domingo, 1 de novembro de 2015

Confessio Fraternitatis

A edição original do Confessio Fraternitatis apareceu no ano de 1615 em uma obra em latim intitulada “Secretioris Philosophiae Consideratio Brevio a Philippo a Gabella, Philosophiae studioso, conscripta; et nunc primum una cum Confessione Fraternitatis R.C”. A tradução para o inglês foi tomada da edição de A. E. Waite e é creditada a Thomas Vaughan (Eugenius Philalethes), tendo sido feita a partir da versão posterior em alemão do manifesto. A tradução para o português foi executada por Arnaldo T. Santos (Todos os Direitos Reservados).
Prefácio

Aqui, digno leitor, deverás encontrar incorporado em nossa Confissão trinta e sete razões acerca de nosso propósito e intenção, as quais, se for de teu agrado poderás procurá-las e compará-las em conjunto, levando em conta dentro de ti mesmo se elas são suficientes para te atrair. Em verdade, requer-se não pequeno esforço para induzir qualquer pessoa a acreditar naquilo que ainda não é aparente, mas quando isso for revelado no total resplendor do dia, suponho que estaremos envergonhados de tais questionamentos. E como agora de fato seguramente chamamos o Papa de Anticristo, o que antes era uma ofensa capital em todos os lugares, assim certamente sabemos que o que aqui mantemos secreto deveremos no futuro trovejar em alta voz, o que o leitor conosco deseja de todo coração que possa ocorrer muitíssimo rapidamente.


Confessio Fraternitatis R.C.
ad 
Eruditos Europae

Capítulo I.

Seja o que for que tenham ouvido, ó mortais, com relação à nossa Fraternidade através do som da trombeta do Fama R.C., não acredite apressadamente, nem obstinadamente duvide. É Jeová quem, vendo como o mundo está desabando em ruínas, e perto de seu fim, de fato o apressou novamente para seu início, invertendo o curso da Natureza, e assim o que até aqui tem sido buscado com grande esforço e com trabalho diário, Ele deverá deixar exposto para aqueles que não pensam em tal coisa, oferecendo-o ao desejoso e forçando-o ao relutante, para que ele possa se tornar para os bons aquilo que suavizará os problemas da vida humana e romperá a violência dos golpes inesperados da Fortuna, mas para o ímpio se tornará aquilo que aumentará seus pecados e suas punições.

Embora acreditemos que tenhamos suficientemente revelado para você no Fama a natureza de nossa Ordem, na qual seguimos a vontade de nosso mais excelente Pai, nem possamos ser por qualquer pessoa suspeitos de heresia, nem de qualquer tentativa contra a comunidade, nós por meio disto de fato condenamos o Oriente e o Ocidente (significando o Papa e Maomé) por suas blasfêmias contra nosso Senhor Jesus Cristo, e oferecemos ao chefe principal do Império Romano nossas preces, segredos e grandes tesouros de ouro. Contudo, por causa dos eruditos, pensamos melhor em adicionar algo mais a isto, e dar uma melhor explanação, se houver qualquer coisa demasiadamente profunda, oculta e assentada na obscuridade no Fama, ou totalmente omitida por determinadas razões, por meio do que esperamos que os eruditos estarão mais afeitos a nós, e mais dispostos a aprovar nosso desígnio.

Capítulo II.

Com relação ao aperfeiçoamento da filosofia, temos (tanto quanto no momento é necessário) declarado que a mesma é inteiramente fraca e imperfeita; ou melhor, embora muitos (não sei como) aleguem que ela seja sadia e forte, para nós é certo que ela dá seu último suspiro.

Mas como usualmente, até no mesmo lugar onde surge uma nova doença, a Natureza descobre um remédio contra a mesma, assim, em meio a tantas enfermidades da filosofia, de fato aparecem os meios corretos, e que são para nossa Pátria suficientemente oferecidos, pelos quais ela poderá se tornar sadia novamente, e poderá parecer nova ou renovada para um mundo renovado.

