domingo, 12 de fevereiro de 2017

Lectorium Rosicrucianum


A História do Lectorium Rosicrucianum

Os primórdios do Lectorium Rosicrucianum datam de 1924, na Holanda, com os trabalhos dos líderes espirituais Jan van Rijckenborgh e Catharose de Petri. Hoje o LRC está ativo em dezenas de países.

A pedra fundamental do Lectorium Rosicrucianum foi lançada em 1924. Nesse ano, os irmãos Zwier Willem Leene (1892-1938) e Jan Leene (1896-1968) entraram para o ramo holandês da Fraternidade Rosacruz (Oceanside, Califórnia, EUA) fundada por Max Heindel em 1909. Em pouco tempo os dois irmãos se destacaram na organização, sendo empossados como dirigentes em 1929.

Em 1930, foi a vez da Sra. Henriette Stok-Huizer (1902-1990) juntar-se aos irmãos Leene. Juntos começaram uma intensa busca espiritual que culminou, em 1935, com a decisão de prosseguirem no caminho espiritual com seu próprio grupo, separando-se da Fraternidade Rosacruz de Max Heindel.

Reedição dos Manifestos dos Rosacruzes clássicos
Em 1935, os irmãos Leene, juntamente com Cor Damme, viajaram para Londres, onde visitaram a Biblioteca Britânica. Foi lá que descobriram os esquecidos manifestos dos Rosacruzes clássicos do século XVII. Traduziram esses manuscritos cuidadosamente e os republicaram em 1936, em holandês, sob o título “O Livro M”. Assim, disponibilizaram novamente esses tesouros espirituais para um público maior no século XX. Vários anos depois, foram publicadas novas edições dos manifestos clássicos – já com a inclusão de seus comentários espirituais completos. Atualmente, estão disponíveis em várias línguas.

Após a morte de Z. W. Leene, em 1938, Jan Leene e H. J. Leene Stok-Huiser continuaram seu trabalho.
Através dos nomes-alma “Jan van Rijckenborgh” e “Catharose de Petri”, eles publicaram vários livros e, ao longo de muitas décadas, construíram uma escola espiritual internacional.

Durante a Segunda Guerra Mundial, as forças de ocupação perseguiram o grupo e o interditaram, impedindo-o de promover reuniões. Então, tiveram de se retirar da vida pública e, temporariamente, trabalhar de forma encoberta. Após o fim do conflito, a comunidade adotou o nome de “Lectorium Rosicrucianum”.

A herança dos cátaros

Em 1946, Jan van Rijckenborgh e Catharose de Petri viajaram para a cidade de Albi, um dos maiores redutos cátaros existentes no sul da França. Fizeram contato com a herança espiritual da antiga fraternidade cátara, que ali viveu e ensinou há cerca de 700 anos. Suas experiências espirituais durante essa viagem e seu encontro em 1954 com “o último Cátaro”, o sr. Antonin Gadal, levaram à reafirmação da antiga Tríplice Aliança da Luz: o triângulo Cátaros, Graal e Rosacruz.

O Lectorium Rosicrucianum como uma escola espiritual gnóstica
Durante esse tempo, os líderes espirituais estabeleceram um novo impulso espiritual que ultrapassava a visão anterior.

O ensinamento gnóstico referente à transfiguração adquiriu a primazia. Esse ensinamento baseia-se na ideia de que o homem é uma entidade multidimensional que contém uma centelha espiritual imortal – a semente de um novo microcosmo (mundo em miniatura). Sendo um microcosmo, o homem tem um destino específico: o caminho do retorno para a ordem de natureza divina original. É assim que ele conseguirá ultrapassar o mundo mortal e seu estado de consciência atual, limitado pelo espaço-tempo. Durante esse processo, o ser humano parte de sua realidade como ser mortal e adquire uma percepção espiritual sobre a causa da existência da mortalidade nesta natureza. Ele também se torna mais autoconsciente ao vivenciar a tensão que se estabelece entre a natureza transitória e a força criadora original.

Portanto, o Lectorium Rosicrucianum constitui uma “Escola Espiritual Gnóstica”, uma vez que a palavra grega Gnosis significa “conhecimento”. Assim, logo que o ser humano começa a empreender o caminho da ressurreição da alma, o conhecimento divino é revelado pela “Rosa” – a centelha imortal do Espírito instalada em seu coração.

A partir de 1946 até os dias de hoje, o impulso gnóstico tem se espalhado sobre o mundo como um aspecto do poder espiritual da nova era de Aquário. Em muitos países foram estabelecidos centros de conferência e núcleos, tanto para os alunos da Rosacruz como para todo o público interessado.

A origem dos rosacruzes

De onde vêm os Rosacruzes, e quem é Cristão Rosacruz? Os ensinamentos de Sabedoria Universal dos rosacruzes remontam a fontes bastante antigas. No início do século 17, o termo “rosacruz”, foi publicado pela primeira vez na Europa nos escritos dos rosacruzes clássicos.

O nome “Rosacruz” vem sendo transmitido desde a Idade Média. Esse nome foi publicado pela primeira vez nos escritos do teólogo do sul da Alemanha Johann Valentin Andreae, no início do século 17. Esses escritos dos rosacruzes clássicos são: “Fama Fraternitatis RC” (publicado em 1614), “Confessio Fraternitatis RC” (1615) e “Núpcias Químicas de Christian Rosenkreuz” (1616).

Uma reforma espiritual universal do mundo
Esses escritos falam a respeito de uma misteriosa Fraternidade, cujo objetivo é uma reforma espiritual universal do mundo. Seu pai-irmão, Christian Rosenkreuz (CRC) , construiu a “Casa Sancti Spiritus” e trabalha como um alquimista com seus irmãos, a fim de criar ouro e um novo corpo para um novo “casal real”.

Na Europa do final do Renascimento, essas publicações ganharam atenção considerável. Nos séculos seguintes, vários movimentos rosacruzes se desenvolveram e continuam até a atualidade, compreendendo e praticando as tradições de forma diferente. A história intelectual européia também apresenta muitas figuras que foram influenciadas pelas idéias rosacruzes.

Quem é Cristão Rosacruz?

Cristão Rosacruz, sua fraternidade e a “Casa Sancti Spiritus” não pertencem ao reino da fantasia e não devem ser entendidos historicamente.O “ouro” no qual CRC trabalha não é um metal precioso, mas sim o ouro espiritual do ser humano perfeito. O nome Cristão Rosacruz não é um nome normal, mas sim um nome espiritual que contém um significado secreto.

Cristão Rosacruz é o protótipo do homem que vive do caminho de iniciação cristã, começando com a primeira vocação como aluno e culminando com a ressurreição da Alma-Espírito. O “Casamento Alquímico” é, na verdade, o casamento espiritual de sua Alma renascida com o Espírito de Cristo, formando assim o Homem Imortal com um corpo imortal.

Sabedoria Universal
Em Cristão Rosacruz, que obteve o ensinamento a partir de doze adeptos, está o conhecimento das antigas religiões – incluindo a antiga sabedoria do Egito e Ásia Menor – fundidas em uma nova síntese, um cristianismo esotérico. Rudolf Steiner escreveu sobre isso em sua palestra “O cristianismo rosacruz”.

A origem dos rosacruzes é, portanto, encontrada nos ensinamentos da antiga sabedoria, a “Sabedoria Universal”, que sempre foi e sempre será revelada às pessoas que a procuram. Essa sabedoria é atemporal e eterna, mas é sempre passada para os diversos povos na língua de seu próprio tempo e lugar.

Organização atual do Lectorium Rosicrucianum

Atualmente, o Lectorium Rosicrucianum tem alunos e membros em trinta e seis países: na Europa, América do Sul, América do Norte, África, Ásia, Austrália e Nova Zelândia. A sede da organização internacional situa-se em Haarlem, na Holanda.

Após a morte dos líderes espirituais Jan van Rijckenborgh (1968) e Catharose de Petri (1990), a Rosacruz Áurea é dirigida por um conselho internacional que constitui a Direção Espiritual Internacional. Esse conselho é apoiado por direções e coordenações nacionais, bem como por muitos grupos de trabalho.

O Lectorium Rosicrucianum é uma organização sem fins lucrativos. Ele é inteiramente financiado por contribuições e doações de alunos e membros, sem quaisquer interesses econômicos. O ingresso na organização é possível depois de uma fase de orientação, mediante pedido por escrito e idade mínima de 18 anos.

Núcleos e Centros de Conferência

A Escola Internacional da Rosacruz Áurea mantém sessenta Centros de Conferência em todo o mundo. É aí que a comunidade se reúne nos finais de semana para realizar atividades espirituais mais longas. As administrações das sub-regiões geralmente se localizam nesses Centros de Conferência.

Além disso, em muitas grandes cidades, há núcleos da Escola de Rosacruz Áurea nos quais os alunos, membros e simpatizantes se reúnem regularmente para diferentes atividades. Existem cerca de 130 desses núcleos distribuídos em 36 países.

Para localizar o núcleo mais próximo de sua cidade, dê uma olhada no site nacional da Escola Espiritual da Rosacruz Áurea em seu país e venha nos conhecer!

Fundações e Editoras

Além da organização da Rosacruz Áurea, existem fundações independentes em atividade em vários países. Elas apoiam a divulgação dos ensinamentos rozacruzes, herméticos e gnósticos. Essas fundações organizam simpósios e palestras em cooperação com outras instituições espirituais e especialistas em ciências, artes e religiões.

A literatura dos fundadores do Lectorium Rosicrucianum, bem como obras de outros mestres espirituais históricos ou atuais são publicadas pela própria editora do Lectorium Rosicrucianum em vários idiomas em diversos países. No Brasil, são editados pela Pentagrama Publicações.

Os pilares da filosofia rosacruz

O homem é um ser dual: em sua forma atual, ele é mortal e ao mesmo tempo imortal no tocante à centelha do espírito que reside nas profundezas de seu coração. É através da Transfiguração que surge um ser imortal a partir dessa centelha da Luz: então, ele já pode se manifestar no mundo da vida eterna.

Os ensinamentos rosacruzes baseiam-se na Sabedoria universal que sempre existiu e que será revelada àqueles que a buscam. A Sabedoria universal foi transmitida nos Manifestos dos Rosacruzes Clássicos do século XVII, e contêm o conhecimento dos antigos Mistérios que se fundiram aos Mistérios Cristãos, a fim de criar um Cristianismo esotérico.

Jan van Rijckenborgh (1896-1968) e Catharose de Petri (1902-1990), líderes do Lectorium Rosicrucianum, republicaram os textos rosacruzes clássicos com explicações e comentários adicionais destinados aos alunos da escola espiritual moderna da Rosacruz Áurea e a outros buscadores.

Sabedoria hermética e gnóstica
Os ensinamentos atuais do LRC estão alicerçados na tradição gnóstico-hermética. Esses ensinamentos foram adaptados às necessidades práticas do homem moderno, que é profundamente individualizado.

A Gnosis – ou o conhecimento de Deus – é ofertada ao homem como uma força de Luz que conduz ao conhecimento interior sobre o relacionamento existente entre Deus, o ser humano e o cosmo. Alguns aspectos desse conhecimento estão disseminados nos escritos atribuídos a Hermes Trismegisto. Esses antigos manuscritos foram reeditados e explicados por Jan van Rijckenborgh e Catharose de Petri e publicados com o título de A Arquignosis Egípcia.

Qual é o objetivo dos rosa-cruzes do Lectorium Rosicrucianum?

O Lectorium Rosicrucianum é uma escola espiritual gnóstica. O objetivo dessa escola é realizar o caminho iniciático de transfiguração, assim como é indicado pelo cristianismo original. Os alunos do Lectorium Rosicrucianum são pessoas que sentem um profundo anseio pela renovação espiritual de suas vidas.

Os alunos do Lectorium Rosicrucianum seguem um caminho espiritual prático, que dá às suas vidas um significado que estavam buscando há muito tempo. O ponto inicial desse caminho é a centelha divina que se encontra no interior do ser humano: ela é o núcleo divino que os rosa-cruzes chamam de “rosa do coração”.

O caminho iniciático cristão

Todas as pessoas que já sentiram esse centro de energia em si mesmas e que fizeram com que ele se tornasse o princípio que dirige suas vidas já se encontram no início do processo de “transfiguração”. A transfiguração é a grande mutação do espírito, da alma e do corpo. A velha personalidade mortal vai abrindo espaço, pouco a pouco, para o desenvolvimento da Nova Alma, que se alimenta de energias completamente diferentes. Já não são energias do velho eu, mas sim forças que vêm do campo de existência imortal. Assim, o objetivo do verdadeiro ser humano é retornar a esse campo, que é o reino divino e que um dia, há muito tempo, foi seu verdadeiro lar. Então, poderá libertar-se da roda da reencarnação neste mundo material.

Durante esse processo de transfiguração, o homem mortal é elevado a um estado de consciência completamente novo. Esse estado é o caminho de iniciação do cristianismo original, tal como é descito por João no Novo Testamento: “É preciso que eu diminua para que o Outro cresça”. O Outro, o imortal, não se sente em casa neste mundo de opostos e antíteses, pois ele vem de uma ordem de natureza mais elevada. É o campo da verdadeira existência, que fica completamente separado das limitações e constrangimentos da vida material que conhecemos e também da vida sombria do “outro lado”, onde os mortos seguem um processo de dissolução entre as reencarnações do microcosmo. Essa ordem de natureza mais elevada está muito acima de tudo isso. É o mundo da Alma-Espírito, da verdadeira criação original. Quem consegue vivenciar essa realidade consegue vivenciar e reconhecer Deus, a Gnosis, dentro de si mesmo.

Alunos rosacruzes seguindo seu caminho

Os rosacruzes são pessoas que “ouviram a voz do Outro” no mais recôndito de seu ser. Conforme vão passando por essa experiência interna, vão (re)conhecendo a Luz da Gnosis. Por isso, eles se colocam a serviço desse “Outro” e vão abrindo cada vez mais espaço para a Luz em suas vidas. Assim, é possível o nascimento de uma nova consciência: uma consciência que é conduzida pela Luz da Nova Alma e do Espírito. Dessa forma, as pessoas se sentem totalmente transformadas. Na Bíblia, esse processo é chamado de “renascer pela Água e pelo Espírito”.

O Lectorium Rosicrucianum tem, como objetivo único, o retorno ao mundo espiritual. Esse objetivo será realizado passo a passo pelos alunos da Escola Internacional da Rosacruz Áurea, ao longo de suas vidas. Consequentemente, o Lectorium Rosicrucianum não tem qualquer interesse em seguir objetivo econômico, científico ou político.

Como os rosacruzes praticam seu caminho espiritual?

No caminho espiritual da Rosacruz, o candidato passa por muitos portais. Acima do primeiro está escrito: “Conhece-te a ti mesmo!” Quem abre seu coração para a luz do espírito começa uma trajetória dinâmica que leva a uma completa renovação de vida, a partir do autoconhecimento.

