sexta-feira, 19 de março de 2021

Os Mundos da Cabala

 


A origem e objetivo da Cabala é voltar ao mundo real. Partimos do princípio que nossa vida cotidiana cheia de leis de trânsito, bolachas de chocolate e amores de verão não é tudo a única que temos para viver. Não que vivamos em um mundo completamente falso, mas ele é longe de ser completamente verdadeiro.

Os cabalistas ensinam que entre as causas originais e nossa experiência regular existem cinco fases, cincos camadas, cinco véus, ou se quiser, cinco mundos. É como se cada mundo superior deixasse sua marca no mundo inferior. Desta forma não podemos dizer que o mundo dos nossos cinco sentidos sejam falsos, assim como uma marca de papel carbono da nota fiscal não é falsa, mas é uma impressão de algo anterior.

Uma forma de entender isso é imaginar que o mundo das causas é uma festa de aniversário. Só quem está lá pode interagir e experenciar a festa. Mas ess afesta é tão legal que alguém resolve gravar com uma câmera do celular; o vídeo não é a festa em si, mas não existiria sem ela. Esse vídeo vai para alguma rede social e viraliza, até que alguém dá um print em uma parte do vídeo e posta como uma foto. A foto não é nem o vídeo, nem a festa mas não existiria sem ela.

Atzilu, Mundo da Emanação
Beriá, Mundo da Criação
Ietzirá, Mundo da Formação
Assiá, Mundo da Ação

O Rabino Lamed Ben Clifford em seu livro ‘The Chicken Qabalah’, descreve uma forma muito boa de entender estes quatro mundo. Uma forma boa mas que eu mudarei um pouco para atender meus propósitos aqui. Imagine que estamos entrando na fábrica de cadeiras: “Cadeiras JHVH”, um edifício de quatro andares que faz cadeiras de todos os tipos além de ser uma ótima metáfora para o que chamamos de mundo real.

Assiá: O Chão de Fábrica

O primeiro andar é o chão da fábrica. Assiá, o Mundo da Ação. Quando entramos vemos inúmeras linhas de montagem quase completamente automatizadas cuspindo a mais recente criação da ‘Cadeiras JHVH ltda’: uma série de cadeiras de balanço ultra-confortáveis. Este andar é o que a maioria das pessoas conhece como “Natureza” e integra em si a logística de distribuição sendo responsável por responder duas perguntas muito importantes: “Onde?” e “Quando?”. Somente Assiá pode responder estas questões por uma razão muito simples: nos andares superiores o espaço-tempo não existe.  Os peões recebem instruções via malote e email do departamento logo acima e sua equipe projeta tudo segundo os padrões que recebeu.

Ietzirá: Departamento de TI

O andar de cima Ietzirá está repleto de nerds (também chamados por alguns de anjos) que fazem os projetos das cadeiras que são enviadas para baixo. Em vez de chão de fábrica temos aqui cubiculos e salas de reuniões. Estes engenheiros abastecidos de café usam o AutoCAD e o pacote Office para criar novas cadeiras segundo seus elevados padrões de qualidade. Aqui eles respondem uma pergunta valiosa: “Como?” e para isso isso eles usam não só o alfabeto hebraico, mas muitas outras linguagens de programação além de muita, muita matemática. Mas eles só projetam aquilo que recebem do andar de cima, geralmente de modo vago por telefone.

Beriá: O Departamento de Criação

O andar acima é Beriá, onde está a equipe de criação. A pergunta respondida em Beriá é “O que?” Os cubiculos são substituidos por uma ambiente mais criativo e os funcionários parecem estar eternamente fazendo brainstorm. Muitas idéias morrem aqui mesmo sendo descartadas por alguns dos funcionários mais realistas, mas eventualmente uma ideia parece tão boa que é enviada para os andares de baixo. Recentemente o pessoal se divertiu muito imaginando uma cadeira com amarras e circuito elétrico capaz de matar um ser humano. Mas porque eles, neste caso, gostariam de matar um ser humano? A ideia é deles, mas todas as vontades vem do andar de cima.

Atzilu: A Diretoria

Atzilu é o nome do andar onde está o poderoso chefão, o dono da empresa, cujo nome é Adam Kadmon. Foi ele que decidiu que ‘morte’ e disse as 17:50 da sexta feira que a equipe de Criação teria que varar a noite até terem uma ideia de cadeira apropriada. Mas ele não quer só morte. Foi graças a ele que temos hoje as cadeiras de rodas também. Embora tenha fama de mal, ele não é nem bom nem mal, mas quando quer algo, esse algo acontece e ponto final. A pergunta que Atzilu responde é “Por que?” e ao contrário dos departamentos abaixo geralmente a resposta é uma só: “Porque Eu Quero.”

Rabi Baruch Habas


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