Nenhuma outra filosofia temos, além daquela que é a mais importante de todas as faculdades, ciências e artes, a qual (se contemplarmos nossa época) contém muito da Teologia e da Medicina, mas pouco da Jurisprudência; a qual pesquisa o Céu e a Terra através de primorosa análise, ou, para dela falar com brevidade, a qual de fato manifesta suficientemente o homem Microcosmus, a respeito do que, se alguns dos mais bem dispostos na multidão dos eruditos responderem ao nosso fraternal convite, deverão encontrar dentre nós muitas outras e maiores maravilhas do que aquelas em que de fato até agora acreditavam, se maravilhavam com e professavam.


Capítulo III.

Por conseguinte, declarar brevemente nosso propósito acerca disso significa que devemos trabalhar cuidadosamente para que a surpresa de nosso desafio possa lhe ser tomada, para mostrar claramente que tais segredos não são frivolamente estimados por nós, e para não propagar amplamente uma opinião entre os incultos de que a narrativa que diz respeito a esses segredos é uma tolice. Pois não é absurdo supor que muitos estejam confundidos pelo conflito de pensamentos que é ocasionado por nossa inesperada afabilidade, para os quais (até agora) são desconhecidas as maravilhas da sexta época, ou que, em razão do curso do mundo, prefeririam manter como no presente as coisas que virão e, impedidos pelos obstáculos de sua época, vivem de nenhuma outra maneira no mundo a não ser como homens cegos, que, à luz do meio-dia, nada discernem nada a não ser pela sensação.


Capítulo IV.

Agora, com relação à primeira parte, afirmamos que as meditações de nosso pai Cristão acerca de todos os assuntos que a partir da criação do mundo foram inventados, produzidos e propagados pela engenhosidade humana, através da revelação de Deus, ou através do serviço dos Anjos ou dos espíritos, ou através da sagacidade do entendimento, ou através da experiência da longa observação são tão grandes, que se todos os livros perecessem, e pelo consentimento de Deus todo-poderoso todos os escritos e todo saber se perdessem, ainda assim a posteridade seria capaz de lançar uma nova base para as ciências e de erigir uma nova cidadela da verdade; o que talvez não fosse tão difícil de fazer, como se alguém começasse a lançar abaixo e destruir o velho edifício em ruínas, e então aumentar o pátio de entrada, trazendo depois luz para dentro dos aposentos privativos, mudando então as portas, as armelas e outras coisas de acordo com nossa intenção.

Portanto, não se deve esperar que os recém-chegados devam obter imediatamente nossos poderosos segredos. Eles devem prosseguir passo a passo do menor para o maior, e não devem ser retardados pelas dificuldades.

Por que razão não deveríamos aquiescer espontaneamente na única verdade em vez de buscar por tantas sinuosidades e labirintos, se ao menos tivesse sido do agrado de Deus nos acender o sexto Candelabro? Não nos seria suficiente não temer nem a fome, pobreza, doenças, nem a idade? Não seria algo excelente sempre viver como se você tivesse vivido desde o começo do mundo, e fosse ainda viver até o fim dele? Viver igualmente em um lugar em que nem os povos que habitam além do Ganges pudessem ocultar qualquer coisa, nem aqueles que vivem no Peru pudessem ser capazes de manter seus desígnios em segredo de ti? Igualmente ler em um único livro para discernir, compreender e lembrar de tudo o que em outros livros (que até aqui existiram, existem agora, e daqui para frente deverão surgir) esteve, está e deverá ser aprendido a partir deles? Igualmente tocar e cantar de forma que em vez de pedras rochosas você pudesse extrair pérolas, em vez de animais selvagens, espíritos, e em vez de Plutão, você pudesse acalmar os poderosos príncipes do mundo? Ó mortais, diverso de suas conveniências é o desígnio de Deus, Quem decretou nesta ocasião para que se aumentasse e se expandisse o número de nossa Fraternidade, o que com muita alegria empreendemos, pois obtivemos até aqui este grande tesouro sem nossos méritos, sim, sem qualquer esperança ou expectativa. O mesmo pretendemos com tal fidelidade colocar em prática, de forma que nem a compaixão, nem a piedade por nossos próprios filhos (que alguns de nós na Fraternidade têm) deverão nos mover, uma vez que sabemos que estas coisas boas inesperadas não podem ser herdadas, nem promiscuamente conferidas.


Capítulo V.

