terça-feira, 2 de maio de 2023

O Hermetismo e Astrologia


O termo Cosmologia possui múltiplos significados. Seu sentido será determinado  de acordo com a época em que é dito. Para os estudiosos modernos, Cosmologia refere-se ao estudo da origem e evolução do universo visível, e seu possível fim. Uma área da Física e da Astronomia. Porém, do ponto de vista das antigas tradições o termo não tem exatamente tal conotação: Refere-se a algo mais subjetivo e um tanto integrativo.


O sentido do termo Cosmologia sob a ótica tradicional refere-se sim a origem do Universo, sua origem desenvolvimento e fim, mas, sobretudo o fará integrando o Universo e a Vida como um fenômeno único e indivisível.  A lógica da Ordem, ou o sentido dos mecanismos de repetição gerados pela estabilidade do Sol.


Sob este tecido, a vida do Universo se manifesta. A cosmologia seria então um conjunto de princípios gerais que se pode dar conta, estando por toda a parte. Ela não é uma idéia insólita ou uma teoria, e sim um pilar mestre do conhecimento. Os estudos de Schuon, Lubicz, Guénon, Eliade e Pichón, algumas autoridades reconhecidas mundialmente por seus estudos, atestam a idéia das Tradições Antigas do Oriente Extremo e Médio, afetarem de forma substancial os pensamentos dos Gregos que destilaram tais conhecimentos Cosmológicos em reflexões filosóficas e paradigmas que se estendem até nossos dias. Parece inverossímil, mas o fato é: As Tradições entraram com a Pinga e os gregos com o Alambique.


Isto significa que se herdamos tal cultura e se tal fato é incontestável, a menos que tenhamos de supor que os Gregos dormiram cegos e acordaram sábios dominadores de ciência, as inventando do éter metafísico de Platão. As tradições não são, entretanto, os feitos recentes das ciências modernas, mas a base de seus postulados. A tradição não inventou o quindim, mas sempre foi os ovos.


A Astrologia chega à Grécia


A Astrologia em um formato mais limitado ao que conhecemos hoje chega a Grécia por volta do Século V. a.c.. De certa maneira, ela era em tal época ainda uma ciência, mas já parcialmente deteriorada pela ação dos milênios. Todos sabemos como o tempo, a areia e as dificuldades de documentação atrapalharam a evolução das ideias sobre a natureza na antiga Mesopotâmia. Para se possuir um parâmetro simples, é só deter-se um instante na Astrologia da Babilônia, uma das últimas cidades da Mesopotâmia. Ela era já um conjunto de frases sem muito sentido, aliadas a um misticismo galopante e decadente.


A Astrologia não precisava de repintes e sim de um restauro. Sua cosmologia havia se perdido se não de forma total, tem se que admitir parcialmente, e por isto, tornara-se um conjunto de regras e aforismos confusos.


A vocação dos Gregos para o restauro é notável. Sabiam eles que a Astrologia era uma forma extraordinária de mapear os ciclos do meio ambiente e o melhor: havia funcionado por milênios orientando toda uma grande civilização, que estava a ser encoberta pelas poeiras do deserto juntamente com seus cuneiformes. O privilegiado ambiente Grego, propício ao desenvolvimento da ciência, por sua vocação cosmopolita onde múltiplos povos se acotovelavam, acabava por tornar possível uma grande operação: A transfusão do sangue cosmológico entre as várias culturas, visando o ressuscitar de algumas antigas ciências. A Astrologia não escaparia a tal operação, pois era valiosa demais.


Se o calendário da vida era uma verdade, qual seu sentido? Onde estariam as bases de seu movimento? Em que verdades universais se apoiariam? Muitos pensadores sofriam de uma obsessiva insônia de verdade. Entre as culturas estudas, a dos Egípcios parecia ser a mais preocupada e eficiente na preservação de seus estudos. Seus monumentos dão prova até hoje disto. Sua Cosmologia ainda parecia estar gozando de boa saúde, e tornou-se uma referência nesta ação sã de enfermagem.


