula
II. GhogielBoatariaDesinformação
III. SatarielTabusCensura
IV. Gma’AsheklahLavagem de DinheiroLobismo
V. GolachabRepressãoMilitancia agressiva
VI. ThagirionLíder do CultoCaudilhismo
VII. A’arab’zarakMonopólio SocialPão e Circo
VIII. SamaelDoutrinaçãoPropaganda
IX. GamalielPromessas da féIdeologia
X. NahemaCultistasEleitores


domingo, 14 de março de 2021

Cultura Draco-Luciferiana

 


Na busca pelo autoaperfeiçoamento, pelo autoconhecimento e pela liberdade psicomental, o iniciado em si mesmo educa sua vontade, exercita o livre-pensar, a psiconáutica e desenvolve a criação visionária. Dentro do contexto filosófico oculto, do gnosticismo ofita esquerdo e do draconismo, o indivíduo procura englobar em sua bagagem cultural as ciências arcanas e “malditas” e os quatro grandes pilares do conhecimento humano, a saber: ciência, religião, filosofia e arte em seus aspectos mais ocultos, criativos e práticos para a experiência da consciência individual.

Mas todo esse conhecimento adquirido deve ser profundamente compreendido e internalizado para que se torne sabedoria. É importante “filtrar” com discernimento a cultura, o conhecimento, as informações que se adquire, pois todo e qualquer conhecimento internalizado pode se converter em néctar ou veneno. O néctar proporciona clareza de pensamento, organização intelectual e consciência iluminada (ou luciférica); o veneno se espalha na constituição humana, dispersando e confundindo todo o conhecimento não compreendido e não assimilado, distorcendo a realidade, distorcendo o entendimento e podendo causar algum nível de distúrbio psicomental.

Assim, a cultura pessoal de cada indivíduo autoconsciente, de cada filósofo livre, de cada luciferiano e de cada draconiano, deveria ser relativamente ampla e abrangente, dentro do possível. Porém, não é o que ocorre com relação à grande maioria das pessoas, geralmente (muito) comuns e correntes. Há pessoas, ou grupos, com matéria mental ainda muito crua e rudimentar, mesmo na atualidade com tantas tecnologias e informações acessíveis a muitos. Por outro lado, há também aqueles de inteligência mediana muito específica, condicionada, um tipo bastante comum de “inteligência de ofício”, útil somente para a atividade profissional estritamente mundana e corriqueira, o que é diferente da inteligência (de “ofídio”) mais expandida daqueles que se interessam por conhecimentos além do comum e corrente, além da prosaica vida mundana cotidiana, limitada, insossa e sem maiores expansões psicomentais.

A inteligência expandida encontra o meio de se manifestar somente no influxo psicomental de indivíduos abertos, receptivos, conectados aos planos “invisíveis” (pode-se ver a mente?) de luz e trevas (a essência de toda manifestação), demonstrando uma avançada compreensão interior devido ao seu próprio grau evolutivo individual. Pessoas tais possuem inquietudes e vontade pelo saber, capacidade de descobrir as coisas por si mesmas e sede de conhecimentos. Essa arte de descobrir, de adquirir conhecimento e experiência, de solucionar problemas por meio da inteligência, etc., é o que se chama de heurística, seja na ciência, na religião, na filosofia ou na arte, os quatro grandes pilares do conhecimento que devem formar um todo na mente e na vida do indivíduo consciente, do gnóstico ofita (ou draco-luciferiano).

Heuristicamente, o pilar da ciência, ou gnosis (conhecimento), representa o fundamento intelectual com a experiência direta das causas e efeitos das coisas, vivenciando as próprias verdades. O método científico é aplicado pelo inciado draconiano em suas próprias experiências, observando, analisando, experimentando e comprovando suas próprias teorias e hipóteses sobre questões ocultistas, expansão da mente, psiconáutica, etc. Isso o leva ao autoconhecimento, à verdadeira gnose pessoal, para além do mero cientificismo “desumano”, mecanoide e meramente materialista. A ciência é a mente elevada autoconsciente (a “com-ciência”), o pensamento livre e esclarecido e o discernimento racional para a aquisição experiência gratificante da mente, das emoções e do corpo, para aquisição de cultura superior e de conhecimento científico útil e prático para o próprio desenvolvimento do indivíduo.

