domingo, 8 de novembro de 2015

Biografia Zoroastro Parte 2


ZOROTUSHTRA – ZARATHUSHTRA – ZARATUSTRA

No decorrer do final do séc. VII e no início do séc. VI a.C. Zoroastro reformou a religião que os antigos Iranianos tinham herdado de seus antepassados Indo-Iranianos (cerca de 1500 a.C.). Ele viveu e ensinou entre as tribos seminômades do que é atualmente o nordeste do Irã, longe de todo o contato com a civilização das cidades da Babylonia e da parte ocidental do Irã.

A religião que ele pregou espalhou-se por todo o Irã e por outros países, e influenciou o desenvolvimento posterior do Judaísmo, do Cristianismo, e também o pensamento Grego e Islâmico. Os Parsis da Índia – persas que emigraram para a Índia, pressionados pelos muçulmanos - conservam viva, até hoje, a sua religião.

O PROFETA

Zoroastro é a forma Grega do nome Zarathustra no antigo idioma Iraniano. De acordo com a tradição Iraniana, ele viveu “258 anos antes da conquista da Pérsia por Alexandre Magno” em 330 a.C. Considerando que Zoroastro tinha 30 anos quando teve a sua primeira visão, considerando também que ele começou a sua pregação aos 40 anos e que ele converteu o Rei Hystaspes dois anos depois, pode-se determinar que Zoroastro viveu no período de 630 a 553 a.C.

Zoroastro reformou e sistematizou o antigo e tradicional politeísmo Iraniano, dando-lhe uma base ética e moral. Ele pregou não só a reforma religiosa como também a reforma das condições sociais que prevaleciam na época. Com freqüência denunciou a desorganização do nomadismo e lutou pela fixação do homem à terra, introduzindo a prática da agricultura. 

Em sua pregação, Zoroastro foi bastante combatido pelos sacerdotes dos antigos cultos e seus seguidores, a quem ele acusou de seguidores do demônio. Embora não se conheça muito de sua vida, pode-se afirmar que Zoroastro foi uma figura histórica e não um mito criado pelas lendas populares. No Zend Avesta, de sua autoria, Zoroastro proclama uma nova filosofia de vida que reflete as esperanças e as dúvidas, os medos, os ódios e os triunfos de uma personalidade marcante.

Após a sua morte, apareceram várias lendas ligadas ao seu nome. Uma delas, por exemplo, dizia que a Natureza festejou o seu nascimento, enquanto que os demônios, que percorriam o mundo em forma humana, fugiram para debaixo da terra. Também se dizia que Zoroastro já nasceu rindo, além de ter falado com Ahura Mazda (o grande deus) e seus anjos, e de ter repudiado Ahriman (o demônio) que o tentou. Zoroastro foi o modelo para todos os sacerdotes e guerreiros, sendo também insuperável na medicina e em todas as artes. As principais fontes destas lendas são os textos Pahlavi, do séc. IX a.C. e as Seleções de Zatspram.

No Ocidente, também foi grande a reputação de Zoroastro, de quem se diz ter sido mestre de Pitágoras. Inúmeros foram os livros, escritos em grego, atribuídos a Zoroastro. Estes livros versavam sobre ciências naturais, astrologia e magia. Tanto os Judeus quanto os Cristãos identificaram Zoroastro com alguns de seus próprios profetas, incluindo Ezequiel e Baruch. 

Durante toda a Idade Média ele foi conhecido na Europa apenas como mago. Foi somente no final do séc. XVIII que emergiu uma nova imagem de Zoroastro, devido à ação de estudiosos europeus, liderados por A.H. Anquetil-Duperron. No séc. XIX Nietzshe, visceral inimigo da Igreja Católica, em sua obra “Also sprach Zarathustra” (Assim falou Zaratustra), para atingir seus objetivos literários e filosóficos, mudou a doutrina de Zoroastro, mostrando-o não como um dos primeiros grandes moralistas, como efetivamente foi, mas como o primeiro dos imorais.

A RELIGIÃO À ÉPOCA DE ZOROASTRO

A religião Indo-Iraniana da época de Zoroastro era politeísta e bastante influenciada pelos Vedas da Índia. Mitra e Varuna eram alguns dos deuses adorados pela população, que era dividida em três classes: os governantes e sacerdotes, os guerreiros e o povo. E cada uma destas classes tinha os seus próprios deuses. A classe alta praticava rituais que incluíam o sacrifício de bois e a ingestão de uma bebida sagrada, feita com uma erva chamada soma e que provocava sensações de imortalidade e visões do Nirvana (esta bebida é bastante citada por Bertrand Russel na obra Admirável Mundo Novo).