No Lectorium Rosicrucianum (LRC) estão aqueles que sentem dentro de si um grande anseio por renovação espiritual, que desejam conhecer e vivenciar os mistérios universais – e querem colocar em prática o caminho interior que trará para suas vidas tudo o que esperavam há muito tempo. Os alunos do LRC são pessoas de todas as raças, profissões e níveis sociais – homens e mulheres que estão em busca da Luz do Espírito.

O LRC é uma escola espiritual gnóstica. Na senda iniciática, a Gnosis – aqui compreendida como o conhecimento de Deus – comunica-se diretamente como Luz e força. O LRC é uma escola espiritual porque seu objetivo não é a cultura da personalidade e também não é somente o desenvolvimento da alma, mas sim o “casamento alquímico” da nova alma recém-nascida com o Espírito divino.

A meta é conectar a nova alma do ser humano com o Espírito de Deus, que está oculto no homem como uma semente – como uma promessa. Os alunos do Lectorium Rosicrucianum focalizam suas vidas nessa meta de conectar suas mentes a essa semente do Espírito que se encontra em seu próprio ser interior. Tudo isso vem associado a um profundo anseio por iluminação e pela vivência dessa força. Na prática, é importante aprender a “ouvir a voz da alma e do Espírito” em seu próprio ser e segui-la, passo a passo, em sua vida diária.

Jan van Rijckenborgh – um rosa-cruz e um gnóstico hermético

O nome verdadeiro de Jan van Rijckenborgh era Jan Leene (1896 -1968). Como co-fundador e líder espiritual do Lectorium Rosicrucianum, sua missão de vida consistiu em edificar, juntamente com Catharose de Petri (1902 -1990), a Escola Internacional da Rosacruz Áurea.

Jan van Rijckenborgh nasceu em Haarlem, Holanda. Ainda jovem já buscava a verdade e o profundo significado da vida. Logo percebeu que, muitas vezes, os teólogos e seus seguidores apresentavam certa discrepância entre a fé teórica e a vida real. Esse fato o afastou da Igreja Reformada, à qual seus pais pertenciam. Optou por não atacar a igreja de seus pais, mas decidiu-se, por si mesmo, a realmente praticar o tipo de vida que ali era pregado apenas na teoria.

Sentiu-se bastante motivado pelas declarações de pastor da Igreja Reformada, o professor doutor Arnold Hendrik de Hartog (1869-1938). De Hartog baseava-se nas idéias de Jacob Boehme, cujo conceito hermético sobre as duas ordens de natureza também serviram de grande inspiração para Jan Leene. Essas ideias foram decisivas para seu direcionamento espiritual.

Raízes espirituais e encontros decisivos

A busca espiritual efetuada por Jan Leene juntamente com seu irmão Zwier Willem (“Wim”, 1892-1938), levou-os, em 1924, até a Rozekruisers Genotschap, o ramo holandês da Fraternidade Rosacruz de Max Heindel, cuja sede central era em Oceanside, Califórnia. Ainda em 1924, ele se casou com Joan Ames, com quem teve um filho e uma filha. Em 1929, ele se tornou dirigente desse ramo holandês da Fraternidade Rosacruz.

Durante esse período, os irmãos Leene estudaram intensivamente a obra de Helena Petrovna Blavatsky, Max Heindel e Rudolf Steiner, bem como os Manifestos Rosacruzes e os textos de Comenius e Paracelso. Foram essas fontes espirituais, paralelamente à obra de Jacob Boehme, que definiram as bases de tudo o que viria a acontecer depois.

Na véspera do Natal de 1930, Henriette Stok-Huizer (1902-1990) encontrou-se pela primeira vez com os irmãos Leene e se juntou a eles em sua busca metódica. Posteriormente, ela adotou o nome espiritual de “Catharose de Petri”. Em 1935, os três deixaram a Fraternidade Rosacruz de Max Heindel e fundaram o Lectorium Rosicrucianum, posteriormente conhecido com Escola Internacional da Rosacruz Áurea.

Escrevendo a respeito de sua motivação e sobre a atitude que mantinham em seu trabalho, Jan van Rijkenborgh declarou:

“Estamos empreendendo uma peregrinação metódica e deliberada. Não queremos morrer nunca mais, e também já não queremos viver. Não queremos estar nunca mais em nenhum lugar desta ordem de natureza, pois percebemos que esta é a ordem da natureza mortal. (…) Então sentimo-nos obrigados a investigar o antigo Tao – de forma bem objetiva, e não de acordo com as orientações das autoridades. (…) Nosso estudo mostrou-nos claramente que existe um reino original, apartado desta ordem de natureza. É um reino que está muito além do Nirvana: um reino que difere substancialmente desta natureza e de suas duas esferas.”.

Esta citação demonstra claramente a mensagem gnóstica de Jan van Rijckenborgh, que tornou-se o elemento central da originalidade de seu ensinamento rosacruz para os séculos XX e XXI. O enfoque categórico e o ardor com o qual ele transmitiu sua mensagem em incontáveis pronunciamentos, inspirou e estimulou aqueles que o ouviram. Ele sempre enfatizou o aspecto da realização: quem traz a libertação não é a filosofia, mas sim a ação – e somente a ação.

Catharose de Petri – mensageira do cristianismo gnóstico

Junto com Jan van Rijckenborgh, Catharose de Petri (1902 -1990) assumiu a liderança espiritual do Lectorium Rosicrucianum. Ela cumpriu essa tarefa realizando o próprio desenvolvimento espiritual e promovendo a expansão do trabalho da Escola Espiritual da Rosacruz Áurea no mundo.

O nome verdadeiro de Catharose de Petri era Hendrikje Stok-Huizer. Desde pequena era uma “buscadora” e se sentia uma estranha neste mundo. Mais tarde – em 1930 – tornou-se uma das fundadoras do Lectorium Rosicrucianum. Ao seu lado, estava Jan van Rijckenborgh.

Fundar e dirigir uma escola espiritual com o objetivo de conduzir um grupo de buscadores ao mundo da alma e do Espírito é uma tarefa que precisa ser alicerçada sobre sólida vocação interior. Conforme relatou mais tarde, Catharose de Petri foi informada sobre essa vocação com a idade de 28 anos “pela fidedigna Ordem da Sagrada Rosa-Cruz”. Essa vivência espiritual aconteceu depois de muitas pesquisas e considerações filosóficas e religiosas. A partir de então, ela soube “que essa escola deveria ser apresentada, como força espiritual, a todos os que anseiam pela libertação da alma”.

Libertar a alma da escravidão do mundo: este é o desejo interior a que Catharose de Petri se refere. Ela menciona uma “escola espiritual” porque o Lectorium Rosicrucianum não é uma “escola para a personalidade” nem tem como centro apenas os aspectos da alma. O objetivo, na verdade, é possibilitar a conexão direta entre a alma humana com a força mais elevada: o Espírito de Cristo.

A sensação de ser uma estranha neste mundo

Desde a idade de oito anos, Hendrikje (Henny) Huizer pensava muito sobre várias questões da existência humana. Por exemplo, sobre a razão e a essência da vida humana na terra. Ela era filha de um construtor de navios em Rotterdam, Holanda. O pai vinha de um lar protestante, e a família da mãe pertencia a uma igreja a favor da Nova Reforma. Contudo, seus pais não eram tão constantes em suas crenças. O anseio de Hendrikje por um conhecimento interior não era muito compreendido nesse contexto. Além disso, os ensinamentos do catecismo recebidos de um pastor da Igreja Reformada não lhe forneciam as respostas que ela esperava.

Depois de se formar, trabalhou em um escritório, onde sofria por não poder compartilhar seu mundo interior com alguém. Muitas vezes, ela sentia-se como uma estranha e era mal compreendida por colegas e amigos.

Com o passar dos anos, sua vocação interna tornou-se cada vez mais profunda, e surgia, cada vez mais claro, uma indagação central: “Em que minha vida se baseia?”. Em 1929, ela se casou com H. J. Stok, que a colocou em contato com a “Nederlandse Genootschap Rozekruisers”, que era a filial holandesa do Max Heindel’s Rosicrucian Fellowship, de Oceanside, Califórnia.

O que é Gnosis?

Ensinamentos religiosos secretos, a busca pela sabedoria divina – esses são alguns dos pensamentos associados com a palavra Gnosis. Mas será que isso significa vivenciar a Gnosis dentro de seu próprio ser? Para descobrir isso, o buscador terá de se voltar à fonte onde nasce a Gnosis.

A Gnosis e os gnósticos, na história intelectual da Europa sempre estão associados com o início da cristandade. No entanto, sempre houve gnósticos, em todos os tempos. É que a Gnosis – ou sabedoria divina – sempre foi e ainda é a força que pode comunicar-se diretamente com todos os seres humanos, sem necessitar de sistemas religiosos e tradições.

A palavra Gnosis vem do grego e significa “Luz do Conhecimento”. Geralmente, pouco e raramente se sabe que tipo de conhecimento e crença os gnósticos possuem, ou que caminho espiritual seguem. A Gnosis somente pode ser vivenciada por alguém que está em ligação direta com ela, a partir de seu coração. No entanto, essa ligação muda de tal modo essa pessoa que, no final, ela já não é a mesma de antes. Mesmo depois de séculos, os textos gnósticos ainda fascinam muitos buscadores.

Durante muitos séculos, as diversas tradições escritas dos primeiros gnósticos cristãos somente eram conhecidas a partir de pistas dadas em textos da Inquisição da igreja católica. A opinião pública voltou a prestar atenção a esses escritos quando, em 1945, foram publicados os manuscritos de Nag Hammadi, no Egito. A partir dessa data, muitos textos sobre gnosticismo vêm sendo publicados.

Através desses escritos antigos, flui um poderoso alento
A Gnosis não é uma estrutura complexa de ideias – embora as antigas escrituras falem uma linguagem que não se revela facilmente ao leitor. Qualquer pessoa que tenta abordar os antigos textos gnósticos de modo unicamente intelectual dificilmente será capaz de compreender a essência de sua mensagem espiritual. Neles, parece existir uma força, um poderoso alento que flui através das palavras, que impulsiona o leitor às profundezas de sua mente. Mas, quando ele abre seu coração, sua intuição, e quando ele tem fé, pode descobrir esse transformador “Alento de Deus”.

Um dos mais famosos textos gnósticos é O Mistério da Pistis Sophia. Jan van Rijckenborgh, um dos fundadores da Rosacruz Áurea, republicou o original gnóstico e analisou esse texto para buscadores espirituais. O título indica com muita precisão a natureza da Gnosis como a ligação entre a fé insolúvel (Pistis, Πίστη) e a sabedoria (Sophia, Σοφία).

A Gnosis é uma irradiação, uma Luz espiritual. Ela está concentrada nos textos gnósticos, e está presente na atmosfera. Ela deseja despertar o ser humano e provocá-lo. Especialmente na atual era de Aquarius, todos os que estão buscando o conhecimento espiritual estarão aptos a descobrir a irradiação gnóstica dentro de si mesmos e a trabalhar com ela.

O núcleo espiritual está no coração do homem
A Gnosis é o conhecimento absoluto. Ela é revelada pelo próprio Ser divino. Ela não exige nenhuma habilidade intelectual humana, nem clama por emoções, nem é uma religião. Ela não pode ser escrita, por mais que tantos e tantos escritos sejam testemunhos dela. Ela também não pode ser ensinada por nenhuma pessoa. O mediador é a própira Gnosis.

A Gnosis é revelada ao homem por meio de um caminho interior que não pode ser nem compreendido nem seguido com os poderes do ego. É que a irradiação gnóstica toca o coração do homem. É aí, no coração, que reside o núcleo central espiritual desse ser: a centelha do Espírito, o princípio imortal que repousa no interior do ser humano. Essa centelha do Espírito não provém do mundo mortal world, no qual o homem vive. Ela nasceu na eternidade, a partir da divina esfera na qual a Gnosis existe. Consequentemente, a irradiação gnóstica pode se corresponder com centelha do Espírito, ou como dizem os rosacruzes – com a Rosa do Coração.

A influência dos Planetas dos Mistérios

O período aquariano fornece novas oportunidades para a Terra e seus habitantes. As influências dos Planetas dos Mistérios, Urano, Netuno e Plutão já se fazem sentir. É essencial perceber como a humanidade está respondendo a essas influências.

O cosmo tem um forte impacto sobre todos os seres que vivem na Terra. Há campos magnéticos que preenchem o universo, enquanto as estrelas e planetas emitem radiação. Nada nem ninguém poderá escapar a essa influência e os seres humanos precisam responder a eles porque o corpo humano é construído com os mesmos elementos da Terra, dos planetas e estrelas. Isso cria uma estreita ligação entre o corpo humano e os corpos estelares. Pelo movimento das estrelas, as influências estão mudando, e a radiação cósmica interage com todos os povos da Terra direta ou indiretamente, através da respiração ou da alimentação.

Atualmente, as novas condições de irradiação, neste alvorecer da Era de Aquário produzem um aumento geral de vibração na Terra. Isto está por detrás das alterações de muitos processos naturais e ambientais – e especialmente no comportamento do ser humano. As energias liberadas por Urano, Netuno e Plutão têm um papel especial nesse evento.

Segundo os ensinamentos da Sabedoria Universal, todos os planetas envolvem princípios, forças e leis divinas. Os chamados Planetas dos Mistérios, Urano, Netuno e Plutão são especialmente importantes para essas novas influências. Suas órbitas estão situadas além do „Portal de Saturno“, portanto, além da já sobejamente conhecida esfera planetária de nosso sistema solar. Os Planetas dos Mistérios somente passaram a ser conhecidos, sucessivamente, a partir dos séculos 18, 19 e 20 e apenas se tornaram relevantes para a humanidade há pouco tempo. Eles são considerados transmissores esotéricos de energia a partir de fora de nosso sistema solar – e essa será a base da vida futura na Terra.

O homem precisa perceber o Ser divino

As influências de Urano, Netuno e Plutão desejam preparar a humanidade para uma nova consciência. Eles não se servem da forma física do homem para construi-la, pois não há mais nada para construir sobre ela. Eles influenciam o ser humano em seu ser mais profundo, interior, levando-o a um dos maiores conflitos de sua vida. Eles provocam nele uma profunda mudança. O ser humano tem duas opções: ou ele reagirá de forma negativa, que o aprisionará até mais firmemente à Terra, ou ele reagirá positivamente à nova radiação – e, nesse caso, eles terão a oportunidade de abandonar seu egoísmo e participar de uma transformação interior: a Transfiguração. Este é o misterioso renascimento do Novo Homem, o homem divino.

O ponto de partida está oculto no interior do coração do ser humano: é uma centelha divina remanescente, da natureza divina. Os rosacruzes chamam essa centelha de Rosa do Coração. Quem quer que se dedique à Rosa seguirá uma necessidade interior, pois ele não se sente à vontade neste mundo. Urano, Netuno e Plutão lhe oferecerão grandes oportunidades para ajudá-lo a atravessar a fronteira e para que ele possa consumar a transformação interior.