O pilar da religião, ou melhor da autodeificação, representa a experiência direta da emoção superior consciente, algo apenas vivenciado no interior de cada um. É a união da Individualidade (Lúcifer, Logos Luciférico, Daimon) com as forças da natureza e do universo. A religião do verdadeiro agape é o verdadeiro amor devocional por si mesmo enquanto entidade evolutiva autoconsciente, e não tem nada a ver com as inúmeras religiões venenosas, dogmáticas e coercivas instituídas pelo mundo afora. Trata-se de uma experiência supranormal e extremamente marcante vivida e provada para si próprio e para mais ninguém. A religião do verdadeiro agape certamente não é a religião do fanatismo das massas; não é a religião fundamentalista que cultua as guerras, a dor, o sofrimento, a tristeza e dissemina a confusão mental; não é a religião da enfermidade psicomental, da estagnação e da acídia, ou seja, da preguiça e desolação do espírito (supra) humano e da inteligência. A religião do agape é a viagem do indivíduo em seu próprio interior, um mergulho em suas próprias emoções primitivas (e psicomentais) que jazem no próprio abismo (Daath, “Conhecimento”) microcósmico, seja por meio da ritualística ou por meio da psiconáutica neuroquímica controlada, ou seja lá o que for.

O pilar da filosofia, ou sophia (sabedoria), é a busca da verdade individual que só tem fundamento e valor para o próprio buscador; é a busca pela realização do ideal fundamental latente no indivíduo. Ao contrário de muitos filósofos que parecem estéreis, aprisionados em seus labirintos intelectuais, o filósofo oculto pragmático emprega meios tais como sistemas metafísicos, ritualística, meditação, projeção da consciência, psiconáutica, entre outros, para a experiência da Individualidade, para a aquisição de sabedoria acerca de si e do universo, na medida em que isso seja possível. Teoricamente, a filosofia é o sistema que estuda a natureza de todas as coisas e suas relações. Na filosofia oculta e no gnosticismo ofita, sophia conduz à paz ataráxica, impertubável, do espírito, ao bem-estar, à alegria, à satisfação e ao prazer.

O pilar da arte, ou thelema (vontade) é o fundamento das ideias intuitivas, da vontade criadora e realizadora. A arte só pode expressar a criatividade se houver verdadeira vontade, impulso e ousadia, livre de limitações impostas e oriundas das repressões sociorreligiosas. Arte é a capacidade de realizar a obra sobre si mesmo, de aperfeiçoá-la com vontade forte. Na filosofia oculta e no draconismo, arte é o conjunto de conhecimentos, capacidades e talento para concretizar ideias, sentimentos e visões de maneira estética e “viva” por meio de imagens (pintura, escultura), sons (música) e palavras (literatura). A verdadeira arte realizada através de thelema (vontade) está muito longe da pseudoarte grosseira, antiestética, de mau gosto e desonesta que “artistas” estereotipados e pedantes produzem sem nenhuma inspiração autêntica. A verdadeira arte se realiza sob vontade para manifestar porções do próprio Ser (a Individualidade luciférica).


Gnose Noturna e o Caminho da Serpente

 A presente compilação contém um texto introdutório sobre a Gnose em seu âmbito sombrio, seguindo para um arranjo de excertos da obra do poeta Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente, que revela profundos conhecimentos ao estudante do Caminho da Mão Esquerda.


Gnose Noturna

 

A raiz etimológica grega “gnos” é largamente utilizada em termos relacionados a obtenção de ciência em alguma área ou assunto. Entre as palavras cognatas dessa raiz, temos o verbo gignosco (conhecer) que deu origem ao termo Gnosis (Gnose/Conhecimento), e de todos os correlatos, o verbo gignosco é o que denota mais clara e intimamente o significado do que é a Gnose Noturna.


