sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Collegium Ad Lux Et Nox



O Collegium ad LVX et NOX surgiu após onze anos de intensos trabalhos da Loja Nova Isis, passando por diversas transformações até que fosse percebido que o modelo de trabalho em uma Ordem Iniciática não servia mais ao propósito da verdadeira iniciação e que seus ensinamentos podiam continuar a serem transmitidos, porém de outra maneira. O modelo Escola foi escolhido como sendo mais adequado para dar continuidade ao trabalho que fora iniciado. A LNI foi Silenciada para que o novo desse lugar.

Um novo formato

No formato de escola passou a chamar-se Collegium ad Lux et Nox, uma moderna escola de ocultismo, cujo objetivo é a propagação daqueles ensinamentos, outrora transmitidos na Loja Nova Isis, e a capacitação de indivíduos da prática de magia.

Para alcançar esse intento, os ensinamentos são transmitidos através de cursos práticos de magia, chamados LVX e NOX que descrevem os processos essenciais da Tradição de Mistérios do Ocidente.

Neste formato os cursos são ministrados por Instrutores preparados, regularmente aprovados em um Exame de Instrutores ministrado pelo Collegium.

De forma geral, as atividades do CALEN combinam instruções práticas no trabalho individual e de grupo.

Atualmente o Collegium ad LVX et NOX vem se expandindo pelo Brasil através de grupos formados, chamados Capítulos, sendo um em Juiz de Fora, um em São Paulo e outro em Curitiba, além do Collegium ad Lux et Nox no Rio de Janeiro, que é a sede.

Capítulos

Os Capítulos são grupos informais que podem ser formados por três pessoas que desejam se aplicar no currículo de LVX. Estes formalizaram pedido ao Collegium ad Lux et Nox no Rio de Janeiro. Além de um mínimo de três pessoas, um Instrutor regular deverá "apadrinhar" o grupo para que certas chaves sejam transmitidas e para assegurar que os trabalhos do Capítulo sejam devidamente realizados.

O intuito do CALEN é assegurar a melhor transmissão desta ciência e arte, de forma que esteja comprometida na criação de uma mudança em total sintonia com a Verdadeira Vontade de cada um e com a evolução da vida em sua totalidade.

Os capítulos possuem fases de maturidade até que alcancem sua total funcionalidade:

Fase 0. Grupo de Estudos informal reune-se em três (no mínimo) e se aplicam no curriculum de LVX sendo orientados por um Tutor designado pelo CALEN ou livremente formado pelo próprio instrutor.
Fase 1. Grupo de Estudos formal - passa a receber novos estudantes, lhes ajudando nos primeiros passos - ainda auxiliados pelo Tutor. Pelo menos 1 (um) integrante tem que se submeter ao Programa de Formação de Instrutor.
Fase 2. Grupo de Estudos prepara-se para se tornar um Capítulo. Como uma tarefa e voto de confiança, o grupo é autorizado a realizar cerimônias de abertura e encerramento dos trabalhos. Deve receber novos membros, formar mais 2 (dois) instrutores. Continua sob a supervisão do Tutor.
Fase 3. O novo Capítulo é formalizado e autorizado pelo CALEN a receber novos estudantes numa importante cerimônia de recepção.
Desta fase em diante o trabalho do Capítulo ganha outras dimensões, sendo que seu conhecimento somente é franqueado aos associados.

Cidades

Rio de Janeiro
Juiz de Fora
São Paulo
Chapecó
Curitiba
Manaus
Ribeirão Preto*
Goiania*
Lençóis Paulista*

Internacional

Portugal - Lisboa*

Biografia Trithemius (Especial)



Johannes Von Heidelberg (Jean Trithemius) nasceu em 02/02/1462, na aldeia de Tritthenheim, faleceu em 27/12/1516, em Wurzburg, Alemanha. Embora órfão de pai e bastante pobre, estudou e, com 12 anos, teve uma visão durante a qual lhe foi revelado que os seus desejos mais secretos seriam realizados.

Estudou em Trèves e depois em Heidelberg, fundando entre os 18 e 19 anos, uma associação denominada Sociedade Literária Renana, de caráter humanista. A base deste grupo era formada por três amigos: Jean de Dalberg, pessoa considerada no mundo universitário e político da época, que passou a usar o nome de Jean Camerarius, Rodolphe Huesmann, conhecido por Agricola e Jean de Heidelberg, que a partir dessa época passou a intitular-se Trithemius, a mais simples explicação da derivação deste nome seria o nome da sua aldeia natal, Tritthenheim.

A Sociedade Literária Renana se preocupava muito com a filosofia Pitagórica e a mística dos números, talvez possa-se atribuir a Trithemius um sentido mais cabalístico ligado ao número três: três amigos, dos quais ele era o terceiro, que procuravam fazer a síntese das três culturas: cristã, grega e hebraica.

Posteriormente, a Sociedade Renana passou a designar-se por: Confraria Céltica, e que parece reforçar o seu aspecto esotérico. Nessa altura contava entre seus membros, grandes professores, como: Jacques Wimpfeling, um dos grandes eruditos da Renascença, tendo dedicado praticamente toda a sua vida ao estudo dos textos gregos, tinha como pseudônimo o nome "Olearius", outro foi Conrad Meissel, um hermetista de grande valor, tinha o pseudônimo de "Celtes Protucius (o primeiro dos Celtas) e sobretudo, Paul Ricci, um judeu convertido que difundiu entre seus amigos os ensinamentos da Cabala.

Porém, no início de 1482, Trithemius opta, graças ao "acaso", por outra via que o levará ao segundo período de sua existência e o transformará no célebre padre do mosteiro de Spanheim.

O jovem, sente um desejo repentino de visitar a mãe e o irmão em Tritthenheim, Jean de Dalberg encoraja-o a empreender a viagem, mas prediz-lhe que ele encontrará durante ela a chave de uma nova vida.

Em 25 de janeiro de 1482, Trithemius pára, para descansar no caminho, no mosteiro beneditino de Saint Martin, em Spanheim, recupera as forças e parte de novo, mas o inverno, e a neve caindo abundantemente, obrigaram-no a voltar ao mosteiro; não imaginava que ficaria lá durante 23 anos.

No dia 2 de fevereiro de 1482, ao completar 20 anos, inspirado pela graça divina, Trithemius conhece a iluminação, a sua fé imensa conseguiu convencer os que o rodeavam.

A 21 de março era noviço, a 21 de novembro, professa, no ano seguinte, a 21 de julho de 1483, o monge Trithemius é eleito abade do mosteiro, sendo confirmado pelo bispo; supõe-se que seu êxito e também a aprovação do bispo não são devidas somente às qualidades do jovem profeta mas também pelo possível apoio de Jean de Dalberg, assim aos 21 anos encontra-se à frente de uma casa de Deus, tendo então descoberto o seu caminho.

No mosteiro, Trithemius não só revelou-se como um grande crente, mas também como um condutor de homens, logo que assume o posto de chefia, empreende uma limpeza da qual a casa necessitava, mandou consertar os prédios avariados, reconstrói, traça planos; o mosteiro recebe um sopro de vida, graças a ele.

Realiza também uma obra no campo espiritual, luta contra a inércia, contra a atonia mental provocada pela ausência de diretivas. A ordem dos Beneditinos fora reformada em 1425 por Jean de Minden, abade de Burafele, mas em Spanheim continuava à moda antiga. Daí em diante, pela direção enérgica e esforçada, Trithemius é reconhecido e encorajado pelos seus superiores, obtém doações que lhe permitem novos empreendimentos, que ajudam a resolver problemas pendentes, pagou dívidas, recuperou bens que estavam perdidos ou empenhados; enfim pôs os assuntos temporais em ordem.

Ao mesmo tempo, com o objetivo de conseguir fontes de receita e mais ainda, para tirar os monges da ociosidade e orientar seus pensamentos para a pesquisa e reflexão, decidiu aumentar a biblioteca do mosteiro que era bastante pobre: 48 manuscritos e alguns livros impressos, estes últimos não tinham interesse.

Por julgar que as produções em papel simples não poderiam durar "mais de duzentos anos", ele obrigou os monges a recopiarem admiráveis manuscritos para pergaminho, utilizando tintas policromas, foram feitas obras-primas; a biblioteca passa a conter 2000 manuscritos, desloca-se pessoas de todos os países germânicos para a consultar, Spanheim torna-se numa cidade do livro.

O próprio Trithemius se dedica à escrita: Dois Livros de Sermões e Exortações em 1486, um Elogio dos Irmãos da Ordem dos Carmos em 1492, uma obra sobre os Escritores Eclesiásticos em 1494, outras ainda sobre teologia, sobre Santa Ana, sobre os milagres da Virgem e outras que serão logo citadas.

Trithemius investigou manuscritos herméticos, adquiriu experiência em magia, cabala, alquimia, estudou o significado oculto das palavras; muitos dos seus trabalhos são em linguagem simbólica, entendida unicamente pelos iniciados, foi o primeiro autor importante sobre criptografia.

Spanheim ficou famosa, o abade tinha contato direto ou por escrito com numerosos sábios ou teólogos da época; foi mestre de Agrippa, amigo de Paracelso, posteriormente outros inspiraram-se em suas obras.

Em 1498, Arnould Bostius, frade da Ordem do Carmo, queria saber dos seus projetos, e em que estudos se ocupava e curiosamente Trithemius resolveu responder por escrito, em carta extremamente pormenorizada, em 1499, e que por acidente iria tornar-se pública, quando chegou ao seu superior, o prior do mosteiro de Grand, que não acreditou no que lia.

Esta carta, Trithemius a transcreveu na sua Poligrafia, ele mesmo conta o que se passa em seguida: outros monges leram a carta, alguns recopiaram-na, ao fim de pouco tempo ela era tornada pública não só na Alemanha como na França e Itália. Algumas pessoas pensaram tratar-se de mentiras, outros de fantasia destinada a obter um êxito fácil, alguns consideraram a carta, obra do diabo.

Trithemius sentiu-se profundamente atingido, o caso assumia proporções inquietantes que colocavam em risco a sua carreira. Até os monges de Spanheim começavam a murmurar contra ele, apesar de tudo a eleição de Trithemius para abade aos 21 anos não devia ter agradado a toda gente, haveria quem se sentisse frustrado nas suas ambições e agora havia oportunidade para vingança.

A carta de Trithemius explicava em que consistia a obra em que trabalhava, cujo título era: "Stenografia", se tratava de uma invenção importante. Dizia ela: "Tenho em mãos e possuo uma grande obra, admirável, a qual, uma vez terminada, conhecida e publicada (o que espero venha a suceder), será considerada por todos, mais do que admirável e uma autêntica maravilha. Intitulei-a: "Stenografia"... e dividi-a em 4 livros, o mais pequeno deles terá mais de 100 capítulos".

"Posso garantir-vos que esta obra, onde falo de grande número de segredos e mistérios pouco conhecidos, a todos parecerá, mesmo aos ignorantes, conter coisas sobre-humanas, espantosas e incríveis, uma vez que ninguém escreveu ou falou sobre elas antes de mim".