Urano: o fogo purificador

Urano produz um poderoso impacto no coração humano. Ele é limpo e purificado pelas forças ígneas desse Planeta dos Mistérios. Nesse coração, arde o fogo do Amor divino,q ue pode ser uma luz sem paixões e emoções para aqueles que buscam a Verdade. A partir do coração, os raios de Urano entram no sangue e tocam o cérebro e a hipófise – uma das glândulas endócrinas mais importantes. Na hipófise, Urano pode liberar as forças criadoras do homem a partir de energias mais baixas, de tal modo qu e a glândula pituitária ou hipófise – que é a chave para a alma – pode se adaptar à vida mais elevada.

As forças de Urano também se manifestam como intuição, e como a habilidade da nova alma de captar o plano divino para a humanidade. Assim, o ser humano será dotado de possibilidades e capacidades completamente novas. Quem as reconhece e participa desse processo de desenvolvimento, entra em uma vida que está em harmonia com as leis de irradiação. Mas se o ser humano não pode ou não quer responder a essa irradiação, e se as forças renovadoras encontrarem resistência, ele sentirá um sério conflito criado por ele mesmo devido à seu posicionamento defensivo.

Quando começa a Era de Aquário?

Considerada um momento espiritual decisivo para a sociedade, mas principalmente para cada indivíduo, muito se especula sobre o início da Era de Aquário. Ainda está por chegar? Está apenas no início? Ou se encontra em pleno andamento?

Nada mais é como era. Atualmente, as pessoas, a sociedade e a consciência da humanidade mudam rapidamente. Normas e valores se dissolvem, hierarquias e estruturas autoritárias entram em colapso, a ilusão é desmascarada, e as realidades mais sutis são percebidas cada vez mais conscientemente. Desde o início do século XX, sobretudo a partir do final da década de 60, esse processo aumentou. O esoterismo atribui essas grandes mudanças ao signo de Aquário, que envia impulsos espirituais à humanidade.

Quando se inicia o momento da mudança espiritual?

Algumas pessoas sensíveis a impressões atmosféricas sentem que o momento da mudança espiritual já chegou. Contudo, ao investigar quando a Era de Aquário realmente inicia ou iniciou, vemos grandes diferenças. A International Astronomical Union (IAU) data o início dessa era em 2601. A Astrologia coloca o início da Era da Aquário no ano de 2375. O antroposofista Rudolf Steiner e Jan van Rijckenborgh chegam a diferentes conclusões. Enquanto Steiner indica o ano de 3574 como o ano de Aquário, Jan van Rijckenborgh indica o ano de 1908. Uma diferença de 1666 anos. Qual seria a data correta?

Respostas astronômicas e astrológicas

As várias datas resultam dos diferentes pontos de vista em relação ao início da era aquariana. O IAU tem fundamento astronômico. Seus cálculos se baseiam na projeção das constelações físicas sobre a eclíptica, o plano da órbita da terra em redor do sol, a qual traça um círculo imaginário, o equador celestial. O equador terrestre está posicionado num ângulo de 23° 27′ em relação à eclíptica. Assim, a projeção dos doze signos do zodíaco cobre diversos segmentos da eclíptica. Por outro lado, os astrólogos baseiam-se na teoria de que o equador celestial precisa ser dividido em doze segmentos iguais de 30° cada um: o zodíaco astrológico.

Tanto uma como outra abordagem discordam sobre a extensão dos signos do zodíaco. Por isso, seus cálculos chegam a diferentes resultados quanto ao início da Era de Aquário.

A perspectiva da astrosofia
Mais uma vez Rudolf Steiner e Jan van Rijckenborgh mostram abordagens bem diversas a respeito da Era de Aquário. Apesar de ambos, em princípio, terem uma perspectiva astrosófica, suas datas diferem em 1666 anos. Para resolver esse enigma, não devemos olhar para o céu, mas sim refletir sobre o ser humano.

Quando uma pessoa começa a existir? A partir da concepção? A partir dos primeiros movimentos no útero? No momento do parto? Ou será que realmente apenas chega ao mundo quando se torna um adulto, membro da sociedade? A resposta depende também da perspectiva do observador. Jan van Rijckenborgh e Rudolf Steiner se distinguem pelo ponto de vista com que olham para a Era de Aquário.

Para ilustrar isso, é importante lembrar que o impulso aquariano é uma influência do cosmo. O homem responde a ele de três formas: com a mente, a alma e o corpo. Tudo o que move uma pessoa começa na mente. De início, o impulso aquariano se expressou na mente da humanidade, como uma ideia que permaneceu abstrata, sem energia emocional ou física. Nessa fase, o ser humano apenas pensa, fala e escreve sobre a nova ideia.

Algumas pessoas são pioneiras e respondem imediatamente ao novo impulso, enquanto outras, mais inclinadas às velhas ideias, reconhecem-no mais tarde. Com o tempo, a nova ideia se fortalece o suficiente e se revela no plano da alma. Quando isso acontece, o ser humano se apropria da ideia, dá-lhe ânimo e enche-a de vida. É assim que ela ganha impulso. Pouco a pouco, a ideia se torna um fator determinante na vida humana. Então, segue-se a terceira etapa: o ser humano passa a agir. Ele utiliza sua vontade dinâmica e começa a perceber a ideia com plena consciência, convertendo o impulso espiritual em ação. Até que, mais tarde, novo impulso irradia do cosmo, e todas as velhas ideias e estruturas rodopiam caoticamente.

Será que a Era de Aquário já chegou à sociedade atual?

Quem levar em consideração as três etapas da realização do impulso espiritual de Aquário para pesquisar a sociedade onde vive chegará às mais diversas conclusões. De qualquer modo, podemos notar que o caminho do impulso espiritual leva longo tempo, desde o início até a perfeita revelação à humanidade. Passam-se séculos! Essa é também a razão pela qual Rudolf Steiner e Jan van Rijckenborgh têm diferentes perspectivas sobre o início da Era de Aquário.

O primeiro impulso acontece quando a primeira estrela da constelação de Aquário se aproxima do horizonte, exatamente do mesmo modo que o sol já emite sua luz antes mesmo de nascer no horizonte. Essa é a situação que Jan van Rijckenborgh sugere quando fala sobre o ano de 1908. Em 1968, os primeiros grupos de jovens começaram a responder à constelação de Aquário em nível emocional e mental. O movimento hippie dos anos 60 é uma expressão desse fato.

A completa manifestação de Aquário

A colheita cultural desse impulso apenas será revelada plenamente depois de muitos séculos. Ela se manifestará como uma era cultural em que a humanidade ajustará sua ação ao impulso de Aquário. Essa é a fase que Steiner relaciona ao ano de 3574. Essa fase é o auge da Era de Aquário. Contudo, de uma perspectiva espiritual, este período em que vivemos já possui a semente da manifestação total. Afinal, a aurora de um novo ano estrelar despontou, pois Aquário é a última etapa no ciclo de um ano estelar, que dura cerca de 26.000 anos.

Os momentos decisivos estão no agora

A revelação progressiva de um impulso espiritual é ao mesmo tempo coletiva e individual. Tanto a humanidade como o ser humano passam por essa revelação. A Era de Aquário abre oportunidades libertadoras e espirituais: é para elas que Jan van Rijckenborgh apontou, por exemplo, nas cinco conferências de Aquarius, encontros espirituais rosa-cruzes realizados em vários países na década de 1960. Nessas conferências, ele explicou como o buscador deve trabalhar com os raios de Aquário para caminhar na senda que os libertará da roda da vida e da morte. Essa senda impulsiona a alma humana a realizar o renascimento espiritual e a voltar ao campo divino original – ao reino de Deus, onde a alma se religa com a luz do Espírito.

Para os rosa-cruzes, essa senda não está no passado ou no futuro, mas é uma realidade no agora! Todos os que clamam por essa libertação do âmago do ser reconhecerão que este mundo, com seu ciclo de vida e morte, não é sua verdadeira morada – e poderão encontrar sua mudança espiritual a qualquer momento. A Era de Aquário lhes oferece a “água” de possibilidades totalmente novas.

Sob o signo de Aquário

Já faz quarenta anos que muitas pessoas começaram a reconhecer e sentir que tanto elas quanto o mundo estavam entrando em um momento de grande mudança: o musical “Hair” expressou em suas músicas o sentimento de toda uma geração sobre o início da Era de Aquário.

A música Aquarius, do musical “Hair”, expressa os desejos que foram liberados pela nova Era de Aquário, com as seguintes palavras:

Quando a lua estiver na Sétima Casa
E Júpiter alinhar-se com Marte
Então a paz guiará os planetas
E o amor conduzirá as estrelas.

Esse é o alvorecer da Era de Aquário.

Haverá grande harmonia e compreensão
Simpatia e confiança
Sem nenhuma falsidade, censura ou zombaria
Sonhos vivos e dourados das visões
Revelação mística cristalina
E a verdadeira liberação da mente – Aquário!

E atualmente? Será que Aquário mudou realmente alguma coisa? Os principais princípios de Aquário são: liberdade, igualdade, fraternidade, idealismo, o descarte de antigos valores, uma nova visão, reconhecimento e ultrapassagem de limites – e é claro que um número cada vez maior de pessoas deseja ardentemente seguir todos esses valores.

Vivendo sob a influência do zodíaco
Quando observamos o sistema solar com seus planetas e luas, fica claro que o planeta Terra gira ao redor do sol durante um ano. Ao mesmo tempo, a Terra se move em um lento movimento retrógrado, durante um período de aproximadamente 26.000 anos, passando por cada um dos doze signos do zodíaco. Portanto, a Terra passa por um novo signo aproximadamente a cada 2.100 anos.

Assim como o ser humano nasce sob a influência de um determinado signo do zodíaco, um novo signo influencia todo o nosso planeta a cada 2.100 anos. E, da mesma forma que cada signo do zodíaco influencia a mente e a vida do ser humano, também podemos dizer que cada um dos signos irradia sua influência sobre toda a humanidade e sobre tudo o que acontece em nosso planeta.

A era que agora está chegando ao fim é a Era de Peixes. Jesus Cristo nasceu na Era de Peixes e é por isso que o peixe é um importante símbolo do cristianismo. O símbolo do peixe desempenha um papel central em muitas histórias da Bíblia. Essa correspondência de símbolos não é casual e pode ser observada em todas as eras do passado e, da mesma forma, na era que está para acontecer. O mundo está assumindo cada vez mais as características de Aquário e, assim, vai sendo regido por esse signo. Sabemos que cada nova era traz consigo grandes mudanças nas condições atmosféricas – e isso afeta a tudo e todos. O que estará implícito na Era de Aquário?

Quem é Cristiano Rosacruz?

Cristiano Rosacruz é um dos personagens mais enigmáticos da história intelectual europeia. Que mistério se esconde por detrás desse nome?

“Quem é Cristiano Rosacruz?” Quando levantamos essas questões nos dias de hoje, inevitavelmente teremos outras indagações a fazer: “Será que esse homem realmente existiu?” e “Quem são os rosacruzes?”.

As respostas a essas perguntas exigem que nos voltemos para nosso interior, em busca da verdade – não a verdade comum ou os fatos históricos – mas sim a verdade atemporal sobre a natureza e o objetivo da existência humana.

Os rosacruzes do Lectorium Rosicrucianum vêem em Cristiano Rosacruz um protótipo espiritual, seu “Pai e Irmão”, fundador da Ordem espiritual. Ao mesmo tempo, consideram que seu nome indica o campo de força que os alimenta. Nos textos clássicos da Rosacruz do século XVII, esse campo de força é chamado de “Casa Sancti Spiritus”. Essas fontes da história espiritual ocidental contêm referências capazes de tocar profundamente um buscador da verdade e talvez ajudá-lo a abrir a porta do conhecimento intuitivo. Esse é o assunto deste artigo.

Os textos da Rosacruz clássica

Todos os que descobrem os três textos originais da Rosacruz clássica se vêem diante de inúmeros e misteriosos símbolos e imagens.
Esses manuscritos foram publicados nos anos de 1614 a 1616 pelo teólogo alemão Johann Valentin Andrea, natural de Calw, Alemanha. Ele pertencia ao assim chamado “Círculo de Tubingen”, uma irmandade de homens espiritualmente inspirados. Os manuscritos nos falam de Cristiano Rosacruz e da Fraternidade da Rosacruz. Os três títulos são:

Fama Fraternitatis R.C.
(O Chamado da Fraternidade Rosacruz, 1614)
Confessio Fraternitatis R.C.
(O Testemunho da Fraternidade Rosacruz, 1615)
As núpcias (al)químicas de Cristiano Rosacruz
(Também “Casamento Alquímico”, ou “Bodas Alquímicas”, 1616)
Essas três obras foram novamente editadas e comentadas por Jan van Rijckenborgh em meados do século XX. Alguns textos e comentários originais podem ser encontrados neste site, na seção de Literatura.

As três descrições de Cristiano Rosacruz

Existem três descrições principais acerca de Cristiano Rosacruz, também chamado de “Irmão CRC”. A primeira é de Rudolf Steiner; a segunda pode ser encontrada na Confessio e na Fama; e a terceira está em As núpcias alquímicas de Christian Rosenkreuz. Todas elas utilizam a linguagem dos mistérios, na qual cada detalhe traz, veladamente, um significado espiritual. Nesses textos, nada é supérfluo ou casual.

Neles, Cristiano Rosacruz é descrito de muitos modos diferentes, porém, em todos eles sempre são destacadas sua grande modéstia e humildade. Ele é absolutamente sincero em sua dedicação e vontade de servir. Ele é percebido pelos leitores como alguém que segue seu caminho espiritual apesar de todas as dificuldades.

Ao mesmo tempo, ele aparece como a personificação luminosa do grande objetivo: a ressurreição do homem imortal. Cristiano Rosacruz é a encarnação de uma realidade espiritual, o protótipo do homem que segue o caminho da iniciação cristã. É a respeito desse homem que lemos no Novo Testamento: “Assim também é a ressurreição dos mortos. O corpo é semeado corruptível, é ressuscitado incorruptível; é semeado em ignomínia, é ressuscitado em glória; é semeado em fraqueza, é ressuscitado em poder. Semeia-se corpo natural, é ressuscitado corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual.“ (Primeira Epístola aos Coríntios, 15:42-44).

Fonte:http://www.rosacruzaurea.org.br/

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Biografia Comenius (Especial)



A Vida e a Obra de J. A. Comenius

A Época e as Tradições

A obra de Coménio ilustra o melhor possível a largueza e profundidade da sua erudição. Ao estudar a história da sua cultura europeia, inspirou-se nos princípios correntes da antiguidade e do cristianismo. Contudo, ele não notou somente as ideias dos filósofos gregos e romanos comuns, tal como Sócrates, Platão, Aristóteles e outros, que tinham desenvolvido o ideal da educação universal.

