segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Textos Cabalisticos



O Que É Chassidut?


Todos concordam que por volta da metade do Século 18, começou um movimento no Leste Europa que teve um impacto abrangente, até revolucionário, na prática e filosofia judaicas. O que foi exatamente este movimento (e ainda é), permanece um tanto polêmico. Isso não é difícil de entender, pois o movimento em si é por natureza enigmático.

Talvez a descrição mais comum do Movimento Chassídico o classifique como uma espécie de levante social. Até aquela época, havia uma hierarquia social no mundo judaico – eruditos no alto, o judeu simples por baixo, e o simplório analfabeto, judeu apenas no nome. Na mente de muitos, uma grande alma e uma mente notável eram praticamente sinônimos. Então veio o Baal Shem Tov e elevou o status do homem e da mulher comuns, celebrando o zelo sincero do judeu simples, declarando que isso o elevava ainda mais alto que o erudito frio, intelectual, e com frequência convencido.

Diz-se com frequência que a Chassidut substituiu medo e tremor por amor e júbilo.

Certamente há verdade nessa descrição – de fato, cartas da época demonstram que a principal oposição a este movimento era principalmente sobre esta questão: os eruditos sentiam que seu status estava sendo diminuído, e que as pessoas comuns não iriam mais prestar o respeito devido aos eruditos de Torá.1 Porém isto está longe de ser verdadeiro, porque o Baal Shem Tov e seus alunos eram eles próprios eruditos que valorizavam muito o estudo de Torá, tanto no aspecto esotérico quanto no legalista. Algumas das maiores contribuições daquele tempo à erudição talmúdica e haláchica vieram desses homens.

Outra descrição comum é que o Movimento Chassídico ensinava os judeus a servir a D'us com amor e júbilo, em vez de com medo e tremor, a cantar e dançar em vez de chorar e jejuar. O que mais importa a D'us, pregava o Baal Shem Tov, é que você O sirva com seu coração. Ame a D'us, mesmo que você nem sempre entenda os Seus caminhos; ame Sua Torá, mesmo que mal consiga ler as palavras; e acima de tudo, ame o seu próximo, mesmo que “o próximo” não corresponda às expectativas de D'us e Sua Torá. E celebre tudo que foi mencionado acima.

Porém, se tomado por si só, isto também é contraditório. Pois os chassidim também eram famosos pela sua meticulosidade nos detalhes do ritual e da prática judaica, pois iam muito além das exigências estritas da Halachá, em consonância com o ditado talmúdico: “Quem é um chassid? Aquele que faz além do que a lei exije.”

Uma outra narrativa descreve o Movimento Chassídico como um resultado dos ensinamentos esotéricos de Rabi Yitschak Luria, “o Arizal”, o grande cabalista de Tzfat do Século 16, cujas ideias captaram a imaginação de grande parte do mundo erudito judaico. Os ensinamentos do Arizal proporcionavam uma teologia abrangente da prática judaica que se enquadrava muito mais na alma judaica que a apologética dos filósofos. O Baal Shem Tov e seus alunos estavam todos profundamente imersos nestes ensinamentos.

A Chassidut não é um conglomerado de ideias, mas uma essência simples com múltiplas facetas.

Porém ainda é insuficiente. Os ensinamentos dos mestres chassídicos não são exclusivamente esotéricos e cabalísticos. A Cabalá fala em abstrações compreensíveis apenas para a alma mais elevada. A Chassidut pode também fazer isto, mas também fala de maneira simples, termos pragmáticos para o homem comum em seu mundo cotidiano.

Obviamente, o Movimento Chassídico quando incorpora os ensinamentos do Baal Shem Tov não é um conglomerado de ideias, mas um conceito simples que se mostra em muitas facetas. A ideia é tão profunda, tão essencial, que nos vemos incapazes de interagir diretamente com palavras. Mas talvez, quando a junção de duas linhas define um ponto, com algumas metáforas e explicações possamos localizar o ponto essencial da Chassidut.

A Vida no Âmago

Vamos começar com uma metáfora da psique humana, que também possui muita facetas. Uma pessoa pensa, sente, fala, faz – e com frequência todas essas coisas parecem disparatadas, como se viessem de múltiplas personalidades dentro dela. E vêm, pois uma pessoa é formada por muitas forças conflitantes batalhando em seu interior.

Apesar disso, escondido por trás de tudo que uma pessoa faz no decorrer da vida, há um tema comum, um impulso numa determinada direção, uma essência lutando para emergir. Se a pessoa encontrasse esta essência e a reconhecesse, toda a sua vida poderia ser levada em harmonia. A pessoa seria recarregada, repleta de vida. Todo aspecto de sua vida, suas ações, palavras, pensamentos e emoções brilhariam, tendo sido ligadas ao seu íntimo, um reservatório interminável de energia, e harmonizado com todos os outros aspectos da sua psique.

Assim também, o povo judeu – um povo tão diverso como se poderia imaginar, em temperamentos, sentimentos e acima de tudo, opiniões. E apesar disso, juntos formamos um só povo, como um só corpo, com uma única essência pulsando lá dentro.

Houve uma época em que tivemos de fazer contato com o âmago da essência.

A Torá, também, tem muitas camadas e facetas. Há as histórias das Escrituras; as leis e rituais prescritos por elas; as interpretações homiléticas dos sábios; os conhecimentos mais profundos, esotéricos, conhecidos apenas pelos iniciados – porém tudo isso é uma Torá, única e unida.

Há uma tradição que confere significado ao nome do Baal Shem Tov. Veja, o Baal Shem Tov não nasceu com aquele nome – que simplesmente significa “Mestre do Bom Nome”, e era um título comum para fazedores de milagres naqueles tempos. Ele se chamava Israel, filho de Eliezer e Sarah. Nós, também, somos Israel, cada um de nós, em nosso íntimo. Quando uma pessoa entra em coma, diz a tradição, você pode sussurrar o nome dela no seu ouvido para despertá-la. Por quê? Porque o nome da pessoa toca sua essência, e a essência está sempre desperta. Quando Rabi Israel Baal Shem Tov entrou em cena, estava na hora de o povo judeu ser revivido. O ensinamento de Israel Baal Shem Tov foi a maneira de D'us sussurrar o nome do povo judeu em seu ouvido.

Para colocar de outra maneira: quando recebemos o presente da Torá no Monte Sinai, recebemos uma grande mochila para levar em nossa viagem pela história. No decorrer dos séculos, fizemos exatamente isto, descobrindo dentro dessa Torá toda a orientação e recursos que precisamos para tantas jornadas. Mas então chegou o tempo em que a jornada se tornou cansativa demais, quando a Torá parecia estar nos puxando para baixo em vez de estar nos carregando.

Foi um tempo em que estávamos num limiar. Os violentos saques da revolta dos cossacos tinham desmantelado a infraestrutura das maiores colônias judaicas. E os judeus da Europa Ocidental já tinham começado a se assimilar, e os ventos da secularização estavam soprando rumo leste. Era apenas uma questão de tempo antes que a prática e a crença judaica começassem a ficar face a face com seu desafio mais inexorável, o mundo cético, livre-pensante, socialmente mutável da modernidade.

A essa altura, precisamos não apenas de outra estratégia, não apenas outro segredo da Torá revelado a nós. Precisamos de uma carga de luz de seu próprio âmago. Nossas almas precisam fazer contato com a própria alma dessa Torá que carregamos.

No último quarto do sexto milênio, a luz de Mashiach começou a brilhar.

Vínculo

Isso explica aquilo que eu chamaria de assinatura dos ensinamentos chassídicos. Se for um autêntico ensinamento, e tem de ser apresentado de forma lúcida, então ressoa como nenhum outro ensinamento o faz. Você o absorve não como uma “tradição recebida”, mas como alguém que escuta a canção entoada dentro da própria alma. Através do Chassidismo, o judeu e a Torá não são mais dois seres separados, um instruindo e o outro sendo instruído, um comandando e o outro sendo comandado. A Chassidut é vida; assim como corpo e alma se fundem para formar um único ser vivo, também o judeu se conecta com esses ensinamentos como se fossem sua própria alma – e é levado por eles através dos maiores desafios, como uma alma incansável carrega o corpo através do fogo e do gelo.

Aqui, também, um detalhe importante da vida do Baal Shem Tov vem à tona: ele nasceu no 18º dia do último mês do ano, Elul. Este é o mês em que a alma judaica começa a brilhar, em preparação para os “Dias de Reverência” no início do ano vindouro. Dezoito, na numerologia judaica, significa vida.

Luz do Futuro

Há ainda mais um motivo por que os ensinamentos da Chassidut tinham de ser revelados naquela época.

A história do nosso mundo, diz o Talmud, tem seis milênios, correspondendo aos seis dias da Criação. O sétimo dia transcende o tempo, e deve ser precedido pelos dias de Mashiach, quando “o mundo estará repleto do conhecimento de D'us como as águas cobrem o leito do oceano.”

O Baal Shem Tov mudou-se para Mezibush, onde começou a divulgar seus ensinamentos, no ano 1740. No calendário judaico, é o ano 5.500. Alinhando os milênios com os dias da Criação, aquele seria meio-dia da véspera do Shabat. Naquele tempo, a luz de Mashiach já começava a brilhar.

Hoje, os ensinamentos da Chassidut se embeberam inextricavelmente na maior parte da filosofia religiosa judaica. Nem um único pensador religioso importante desde aquele tempo deixou de ser profundamente influenciado por eles. Em Chabad.org, tentamos apresentar estes ensinamentos tanto na forma em que foram ensinados pelos mestres originais, como na linguagem da mente contemporânea. O vínculo, o modo de viver, a aplicação na vida real - isso deixamos para você.

“Em Rosh Hashaná do ano 5507 (1747)”, escreveu o Baal Shem Tov numa carta ao seu cunhado, “Eu ascendi mais e mais alto… até que entrei na câmara de Mashiach. Perguntei a ele: ‘Mestre, quando virás?’

“Ele respondeu: ‘No tempo em que o seu ensinamento se tornar público e revelado no mundo, e seus mananciais brotarão nos extremos mais longínquos.’”

O Que É Emuná?

Geralmente traduzida como fé.

Estamos acostumados a pensar na fé como uma estratégia para pessoas que não podem pensar por si mesmas. “O tolo acredita em tudo”, escreve Shelomô, “o homem sábio entende.” Emuná, porém, é uma convicção inata, uma percepção da verdade que transcende, e não foge, à razão. Bem ao contrário, sabedoria, compreensão e conhecimento podem ampliar a verdadeira emuná.

Mesmo assim, a emuná não é baseada na razão. A razão nunca pode atingir a certeza da emuná, pois, razoavelmente falando, um raciocínio maior poderia sempre vir junto e provar que suas razões estão erradas. Dessa maneira, a emuná é semelhante a ver em primeira mão: a razão pode ajudar você a entender melhor aquilo que vê, mas eu terei dificuldade para convencê-lo que você nunca viu aquilo. Portanto também, a emuná perdura mesmo quando a razão não pode alcançar.

Como testá-la

Falando praticamente, uma pessoa pode ter fé porque não está interessada ou é incapaz de raciocinar por si mesma. Portanto, sua fé não pertence a ela: está simplesmente confiando em outros. Quando alguém tem uma profunda emuná em qualquer verdade, sente que essa verdade é parte de sua própria essência e seu ser.

O teste de tornassol seria um caso de martírio. Uma pessoa com fé sub-racional pode ou não decidir dar a própria vida por esta fé. Uma pessoa com emuná supra-racional não vê escolha – negar sua emuná é negar a quintessência de seu ser.

Como chegar lá

Como dissemos, a emuná é inata, porém pode ser aumentada através de estudo, experiência e razão. Sem este alimento, a emuná de uma pessoa pode permanecer divorciada de sua atitude e ações. O Talmud descreve como um ladrão também acredita em D'us: quando está para fazer uma entrada forçada, a ponto de arriscar sua vida - e a vida de sua vítima – ele grita com toda a sinceridade: “D'us me ajude!” O ladrão tem fé que há um D'us que ouve seus gritos, porém não entende que D'us pode ser capaz de prover para ele sem exigir que descumpra a vontade de D'us ao roubar dos outros. Para a emuná afetá-lo dessa maneira ele precisa de estudo e contemplação.

Os estudos que mais enriquecem a emuná são o Midrash e a Cabalá. Os cabalistas do período que se seguiu ao exílio espanhol (Século 16) apresentaram essas ideias numa forma mais racional.

A Chassidut Chabad, uma abordagem fundada por Rabi Shneur Zalman de Liadi ao final do Século 18, é uma extensão dessa tendência, levando o âmbito da emuná a uma maior proximidade com o raciocínio humano – e possibilitando que a razão humana vislumbrasse o reino transcendente da emuná.