"O primeiro livro mostra mais de 100 maneiras de escrever secretamente e sem provocar qualquer suspeita aquilo que se desejar, em qualquer língua, sem que se consiga adivinhar o conteúdo, e isto sem o recurso a metáteses ou a transposições de letras e também sem qualquer receio ou dúvida de que o segredo possa ser conhecido por alguém estranho aquele a quem cabalisticamente eu tenha ensinado esta ciência ou a alguém a quem o meu binário o tenha, também cabalisticamente, transmitido; uma vez que todas as palavras e termos empregados são simples e familiares, mesmo assim, ninguém, por mais experimentado que seja, poderá descobrir por si só o sagrado, o que a todos parecerá uma coisa admirável e que os ignorantes considerarão uma impossibilidade".

"No segundo livro tratarei de coisas ainda mais maravilhosas relacionadas com certos meios, graças aos quais consigo, de uma forma segura, impor a minha vontade a quem captar o sentido da minha ciência, e isto sem que me possam acusar de ter usado quais quer sinais, figuras ou caracteres, e se me servir de um mensageiro escolhido ao acaso, não há súplica ou ameaça, promessa ou violência, que possa obrigá-lo a revelar o meu segredo, pois ele o desconhecê-le-á, eis porque ninguém por mais hábil que seja, conseguirá descobrir esse segredo. E realizo facilmente todas essas coisas, quando me aprouver, sem a ajuda de ninguém, nem de mensageiros, mesmo com um prisioneiro encarcerado num lugar remoto, vigiado por guardas atentos. Sou capaz de provar o que afirmo, não me sirvo de espíritos nem de magia, apenas de um processo simples e natural".

"O terceiro livro permite a todos os homens ignorantes que apenas conhecem a sua língua materna, entender em duas horas a língua latina e escrever de forma elegante, de tal maneira que os que o lerem compreenderão o seu discurso e só poderão dirigir-lhe louvores".

"No quarto livro posso provar que a minha ciência é compreensível a todos os que eu ensinar e servir-me dela em qualquer momento do dia, por muito longe de mim que esteja o meu cabalístico (aquele que no seu segredo, recebe a mensagem)".

"Falo ainda de um grande número de segredos que não posso revelar agora. Ora eu não duvido que muitas pessoas que leram mas não compreenderam o que escrevi, consideram estas coisas admiráveis mas impossíveis, tal como sucedeu com certos sábios diante dos quais fiz algumas experiências fáceis e que não se deixaram convencer por elas".

"Para resumir, afirmo em consciência e perante Deus, que tudo sabe e vê, que as coisas admiráveis que menciono e descrevo são incomparavelmente mais importantes e profundas do que posso dizer e do que vós sois capazes de compreender".

"Todas estas coisas são naturais, isentas de artimanhas, de idéias supersticiosas, de artes mágicas, isto é, de invocação de espíritos, afirmo-o nesta carta a fim de que se a mostrares ou a deres a ler aos vossos amigos, nenhum deles pense que eu sou mago, como sucedeu com Alberto o Grande, que, apesar de grande filósofo e profundo investigador dos segredos da Natureza, foi no entanto considerado mago porque os seus conhecimentos, adquiridos graças a um trabalho assíduo, a grandes estudos e aplicação, ultrapassavam a inteligência dos seus contemporâneos".

Trithemius, em sua carta, tem consciência de que as suas descobertas serão atribuídas à magia.

Outra infelicidade espreitava Trithemius, ao que parece, ele nunca renunciou de provar a sua boa-fé, nessa época, em 1504, um visitante francês: Charles de Bouelles, um viajante erudito, como havia muitos no século XVI, parou no mosteiro para ver Trithemius, com quem a muito se correspondia.

Trithemius escreve: "Charles de Bouelles veio pedir-me o favor de o receber como hóspede antes de seu regresso à França, na ocasião, mostrei-lhe minha obra sobre a "Stenografia", que ainda não estava terminada, e ele admirou-a, louvou-a até, embora não tivesse compreendido o seu significado, pois não possuía nem a inteligência nem a chave e não era merecedor de ouvir nem de receber o nosso ensinamento" l.: Poligrafia: Epístola a Maximiliano.

Trithemius não se enganara no juízo que fizera, tinha talvez um pressentimento que infelizmente concretizou-se, Charles de Bouelles não compreendeu sua obra, pouco depois escreveu a Germain de Ganay, bispo de Cahors e depois de Orléans, nos seguintes termos: "Folheei a obra de Trithemius, considero-o não só um mágico como também um ignorante completo em matéria de filosofia. Li bastante por alto a sua "Stenografia", limitando-me ao começo de alguns capítulos, mas só a custo consegui estar duas horas com o livro entre as mãos, pondo-o de lado por causa das inúmeras conjurações bárbaras que contém e dos nomes desusados que ele chama aos espíritos, não sei se deva dizer diabos, e que começaram a fazer-me medo.

Na seqüência da sua carta, ele afirma claramente que Trithemius tinha um acordo feito e contraído com os maus espíritos.

Depois do prior de And, esta segunda peritagem, baseada em apenas fragmentos, de Charles de Bouelles, que classificava a obra de estranha e inexplicável, com misturas de diabolismo, desta vez, Trithemius estava perdido, a partir daí, até o fim de sua vida protesta e jura inocência sem que obtenha crédito, a "Stenografia" nunca será publicada na íntegra. Escrevia Trithemius: "Afirmo peremptoriamente, que digo a verdade e que nunca tive ligações com os demônios e outras entidades malfazejas, uma vez que nunca pratiquei as artes mágicas, nem a dos necromantes, antes pelo contrário, aquilo que escrevi ou que me propus escrever era puro, são, natural e sem contradição com a fé do Cristo, que a "Stenografia" espere a sua hora mergulhada nas trevas, embora nada tenha a ver com as alegações mentirosas de De Bouelles, que costuma fazer juízos acerca de coisas que não conhece e sujar o nome de homens justos e bons.

Além de tudo, a revolta dos monges no mosteiro assumira aspectos dramáticos, e em 1505 Trithemius demitiu-se de suas funções, mas graças às altas proteções de que gozava, foi eleito no ano seguinte, a 3 de outubro de 1506, prior do mosteiro de Saint-Jacques de Wurzburg. O lugar era invejável, mas Trithemius perdera sua bela biblioteca e a casa onde trabalhava durante tantos anos com amor e dedicação. Isso causou-lhe um profundo desgosto em seus últimos anos, podemos dizer que esse terceiro período da sua vida foi quase que inteiramente dedicado a apagar o efeito produzido pela sua famosa carta à Bostius.

Nos seus inúmeros protestos há um tom de sinceridade que impressiona, nem em intenções esse homem seria capaz de trair a sua fé pelo prazer de escrever um livro, que ele fosse adversário das ciências secretas, como afirmava, é menos certo; datam da época em que Trithemius sentiu necessidade de proclamar a sua perfeita ortodoxia. Ele levou as suas pesquisas para além da simples e clássica teologia.

Em uma carta de 15 de maio de 1503, escreveu "Nada fiz de muito extraordinário e, no entanto, espalhou-se o boato de que eu sou mágico. Li a maior parte dos livros dos magos, não para os imitar, mas com o objetivo de, um dia, refutar as suas superstições maldosas".

Ele era contra os astrólogos e alquimistas da época, porque ele acreditava numa astrologia cabalística a qual considerava legítima, tanto que escreveu o "Tratado das Sete Causas Segundas", que era a construção de um sistema da história do mundo por ciclos.

Este tratado foi traduzido em francês, 1897 com o nome: "Traité das Causas Secondes". Também chegou a profetizar, anunciando acontecimentos que ocorreriam na época que ele designa por "décimo nono período", pouco depois de sua morte, originando o estabelecimento de uma nova religião(o protestantismo de Lutero).

Ele pretendia substituir a magia negra, a goécia, por uma magia natural, com base na verdadeira Cabala, numa alquimia espiritual, numa ciência simultaneamente secreta e cristã, tudo orientado para o conhecimento do Absoluto. Ele deixou um texto alquímico intitulado: "A Pedra Filosofal", em uma carta de 25 de novembro de 1506, faz um elogio à alta magia, a magia divina. Conhecia vários aspectos da Cabala, não daquela que foi posteriormente adulterada e desviada do seu objetivo, mas da ciência autêntica dos rabinos empenhados em descobrir os segredos de Deus e da Criação.

Algumas de suas obras:

"Antipalus Maleficorum", 1508, obra contra a magia negra, publicada como: o Adversário dos Malefícios, em ingoltadt, em 1555.
"Tratados Históricos e Teológicos" - Poligrafia, entre 1505 a 1508 e publicada dois anos após sua morte, em 1518.
"Liber Olto Questionum" -1508
"Steganografia nen con Claviculae Salomonis", publicado em Lyon, em 1551 e Frankfurt em 1606.
"Curiosidades Reais", em 1511, eram respostas às perguntas do Imperador sobre assuntos religiosos.
Vários anos depois de sua morte surge uma obra intitulada "Stenografia", Frankfurt, 1608, que provavelmente não é original.

O manuscrito original, diz-se que foi queimado pelo conde palatino Frederico II, filho de eleitor Philippe, que o encontrou na biblioteca do pai e julgou prudente destruí-lo, receando pela salvação da sua alma...

Inúmeras cópias da "Stenografia" circularam após a morte de Trithemius, todas diferentes entre si, a maldição continuava a persegui-la, a versão impressa em três livros, em 1606, e que nada contém de diabólico, foi posta no Index pela Congregação do Santo Ofício, essa condenação absolutamente incompreensível manteve-se até à edição de 1930.

Nunca saberemos em que consistia esse meio de enviar uma mensagem "a mais de cem léguas de distância" e "para o lugar mais profundo que se possa imaginar", Trithemius não nos deixou indicações suficientes para a interpretação de sua obra, ele utilizou, como em outros textos, um pouco de astrologia, um pouco de alquimia, um pouco de Cabala, enfim, ciências orientadas para o Bem e que ele considerava incluírem-se perfeitamente na doutrina Cristã. Também não há dúvidas de que Trithemius estudou a criptografia para servir-se dela, para enviar ele próprio uma mensagem.

Seus trabalhos mágicos tratavam de ocultar os mistérios, a sua obra: "Verterum sophorum sigiela et imagines magiose", é uma história da magia toda em pantáculos, quanto a sua doutrina, ele a exprimiu por um pantáculo, segundo o uso dos verdadeiros Adeptos, este pantáculo, raro acha-se apenas em alguns exemplares manuscritos do tratado das Causas Segundas.

Segundo Eliphas Levi, Trithemius foi o maior mago dogmático, da Idade Média, na sua "Stenografia" e em sua "Poligrafia", ele dá a chave de todas as escrituras ocultas e explica em termos velados, a ciência real dos encantamentos e das evocações; em magia foi o mestre dos mestres e também o mais sábio dos Adeptos.