Coménio citava muitas vezes autores, acrescentando a base ética e o sentido da vida na respectiva época, a que não se atribuía grande importância. A acentuação dos aspectos éticos nestes autores (como por exemplo Cícero, Séneca e outros) tinha encontrado de facto terreno propício nas tendências moralizadoras da época da Reforma checa, por meio da qual recebia e desenvolvia os ideais do cristianismo. Não é nada de admirar que o seu autor cristão preferido tivesse sido S. Agostinho, que também era muito estimado pela reforma checa. Mas Coménio referia-se também ao nome de outros autores, particularmente àqueles que se tinham reconciliado com as tradições do cristianismo primitivo e com os seus valores, tal como a simplicidade, a fé activa e a justiça social às quais a Reforma checa estava muito ligada. Coménio, instruído e formado nas tradições da Reforma checa, que é designada como a primeira Reforma europeia. Coménio tinha também grande predilecção por outras correntes da Reforma: o luteranismo, o calvinismo e o zuinglianismo, sem, portanto, aceitar a doutrina luterana sobre a salvação pela simples fé (sola fide) ou o ensino calvinista sobre a predestinação. Ele não se fechava na sua confissão, mas bebia também nas obras dos autores católicos, onde se sentia impelido para a sua criação (por exemplo: os autores do Renascimento, Nicolau de Cusa. Tomás Campanela e outros).

Apreciava decididamente o humanismo e o Renascimento, que retomaram e desenvolveram os ideais da cultura antiga. Coménio é muitas vezes qualificado de reformador humanista, se bem que esta característica seja insuficiente para abranger toda a extensão da sua obra.

Na época, houve duas sociedades europeias avançadas no plano social, político e cultural - a neerlandesa e a inglesa - que tiveram impacto positivo em Coménio. Na luta social, política e religiosa dos Neerlandeses contra o poder espanhol dos Habsburgos, uma luta coroada de sucessos, ele via um exemplo encorajador para a luta do seu povo contra os Habsburgos austríacos. No princípio do séc. XVII, no decurso da revolução neerlandesa (1566-1609), mas, praticamente, até 1648, apareceu na carta geográfica uma república neerlandesa, burguesa e calvinista, onde estava sempre vivo o espírito de tolerância legado por Erasmo de Roterdão (1467-1536), autor humanista preferido por Coménio, graças às pesquisas científicas e ao desenvolvimento cultural global, os Países Baixos atingiram, de facto, um desenvolvimento notável, que Coménio seguia com admiração.

Coménio estava a par dos escorços que tinham em vista elevar o nível a instrução em Inglaterra. O conflito entre o Parlamento e o poder dos Stuartes, durante a revolução inglesa (1640-1660), dirigida por Oliver Cromwell (1599-1658), terminou com a proclamação da república. Novos horizontes se abriram então à realização de reformas no ensino, na qual Coménio igualmente participou durante a sua estadia na Inglaterra, no princípio dos anos quarenta. Era uma situação favorável à actividade de novos inventores que muitas vezes se inspiravam na obra do filósofo inglês Francisco Bacon e nos seus incitamentos nas pesquisa científica.

Foram também registados esforços reformadores algures na Europa. Era o caso, por exemplo, da Fraternidade Rosacruz, que se propôs, como objectivo, depurar os costumes da humanidade, baseando-se no cristianismo (Coménio tinha particular respeito por J. V. Andreia, 1586-1654). Naquela época eram muitas as tentativas para melhorar o ensino do latim e reformar o sistema escolar de maneira que ficasse adequado aos conhecimentos da ciência do Renascimento.

No entanto, se quisermos descobrir as raízes da ideia do aperfeiçoamento permanente de Coménio, devemos procurá-las na Unidade dos Irmãos, uma pequena Igreja da Reforma checa, porque de facto era lá que Coménio, o seu último bispo, recebeu as bases da sua formação. A Unidade dos Irmãos viu o dia em 1457 (constituída como Igreja em 1467), depois da derrota da ala radical dos hussitas. O seu objectivo era continuar a propagação do ideal do cristianismo depurado: mas, diferentemente dos hussitas, ela optou pela via pacífica, com o espírito das ideias de Petr Chelcicky, pensador do sul da boémia. Crítico implacável das ambições políticas do papa, Chelcicky opôs-se contudo categoricamente a todos as espécies de violências. Na sua vida quotidiana e na prática, os Irmãos ligavam, com efeito, uma importância particular justamente a este aspecto pacífico. Coménio sistematizou esta prática na sua teoria sobre a cultura de toda a vida de todos os homens na sua Pampaedia.

Ao mesmo tempo, a Unidade dos Irmãos renuncia ao isolamento do mundo e os seus membros tornam-se mesmo propagadores da cultura humanista da Reforma e empenham-se na vida política. É o caso, por exemplo, de Jan Beahoslav (1523-1571), é também o caso do próprio Coménio.

A Unidade foi sempre uma Igreja minoritária (sendo utraquistas cerca de um décimo da população dos países checos, e um pouco mais de um décimo somente de católicos, Irmãos e membros doutras seitas), mas o número de escritores e de pensadores daquela época recrutavam-se precisamente entre os seus membros. A ideia do aperfeiçoamento permanente, traço característico da Unidade, foi, passado tempo, muito apreciada pelo historiador Frantisak Placky, autor da primeira biografia séria de Coménio. Os Irmãos desenvolveram esta ideia como ensino gradual de todos: os principiantes, os avançados e aqueles que aspiravam à perfeição. Pode-se encontrar aí a continuidade com a doutrina e João Hus, falando daqueles que aprendem, que progridem e que sabem (isto é, dos homens virtuosos). É com base nesta sucessão que Coménio desenvolveu o seu sistema de instrução para toda a gente.

Antes de Coménio, foi criada uma tradição importante pelos utraquistas e pelos Irmãos na confissão checa defendendo o espírito de tolerância das principais correntes da Reforma checa, sem tocar nos caracteres específicos de cada um deles. A luta nacional, política e religiosa para o renascimento da confissão checa pelos soberanos do Reino da Boémia, Maximiliano II e Rudolfo II, terminou pela sua legalização, em 1609, nas Letras da Majestade Rodolfo.

No século XVI, o Reino da Boémia, abarcando a Boémia, a Morávia, a Silésia e a Baixa Lusácia, era confrontado com enormes dificuldades de natureza social, política, religiosa e cultural. Isto marcou a vida de Coménio, assim como toda a sua época. A chegada dos Absburgos ao trono da Boémia, em 1526 e os seus esforços para formarem uma monarquia absburguesa na europa central, ao lado da ala espanhola, significaram a consolidação do absolutismo monárquico com a base no catolicismo em todos os países da Europa central. Os direitos dos estados, respeitados profundamente sobretudo no território do Reino da Boémia, foram naturalmente ameaçados por tudo isso. A primeira revolta contra os Habsburgos conduzida pelos estados checos, indignados também pelas represálias absburguesas contra as cidades dos Países Baixos, foi reprimida. Fernando I vingou-se então cruelmente das cidades. Uma das consequências disso foi também a primeira vaga de emigração. Muitos Irmãos refugiaram-se na Polónia perante as perseguições como resultado da sua participação na revolta.

O conflito entre o poder dos estados dos países checos e o poder da casa de Habsburgo, entre a Reforma e a nova catolicização (os jesuítas foram chamados a Praga em 1556), culminou na insurreição dos estados contra Fernando II, 1618-1620, no seu destronamento e na entronização de Frederico o Palatino, genro do rei da Inglaterra. Esta guerra , dita checa (1618-1620), vem a ser a primeira fase duma guerra de trinta anos para o poder na Europa. As simpatias de Coménio estavam do lado da oposição antiabsburguesa dos “corpus evangelicorum” aos quais pertenciam os países do Norte da Europa e do Oeste, principalmente a Suécia, a Dinamarca, os Países Baixos, os soberanos da Alemanha e da Inglaterra. As coligações mudavam, certamente, no decurso da guerra dos Trinta Anos (1618-1648), em particular após a entrada da França no estado de guerra contra os Absburgos (1635) e outros países a isso igualmente se ligarem, tais como por exemplo, a Transilvânia, sob o reinado dos Rakoczi.

A guerra dos Trinta Anos e a derrota dos estados checos em 1620, produziram, pois, um duro golpe não somente na nação checa na sua unidade, mas também em Coménio, pessoalmente. Perseguido na sua pátria depois de 1620, viu-se obrigado a deixá-la para sempre em 1628. Ele via com grande mágoa a fim da cultura humanística desenvolvida da Reforma no seu país, assim como a emigração de cerca de 30 000 famílias dos burgueses e dos nobres que se recusaram a renunciar á sua fé; e também a sorte dos outros habitantes (a população do campo, servos da gleba, não podia abandonar o país), vítimas duma nova catolicisação pela força. Somente determinados letrados conservaram secretamente as tradições da Reforma até ao fim do renascimento nacional checo no fim do sédulo XVII.

A Infância e a Juventude

Coménio é originario do Sul da Morávia. É principalmente a partir das suas citações ocasionais nas suas obras, em particular nas suas compilações polémicas, e da correspondência de Coménio e dos seus contemporâneos que podemos reconstituir a sua infância e a sua juventude. Nasceu em 28 de Março de 1592, mas não existe nenhuma prova directa no que toca ao lugar do seu nascimento. Na bela paisagem do Sudoeste da Morávia, há três comunas que se referem à infância de coménio: Komna, donde provém seu pai Martinho e sua mãe Ana, e onde habitavam os seus parentes próximos; Uhersky Brod, onde o pai era um burguês respeitável e rico; Nivnice, onde o pai possuía um moinho, segundo a tradição.

Coménio cresceu em Uhersky Brod, no ambiente da Unidade dos Irmãos de que os pais são membros. Desde tenra idade, inspirado no amor às Escrituras, a disciplina e a ordem, de que ele se lembrava mais tarde, o amor ao trabalho, a verdade, e também a tolerância. Órfão depois de 1604, viveu em casa da sua tia em Stratznice, no Sul da Morávia. É aí que ele vê, com os seus próprios olhos, os primeiros horrores da guerra, quando o exército húngaro de I. Boczkai, revoltado contra os Habsbourg, entra na Morávia e queima Straznice. A intenção inicial de Boczkai - de encorajar os estados morávios a juntarem-se à revolta - estava na realidade em contraste com o comportamento dos seus soldados, que devastavam o país como se fossem inimigos. Com treze anos, Comémio perde o seu domicílio provisório em casa da tia e vive provavelmente com tutores em Nivnice.

Formação Académica (1608-1614)

Na Morávia

A sua educação é, à primeira vista, bastante negligenciada. É somente na idade de dezasseis anos que entra na escola latina que a Unidade possui em Prerov, na Morávia central. Graças a Carlos de Zerotin, Senhor de Prerov, a escola tinha um bom nível, o que permitiu a Coménio preparar-se bem para os estudos superiores. Então, passados três anos, passa para a escola superior em Herborn, depois para Heidelberg, onde prosseguiu os seus estudos em várias escolas superiores na Suíça e na Alemanha.

No Estrangeiro

Os estudos superiores (1611-1614), ligados à sua primeira viagem aos Países Baixos, alargaram os horizontes de João. Em Herborn, foi influenciado particularmente pelo professor J.H. Alstedius e pelas suas obras enciclopédicas sobre diferentes correntes filosóficas e disciplinas científicas. Em Heidelberg foi atraído para a tolerância entre as Igrejas evangélicas (irenismo), mas também por outras. Redige brilhantes memórias universitárias (primeiras obras) que são publicadas, facto que o encoraja a trabalhar mais depois de regressar à Alemanha. Seduzido pelo exemplo de Alstedius, ele dispõe-se também a compor uma enciclopédia a fim de enriquecer a cultura nacional. Reúne os elementos para um grande dicionário de latim-checo, para a história da família Zerotin e para a história da antiga Morávia

Na Alemanha, familiarizou-se, provavelmente, com o movimento quiliástico, isto é, com a crença do milenarismo. Apenas Coménio aplicou, mais tarde, esta convicção, nas suas obras, escolheu a sua forma activa (e não o esperar passivamente pelo fim do mundo). Segundo ele, a chegada do fim do milénio estava condicionado pelo trabalho do homem para o melhoramento de todas as coisas humanas. Ele foi também atraído, certamente, pelos esforços da época para melhorar o estudo e o ensino do latim. O primeiro livro que publicou depois do seu regresso foi, com efeito, uma gramática para facilitar o estudo do latim (Praga, 1616). Este manual, tal como as narrativas históricas sobre a Morávia e a família de Zerotin, não se conservaram até aos nossos dias.

Prerov (1614-1617)

Não tendo ainda atingido a idade para ser ordenado padre, Coménio ensina durante dois anos na mesma escola da Unidade em Prerov, onde tinha estudado recentemente. Em 1616, ano da publicação do seu primeiro manual, Gramática para Facilitar os Estudos (Grammaticae Facilioris Praecepta), foi ordenado padre dos Irmãos. A acumulação destas funções era uma coisa habitual na Unidade. No princípio, no entanto, como depois confessou, Coménio tinha estado ultimamente ocupado nos seus deveres eclesiásticos. Por outro lado, concebeu também a sua actividade pastoral como uma missão inteiramente educativa. Como prova, temos o seu opúsculo Cartas para o Céu (Lettres au Ciel), publicado, segundo ele, em 1617, mas do qual não se conhecem mais do que os exemplares de 1619, ou seja, da época da sua permanência em Fulnek.

Fulnek

Em 1618, o jovem sábio conheceu um breve período de felicidade pessoal. Foi nomeado pastor e preceptor em Fulnek na Morávia (do Nordeste). É neste mesmo ano que ele casa com senhora Madalena Vizovická e cria a sua família. Como Fulnek é uma comuna bilíngue, faz as prédicas em checo e em alemão. Aconselha as pessoas no seu trabalho e, de a cordo com a tradição, baseia-se na apicultura. Como administrador da escola dos Irmãos, desenvolveu a lição de coisas a ensinar às crianças nas coisas da natureza. Trabalha infatigavelmente e redige uma enciclopédia checa intitulada Theatrum Universitatis Rerum (Teatro de Todas as Coisas). Simultaneamente, prepara também uma antologia das Escrituras. No que toca às suas posições políticas, simpatiza com os estados e o rei Frederico, a cuja família se conserva fiel durante toda a vida. Os multiplicados ataques da Contra-Reforma contra a validade das Cartas de Majestade de Rodolfo são, provavelmente, a origem da sua crítica ao papa (Cautela Contra as Seduções Anticristãs).

Ainda que escreva as suas obras em checo, dá-lhes muitas vezes títulos latinos. É o caso, por exemplo, da enciclopédia Theatrum Universitatis Rerum. Este vasto projecto que tem por fim facilitar a orientação na verdade dos conhecimentos da época, tem, com efeito, dois prefácios: um em checo e outro em latim para os letrados. No segundo, Coménio mostra-se convicto de que nada existe que não possa ser dito em checo, língua rica e encantadora, que devia ser utilizada principalmente pelos eruditos. “Confesso francamente que não me encontro menos preocupado com a língua do que com o seu conteúdo concreto, porque eu quero os dois: que os nossos se aproximem pelo desejo de saber e que se esforcem por cultivar atentamente a sua língua”.