Porém a maior vitamina que você pode proporcionar à emuná é o simples exercício. De fato, um artesão é chamado em hebraico de “uman” – porque praticou sua arte repetidamente até se tornar natural para ele. Assim também, a emuná fica mais alta e mais profunda à medida que você se acostuma a ver todos os fenômenos da vida como manifestações da presença e glória do Criador. E ainda mais, a emuná é enriquecida por ser testada e passar pelos testes; e por fazer sacrifícios na vida em prol da sua emuná.

O Que É Bitachon?

Geralmente traduzida como confiança, bitachon é uma poderosa sensação de otimismo e confiança baseada não na razão ou na experiência, mas na emuna. Você sabe que “D'us é bom e Ele é o único que manda”, e portanto não tem temores ou aflições.

Como a emuná, bitachon é supra-racional. A pessoa que mantém essa atitude sempre conseguirá ver o lado positivo das experiências da vida, mas é óbvio que sua bitachon não é baseada nelas. Não é uma atitude baseada na experiência, mas uma que cria experiência. Ela diz: “As coisas serão boas porque acredito que são boas.”

Por outro lado, bitachon não é uma estratégia para manipular o universo. A sua crença não cria o bem – o bem no qual você está tão confiante já é a realidade subjacente. Sua crença apenas fornece os meios pelos quais aquela realidade pode aparecer. Veja “A Lei da Atração é Judaica” para mais informações sobre este ponto.

Há vários níveis de bitachon, segundo o grau de emuna da pessoa, Alguém pode ter emunah que, embora as coisas agora não estejam bem, são todas para o bem (eventualmente). Uma emuna mais elevada, porém mais esclarecida é que tudo é bom agora mesmo – até quando superficialmente parece terrível. Veja “Quando Mau é Bom” para as histórias de Rabi Akiva e Nachum Ish Gamzu que ilustram como essas duas atitudes podem influenciar a bitachon resultante.

Quando é necessária

Ao contrário da emuna, bitachon não vive dentro da pessoa em estado uniforme. Na maior parte do tempo está sentada nos bastidores: Você cuida das coisas da melhor maneira possível com perfeita fé de que “D'us o abençoará em tudo que fizer”. E portanto, não é sua esperteza nem seu esforço que lhe trarão o sucesso, mas sim “a bênção de D'us é o que torna um homem rico”.

Mas então, de tempos em tempos surgem situações em que você não pode ver quaisquer meios naturais pelos quais você consegue sair disso. A esse ponto, bitachon precisa despertar e ir à luta. Em vez de dizer: “Ei, sou eu! Quem pode me ajudar?” você diz: “Minha ajuda vem de D'us que faz o céu e a terra – e portanto pode fazer tudo aquilo que Ele deseja com eles.”

O que faz

Bitachon encerra uma profunda, porém subliminar, cosmologia. Até um judeu simples acredita que D'us pode prover as nossas necessidades apesar de todos os problemas – até contrariando a ordem natural – e sem quebrar uma única lei da natureza. A cura virá através de um bom médico, o lucro virá através de uma melhor clientela – porém o médico e a clientela são apenas canais, a verdadeira cura e o lucro vêm da bênção de D'us. Em outras palavras, encontramos na bitachon um D'us além da natureza, dentro da natureza.

Isso explica porque quando um judeu está em dificuldades, primeiro cuida dos assuntos espirituais – como verificar tefilin e mezuzot, fazer caridade ou alguma outra mitsvá, passando mais tempo em estudo de Torá – antes de lidar com a urgência material à mão: primeiro coloca as bênçãos no lugar, depois lida com os canais através das quais elas virão.

Como conseguir

Para qualquer pessoa, bitachon pode ser uma fonte de tranquilidade e felicidade através das vicissitudes da vida. Muitos leem a história do maná (Êxodo) todo dia para fortalecer seu bitachon. Ler e contar histórias de outros que viveram com bitachon também ajuda. Mas nada ajuda mais que meditar profundamente sobre o profundo relacionamento que temos com a Fonte de Todo o Bem, e pôr aquela convicção para trabalhar para você sempre que necessário.

O Que É um Tsadic?

Ser humano o tempo todo

Com frequência as pessoas chamam alguém de tsadic simplesmente porque ele é uma pessoa excepcionalmente boa. Então às vezes eles encontram um super-herói, alguém mais semelhante a um anjo do que a um ser humano, e dizem: “Agora, este é um tsadic!”

Porém o mais especial sobre um tsadic é que ele realmente é o mais humano dos seres humanos.

Tsadic é uma forma do verbo hebraico [Tzdk], que encerra o significado de fazer o que é correto e justo. Pesos que são calibrados corretamente são chamados moznei tzedek. O juiz é chamado “Tzedek, tzedek deves buscar!” Significado: que aquilo que estava errado deve ser acertado, que aquilo que foi roubado deve ser devolvido ao dono, o inocente não deve sofrer, e aqueles que causaram o mal devem ser corrigidos para que voltem a fazer o bem. Tzedek é fazer tudo da maneira que deveria ser.

Assim também, a personalidade do tsadic é calibrada segundo as especificações originais do Fabricante, para que tudo nele seja exatamente como seu Criador quis que fosse, e tudo que ele deseja seja aquilo que D’u deseja. Um tsadic é aquele que incorpora a concepção básica do Criador sobre o ser humano.

Isso significa que o tsadic é um ser humano como todos nós. O tsadic sente dor e prazer. Ele ri, ele sorri, ele chora e ele dá gargalhadas. Sofre amargura do espírito, e dança com alegria. Às vezes seu coração palpita com amor, e outras vezes suas veias queimam de fúria. Ele é frustrado pelo fracasso, feliz pelo sucesso; comemora nas celebrações da vida, e pranteia quando aqueles que ama partem. Porque todas essas coisas estão incluídas no caráter do ser humano como D'us o fez, e portanto todos eles também são divinos.

Como todos nós, o tsadic deve comer e dormir. Deve separar um tempo para o lazer, e aprecia a companhia de outras pessoas. Mas ele faz todas essas coisas numa maneira mais elevada, uma maneira divina. Porque, para o tsadic, não há nada que “apenas seja”. Tudo tem um propósito; em todas as coisas ele vê um significado. Para o tsadic, tudo que existe é um meio de conectar-se com um D'us infinito.

Este, então, é um tsadic; aquele em quem vemos nosso verdadeiro eu, que nos permite entender que cada um de nós é essencialmente divino. E assim, apenas por estar ali, mas especialmente pelo nosso vinculo com ele, ele nos conecta ao D'us que respira dentro de cada um de nós.

O Que É Hashgachá?

Geralmente traduzida como providência, em termos teológicos, Hashgachá significa não apenas que D'us sabe o que está se passando aqui, mas está engajado em supervisionar também. Hashgachá é uma espécie de interação entre Criador e criação, por meio da qual cada um responde e interage com o outro. Uma forma da palavra aparece primeiro nos Salmos: “De Sua morada Ele vigia todos os habitantes da terra.”1

Hashgachá é uma importante distinção entre as cosmologias pagãs e judaicas. A pagã geralmetne acredita também numa entidade suprema, no entanto aquela divindade é considerada suprema demais e exaltada para descer para supervisionar este mundo inferior. Filósofos pagãos como Aristóteles consideravam a sabedoria de D'us como estando engajada apenas nos mundos ideais, atemporais, além do nosso. As narrativas da Torá e sua declaração de que o único D'us supremo é o D'us acima de todas as forças da natureza se colocam em confronto direto com essa maneira de pensar.

Duas Abordagens

Embora, sem exceção, os pensadores judeus clássicos reconheçam D'us através do domínio e onisciência “dos chifres do boi selvagem até o menor piolho”,2 apesar disso, duas abordagens distintas a Sua Hashgachá podem ser discernidas dentro de textos judaicos clássicos:

A partir do significado básico dos textos escriturais, talmúdicos e midráshicos emerge uma visão de D'us intimamente envolvido em todo detalhe de Suas obras, provendo até “ao urubu recém-emplumado que por isso grita”.3

Os filósofos do Judaísmo, porém, viam D'us num papel mais passivo. Para eles, o grau de supervisão Divina corresponde diretamente à transcendência da pessoa nos assuntos terrenos. Um tsadic é envolvido pela supervisão de D'us em todo detalhe de sua vida, ao passo que uma pessoa grosseira e materialista é atirada num mundo de causas naturais e aleatórias junto com os animais e a flora. Neste reino inferior, os filósofos veem a Hashgachá aplicando-se somente quando um evento afeta o plano Divino. Mesmo assim, segundo essa visão, “a circunstância ao acaso tem sua fonte Nele, pois tudo vem Dele e é controlado pela Sua supervisão.”4

Credita-se ao Baal Shem Tov a reintrodução da ideia de Hashgachá Pratit – supervisão Divina detalhada de toda ocorrência e toda criatura. Rabi Shneur Zalman de Liadi, um dos mais destacados proponentes do pensamento chassídico, articulou uma base racional para esta opinião, conectando a hashgachá a outro tema vital na filosofia judaica, a criação contínua.

Onde Isso Leva Você

A fé na hashgachá do Criador fornece a base para a bitachon. Através da sua crença em Sua hashgachá você se eleva a um nível no qual D'us está intimamente envolvido em sua vida, numa maneira aberta, benéfica.

Aquele que acredita em Hashgachá Pratit encontra D'us em tudo que vê ou ouve. Cada faceta da vida torna-se uma oportunidade para se conectar com o Infinito, e isso é mais um motivo para celebração.

O Que É Briá?

Geralmente traduzida como criação, porém mais especificamente, criação de algo a partir do nada (hebraico: b’riá yesh mei-ayin). Uma verdadeira briá não emerge de seu antecedente; nada a prediz nem sequer sugere sua possibilidade. Em vez disso, é algo inteiramente novo, um fenômeno totalmente sem precedentes.

O consenso dos clássicos pensadores judaicos é que toda a existência é uma briá de vácuo absoluto, como implica o significado simples dos primeiros versículos do Gênesis. Antes do ato da criação, não havia matéria primordial nem energia da qual um universo poderia emergir, nem qualquer lei que pudesse explicar um evento desses.

Obviamente, sem matéria ou energia não poderia haver espaço ou tempo como os conhecemos. Para nossa mente, o espaço sem pelo menos dois objetos não faz sentido – de que maneira este espaço seria medido? O mesmo com o tempo sem eventos. Porém alguns dos filósofos judeus clássicos vão mais além e afirmam que os próprios conceitos de tempo e espaço são criações. Então, por exemplo, não podemos perguntar: “O que existe além do mundo criado?” – pois não há espaço além do espaço do universo. Similarmente, não podemos perguntar o que havia antes da existência, pois não existia o antes.

… e por que você não pode fazer

Você consegue construir uma casa sem materiais? Compor uma canção sem sons? Conceber uma ideia inteiramente separada do seu banco de experiências? Os cientistas discutem dimensões múltiplas de espaço e tempo, extrapolando das dimensões que podemos medir – mas são capazes de originar algum novo parámetro que não seja espaço nem tempo?

Mesmo se o Criador concedesse a você a capacidade de conjurar objetos físicos a partir do ar, ainda assim não seria uma verdadeira briá, pois tem um precedente – ou seja, sua capacidade de conjurar objetos a partir do ar. Aquele potencial em si é um algo que contém a possibilidade de um outro algo.

A verdadeira criatividade – criar algo absolutamente sem precedentes – somente pode ser realizada por uma entidade que ela própria não tenha precedente. Aquela entidade é a absoluta unicidade que chamamos de D'us.

Que diferença isso faz?

A implicação imediata de briá yesh mei-ayin é que nada “deve ser”. Se o cosmos tivesse sido formado por um amontoado disforme, primitivo, ou dentro dos parâmetros de algumas leis eternas, então determinadas formas ou padrões teriam sido “necessários” – não poderiam ter sido de qualquer outra maneira, pois os eternos axiomas ou a natureza do grude ditam que devem ser assim mesmo. Quando dizemos que a existência não surgiu de nenhuma lei, lógica ou padrão, porém, estamos dizendo que tudo é inteiramente uma expressão da livre vontade de seu Criador, que não é limitado por nenhuma forma ou natureza – exceto as que Ele impõe a Si mesmo. Os padrões e leis que observamos são assim simplesmente porque o Criador decidiu livremente que assim seriam.

Obviamente, o Criador se reserva o direito de suspender à Sua vontade qualquer um desses padrões – também chamados de milagres abertos. Porém mais impressionante: Ele continua ilimitado por essas leis, e pode atingir tudo que quiser sem quebrar uma só delas – também conhecido como um milagre oculto.

Com que frequência isso acontece?