Esta Teologia-Ciência que no Egito refere-se a Thot e na Grécia sob o nome de Hermes Trismegistos, encerra certamente os restos alterados mais infinitamente preciosos desta Cosmologia.  Os dias atuais, revelam estes ensinos em alguns textos legítimos como o Caibalion, sem autor, o Corpus Hermeticum de formulação Egípcia é um conteúdo eclético (Pitagórico-Heracliteano-Platônico), principalmente na tradução do filósofo Ficcino, e os “Fragmentos” uma coletânea de papiros gregos antigos. Hermes não foi exatamente alguém, e sim um nome genérico como Manu, ou Buda, querendo significar uma Casta ou um Deus em forma de conhecimento. Não foi provavelmente um único homem. Os Hermetistas Gregos eram portanto, estudiosos do pensamento cosmológico do Egito.


O Caibalion, nome latinizado de “Kybalion” significa “um preceito manifestado por um ente de cima” ou simplesmente “Tradição”.  Outra bela variável de sentido e não de etiologia, seria “Conhecimento sem autor”.


Em seus preceitos pode-se de forma didática, começar a tatear o sentido cosmológico dos Egípcios, agora em uma visão mais didática. Mais que um livro, eu o considero uma das mais importantes obras da História da Astrologia e do conhecimento.


Ele se estrutura em sete pressupostos básicos:


1. Ritmo

2. Vibração

3. Polaridade

4. Mentalismo

5. Causa e efeito

6. Gênero

7. Correspondência


Em realidade não são sete e sim apenas uma lei. Elas se inter-relacionam e se apoiam, como as faces de um sólido platônico, e não se dispõem em raias fragmentadas. As tradições são sempre apresentadas assim: sem costuras.


Neste ensaio irei expor dentro dos limites possíveis,  seus sentidos mais abrangentes e de superfície, salientando alguns contornos, mas sem a pretensão de verticalizar.


Ritmo


Tudo dentro do Universo possui um ritmo. Tudo nasce, cresce, se desenvolve e morre. Toda manifestação de movimento implica em uma tendência à ordem. Os ritmos lentos dominam os rápidos. O imutável controla o mutável. Toda e qualquer transição cíclica se dá de forma natural e lenta. A transição implicada em um conceito de sucessão gera a ideia cognitiva de realidade transitória. O fenômeno cíclico permite a previsão dos mecanismos de repetição em níveis análogos, tornando possível seu mapeamento.


– É a fonte do sentido do Zodíaco, Elementos e Ritmos: cardeal, fixo e mutável.


Progressões, Trânsitos e técnicas de Previsões podem ser também incluídas.


Vibração


Tudo no Universo é feito de vibrações, desde as mais grotescas percebidas pelos sentidos às de nível mais refinado e não conscientes. As ondas e vibrações estão por toda a parte, não se podendo escapar a elas. A vibração é a base da existência do mundo dos sentidos. A luz é apenas uma, mas refrata-se em vários níveis de frequência. O mesmo se pode dizer do som e suas escalas cromáticas. Na natureza nada se perde, e as mesmas partes tornam-se outras dependendo de sua posição em uma cadeia ou de estado momentâneo.


Este princípio está na base do entendimento de como as transmissões de nível subquântico e sonoro, bem como os de espectro luminoso, afetam os seres vivos incluindo-se o homem, interligando todo o Universo.


– Ela irá mostrar como estruturas zodiacais de mesma natureza se diferem, por exemplo: o princípio do fogo, da terra, do ar e da água. Os aspectos astrológicos encontram aqui um sentido muito especial na lei acústica de ressonância.


Polaridade


Tudo tem dois polos. O todo fabrica universos aos pares indivisíveis e autossustentáveis. Em seu âmago, um polo possui seu gêmeo oposto, que lhe dá sentido e significado. Os opostos são em realidade a mesma essência em si, mas refratados diante do Universo manifesto. Os extremos se tocam e confundem.


– Projetam a interpretação cognitiva de que existem apenas seis eixos de movimento e não exatamente doze signos. Por isto, Áries e Libra partilham do senso de justiça (pela força ou pelos tratados) e Leão e Aquário tentam buscar destaque, mas em formatos diferentes (Ditadores ou revolucionários).


Os depressivos com alta carga de elemento fogo também são bons exemplos de polarização. Ideal para explicar alguns paradoxos astrológicos.


Mentalismo


O todo é mente. Nenhuma realidade absoluta pode ser observada. Toda e qualquer descrição do Universo, baseia-se no espectro de nossos sentidos e, portanto, o Universo é uma representação parcial da realidade absoluta. O mundo subjetivo na qual nossa personalidade se encontra é determinado em grande parte de como aparentemente o mundo é filtrado por nossos sensores cerebrais. Temos a sensação aparente de realidade da qual nos colocamos como o zero demarcador.