Este esforço pela unidade da língua e pelo conhecimento, acompanhará toda a sua criação posterior. No primeiro prefácio, Coménio glorifica e interpreta o saber. Invoca aí também a ideia de que o mundo é uma escola de sabedoria, a qual conduzo estudo da natureza e das Escrituras, e também o estudo do homem e das suas manifestações. Nas suas obras pedagógicas, o estudo destes três domínios considera-se como a base do ensino e da educação.

Refúgio na Morávia

Depois da vitória do imperador da Áustria na batalha da Montanha Branca, Coménio torna-se primeiramente um proscrito na sua pátria, e depois um exilado. Os decretos dirigidos contra os não-católicos, primeiramente contra os sacerdotes calvinistas (1621), depois contra os sacerdotes da confissão checa (os Irmãos e os utraquistas), os eclesiásticos luteranos (1622) e, depois de 1623, contra todos os sacerdotes não católicos (era proibido aos não-católicos terem privilégios de burgueses, exercerem as profissões artesanais, serem casados e enterrados com cerimónia, etc.) reduziram com efeito ao mínimo o espaço vital daqueles que recusavam a conversão ao catolicismo nos países checos. Depois de 1624, começou a ser imposta a nova catolicização sistematicamente pela força. Muitas revoltas então nasceram nas zonas rurais checas e morávias como protesto contra esta opressão e contra o endurecimento da servidão.

Coménio mudou a família de Fulnek para Prerov, e ele foi obrigado a esconder-se. Refugiou-se provavelmente nos domínios dos Zerotin. Com efeito, Carlos de Zerotin, seu protector, não tomou parte na insurreição; diferentemente do seu primo Ladislav Velen, o qual participou nas revoltas militares contra os Habsburgos, mesmo no exílio. Coménio ficou privado de todos os seus bens; a sua biblioteca foi queimada publicamente na praça de Fulnek em 1623. “De um lugar conhecido de Deus” envia uma carta à sua mulher Madalena, começada assim: “Minha querida esposa, Madalena, minha jóia mais querida a seguir a Deus”. E completada com um opúsculo consulador, intitulado “As Reflexões Sobre a Perfeição Cristã”, ao qual acrescenta um prefácio da sua publicação, em 1622. Entretanto, feriu-o um golpe duro: a mulher e os filhos, que tinham ficado em Fulnek, tinham já morrido na primavera de 1622, vítimas duma epidemia como consequência da guerra.

Perante estes acontecimentos - manifestaçõpes de crueldade, perda da família, devastação do país, Coménio esforça-se por responder às questões dolorosas de saber por que razão existe tanto mal e tantos sofrimentos. Todavia, apesar da sua situação extremamente difícil, não pára de lutar pelo equilíbrio espiritual e de procurar novas certezas da vida, que ele encontra, graças à sua crença profunda.

À imagem do mundo exterior tornado tão tenebroso, opõe a imagem do interior do homem, do paraíso do coração e procura a profundeza da conviança o “centrum securitatis”. Os títulos das suas obras exprimem simbolicamente:

O Nome do Eterno é Uma Alta Torre, Acerca do desamparo, O Angustiado, O Labirinto do mundo e o Paraíso do coração, A Pressão de Deus, Centrum Securitatis e outros.

Notas:

O Nome do Eterno é um alta Torre

O Nome do Eterno é uma Alta Torre é uma obra consoladora escrita em 1622 e dedicada à Senhora Doroteia Cirila, futura sogra de Coménio.

Opera Omnia, tomo III, Praga 1978, pág. 235-263.

Acerca do Desamparo

“Acerca do Desamparo” (provavelmente 1622-1624), opúsculo que exprime o que sente aquele que se encontra desamparado. Coménio escreveu-o para consolar os outros, mas também para si próprio. É também deste período que data a “Pressão de Deus”.

Opera Omnia, tomo III, Praga 1978, pág. 429-472, 413-426.

O Angustiado

“O Angustiado I” (cerca de 1623) e II (1624, data da publicação dos dois tomos), tem a forma duma conversa angustiada com a Razão e com a Fé. Exprime a dor da perda da pátria e do declínio da Igreja. A obra está cheia de questões humilhantes que procuram explicar as causas da catástrofe que atingiu a nação checa depois de 1620. As outras partes foram escritas depois da Paz de Vestefália, que não trouxe nem a libertação da pátria nem a possibilidade de tornar a entrar no país. O terceiro tomo trata do gemido da rola cativa por longo tempo nos rochedos escarpados (publicado em Leszno, em 1650). O quarto e último tomo intitula-se “A Triste Voz do Pastor”, perseguido pela ira de Deus, o qual dá conselhos e se despede do seu rebanho disperso e que vai perecendo. Data de 1660, isto é, do período em que Coménio pressente já o declínio da Unidade dos Irmãos, sem, no entanto, perder a esperança na reconstituição posterior.

Opera Omnia, tomo III, Praga 1978, pág. 17-159.

O Labirinto do Mundo e o Paraíso do Coração

O “Labirinto do Mundo e o Paraíso do Coração” (1623) é um tratado impressionante em dois volumes dedicado a Carlos de Zerotin. É uma alegoria satírica do mundo, a imagem duma cidade com os habitantes divididos segundo os diferentes estados e profissões. A Segunda parte (na Segunda edição de 1663, Coménio substitui o termo “lusthaus” pela palavra “paraíso”) representa uma ideia utópica duma comunidade harmoniosa de cristãos.

Opera Omnia, tomo III, Praga 1978, pág. 265-412.

Centrum Securitatis

"Centrum Securitatis" (1625), tem a primeira edição em 1633, em Leszno. A obra apresenta uma concepção filosófica e religiosa do homem em relação com o mundo. O mundo é um organismo (no espírito da linha neoplatónica) comparado à árvore que vai buscar a sua força às raízes. O fundamento do mundo encontra-se em Deus - centro, certeza, perfeição (que consistem na sabedoria, na bondade e no amor), e ordem.

Qualquer afastamento do centro tem consequências fatais para o homem. O mal não é causado por Deus, mas pelos Homens; por eles próprios, que se afastam do centro, do bem e não desenvolvem neles a imagem de Deus, isto é, o esforço criador com vista ao aperfeiçoamento. Num dos manuscritos, o mundo está representado sob a forma duma árvore. Na Segunda edição, impressa em Amesterdão em 1633, Coménio acrescentou o seguinte título: “É a profundeza da Tranquilidade do Espírito”.

Opera Omnia, tomo III, Praga 1978, pág. 73-548; 549-554; 555-564.

Refúgio na Boémia Ocidental

Coménio já não se sente seguro na Morávia e instala-se noutro domínio de Carlos Zerotin, em Brandys, na Boémia oriental. É lá que ele conclui o “Angustiado I, II”, como “a lamentação triste e nostálgica do homem cristão à beira das misérias da pátria e da Igreja”, tal é o subtítulo deste diálogo alegórico da Razão e da Fé e da busca dramática da humanidade e da paciência que devem enfrentar o desencorajamento.

A sátira mordaz contra a miséria e a tristeza do egoísmo humano, do ódio, da inimizade, e contra a hipocrisia em todos os estados e profissões no Labirinto, imagem alegórica duma cidade que um peregrino percorreu com os seus acompanhantes, é compensada a segunda parte da obra - O Paraíso do Coração. Em contacto com o mundo depravado, Coménio desenvolve aqui a visão duma sociedade harmoniosa de cristãos que se respeitam e entreajudam. A volta ao paraíso do coração significa um isolamento do mal, da mentira e da violência. Não se trata, no entanto, dum isolamento total do mundo, mas da procura da força espiritual que permitirá concretizar o esboço duma visão dum mundo melhor. O plano desta obra está inspirado incontestavelmente na leitura das obras de J. V. Andreia (o autor dos Manifestos Rosacrucianos), mas também é possível encontrar aí a influência do Theatrum Mundi Minoris de Nathanael Vodnansky de Uracov ou, antes, da Cidade Espiritual ou da Delícia da Alma, de Václav Porcius Vodnansky. Ambos datam do princípio do séc. XVII. É em 1623 que Coménio dedicou o Labirinto a Carlos Zerotín, mas só o publicou em 1631 em Leszno.

Coménio interessa-se cada vez mais intensamente pelo lugar do homem no mundo. Prova-o a sua obra Centrum Securitatis (1625, publicada no exílio em 1633). O mundo é representado aí como um organismo, o que foi um método habilmente usado pelos neoplatónicos (pelo místico alemão J. Bohme, também rosacruciano, por exemplo). Compara o mundo a uma árvore que retira a sua força das raízes escondidas, tal como tudo tem a sua base em Deus invisível. Este é o centro, a certeza da perfeição e da ordem. Qualquer desvio deste centro tem consequências funetas. O que importa é a ideia da relação das coisas e dos fenómenos no mundo, e sobre a pesquisa das relações correctas que se esclarecem a substância. Esta ideia reaparece, mais tarde, na filosofia, isto é, na filosofia de Coménio, ao mesmo tempo que a ideia dum todo, donde é indispensável partir para a pesquisa das soluções dos problemas parciais. O mal não é aí apresentado como obra de Deus, cuja perfeição embaraça especialmente a sabedoria, a bondade e o amor. O mal é causado pelas pessoas, se não despertam em si mesmas a imagem de Deus.

Nos momentos de depressão, Coménio compõe o Amphitheatrum Universitatis Rerum, de conteúdo bastante pessimista. Depois de 1625, reune todas as forças contra a adversidade sofrida nessa época de desespero. Escreve um opúsculo de divulgação da ciência e outro que tem por objectivo melhorar o nível da poesia checa (traduz os Salmos) e termina a Carta da Morávia, que se publica em Amsterdão em 1627. É possível que tenha negociado esta publicação durante a sua viagem aos Países-Baixos em 1626, durante a sua visita a Haia.

Visita a corte de Frederico, o Palatino, que se mantém, aos olhos dos exilados como rei da Boémia. Foi para Leszno, para se preparar para a recepção aos exilados. Fez uma perigosa viagem para a Morávia, com mensagens de Carlos Zerotin. Quando o seu patrono proibiu a concessão de refúgio aos sacerdotes da Unidade, Comenio mudou-se com a sua segunda esposa, Dorothee Cyrille, para Bila Tremesna, perto Dvur Kralove, na zona de Jiri Sadovsky Sloup. Durante uma visita ao castelo de Silberstein em Vicice, descobriu na biblioteca de Adam Zilvar a Didactica de Elie Bodin. Para Comenio foi como um impulso. Começou a escrever a sua própria Didáctica, não apenas uma coleção de preceitos, mas que eleva a reforma do ensino e da educação ao nível da filosofia do homem e da sua vida. Desenvolveu os princípios de uma educação sólida, mas natural e alegre, para todos os checos, desde a infância até a idade adulta.

Antes de sair da Boemia, Comenio estava interessado nas ideias e visões de Christoph Kotter. Estas ideias e visões do seu amigo de escola de Straznice, Nicolas Drabik, deu-lhe uma vida um pouco triste. Posterior publicação rendeu-lhe muitos inimigos.

Após a aprovação da nova Constituição em 1627, a vida dos não-católicos não foi mais possível nas terras checas. Mesmo Carlos de Zerotin vai para o exílio, onde morreu em 1636, em Wroclaw. Com a sua esposa e filha Dorothee Christine (1627) e as famílias Cirilo e Sadovsky, Comenius deixa o seu país, para nunca mais voltar. Mudou-se para Leszno, na Polónia, onde ficou até 1656.

É possível que antes de ir para o exílio, Comenio formulou um conjunto de idéias que desenvolveu mais tarde noutros países. Depois de 1627, Comenio viveu na Polónia (Leszno três estadias: 1628-1641, 1648-1650, 1654-1656), Inglaterra 1641-1642, ao serviço dos suecos Elbing (Elblag hoje, 1642-1648), na Hungria (1650-1654) e nos Países Baixos (1656-1670).

Período de Exílio (1628 - 1670)

Primeira estadia de Coménio em Leszno (1628-1641)

A Polónia é um país agrário onde a nobreza superentendia tanto no poder económico e político, como na cultura. Diferentemente dos países checos, a Reforma sempre se apresentou como uma corrente minoritária, difundida, principalmente entre os burgueses. Do ponto de vista político, o rei, que se encontrava à cabeça da maioria católica, estava dos lado dos Habsburgos. O reino de Wladyslaw IV (1632-1648) distinguia-se pelo espírito de tolerância.

Em Leszno, que estava situada junto duma importante via comercial, ligando-a com Gdansk e conhecida pelo seu meio cultural, vivia juntamente, e com tolerância, com os Irmãos checos, que tinham aí a sua corporação desde a Segunda metade do séc. XVI, os Polacos, alguns dos quais eram membros da ala polonesa da Unidade dos Irmãos (aí estava Rafael V. Leszczynski, senhor de Leszno), enquanto outros eram católicos, e havia luteranos vindos da Silésia.

Coménio está muito ocupado em Leszno. É professor no Liceu local, escreve obras filosóficas e pedagógias, trabalha como historiador da sua Unidade os Irmãos, e dá-se à publicação de prédicas. Publica também a Ordem da Unidade e o manual Praxis Pietatis; escreve os Pontos de discussões sobre a Unidade dos Irmãos, sobre os seus traços característicos; e também contra os ataques do luterano checo. Exprime-se a propósito das questões da compreensão pacífica entre os Irmãos e os luteranos (A Apologia e a Vida da Paz), etc. O seu tratado em poucas palavras sobre o contágio da peste (publicado também em versão alemã), apresenta-se como um documento importante não somente sobre os tratamentos dos doentes atingidos pela peste, mas também sobre o espírito de humanidade dos Irmãos, que assim enfrentavam a realidade.

O mais importante daquela época são os seus trabalhos pedagógicos. Em 1630, termina em Leszno a sua Didáctica, primeiramente em checo, que havia concebido quando ainda estava na sua pátria. Nos anos de 1631-1632, a situação político-militar e particularmente a ocupação de grande parte da Boémia pelos exércitos suecos e saxões, despertam em Coménio uma grande esperança de poder entrar no seu país. É precisamente nessa altura que ele encara o seu primeiro projecto no domínio de uma educação que intitula de Paradisus Ecclesiae (o Paraíso da Igreja; utiliza também o título de Paraíso Checo). Esta obra tinha como fim elevar o nível de instrução da nação checa, pela reforma das escolas nacionais. Deveria ser completado também, com uma parte prática, isto é, com manuais e informações para os professores. O único manual que Coménio chega a acabar é a Escola da Natureza, opúsculo que formula os fins, conteúdo e os métodos da educação das crianças após o nascimento até à idade de seis anos, a fim de os preparar para a vida. Dos manuais para a escola nacional, conservaram-se apenas os títulos poéticos: Violarium (Canteiro de Violetas), Rosarium (Canteiro de Rosas), Viridarium (Canteiro de Verduras), Sapientiae Labyrinthus (Labirinto da Sabedoria), Balsamentum Spirituale (Bálsamo Espiritual) e Paradisus Animae (Paraíso da Alma).