Trithemius passou os últimos dez anos de sua vida em Wurzburg, até a sua pedra tumular, cuja inscrição se deve ao vigário-geral George Flachius, foi realizada cinqüenta anos após sua morte, ela diz o seguinte: "O abade Trithemius, glória da terra germânica, que aqui jaz, mereceu este monumento. Os admiráveis escritos saídos da sua pena mostram como foi admirado pelas suas obras e pela sua virtude, como também o prova a consideração que sempre lhe testemunhou o imperador Maximiliano. Em vez de mágico, é autor de uma obra contra a magia ( uma obra pouco conhecida: "O adversário dos Malefícios", publicada em 1555, muito tempo depois de sua morte). A sua fama não morre e ele vive na bem-aventurança espiritual do reino dos Céus".

Biografia Timothy Leary

Timothy Francis Leary (22 de outubro de 1920 - 31 de maio de 1996), escritor americano, psicólogo e militante das drogass. Ficou famoso como um proponente dos benefícios terapêuticos e espirituais do LSD além de ser um designer de software e principal advogado da realidade virtual como uma forma de exploração dos potenciais humanos.

Oito Circuitos Mentais

Leary foi um dos mais controversos estudiosos e cientistas existentes até hoje. Desenvolveu a sua teoria dos oito circuitos mentais :
O circuito da sobrevivência — Nele o homem aprende a se aproximar do alimento e da segurança e evitar o perigo. Todos os animais vertebrados desenvolvem essa reação.
O circuito emocional — Nesse circuito o homem aprende a agir como animal político, com exigências territoriais. Todos os mamíferos desenvolvem esse circuito.
O circuito simbólico — Aqui o homem se confronta com símbolos para expressar o que quer e a habilidade de manufatura de ferramentas. Apenas os seres humanos desenvolveram esse circuito.
O circuito social — Aqui o homem entra no âmbito de sua cultura e da transmissão desta, além de um código moral específico e inclusive etiqueta e normas tácitas de convívio. Apenas o homem civilizado desenvolveu completamente esse circuito.
O circuito hedônico — O homem encontra o prazer na vida. Apenas poucos indivíduos no passado chegaram a esse circuito, e eram mantidos as custas do trabalho braçal de muitos outros. Os artistas hoje em dia dominam esse circuito.
O circuito psíquico — Aqui o homem consegue alterar sua programação básica e fugir dos padrões impostos a ele pela visão mamífera ou social. Poucas pessoas dominaram esse circuito, e poderiam ser chamados de Xamãs, no sentido específico.
O circuito mítico — Nesse ponto o homem passa a controlar seu papel na evolução como um todo. As pessoas que chegaram nesse circuito são chamadas de “Santos”.
O circuito espiritual — Aqui existe uma consciência quântica da realidade. Apenas algumas pessoas dizem ter tido experiências de oitavo circuito.

Sua morte

Nos meses que antecederam sua morte (por conseqüência de um câncer na próstata), escreveu um livro chamado Design for Dying ("Projeto para morrer"), uma tentativa de mostrar às pessoas uma nova perpectiva da morte e do morrer.

Suas últimas palavras foram "Why not?" ("Porque não?").

Leary foi cremado e em outubro de 1996, suas cinzas foram transportadas pela espaçonave Pegasus e liberadas no espaço com auxílio de um satélite, junto com as de Gene Roddenberry, criador de Jornada nas Estrelas, e de outros cientistas e pioneiros em estudos aero-espaciais, tais como o físico da High Frontier Space Station, Gerard O’Neill, e Todd Hauley, professor da International Space University.

A Teoria dos Oito Circuitos da Consciência

O Psicólogo americano Timothy Leary apareceu com essa teoria no início do seu envolvimento com LSD, logo após a experiência de psilocibina com os detentos da prisão de Concórdia (1961-1962). A primeira referência aos 8-circuitos aparece no livro High priest. A teoria desenvolvida por Leary aparece no livro Exo-psychology, que foi republicado há alguns anos com material adicional sob o título de info-psychology.

O Modelo de Oito Circuitos da Consciência descreve oito níveis de funcionamento da consciência humana. Alguns livros classificam os circuitos como ‘mecanismos`, ‘graduações` e até como ‘mini-cérebros’. Os quatro circuitos inferiores e mais primitivos na escala de evolução estão localizados no lobo esquerdo ativo e lidam com a psicologia normal tendo relação com a sobrevivência terrestre, enquanto os quatro circuitos superiores lidam com o ‘psíquico’, ‘místico’ e ‘transcendental` e estão ligados com a origem supostamente extra-terrestre do nosso DNA.

O forte dessa teoria é que ela integra muito bem esses dois aspectos não muito explorados pela psicologia, a parte mundana de nossas vidas, e o lado mais transcendental ou religioso do homem. Os primeiros 4-circuitos ‘normais’ são muito influenciados pela psicologia moderna, principalmente a Adleriana. A idéia é que conforme você se desenvolve, da infância à vida adulta, estes variados circuitos são ativados e começam a funcionar, e você toma uma impressão das condições que fizeram parte na época do desenvolvimento. O exemplo mais óbvio disso é quando o circuito sexual/social é acionado na adolescência e a impressão é tomada. Como o adolescente que teve sua primeira experiência sexual no quarto enquanto os pais estavam na sala vendo jornal nacional, imaginando quando a mãe ou o pai iriam entrar no quarto. Com certeza essa trama ambiental iria influenciar bastante na impressão do circuito.

Para a exo-psicologia, todas as realidades são padrões neurológicos de impulsos recebidos, armazenados e transmitidos pelas estruturas neurais. Então consciência é definida pela energia recebida na estrutura. Inteligência é definida como energia transmitida pela estrutura. Para o ser humano as estruturas são circuitos neurais e suas conexões anatômicas. Para chegar a essas definições, Leary se utilizou de uma abordagem ontológica e de estudos das neurociências, que determinaram a natureza da estrutura do sistema nervoso, as ligações fibrosas dos orgãos dos sentidos e suas conexões com o cérebro.

A verdadeira proposta da exo-psicologia, então é sugerir que existem tantas realidades quanto existem estruturas neurológicas para a recepção de sinais. Segue abaixo as 8 realidades que são desdobradas quando os 8-circuitos são ativados, como descritos por Leary (retirado do site http://www.deoxy.org/) :

A primeira realidade, Bio-Celular, é o mundo impresso-condicionado da criança perpetuado nas técnicas de sobrevivência viscerotônicas do adulto.

A Segunda realidade, Muscular-Locomotora, é o mundo impresso-condicionado de crianças irrequietas, briguentas e birrentas perpetuado nas técnicas político-emocionais do adulto.

A terceira realidade, mediada pelo cortex esquerdo, é o mundo impresso-condicionado de crianças aprendendo a manipular símbolos laríngeo-manuais e perpetuarem a tecnologia-linguística do adulto.

A Quarta realidade é o mundo impresso-condicionado da responsabilidade doméstica, socio-sexual.

A Quinta realidade, Consciência corporal é a recepção pelo corpo de sinais diretos, naturais e não censurados pelas impressões de sobrevivência e seletivamente conscientes da exigência gravitacional.

A Sexta realidade é a impressão do sistema nervoso de, pelo e sobre ele mesmo. A Consciência Einsteniana não está mais congelada pelos circuitos larvais ou pelo corpo. A realidade cerebral é a relativista, mudando niagras de milhões de sinais bio-elétricos brilhando ao redor de uma rede de 30 bilhões de células. O enunciado “A consciência não está mais congelada” não é metafórica; ela se refere as mudanças elétrico-bioquímicas num nível sinaptico que libera o fluxo de sinais dos padrões de rotina. O termo “mundo estático, impresso-condicionado” refere-se a programas de ligação neural enganchados em ilhas de realidade.

A sétima realidade é a recepção, pelo sistema nervoso, de sinais de RNA de moléculas do DNA dentro da célula. Menssagens genéticas levando a telepatia simbiótica entre espécies.Uma vez que a realidade é energia registrada pela estrutura neural, podemos “ver” apenas o que estamos prontos para receber instrumentalmente e conceitualmente. No sétimo circuito os sinais de DNA-RNA são monitoreados.

A oitava realidade é meta-psicológica, meta-biológica e envolve “conteligência” projetada da cabine de projeção quântica. Veja as publicações do Grupo de pesquisas em consciência da física por Sarfatti, Sirag, Herbert et al.

Posteriormente Robert Anton Wilson[5] revisou certos aspectos do modelo de 8-circuitos, juntamente com Timothy leary, trazendo novas idéias e conceitos que ampliaram a visão do psicólogo.

O atual modelo cerebral em 8-circuitos de Wilson-Leary

Bio-sobrevivência
Emocional-Territorial
Laringeo-Manual
Sócio-Sexual
Neurosomático
Neuro-Elétrico
Neurogenético
Neuro-Atomico

Biografia Theodor Reuss (Especial)



Theodor Reuss (1855 - 1923), de origem anglo-germânica, foi um ocultista tântrico, socialista utópico, jornalista, cantor e promotor da Emancipação Feminina. Mais conhecido por ter sido sucessor de Carl Kellner como cabeça da O.T.O..

Primeiros anos

Filho de um estalajadeiro, Reuss nasceu em Augsburg em 28 de Junho de 1855 e.v. Ele foi cantor profissional em sua juventude e teve o privilégio de trabalhar para Richard Wagner, que o levou a conhecer, também, o Rei Ludwig II da Bavária, patrono de Wagner, em 1873. Ele participou da primeira montagem de Parsifal (ópera de Wagner) no Bayreuth Festspiele de 1882. Mais tarde ele se tornou correspondente de um jornal, e, como tal, passou a viajar frequentemente para a Inglaterra, onde ele se tornou um maçom em 1876. Ele também passou um tempo lá como jornalista e como cantor de music-hall com nome artístico de "Charles Theodore".

Reuss a Maçonaria

Em 1880, em Munique, ele participou de uma tentativa de reavivar a Ordem Illuminati Bavariana de Adam Weishaupt. Em 1885, na Inglaterra, ele entrou para a Liga Social Britânica, na qual alguns dizem que ele entrou para espionar a filha de Karl Marx para o Servi'vo Secreto Alemão. Enquanto esteve na Inglaterra, ele se tornou amigo de William Wynn Westcott, o Magus Supremo da Societas Rosicruciana en Anglia (S.R.I.A.) e um dos fundadores da Ordem Hermética da Aurora Dourada. Wescott concedeu a Reuss uma patente, datada de 26 de Julho de 1901, para o Rito de Swedenborg e uma carta de autorização, datada de 24 de Feveriro de 1902, para fundar um Conselho Superior da S.R.I.A. na Alemanha. Gérard Encausse (Papus, 1865-1916) lhe concedeu-lhe uma patente, datada de 24 de Junho de 1901, o designando Inspetor Especial para a Ordem Martinista na Alemanha. Em 1888, em Berlim, ele, juntamente com Leopold Engel de Dresden, Max Rahn e August Weinholz, participou de outra tentativa de reavivar a Ordem Illuminati. Em 1895 ele começou a discutir a formação da Ordo Templi Orientis com Carl Kellner.