– Este princípio é a base de como interpretamos as estruturas cíclicas como a Lua em seu curso extremamente repetitivo aos sentidos, isso nos dá a sensação de trivialidade e adaptação, ou no conceito “daquilo que é muito bem conhecido desde a infância”. Urano, por exemplo, completa um único ciclo (84 anos) perante o tempo de uma vida Humana, e ele nos parece “Imprevisível”, ou “Inesperado”. Este princípio fundamenta os conflitos observados em sinastria.


Causa e Efeito


As mecânicas do Universo implicam-se em conceitos de causalidade parcial. O Universo e o Cosmos possuem uma intenção. Deus não joga aos dados. O Universo é constituído de uma ordem onde efeitos e causas se interligam.


– Este princípio é o que explica a ideia de que astros (planetas) não fazem desportistas, e sim, inclinam pessoas a táticas de competição. Os estudos de Gauquelin só confirmaram tal premissa. Alguns fatos da vida humana podem ter efeitos alterados dependendo da forma como se posiciona o indivíduo.


Gênero


O fenômeno vida manifesta-se através de dois princípios: O ativo e o passivo. A vida é na realidade o casamento de princípios de vida ativos e catalisadores. O Sol é apenas a contraparte ativa do fenômeno vida, sendo a umidade seu catalisador. O princípio ativo não é melhor nem pior que o passivo. O efeito astrológico dá-se em função de princípios ativos (Astros) e passivos (Homens) . Ver Tomás de Aquino.


– Este senso fundamenta, a ideia de quem interfere em quem em uma hierarquia planetária e zodiacal, por exemplo. Seu domínio implica no natural senso de interatividade entre o meio e o indivíduo. Isto explica por exemplo a sensação de “ter de influenciar” encontrada nos agentes ativos de fogo, geralmente a contraparte de vida ativa, por exemplo.


Correspondência


O Universo é construído sob as mesmas bases desde as mais simples às mais complexas. O simples e o complexo são separados apenas pelo tempo e o espaço. O universo é indivisível. O que está em níveis complexos é análogo ao que está em níveis menos complexos. O que está em cima é análogo ao que está em baixo.


– Esse princípio é o fundamento do Universo interligado e, portanto, interferente em suas múltiplas partes. O princípio muito próximo ao das holografias de Pribram e o Universo Dobrado e Explícito de Bohn. Ele fundamenta a analogia (transporte cognitivo de significâncias de realidade) entre casas e os signos bem como as regências dos signos por exemplo.


Veredito


Não serei leviano; tentarei dentro do possível, explicar os desdobramentos que irão fundamentar cosmologicamente a Astrologia em futuros artigos. É bom lembrar que muitos destes princípios são a base daquilo que fazemos dentro da Medicina, Física, Geometria, Biologia, Neurociências e Psicologia entre tantas.


A Cosmologia é a água de um Jardim. Sem ela, o discurso interpretativo torna-se árido, desconexo e sem articulação. Daí o problema da maioria dos estudantes não saberem “juntar” os significados. Com a mutilação deste importante item, a Astrologia resume-se a um punhado de curiosas engrenagens soltas e não um instrumento de leitura do Universo.


Não se pode fazer milagres. Quando se estuda algo muito antigo é no mínimo de bom senso possuir um orientador consciente. A velha Esfinge que significa entre outras interpretações os mistérios do Universo, nos devora quando não temos capacidade de enfrentá-la. Em outras palavras, não se deve tentar decifrar um mistério de forma leviana. Acabamos por afirmar distorções e ruídos de verdades, e nos perdemos totalmente.


As leis herméticas não são a cura para as nossas bobagens pessoais, mas com certeza são um grande antídoto contra a miopia provocada pela fragmentação atual do conhecimento humano.


BIBLOGRAFIA

O CAIBALION – TRÊS INICIADOS

CORPUS HERMETICUM – HERMES TRISMEGISTOS

SUMA TEOLÓGICA – AQUINO, SÃO THOMAS

SACRED SCIENCE – LUBICZ, S.

SOBRE OS MUNDOS ANTIGOS – SCHUON, F.

O SAGRADO E O PROFANO – ELIADE, M.

A COSMOPSICOLOGIA – GAUQUELIN, M.

ASTROLOGIA E RELIGIÃO NO MUNDO GRECO-ROMANO – CUMMONT, F.