Como nada existe sem necessidade, não há motivo para algo continuar a existir a partir de um momento para o outro – exceto pela vontade de seu Criador. Hoje não é hoje porque ontem foi ontem – hoje é uma criação independente por seu próprio direito. Declaramos isto nas nossas preces matinais, que D'us “renova em Sua bondade todo dia continuamente o ato de ‘no princípio’”. Não apenas todo dia, mas todo momento é inteiramente novo – incluindo o passado e o futuro daquele momento.

Ao projetar Seu universo para operar dessa maneira, o Criador nos concede domínio de nosso passado bem como do nosso futuro. Quando nosso presente muda de direção, o passado renovado em sua sequência pode mudar também. Cada momento novo se torna o vórtice de tudo que foi e que será.

Como isso funciona?

Nossa abordagem vê o Criador como um motor fundamental distante, uma espécie de catalisador do qual toda a realidade surge espontaneamente. Os primeiros textos cabalísticos, porém, discutem articulações da divina energia adaptadas ao consumidor para cada detalhe a Criação (descritas como combinações das letras hebraicas) – uma abordagem que parece mais próxima do texto bíblico.

A cosmologia Chabad relaciona a doutrina luriânica de tzimtzum para sintetizar as duas abordagens: a suprema realidade de cada coisa é a força ativa do Criador infinitamente transcendente que a sustenta.

O Que É D'us?

Em algum lugar ao longo do caminho, me equivoquei sobre D'us. Outro dia percebi que já fazia algum tempo que eu não via D'us – provavelmente desde a infância. E não se trata apenas de eu não poder encontrar D'us – também pareço ter perdido meu senso daquilo que D'us é… Por que isso aconteceu? Se eu O tinha quando era criança, por que não deveria tê-Lo agora?

Resposta:

Você teve uma pista, mas perdeu a outra. Isso tem a ver com a sua linguagem. Chame-a de “fixação na coisa”.

Este é provavelmente o maior desastre da sua infância – não o de ser desmamado, não o de abandonar as fraldas, não o de sentar-se na carteira na primeira série – mas quando você aprendeu sobre coisas.

A essa altura, o mundo inteiro foi reduzido em sua mente a nada além de uma caçamba repleta de coisas. Então até mesmo D'us acaba sendo definido como uma coisa...

Não quero dizer “você aprendeu sobre as coisas do mundo.” Quero dizer, você aprendeu sobre a ideia de coisas. Você aprendeu que o mundo é feito de coisas, objetos, troços materiais que simplesmente “estão ali”. Mais tarde na vida, você começou a correr atrás dessas coisas, acumulando-as, ajuntando mais e mais quantidade de coisas para encher sua casa, seu quintal e sua garagem. A essa altura, o mundo inteiro foi reduzido em sua mente a nada além de uma caçamba repleta de coisas. Então até mesmo D'us acaba sendo definido como uma coisa – e você está tentando encontrar o local onde Ele se encaixa. Porque, afinal, todas as coisas se encaixam em algum lugar.

Quando você acordou para a vida quando criança pequena, não era assim. Não havia coisas. Havia apenas a experiência de ser. De sentir, de viver, de respirar e fazer. Gritar, mamar, arrotar. Aquilo tudo era real. Aquilo tudo é vida. As coisas não são reais, As coisas são ficção. Elas não existem. Nós as criamos.

O Nascimento da “Coisisse”

Como as coisas vieram a existir? Aqui está minha ideia sobre isso.

No princípio, não havia coisas. Toda a humanidade conhecia a vida como faz uma criança pequena, até que cresça e fique mais esperta. Mas então alguém entrou em sua cabeça para desenhar todo o tipo de coisas que tinha. Por fim, os desenho se tornaram glifos, um recurso esperto para comunicação esotérica. Os amantes dos glifos – tais como os sacerdotes de culto do antigo Egito – criaram milhares de glifos para representar a ideia de uma “coisa” – uma foto estática de uma coisa distinta num momento congelado do tempo. A coisa nasceu. E o mundo jamais foi o mesmo.

No hebraico, os verbos mandam.

Provas? Porque no hebraico antigo, bíblico, não há palavra para troço. Ou coisa. Nem objeto ou algo que o valha. No hebraico primitivo, cru, você não diz: “Ei, cadê aquela coisa que eu coloquei ali?” Você diz: “Onde está o desejado (chefetz) que eu coloquei aqui?” Você não diz: “O que é aquela coisa?” – você diz: “O que é aquela palavra?” Isso é o mais próximo que você consegue chegar da ideia de coisa: uma palavra. Toda a realidade é feita de palavras. Olhe na história da criação: todo o céu e a terra nada mais são que palavras.

De fato, no antigo hebraico, também não há realmente nomes. Nos idiomas como o inglês, ou português, os substantivos são os amos e os verbos são seus escravos, com adjetivos e formas associadas dançando em volta para servi-los. No hebraico, os verbos mandam. Grande, pequeno, sábio, tolo, rei, sacerdote, olho, ouvido – todos esses soam como coisas, mas no hebraico são formas de verbos. De fato, segundo Rabino Yeshayahu Horowitz (1560-1630), autor do clássico Shnei Luchot HaBrit, tudo em hebraico é realmente um verbo. Tudo é um evento, um acontecimento, um processo – fluindo, movendo-se, nunca estático. Assim como quando você era uma criança pequena.

Em hebraico, não há sequer o verbo no tempo presente. Há particípios, mas a ideia de um tempo presente somente surgiu mais tarde. No hebraico real, nada jamais é – tudo é movimento.

Isso se encaixa, porque o hebraico não foi escrito em glifos. O hebraico foi o primeiro idioma que conhecemos a ser escrito com símbolos que representam sons, não coisas. Com o alfabeto hebraico – a mãe de todos os alfabetos – você não vê as coisas, você vê sons. Até o processo de leitura é diferente: quando você lê glifos, a ordem não importa tanto. Você apenas olha e tudo está ali. Até os modernos glifos chineses podem ser escritos em qualquer direção. Com um alfabeto, a sequência é tudo. Nada tem significado por si mesmo. Tudo está no fluxo.

Entre no Fluxo

O fluxo é real. As coisas não são reais. Pergunte a um médico: quanto mais examinamos as coisas – aquilo que eles chamam de matéria – vemos que não estão ali. Tudo que realmente existe são os eventos: ondas, vibrações, campos de energia. A vida é um concerto, não um museu.

Pense sobre escrever música, em oposição a pintar um retrato. O artista dá um passo para trás e comtempla sua arte, sua captação imóvel de um momento congelado – e contempla tudo de uma só vez. Então ele educadamente pede ao modelo para fazer o favor de voltar à pose daquilo que agora se tornou a realidade, o retrato. Um retrato daquilo que é, mas nunca foi.

Um compositor de música não pode fazer isto. Você não pode congelar um momento da música – ela se desvanece assim que você tenta fazer isto. Como a coisa fictícia que chamam de matéria: congelada ao zero absoluto, sem energia, sem movimento, não existe mais. Porque, na verdade, tudo que existe é o fluxo do ser.

O fluxo do ser: agora você encontrou D'us.

O fluxo do ser: agora você encontrou D'us. De fato, em hebraico, este é o Seu Nome. O Nome de D'us é uma série de quatro letras que expressam todas as formas do verbo de todos os verbos, o verbo ser: é, foi, sendo, será, vai ser, fazendo ser, deveria ser – todos esses estão naquelas quatro letras do nome de D'us. Como disse D'us a Moshê quando ele perguntou Seu nome; “Eu sou aquilo que serei.”

Em nossas línguas modernas aquilo não funciona. Escorregamos rapidamente para a armadilha da “coisisse” outra vez. Quem é D'us? Respondemos: “Ele é Aquele que foi, é e será.”

Aqui vamos nós outra vez com a história de “a coisa que é”. Não, D'us não é uma coisa que é, foi ou será. D'us é o “ser” em si. Uau! A frustração da linguagem. Precisamos de palavras novas. Em hebraico você pode conjugar o verbo ser em todas as maneiras e ainda mais. Talvez no inglês ou português um dia façamos o mesmo. Até lá, somos como artistas usando aquarelas para imitar Rembrandt: como músicos tentando tocar músicas do meio-oeste em Dó Maior.

E a prova: fazemos perguntas que fazem sentido somente em inglês ou português, mas no hebraico são totalmente absurdas. Assim como: “D'us existe?” Em hebraico, há uma tautologia, algo equivalente a “A existência existe?”

Não há necessidade de “acreditar” neste D'us – se você sabe sobre o que estamos falando, você simplesmente sabe. Você saberá, também, que não há nada além desse D'us – o que há que fique de fora da “sersisse”?

Quanto à fé e à crença, estão reservadas para coisas maiores. Como acreditar que esta notável Sersisse que é tudo que importa, sabe, tem compaixão, pode ser compreendida. Em outras palavras, dizer que a realidade é uma experiência carinhosa, o que se resume a dizer que a compaixão é real, o propósito é real, a vida é real. Isso é algo em que temos de acreditar. Mas a existência de D'us – como a maioria das ideias sobre as quais os homens discutem – esta é apenas uma questão de semântica.

Pense simplesmente: Você acorda pela manhã e, antes mesmo do café, há. Realidade, existência. Não “as coisas que existem”, mas a existência em si mesma. O fluxo, O infinito fluxo de luz e energia. Do ser, da existência. Do é. Pense em tudo que flui da “sersisse” num ponto único, perfeitamente simples. Entre nele, comungue com ele, fale com ele, torne-se um com ele, - isso é D'us.

O Que É Divindade?

Divindade, obviamente, tem muito a ver com D'us. Quando falamos sobre Divindade, porém, não nos referimos a D'us. Quando dizemos que a natureza é Divina, ou que o mundo é realmente Divindade, não queremos dizer que a natureza ou o mundo é D'us, D'us não o permita. Então o que queremos dizer?

Queremos dizer é que como D'us criou este mundo por Sua própria vontade e imaginação, portanto, não importa como ele aparece para nós, sua verdadeira realidade subjacente nada mais é que Sua vontade e imaginação. Por sua vez, Sua vontade e imaginação não são qualidades adquiridas Dele, mas sim inteiramente unidas com Sua unicidade.

A Divindade, então, é uma singularidade subjacente que une todas as criaturas e eventos, passado, presente e futuro, vitalizando cada um deles e ao mesmo tempo transcendendo todos eles.

Uma maneira de conceber a Divindade é imaginar um notável contador de histórias, artista, compositor ou alguma outra mente criativa. Imagine aquela mente concebendo assim do nada algum conceito, tema ou motivo a partir do qual ela pode construir uma história inteira, uma pintura, uma sinfonia ou outra obra criativa. Agora imagine que este artista é tão talentoso que, depois que a obra está pronta, apesar da gama de emoções diversas, estilos, timbres e tons que contém, sob um exame mais detalhado tudo pode ser traçado a um único tema e ideia.

Agora imagine que essa ideia não é apenas mais uma ideia que nasceu na cabeça do artista, mas uma profunda expressão da alma do artista. De certa maneira, a arte é uma melhor manifestação da alma do artista que a própria pessoa do artista. Sua pessoa é apenas a maneira que ele encontrou para se relacionar com outras pessoas. Sua arte, no âmago, expressa o âmago de sua própria alma.

Suponho que este é o artista ideal, e embora alguns possam ter chegado muito perto, nosso mundo não é um mundo de ideais. Além disso, até o artista humano ideal pode criar novas formas, histórias e padrões apenas a partir das experiências que adquiriu na vida. Nenhuma ideia vem realmente “do nada”. Mesmo que viesse, a arte deve ser criada a partir de materiais, sons e cores que pré-existem, dentro de um contínuo tempo-espaço sobe o qual o artista não tem controle.

Mas isso pelo menos serve para nos ajudar a imaginar a obra do Artista Mestre de Todas as Coisas, de quem todos os ideais, formas e conceitos se estendem – até a própria ideia da existência em si. É uma analogia; fala de uma experiência da qual não teríamos compreensão, por meios de comparação com o familiar – e então ela exige que nos livremos do familiar para tocar o mistério que está por baixo da sua capa.

Pulsando dentro de cada célula e átomo de Sua obra está uma expressão de Seu próprio Ser – porém soberbamente disfarçada dentro da minúcias da história que Ele conta, a tal ponto que um tolo que vê apenas um breve ato da peça acredita que não há Autor, não há história, nem ideia – apenas um punhado de tolos como ele próprio tocando no palco.

Nós sabemos que não é assim. Sabemos que por baixo disso tudo, não há nada além de D'us.

O fato mais enganador sobre a Divindade, então, é que possa ser escondida. A verdadeira realidade de tudo que existe pode ser escondida daquelas mesmas criaturas que emergem daquela realidade. Assim como o Criador gera e sustém novos seres sem fonte ou precedente – algo que não podemos nem começar a imaginar – assim também o Criador esconde Sua Divindade daquelas mesmas criações no mesmo momento em que Ele as está sustentando com aquela Divindade. Nada poderia ser mais intrigante. E mesmo assim, essa dinâmica é a dinâmica essencial por trás da existência.