À escola latina podiam ser convenientes os seus manuais de diferentes matérias, que ele compôs, evidentemente com base na sua prática de ensino em Leszno. Alguns conservaram-se na chamada Recolha de Manuscritos de Leninegrado. Entre elas há a Geometria com a Geodesia, a Cosmographiae Compendium (manual de astronomia e de geografia), o manual de filosofia - metafísica: Prima Philosophia e a história profana e política: Historia Prophana sive Politica. Os manuais de história e de geografia existem apenas em fragmentos.

Em 1633, Coménio publicou em Leszno o Manual de Física, Physicae Synopsis, que já não era um manual tradicional duma só matéria, mas que representava a natureza em toda a sua amplidão. Tratava-se, na realidade, duma filosofia natural habitual. Não foi senão depois, no século XVII, que as ciências naturais se desenvolveram, nesta base, pela aplicação das quantificações e dos métodos matemáticos e mecânicos. Coménio detém-se, contudo, quando se abeira das disciplinas naturais. Ele parte da física conhecida por mosaico e inspira-se especialmente nas teorias de Tomás Campanella. É assim, por exemplo, que formula as suas opiniões sobre a astronomia na orientação do sistema de Ptolomeu. Depois, nos anos quarenta, aceita, certamente, a concepção de compromisso de Tycho Brahe (A Terra está no centro mas os planetas giram à volta do Sol; e todo este sistema gira à volta da Terra); mas ele recusa aceitar a Teoria de Copérnico, que começa a encontrar participantes na Segunda metade do séc. XVII. Coménio não é um naturalista, mas a natureza representa para ele uma componente importante do universo (natureza-homem-Deus). Ele procura responder às perguntas de saber qual é o sentido das coisas e dos fenómenos naturais para a vida do homem. Vemos isso na sua Didáctica, onde os fenómenos observados na natureza (curso natural das coisas,, não violência, evolução gradual) são aplicadas ao sistema educativo. Por este aproximar-se do espaço teleológico, distingue-se dos naturalistas da época, de orientação matemática.

Se Bacon procurava um novo método de estudo da natureza, e Descartes um novo método de estudo do pensamento do homem, Coménio procurava um novo método de estudo da evolução e da formação do homem e da vida da sociedade. Como não se podia apoiar numa teoria desenvolvida, ele próprio formula os princípios que fazem dele o precursor da ciência sobre o homem e a sociedade, e é o fundador da teoria da educação, a pedagogia.

Contudo, ele chega também a conclusões notáveis na sua concepção filosófica da natureza. Por exemplo, aplicando o realce de Bacon no movimento, chega a uma concepção dinâmica da evolução cósmica, à concepção da evolução, na natureza, dos organismos simples para os organismos mais complexos com o homem no ponto mais elevado. Do ponto de vista da educação, verifica a importância da actividade da criança e da actividade humana em geral - no pensamento, na expressão, no comportamento. No concernente aos princípios naturais elementares, - a substância, o espírito e a luz, a substância é para ele um princípio passivo, ao passo que a luz e o espírito representam dois princípios activos. No plano humano, o símbolo da difusão da luz identifica-se nele com a ideia das luzes da cultura.

Na época em que lhe falta a esperança de regressar á pátria, Coménio escreve ainda outras obras. Citemos, por exemplo, o Haggaeus Redivivus, onde ele se apresenta com o papel dum profeta do Antigo Testamento, que apela para a restauração da vida social apoiada numa base melhor e nos esforços com vista para tudo melhorar.

Coménio presta muita atenção à elaboração da sua pansofia, filosofia da sabedoria da vida em todos os domínios da actividade do homem. Ela não tem uma importância puramente intelectual; não é uma omnisciência, mas tem igualmente alcance moral, religioso e social para toda a actividade humana. Coménio aplica-se já na sua Didáctica Checa, e reclama para todos a instrução em tudo que é fundamental para a vida, uma educação completa a todos os respeitos. Ele permanece fiel a esta formulação dos fins em vista do conteúdo e dos métodos do ensino até ao fim da sua vida. Na Didáctica, exprime também a convicção de que o que é essencial para a vida é principalmente o conhecimento do mundo no seu conjunto. O estudo deve, pois, ser selectivo. Doutro modo, não seria possível reter todos os conhecimentos. Segundo Coménio, no entanto, esta selecção diz respeito a todas as camadas fundamentais do mundo: a natureza, o mundo do homem e as esferas espirituais, divinas. Persuadido, sob a influência da leitura das obras neoplatónicas, da possibilidade de resolver qualquer problema parcial unicamente na óptica do conjunto de todos os problemas, ele demonstra, nos quatro primeiros capítulos da sua Didáctica, que a reforma do ensino deve partir da filosofia da vida humana e da posição do homem no mundo.

Sem esperança nenhuma de voltar à pátria (os exércitos anti-habsburgueses foram repelidos da Boémia por Wallenstein), Coménio não abandona, no entanto, o seu processo pedagógico. A pedido dos polacos, dá uma visão mais geral às suas conclusões, o que permite a sua adaptação às escolas latinas. Traduz a Didáctida do checo para o latim, completa e corrige alguns capítulos, etc. e desenvolve, em capitulos autónomos, o projecto de organização de escolas, depois da idade pré-escolar até ao fim dos estudos superiores (até aos 24 anos). Termina esta versão latina em 1638 e submete-a à apreciação dos seus amigos residentes em diversos países europeus. É assim que a Didáctica Magna vê a luz do dia, embora não seja publicada senão em 1657, incluída nas suas obras completas Opera Didactica Omnia. Omnes Omnia Omnino, é assim que denomina os princípios-base da educação completa de todos. O atraso da sua publicação explica-se também pelo tom crítico de determinados juízos a condenarem Coménio, como por exemplo o facto de começar pelos propósitos mais latos da vida. Mas é precisamente a isso que Coménio se recusa a renunciar: “Com efeito, não comecei a escrever uma didáctica da arte da panificação ou da pintura; a gramática ou da lógica, ou doutra qualquer partícula das coisas dignas de conhecimento, mas sim uma didáctica da vida e é por isso que a denominei de “Grande”. É por isso que, tendo em consideração apresentar o todo, eu devia mostrar o todo e não somente uma parte; e começar a construção dos fundamentos mais baixos mas solidamente apresentados”. É com estas palavras que Coménio justifica a sua concepção em 1657 (Ventilabrum). É a partir dum largo objectivo do ensino que ela formula as exigências em matéria de conteúdo (ensino das ciências, dos costumes e do sentimento religioso) e que apresenta com precisão os métodos naturais de estudo e ensino, permitindo que todo o processo seja esclarecido, alegre, rápido e sólido. Também se utiliza largamente a comparação com a evolução natural que presenciamos na natureza (a aplicação da síncrise é um dos traços característicos da metodologia de Coménio).

É já no início dos anos trinta, quando ele reflectia cada vez mais intensamente acerca do modo de aplicação da pansofia aos problemas concretos do ensino, que Coménio apresentou a sua ideia do conteúdo do ensino como selecção do conhecimento do mundo. Criou, assim, um tipo de manual pansófico, um novo tipo de manual que, em cem pequenos capítulos, apresentava conhecimentos escolhidos respeitantes à natureza, à evolução do homem, às suas actividades materiais e espirituais, à sociedade e à relação do homem com Deus nas diferentes religiões. Intitulou esse livro de Janua Linguarum e publicou-o em 1631, primeiramente em latim. Conforme as suas recomendações, o texto podia ser traduzido noutras línguas (ele próprio publicou a versão checa em 1633). Coménio escreveu este mesmo manual ao mesmo que a Didáctica, sob um impulso exterior (o seu amigo J. Jonston tinha-lhe atraído a atenção para um manual com o mesmo nome dos monges irlandeses), mas não tinha dúvidas de que a obra reflecte igualmente as suas experiências do ensino em Leszno.

A obra Janua Linguarum deu-lhe imediatamente fama pela Europa. Apareceu em muitos países, muitas vezes mesmo vertida em várias línguas. Este sucesso explica-se pelo facto de que Coménio ligou dois problemas da época: mostrou como se pode facilitar o ensino do latim, que nas escolas era matéria importante, e outras línguas; e como reunir conhecimentos concretos num sistema. O manual foi também muito bem recebido na Inglaterra, onde um grupo de eruditos à volta de Samuel Hartlib (originário de Elbing) procurava unificar, segundo o espírito do filósofo Francisco Bacon (1561-1626), o conteúdo do ensino e da cultura em geral. Por intermédio dos Irmãos, Hartlib, quando estudava na Inglaterra, entrou em contacto com Coménio. Foi o começo duma correspondência frutuosa, que viam na sua Pansofia possibilidades de solução dos seus problemas. Eis a razão por que Coménio lhes foi ao encontro, remetendo-lhes os manuscritos dos seus trabalhos.

Coménio quer que os conhecimentos estejam adequados à idade dos alunos. Por esse facto, completa a Janus Linguarum com um manual destinado aos alunos Vestibulum Latinae Linguae (Vestíbulo da Língua Latina, 1632; não se conhecem exemplares cuja data seja posterior a 1633). Pensa também no terceiro grau, que denomina, primeiramente, de Palatium (Palácio), mas é somente nos anos cinquenta que ele consegue realizar este projecto com o título de Atrium. É assim que ele compõe a obra intitulada Templum Latinitatis (Templo do Latim), destinado às escolas secundárias latinas. A parte teórica é formada pela Didáctica latina que Coménio pretende completar com manuais pansóficos para os professores, tais como, por exemplo, Os Debates Didácticos. Publicado em 1638, este manual é dedicado aos burgueses e professores de Wróclaw. Coménio responde, assim, àqueles que pedem que lhes explique a utilização das obras Vestibulum e Janua Linguarum. Ao mesmo tempo, não pára de desenvolver o seu projecto didáctico e, no fim dos anos trinta, ele estuda já um sistema de sete graus de manuais, ideais que não chega a realizar.

A pansofia de Coménio não significava todavia, somente a selecção dos conhecimentos essenciais sobre a unidade do mundo. Conforme a intenção dos seus esforços universalistas, considerando que a pansofia diz respeito a tudo, a todos os domínios e a qualquer actividade unificadora numa base de princípios comuns, ele reflectia, a partir dos anos trinta sobre a função filosófica e metodológica. Discernindo acerca dos princípios filosóficos do mundo, ele queria unificar os espaços da actividade humana, eliminar o isolamento dessas actividades, onde o teólogo não se ocupava do trabalho do médico; onde o matemático não se interessava pela alma do homem, etc. Naquela época, as diferentes disciplinas científicas nas faculdades eram, na verdade, representantes de reinos isolados. Coménio experimentou, portanto, delinear o papel da pansofia neste processo de unificação. Denominou-a de metafísica pansófica. Esta distinguia-se naturalmente dos sistemas metafísicos conhecidos, porque ela não fechava o sistema das ciências como tinha acontecido, com Aristóteles, antes pelo contrário, formulava os princípios comuns de todas as disciplinas.

Assim é que Coménio compôs o Prodromus Pansophaie, à qual tinha dado o título de Porta Sapientiae (Porta da Sabedoria) no manuscrito, foi publicada sem o autor saber em 1637, em Oxford, com o título Conatuum Comenianorum Praeludia, prefaciada por Hartlib. A segunda edição, autorizada, foi publicada em Londres já com o conhecido título de Prodromus Pansophiae (Pródromo da Pansofia). O Prodromus desperta grande interesse na Europa; as reacções são também tão positivas como críticas ou inteiramente negativas. Alguns teólogos censuraram Coménio, dizendo que a sua Pansophia não é suficientemente cristã. Por seu lado, Coménio publica em sua defesa a Conatuum Pansophicorum Dilucidatio (Explicação dos Ensaios Filosóficos). Contudo, verifica-se que a diferente concepção de Coménio, que ele tem da unificação do ensino é determinada, em princípio, pelo seu esforço de abarcar o conjunto das manifestações humanas. O que o impede de separar as ciências da crença. Nada de admirar que ele se choque contra a desaprovação quer dos teólogos quer dos representantes das ciências naturais. Em todo o caso, se Coménio parou no limiar da ciência moderna no domínio da história da natureza, a sua tónica sobre o Todo significa uma contribuição importante para o desenvolvimento das ciências pedagógicas. De facto, naquele domínio, a unidade da educação universal e parcial, especial, assim como a unificação dos aspectos racionais e éticos, individuais e sociais, era, sem dúvida, de um grande alcance.

É possível juntar livremente ao sistema de manuais pansóficos, também o seu opúsculo Faber Fortunae (O Artífice da Fortuna), um manual das virtudes cristãs, dedicado aos filhos do conde Leszczynski, mecenas do autor. Isso também é válido para as tentativas de Coménio no domínio do texto didáctico, e particularmente para a sua peça Diogenes Cynicus Redivivus (Diógenes, o Cínico Ressuscitado), que é uma defesa da humanidade e da filosofia e a política fundadas numa base ética. As Leges Illustris Gymnasii Lesnensis, regulamento escolar do Liceu de Leszno, são também testemunho da importância que Coménio ligava ao bom funcionamento do Liceu.

Esta variedade da actividade de Coménio durante a sua estadia em Leszno seria contudo incompleta, se não falássemos das suas tentativas de construir um aparelho de movimento perpétuo - perpectuum mobile. Este aparelho constituía também o objecto da correspondência de Coménio com os seus amigos na Inglaterra, que se interessavam muito nisso e que pensavam seriamente na respectiva aplicação técnica. As experiências de Coménio, realizadas sem cálculos matemáticos, foram, todavia, votadas ao insucesso. No fim da sua vida, Coménio volta novamente a este problema.

Coménio na Inglaterra (1641-1642)

O reencontro pessoal de Coménio com os seus amigos ingleses, conseguido por iniciativa de Samuel Hartlib, celebrou-se no momento em que J. Gauden já tinha proferido o seu discurso, onde recomendava ao Parlamento o trabalho de Coménio e do ecomenista escocês John Dury. Tal como Cromwell, Hartlib era partidário da oposição antireal no Parlamento e independente.

Depois de 1616, os independentes procederam com vista a reformar radicalmente a Igreja Anglicana, reconhecendo unicamente a autoridade da Bíblia e recusando a intervenção do poder profano nos assuntos da Igreja. No grupo à volta de Hartlib, havia participantes do parlamentarismo tanto radicais como moderados. Coménio tinha amigos entre uns e outros. Com efeito, tratava-se duma sociedade muito heterogénea - professores primários, filólogos, matemáticos, inventores, naturalistas, teólogos, políticos, juristas, reformadores da Igreja e da vida social e outros. Eram, frequentemente, como Robert Boyle, eruditos de espírito universal. Ligava-os o interesse no progresso social e no quiliasmo activo (milenarismo). A pansofia de Coménio foi assim muito bem recebida tanto pelo matemático J. Pell, como por W. Petty, político, por Th. Haak, filólogo, ou pelo bispo Williams e outros.

