terça-feira, 2 de maio de 2023

A Astronomia e Astrologia


Astrologia e Astronomia estão segundo as leis jurídicas do Século XXI divorciadas. Isto não significa que o amor tenha acabado de ambas as partes, e sim que existe entre elas um relacionamento de aparências.  Astrólogos sempre procuram estudar Astronomia e são ávidos frequentadores de planetários e Astrônomos acabam sempre por dar aquelas olhadelas nos livros de Astrologia nas boas livrarias, mesmo quando argumentam que o fazem por mera diversão. Sempre sabem eles também seus signos solares também.


Na antiguidade, o termo “Astronomia” não existia. O termo usado para o estudo dos movimentos dos corpos celestes era “Astrologia”. A realidade, entretanto, é que em função das necessidades de sobrevivência, o homem sentiu-se obrigado a relacionar os movimentos do céu e seus ciclos aos eventos da natureza que o envolvia, e dos quais dependia. A Astronomia-Astrologia, portanto, não nasceu como alguns acreditam, do imaginário de pessoas crédulas e despreparadas cientificamente, e sim de pesquisadores que se ocupavam em criar calendários e prever o clima de médio e longo prazo, colecionando observações e as comparando como demonstram os cuneiformes mesopotâmios.


Com isto, o aperfeiçoamento dos cálculos tornou-se necessário em função da precisão que se desejava obter nos processos preditivos de sobrevivência agrícola, cuja importância capital na época, superava o simples deleite intelectual matemático-mecânico. Para o corpo, o cérebro é o segundo órgão mais adorado depois do estômago.


Por outro lado, o zodíaco nada mais é que um rico diagrama de mutações ambientais dotado da capacidade de contar várias histórias com as mesmas imagens em sequencia. Uma espécie de holograma filosófico ou para simplificar um calendário dos movimentos de vida. A Astronomia e a Astrologia trilharam caminhos comuns durante aproximadamente  7.300 anos de História desde os Sumérios ao advento das chamadas novas ciências. Aristóteles, Ptolomeu de Alexandria, Kepler, Tycho Brahe, são grandes exemplos de idealizadores de mecânicas para o universo que se ocupavam da arte de prever o futuro através de uma ciência que estuda a relação do orgânico com o inorgânico, chamada Astrologia.


Como o pensamento humano resolveu separar o mundo em dois universos, o orgânico e o inorgânico, ou seja os fenômenos de vida dos fenômenos físicos no século XVII, o termo “Astronomia” precisou ser cunhado para designar a ciência que se ocupava dos movimentos e dos estudos dos astros em si, não procurando focar-se em um possível diálogo com o meio ambiente no qual estamos imersos.


A grande realidade, é que a Astronomia se desenvolveu muito a partir deste divórcio, e em seu caminho solitário, ajudou em muito a difícil tarefa de calcular efemérides e posições astronômicas. A Astronomia precisava de um tempo.


As brilhantes descobertas de Urano, Netuno e o pequeno Plutão, foram capitais para uma reformulação complexa que se estabeleceu na Astrologia nos séculos XVIII, XIX, e XX. Sem dúvida, Astrólogos devem muito à Astronomia e não faz sentido algum voltar às costas a ela. Astrólogos devem utilizar-se de informações astronômicas, procurando sempre se atualizar, se não desejam cometer o mesmo erro às avessas: o esquecimento da realidade do movimento.


O contrário também é verdadeiro. Se não fossem as necessidades de adaptação ao meio, e o advento da Astrologia, nenhuma hipótese sobre movimentos de corpos celestes existiria. A gravidade poderia ser uma grande desconhecida.


Hora ou outra, vê-se, trocas de farpas entre Astrônomos e Astrólogos, como um casal em crise. Qual seria a gênese deste abismo cultural criado por ambos?


A grande realidade é que se muitos Astrônomos desconhecem os fundamentos da Astrologia, o contrário também é verdadeiro. Existem muitos Astrólogos usando planetas hipotéticos, e outros inventado movimentos não encontrados na natureza. Astrólogos muitas vezes odeiam cálculos e fundamentos, e adoram falar mais de psicologia.


Para um diálogo e respeito mútuo, se tornam necessários dois movimentos básicos: Astrônomos começarem a entender os fundamentos da Astrologia, e os Astrólogos estudarem melhor as questões Astronômicas com as quais a Astrologia lida.


O Zodíaco


É de fundamental importância que se entenda o que seja o zodíaco. Astrônomos acreditam que o zodíaco tem seu fundamento  nas constelações. Para eles esta palavra “zodíaco” refere-se a agrupamentos de estrelas do ponto de vista aparente. Com isto acreditam que os astrólogos estão a calcular  posições equivocadamente com um signo de erro. A confusão torna-se maior, quando um astrólogo menos instruído ainda tenta explicar assim: “O zodíaco é uma jornada simbólica de transformações arquetípicas e transpessoais que serve para ajudar o homem a transmutar-se”. Isto poderia ser dito de outra maneira.