As discussões entre Reuss e Kellner não levaram a nenhum resultado positivo à época, alegadamente por que Kellner não aprovava as conexões de Reuss com Engel. De acordo com Reuss, dada sua separação definitiva com Engel, em Junho de 1902, Kellner o contatou e os dois concordaram em proceder com o estabelecimento da Ordem dos Templários Orientais, buscando autorizações para atuar nos vários ritos dos altos-graus da Maçonaria. Wescott ajudou Reuss a entrar em contato com o estudioso maçônico inglês John Yarker (1833-1913). Junto com seus associados Franz Hartmann e Henry Klein, ele ativou os Ritos Maçônicos de Memphis e Mizraim e um ramo do Rito Escocês na Alemanhã com patentes de Yarker. Reuss recebeu cartas-patente de Grande Inspetor Soberano 33° do Rito Escocês de Cernau de Yarker, datada de 24 de Setembro de 1902. Na mesma data, Yarker aparentemente emitiu uma permissão para Reuss, Hartmann e Klein operarem um Soberano Santuário 33°-95° dos Ritos Escocês, de Memphis e Mizraim.

O documento original não existe mais, porém uma cópia dessa autorização foi publicada em 1911 no periódico maçônico de Reuss, "The Oriflamme", cuja publicação se iniciou em 1902. Yarker emitiu uma patente confirmando a autoridade de Reuss para operar os ditos ritos em 1 de Julho de 1904; e Reuss publicou uma cópia dessa patente adicional datada de 24 de Junho de 1905. Reuss e Kellner prepararam juntos um breve manifesto para a Ordem em 1903, que foi publicado no ano seguinte no "The Oriflamme".

Reuss e a O.T.O.

Quando Carl Kellner morreu em 1905, a liderança da Academia Maçônica da O.T.O. caiu sobre os ombros de Reuss, e ele incorporou todas suas outrass organizações sob a mesma bandeira, desenvolvendo os três graus da Academia Maçônica, disponível apenas para maçons, em um sistema de iniciação coerente e auto-suficiente, aberto tanto para homens quanto para mulheres. Em 21 de Junho de 1906, em Londres (onde estava morando desde Janeiro deste ano) ele promulgou uma constituição para sua nova e ampliada O.T.O. e no mês seguinte se proclamou Cabeça Externo da Ordem (O.H.O.). Naquele mesmo ano ele publicou Lingham-Yoni, que era uma tradução para a língua alemã do trabalho Phallism (de Hargrave Jennings), e a emitiu uma patente para Rudolph Steiner (1861-1925, que nesta época era o Secretário Geral do ramo alemão da Sociedade Teosófica, tornando-o Grande Mestre Delegado de um capítulo subordinado à O.T.O/Memphis/Mizraim e do Grande Conselho, chamado "Mystica Aeterna", em Berlim. Steiner deu fundação à Sociedade Antroposófica em 1912 e encerrou sua associação com Reuss em 1914.

Em 24 de Junho de 1908, Reuss compareceu à "Conferência Maçônica e Espiritualista Internacional" organizada por Encausse em Paris. Nesta conferência, Encausse recebeu uma patente de Reuss para estabelecer um "Supremo Grande Conselho Geral dos Ritos Unidos da Antiga e Primitiva Maçonaria para o Grande Oriente da França e suas Dependências em Paris", e possivelmente recebeu autoridade da Église Catholique Gnostique de Papus. Ele também indicou o Dr. Arnold Krumm-Heller (Huiracocha, 1879-1949) como seu representante oficial na América Latina.

Reuss, Crowley e Thelema

Enquanto morou em Londres, Reuss se tornou íntimo de Aleister Crowley. Em 1910, concedeu a Crowley o VII° da O.T.O. (baseado no fato de Crowley já possuir, àquela época, o 33° do Rito Escocês), e em 1912, lhe conferiu o IX° e o nomeou Grande Mestre Nacional Geral X° da O.T.O. para o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda através de uma patente datada de 1 de Junho de 1912. A indicação de Crowley incluía autoridade sobre um rito em língua inglesa dos baixos graus (maçônicos) da O.T.O. que foram chamados de Mysteria Mystica Maxima, ou M.'.M.'.M.'. Em 1913, Crowley publicou uma Constituição para o M.'.M.'.M.'. e o Manifesto do M.'.M.'.M.'., que ele subsquentemente revisou e publicou como Liber LII, o Manifesto da O.T.O. Em 1913, Crowley escreveu o Liber XV, a Missa Gnóstica para a Igreja Católica Gnóstica de Reuss. Crowley também dedicou sua peça de mistério "The Ship" (1913) e uma coletânea de poesia, "The Giant's Thumb" (1915) a Reuss.

Em 1914, no início da Primeira Guerra Mundial, Reuss deixou a Inglaterra e retornou para a Alemanha. Ele trabalhou por um curto período para a Cuz Vermelha em Berlim, então, em 1916, se mudou para Basileia, na Suíça. Durante sua estadia lá, ele estabeleceu uma "Grande Loja e Templo Místico Anacional" da O.T.O. e da Irmandade Hermética da Luz no Monte Verità, uma comuna utópica perto de Ascona fundada em 1900 por Henri Oedenkoven e Ida Hofmann. Em 22 de Janeiro de 1917, Reuss publicou um manifesto para sua Grande Loja Anacional, que foi chamado de "Verità Mystica". Na mesma data, ele publicou uma Constituição revisada da O.T.O. (baseada em grande parte na Constiuição de 1913 de Crowley para a M.'.M.'.M.'.), com uma "Sinopse dos Graus" e tendo um resumo da Mensagem do Mestre Therion como apêndice. Reuss organizou um "Congresso Anacional para Organização e Reconstrução da Sociedade em Linhas Coopertivas Práticas" em Monte Verità de 15 a 25 de Agosto de 1917. Este Congresso incluiu leituras de poesias de Crowley (dia 22) e uma narração da Missa Gnóstica de Crowley (dia 24). Em 24 de Outubro de 1917 Reuss patenteou uma Loja da O.T.O., "Libertas et Fraternitas", em Zurique. Esta loja posteriormente se colocou sob a jurisdição maçônica da Grande Loja Suíça Alpina.

Em 1918, Reuss publicou sua tradução para o alemão da Missa Gnóstica de Crowley. Em uma nota no final da sua tradução do Liber XV, ele se referiu a si próprio como, simultaneamente, Patriarca e Primaz Soberando da Igreja Gnóstica Católica e Legado Gnóstico para a Suíça da Église Gnostique Universelle, reconhecendo Jean Bricaud (1881-1934) como Patriarca Soberano desta Igreja. A publicação deste documento pode ser vista como o nascimento da E.G.C. Thelêmica como uma organização independente, sob tutela da O.T.O., tendo Reuss como seu primeiro Patriarca.

Reuss estava claramente impressionado com Thelema. A Missa Gnóstica de Crowley, que ele traduziu para o alemão e recitou durante seu Congresso Anacional em Monte Verità, é um ritual explicitamente thelêmico. Em uma carta não datada a Crowley (recebida em 1917), Reuss relatou animadamente que havia lido A Mensagem do Mestre Therion para um grupo em Monte Verità, e que ele estava traduzindo o Livro da Lei para o alemão. Ele adicionou, "Que esta notícia lhe encorage! Nós vivemos em sua Obra!!!"

Reuss deixou Monte Verità em algum momento antes de Novembro de 1918. Em 10 de Maio de 1919, Reuss emitiu um documento chamado "Gauge of Amity" para Matthew McBlain Thomson, fundador da mal-fadada "Federação Maçônica Americana". Em 18 de Setembro de 1919 Reuss foi reconsagrado por Bricaud, recebendo a "Sucessão de Antióquia" e re-indicado como "Legado Gnóstico" para a Suíça para a Église Gnostique Universelle de Bricaud. Em 1920, Oedenkoven e Hofmann abandonaram Monte Verità e estabeleceram uma segunda colônia no Brasil, e Reuss publicou um documento entitulado "Programa de Construção e Princípios-Guia para os Gnósticos Neo-Cristãos: O.T.O. "

Em 17 de Julho de 1920, ele compareceu ao Congresso da Federação Mundial da Maçonaria Universal em Zurique, que durou muitos dias. Reuss, com o apoio de Bricaud encorajou a adoção da religião da Missa Gnóstica de Crowley como a "religião oficial para todos os membros da Federação Mundial da Maçonaria Universal em posse do 18° do Rito Escocês". Os esforços de Reuss nesse aspecto foram falhos, e ele deixou o Congresso após o primeiro dia. Em 10 de Maio de 1921, Reuss emitiu patentes para Charles Stansfeld Jones e Heinrich Tränker para servirem como Grão-Mestres para os Estados Unidos e Alemanha, respectivamente. Em 30 de Julho de 1921, Reuss emitiu outro "Gauge of Amity", desta vez para Harvey Spencer Lewis, fundador da AMORC, a organização rosacruciana com base em San Jose, Califórnia. Reuss retornou para a Alemanha em Setembro de 1921, se estabelecendo em Munique.

A sucessão

Há razões para se acreditar que Reuss sofreu um ataque na primavera de 1920, mas isto não é inteiramente certo. Crowley escreveu para W. T. Smith em março de 1943: :"o antigo O.H.O., após este primeiro ataque de paralisia, entrou em pânico pelo trabalho a ser realizado... Ele rapidamente emitiu diplomas honorários do Sétimo Grau a várias pessoas, algumas das quais não tinham direito a nada e alguns deles eram apenas recursos baratos."

Pouco após apontar Frank Bennett como seu Vice-Rei para a Austrália, Crowley parece ter se correspondido e discutido com ele suas dúvidas acerca da habilidade de Reuss em, efetivamente, continuar a governar a Ordem. Parece que Reuss descobriu esta correspondência; ele escreveu para Crowley uma furiosa resposta defensiva em 9 de novembro de 1921, na qual ele parecia distanciar-se e à O.T.O. de Thelema, a qual ele havia, como visto acima, abraçado. Crowley respondeu à carta de Reuss em 23 de novembro de 1921 e afirmou em sua carta: "É de minha vontade ser o O.H.O. e Frater Superior da Ordem e espero a sua renúncia — para proclamar-me como tal." ele assinou a carta como "Baphomet O.H.O.". No registro de seu diário de 27 de novembro de 1921 Crowley escreveu: "Eu proclamei a mim mesmo como Frater Superior O.H.O. da Ordem dos Templários Orientais." Reuss morreu em 28 de outubro de 1923 e.v..

Em suas "Confissões" Crowley diz que Reuss "abdicou do título [de O.H.O.] em 1922 em meu favor." Em uma carta a Heinrich Tränker, datada de 14 de fevereiro de 1925, Crowley escreveu o seguinte: :"Reuss era de temperamento incerto, e de muitas formas intratável. Em seus últimos anos ele parece ter perdido completamente seu juízo, chegando a acusar o Livro da Lei de ter tendências comunistas, idéia que não poderia ser mais absurda. Ainda assim parece ter tomado algumas decisões acertadas, como ter apontado a você e a Frater Achad, e designado a mim, em sua última carta, como seu sucessor."