Zoroastro rejeitou o culto de todos estes deuses, exceto um, Ahura Mazda que, em língua Parsi significa “Sábio Senhor”. Este deus já era cultuado na 3.época de Dario I (522-486 a.C.) A origem do demônio é explicada da seguinte maneira no sistema de Zoroastro: no inicio da Criação havia dois espíritos gêmeos, filhos de Ahura Mazda, que escolheram entre o bem e o mal. Um, Ormuzd, escolheu o bem; ele é associado à verdade, à justiça e à vida. O outro, Ahriman, a Mentira, escolheu o mal e é associado à destruição, à injustiça e à morte.

De acordo com Zoroastro o fim do mundo estaria próximo e somente os crentes renasceriam para uma nova vida imortal. Até que isto acontecesse as almas dos mortos atravessariam a “Ponte do Recompensador” de onde as almas boas seriam encaminhadas ao paraíso, e as más seriam enviadas ao inferno para se purificar pelo fogo, de modo a prepará-las para a Renovação Final do Mundo. Em relação aos rituais, Zoroastro condenava tanto os sacrifícios de sangue, (animais eram imolados, principalmente o boi) quanto o sacrifício da ingestão do soma. Ele manteve o sacrifício do fogo, que considerava o símbolo da Verdade e da Ordem. Após a morte de Zoroastro a sua religião expandiu-se vagarosamente para o sul, em direção ao que é agora o Afeganistão, e para o oeste, na direção dos Medas e dos Persas.

OS PRINCÍPIOS ÉTICOS E MORAIS DE ZOROASTRO

Zoroastro ao nascer, ao invés de chorar sorriu, de acordo com a lenda. Essa história traduz muito bem a sua visão positiva e alegre do mundo e de seu destino. O antigo sistema de pensamento de Zoroastro, com todos os seus desdobramentos filosóficos, políticos e religiosos, continua atual em seus desafios e em sua surpreendente abertura para a renovação. A busca de Zoroastro começou como a de muitos dos profetas de então e de agora. Chocado com as contradições da sociedade de sua época e decepcionado com as respostas dadas pelo meio pensante, ele decide fazer a sua própria descoberta. Contudo, a sua busca é diferente das dos outros, por não ter como desencadeante o problema da morte, mas o do estado de convivência social injusto de seu tempo. 

É interessante notar, desde logo, que ele começou fazendo perguntas e terminou descobrindo algo que o ajudou a fazer mais perguntas ainda, sem necessariamente acompanhá-las com respectivas respostas. Zoroastro descobriu o que queria, não como uma revelação e nem como coisa privativa sua. Ele encontra o óbvio, o que está escrito nas páginas da vida e que pode ser lido por qualquer um. Ele é uma pessoa comum que, no esforço de seu intelecto e na sensibilidade de seu espírito, consegue ver que este é um mundo bom, criado por um Deus bom e destinado a um estado de alegria radiante. 

Constatando isso, ele desenvolve uma proposta que tem tanto uma elaboração filosófica como conseqüências práticas para a vida. A grande questão, colocada para ser resolvida por todos os sistemas filosóficos e religiosos, o bem e o mal, para Zoroastro se resolve dentro da mente humana. O bom pensamento ou boa mente cria e organiza o mundo e a sociedade, o mau pensamento ou má mente faz o contrário. Cabe ao ser humano fazer uma escolha e ele tem o poder e a capacidade de fazê-la. 

O Cosmo inteiro está a seu favor quando escolhe a boa mente, enquanto que a má mente isola e, portanto, angustia quem por ela opta. Essa escolha é feita no dia-a-dia da pessoa, em cada ação. Ninguém pode fazer uma opção definitiva, esse é um mecanismo dinâmico e progressivo. Essa escolha não desencadeia a salvação ou perdição de ninguém, porque ela é parte de um processo de aprendizagem contínuo, aberto e reformável de acordo com o contexto. Com o progresso de cada indivíduo também progride o mundo, e assim é acelerado o aperfeiçoamento do universo. O quadro só será completado quando todos tiverem chegado lá, quanto todos estiverem no mesmo nível de progresso.

É como numa orquestra; o concerto só é possível após cada instrumento estar afinado. Aliás, essa é a organização interna de todas as coisas em suas especificidades. A perfeita condição de cada parte garante o perfeito funcionamento do todo. Essa descoberta de Zoroastro levou a conclusões inusitadas e revolucionárias. Acenou com uma nova organização social e uma nova religião. A religião baseada no medo do mistério e no apaziguamento de suas forças através da magia e da expiação não fazia mais sentido. Ele descobrira a religião da alegria participativa. Admirada pelo do fato de ser parceira de Deus em seu projeto para a humanidade, através de um processo de livre escolha e de colaboração, a pessoa responde com o cultivo da Boa Mente, de Boas Palavras e de Boas Ações. Essa é a ética da responsabilidade.