Gignosco era o principal termo utilizado pelos gregos para aludir o ato de união sexual entre indivíduos, mas não se tratava tão somente de uma troca de intimidade carnal, pois a finalidade principal era a transação espiritual, visto que o corpo com suas formas e beleza erótica era cultuado como uma exposição de atributos divinos e considerado a mais perfeita criação dos deuses. Sendo assim, nada melhor que o coito para entender isso.


A Gnose dessa época, então, pressupõe um gama de  conhecimentos adquiridos através da ação de justapor os opostos coeternos (materia/espírito) através da união outorgada pela Libido/Vontade, porém no acme dessa prática no Século II, época em que a Gnose é estudada por várias correntes teológicas e filosóficas cristãs, esse Conhecer foi fortemente restringido sob acusação de heresia da parte de quem praticasse-o e as escolas gnósticas atacadas pelas suas doutrinas,  estudos e operações, porque tanto a vontade pessoal quanto a libido utilizados para alcançar a Gnose eram assuntos de grandes tabus dentro do cristianismo. Isso levou a vários teólogos e pensadores cristãos a difundirem de forma veemente que essas práticas gnósticas eram pecaminosas. Isso pode ser visto em obras como Adversus Haereses de Ireneu de Lyon, Refutatio Omnium Haeresium de Hipólito, entre outras.


Contudo, mesmo sob perseguição, muitas escolas gnósticas mantiveram-se autênticas e não abandonaram seus fundamentos. Como exemplos temos as escolas de Gnose Ofita e Qayinita que se rastrearmos os ensinamentos que não esmoreceram ao bombardeio cristão, conseguiremos escavar até a base da Gnose Noturna.


A escola da Gnose Ofita  era a mais secreta e fechada em seus fundamentos. Para ela quem precursou o conhecimento para o Homem foi a Serpente, arquétipo figurativo de grande importancia em tantos mitos e culturas. Essa escola chamava a Serpente por Nachash, termo mais usual no aramaico. Nachash que tem o significado de “sibilar ou sussurrar”, som típico da Serpente, era um termo relevante para essa escola pois seus ensinamentos eram “sussurrados” em segredo entre os homens pneumáticos (espirituais) sem ser malbaratado aos ouvidos dos hiléticos (mundanos).


Não raramente, essa escola usava o Mito da Queda do cristianismo para transfigurar a Serpente na imagem do Lagarto ou Dragão com cabeça de mulher. Isso era feito com o propósito de obter a Gnose através da alquimia proibida do Nigredo, o conhecimento através da união sexual, do qual a Mulher e seu sensual poder de atração é a maior representante.


Esse Mito foi adotado para ensinar a transgressão de princípios e condicionamentos básicos e promover, assim, uma busca livre pela iluminação. O abandono (queda) deveria ser tão completo ao nível de infundir a plena consciência de individualidade, e nessa fase a antonomásia era usada para criar a identidade  do novo Homem que iria caminhar pelo seu próprio juízo e lei.


A Serpente então se tornava o próprio grifo do indivíduo: o Self (Samael), o Ego Exaltado (Shaytan), a Gnose da Unidade (Uróboro).


A escola da Gnose Cainita também tinha uma forma heteróclita de interpretar o Gênesis cristão. Em seus ensinamentos, Caim era filho da Serpente (Samael), um espírito superior a Adão, o pai de seu irmão Abel. E por conta dessa natureza superior que não sujeitava-se nem mesmo a vontade do Demiurgo. Ele teria nascido gêmeo de Kalmana, da qual não conseguia viver distante e nem desunir-se, pois Ela era seu coeterno lado feminino e também fruto da Serpente.