Em uma carta a Charles Stansfeld Jones, datada Sol in Capricornius, Anno XX (12/1924 — 01/1925), Crowley disse "na última carta do O.H.O. para mim ele convidou-me a ser seu sucessor como O.H.O. e Frater Superior." A carta de Reuss designando Crowley como seu sucessor como O.H.O. jamais foi encontrada, mas nenhum documento crível surgiu indicando que Reuss havia designado qualquer sucessor alternativo.

Entre os escritos de Reuss, encontram-se: The Matrimonial Question from an Anarchistic Point of View (1887); Die Mysterien der Illuminaten (1894); Geschichte des Illuminaten-Ordens (1896); Was muss man von der Freimauerei wissen? (1901); Was ist Okkultismus und wie erlangt man occulte Kräfte? (1903); Was muss man von Richard Wagner und seinen Ton-dramen wissen? (1903); Lingam-Yoni; oder die Mysterien des Geschlechts-Kultus (1906); Allgemeine Satzungen des Ordens der Orientalischem Templer O.T.O. (1906; Parsifal und das Enthüllte Grals-Geheimnis (1914); Constitution of the Ancient Order of Oriental Templars, O.T.O., Ordo Templi Orientis, with an Introduction and a Synopsis of the Degrees of the O.T.O. (1917); Die Gnostische Messe (1920); Das Aufbau-Programm und die Leitsätze der Gnostischen Neo-Christen (1920); e numerosos artigos publicados no seu periódico "The Oriflamme" (1902-1914).

Biografia Stanislas de Guaita (Especial)



Marie Victor Stanislas de Guaita nasceu num sábado, 6 de abril de 1861 às 5 horas da manhã, em Alteville, perto de Nancy, na Lorraine Francesa. Seu signo ascendente posicionou-se aos 27º 30´ de Peixes e seu signo solar colocou-se em Áries. Era filho de François Paul de Guaita e de Marie Amélie de Guaita, católica fervorosa. Seu pai provinha de uma antiga família de origem germânica, vinda da Itália no reino de Carlos Magno. Seus antepassados foram homens de guerra, religiosos e poetas. Em 1715, o tataravô de Stanislas de Guaita estabeleceu-se em Frankfurt, casando-se com uma jovem alemã. Durante o império Napoleônico, o avô de Guaita alistou-se no exército Francês e adquiriu a nacionalidade francesa. O pai do ocultista fixou-se em Alteville, onde nasceu o Mestre. A família de sua mãe era de descendência francesa.

O brasão dos Guaita possuía um escudo dividido horizontalmente. Na parte superior, uma águia imperial, bicéfala, destacava-se em negro, tendo sobre sua cabeça uma coroa. A parte inferior do escudo era em prata com três esquadros de lápis lazúli, com bordas de triângulos alternadas, em prata e negro.

Os autores que escreveram sobre Stanislas de Guaita não chegaram a nos fornecer muitos dados sobre a sua vida iniciática. Aprofundaram-se apenas na doutrina que ele próprio expôs em seus livros; os dados sobre sua vida particular, que poderiam interessar a todos aqueles que o admiram através de sua obra, referem-se apenas a aspectos exteriores. Apenas sua correspondência com Joséphin Péladan deixa entrever a natureza oculta e séria de seus trabalhos iniciáticos.

Na verdade, pouco antes do nascimento de Stanislas de Guaita, estava na moda o espiritualismo esotérico. Segundo o Mestre Papus, por volta de 1850, os Rosa+Cruzes tinham recebido a missão de encetar uma reação contra o materialismo oficial. Tinham se organizado centros Martinistas e parecia que o espírito cristão voltava a renascer. Este foi o clima no qual Guaita veio ao mundo das formas.
Entretanto, é impossível apresentar o interior de um Iniciado de sua envergadura e revelá-lo ao público, sem efetuar uma grande profanação. O homem interior só se deixa revelar à própria Divindade. Aqueles que vivem no exterior recebem apenas os reflexos de sua grande luz. Da mesa do Senhor as migalhas caem no chão e são digeridas por todos aqueles que aspiram a poder, algum dia, partilhar do celeste ágape.

Possam todos os iniciados que se baseiam na vida e obra dos divinos Mestres da Humanidade, um dia participar de tão glorioso banquete.

No colégio dos Jesuítas em Nancy, Stanislas de Guaita teve como companheiro Maurice Barrès, poeta que chegou a ingressar na Academia Francesa. Na primavera de 1880, Guaita e Barrès, jovens aprendizes de filósofos, viveram em Nancy com plena independência. Assim diria Barrès, referindo-se àquela época: "Esse tempo continua sendo o mais agradável de minha vida... O dia todo, e eu poderia dizer, a noite toda, da mesma forma, líamos poemas em voz alta um para o outro. Guaita, que possuía uma saúde magnifica e não abusava dela, deixava-me somente tarde da noite, mas ao amanhecer ia contemplar a elevação das brumas sobre as colinas que rodeavam Nancy".

A poesia foi pois, a primeira manifestação literária de Stanislas de Guaita. Escreveu "Les Oiseaux de Passage" em 1881, com 20 anos de idade, "La Muse Noire" em 1883 e "Rosa Mystica" em 1885. Em 1882 desembarcou na capital, juntamente com seu inseparável companheiro Maurice Barrès. Nessa época já se havia iniciado nos estudos ocultistas e efetuado um bom relacionamento com os esoteristas parisienses. Barrès procurou logo o mundo das artes, enquanto Stanislas de Guaita fez apenas um pequeno giro de reconhecimento da cidade e se concentrou em seus livros. Guaita renunciou sem vacilar à poesia. Tinha encontrado em outra parte o seu caminho. O objetivo de seu deslocamento para Paris era a Faculdade de Direito. Procurava algo mais elevado, embora não tivesse ainda total certeza do que se tratava. Sua vocação foi decididamente encontrada através da leitura de livros de Eliphas Levi e da obra "O Vício Supremo", de Joséphin Péladan, pois encontrou no Sâr um mestre vivo. O primeiro contato entre ambos deu-se através de uma correspondência endereçada por Stanislas de Guaita a Joséphin Péladan em 1884, quando o remetente possuía 23 anos e Péladan 25. Esta carta foi o prenúncio de uma amizade que mesmo vindo a ser posteriormente abalada, perdurou praticamente até a morte de Stanislas de Guaita. Datada de 3 de novembro, nela Guaita expressava-se ele mesmo, a Péladan "por falta de amigos comuns", na esperança que o autor lhe esclarecesse alguns pontos que o intrigavam. Mais tarde, descobriria que Péladan era um assíduo leitor de Eliphas Levi, possuindo praticamente todas as suas obras. Stanislas de Guaita confessou que considerava a Cabala uma Ciência magnífica, possuidora de "dogmas grandiosos e mitos incomparáveis". Nessa época já assinava com um aleph, o que demonstra a linhagem cabalística do jovem ocultista.

Depois de ter conhecido Péladan, Guaita relacionou-se sucessivamente com Barlet, Papus e Julien Lejay. Já eram seus amigos o Abade Roca (Alta) e Saint-Yves d´Alveydre. Intensificou, a partir desse momento, suas pesquisas ocultistas e a busca de livros raros nos sebos das margens do rio Sena. Montou uma invejável biblioteca cabalística, cuidadosamente encadernada e catalogada.
Péladan tinha uma brilhante erudição, mas de pouca profundidade. Os dois ocultistas, em suas correspondências assinavam Mérodack, Péladan, e Nébo, Stanislas de Guaita.
Mérodack, nome caldaico que expressa os atributos de Júpiter; Nébo, igualmente de origem caldéia que se refere aos de Mercúrio.

Em sua obra "Os Filhos das Estrelas", Joséphin Péladan diria:

"Espírito de Mérodack! Ó Júpiter! Espírito de Força e de Misericórdia, Senhor mui generoso, magnânimo imperador de Deus, senhor do templo e do palácio, chefe dos magos e dos reis, astro do cetro e da mitra, fazê-nos render a todos a honra que nos foi dada."

"Espírito de Nébo! O! Mercúrio! Espírito de sutilidade e de magia, que ensina as partes, possuidor dos secretos, senhor dos talismãs, árbitro do destino, desenvolve em nós o espírito profético e sagrado; permite-nos descobrir o mistério celeste, astro de inteligência, de sucesso, de milagres."

Por sua vez, Stanislas de Guaita, demonstrando o respeito que possuía por Péladan, numa de suas cartas diria:

"Eu sei, eu sinto que vós sois uma Inteligência superior à minha... Vós sois um gênio de espontaneidade e de síntese; eu sou um talento de paciência e de análise... Em vossos contatos amistosos, vós tendes o verdadeiro tato: aquele da Inteligência do Coração."
Posteriormente, por ocasião do afastamento de seu amigo a quem chegou a chamar de "grande fanático", sua admiração por Péladan arrefeceria. Em verdade, os conhecimentos de Péladan fundamentavam-se naquilo que lhe ensinara seu irmão e mestre o Dr. Adrien Péladan que Guaita não chegou a conhecer, bem como, no companheirismo do sábio cabalista Albert Jounet, diretor da revista "A Estrela", poeta esotérico que escreveu "As Ísis Negras" e "O Livro do Juízo" e que também foi amigo de Guaita.

Escrevendo a Maurice Barrès, Stanislas de Guaita diria:

"Leia os livros de Eliphas Levi e você verá que não há nada mais belo do que a Cabala. E eu, que sou relativamente versado em Química, não me admiro ao ver até que ponto os alquimistas eram sábios verdadeiros; com certeza a pedra filosofal não é nenhum embuste. A ciência mais contemporânea e mais esclarecida tende a confirmar hoje as geniais hipóteses dos magos de 6 mil anos atrás."
Stanislas de Guaita sempre foi um reconciliador, e a impressão que se tem é de que ele sempre estava procurando formar um grupo de Homens de Desejo, em torno de si e talvez de Saint-Yves d´Alveydre. Isto poderá explicar sua paciência na busca da reconciliação de uns e outros possíveis candidatos ao adeptado.

Stanislas de Guaita encontrou em Papus e Barlet as duas colunas de seu edifício intelectual. O trio tinha em Eliphas Levi, Fabre d´Olivet, Khunrath, Martinez de Pasqually, Saint Martin e Jacob Boheme os guias invisíveis que iluminavam a senda por onde deveriam passar não somente esses homens de vontade, mas todo aquele rebanho por eles apascentado. Seguindo as pistas de Jacob Böehme, de Eckhartaussen, de Pico della Mirandola, de Marcelo Ficin e de Knorr de Rosenroth é que Guaita chegou a Saint Yves d´Alveydre.