Esse esforço, que inicialmente é individual e continuará a sê-lo, recebe, contudo o poder transformador de Deus, que traz em si todas as virtudes: justiça, retidão, cooperação, verdade, bondade etc. O poder transformador de Deus age no mundo em todos os setores e especialmente nas pessoas que lhe abrem a mente. Ele incentiva e capacita o ser humano à escolha e à prática do bem. 

As pessoas que vão descobrindo a capacidade que têm de fazer essa opção vão se unindo na descoberta natural de que são parte de um todo magnífico, que se forma em parceria com Deus. Nesse sistema não há lugar de destaque a fé ou para a crença. Não é necessário crer; é preciso saber e agir de acordo com o que se sabe. Temos aqui, então, a religião do conhecimento. É a razão que se sobrepõe à fé e à emoção.

A visão de mundo de Zoroastro não coloca o ser humano como o centro, o motivo de ser do planeta. Ao contrário, uma das tarefas dadas pelo pensamento de Zoroastro é que o ser humano ache o seu lugar no mundo de forma harmoniosa, de modo a não desequilibrar o seu meio. Reverenciar e proteger a terra, a água, o ar e o fogo, além dos outros seres viventes, é uma preocupação constante que aparece no pensamento de Zoroastro. Não há diferença de raças ou de gênero em Zoroastro. O Deus descoberto por Zoroastro não é tribal e não tem um povo escolhido dentre os outros povos. Tanto o homem como a mulher pode tomar a liderança, mesmo nos ritos religiosos. 

Talvez o que há de melhor em Zoroastro seja a abertura, quase desafio para se seguir adiante perguntando, descobrindo, mudando, e tudo isso, num movimento dinâmico de progresso. Nada está fechado numa ortodoxia oficial. Em seus cânticos ele faz 93 perguntas e as deixa sem respostas. Está ausente ali a arrogância de dono de uma verdade estática e acabada. E isso não traz insegurança e sofrimento, antes, a certeza de que o que importa está além e acima das idéias. A doutrina de Zoroastro ensina a emancipação e a autonomia do indivíduo. Só a partir disso se torna possível a descoberta do próximo como pessoa e, conseqüentemente, a criação da comunidade. Não há lugar nessa visão para qualquer anulação do ego. Ao contrário, o ego é reafirmado e colocado como base do encontro com o próximo. Se sadio e bem amado, o ego forte é poderoso na capacidade de doação e desprendimento.

A sociedade é para ser organizada dentro desses princípios de livre escolha, da boa mente e da busca do bem de todos os seres. Os líderes têm que ser escolhidos por serem justos e equilibrados. Zoroastro, apesar das dificuldades que enfrenta em seu tempo e que, também desencadeiam a sua busca, não vê o mundo como arruinado, do qual urge fugir e se possível salvar alguns. Antes, o mundo é uma obra em fase de construção, ao qual somos convidados a unir criativamente as nossas vidas. Essa visão de mundo provoca uma ética diferente da que dominou o mundo ocidental, que recorre à punição/recompensa como veículo principal de estímulo ou contenção. 

A prática profunda desse pensamento na sociedade não teria criado um sistema judiciário com prisões. O ser humano não está contaminado pelo pecado, antes, pelo contrário, capacitado para escolher a boa mente e para construir um mundo diferente e melhor. Uma leitura de Zoroastro com essa abundância de negações não lhe faz justiça. O contexto judaico cristão onde estamos inseridos, porém, nos obriga a usar esses termos, pelo menos num primeiro momento.

Resgatado e atualizado, esse velho pensamento pode fornecer material para a ética que precisamos nesse nosso tempo. Ele é aberto, estimula o conhecimento e a pesquisa, é ecológico, inclusivo e pode ser também fonte de uma profunda e rica espiritualidade.

O PERÍODO SASSÂNIDA

Com o início de uma nova dinastia nacional Persa, os Sassânidas, em 224 d.C., a religião de Zoroastro foi oficializada no país. A sua hierarquia detinha considerável poder político, e as outras religiões (Cristianismo, Maniqueísmo e Budismo) foram perseguidas. O Avesta foi compilado, editado e traduzido com comentários explicativos, em Pahlavi, dialeto de uma região do centro da Pérsia. A esta tradução comentada chama-se Zend. Daí o nome Zend-Avesta, dado ao livro sagrado dos seguidores de Zoroastro. 