Caim era visto como um herói que lutou contra a estase de sua família e liberou-se dos grilhões que prendiam a mesma e a si. E o amor entre ele e sua irmã gêmea era a perfeita representaçao da Alquimia proibida do Nigredo. Como filhos da Serpente, eles eram os herdeiros direto da Gnose, os único de sua gente que tinham o conhecimento correndo diretamente em seu ser e que poderiam se libertar do jugo do Demiurgo. Por conta disso, o  antinomianismo se tornou importante nessa escola, visto que a Gnose Cainita incitava a libertação do indivíduo que vivia rodeado de sistemas opressivos de falsos ensinamentos que impediam a Iluminação. Ao invés de buscar nos templos, altares ou livros, a escola cainita escavava o conhecimento no íntimo do próprio indivíduo. Esses ensinamentos constituíam o Mito da Busca, onde o homem/herói larga tudo para ir em busca do autoconhecimento e valores que foram malbaratados.


Esses ensinamentos são os pilares da Gnose Noturna. E foram praticados e sussurrados até mesmo antes dos supracitados adventos, entre vários povos em épocas dessemelhantes, através de símbolos e mitos seculares que trazem Iluninação, transgressão e antinomia ao Homem.


O Caminho da Serpente

Por Fernando Pessoa


Trez ramos ascendentes, com trez ordens de subida em cada um. Ao todo são sete ordens, sendo trez angulares, seis externas, uma interna. Considerar isto. Na ordem externa inferior esquerda, Ordo Solis, a congregação dos infiéis, a quem só o Sol, realidade externa, é visível, atual ou simbolicamente.


Na ordem externa inferior direita, Ordo Signi (Solis), a congregação dos fieis externos, que aceitam não propugnar senão certos princípios abstratos e cristãos, cuja semelhança com outros não vêem.


Na ordem media esquerda, Ordo Serpentis, a congregação dos iniciados da O. Solis. Na ordem media direita, Ordo Sepulcri, a congregação dos IN. Na ordem media central (a oculta e sem exterior), Ordo Sebastica, a congregação Ordo Sanctissimorum.


(Esp. 53-80)


A Serpente, cujo olho direito é o sol em sua gloria…as lagrimas alquimicas do Cristo (a magua alquimica do Cristo).


É preciso, quando se é Serpente, passar em Satan para chegar a Deus. A Serpente, retida pela Vesica…. No vértice nada a retém…


Os Evangelhos Sinopticos não são mais do que o Quarto Evangelho em processo de formação…


(Esp. 54A-1)


A Serpente, que, na ordem divina é o SS, na ordem espiritual direita e na esquerda é na ordem material direita Portugal.


A Serpente é o entendimento de todas as coisas e a compreensão intelectual da vacuidade d’elas. Seguindo um caminho que não é o de nenhuma ordem nem destino, ela ergue-se á Altura que é a sua origem e evita os lugares por onde os homens passam. O entendimento de tudo, a fusão dos opostos, a ciencia da indiferença do bem e do mal, a ciencia da valia da emoção como emoção e da vontade como vontade, a igual ironia para com os sábios como para com os néscios. No seu culto adultaram os últimos magos, no seu nome adolesceram os primeiros.


_ S _

E R P

E N S


É ignóbil na terra porque não é da terra. É subtil porque está fora. A tentação de Eva é a admissão da Inteligencia na Vida. O fruto proibido é!


Conto: «O Senhor das Sete Ordens», indicando exatamente o que se queria fazer.


(Esp. 54A-2)


Ela atravessa todos os misterios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto reto, pôde deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como a pele largada, deixa Saturno e Satan como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.


E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora.


O Caminho da Serpente.


Manuscrito por encontrar…


Foi a Cobra (Serpente) do Éden, mas só em sua pele, e largou a pele. Foi Saturno do Mundo, mas só em sua pele, e largou a pele. Foi Satan de Deus, mas só em sua pele, e largou a pele.


A sua fuga é o seu misterio, e o seu caminho a chave de todos os misterios. Mas ela não sabe nem do seu misterio nem de todos os misterios, porque conhece tudo, e conhecer é não existir.


(Esp. 54A-3)


A consciência transcende a unidade. É o ponto absoluto que só ‘existe’ porque para que qualquer coisa exista, tem ele que existir infinitamente nela. O ponto, sendo a negação do espaço é a vida d’ele.