Stanislas, Papus e Barlet, apoiavam-se nas obras dos mestres e na Cabala Judaica, fundamento da Alta Magia. "Agora que fiz a síntese absoluta de minhas idéias sobre Cabala", disse Guaita, "estou em condições de lhe dizer: meu caro amigo (Péladan), estou CERTO. Herméticamente falando, estou absolutamente certo de estar na tradição ortodoxa... estou convencido de que te falo com conhecimento de causa. Ah! se pudesse em algumas linhas comunicar-te a claridade que me inunda... Parece-me que a luz se faz em meu espírito, e que os Arcanos se esclarecem. "

Percebe-se, que assim como Papus, Guaita representava a Senda Ativa da Iniciação, aquela que conduz o Adepto a tomar "o céu por assalto". Por isso, quando o mestre Gérard Encause fundou em Lyon a Escola de Magnetismo, tendo Philippe Nizier como seu Diretor, nomeou como professores a Guaita, Sedir, Barlet, Péladan, Chamuel, Marc Haven, Maurice Barrès e a Victor Emile Michelet. A finalidade oculta dessa escola era a de recrutar membros para as Sociedades Iniciáticas dirigidas por Papus e Guaita. Nessa escola, ensinavam Hebraico, Cabala, Tarot, Astrologia, História Oculta, Magia e Medicina Oculta. Papus, numa de suas obras, falando de Guaita, afirma que ele, foi um sábio cabalista contemporâneo, demonstrando seu respeito pela figura de Stanislas.

Stanislas de Guaita passava cinco meses do ano no seu apartamento térreo da Avenida Trudaine, em Paris, na zona norte da cidade, onde recebia seus amigos ocultistas e onde mantinha uma segunda biblioteca. Seu salão, todo decorado de vermelho, obrigava a sérias meditações. As conversas com os amigos, assim como leituras cabalísticas, eram estimulantes para o espírito. Maurice Barrès, seu amigo de infância, dizia que ele era capaz de ficar semanas inteiras sem sair do apartamento. Muitas vezes cortava esse isolamento voluntário pela "caça" aos livros e raramente regressava sem trazer um exemplar raro. Os sete meses restantes do ano eram passados no campo, em seu castelo de Alteville, com sua mãe, certamente cuidando de sua produção material. No entanto, jamais se descuidava de seus estudos ocultos e procurava visitar os doentes nos vilarejos vizinhos, exercendo uma medicina caseira herdada de seu pai. Tinha um quarto da casa transformado "Laboratório Alquímico", para uma atividade que dizia exercer desde sua tenra juventude. Esse recinto era guardado, segundo acreditavam alguns criados e alguns amigos que freqüentavam sua intimidade, por um fantasma.
Tinha ele, nesse local, outra biblioteca e era, certamente, o local de reunião alternativo dos Rosa+Cruz, da qual foi o seu verdadeiro renovador. Seu Laboratório químico proporcionava a transformação dos elementos por inúmeras combinações; da mesma forma, ocorria em seu ser uma transformação espiritual, testemunhada por seus escritos e pelas conversas sempre estimulantes, que acalentavam os corações de todos os seus irmãos. Os trabalhos realizados em Alteville, com seus companheiros mais íntimos, efetuavam-se com muita harmonia, apesar da oposição de sua mãe, católica praticamente. Segundo contaria posteriormente seu secretário, Oswald Wirth, desde muito jovem têm-se notícia de que Stanislas de Guaita ousava escrever livros que pareciam heréticos à sua mãe viúva, embora ela não pudesse compreender que eram de um escritor esotérico e cristão. Ela não entendia a independência religiosa do filho e temia pela sua condenação eterna. "Confesso a divindade do Cristo-Espírito", escrevia-lhe o filho, "e professo o cristianismo universal ou catolicismo...(1890)... Creio em Deus e na Providência e não há um dia em que eu não eleve várias vezes minha alma em direção da Absoluta Bondade ou meu espírito em direção da Verdade Absoluta."

Esta incompreensão familiar, estendeu-se pela sua cidade natal, e o próprio clero e a igreja passaram a condenar seus escritos, sendo perseguido e banido da comunidade eclesiástica. Posteriormente, um padre seu amigo, conseguiu, após árdua luta, reconciliar Stanislas de Guaita com o poder monacal.
Apesar de ter nascido com imensa bagagem espiritual, jamais deixou de consultar a opinião dos antigos ocultistas, através de seus livros. Pois a verdade não se inventa: ela existe há séculos e cabe a nós encontrá-la na literatura, na Natureza e em nosso próprio interior. A opinião daqueles que dedicaram uma vida inteira à busca do conhecimento não pode ser negligenciada. Daí a grande importância das leituras. Guaita sabia disso e dialogava diariamente com Eliphas Levi, Fabre d´Olivet, Trithemo, Paracelso, Saint-Martin e com outros pais da espiritualidade ocidental, não apenas através de seus escritos, mas também através da Luz Astral.

O ambiente de sua biblioteca parecia exaltar os mais puros pensamentos e lá as pessoas esqueciam-se do tempo. Guaita lia raramente os jornais, mas concentravam-se nos seus grimórios, pantáculos e nos grandes clássicos do Ocultismo. Vivendo nessa atmosfera a maior parte do tempo, pairava acima das condições mundanas de sua época, podendo elevar os seus pensamentos às mais puras abstrações. Segundo Barlet: "ele via sábios pretenderem englobar no ciclo de suas descobertas todo o infinito do mundo, a ciência revoltar-se contra a fé, o espírito novo lançar-se contra a experiência dos séculos e o dogma do progresso material predominar sobre o da perfeição espiritual e moral".

Para Stanislas de Guaita, o importante era alcançar a beleza da alma, e para isso, em primeiro lugar era necessário vencer o orgulho. Era necessário transformar o instinto em sentimento e o sentimento em ideal. Era necessário renunciar aos prazeres sociais em seu aspecto coletivo, para que pudesse nascer a individualidade. "A sabedoria é o único egoísmo permitido, a glória é a única realidade aceitável quando ela é conquistada nas alturas" diria ele. "Não devemos deixar que a vida nos lastime, que entorpeça pelas circunstâncias exteriores o esforço de perfeição individual. O mago deve libertar-se do mundo, e não sofrer nele." - "Para ser mago, é necessário ser um gênio, um elo da corrente dos homens predestinados que transmitem, uns aos outros, de idade em idade, a chama da luz" diria Divoire, completando seus pensamentos.

Stanislas de Guaita, esse jovem ocultista, que possuía o mais vivo desejo de atingir o Nirvana, e que congregava uma plêiade de cabalistas do mais alto nível, a partir da última década do século XIX, como Papus, Barlet, Julien Lejay, Chaboseau, Polty, Marc Haven, Victor Emile Michelet, Sedir, Péladan, Oswald Wirth e outros, não deixou de fundar uma sociedade que congregasse os maiores talentos da época, vivificadores da Santa Cabala, e que ressuscitasse dos velhos santuários o simbolismo da Rosa+Cruz.

Seu conhecimento com Oswald Wirth teria ocorrido em 1887, a quem uma mulher doente à qual houvera magnetizado, lhe anunciara que recebia uma carta lacrada em vermelho e com armas da nobreza, endereçada por um homem jovem, de cabelos e pele clara e de olhos azuis, com idêntico interesse que o de Wirth. Efetivamente, essa carta foi escrita por Guaita na sexta-feira santa daquele ano, convidando Oswald Wirth para um almoço no dia seguinte, para travarem conhecimento pessoal.

Esse encontro entre os dois eminentes ocultistas, acabou produzindo, dois anos depois, em 1889, a união do simbolismo maçônico que Wirth estudara em 1884, com o significado interior do Tarô, professado por Guaita, na publicação das cartas desenhadas pelo primeiro, sob o título: "O Taro dos imaginários da Idade Média".

A Sociedade fundada por aqueles talentosos ocultistas da época, teria sido fundada e tornada pública pela necessidade de denunciar publicamente o abade Boullan, de cujos ensinamentos Guaita desconfiou, encarregando Wirth de investigar a verdadeira essência de sua doutrina.
Verificou-se que Boullan recorria à Missa Negra, a orgias sexuais entre os membros da seita e a outros fenômenos prejudiciais à saúde dos mais fracos. Concluiu-se que Boullan era discípulo de Eugêne Vintras, o feiticeiro desmascarado por Eliphas Levi, Vintras fundara a seita do Carmelo, cujas aberrações Guaita revelou no Templo de Satã, denunciando-as à opinião pública. Boullan foi condenado à retratação pública por um tribunal de Adeptos Rosa+Cruzes e, tendo-se agravado seu desequilíbrio psicológico, imaginou que Guaita teria sobre ele lançado algum enfeitiçamento. Guaita acabou sendo acusado de práticas mágicas contra Boullan por Jules Blois nos jornais "Le Figaro" e "Gil Blas". Esse caso explica os duelos de Jules Blois com Guaita e Papus, que felizmente não ocasionou nenhuma gravidade maior.

A Rosa+Cruz tinha na época como objetivo, além de recrutar intelectuais capazes de adaptar a tradição esotérica do século que estava entrando, explica-nos Stanislas de Guaita, combater a feitiçaria em todos os lugares onde ela pudesse ser praticada. "Nós os condenamos ao batismo da luz" enfatiza Guaita em O Templo de Satã. Ele procurava conhecer todas as artimanhas do maligno para combatê-lo com toda potência possível.

O acesso aos graus da Rosa+Cruz Cabalística era efetuado mediante exame, sendo que para o último grau era necessário a defesa de uma tese sobre um tema estabelecido pelo Supremo Conselho, o qual era formado por seis membros conhecidos e por seis ocultos. Os membros conhecidos eram Guaita, Papus, Barlet, Polti, Péladan e Agur.

François Charles Barlet, escrevia a respeito da obra de Guaita: "A harmonia dos contrários é a fórmula mais indicada para caracterizar a tua obra... Teu método é, ao mesmo tempo, analítico e intuitivo... Nem pontífice nem inovador: tu serás o fiel apóstolo das verdades que recebestes..."
Com a demissão de Péladan da Rosa+Cruz Cabalística, foi admitido o abade Roca, pseudônimo da Alfa. Ele, convocado pelo bispo de Perpignam a retratar-se de seu cristianismo esotérico não o fez, e assim, foi afastado do poder clerical, perdendo o seu título de canônico honorário.

Quando a Ordem adquiriu o número suficiente de membros, de acordo com a sua constituição, foi rigorosamente fechada. Ela dirigia outros grupos de iniciados de graus inferiores, propagando as doutrinas esotéricas no seio da coletividade, através de publicações das teses de doutoramento em Cabala.

Esse procedimento não só permitiu a formação de homens com bom conhecimento de Cabala, como propagou seus ensinamentos no meio ocultista. A Cabala propõe a síntese da doutrina dos magos, a Alta e Divina Magia herdada dos Caldeus através de Abraão, reformulada por Moisés e Esdras e divinizada pelo próprio Jesus Cristo. É a tradição primordial do Ocidente, que procura desenvolver a positividade do homem, tornando-o um ser de vontade.

Conforme André Billy, a Ordem Cabalística da Rosa+Cruz era administrada por um conselho supremo composto por três câmaras: Câmara de Direção (Baret e Papus), a Câmara de Justiça (Paul Adam, Julien Lejay e Alta), e a Câmara de Administração (Wirth e Chaboseau). As três reunidas compunham o Supremo Conselho e todas elas eram submetidas à direção do Grão Mestre, Stanislas de Guaita.