Os debates com os seus amigos ingleses foram uma grande fonte de inspiração para Coménio, particularmente para a sua ideia de ligar a reforma escolar com a reforma da sociedade que, de ora avante, estaria presente no seu projecto. É precisamente com esta intenção que ele consegue o seu terceiro grande projecto. São disso prova os seus diversos testemunhos, onde delineia um sistema de ensino para a idade pré-escolar, para a escola elementar da língua materna, a escola secundária latina e (a escola) para os adultos. Explica como concebe a educação global e o melhoramento dos costumes na sua Via Lucis (O Caminho da Luz), obra fundamental deste curto período da sua vida, que ele somente publica em 1668. Concebe aí a história da humanidade como propagação progressiva da civilização e, por conseguinte, o melhoramento das condições de vida. Às trevas da barbárie opõe a luz do aperfeiçoamento do homem, que contribui para o desenvolvimento do mundo; ele contrasta a cultura e paz à violência e guerras. Ele vê novamente os caminhos mais importantes para melhorar tudo na investigação completa de tudo em todos (Omnes Omnia Omnino), em livros académicos, escolas, a sociedade de estudiosos de todo o mundo para a propagação da civilização (Collegium Lucis) e uma linguagem universal. É com ênfase, muito maior do que antes, que enfatiza a unidade da teoria e da prática. Da mesma forma, trabalha pela unidade de educação geral e especial. De muitas maneiras, projecta já a Via Lucis, o programa de consulta geral, o maior de Comenuis. O progresso da revolução inglesa e a insurreição irlandesa, ocupa inteiramente o Parlamento. Não tendo esperança de realizar seus projetos, Coménio deixou a Inglaterra. Três convites são-lhe oferecidos, antes de partir - para reformar o sistema escolar, na Suécia, fundar uma faculdade pansófica na França (o convite é feito em nome de Richelieu) e tornar-se Reitor da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos - Comenius aceitou a proposta dos suecos, motivado com a esperança do seu auxílio para a libertação da nação checa.

Durante a sua viagem à Suécia, ele percorre a Holanda e a Alemanha. Os seus trabalhos, particularmente o seu livro Janua linguarum, obteve uma boa reacção em toda parte. Descobre que o seu livro é também traduzido em línguas orientais. Graças aos seus amigos, encontrou-se com o filósofo francês R. Descartes (1596-1650) em Leyden, que estava hospedado no castelo de Endegeest. Após um debate de quatro horas, os dois espíritos não encontram, é claro, um consenso em relação ao projecto, mas partem como amigos. Em Amsterdam, Coménio visita representantes da Igreja de Wallonne, em contato com ele, e que apoiam a Unidade dos Irmãos; discute com os amigos J. Rulicius, J. Morian e G. Hotton, que são também amigos de Hartlib. Em Bremen, recusa a reitoria, em Lubeck, à proposta de um grupo de nobres poloneses, seus companheiros de viagem, que o convidaram para se estabelecer na Pomerellie. Permanece fiel à sua promessa para com os suecos.

Coménio e a reforma das escolas na Suécia (1642-1648)

Na Suécia, Coménio foi financiado por Louis de Geer, empresário holandês e fundador da indústria siderúrgica sueca. Ele também foi recebido pela rainha Cristina. Da mesma forma, o tutor da rainha, Johan Mathiae, sentiu afeição por ele. Foi um longo debate sobre a reforma da educação com o chanceler sueco Axel Oxenstjerne, que lhe ofereceu trabalho em Elbing (Elblag), cidade do Báltico que estava então sob a administração da Suécia.

Elbing (Elblag)

Esta rica cidade hanseática, onde a tolerância prevaleceu entre os luteranos e os reformadores (calvinistas), onde os esforços de educação tiveram uma grande tradição, era um oásis de calma para o trabalho de Coménio. Sua família (sua esposa Dorothy e filhas e Christine e Elizabeth, com quinze e catorze anos, respectivamente) juntaram-se a ele em Elbing. Por sua parte, logo Coménio revisou os livros didáticos com seus assessores e deu cursos de filosofia, no ensino médio local.

Os vereadores do conselho municipal apoiaram em todos os sentidos. Em suma, ele realmente tinha condições ideais para um analista didáctico. Mas Coménio veio para a Suécia com planos de longo alcance, para configurar uma grande obra pansófica, que estava gradualmente a transformar-se num projeto para melhorar a sociedade, em sete volumes; um dos volumes, apesar de ser maior, estava realmente reservado para pansofia. Para agradar aos seus amigos em Inglaterra, que pediam trabalhos pansóficos, Coménio publicou em 1643, em Gdansk, o esboço de seu sistema (Pansophiae Diatyposis), mas ele já estava a preparar o seu livro intitulado De rerum humanarum emendatione Consultatio catholica (Consulta geral sobre a reforma das coisas humanas). Foi também no Elbing que terminou o primeiro volume do livro, Excitatorium universale, enviando para Hartlib o manuscrito (o título posterior seria Panegersia).

Simultaneamente, Coménio não pode ficar indiferente aos debates sobre a unificação das Igrejas. Ele não só iniciou uma grande controvérsia com Valerian Magni, capuchinho estudioso cujo trabalho De Luce mentium (1642) despertou o seu interesse, mas participou diretamente em 1645, nas discussões ecuménicas em Torun(Coloquium Charitativum) e escreveu um opúsculo sobre a possibilidade de harmonia entre cristãos. Desiludido das suas esperanças (o colóquio não foi um lugar de conciliação entre os cristãos com base na igualdade, e os participantes não chegaram a interpretar veridicamente o cristianismo), Coménio deixa Torun. Em vez de trabalhar em paz, vê-se entre vários fogos. Pretende servir de mediador entre os luteranos e os reformadores (calvinistas), cujas contradições enfraquecem as posições da Reforma, na Prússia Ocidental. No entanto, isso não convinha aos Suecos e, por outro lado, o trabalho de Coménio era mal recebido por uma parte da nobreza polaca. A situação político-religiosa na Suécia era com efeito muito complexa. Existiam aí dois grupos com diferentes pontos de vista – os luteranos ortodoxos com Oxtenstjerne e os unionistas protestantes a trabalharem com vista à reconciliação dos luteranos com os reformadores. No primeiro grupo não havia muita compreensão relativamente à pansofia de Coménio. De Geer, que pertencia ao segundo grupo juntamente com os seus colegas holandeses, mas que via as coisas dum ponto de vista elevado, calculou bem o momento em que os esforços de Coménio, com vista à unificação das Igrejas, se tornavam indesejáveis na Suécia. Intervem junto de Coménio que primeiramente completa o seu trabalho didáctico. No entanto, Coménio permanece convencido de que é necessário, primeiramente, terminar as suas teorias pansóficas antes de escrever os manuais. Não para de desenvolver novas ideias que o impelem a manusear os seus textos, de tal modo que não chega a terminar as suas obras. “Se eu pudesse mais ou quisesse menos”, repete nas suas cartas dirigidas aos seus amigos.

Durante um curto período em que está prestes a retomar a redacção da sua Consulta Geral, e a ocupar-se apenas dos seus trabalhos didácticos, esboça o plano mais complexo do seu sistema de ensino. A pansofia é então aplicada para as escolas como um conjunto de conhecimentos das coisas e de fenómenos concretos do mundo (do tipo de Janua Linguarum); depois um conjunto de princípios filosóficos do mundo (Janua Rerum - Porta das Coisas), em realidade a metafísica pansófica que ele escrevia depois dos anos trinta) e um novo conjunto de opiniões apresentados na história a propósito dos problemas mais diversos: filosóficos, astronómicos, históricos, etc. (Intitula esta série de Janua Cogitationum - Porta do raciocínio). Cada uma destas séries devia possuir graus: Vestibulum, Janua, Atrium; e devia conter o texto, a gramática (isto é, a teoria), uma metodologia e acessórios, tais como dicionários de línguas e filosóficos. Contudo, Coménio abandona este projecto e retorna à Consulta Geral. Realiza, pois, a primeira série, linguística, a qual junta o tratado metodológico intitulado Linguarum Methodus Novissima (O Método mais Moderno das Línguas).

Tratava-se tanto duma filosofia da linguagem como da didáctica das línguas, mostrando como ensinar as línguas, a partir do texto, a gramática e os dicionários do Vestibulum, Janua e Atrium, com base num método didáctico geral que Coménio analisou no décimo capítulo do Método, visando os princípios da Didáctica. O livro também tinha um número de ideias respeitantes à comparação das línguas. Devido à sua larga concepção, esta metodologia pretendia melhorar o estado geral da educação. Muitas ideias da futura Consulta Geral já se encontravam no Método. Com efeito, trata-se da primeira obra impressa onde já estão caracterizadas as coisas humanas, isto é, as disciplinas mais importantes - a cultura (filosofia), a política, a teologia - determinantes para a felicidade ou a infelicidade e o fim da humanidade.

Coménio conversa ainda uma vez com o Chanceler Oxenstjerne, que o informa de como decorrem os seus trabalhos. Foi novamente recebido pela rainha Cristina. O chanceler sueco sossegou-o, quanto ao não esquecimento da causa dos checos. Contudo, por diferentes razões, das quais provavelmente também as contradições no meio político sueco, a ordem do chanceler Oxenstjerne, autorizando a delegação sueca a reclamar a restituição das liberdades para os países checos nas negociações em Vestefália, chega demasido tarde, no dia 24 de Outubro de 1648, após a assinatura dos tratados. Com efeito, nos termos destes tratados, renovou-se na Europa o status quo do ano de 1624 e não o de 1618. Também aí se reflectiu o facto de que os estados protestantes alemães aceitarem o projecto de trabalhos, preferindo os interesses materiais aos aspectos éticos.

Depois de todos os seus empenhos na Suécia, Coménio regressa com a família a Leszno, em Agosto de 1648. Pouco depois, morre-lhe a mulher que o deixa com duas crianças nascidas em Elbing, Susana (1643) e Daniel (1646).

Segunda Estadia de Coménio em Leszno, 1648-1650

Consternado com a morte da mulher, Coménio suporta ainda muito mal o resultado da Guerra dos Trinta Anos, que impedia os exilados de regressarem à pátria. Exprime a sua desilusão, por exemplo, no 3º volume de O Afligido, intitulado simbolicamente o Gemido da Rola, há muito tempo cativa nas rochas escarpadas (1650, publicado em 1651). As perspectivas sombrias da Unidade dos Irmãos levam Coménio, sénior ou bispo da Unidade em 1648, a escrever o célebre Testamento da Unidade, em 1650. Nos seis legados da Unidade à nação, Coménio convida à procura da verdade divina, ao amor da Bíblia, à concórdia, à purificação, à tolerância e à ordem e disciplina, à purificação e ao conhecimento da língua materna, e ainda à educação cuidada da juventude. Apesar de tudo, o texto é optimista: “Creio, e Deus sabe-o bem, que depois do apaziguamento do furacão da sua cólera, o governo que atraímos pelos nossos erros, o governo dos teus assuntos voltará para as tuas mãos, ó povo checo”. Coménio também distingue os valores da Unidade dos Irmãos noutras obras (por exemplo o posfácio na publicação do livro oitavo de J. Lasicky, A História da Origem e dos Actos dos Irmãos da Boémia).

Em Leszno, Coménio vê-se sobrecarregado de trabalho. Publica as obras preparadas anteriormente, escreve novos textos, ocupa-se da Unidade, suportada materialmente graças a ele, por L. de Geer, prega o Evangelho e ensina os jovens padres da Unidade. Dirige o liceu e continua a escrever a Deliberação Geral. Ainda por cima, sofre duma doença. Em 1649 casa com Joana Gajus, e toma a seu cargo os dois filhos. Casam-se as duas filhas mais velhas - Doroteia Cristina, com João Molitor, membro da Unidade, que trabalha na Eslováquia, e Elisabete desposa, em 1649, Pedro Figul, filho adoptivo e ajudante fiel de Coménio, predicador da Unidade desde 1649.

Era preciso encorajar e ajudar os Irmãos dispersos pela Eslováquia. Coménio desfruta então do convite dos príncipes da Transilvânia, que lhe pedem que reforme as escolas e regressa à Hungria com o consentimento do sínodo dos Irmãos.

Coménio na Hungria, 1650-1654

Em 1650, Coménio empreende duas viagens na Hungria. Primeiramente, para fazer o que era necessário para organizar o seu trabalho no liceu de Sárospatak; depois para aí se instalar. Por ocasião das suas viagens, acompanhado de Jean Chodnicius, ao qual chama sénior, visita as comunidades de Irmãos na Eslováquia, em Skalina. Também o seu antigo colega de escola e amigo Nicolau Drabik, que perante ele evocava as suas profecias sobre o significado da família Rákóczi, para a Hungria e outras nações oprimidas.

De início, Coménio não leva a sério as profecias dele, mas aceita, enfim, uma potencial coligação da Transilvânia com a Suécia de Carlos Gustavo, eventualmente com a Inglaterra.

Por ocasião da sua primeira estadia em Sárospatak, Coménio esboça, por ideia dos príncipes, a ideia básica da escola local (Illustrissimae Patakinae Scholae Idea), com vista a difundir os reflexos da cultura na Hungria. Gozando do pleno apoio da princesa e do príncipe Segismundo Rákoczi, Coménio elaborou o plano duma escola pansófica com sete classes (Schola Pansophica). Confrontado com a realidade, com um pequeno número de alunos, Coménio tem de se contentar em abrir a escola apenas com três classes. Inaugura as diferentes classes com importantes alocuções, onde formula as tarefas no quadro do ensino pansófico. É assim que ele aflora as questões da influência metódica (Methodi Verae Encomia), os problemas de como estudar bem as coisas (De Utilitate Accuratae Rerum Nomenclaturae) e da educação para o belo, a sabedoria e a pureza da língua. São muitas vezes de importância capital as suas alocuções pronunciadas por ocasião da inauguração da escola: De Cultura Ingeniorum (Da Cultura do Espírito) e De Libris (Acerca dos Livros).

O primeiro desenvolve a significação da educação e da cultura em geral; o segundo aconselha como utilizar os livros que representam o instrumento principal do ensino. No entanto, Coménio sente-se com a falta de actividade, preguiça e indiferença dos alunos. Aí faz frente com a sua obra Fortius Redivivus (Fortius Ressuscitado, ou Como acabar com a preguiça na escola) e com as Regras de Comportamento. Com o fim de facilitar os estudos, Coménio compõe um manual ilustrado que, em 150 pequenos capítulos, desenvolve o texto da sua Janua, que completa com ilustrações, onde as diferentes coisas são numeradas conforme o texto. Coménio intitula este manual de Lucidarium e publica em 1653 o exemplar espécime. A versão definitiva aparece depois com o título Orbis Pictus e torna-se muito popular até ao sec. XIX. Para que os estudos se tornem mais agradáveis, refaz a sua Janua Linguarum e escreve oito peças de teatro para os alunos: Schola Ludus.