As últimas obras do período Pahlavi informam que a religião de Zoroastro incorporou contribuições Gregas e Indus. As idéias gregas podem ser identificadas nos mitos cosmológicos; o mundo foi criado inicialmente no estado espiritual, uma espécie de Matéria Prima no sentido aristotélico; e a origem do mundo material é atribuída à condensação gradual do elemento sutil – a Luz – através de sucessivos estágios, começando pela Água, depois pela Terra e finalmente por todas as formas de matéria densa. Durante o período Sassânida prevaleceu no reino persa a doutrina de Mazda, ou mazdeismo.

PERÍODO PÓS-CONQUISTA MUÇULMANA

Sob o domínio árabe, a maior parte da população foi forçada a abraçar o Islam, mas a religião de Zoroastro foi tolerada até certo ponto, conseguindo sobreviver por mais trezentos anos. Entre os séc. IX e X da era cristã, a perseguição muçulmana levou os remanescentes do Zoroastrianismo a emigrar do Irã para a Índia, para a região de Bombaim, no Hindustão. Os descendentes destes Zoroastrianos foram os primeiros, na Índia, a receber a influência Européia, tornando-se os melhores colaboradores dos ingleses, que sucederam os portugueses no domínio do continente indiano.

No séc. XIX os remanescentes da religião de Zoroastro na Índia, chamados Parsis, retomaram o contato com os alguns remanescentes da mesma religião no Irã, os Gabars, formando atualmente as duas únicas comunidades praticantes do Zoroastrianismo.

A LITERATURA ZOROASTRIANA

Esta literatura divide-se em duas partes: o AVESTA, trabalho original escrito na antiga língua Iraniana chamada Avistak, e os textos escritos muito mais tarde, em língua Pahlavi ou Persa, dialeto da região central da Pérsia. A palavra Zend significa “interpretação” e é empregada para indicar a tradução e os comentários explicativos da maior parte do Avesta, existentes em língua Persa. Daí o nome Zend-Avesta - o Livro Sagrado da religião de Zoroastro.

A COSMOLOGIA

A Cosmologia de Zoroastro concebe a história do mundo como um grande drama dividido em quatro períodos de 3.000 anos cada um. Num passado de duração infinita existiu Ormuzd, que era a Luz, e Ahriman, que habitava a escuridão e as profundezas. Ao final dos primeiros 3.000 anos Ahriman atravessou o vácuo que os separava e atacou Ormuzd que, percebendo que a luta só teria fim se fosse realizada com regras finitas, fez um pacto com Ahriman, limitando a duração de sua luta. Ele então recitou a Ahuna Vairya, a oração mais sagrada dos seguidores de Zoroastro. Ahriman, apanhado de surpresa, caiu no abismo onde permaneceu por mais 3.000 anos, Durante este período Ormuzd fez a Criação dos seres, os espirituais em primeiro lugar, e em seguida a criação material correspondente – céu, água, terra, plantas. Em seguida, ofereceu às almas pré-existentes a escolha entre permanecer para sempre como energia pura, como espíritos, ou encarnar no mundo físico de modo a assegurar o seu triunfo sobre Ahriman; eles escolheram nascer e combater. Nesse meio tempo, Ahriman gerou seis demônios e uma criação material oposta à dos seres criados por Ormuzd.

No final do segundo período de 3.000 anos Ahriman, instigado pela Mulher Primordial, a Prostituta, atacou o céu e corrompeu a criação de Ormuzd. No terceiro período, Ahriman triunfa no mundo material, mas é incapaz de escapar dele. Enganado por Ormuzd, ele é sentenciado à sua própria destruição. O início do último período testemunha a chegada da religião na Terra e o nascimento de Zoroastro. O final de cada período de 3.000 anos é marcado pela vinda de um salvador, sucessor e filho póstumo de Zoroastro. O terceiro e último salvador, Saoshyans, realizará o julgamento final, dispensará a bebida da imortalidade – o soma - e será o porteiro do Novo Mundo, ou Paraíso. Serão então passados os quatro períodos de 3.000 anos. 

De acordo com esta Cosmologia, tudo isto acontecerá ao final do último período, 3.000 anos após o nascimento de Zoroastro, isto é, daqui a 368 anos. 

Os sistemas religiosos predominantes atualmente são o resultado de um sincretismo, de uma mistura de religiões antigas, em sua maioria já extintas. Saibamos extrair de cada uma delas o que de melhor têm ou tiveram. 
O resumo nos mostrará que a Lei de Talião sempre destrói e que só o Amor constrói.


Referencias:

Os Grandes Livros Misteriosos - Guy Bechtel
Zoroaster - Ordem do Graal na Terra
A Doutrina Secreta – H.P.Blavatsky – Volume IV
Grande Dicionário de Maçonaria e Simbologia – Nicola Aslan
O Livro de Ouro da Mitologia - Thomas Bulfinch

Jacques Bergier - Melquisedeque

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