A respeito da apologia do Misticismo feita por Oswald Wirth, respondeu-lhe Guaita: "...Quando esses Iniciados - considerando-se quase como egrégoras, pastores de almas errantes, Sacerdotes e Franco-Juizes -, quando esses Iniciados chegam a praticar, passando pela terra, algum bem a seus semelhantes, isto é, a seus irmãos menores, acreditai, eles nada mais têm a desejar e possuem em verdade a paz profunda do Rosa+Cruz!".

Dentre os membros do Supremo Conselho, havia um que não aceitava a liderança de outra pessoa que não fosse ele próprio: Joséphin Péladan. Não admitia tornar-se discípulo tendo sido o primeiro mestre de Stanislas de Guaita. Além disso, suas concepções impregnadas de catolicismo romano exagerado, conflitavam com a opinião independente dos demais Rosa+Cruz. Suas concepções acerca de Jesus, Maria e de outros personagens do cristianismo não se diferenciavam das opiniões de um padre católico.

Dizia-lhe Stanislas de Guaita: "...Deus irá te conceder uma ou várias entrevistas, para que possas ver a Luz integral do Cristianismo esotérico, e isto sem renegar uma sílaba de teu credo, sem eliminar uma das arestas do Dogma Eterno. Pois estás destinado para o futuro; o céu assim o deseja... Sou, pois, Sacerdote do Oculto, como foram em todas as épocas todos os Adeptos do 3º grau e tenho todos os poderes para exercer o culto in secretis, magicamente e não sacerdotalmente".
"Seria capaz de sacrificar-me por tudo aquilo que creio verdadeiro, belo e justo" diria Guaita em outra ocasião.

Péladan não entendia o significado profundo e oculto dessas palavras e não admitia que seu ex-discípulo lhe falasse por parábolas, e assim, passou a editar bulas e excomunhões em nome da Rosa+Cruz. Advertido pelo Grão-Mestre, criou sua própria sociedade, a Ordem Rosa+Cruz Católica do Templo do Graal, separando-se do Grupo em 1890. Guaita, Jacques Papus e Charles Barlet declararam Joséphin Péladan cismático e apóstata denunciando seus atos e sua ordem ao tribunal da opinião pública.

Essa separação foi, sem dúvida nenhuma, muito desencantadora para Guaita. Viu todos os esforços, no sentido de encaminhar Péladan na Senda, caírem por terra. Entre 1882 e 1891 Guaita procuraria acalentar o espírito do amigo e fortificar a sua fé, ausente em seu íntimo.
Stanislas de Guaita buscara sempre ser um mediador e um médico de almas. Numa correspondência a Péladan, diria: "Para curar uma alma, um Dirigente prudente usará alternativamente o Rigor e a Misericórdia. Assim um bom médico poderá curar um corpo sofrido, pelos Semelhantes ou pelos Contrários... Eu reconheço que a homeopatia é a medicina esotérica; é o magnetismo curativo quem sintetiza o emprego do medicamento."

Acreditava ele que para penetrar a Sabedoria Divina existente além da ciência humana, são necessários o Amor e a Fé. Dizia que "A inteligência voluntária é, entre nós, o princípio ativo; mas a fé é passional e passiva. A Grande Obra é o casamento do ativo e do passivo; é como dizia Basile Valentin, o Fixo do Volátil e o Volátil do Fixo."

A falta de fé está intimamente associada à ausência de tolerância, que é, em última análise, um desamor em relação a todos os nossos semelhantes.

Guaita nunca deixou de prestar suas homenagens aos Mestres que lhe precederam. Dizia ele: "Tenho uma infinidade de livros de todos os séculos e li com atenção na Biblioteca Nacional quase todos os mestres; inclino-me diante de Eliphas Levi como diante do Mestre dos Mestres (como Arnaud de Vila Nova chamou a Geber). Ninguém, que eu saiba, penetrou tão profundamente no problema, e ninguém construiu uma síntese tão esplêndida, tão imensa e tão inabalável."

Em 1886, Stanislas escreveu a Péladan dizendo-lhe que estava preparando para os próximos anos a publicação de uma obra que deveria denominar "Os Três Mundos", com uma introdução longa, destinada a familiarizar o espírito do leitor com as matérias esotéricas de maior profundidade discutidas nos tomos seguintes. Essa introdução foi publicada inicialmente na Revista Contemporânea, dando origem ao seu primeiro livro: "No Umbral do Mistério".

Já nessa época, Stanislas de Guaita prenunciava sua passagem para o Oriente Eterno, e em algumas de suas cartas, sua caligrafia demonstrava os sofrimentos corporais de que era vítima, chegando a tornar-se ilegível pela dor que o atormentava.

"Preparai-vos - disse ela a Péladan convidando-o para com ele encontrar-se em Paris - eu estarei aqui por pouco tempo e tenho sede de vossa companhia". - "Eu vos escrevo no leito, sofrendo, como podeis ver por minha escrita. - "Procuro diminuir minha Morfina, mas isto me é muito difícil".
Nunca entretanto, deixou de ocupar-se do ocultismo, escrevendo continuamente sobre os temas que se tornaram o seu Verdadeiro Ideal.

Dizia ele que a chave de tudo está na Luz Astral. Nesse sentido concebeu a sua obra baseado nas lâminas do Tarô, procurando desvendar o tríplice significado de Nahash, a alma astral do mundo. "Dominar a Luz Astral em si e na Natureza é ter descoberto e formulado o incomunicável Grande Arcano. É a matéria-prima que solve e coagula para a realização da Grande Obra. A Fé, a Ciência e a Vontade, são instrumentos de emancipação do Verbo Humano e de sua reintegração no Verbo Divino, promovendo o casamento místico do homem com a Divindade."

Seus ensaios de Ciências Malditas, deveriam compreender, cinco volumes a saber:
1º Volume - "No Umbral do Mistério" - introdução geral. 2º Volume - "O Templo de Satã". 3º Volume - "A Chave da Magia Negra". 4º Volume - "O Problema do Mal". 5º Volume - "Conclusão, a Apoteose".



No Umbral do Mistério foi publicado em 1886, em formato pequeno sem os apêndices. Para o meio ocultista da época foi uma revelação. Todos os Homens de Desejo encontraram a luz que buscavam na chama viva que era Stanislas de Guaita. Ele foi o primeiro a surpreender-se com o inusitado sucesso de seu livro. Em 1890 foi publicada uma segunda edição, três vezes maior, contendo dois pantáculos de Henry Khunrath. Em setembro de 1894 houve uma terceira edição, na qual, utilizando o prólogo, Stanislas de Guaita fala do sentido verdadeiro da Alta Magia como síntese geral, duplamente fundamentada na observação positiva e na indução por analogia.
Guaita confessava-se discípulo fervoroso de Eliphas Levi e de Fabre d´Olivet e não pensava ser mais do que um simples discípulo. Não esperava nenhum apostolado, mas sua primeira obra ocultista, revelou-se por inspiração divina e pelo ardor de seus leitores.

Aceitou com naturalidade, aos vinte e cinco anos, a missão que se descortinou para ele, preparando-se ainda com mais afinco para o fiel cumprimento do alto dever que contraiu com o próprio Reparador. Dedicou toda a sua vida a procurar a verdade e a transmitir as teorias ocultistas dentro de um estilo claro, que logo se tornou clássico. Numa época em que todos se ocupavam em alimentar as paixões da alma e os instintos do corpo , obteve grande reputação em razão de seu trabalho desinteressado, que não tinha outro objetivo a não ser conduzir, elevar e iluminar a alma humana.

Raphael Germinal, em seu livro, "O Destino Religioso da Humanidade", diz que: "O nome de Jesus simboliza então, admiravelmente, a queda da divindade no espaço e no tempo, pelos ciclos geradores da Senda Universal. "Guaita, escreveu: "O número da queda, é também o número da vontade, e a vontade é o instrumento da reintegração."

"O Templo de Satã", foi publicado em 1891, abordando as sete primeiras lâminas do Tarô, focalizando a história física do ocultismo inferior e os procedimentos da baixa magia. Ele é o primeiro volume da "Serpente da Gênese".

Para esclarecer o sentido figurado, Guaita elaborou a "Chave da Magia Negra". Nahash, a luz astral, agente tanto de obras boas como más. Seu domínio fornece a chave da Magia Negra, permitindo analisar as causas e os efeitos dos ritos e dos fenômenos descritos em O Templo de Satã. A Chave da Magia Negra foi editada em 1897, ano da morte de Guaita, e O Problema do Mal não chegou a ser concluído, sendo completados, os poucos capítulos que o autor chegou a redigir, por Oswald Wirth e por Marius Lepage. Muitos anos depois, em 1949, Lepage fazia notar que Stanislas tinha 35 anos quando começou a escrever O Problema do Mal, e que Oswald Wirth se aproximava dos sessenta quando retomou o livro inacabado. Nesse intervalo, muita água correra sob a ponte do esoterismo. De qualquer forma, Wirth procurou seguir de perto as indicações das lâminas do Tarô. Ele que amara a Guaita como a um irmão, continuava sentindo a sua presença quase tangível. Legou a Lepage o manuscrito por ele concluído do Problema do Mal, com a missão de que Lepage o terminasse em forma definitiva. Lepage por modéstia, concluiu que: "Quanto mais eu estudava as folhas que me haviam sido passadas, mais eu compreendia que era a obra de uma única alma em dois corpos. "Wirth e Lepage deram conclusão a essa obra póstuma de Stanislas de Guaita, seguindo à risca os ensinamentos do mestre. O livro possui aproximadamente 100 páginas escritas ou ditadas por Guaita, 10 ou 12 completadas por Wirth e mais ou menos 60 por conclusões e comentários de Lepage (conf. A. Billy).

Se Guaita tivesse tido tempo para concluir esse livro, provavelmente a evolução de seu pensamento nos teria presenteado escritos da mais alta profundidade, em razão do amadurecimento de suas doutrinas. Com "O Problema do Mal", os leitores encontrariam as chaves que conduzem à Iluminação Divina, se a Providência não tivesse arrancado o autor do convívio de seus iniciados. Os amigos de Guaita pensavam, em 1897, que a Providência Divina não aprovara a conclusão da obra, repleta de revelações que deveriam permanecer ocultas e restritas a um pequeno número de Homens de Desejo.
De qualquer forma, essa sua obra somente foi publicada 50 anos após a sua morte.

Por volta de 1888 Papus reanimara a Ordem Martinista e Stanislas de Guaita chegou a presidir uma cerimônia de Iniciação. Essa Ordem tomou grande vigor a partir de 1887 devido à multiplicação dos iniciados livres e pela constituição do Supremo Conselho da Ordem em Paris. A Ordem Martinista conservara intactas as constituições das altas fraternidades iniciáticas que precederam à revolução maçônica de 1773. A Ordem Martinista era essencialmente espiritualista e combatia com todas as suas forças o ateísmo e o materialismo. Outorgava ao simbolismo, o grande papel que lhe estava reservado em qualquer iniciação séria. Nunca se ocupava de política nem de questões de cultos religiosos. Permitia estudar e não abandonava a mais absoluta das tolerâncias. Lá não adentrava aquele que queria, mas aquele que tendo reunido méritos para tal, para isto era convidado. O iniciador não podia ser conhecido a não ser por duas pessoas: aquela que havia sido iniciada, e o iniciador do próprio iniciador. Estabelecia-se assim uma corrente de silêncio iniciático.