Pode-se dizer assim: O zodíaco é pilotado sobre a Eclíptica (Caminho aparente do Sol na Esfera Celeste) a partir do ponto vernal (ponto formado pela Interseção entre os planos da Eclíptica e o Equador Celeste quando o Sol se desloca do hemisfério Sul Celeste para o Norte Celeste), independente de onde esteja este ponto orientado no espaço. Á partir deste ponto e não de nenhuma constelação, divide-se esta trajetória em  12 setores iguais de 30 graus cada. Portanto, não se deve confundir “Constelações” com “signos Astrológicos”. O zodíaco astrológico encontra seu fundamento no sistema eclíptico de referências astronômicas ensinado em qualquer livro básico de Astronomia Esférica.


Esta definição está na bíblia dos astrólogos o “Tetrabiblos” do também Astrônomo Cláudio Ptolomeu (séc. II d.c.). Portanto, nenhum signo mudou. Tudo nasce de uma tremenda confusão semântica.


É como confundir, “Carlos Magno” com “Alberto Magno”. Se astrônomos precisam entender esta confusão por um lado, os Astrólogos tem por obrigação entenderem os fundamentos do que estudam. É como ser um cozinheiro italiano, e não saber de que é feito o Macarrão.


Ascendente


Um ponto muito falado mais pouco conhecido.


A mesma confusão acaba acontecendo. Astrônomos querem entender o que é isto afinal. Existem dois sistemas de coordenadas astronômicas, um o Horizontal e outro o eclíptico. Quando eles se relacionam se movimentando um sobre o outro, a eclíptica (onde está o zodíaco) toca a esfera local em muitos pontos. O do lado leste refere-se à ascensão dos objetos celestes e daí o termo “ascendente”. Ele seria a interseção do plano da eclíptica com o horizonte astronômico do lado do leste. Para a Astrologia é de fundamental importância entender-se isto, pois como a eclíptica se projeta muitas vezes em ângulos inclinados, um determinado signo ascendente irá ser mais comum no ascendente que outros para determinadas latitudes por exemplo. Isto poderá afetar cálculos estatísticos por exemplo.


Meio do Céu


O Meio do céu em astronomia é o “Zenith” ou seja o polo do sistema horizontal de referências. Grosso modo, um ponto imediatamente sobre a cabeça do observador. Em Astrologia o mesmo nome é entendido como “A interseção da eclíptica com o plano do meridiano diurno” (acima do horizonte). São dois pontos distintos, mas com significados parecidos que podem ser confundidos.


Trânsitos


Nunca se refira a um Astrônomo com a palavra “Trânsitos” sem explicar o que você quer dizer com isto. Para a Astronomia , trânsito significa “Passagem de um astro de dimensão menor aparente sobre outro astro de dimensão maior aparente”. Por exemplo, Mercúrio passando sobre o disco solar. Outro significado para transito na Astronomia seria a passagem de um astro pelo meridiano. Para um astrólogo, trânsitos são comparações entre posições astronômicas de um determinado dia, com as posições dos astros para um determinado mapa a estudar. Veja a confusão se um astrólogo interpreta um mapa de um Astrônomo ou ele lê em um artigo que diga: “Urano está transitando sobre seu Sol em Touro”. Isto é impossível para a Astronomia, pois para que um astro passe sobre o disco solar do ponto de vista da terra, ele terá de ter órbita inferior a órbita da Terra, que não é o caso de Urano. Portanto, ele irá achar que Astrólogos falam absurdos astronômicos. Uma questão de terminologia apenas.


A Gramática sempre fez parte das artes Universitárias do Trivium Medieval. Ela existe para ajudar a ciência, mas às vezes ela é exatamente o motivo de terríveis litígios. Astrólogos tem por obrigação estudar o mínimo possível de Astronomia para entender o que estão fazendo e possuir senso crítico para o que leem. Uma vez que se conhece o fato de que Vênus retrograda apenas 8% do tempo, é natural que em cada 100 pessoas só aproximadamente 8 delas o tenham retrógrado. Não se pode culpar a retrogradação de Vênus pelas pessoas serem infelizes em termos afetivos, pois se assim o fosse, enxergaríamos uma quantidade ínfima de clientes com problemas afetivos.


Por outro lado, julgar o que não se conhece é no mínimo insensato. Astrônomos não são más pessoas e sim pessoas que querem como nós, entender o mundo que nos cerca. Eles querem explicações, que de preferência consigam entender. Se eles tem medo de descobrir que estavam equivocados em julgar alguns pontos técnicos da Astrologia, ai já há um problema para psicanalistas e nada se poderá fazer.


Estas duas ciências podem conviver pacificamente. Como diz Cláudio Ptolomeu, “A Astronomia estuda a Anatomia do Universo e a Astrologia tenta descrever sua fisiologia”, como um ser vivo na concepção de Ervin Laszlo.


Diferenças à parte, ambas se bem praticadas, elevam o nível de entendimento deste tão vasto lugar chamado Universo, mesmo que por vezes o nariz das ciências gêmeas ponha tudo a perder.