Seja qual for a explicação (se é que podemos explicar isto), tal estado de ocultação é chamado pelo Zohar de “o outro lado” – significando que aquilo sente que é outro que seu Criador. Nosso mundo material é dominado pelo estado do outro. Há planos mais elevados de existência, no entanto, que são chamados mundos Divinos – mundos nos quais tudo que existe nada mais é que uma emanação de uma Força Mais Elevada.

Dentro do nosso mundo, há locais e tempos em que a Divindade é aparente mais prontamente, e indivíduos especiais que estão mais sintonizados com a Divindade subjacente. Há janelas através da fachada.

Esta é a cura que a Torá traz ao mundo: com cada mitsvá que cumprimos, com cada ato de beleza e sabedoria, revelamos um pouco mais daquela realidade subjacente. Num tempo próximo, devido à nossa obra de agora, a criação inteira será de vasos translúcidos para exibir aquela luz Divina. Que seja mais cedo do que podemos imaginar.

O Que É Espiritualidade?

A resposta simples é que espiritual é aquilo que não é físico. Isso não nos ajuda muito, a menos que possamos definir “físico”.

Algumas pessoas dirão que “físico” significa aquilo que podemos ver, ouvir, cheirar, provar ou tocar. Isso é problemático. Não posso perceber as ondas do rádio com nenhum dos meus cinco sentidos – ou qualquer outra forma de energia eletromagnética fora do espectro da luz. Isso significa que meus telefonemas estão sendo transmitidos por meios espirituais, e meu forno de mocroondas está cozinhando por meio da espiritualidade?

Por outro lado, consigo ver um arco-íris. É um arco-íris físico? As cores são físicas? São físicas as cores que aparecem para os olhos por ilusão ótica (como a banda verde que aparece quando azul e vermelho são colocados lado a lado?

Talvez uma melhor definição de físico, então, seja que é aquilo que pode receber discreta medição. Não podemos ver as ondas de rádio, a gravidade ou as forças nucleares. Não podemos escutar infrassom (sons com frequências muito baixas) ou ultrassom (sons com frequências muito altas). Não podemos sentir o ar fino com o nosso sentido do tato. Mas todos esses podem ser medidos, pelo menos teoricamente.

“Espiritual”, então, é aquilo que escapa à discreta medição. Você já tentou classificar graus de amor? Ou classificar precisamente uma ideia? Podemos ver os efeitos e sintomas de todos esses, até medi-los a certo ponto, mas não podemos pedir emoções e ideias em si mesmas. Não porque não temos as ferramentas, mas porque elas inerentemente fogem à medição. Estão entre aquelas coisas que, sociólogos e psicólogos reclamam com exasperação, “contam na maioria, mas não podem ser contadas.”

Se você está lendo isso, provavelmente está vivo. A vida é inerentemente indefinível. Quando dizemos que algo está vivo, queremos dizer exatamente isto: aquilo não será o mesmo neste momento que era no momento anterior. Está constantemente fugindo à definição, transcendendo a si mesmo. Uma planta está viva porque cresce. Um animal é uma qualidade ainda maior de vida, porque se move deliberadamente, por si mesmo. Um ser humano é ainda mais elusivo, porque se comunica com os outros.

É por este motivo que a metáfora mais comum para o espiritual é luz. De todos os fenômenos físicos, a luz é a mais fugidia. Não podemos ver a luz – podemos apenas ver os objetos que ela reflete. Não podemos pegá-la em nossas mãos, ouvi-las com nossos ouvidos, prová-la nem cheirá-la.

E o mais fascinante é que nem mesno a nossa melhor tecnologia é capaz de fornecer uma medida discreta de luz. A mecânica quântica, talvez a mais bem-sucedida teoria física jamais criada, determina que é impossível fornecer tanto a velocidade quanto a posição de um fóton de luz (ou qualquer partícula de energia). Não porque não temos ferramentas suficientemente boas para fazê-lo, mas porque aquela medida simplesmente não existe. Um fóton de luz tem uma velocidade discreta sem uma posição discreta, ou uma posição discreta sem uma velocidade discreta, mas não tem as duas.

A luz, devemos dizer, ainda é física. Mas é o mais próximo que chegamos em nossa experiência comum a uma forma espiritual.

A espiritualidade é científica?

Se a espiritualidade é um elemento tão essencial da experiência humana, por que a ciência contemporânea parece ignorá-la (alguns cientistas chegam a negar que isso exista)?

A ciência moderna é toda a respeito de coisas que podem ser medidas. Ainda não desenvolvemos ferramentas para lidar cientificamente com aquelas coisas que escapam à medição. Isso cria problemas importantes para nós, porque tentar entender o universo com ferramentas que medem apenas quantidades mas não qualidades é extremamente limitador.

Podemos falar do tempo em termos de métrica. Mas e quanto à qualidade do fluxo de tempo como o ser humano o sente?

Podemos falar de cores em termos de frequências de ondas de luz e suas combinações, mas isso ainda está longe da experiência humana da cor, que muda no decorrer do dia de acordo com o humor e outros fatores.

Podemos falar de neurônios transferindo os dados para serem impressos eletroquimicamente em nosso cérebro. Mas e quanto à experiência de perceber aquela imagem em nossa mente? E quanto à “qualidade” da consciência humana? Como podemos começar a dizer que entendemos o universo que observamos, quando não temos maneira científica de discutir o ato da observação humana? Como podemos dizer que entendemos qualquer coisa, se nela não encontramos nenhuma relação com a experiência interior de ser humano?

Embora não saibamos o que é a espiritualidade, todos a experimentamos constantemente. O profundo conhecimento que temos do espiritual vem através daqueles indivíduos especiais que são capazes de experiências vívidas daquilo que foge ao restante de nós. Podemos comparar essas experiências uma com a outra, analisá-las, e tentar construir nossas ideias a partir delas.

A Cabalá contém grande parte dessa discussão, e os cabalistas clássicos desenvolveram rigorosos sistemas pelos quais estudar essas ideias. A tradição judaica, semelhante àquela da ciência, é fortemente acumulativa, lenta e cuidadosamente construída sobre o conhecimento confirmado do passado.

A certa altura, talvez num futuro próximo, encontraremos maneiras de incluir o não-físico dentro do estudo científico. Até lá, será tolice acreditar que aquilo que não pode ser contado simplesmente não existe.

O Que É Uma Mitsvá?

O significado simples da palavra mitsvá é comando. Aparece em várias formas com este significado, cerca de 300 vezes nos Cinco Livros de Moshê. O Talmud1 menciona que o povo judeu recebeu 613 mitsvot no Sinai, e numerosos códigos – mais notavelmente, Sefer Hamitzvot de Maimônides – fornece listas detalhadas. Os exemplos incluem diversos atos como ter filhos, declarar a unicidade de D'us, descansar no sétimo dia, não comer porco, colocar tefilin no braço e na cabeça, construir um Templo em Jerusalém, designar um rei, obedecer aos sábios e fazer empréstimos sem juros. Veja nossos Minutos Mitsvá para exemplos práticos de mitsvot.

No uso comum, uma mitsvá significa “uma boa ação” – como em: “Cumpra uma mitsvá e ajude a Sra. Goldstein a carregar seus pacotes.” Este uso é bem antigo – o Talmud Jerusalém se refere comumente a qualquer ato de caridade como “a mitsvá”.

Com frequência a palavra mitsvá é relacionada à palavra aramaica tzavta,2 que significa anexar ou juntar. Tzavta pode significar companheirismo3 ou apego pessoal.4 Neste sentido, uma mitsvá une a pessoa que é comandada e o Comandante, criando um relacionamento e um vínculo essencial.5

Os três significados podem eles próprios ser juntados. “Bom” é definido como aquilo que o Criador do Universo quer que seja feito com Seu universo, e ao fazer aquilo que o Criador deseja feito, somos ligados a Ele em corpo, mente e alma.

Qual bem são?

Todos concordam que D'us não forneceu esquemas arbitrários de “trabalho”. As mitsvot têm um benefício prático para a pessoa que a cumpre, bem como para o mundo inteiro.

O Chinuch, uma obra influente composta por um autor anônimo do Século 13 na Espanha, é a mais completa apresentação das mitsvot neste papel como uma espécie de terapia comportamental cognitiva para a espécie humana. “As atitudes são moldadas”, escreve o autor, “mais por aquilo que as pessoas fazem que por aquilo que elas pensam.” A obra detalha exatamente quais atitudes são afetadas de que maneira por qual mitsvá.

Os cabalistas da Tzfat do Século 16, principalmente Rabi Yitschak Luria (o Ari), forneceu um modelo de cura cósmica para as mitsvot. As mitsvot são artefatos que atingem debaixo da capa do cosmos para repará-lo, reorganizando-o num estado harmonioso que é capaz de receber luz Divina infinita. Em última análise, então, são nossas mitsvot as responsáveis por preparar o mundo para a era messiânica, um tempo em que será possível cumprir plenamente todas as mitsvot, em seu contexto ideal, e o mundo estará repleto da luz Divina “como as águas cobrem o leito do oceano”.6

Apesar disso, as mitsvot não podem ser reduzidas a utilidades para atingir qualquer meta específica – nem mesmo a suprema perfeição do cosmos inteiro. Se fossem, não seriam o desejo mais interior de D'us – elas seriam apenas mais um meio para um fim. Ao contrário, o próprio ato de uma mitsvá é um fim em si mesmo. Assim a Mishná declara que apesar de todas as coisas maravilhosas que uma mitsvá traz à pessoa e ao mundo, “a recompensa de uma mitsvá é a própria mitsvá.”7 Ao cumprir uma mitsvá, você e o seu mundo são um só com o próprio D'us.

E sobre as coisas que Ele nunca nos disse para fazer?

Embora o termo “mitsvá” pareça se aplicar somente àquelas atividades que foram expressamente ordenadas, o termo é aplicado também a sete mitsvot rabínicas:

Lavar as mãos para o pão.
Leis de Eruv.
Recitar uma bênção antes de partilhar comida ou qualquer outro prazer.
Acender velas de Shabat.
Celebração de Purim.
Celebração de Chanucá.
Recitação das preces de louvor chamadas Hallel em certas ocasiões.
Para cada uma dessas (exceto, obviamente, a número 3), há bênçãos que começam exatamente como a bênção recitada sobre uma mitsvá da Torá: “Bendito sejas, Eterno nosso D'us, Rei do Universo, que nos santificou com Seus mandamentos e nos ordenou…”

Afinal, a Torá exige explicitamente que ouçamos os sábios. Porém os rabinos do Talmud vão mais além e declaram que as ordens rabínicas são mais preciosas a D'us que Suas próprias ordens diretas.8 As mais profundas expressões da vontade Divina são aqueles atos que Ele não nos diz expressamente para fazer, mas que as comunidades judaicas derivaram através de estudo e celebração de Sua Torá. O mesmo se aplica a cuidados, costumes e embelezamentos conhecidos como hidur mitsvá.

Praticamente falando…

Uma sociedade baseada em mitsvót é uma sociedade de participantes educados, ativos – porque não se pode cumprir mitsvot sem aprender primeiro sobre elas. Todo judeu é obrigado a participar de um estudo contínuo das mitsvot e suas aplicações novas assim que surgem. Quando surge uma questão sobre alguma nova tecnologia no Shabat, o status casher de um novo tipo de alimento ou novos métodos de induzir fertilidade, cabe ao indivíduo pedir àqueles que sabem mais para instruí-lo, e aqueles que sabem mais devem debater o assunto segundo as orientações estabelecidas e seus precedentes até que cheguem a algum tipo de resolução. Dessa maneira, há um fluxo constante de conhecimento dentro da sociedade.

Além disso, é difícil manter o cumprimento das mitsvot sem uma fonte renovável de inspiração. As mitsvot cumpridas com alegria e entusiasmo elevam a pessoa um degrau acima do mundo e têm um impacto muito maior sobre o ambiente da pessoa. Mais uma vez, a chave é o estudo e a participação comunitária.



O Mistério Da Cabala



Dentro de seu corpo respira uma pessoa – uma alma. Dentro do corpo da prática judaica respira uma sabedoria interior – a alma do Judaísmo. Nós a chamamos de “Cabalá”, que significa “receber”. Assim como a prática judaica é recebida por meio de uma tradição antiga e ininterrupta da revelação no Sinai, assim é a sua alma.

Cabalá, então, é a sabedoria recebida, a teologia e a cosmologia nativas do Judaísmo.

Outro nome para Cabalá – mais revelador – é “Torat ha’Sod.” Comumente, é mal traduzido como “o ensinamento secreto”. A tradução correta, porém, contém o significado oposto: “o ensinamento do secreto.”