No seu feitio de S (que, se se considerar fechado, é 8, e, deitado, igualmente serpentino, Infinito), a Serpente inclue dois espaços, que rodeia e transcende. (O primeiro espaço é o mundo inferior, o segundo o mundo superior.) Em outra figuração serpentina — a da cobra em circulo, a boca mordendo a cauda — reproduz-se, não o S, de que a letra é signo, mas o circulo, simbolo da terra, ou do mundo tal qual o temos. No feitio de S a Serpente evade-se das duas Realidades e desaparece dos Mundos e Universos.


A ilusão é a substancia do mundo, e, segundo a Regra, tanto no mundo superior como no mundo inferior, no oculto como no patente. Assim, quando fugimos do mundo inferior, por ele ser ilusorio, o mundo superior, onde nos refugiamos, não é menos ilusorio; é ilusorio de outra, da sua, maneira. Só a Serpente, contornando os infinitos abertos — ou os círculos incompletos — dos dois mundos foge á ilusão e conhece o principio da verdade.


A magia e a alquimia teem ilusões como a ciencia e a sexualidade, que são as suas figurações no baixo mundo. Construimos ficções, com a nossa imaginação, tanto na terra como no céu. O mago, que evoca determinado demônio, e vê aparecer materialmente esse demônio, pode crer que esse demônio existe; mas não está provado que ele exista. Existe, porventura, só porque foi criado; e ser criado não é existir, no sentido real da palavra. Existir, no sentido real da palavra, é ser Deus — isto é, ter-se criado a si-mesmo; em outras palavras, não depender substancialmente de nada e de ninguém.


A G.O. é a libertação, no homem, de Deus, a crucifixão do desfolhavel no morto, do perecível no perecido, para que nada pereça. A G.O., em outras palavras, é a criação de Deus.


A magia e a alquimia são caminhos de ilusão. A verdade está só no instinto direto (representado nos simbolos pelos cornos) e na linha direta da sua ascenção ao instinto supremo; no instinto directo, cuja forma ativa é a sexualidade, cuja forma intermedia é a imaginação, fantasia, ou criação pelo espirito, cuja forma final é a criação de Deus, a união com Deus, a identificação abstrata e absoluta consigo mesmo, a verdade.


(Esp. 54A-4)


Sendo os números e as figuras os tipos externos da ordem e destino do mundo, a mais simples operação aritmetica, algebrica ou geométrica, desde que seja bem feita, contém grandes revelações; e, sem precisão de mais signos, na matematica estão as chaves de todos os misterios. Isto não quer dizer — o que seria absurdo — que todos os matematicos conscientemente nos estão comunicando os signos de segredos, quando fazem os seus cálculos. Assim, não ha razão para supor que Euclides, nos livros da sua Geometria, tenha tido outra especulação senão a geométrica; mas os livros de Euclides, da primeira proposição á ultima, são signos reveladores, para quem os saiba ler. Nos próprios irracionais da álgebra estão contidos grandes misterios.


(Esp. 54A-5)


Todo homem, que tenha que talhar para si um caminho para o Alto, encontrará obstáculos incompreensiveis e constantes. Se não fossem mais que os obstáculos que se atravessam e estimulam, pelo perigo ou pela resistência direta, bem iria, e os próprios obstáculos seriam o clarim para o avanço. Mas encontrará outros — os obstáculos reles que vexam e vergam, os obstáculos suaves que adormecem e viciam, os obstáculos ternos que o farão, como Orpheu, volver o erro do olhar para o vedado Averno. Cerca-lo-ão, não só resistências duras, como as que os penhascos erguem como tropeço, mas resistências brandas, como as memórias dos vales, e a dos lares nas faldas. E o triunfo consiste na força para, sabendo sentir essas atrações intensamente (pois não saber sentir é não ter alma para a subida), as submeter á emoção superior; sabendo organizar as vontades do amor e da terra, saber submetê-las á vontade do espirito do mundo. Este processo de vicoria, figuram-o os emblemadores no simbolo da Crucifixão da Rosa — ou seja no sacrifício da emoção do mundo (a Rosa, que é o circulo em flor) nas linhas cruzadas da vontade fundamental e da emoção fundamental, que formam o substrato do Mundo, não como Realidade (que isso é o Circulo) mas como produto do Espirito (que isso é a Cruz).