Numa recepção Martinista presidia por Stanislas de Guaita, estas foram as suas palavras: "Aqui não tratamos de impor convicções dogmáticas. Que tu acredites ser materialista ou idealista, que professes o budismo ou o cristianismo, que te proclames livre pensador ou que somente aceites o cepticismo absoluto, pouco nos importa realmente. Nós não contradizemos teu coração incomodando o teu espírito com problemas que não deves resolver a não ser frente à tua própria consciência e no solene silêncio de tuas paixões aplacadas... Dá ao amor dos homens, teus irmãos, a denominação que quiseres: Amor, Solidariedade, Altruísmo, Fraternidade ou Caridade... As palavras não são nada...

Mas, sejas quem fores, não te esqueças jamais que, em todas as religiões realmente verdadeiras e profundas, isto é, fundamentadas no esoterismo, colocar tudo isto em prática, através do sentimento, é o primeiro ensinamento, capital, essencial... Nenhum dogma religioso ou filosófico pode ser imposto à tua fé. Quanto às doutrinas, cujos princípios essenciais resumidos para ti, pedimos tão somente que as medites como melhor te parecer e sem idéias preconcebidas... Abrimos para ti os selos do livro, agora deves primeiro conhecer a letra e, posteriormente penetrar no Espírito dos mistérios que este livro encerra..."

Afastado da Ordem da Rosa+Cruz, Stanislas de Guaita, prenunciando a sua passagem para o Oriente Eterno, viveu cada vez mais solitário e longe da turbulência mundana. Charles Barlet, que o visitara em 1896, pedindo-lhe colaboração para uma pequena revista, assim descreve parte de sua visita: "Seus olhos azuis... de uma calma impressionante... seus traços imóveis, enquadrados pela barba e pelos cabelos loiros, davam à sua fisionomia algo do aspecto hierático que se imagina nos sábios da Grécia e nos Profetas da Bíblia."

Encerrando em seu castelo com livros de esoterismo reunidos durante toda a sua vida, Stanislas de Guaita desinteressara-se pelas lutas políticas e sociais que, nessa época, opunham franceses contra franceses. Ao contrário de Barrés e Péladan, ignorava as coisas temporais, não tendo pensamentos a não ser para o invisível. Realizou a solidão temporal da Lâmina IX.

Ele que combatera o mal, chegara a uma conclusão definitiva sobre sua existência no mundo da forma, em oposição ao bem: "Sem dúvida, pode-se dizer que Deus não criou o Mal, mas admitiu-o como possibilidade para o caso de que, livremente, o homem quisesse cometê-lo."

A esse respeito, dissera ainda: "Eis aqui a árvore da ciência do Bem e do Mal; seu tronco bifurcado eleva-se sobre uma única raiz. Eis aqui a virgem simbólica que Apolônio encontrou às margens da Hiphasis e cujo corpo está dividido numa metade branca e numa metade negra. Eis aqui o misterioso cristal do pantáculo de Tritheme; no triângulo superior, brilha o esquema Divino, o Tetragrama incomunicável a imagem de Satã ri nas trevas do triângulo inferior."

Para Guaita, o ocultismo comporta um tríplice objeto de estudos: Deus, o Homem e o Universo. As duas colunas do templo são Jakin e Boaz e os métodos complementares para aquisição do conhecimento são a experiência e a tradição. As duas são necessárias, pois que uma única, somente forma iniciados incompletos. A analogia é o método duplo, ao mesmo tempo indutivo e dedutivo, de grande valor para os iniciados que caminham na senda do ocultismo.

"Existem quatro diferentes caminhos para o homem, - diz Stanislas de Guaita, - em primeiro lugar a vida universal, à qual se vincula pela vida de sua espécie. Depois, a sua própria vida, que é inerente a seu ser individual. Depois, a vida refletida, a vida particular de cada uma das células cujo agrupamento orgânico constitui seu próprio corpo. E, finalmente, num grau inferior, a vida química dos átomos da matéria que se agrupam eles mesmos para formar a célula."

A cada ser humano é dado viver com maior ou menor intensidade aquela dessas vidas que mais atrai a sua própria alma. Uns fundamentam-se na ciência humana, outros na Ciência Divina. Os Iniciados, em ambas, para realizarem o equilíbrio universal.

Stanislas de Guaita foi assim, um Cabalista e um Alquimista, embora nunca tenha admitido pessoalmente essa condição. Para ele, entre outros, Guilhaume Postel, Reutchlin, Khunrath, Nicolas Flamel, Saint Martin e Fabre d´Olivet eram Mestres da Cabala, e ele seguia-lhes os passos juntamente com Victor Emile Michelet desde os 20 anos de idade, quando foram apresentados por Barrès, um ao outro. Michelet foi o último sobrevivente do grupo de Guaita, passando para o Oriente Eterno em 13 de janeiro de 1938.

O Destino não permitiu que Stanislas de Guaita concluísse seu terceiro setenário, ocasionando sua morte através do mesmo mal que atacou seu pai em 1880: a uremia. Já antes de 1886, Guaita queixava-se desse mal, cujo reflexo é uma dor de cabeça terrível. Mas o mal foi-se acentuando, e em 1897 Guaita chamou em Alteville seu mais fiel companheiro, Papus, para transmitir-lhe a sucessão na Ordem Cabalística da Rosa+Cruz, dizendo-lhe que estava tudo acabado e que o Destino não lhe permitiria dizer mais nada. "Talvez eu assista ao nascimento de meu livro ("A Chave da Magia Negra"), mas creio que não poderei ir mais longe". Alguns dias mais tarde, Papus sentiu que um nascimento estava prestes a ocorrer no Invisível: viu inúmeros sinais misteriosos, enchendo seu coração de tristeza, e isso significava a morte do companheiro que tanto estimava. Três dias depois Stanislas de Guaita estava morto, vítima de uremia. Seu espírito galgando as alturas das regiões celestes, foi atuar no mundo das almas glorificadas, na Comunhão dos Iniciados.

Não deixou testamento literário ou filosófico, na opinião de seus biógrafos e amigos. Muitos acreditam que seus últimos desejos não foram transmitidos aos amigos de Paris. A biblioteca que valia no mínimo, 38 mil francos, foi vendida por apenas 15 mil à livraria Dorbon. Os livros raros, com notas do punho do Adepto, foram dispersados. A família recusou todo tipo de oferta dos amigos pela biblioteca Parisiense. Muitos manuscritos seus foram queimados, assim como diversos documentos. Sua família via na atividade iniciática do Mestre a causa de sua morte, esquecendo-se de que o pai fora atingido pelo mesmo mal em 1880.

O mal que ele tanto procurou combater, reside na imaginação corrompida das pessoas, nos corações endurecidos pelo orgulho e pelo ódio. Reside no egoísmo e nos falsos valores da humanidade. A morte física é o sofrimento da saudade para os encarnados, mas também é a desvinculação das necessidades físicas. E ele poderá viver na Luz e pela Luz, contribuindo para a emancipação de seus semelhantes que ainda permaneceram para trás na escala evolutiva.

Um novo século se aproxima e novos iniciados realizarão igualmente a sua obra. Eles encontrarão o caminho um pouco mais facilitado pelo trabalho de seus antepassados, Filhos da Luz, como foi Stanislas de Guaita.

Dois anos após a morte de Stanislas de Guaita, Péladan, que não lhe guardara nenhum rancor pelas admoestações recebidas, dedicou-lhe sua obra "L´Occulte Catholique" (1899), endereçando-lhe palavras que todos os iniciados, no momento em que se reverencia sua memória, igualmente fazem suas:

"...Tua morte prematura assegurou toda a purificação de teu destino, e tu és agora um Eleito. Eu me recomendo à tua amizade, celestialmente destinada, em testemunho daquela que nos uniu por muito tempo e que nos reunirá, eu o espero, na própria eternidade. Assim seja."
O Mestre Stanislas de Guaita, passou para o Oriente Eterno a 19 de Dezembro de 1897, quando contava com 36 anos de idade.

Referências Bibliográficas

Lettres Inédites de Stanislas de Guaita au Sâr Joséphin Péladan (150 exemplares impressos p/Editions Rosicruciennes em Suiça, 1952).
O Tarot dos Bohemios - (Papus) - Editorial Kier - 4ª Ed., 1977
No Umbral do Mistério - Edições Grafosul - Porto Alegre - 1979
História e Doutrina do Mart.: - Coleção interna - Bethel.
Stanislas de Guaita - Príncipe del Esoterismo - Série Incógnita/ Poderes 1ª Edição - Barcelona - 1981.
A Cabala (Papus) - Editora do Brasil - SCA - 1983.
No Umbral do Mistério - Editora Martins Fontes - 1ª Edição/1985.

Biografia Shrii Shrii Anandamurti

O mestre espiritual e fundador do Ananda Marga, Anandamurti ou Prabhat Ranjan Sarkar, nasceu em Bihar, na Índia, em 1921. "Ele era o amor personificado", conta Dada Dipa, que teve oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. "Ele podia expressar alegria, riso, raiva, tristeza, mas ficava sempre além de tudo isso ao mesmo tempo. Todas as suas expressões estavam guiadas por benevolência e amor", recorda o monge.

Além de fundar a Ananda Marga e expandi-lo em todo mundo, Anandamurti ajustou o Tantra Yoga aos tempos atuais, propôs a filosofia do Neo-Humanismo, elaborou uma teoria para coletivizar o bem-estar econômico e social da sociedade e escreveu obras na área da filologia, lingüística, ciência, música e literatura.

Na medida em que suas atividades no campo social, educacional e espiritual se desenvolviam na Índia, tanto religiosos como políticos tradicionais, como o Partido Comunista Indiano, passaram a se incomodar com Sarkar. Uns porque enxergaram nele uma ameaça à ordem social injusta baseada nas castas, outros porque temiam perder sua popularidade junto às massas populares. Como resultado, a Ananda Marga começou a ser perseguida e Sarkar foi preso, em 1971, sob a falsa acusação de assassinato. Durante os sete anos em que passou na prisão, Anandamurti sobreviveu a uma tentativa de envenenamento por parte de carcereiros e jejuou em protesto por cinco anos e meio, consumindo somente dois copos de água com iogurte por dia.

"Ele ficou fisicamente fraco, mas ficou muito forte moral e espiritualmente. Quando finalmente foi libertado da prisão, todas as acusações contra ele foram retiradas", conta Dipa. Até sua morte, em 1990, Anandamurti continuou guiando a rápida expansão e estruturação da Ananda Marga.

Hoje são mais de 1500 acharyas, mestres de meditação e yoga, monges ou não, dedicados à propagação de sua filosofia e práticas sociais e espirituais para melhorar as condições de vida da população de vários países do mundo.

Atualmente, os missionários da Ananda Marga são guiados espiritualmente pelo acharya Shraddhananda, enquanto um comitê central guia as políticas e atividades da organização, cuja sede principal fica em Calcutá, na Índia.