“O ensinamento secreto” significa que estamos tentando esconder algo de você.

“O ensinamento do secreto” significa que estamos tentando ensinar algo a você, abrir e revelar algo oculto.

Ora, você poderia dizer, se o segredo é ensinado, não é mais um segredo. Um segredo revelado, poderia parecer, é uma contradição.

Seria assim se estivéssemos discutindo um segredo artificial, que é secreto apenas porque é velado em segredo, porque outros não querem que você descubra. Os verdadeiros segredos, uma vez revelados, explicados, ilustrados, analisados e integrados em sua consciência, permanecem tão misteriosos quanto antes. Não – muito mais misteriosos, pois à medida que a ilha de conhecimento se expande, assim também sua praia sobre o infinito mar do desconhecido.

A vida tem muito desses mistérios: O que é amor? O que é mente? O que é vida? O que é existência? Como acontecem? De onde emergem? O que é a sua alma, a pessoa dentro do seu corpo? Você passa por todos esses a cada momento. Eles são você. E apesar disso, quanto mais você contempla as profundezas de seus mistérios, mais profundas as águas se tornam.

A Cabalá não é um ensinamento sagrado. É o ensinamento de um segredo.

Os segredos mais profundos são aqueles conhecidos de todos, aqueles que aprendemos quando somos crianças pequenas, aceitamos como certo pelo resto da nossa vida, vivenciamos diariamente – e mesmo assim jamais conseguimos desvendar ou entender com nossa mente cognitiva.

Existe. As coisas existem. Eu existo. Estou vivo. A vida é a não-morte. Escuridão não é luz. Existe aquilo que é maior que eu.

A Cabalá mergulha nesses segredos e traz suas profundezas para a luz. Fornece metáforas para cura e crescimento na vida diária. É por isso que a experiência de estudar Cabalá é “Sim! Eu sabia essa verdade o tempo todo! Meu coração sabia, mas minha boca era incapaz de expressá-la!” As verdades da Cabalá pertencem a todo ser que sente.

Porém, acima de tudo, a Cabalá proporciona uma sensação do além; o conhecimento daquilo que não pode ser conhecido, a sabedoria do mistério, o entendimento daquilo que não entendemos. A Cabalá é o conhecimento do assombro.

Por que a Cabalá é tão secreta?

Ensinar um segredo é perigoso. O aluno está em perigo, pois pode acreditar que realmente entende. Um mistério jamais pode ser apresentado sem as coberturas da metáfora e da parábola. Talvez o estudante entenda a capa mas não consiga desvendar seu conteúdo, como aquele que mastiga a casca e descarta o interior do fruto.

O professor está em perigo, pois como pode saber se realmente entendeu? Vai ensinar muitos alunos, suas ideias serão popularizadas, a essência será perdida e seu significado será retorcido ao oposto da sua intenção.

A própria Cabalá está em perigo, pois uma vez que tenha perdido sua integridade, imediatamente deixa de ser “a sabedoria recebida”. Pode ser sábia, pode ser bela, porém não é mais Cabalá.

É por isso que, na maior parte do tempo, a Cabalá foi transmitida de mestre para alunos selecionados e de confiança, na maior confiabilidade. Quando foi escrita, os textos eram propositadamente crípticos e misteriosos, em enigmas sussurrados, parábolas e alusões obscurecidas. Às vezes, as restrições tinham de ser reafirmadas para impedir todos, exceto alguns poucos, de estudar Cabalá.

As águas desta fonte devem ser mantidas puras; devem continuar sendo águas vivas.

Somente nas últimas centenas de anos os mestres começaram a revelar abertamente estas verdades. Os mestres chassídicos revelaram uma luz e forneceram um conjunto de metáforas que permite a todos abordarem aquela luz, trazendo a Cabalá ao domínio até da alma mais simples.

Mas mesmo assim, um guia é indispensável, e deve-se tomar muito cuidado para preservar a pureza dos ensinamentos.

Quem é este guia? Como você sabe que está recebendo águas puras, direto da fonte original?

Por um lado, água pura reflete claramente. Se a vida do professor não reflete seus ensinamentos, suas águas são impuras.

Depois, saiba que até Mashiach chegar, o caminho interior nunca é sem conflito. Se o ensinamento vem facilmente, não é o ensinamento interior.

E em terceiro: É verdade que você não precisa ser judeu para se embeber no doce vinho da Cabalá ou para aprender seus caminhos de cura. Mas a alma da Cabalá é diferente de uma alma humana – jamais pode ser arrancada de seu corpo, pois o casamento de alma e corpo é completo. A prática judaica e a Cabalá são uma só. Se você ouvir “Não tem nada a ver com o Judaísmo”, está ouvindo uma mentira.

Como o estudo de Cabalá pode me ajudar?

Cabalá é um aspecto da Torá, e Torá significa “orientação” ou “instruções”. Tudo na Cabalá é para ser uma instrução na vida. Estudamos Cabalá não apenas para atingir um ponto alto, mas porque precisamos de sua inspiração na vida cotidiana, e porque nos fornece direção e orientação prática.

Para o Cabalista, o supremo paraíso é aqui agora, porque a Luz Infinita está aqui agora.

A Cabalá proporciona uma dimensão cósmica aos assuntos da vida humana de todos os dias. A doença é um reflexo da doença de amor da divina presença para a Luz Infinita. Os desafios da vida são as centelhas perdidas no ato primitivo da criação, vindas a você para serem consertadas e elevadas. Sua vida é uma missão, na qual você é direcionado para as centelhas divinas que pertencem unicamente à sua alma, pelas quais sua alma tem retornado muitas vezes a este mundo até que sejam todas reunidas.

Entender a dimensão cósmica significa que nada na vida é trivial. Tudo tem significado. Tudo se move rumo a um só propósito, com uma única meta. O entendimento permite que você aceite estes desafios e complete a jornada da sua alma.

Como a Cabalá difere de outros ensinamentos espirituais?

Há muitos ensinamentos espirituais sábios de pessoas em toda parte do globo. Em sua prática, as pessoas encontram transcendência do mundo material, esclarecimento e serenidade.

O foco da Cabalá não é a serenidade. Também não é o esclarecimento transcendental. Proporciona estes também, mas como um meio, não como meta. A meta da Cabalá é a ação inspirada. Qualquer que seja a sabedoria que o cabalista adquire, qualquer que seja o estado de êxtase ou união mística ao qual ele ascende, o resultado será sempre um ato de beleza no mundo físico.

Falando de outra forma: muitos mestres dirão a você para praticar boas ações e atos de bondade porque esta é uma pedra ao longo do caminho da consciência mais elevada. O cabalista lhe dirá que no momento da boa ação, você já está ali. O ato em si é a sua meta, à qual uma consciência mais elevada deve levar você.

Para o cabalista, o supremo paraíso é aqui agora, porque a Luz Infinita está aqui agora, e mais que qualquer reino espiritual, é onde a Luz Infinita anseia por ser descoberta. Nosso trabalho é descascar o fruto para revelar aquela luz dentro de cada artefato físico do mundo. Para iluminar não apenas a nós mesmos, mas todo ser vivo, e até a matéria inerte do nosso mundo.

A revelação no Sinai foi a primeira e a suprema experiência da verdade interior.

Quando a Cabalá começou?

As histórias dos ancestrais são pintadas com uma paleta de visões místicas, revelações divinas e comunicação com seres não-físicos. Porém a Torá, incluindo a Cabalá, não é definida por aquelas visões. O evento central da narrativa judaica é a revelação em massa no Monte Sinai, quando “todo o povo viu os sons e a iluminação”.

Digamos que você viveu pouco tempo depois do evento. Digamos que você perguntou às pessoas que tinham estado lá: “Diga-me o que aconteceu.” O que elas diriam a você?

“Fomos instruídos a não ter outros deuses.”

“Fomos instruídos a honrar nossos pais, a não roubar nem matar.”

Não creio nisso.

Mais provavelmente, a resposta deles seria algo assim:

“Vimos todos os segredos do cosmos abertos à nossa frente. Vimos como cada coisa é gerada para ser a todo momento, vimos como não há realmente nada exceto um Criador, e tudo o mais são articulações de Sua vontade.”

Os próprios mandamentos – não ter outros deuses, honrar os pais, não roubar ou matar – são apenas o conteúdo daquela experiência. O meio, a experiência – isto foi o âmago da mensagem. Foi naquela experiência mística que nosso povo nasceu – a experiência de um mundo no qual “de toda direção, D'us falou com eles.” Eles viram toda a realidade como nada exceto as palavras de uma única, incognoscísvel origem de todas as coisas. E eles entraram em comunhão com aquela Fonte.

Por cerca de mil anos após o Sinai, a experiência judaica permaneceu definida pela profecia. A sabedoria era conhecida às pessoas através de videntes e profetas, homens e mulheres que se afastaram dos desejos e vaidades humanas para atingir uma visão clara dos reinos interiores. Porém nenhuma dessas visões forneceu uma nova revelação, acrescentando ou subtraindo coisa alguma da Torá. Estavam simplesmente afirmando, esclarecendo e sustentando a visão partilhada do Sinai.

A era de profecia acabou no início do período do Segundo Templo, mas a revelação Divina e a visão mística nunca partiram. Nem os rececptores daquela sabedoria se sentaram à beira da tradição judaica. Muitos, se não a maioria, dos mais conhecidos mestres da alma da Torá foram também os mestres estabelecidos sobre o corpo da prática da Torá. Rabi Akiva é considerado o pai da Mishná, e o Talmud e Sefer HaBahir descrevem suas jornadas místicas. Seu aluno, Rabi Shimon bar Yochai, foi responsável pela clássica obra cabalística, o Zohar, e suas opiniões permeiam toda seção do Talmud.

Às vezes, e em determinados lugares, a inquirição filosófica deixou de lado a tradição recebeida para dominar o pensamento judaico. Porém raramente foi considerada a teologia nativa, mas sim uma espécie de enxerto vindo de vinhas estranhas. As obras de filosofia ascendentes, lutando para criar uma única visão a partir de partes disparatadas. A Cabalá faz a conversão, começando com uma visão vívida, holística, e tentando transmitir aquela visão a outros. Apesar disso, especialmente após a expulsão da Espanha, o racionalismo e grande parte da terminologia dos filósofos se integrou à sabedoria holística da Cabalá. O resultado foi um florescimento e uma popularidade sem precedentes do pensamento cabalístico.

A investigação filosófica jamais foi considerada nossa teologia nativa. Porém a Cabalá mais tarde se beneficiou através da síntese com ela.

Na era crítica quando a Halachá foi codificada e estabelecida (a partir da expulsão espanhola até a metade do Século 17), quase todos os eruditos sérios estavam mergulhados na Cabalá. Rabi Yosef Caro, autor do código padrão da Lei Judaica, o Shulchan Aruch; Rabi Moshê Isserles, cujos retoques tornaram aquele código aceitável ao Judaísmo askenazita; bem como a maioria dos comentaristas padrão daquele código, escreveram obras cabalísticas também. Até o popular sermão na sinagoga com frequência era revestido e enfeitado com referências cabalísticas.

Para a maior parte dos judeus de países muçulmanos, o Zohar é tão sagrado quanto o Livros dos Salmos. O Movimento Chassídico cresceu diretamente a partir da Cabalá. Os oponentes originais ao Movimento Chassídico, como Rabi Elijah de Vilna, foram mestres da Cabalá. Muitos dos comentários padrão estudados atualmente sobre os Cinco Livros de Moshê estão repletos de referências a ideias cabalísticas.

É por isso que tentar entender a experiência judaica sem entender a Cabalá é o mesmo que analisar o comportamento de uma pessoa sem saber o que se passa em sua mente. Os judeus notáveis das eras passadas que não provaram a Cabalá sentiam aquela alma interior intuitivamente dentro da Torá que eles estudavam, dentro de suas preces e dentro da prática das mitsvot. Em todas essas coisas, suas almas brilhavam vibrantemente. No decorrer dos séculos, à medida que o mundo se tornava mais estéril, materialista e confuso, aquela alma se tornou cansada e sentiu-se adormecida. Hoje, o caminho cecrto para uma pessoa que raciocina sentir a alma da experiência judaica é provar seus segredos íntimos. Hoje, o Judaísmo privado da Cabalá é um corpo privado de sua alma.

Hoje o estudo da cabala é vital por um motivo ainda mais importante – como um estágio essencial para a evolução definitiva da humanidade. Abordaremos isto depois.

Você pode ser criativo com a Cabalá?

Uma sabedoria recebida pareceria não deixar espaço para originalidade ou criatividade. O Zohar nos diz que aquele que cria as próprias ideias e as chama de Torá está criando um ídolo.