(Esp. 54A-6)


Há em tudo trez ordens de coisas: há trez ordens de coisas no Ser, trez ordens de coisas no Universo, trez ordens de coisas no Mundo, e assim por deante. Tudo é triplo, mas o triplo ser de cada coisa consiste em trez graus ou camadas, um baixo, outro médio, outro alto. Tudo que se dá numa camada se reflete e figura em outra. É este o principio de Hermes Trismegistos na formula, “o que está em cima é como o que está em baixo”, “e o que está em baixo é como o que está em cima”, o fundamental de toda a ciencia secreta, e assim o representou.


Devidamente entendida, esta formula explica muita cousa. Assim, na astrologia, parece a principio estranho que a posição dos astros no nascimento de um homem, ou no inicio de um empreendimento, mostre, em suas relações e aspectos, o destino d’esse homem ou o curso d’esse empreendimento. Não são porém os astros que operam sobre o homem ou o sucesso. Opera sobre eles um destino, e esse destino, que existe como força espiritual numa camada superior, encontra-se representado material, ou mundanamente, nos astros. Quando digo que devo tal sucesso de minha vida a tal aspecto de Saturno, digo, ao mesmo tempo, bem e mal. Digo bem porque, de fato, seguindo a leitura do horóscopo, posso prever esse sucesso pela previsão do aspecto de Saturno, que apparentemente o causa. Não é porém o planeta Saturno que materialmente o causa: é o que o planeta Saturno representa, no mundo material, que causa o sucesso.


Para os efeitos do mundo em que vivemos — não digo a terra, mas o conjunto de matéria animada que forma este universo — as coisas dividem-se em trez camadas — a material, a espiritual, e a divina. Entre elas há uma exata correspondência. Cada uma, por sua vez, se divide em trez. A camada material divide-se na camada física ou exterior, na camada magnética ou media, e na camada astral ou interior. A camada espiritual divide-se (incompleto)


(Esp. 54A-7)


Cristo, que, na dispensação material é um deus cristão, e na dispensação mágica um deus, é, na dispensação divina, Deus. Na primeira ordem podem ser-lhe dirigidas orações, que terão ou não efeito segundo as regras mágicas d’essas operações da fé. Na segunda ordem podem serlhe feitas invocações, como a Osiris, que é o mesmo deus, e o efeito derivar-se-á da perfeição do incantamento e do rito. Na terceira ordem não poderão ser-lhe dirigidas orações nem invocações; o processo de união com Ele não pode ser indicado em palavras nem compreendido com a inteligencia. Aquele que, tendo chegado até onde esse processo existe como formula de relação, pode assistir á revelação intima, só esse o saberá.


(Esp. 54A-8)


Considerar todas as coisas como acidentes de uma ilusão irracional, embora cada uma se apresente racional para si mesma — nisto reside o principio da sabedoria. Mas este principio da sabedoria não é mais que metade do entendimento das mesmas coisas. A outra parte do entendimento consiste no conhecimento d’essas coisas, na participação intima d’elas. Temos que viver intimamente aquilo que repudiamos. Nada custa a quem não é capaz de sentir o Cristianismo e o repudiar; o que custa é repudia-lo, como a tudo, depois de verdadeiramente o sentir, o viver, o ser. O que custa é repudia-lo, ou saber repudia-lo, não como forma da mentira, senão como forma da verdade. Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo — quando o homem se ergue a este pincaro, está livre, como em todos os pincaros, está só, como em todos os pincaros, está unido ao céu, a que nunca está unido, como em todos os pincaros.


A luz falsa da realidade, a luz falsa da ficção, a luz falsa da iniciação e do secreto — dia, crepúsculo, noite, que são elas a quem contempla a Razão limpa, a Serpente coleante atraves dos mundos?