Coménio tem grandes esperanças culturais e políticas em Sigismond Rákoczi, um senhor erudito interessado na pansofia, assim como no casamento deste com a princesa Henriqueta Maria, filha de Frederico, o Palatino. Jorge II, irmão de Segismundo, é principalmente um guerreiro. É para despertar o seu interesse pela educação, que Coménio escreve a obra Gentis Felicitas (A Felicidade das Pessoas), onde caracteriza os princípios comuns e geralmente válidos dum povo instruído em matéria de economia e de cultura e das possibilidades dum desenvolvimento nacional feliz.

Por altura da sua viagem de regresso a Sarospatak, Coménio visita várias localidades na Eslováquia. É recebido com grande respeito tanto nas famosas escolas de Presov e de Levoca, como entre os Irmãos na Eslováquia Ocidental.

A última estadia de Coménio em Leszno, 1654-1656

Coménio trabalha intensamente em Leszno. Desempenha as suas obrigações de bispo, continua a escrever a sua Consulta Geral e, vislumbrando novas esperanças na formação de novas coligações, participa em debates por correspondência acerca da evolução política. Mas, a sua temporada em Leszno termina numa tragédia. Em 1654, Carlos Gustavo sucedeu à rainha Cristina, na Suécia. Pela sua parte, Jean-Casimir, rei da Polónia, que também aspirava à coroa Sueca, recusou reconhecer o seu direito de sucessão. No entanto, como ele era pouco popular na Polónia, devido à opressão das liberdades, Carlos Gustavo ocupou facilmente grande parte da Polónia. Era bem acolhido por todo o lado e viam nele o futuro rei da Polónia. Coménio escreve, então, a convite do Juiz Schlichting um Panegyricus Carolo Gustavo (1655), glorificando o rei da Suécia como defensor das liberdades e da tolerância para todos os habitantes da Polónia. Mas o comportamento dos soldados suecos nem sempre se deu sem violência. Sustentada pelos Jesuítas, a maioria dos católicos insurgiu-se todavia contra eles e contra os não-católicos. A cidade de Leszno, centro não-católico na Grande Polónia, foi posta a saque e incendiada pelos polacos católicos.

Os vencedores fizeram sentir pesadamente a Coménio a sua cólera. Perdeu nas chamas todos os seus bens, mas principalmente a biblioteca e todos os manuscritos de obras inéditas. Coménio descreveu esta catástrofe na obra intitulada Lesnae Excidium (O Fim de Leszno).

Ficou muito desiludido pelas manifestações de ódio num país que, anteriormente, tinha sido conhecido pela sua tolerância. Ele amava os Polacos como um povo muito próximo dos Checos; e assim perdeu em Leszno a sua segunda pátria. Pela segunda vez na vida, viu-se proscrito e obrigado a procurar refúgio. Encontrou-o, primeiro, em casa dos seus amigos em Francfort do Óder e, seguidamente, Laurent de Geer, filho do seu antigo mecenas e amigo, ofereceu-lhe hospitalidade em Amesterdão. Por ocasião da sua viagem, dirigiu-se às Igrejas, pedindo que ajudassem as vítimas de Leszno. Passado tempo, a sua família reuniu-se a ele, em Amesterdão.

 O Último Refúgio de Coménio em Amsterdão, 1656-1670

Nos Países Baixos, Coménio foi bem acolhido em Groningue, em Utrecht e, enfim, em Amsterdão, onde ficou. O Conselho Municipal ofereceu-lhe um posto de ensino de honra e sustento financeiro, que lhe permitiu publicar os seus livros. Do mesmo modo que depois de 1648, em que tinha escrito que das infelicidades se deviam originar as virtudes, escreve aos amigos que deseja “reunir os restos dos vasos quebrados... e pôr-se a trabalhar”. Ele começa então a trabalhar infatigavelmente. As obras anteriormente escritas para as escolas, prepara-as então para serem publicadas, como por exemplo peças de teatro, tais como Diogenes Cynicus, e refaz também Faber Fortunae, apresentando nelas um homem pansófico, sensato e harmonioso, etc.

Trabalha muito para a Unidade dos Irmãos para a qual consagra extractos das Escrituras para jovens e adultos (Manual da Bíblia), um catecismo e nomeadamente o Livro dos Cânticos, isto é, uma colecção de cânticos traduzidos e outros compostos põe ele com prefácio sobre a importância dos cantos e dos cantos religiosos em particular. É no trabalho em latim intitulado “Do Bem precioso da Unidade e da Ordem” (consagrado à Igreja Anglicana), na breve história da Igreja eslava e noutras obras que informa os estranhos à Unidade. Dez anos após o aparecimento do Testamento da Unidade, Mãe Moribunda, publica o quarto volume de O Aflito - Triste Voz do Pastor, perseguido pela cólera de Deus, que aconselha e se despede do seu rebanho disperso e moribundo (1660), uma confissão plena de tristeza pelo enfraquecimento da Unidade nas guerras, epidemias e outros sofrimentos. No entanto, segundo Coménio, os Irmãos não se deviam entregar tanto ao desespero mas sim pelo contrário, aprofundar a sua vida espiritual e cumprir o legado da ordem, jóia da Unidade, pois, como ele pensava, a Unidade dos Irmãos viveria um dia o seu renascimento. Ele próprio trabalhava com vista à grande unidade mundial.

Ele iniciou uma polémica com os “socinianos”, ou seja, com os racionalistas religiosos que não acreditavam na divindade de Jesus Cristo nem na Santíssima Trindade. Criticava também o cartesianismo, principalmente o facto de Descartes isolar a razão do conjunto das outras manifestações do homem. No entanto, do ponto de vista da evolução, as doutrinas de Galileu e de Descartes foram inelutáveis, indispensáveis para a especialização científica pela separação da ciência, e da filosofia da teologia. Coménio, por seu lado, tinha razão na proporção em que, por exemplo, a separação da ciência dos processos da evolução humana, individual e social, podem marcar a vida negativamente. Donde também a sua profunda concentração sobre a ideia da harmonia.

Coménio escreve também tratados políticos, mas encontra-se cada vez mais, desviado da verdadeira cena política. Publica, por exemplo, Angelus Pacis (O Anjo da Paz), convidando a Inglaterra e os Países-Baixos, dois países protestantes em guerra, para a reconciliação. Nesse livro, pronuncia-se pela paz e contra a guerra, contra a exploração das colónias sem ter em conta os seus habitantes, exprime, também a sua convicção que a humanidade devia ser fundamentada na pureza e na verdade.

A multiplicação das profecias e do misticismo atraem-lhe vários inimigos e até a separação de antigos amigos. Reuniu os profecias de Poniatowska, de Kotter e de Drabik num volume intitulado Lux in Tenebris (Luz nas Trevas), editado, na Segunda edição, com o título Lux e Tenebris (A Luz das Trevas), ao qual dá um sentido político. Na época, acreditava-se bastante nas revelações, particularmente no seio dos refugiados, de modo que todo esse empenho, inaceitável para os racionalistas que se começavam a impôr, deve ser estudado do ponto de vista do período histórico em que se desenrola.

Entre as inúmeras obras dos últimos catorze anos da vida de Coménio, distinguem-se dois grandes projectos, que exprimem o seu ideal de fábrica da humanidade no melhoramento das escolas e da sociedade. O primeiro, Opera Didactica Omnia, conjunto de trabalhos didácticos publicado nos anos 1657-1658, e o segundo, De Rerum Humanarum Emendatione Consultatio Catholica (Consulta Geral da Reforma dos Trabalhos Humanos), conservado em manuscrito em estado fragmentário.

As Opera Didactica Omnia reúnem, em quarto volume, os trabalhos didácticos e pansóficos, principalmente a sua Didáctica, que dada da sua primeira estadia em Leszno (I) e das estadias em Elbing (Elblag II) e Sárospatik (III). O quarto volume contém textos novos, escritos provavelmente em Amsterdão, nos anos de 1656-1657. Coménio resume nelas as dificuldades da sua vida; passa revista às suas actividades (Ventilabrum Sapientiae), e formula um programa para o futuro (Traditio Lampadis). Nos trabalhos puramente pedagógicos, define resumidamente os princípios básicos do seu novo método de ensino, e desenvolve principalmente o princípio do natural, a unidade dos objectivos, do conteúdo, dos métodos e dos meios de ensino, bem como a unidade existente entre a teoria e a prática, o saber, o querer e as capacidades de agir simples e correctamente. (E Scholasticis Labyrinthis Exitus, A Saída dos Labirintos Escolares). Na obra intitulada Typographaeum Vivum (A Tipografia Viva), ilustra o bom funcionamento dessa escola e apresenta um método de ensino fácil do latim no seu Latium Redivivum (Latim Ressuscitado). Queixa-se com frequência do facto de que o seu ideal de escola enquanto “fábrica da humanidade”, “Jardim do Estado”, e “Abertura a Toda a Vida”, limita sempre um objectivo que se deve realizar (Paradisus Juventutis Christianae Reducendus, Como Formar o Paraíso na Juventude Cristã.

Paralelamente, Coménio esforça-se por terminar a sua Consulta Geral. Com efeito, em Leszno, tinha conseguido salvar, pelo menos, os rascunhos dos seus dois primeiros volumes, a Panegersia e a Panaugia. Durante a viagem de Leszno a Amsterdão, parou em Hamburgo, onde mandou fazer as respectivas cópias. Primeiramente estas duas obras foram traduzidas em francês e apresentadas a Laurent de Geer. Elas publicam-se nos anos de 1662-1664. Coménio publica ainda um exemplar espécime completado com o segundo prefácio da Pansofia, oito capítulos da Panorthosia e menos de treze capítulos da Pannuthesia. As passagens quiliásticas da Panorthosia provocaram uma viva crítica a Coménio da parte de Samuel Maresius, professor de Groningue. De facto, os dois últimos anos da vida de Coménio foram pesadamente marcados pela polémica entre estes dois eruditos. Por outro lado, é precisamente graças a isso e, em particular, aos argumentos de Coménio, utilizados em sua defesa, que hoje não estamos mal informados dos pormenores da sua vida (Continuatio Admonitionis Fraternae, A Continuação da Admoestação Fraternal).

No prólogo da Consulta (Europae Lumina, As Luzes da Europa), Coménio exorta as personalidades ilustres dos países europeus, mas também todos os outros homens e participarem nas consultas para mudar as ideias sobre a situação, para procurar melhorar o estado da humanidade, para unir os esforços com vista ao conhecimento objectivo e à educação em geral, ao bom procedimento dos homens e à boa relação com a Natureza e com vista à boa participação perante Deus, perfeição suprema.

O primeiro volume, a Panegersia (O Acordo de Todos), anuncia o intuito do melhoramento das coisas humanas, isto é, a filosofia, a política, a religião, propõe meios de acabar com as guerras e recomenda pôr em evidência diferentes formas de cooperação internacional. A Panaugia (O Esclarecimento de Todos) refere-se aos métodos da reforma de tudo e de todos, completa e no todo (Omnes, Omnia, Omnino). Segue-se a Pansophia (A Sabedoria Universal) e sete volumes, à qual Coménio queria dar o nome de Pantaxia, visto que ela continha um sistema coerente de conhecimentos do mundo como um todo; tantos princípios, cujas chaves principais são: saber, querer e poder (scire, velle, posse), como conhecimentos das coisas e dos fenómenos concretos. Os princípios do mundo (ou a metafísica pansófica) são formulados na primeira parte do Mundus Possibilis (Mundo Possível). A construção do universo explica-se nos outros sete “mundos” (ou graus que descrevem no quadro da evolução cósmica: o mundo divino, pelo mundo angélico e natural; o mundo da actividade humana, até ao mundo eterno, a posição e o papel do homem no processo de melhoramento. Na Pampaedia (Educação Universal), Coménio evoca a sua teoria da cultura permanente nas “escolas da vida”, desde o nascimento até à velhice e à morte. A sua Panglottia (A Preocupação de todos sobre a Língua) trata dos meios da compreensão internacional e contém também o projecto duma língua universal, clara, exacta e fácil de aprender. O sexto volume, a Panorthosia (Melhoramento Universal), abre o caminho do melhoramento da sociedade por intermédio das instituições. Coménio não se contenta apenas com o simples melhoramento das famílias, das escolas, da Igreja, do Estado, mas também propõe constituir tribunais internacionais - colégios de homens eruditos encarregados de propagar a cultura em todas as nações e de se representar as nações de todo o mundo, um espaço para tratar da paz internacional e um concelho mundial das Igrejas, autorizado a discutir as questões litigiosas de ordem política, filosófica e eclesiástica. Na Pannuthesia, Coménio exorta todas as pessoas a organizar conferências e a realizarem os respectivos resultados na prática.

Coménio tinha encarregado o seu filho Daniel e o seu amigo Christian Nigrin da publicação da sua obra, mas foram vãos os seus esforços neste sentido. Nigrin copiou o manuscrito e procurou publicá-lo, em 1702, em Halle, com Justus Docemius, amigo de Coménio. Pela falta de interesse, foi suspensa a publicação dos cinco últimos volumes. O manuscrito encontrou-se depois nos arquivos do Orfanato de Halle, onde ficou esquecido. Em 1795, numa das suas Cartas, de sustentáculo da humanidade, o filósofo J.G. Herder aviva a memória de Coménio e depois, em 1829 o historiador Frantisek Polacky, começa a estudar sistematicamente a sua vida e obra. Ao mesmo tempo, há quem se ponha também a procurar o manuscrito da Consulta Geral (J. Kvacala). Descoberto em 1934, por D. Tschizewski, publica-se o original latino da Consulta, pela primeira vez, em Praga, em 1966.

O legado de Coménio compreende outros manuscritos. Citemos por exemplo, o Triertium Catholicum (A Tripla Arte Comum), que trata paralelamente do pensamento, da linguagem e da acção (a lógica, a gramática e o pragmatismo) e sublinha a necessidade de harmonia entre estes (publicado em 1681, com o título de Janua Rerum, que Coménio já não chegou a publicar em vida). Os seus jornais ficaram conservados apenas em fragmentos, tal como um extracto da sua agenda de trabalho de 1646 e das notas relativas à sua obra Clamores Eliae (Os Gritos de Élia).

Dois anos antes da sua morte, Coménio publicou também o livro Unum Necesarium (Uma Coisa Necessária), Pela procura da verdade e da justiça, da liberdade, da ordem e da concórdia, o homem sai dos labirintos da vida para a paz. Laborioso e cheio de amor, de paciência e de tolerância, vai à procura da sabedoria da vida e, por consequência, da boa relação com a natureza, com os homens e com Deus. “Como são imprudentes os que se entregam inteiramente às coisas inúteis e põem de lado as coisas necessárias”!

Coménio faleceu em 15 de Novembro de 1670, em Amsterdão. Foi enterrado em Naarden. Nessa época, tinha-se ele declarado como o “homem de aspiração”. Acrescentemos o seguinte: tratava-se da aspiração ao aperfeiçoamento de tudo.