A comparação é significativa: como um ídolo é uma falsa representação de D'us, também essa ideia é uma falsa representação da sabedoria Divina, e “Ele e Sua sabedoria são um.”

Porém, como em outros campos da Torá, a Cabalá ferve com pensamento criativo e originalidade. Eis como Rabi Moshê Cordovero, um professor líder do Século 16 da escola racionalista-cabalista de Tzfat, explicava a necessidade e os parâmetros de originalidade na Cabalá:

O Livro da Formação diz: “Entenda com sabedoria; seja sábio com entendimento.”

“Entender com sabedoria” significa investigar bem tudo que seu mestre ensinou a você na sabedoria das modalidades. Afinal, nesses assuntos transmitimos apenas um mero esboço. A partir deste esboço, cada pessoa deve entender uma ideia a partir de outra.

O Cabalista é criativo, pode ter visões iluminadoras, porém tudo que ele ensina não passa de comentário sobre a tradição recebida.

Você pode ver isto nas palavras de nossos Sábios quando eles disseram: “Este assunto é falado somente a um sábio que entende com sua própria mente.” A partir disto, você vê que uma pessoa deve usar a própria mente para comparar uma coisa com outra, e assim extrair uma ideia de dentro da outra. Dessa maneira ele terá uma mente procriativa e não uma estéril.

E ainda diz; “Seja sábio com entendimento”. Isso significa que quando você origina e analisa com o próprio intelecto para que possa entender, deve tomar cuidado para conceber a ideia e explicá-la dentro da estrutura da tradição dos rabinos e suas palavras verdadeiras. As ideias originais devem estar incluídas naquilo que você adquiriu, seja pouco ou muito.

Os cabalistas podem ter visões, mas eles não encontraram seus ensinamentos naquelas revelações. Sejam quais forem as visões que eles tiveram, veem aquelas como meras iluminações dos textos sagrados e dos ensinamentos que já receberam. Nesta maneira, a Cabalá permanece uma árvore da vida, com profundas raízes segurando-a firmemente no lugar, enquanto dá doces frutos novos a cada estação.

Quais são algumas ideias básicas da Cabalá?

Embora tudos se estendam a partir de uma só visão unificada, os temas que a Cabalá aborda são vastos e variados. Aqui estão alguns dos principais:

Luz Infinita:

Uma metáfora para D'us. D'us é incognoscível e sem forma, porém todas as formas se expandem a partir Dele. A ideia de luz ilimitada ajuda a comunicar essa ideia. Porém a essência de D'us está além até do infinito. E D'us é encontrado nas trevas assim como é encontrado na luz.

Luz e Recipientes:

Similar à ideia moderna de energia e matéria. O ato da criação é sustentado através de uma dinâmica de luz infinita comprimida em estados definidos de ser chamados “recipientes”, que então projetam a luz para criar uma infinidade de seres.

Dez Sefirot:

A conexão entre a Luz Infinita e uma criação finita deveria ser intransponível, e mesmo assim aqui estamos nós, decididamente projeções finitas daquela Luz Infinita. Este é o mistério das dez sefirot: como o Infinito interage com os mundos que gerou através de dez modalidades luminosas, A ordem das sefirot se move a partir do domínio intelectual através da emoção e desce até o âmbito do “domínio” – a esfera de realmente conseguir algo feito. Esta é a “divina imagem” na qual o ser humano é criado. Ao nos conhecermos como seres humanos, portanto, podemos descobrir o divino. E ao entender o divino, somos mais capazes de curar e nutrir o ser humano.

O Mistério do Alfabeto Hebraico:

Em hebraico, não há coisas, somente palavras. O nome hebraico de cada coisa contém sua força de vida essencial. O poder infinito do Criador é encontrado dentro de cada exemplo e objeto da criação; nada está fora dessa luz e nada é vazia dela. As vinte e duas letras do alfabeto hebraico expressam as articulações específicas daquela força criativa. Aquele que domina seus mistérios tem a chave para entender a natureza de cada coisa.

União de Opostos:

O universo inteiro é uma união dinâmica de macho e fêmea. A alma-vida do universo, conhecida como Shechiná, e a Luz Infinita, anseiam por se reunir, como a alma humana anseia por se reunir com sua origem dentro de D'us. O estudo de Torá e o cumprimento das mitsvot provocam essas uniões, permitindo assim que a luz nova e transcendental penetre no cosmos.

Tikun:

O mais notável dos cabalistas, Rabi Yitschak Luria, conhecido como “o Ari” (o leão), conseguiu explicar muitas passagens arcanas do Zohar por meio de uma doutrina de tikun, que significa “conserto”. Revertendo o modelo padrão, o Ari explicou que o mundo foi criado num estado quebrado, e o ser humano foi colcoado nele para recolher as peças espalhadas e consertar sua integridade. O resultado eventual é a união da existência finita com a Luz Infinita, além até daquilo que era no início da criação.

A Cabalá tem o potencial de amainar o conflito entre o frio mundo exterior que observamos e o cálido mundo interior do observador.

Como a Cabalá se encaixa no mundo moderno?

Nos últimos cem anos, a ciência desnudou a complicada e pura vastidão do mundo físico numa maneira antes inconcebível. Descobrimos uma impressionante harmonia pela qual todo o universo físico é visto como uma singularidade, toda partículo integralmente relacionada a toda outra partícula, uma harmonia pela qual até a matéria e a energia em si mesmas são essencialmente uma única dinâmica.

A tecnologis nos deu meios para partilhar e examinar este conhecimento que era inimaginável há uma geração. Programar nossos próprios ambientes virtuais nos enriquece com uma metáfora pela qual podemos imaginar o que significa criar um mundo e sustentar sua existência a cada momento.

A humanidade deveria ser tomada por reverência e assombro, mas em vez disso temos sido deixados no frio. Ironicamente, em nossa busca pela unidade da lei fisiica, temos nos afastado daquela unidade, cavando um vácuo devastador entre o mundo difícil e material que nos cerca e o mundo suave e humano que arde no interior. Ao mediar este divórcio, nos mesmos nos tornamos órfãos.

A Cabalá cura esta ferida. Descreve o mundo ao redor na linguagem da nossa psique. Ela nos põe em contato com um mundo composto não de matéria crua, mas de mente inimaginável.

O cientistas descreve o universo dentro das dimensões de tempo e espaço, em termos que ele pode contar e mensurar. Porém nem tudo que conta pode ser contado. Uma das obras mais antigas da Cabalá, o Livro da Formação, descreve ainda outra dimensão: aquela da vida, consciência e alma. Tudo que existe no tempo e no espaço, aprendemos, é primeiro encontrado no fundo daquela dimensão interior.

É uma dimensão com a qual estamos intimamente familiarizados.

O artista olha para uma árvore e vê não uma estrutura celular de carbono, mas beleza, vida e magnificência. O amante da música escuta num quarteto de cordas não as vibrações das cordas de nylon e sua série de tons, mas a luta pela resolução dentro da alma do compositor. O crítico literário lê dentro das palavras do romance os pensamentos do autor, dentro dos pensamentos as atitudes, dentro das atitudes a percepção do mundo que gera tais atitudes, e dentro daquela percepção a persona do próprio autor.

Assim também, o cabalista vê dentro de cada exemplo da realidade não sua presença palpável e definida, mas uma energia divina sustentando toda a existência, sempre nova como a água da cachoeira é renovada a cada momento, gerando e regenerando cada detalhe do vácuo absoluto, imbuindo cada coisa com suas propriedades particulares e com vida, cada instante da existência em sua maneira particular. E dentro daquela dinâmica da criação, o cabalista vê o próprio D'us.

Como resultado, temos uma afinidade com este universo ao redor. Assim como sentimos dentro de nós mesmos camada sobre camada de personalidade, mais profundamente cada extrato da consciência, e ainda dentro de tudo isso uma indefinível essência do ser, também podemos perceber profundamente dentro do universo uma sentença infinitamente maior que a nossa, e uma essência que transcende o conhecimento e o saber juntos.

Na verdade, somos os filhos daquela essência incognoscível, nossas mentes um pálido reflexo de sua luz dentro das águas barrentas do mundo material, nossas almas seu próprio sopro dentro daqueles limites corpóreos.

Por que precisamos agora da Cabalá?

O franco estudo da Cabalá atualmente não é apenas porque precisamos da inspiração que ele fornece, mas porque este é um estágio vital na evolução do mundo.

Divulgar os ensinamentos da Cabalá numa forma que a mente possa entender prepara o mundo para a Era Messiânica.

A suprema fase deste mundo é uma era messiânica na qual “a ocupação do mundo inteiro será apenas conhecer a D'us”. Isso não significa simplesmente saber que há um D'us, mas conhecer Seu universo como Ele o conhece, e a sabedoria por trás disso como aquela sabedoria é uma com Ele. A preparação para este tempo já começou, e estamos nela.

A obra principal da Cabalá, o Zohar, descreve uma era que espelhará o dilúvio de Nôach – dessa vez com um mundo inundado com sabedoria em vez de água:

“No seiscentésimo ano da vida de Nôach… todos os mananciais da grande profundeza se abriram, e as janelas do céu ficaram abertas…” – Bereshit, 7:11

Sobre isto, o Zohar declara:

“No 6º século do 6º milênio os portões da sabedoria sobrenatural serão abertos, como as fontes de sabedoria terrena, preparando o mundo para ser elevado ao sétimo milênio.”

O sexto século do sexto milênio do calendário judaico corresponde ao período de 1740-1840, na verdade um período de explosivos avanços em tecnologia e ciência. Ao mesmo tempo, os portões da sabedoria sobrenatural foram abertos através dos mestres chassídicos da Cabalá.

Agora é hora de partilhar ambas as sabedorias, a terrena e a celestial, para fundi-las como uma só e inundar o mundo até que seja cumprida a promessa do profeta:

“A terra ficará repleta com a consciência de D'us como a água cobre o oceano.” - Yeshayahu 11:9

Fonte:http://pt.chabad.org

domingo, 22 de janeiro de 2017

Textos Cabalisticos Qliphoth



Qliphoth é o plural de Qliphah, cujo significado dado pelos cabalistas judeus é "Mulher Indecente". Cada sephirah possui um fator de equilíbrio dinâmico cujos aspectos são desagradáveis ao ser humano. Representam os conteúdos indesejáveis da nossa personalidade constantemente renegados pelo ego. Também possui o significado de desorientação espiritual.

Também são chamadas "conchas".


Kenneth Grant possui um expressivo estudo sobre essas características espirituais, com destaque para sua aluna Linda Falorio e marido Fred Folwer. Na década de 80 ambos desenvolveram o conceito do Tarô das Sombras (Shadow Taroth) baseados no Liber CCXXI e na segunda parte do livro de Grant Nightside of Eden. Vasculharam os Túneis de Set, "uma rede de células oníricas no subconsciente humano" e montaram 22 pranchas desses " buracos-de-verme interdimensionais que arruinam a prosaica realidade do Lado Luminoso" através da projeção da consciência via Daäth, "o portal da manifestação e não-manifestação".

QLIPHOTH

1. Nas outras esferas, fizemos referência às Qliphoth, as Sephiroth malignas a adversas; é hora, portanto, de estudá-las em detalhe, embora elas sejam "forças terríveis, havendo perigo até mesmo em pensar nelas".

2. Poder-se-á perguntar então por quê, sendo essas formas tão perigosas, será preciso estudá-las. Não seria melhor desviar a mente a impedir que as imagens de tais forças se formem na consciência? Em resposta a essa quetão, podemos citar os preceitos de Abramelin, O Mago, cujo sistema de magia é o mais completo a poderoso que possuímos. De acordo com esse sistema, o operador, depois de um prolongado período de purificação a preparação, evoca não apenas as forças angélicas, mas também as demoníacas.

3. Muitas pessoas queimaram os dedos com o sistema de Abramelin, e por uma razão muito simples, pois, se examinarmos seus relatos, descobriremos que elas nunca seguiram o sistema por completo, escolhendo uma ceri• mônia aqui a uma invocação acolá, segundo seus humores. Consequentemente, o sistema de Abramelin ganhou má reputação por ser uma fórmula singularmente perigosa, ao passo que, executada por completo, é singularmente segura, porque trata de todas as reações das forças evocadas sob o que poderíamos chamar de "condições de laboratório" neutralizando-as, assim.

4. Todo aquele que tenta manipular o aspecto positivo de uma Sephirah precisa lembrar que ela tem também um aspecto negativo, a que, a não ser que ele possa manter o necessário equilíbrio de forças, esse aspecto negativo pode tomar-se dominante a arruinar a operação. Há um ponto em toda operação mágica em que se encontra o aspecto negativo da força e, a não ser que seja enfrentado, ele jogará o experimentador na fossa que abriu. Há uma sábia máxima mágica que aconselha a não evocarmos qualquer força a não ser que estejamos preparados para enfrentar o seu aspecto adverso.