A Serpente está acima das ordens e dos sistemas, e, ainda que ascenda como o sentido d’eles, dispensa as linhas e os caminhos. O seu movimento, para a direita na ordem inferior das coisas e dos seres, o é apenas para que possa ser para a esquerda na ordem superior d’eles. O que os homens não podem conseguir senão dominando-se, ou conjugando-se, ou impondo-se, consegue a Serpente sozinha na sua liberdade. Para ela mandar é subordinar-se á idéia de mandar; livre e cauta, ela segue rasteira através do mundo, e do espírito, até que salte do mundo e do espirito.


Ela liga os contrários verdadeiros, porque, ao passo que os caminhos do mundo são, ou da direita, ou da esquerda, ou do meio, ela segue um caminho que passa por todos e não é nenhum. Ela parte, como o caminho direito e o esquerdo, do Instinto para Deus, mas não sofre a quebra onde os triângulos se unem; não forma angulo consigo mesma.


(Não a traçam os simbolos senão em O ou em S, limitando ou evitando o mundo.) Nem ascende sem quebra, como o caminho médio, do Instinto a Deus. Conhecendo que há outros caminhos, que não o médio, ela reconhece-os, pois se desvia do médio, e repudia-os, pois não segue a nenhum d’eles. Ao sair do vértice instintivo, ao sair para o vértice divino, ela roça a curva produzida da vesica involvente, e assim mostra que sabe d’ela; mas roça-a e passa-a, e não segue a sua curva nem a sua maneira. Ela assim se distingue de todos os modos e condições de Deus e dos Seres. Onde parece que é igual mas é diferente, e os dois (por assim dizer) que a formam são opostos em seu feitio e natureza. No baixo mundo ela é a lua crescente, no mundo superior a minguante…


Ela não conhece os misterios mas os envolve, desvia-se dos caminhos e das iniciações; deixa a ciencia por onde passa; nega a magia, que atravessa; e quando chega a Deus não para.


(Esp. 54A-9)


Só o contato com qualquer coisa do Vértice, isto é, da Unidade, dá o poder completo, ou alguma coisa completa no poder, sobre nós e as coisas. Nos graus intermédios a força é muitas vezes confusão, e o conhecimento vertigem. É por vezes imprudente aventurar-se o espirito feliz em caminhos para que não tem bússola. Assim é que, sendo Lytton sem duvida um conhecedor de grandes segredos da ordem menor, isso o não privou de ser um péssimo escritor; não houve magia que o fizesse mestre do próprio equilíbrio e dono da sua personalidade. Com ser iniciado, qualquer que fosse o modo em alguns dos misterios do próprio Segundo Limiar, não conseguiu Robert Flood ser senão um expositor confuso e indigesto. Esta falencia do dominio estetico e superior — e a estetica é a saliência da figuração divina, pois a beleza é a forma Divina em matéria — encontra-se freqüentemente em homens que são inegavelmente versados nos misterios do mundo mágico.


Certo que estas considerações podem ser tomadas ao contrario: há certas disposições intimas e próprias, que fazem com que o indivíduo seja chamado, e assim ele recebe o que nasceu para merecer. Por isto foi que Shakespeare, desde que a Grande Fraternidade o chamou a si sem lhe falar, pôde adquirir aquele comando de sua própria alma que o ergueu, como expressor, acima de todos os poetas do mundo; por isso é que este homem que não buscou, senão com a substancia intima do seu ser, entrou em mais intima (embora inconsciente) posse dos Segredos Maiores do que o buscador Flood ou o maçon Bacon.


Na Tormenta estão dados mais Íntimos misterios que em todo Flood, e estão dados em beleza, porque teem o sinal de Deus na Matéria, que é essa mesma beleza.


(Esp. 54A-10)


A disposição mundana das coisas, que são geradas pelo Fogo, tem a figura do simbolo do Fogo, que é a Piramide (de pyr, que em grego é Fogo). Quer dizer, as Ordens das coisas são Um em cima, Dois no meio, e Três em baixo. São um em cima, porque o vértice é um ponto; são trez em baixo porque a piramide real tem trez faces, cada uma composta de um triângulo equilatero; são dois no meio porque, embora nada no meio seja materialmente, ou numericamente, dois, é dois todavia o que está entre Um e Três.