5. Ousaríamos, por acaso, evocar a energia ígnea de Marte (Geburah) em nós mesmos, se não nos tivéssemos disciplinado a purificado para podermos impedir a força marciana de chegar aos extremos a induzir à crueldade e à destrutividade? Se temos alguma compreensão da natureza humana, devemos saber que todo indivíduo tem os defeitos de suas qualidades - ou seja, se ele é vigoroso a enérgico, ele está predisposto a incorrer na crueldade e na opressão; se é calmo a magnãnimo, está predisposto às tentações do laissez faire a da inéreia.

6. As Qliphoth recebem corretamente o nome de Sephiroth malignas e adversas, porque não são princípios ou fatores independentes no esquema cósmico, a sim o aspecto desequilibrado a destrutivo das próprias Estações Sagradas. Não existem, na verdade, duas Árvores, mas apenas uma, a uma Qliphah é o reverso de uma moeda cujo lado oposto é uma Sephirah. Todo aquele que utiliza a Árvore como um sistema mágico deve necessariamente conhecer as Esferas das Qliphoth, porque ele não tem outra opção senão enfrentá-las.

7. Só o plano de Atziluth possui um Nome de Poder associado a uma única Sephirah, a ele é o Nome de Deus. Ao arcanjo corresponde o diabo e, ao coro angélico, a corte de demônios; a as Esferas sephiróticas têm suas correspondências nas Moradas Infernais.

8. O estudante deve fazer uma cuidadosa distinção entre o que o ocultista chama de Mal positivo a negativo. Esse é um ponto capital na filosofia esotérica, e a não-compreensão de seu significado conduz a erros práticos posteriores, danificando a vida a obra do iniciado, ou, pelo menos, do ser humano que tenta desenvolver uma quantidade módica de livre escolha a autodomínio. Esse é um ponto pouco compreendido, mas singularmente importante na prática, porque influencia imediatamente nossos pontos de vista, de julgamento a de conduta.

9. O Mal positivo é uma força que se move contra a corrente da evolução; o Mal negativo é simplesmente a oposição de uma inércia que ainda não foi superada, ou de um movimento que ainda não foi neutralizado. 11ustremos essas definições por um exemplo. O conservadorismo natural de uma mente amadurecida é encarado como mau pelo futuro reformador; a iconoclastia natural da juventude é encarada como má pelo administrador que estabeleceu seu sistema. Não obstante, nenhum desses fatores oponentes pode ser dispensado 'se queremos que a sociedade se mantenha num estado saudável; entre esses extremos, obtemos um progresso firme que não desorganiza a sociedade, nem permite arrojá-la na inércia a na decadência. Ambos esses fatores são indispensáveis ao bem-estar social, e a ausência de qualquer um deles conduziria a sociedade à ruína.

10. Não podemos considerá-los, portanto, como um mal social, a não ser que haja um excesso. Deveríamos, por conseguinte, na terminologia da filosofia esotérica, classificar o conservadorismo como um Mal negativo, quando considerado do ponto de vista do reformador, e a iconoclastia como um Mal negativo quando considerada do ponto de vista do conservador.

11.0 Mal positivo é algo completamente diverso. Poderá ele ter a natureza de uma iconoclastia excessiva, que beira à anarquia pura a simples; ou a natureza do conservadorismo excessivo, que se toma um privilégio de classe, interesse petrificado que milita contra o bem comum. Ou pode tomar a forma da corrupção política atual, que destrói a eficiência da máquina administrativa, ou de corrupção social, tal como a prostituição organizada ou a exploração do trabalho de crianças, que mina a saúde do corpó-nacional.

12. 0 impulso conservador e o impulso radical atrairão aqueles que simpatizam com esses pontos de vista, a seus partidários organizar-se-ão rapidamente em partidos políticos; esses partidos não são maus, a não ser aos olhos preconceituosos de seus adversários políticos; o corpo principal da nação contrapõe-se a eles a os suporta imparcialmente, reconhecendo que eles representam fatores complementares. Da mesma forma, os elementos corruptos a criminais da sociedade tenderão a organizar um Tammany Hall próprio. Ora, os partidos Conservador a Radical' poderiam ser associados a Chesed a Geburah, respectivamente. 0 Tammany Hall poderia ser comparado à Qliphah correspondente de Geburah, as forças incendiárias e opositoras; a os reacionários organizados, à Qliphah de Chesed, os engendradores da destruição.

13.0 mal negativo é o corolário prático do princípio do Equilíbrio. 0 equilíbrio é o resultado do equilíbrio das forças opostas; conseqüentemente, elas devem combater-se mutuamente. Não devemos incorrer no erro de classificar uma força de um par de forças oponentes como boa e a outra como má, pois fazê-to é cair na heresia fundamental do dualismo.

14. Os comentadores instruídos a esclarecidos de todas as religiões encaram o dualismo como uma heresia; somente os adeptos ignorantes de uma fé acreditam no conflito entre luz a trevas, espírito a matéria, que resultará eventuahnente no triunfo de Deus a na abolição a eliminação total de todas as influências opostas. 0 Protestantismo esquece que Lúcifer é o Dador-de-Luz, que Satã é um anjo caído, a que o Senhor não limitou Seu ministério à humanidade, mas desceu ao inferno a pregou aos espíritos cativos: Não podemos lidar com o Mal cortando-o a destruindo-o, mas apenas absorvendo-b a colocando-nos em harmonia com ele.

15. Em todos os nossos cálculos a conceitos, devemos fazer uma clara distinção entre a resistência da Sephirah compensadora e a influência da Qliphah correspondente. As duas Árvores, a Divina e a Infernal, a Sephirótica e a Qliphótica, são comumente representadas como apareceriam se a Árvore adversa fosse um reflexo da Árvore Celestial num espelho colocado em sua base, igualando assim, proporcionalmente, a altura da outra. Obteríamos, então, um conceito mais exato se concebêssemos os dois hieróglifos como inscritos em cada lado de uma Esfera, de modo que, se um pêndulo balançasse entre Geburah a Gedulah (Marte a Júpiter), ele atingiria o lado oposto do globo, girando na direção da influência da Sephirah adversa correspondente. Se ele se afastar em demasia de Geburah (Severidade), ele chegará à Esfera das forças incandescentes a destrutivas a do ódio; se ele se afastar na direção da Misericórdia, chegará à Esfera dos engendradores da destruição, a esse nome é muito significativo.

16.0 místico diz-nos que seu objetivo é operar na Esfera do espírito puro sem qualquer combinação com a Terra e, por isso, ele evoca apenas o Nome de Deus; mas o ocultista replica: "Enquanto estiveres num corpo terrestre, és um filho da Terra, a para ti o espírito não pode ser puro. Quando evocas o amor de Deus, este não pode it até ti a não ser por meio de um Redentor. A Esfera do Redentor é Tiphareth a seu arcanjo é Rafael, 0 Curador, pois não reconhecemos a influência do Redentor por meio de sua influência curadora sobre o corpo e a alma? Mas o oposto do Redentor que harmoniza são os Zourmiel, Os Querelantes, "os grandes gigantes negros que combatem sem cessar". Não vemos a sua influência nas doutrinas mais sombrias do Cristianismo, na idéia do castigo eterno sob o domínio do Demônio, contrastado com a recompensa eterna sob o domínio do vingativo a venal Jehovah? Se essas não são Forças Duais Contrárias, o que são? 0 moderno pensamento religioso comete um grande erro ao não compreender que o excesso de um Bem é afinal de contas um excesso.

17. 0 único período durante o qual há perfeito equilíbrio de força é durante um Pralaya, uma Noite dos Deuses. A força em equilíbrio é estática, potencial, jamais dinâmica, porque a força em equilíôrio implica duas forças opostas que se neutralizaram perfeitamente e, assim tomaram-se inertes a inoperantes. Destrua-se o equilíbrio, a as forças serão libertadas para a ação, dando margem à mudança, ao crescimento, à evolução e à organização. Não há possibilidade alguma de progresso no equilíbrio perfeito; é um estado de repouso. Ao final de uma Noite Cósmica, o equilíbrio é destruído e, em cónseqüência, ocorre mais uma vez uma efusão de força, dando origem novamente à evolução.

18.0 equilíbrio do universo poderia ser mais bem comparado antes ao movimento de um pendulo do que à apreensão de uma.tenaz. 0 equilíbrio não é imóvel, a há muita difereXiça entre esses dois conceitos. Pois, no controle, há sempre uma pequena vibração, um tremor entre as forças opos tas que o mantém firme; é uma estabilidade, não da inércia, mas do esforço.

19. Esse aspecto é representado na Árvore pelos dois Pilares da Mise ricórdia a da Severidade, que se opõem mutuamente. Geburah (Severidade; se opõe a Gedulah (Misericórdia). Binah (Forma) se opõe a Chokmah (For ça). Se essa oposição cessasse, o universo entraria em colapso, tal como un homem que está puxando uma corda cai se essa corda se rompe. Devemo; compreender claramente que essa tensão, essa resisténcia contra a qual deve mos nos debater em cada uma de nossas ações, não é má; é o contrapeso ne cessário de toda força que empregamos.

20. Como já observamos num capítulo anterior, cada Qliphah nascei primordialmente como uma emanação da força desequilibrada no curso d< evolução da Sephirah correspondente. Houve um período em que as força: de Kether se expandiram para formar Chokmah, e o Segundo Caminho esta va em vias de existir, sem se ter, porém, totalmente estabelecido; Kelhe~ encontrava-se, portanto, em desequiliôrio - expandido, mas não compen sado. Vemos esse mesmo fenômeno do estado de transição patológica cla ramente ilustrado no caso do adolescente que deixou de ser uma crianç~ sob controle a ainda não se tornou adulta a capaz de controlar-se a si mesma.

21. Foi esse inevitável período de força desequilibrada, a patologia d, transição, que deu origem a cada uma das Qliphoth. Segue-se, portanto que a solução do problema do Mal a sua erradicação do mundo não serãc obtidas por meio de sua supressão, cortando-o ou extirpando-o, mas po meio de sua compensação a conseqüente absorção na Esfera de onde pro veio. A força desequilibrada de Kether, que deu origem às Forças Duai: Compensadoras, precisa ser neutralizada por um aumento correspondente da atividade de Chokmah, a Sabedoria.

22. A força desequilibrada de cada Sephirah, portanto, que surgiu sem controle durante as fases temporárias do desequilíbrio que ocorre perio dicamente no curso da evolução, forma o núcleo em tomo do qual se or ganizaram todas as formas mentais do Mal que surgem na consciéncia do; seres perceptivos ou por meio da operação das forças cegas que se encon travam desequilibradas, buscando cada espécie de desarmonia o lugar que lhe correspondesse. Podemos deduzir então que um mero excesso de força; embora pura a boa em sua natureza intrínseca, pode, quando não-compen sada, tomar-se, no curso das eras, um centro altamente organizado a desen. volvido do Mal positivo a dinâmico.

23. Um novo exemplo nos ajudará a compreender esse ponto. Um excesso da energia necessária de Marte (Geburah), a energia que destrói a inércia a faz desaparecer o excremento e a substância usada, deveria necessariamente ocorrer durante o período que precede a emanaçáo de Tiphareth, o Redentor. Assim que é emanado, o Redentor compensa as severidades de Geburah, assim como disse o Senhor: "Dou-vos uma nova lei. Já não direis: olho por olho, dente por dente (. . .)". Ora, essa severidade unilateral de Geburah deu-nos o ciumento Deus do Velho Testamento a todas as perseguições religiosas que se fizeram em Seu desequilibrado Nome. Ele forma as Qliphah de Geburah, a toda natureza cruel a opressora está sintonizada com essa divindade. Para sua Esfera flui todo excesso de força que emana e que não é absorvido pela força oposta no universo - toda vingança insatisfeita, toda sede de crueldade não-satisfeita, a essas forças, sempre que encontram um canal de expressão aberto, se manifestam por meio dele. Conseqüentemente, o homem que se deixa arrastar pela crueldade descobre cedo que não está expressando os impulsos de sua própria natureza não-desenvolvida ou disforme, mas que uma grande força, tal como uma corrente em jorro, corre por ele, levando-o de um ultraje a outro, até que ele perca fmalmente seu autocontrole a discrição, a destrua a si mesmo por alguma expressão incauta de seus impulsos.

24. Toda vez que nos tomamos um canal de alguma força pura, ou seja, qualquer força que é simples a não-diluída pelos motivos ulteriores e considerações secundárias, descobrimos que há um rio caudaloso atrás de nós - o fluxo das forças Sephiróticas a Qliphóticas correspondentes - que abre um canal, utilizando-nos como seu intermediário. É isso que dá ao fanático ignorante o seu poder anormal.


A árvore da vida e a da morte

A árvore Qliphothica possui 22 túneis antagônicos aos 22 caminhos da Otz Chiim (Árvore da Vida).Sabemos que tudo que existe no conceito das sephiroth também existe no conceito das Qliphoth, porém atuando de forma contrária. Logo existem 22 túneis qlipothicos e 22 caminhos sephirothicos.Existem também 22 letras do alfabeto cabalístico, e existem 22 cartas de Tarot (os arcanos maiores).Sabemos também que cada letra do alfabeto hebraico cabalístico, equivale a uma das cartas do tarot, ou seja, para interpretação do significado de cada letra, e como cada letra equivale a uma caminho, o tarot também é utilizado para se interpretar o significado do caminho sephirothico.
Logo existem também 22 túneis qliphoticos e cada um desses túneis também é representado por uma letra do alfabeto cabalístico hebraico, da mesma forma e na mesma ordem que ocorre com os caminhos sephirothicos, o que muda é a interpretação utilizada para se explicar cada túnel.

As Qliphoth são os opostos perfeitos das sephiroth, e cada túnel qliphothico tem o significado contrário de cada caminho sephirothico, como lados opostos de uma mesma moeda.

Os 22 túneis da degeneração são o contrário dos 22 caminhos da Sabedoria. Entendendo sobre os 22 caminhos da sabedoria, fica mais fácil entender sobre os 22 túneis da degeneração.

Tendo isso em mente, sabemos que ambos, tanto os caminhos sephirothicos quanto os túneis qliphoticos, tem algo em comum: as letras do alfabeto hebraico que os representam. O que muda é que soam significados opostos.

Assim como os 22 trunfos do tarot que esquematizam a jornada do Louco em sua evolução pela árvore da vida, os 22 túneis podem representar uma involução ou serem apenas reflexos negativos de caminhos mal trilhados.Isto é, se o tarot serve para explicar o significado de cada letra do alfabeto, para assim se interpretar cada caminho sephirothico, esse mesmo tarot também serve interpretar cada túnel qliphothico, porém de forma invertida.

Por esse motivo, o tarot possui duas representações quando jogado, uma quando virado normal, e outra interpretação quando virado invertido. Como eu disse, são lados opostos de uma mesma moeda.

Para se interpretar cada túnel qliphothico, basta descobrir qual arcano do tarot é usado para representá-lo e fazer a interpretação invertida.

Assim como os 22 trunfos do tarot esquematizam a jornada do Louco em sua evolução, os 22 túneis podem representar uma involução ou serem apenas reflexos negativos de caminhos mal trilhados.

Acima, os sigilos dos 22 túneis qliphoticos.

Os 22 túneis qliphoticos, seus nomes, suas letras equivalentes, seus guardiões e respectivos selos (sigilos):

Aleph-Amprodias-(Vampiric Slyphs)
Beth-Baratchial-(Poison of God)
Gimel-Gargophias-(Lemurs)
Daleth-Dagdagiel-(Babalon)
Heh-Hemethterith-(The Herd)
Vau-Uriens-(The Bloody Ones)
Zain-Zamradiel-(The Clangers)
Cheth-Characith-(The Black Ones)
Teth-Temphioth-(The Flaming Ones)
Yod-Yamatu-(The Scratchers)
Kaph-Kurgasiax-(The Smiters)
Lamed-Lafcursiax-(The Clayish Ones)
Mem-Malkunofat-(The Deep Ones)
Nun-Niantiel-(The Brazen Ones)
Samekh-Saksaksalim-(The Snaky Ones)
A’ain- A’ano’nin-(The Fishy Ones)
Pe’-Parfaxitas-(The Arsonists)
Tzaddi-Tzuflifu-(The Bestial Ones)
Qoph-Qulielfi-(Malignant Women)
Resh-Raflifu-(The Hagglers)
Shin-Shalicu-(Tannim)
Tau-Thantifaxath-(Ghouls)

TÚNEL QLIPHOTICO E OS ARCANOS DO TAROT EQUIVALENTES:

01. Amprodias………………….Distorção do “Louco”.
02. Baratchial…………………Distorção do “Mago”.
03. Gargophias…………………Distorção da “Sacerdotisa”.
04. Dagadgiel………………….Distorção da “Imperatriz”.
05. Hemethterith……………….Distorção da “Estrela”.
06. Uriens…………………….Distorção do “Hierofante”.
07. Zamradiel………………….Distorção dos “Amantes”.
08. Characith………………….Distorção do “Carro”.
09. Temphioth………………….Distorção da “Luxúria”.
10. Yamatu…………………….Distorção do “Eremita”.
11. Kurgasiax………………….Distorção da “Roda da Fortuna”.
12. Lafcursiax…………………Distorção da “Justiça”.
13. Malkunofat…………………Distorção do “Enforcado”.
14. Niantiel…………………..Distorção da “Morte”.
15. Saksaksalim………………..Distorção da “Arte”.
16. A’ano’nin………………….Distorção do “Diabo”.
17. Parfaxitas…………………Distorção da “Torre”.
18. Tzuflifu…………………..Distorção do “Imperador”.
19. Qulielfi…………………..Distorção da “Lua”.
20. Raflifu……………………Distorção do “Sol”.
21. Shalicu……………………Distorção do “Eon”.
22. Thantifaxath……………….Distorção do “Julgamento”.

O quadro abaixo mostra os 12 Príncipes das Qliphoth:



Como seus nomes estão em hebraico, abaixo coloquei as traduções:

1. BAIRIRON
2. ADIMIRON
3. TzELLADIMIRON
4. SCHECHIRIRON
5. SHELHABIRON
6. TZEPHARIRON
7. OBIRIRON
8. NECHESHETHIRON
9. NACHASHIRON
10. DAGDAGIRON
11. BEHEMIRON
12. NESHIMIRON

Da mesma forma que as sephiroth são divididas em quatro planos de existência (1- Aziluth = o mundo das emanações / 2- Beriah = o mundo das criações / 3- Yezirah = o mundo das formações / 4- Asiah = o mundo das manifestações) que forma a árvore sephirothica, o mesmo acontece com as Qliphoth.

As Qliphoth também são divididas em quatro planos de existência que compõem a Árvore Qliphothica. Esses planos e suas 4 divisões são chamados de “águas”. São as águas divisoras que separam um plano do outro.

Então, esses quatro planos de existência representam o mundo criado pelas Qliphoth.



Na imagem acima temos a representação das quatro “águas”, que são os divisores dos planos de existência qliphoticos

1. as águas das lágrimas
2. as águas da criação
3. as águas do oceano
4. as águas do mar

1. as Águas das Lágrimas:
São as lagrimas divinas que separaram a luz da queda, dando origem ao plano qliphothico.Alguns interpretam como o choro de Adão após cair em tentação.

2. as Águas da Criação:
Representam a criação sendo formada longe da Luz, dando existência às Qliphoth. É a criação dos espíritos qliphoticos. Também a partir deste ponto é a criação do homem que nasce pecaminoso, assim como foi Adão.

3. as Águas do Oceano:
Mostra a existência de grupos de criaturas vivas Qliphothicas, dando contraste, assim, aos espíritos sephirothicos, estabelecendo a separação do bem e do mal, como dois conceitos que se contrastam.

4. as Águas do mar:
É o mundo astral, o local onde a decepção e a reflexão ficam confusas, também chamado de limbo.

As 4 águas, são reflexos diretos dos quatro mundos sephirothicos. Da mesma forma que esses quatro mundos sephirothicos possuem sete planos de existência abaixo deles (1 – Plano MÁXIMO / 2 – Plano DIVINO / 3 – Plano ESPIRITUAL / 4 – Plano MENTAL / 5 – Plano ASTRAL / 6 – Plano ELEMENTAL / 7 – Plano Físico), o mesmo ocorre com as 4 águas qliphothicas.


Qabalah, Qliphoth e Magia Goética

Demonologistas, demonólatras e ocultistas de plantão, não deixem esta obra escapar por entre seus dedos.

Viver em servidão ou se tornar não apenas o próprio Deus, mas um Deus real e vivo?

Em Qabalah, Qliphoth e Magia Goética Thomas Karlsson não realiza apenas um trabalho academicamente rigoroso, mas oferece um insight profundo sobre os aspectos sombrios da Qabalah. Esta obra é um lançamento ímpar, que deve ser buscado não apenas pelo ocultista praticante mas por acadêmicos e estudiosos das artes arcanas.

Karlsson, que não apenas possui o embasamento teórico sobre o assunto - possuindo mestrado em História das Idéias e doutorado em História da Religião - mas traz em sua bagagem a experiência de mais de duas décadas de intensas prá icas ocultistas - ele foi o fundador da ordem esotérica Dragon Rouge em 1990, ainda em plena atividade nos dias atuais. Seu livro se destaca não apenas por ser um representante contemporâneo de uma arte quase perdida afinal, como afirmou David Beth, o autor de Gnose Vodum (também publicado pela Coph Nia no Brasil) "exceto pelos clássicos, o que temos são poucos magistas jovens e modernos que se empenham com autoridade e inovação nesses tópicos fascinantes", mas por deixar de lado apenas o aspecto filosófico e psicológico da magia e se embrenhar profundamente nos mistérios da tradição qabalística.

"Os adeptos do Caminho da Mão Esquerda percorrem um outro caminho, ua via mais árdua. Esse é um caminho duro, draconiano, mas que tem o maior dos propósitos: tornar-se um deus. Ao invés de reparar o dano causado pela Queda, o adepto obscuro a glorifica e permite que a destruição seja completa. Ele destrói tudo o que é antigo para que o novo possa surgir no seu lugar. O Caminho da Mão Esquerda, portanto, conduz para longe da Árvore da Vida e remete, assim, à Árvore do Conhecimento. As diferentes Qliphoth podem ser vistas como frutos dessa árvore."

E ele nos mostra não apenas como apreciar esses frutos, mas como semeár a Árvore, cuidar dela, realizar a colheita e afundar nossos dentes neles, cada página é um quilómetro de estrada pavimentado para nos tornar criadores do futuro.

Além do texto magnífico, uma verdadeira iniciação sombria através dos mistérios que foram por tanto tempo oprimidos e reprimidos dentro do misticismo oriental, o livro contém mais de 100 selos - todos os sigilos demoníacos do Lemegeton: A Clávicula de Salomão, conhecida como Goétia, e aqueles que compõe o famoso e raro Grimorium Verurm - além de ilustrações e obras de arte, algumas criadas exclusivamente para o livro.

A obra tem uma edição limitada, uma chance para poucos conseguirem ter acesso a este verdadeiro tesouro das artes negras.

Sumário

A Qabalah e o Lado Esquerdo
- As origens da Qabalah
- Definições de Qabalah
- As Sephiroth e a Árvore da Vida
- Ain Soph e as Sephiroth
- Os 22 caminhos
- A Árvore da Vida antes da Queda
- Lúcifer-Daath
- A queda de Lúcifer
- A abertura do Abismo
- Lilith-Daath e a Sophia Decaída

A Natureza do Mal
- A Sephirath Geburah e a origem do mal
- Geburah e Satã
- Geburah e a criação
- Os mundos destruídos
- Os Reis de Edon
- Geburah e o Zimzum
- A ruptura dos vasos

As Qliphoth
- Demonologia
- A demonologia Qliphótica de Eliphas Levi
- A Kelippath Nogah
As Qlippoth e a Shekinah

O Sitra Ahra
- O mal original
- O Sitra Ahra como Inferno
- As centelhas no Sitra Ahra
- Adam Beliyya'al
- A Luz Negra
- A Árvore Externa

A Árvore do Conhecimento
- As duas Árvores e as duas versões da Torá
- A serpente do Jardim do Éden: o mal como intrusão
- O mal vem do norte

A Visão do Mal na Qabalah
- As raízes do mal
- O que é mal

A Iniciação Qliphótica

As Dez Qlipoth
- LIlith
- Gamaliel
- Samael
- A'arab Zaraq
- Thagirion
- Golachab
- Gha'agshblah
- O Abismo Satariel
- Ghagiel
- Thaumiel

As Invocações Qlipóticas
- A abertura dos Sete Portais
- A Invocação de Naamah
- A Invocação de Lilith
- A Invocação de Adramelech
- A Invocação de Baal

Os Túneis Qlipóticos
- Adentrando o túnel de Thantifaxath
- A visualização de Thantifaxath

A Mágia Goética
- A magia salomônica
- O Shemhamphorash
- A demonologia da Goetia
- Evocações e Invocações
- A magia ritual da Goetia
- Os objetos ritualísticos
- Uma evocação demoníaca conforme o Grimorium Verum
- Os demônios do Grimorium Verum
- Os 72 demônios da Goetia
- Correspondências ocultas
- Magia Goética prática
- Experiências Goéticas

Além de um apêndice de correspondências Qliphóticas e mitológicas.