E assim é que os três graus de significação — o atual ou material, o mágico, e o divino — contêm respectivamente três, duas, e uma ordem, havendo duas pontes, transetos ou passagens, entre a ordem material e a mágica, e a ordem mágica e a divina.


(Esp. 54A-11)


O caminho da Serpente está fora das ordens e das iniciações, está, até, fora das leis (rectilineas) dos mundos e de Deus. O caracter maldito, o aspecto repugnante, da Cobra, traz marcado a sua Oposição ao Universo—profundo e obscuro Misterio Magno. Ela é o Espirito que Nega, mas nega mais, e mais profundamente, do que em geral se entende ou se pode entender. Nega o bem no seu baixo nivel, em que é só Serpente e tenta Eva; nega a verdade no seu segundo nivel, nega o bem e o mal no seu terceiro nivel, em que é Satan; nega a verdade e o erro no seu quarto nivel, em que é Lucifer; (ou Venus); nega-se a si mesma e a tudo no seu quinto nivel, e fuga, em que é SS, a Revelação Suprema e a si mesma se tenta e se mata.


Todos os caminhos no mundo e na lei são rectilineos; o caminho da Serpente é a evasão dos caminhos, porque é, substancial e potencialmente, a Evasão Abstrata, o reconhecimento da verdade essencial, que pode exprimir-se, poeticamente, na frase de que Deus é o cadáver de si-mesmo; a descoberta do Triângulo Mistico em que os trez vértices são o mesmo ponto, o segredo da Trindade e do Deus Vivo, que, em certo modo, é o Homem Morto em e através de Deus Morto.


(Esp. 54A-12)

sexta-feira, 5 de março de 2021

De Astronomica


Dos páginas de la edición de Ratdolt de De Astronomica mostrando las xilografías de las constelaciones de Casiopea y Andrómeda. Cortesía de la biblioteca del Observatorio Naval de los Estados Unidos.

De Astronomica, también conocido como Poeticon Astronomicon,​ es un libro de historias cuyo texto se atribuye a "Higino", aunque su verdadera autoría se discute. Durante el Renacimiento, el trabajo fue atribuido al historiador romano Higino, que vivió durante el siglo I a.C.. Sin embargo, el hecho de que el libro enumere la mayoría de las constelaciones al norte de la eclíptica en el mismo orden que el Almagesto de Claudio Ptolomeo (escrito en el siglo II) ha llevado a muchos a creer que un Higinus o Pseudo-Higinus más reciente creó el texto.

El texto describe 47 de las 48 constelaciones ptolemaicas, centradas principalmente en la mitología griega y en la mitología romana que rodean las constelaciones, aunque hay cierta discusión sobre las posiciones relativas de las estrellas. La primera impresión conocida fue en 1475, atribuida a "Ferrara".

El De Astronomica no fue publicado formalmente hasta 1482, por Erhard Ratdolt en Venecia, Italia. Esta edición llevaba el título completo de "Clarissimi Viri Hyginii Poeticon Astronomicon Opus Vtilissimum". Ratdolt encargó una serie de xilografías que representaban las constelaciones para acompañar el texto de Higino. Al igual que con muchos otros atlas estelares que lo seguirían, las posiciones de varias estrellas se indican superpuestas en la imagen de cada constelación. Sin embargo, las posiciones relativas de las estrellas en las xilografías tienen poco parecido con las descripciones dadas por Higino en el texto o las posiciones reales de las estrellas en el cielo.

Como resultado de la inexactitud de las posiciones de las estrellas representadas y del hecho de que las constelaciones no se muestran en ningún contexto, el De Astronomica no es particularmente útil como guía para el cielo nocturno. Sin embargo, las ilustraciones encargadas por Ratdolt sirvieron como plantilla de las figuras de las constelaciones para futuros atlas del cielo. El texto, por el contrario, es una fuente importante, y ocasionalmente la única fuente, para algunos de los mitos griegos más oscuros.