Se houver alguém agora que, por outro lado, reclame de nossa discrição, de que oferecemos nossos tesouros tão espontânea e indiscriminadamente, e de que em vez disso não damos maior consideração aos devotos, aos sábios ou às pessoas principescas do que às pessoas comuns, com ele não estamos de nenhuma maneira zangados (pois a acusação não é sem importância), mas, além disso, afirmamos que de nenhuma forma fizemos de nossos arcanos propriedade comum, ainda que eles ressoem em cinco línguas dentro dos ouvidos dos incultos, tanto porque, como bem sabemos, eles não farão juízos grosseiros, como também porque o valor daqueles que deverão ser aceitos em nossa Fraternidade não será medido por sua curiosidade, mas pela regra e padrão de nossas revelações. Mil vezes os indignos poderão clamar, mil vezes se apresentarem, contudo Deus ordenou nossos ouvidos a que eles não ouvissem nenhum deles, e circundou a nós, Seus servidores, de tal forma com Suas nuvens, que contra nós nenhuma violência pode ser feita; pelo que agora não mais somos contemplados por olhos humanos a menos que tenham recebido força emprestada de uma águia.

Quanto ao resto, foi necessário que o Fama fosse publicado na língua mãe de todos, para que estes não fossem privados do conhecimento dele, os quais (embora sejam iletrados) Deus não excluiu da felicidade desta Fraternidade, que é dividida em graus; como aqueles que vivem em Damcar, que têm uma ordem política muito diferente dos outros árabes; pois lá de fato governam apenas homens de discernimento, os quais, com a permissão do rei, fazem leis particulares, de acordo com cujo exemplo o governo também deverá ser instituído na Europa (de acordo com a descrição estabelecida por nosso Pai Cristão), quando ocorrerá aquilo que deve preceder, quando nossa Trombeta ressoar a plena voz e com nenhuma prevaricação de significado, quando, a saber, aquelas coisas sobre as quais alguns poucos agora sussurram e obscurecem com enigmas, abertamente preencherão a Terra, mesmo como após muitos secretos aborrecimentos de pessoas pias contra a tirania do papa, e após tímida reprovação, ele com grande violência e através de uma grande investida foi derrubado de seu assento e pisoteado copiosamente, cuja queda final está reservada para uma época em que ele deverá ser rasgado em pedaços com garras, e um gemido final deverá encerrar seu zurro de jumento, o que, como sabemos, já está manifesto para muitos homens eruditos na Alemanha, conforme as suas indicações e secretas congratulações prestam testemunho.

Capítulo VI.

Poderíamos aqui relatar e proclamar o que aconteceu durante todo o tempo desde o ano de 1378 (quando nosso Pai Cristão nasceu) até agora, quais alterações no mundo ele viu nesses cento e seis anos de sua vida, o que ele deixou para ser empreendido por nossos Pais e por nós após sua feliz morte, mas a brevidade, que de fato observamos, não permitirá neste momento fazer um relato detalhado disso; é suficiente para aqueles que não desprezam nossa proclamação, termos tocado nisso, para desta forma preparar o caminho para sua maior associação e união conosco. Verdadeiramente, para quem é permitido contemplar, ler e a partir daí ensinar a si mesmo aqueles grandes caracteres que o Senhor Deus inscreveu no mecanismo do mundo, e que Ele repete através das mutações dos Impérios, tal império já é nosso, embora isso ainda nos seja desconhecido. E como sabemos que ele não negligenciará nosso convite, assim, de maneira semelhante, abjuramos todo engodo, pois prometemos que a retidão e as esperanças de nenhum homem deverão enganar aquele que se fizer conhecido para nós sob o selo do sigilo e desejar nossa familiaridade. Mas para o falso e para os impostores, e para aqueles que buscam outras coisas que não a sabedoria, testemunhamos publicamente por estas dádivas, não podemos, em nosso prejuízo, ser a eles revelados, nem sermos por eles conhecidos sem a vontade de Deus, mas eles deverão certamente ser participantes daquela terrível cominação mencionada no Fama, e seus desígnios ímpios deverão cair para trás sobre suas próprias cabeças, enquanto nossos tesouros deverão permanecer intocados, até que o Leão surja e os reclame como seu direito, receba-os e os empregue para o estabelecimento de seu reino.

Capítulo VII.

Uma coisa deveria aqui, ó mortais, ser estabelecida por nós, que Deus decretou para o mundo antes de seu fim, o que atualmente em consequência disso deverá suceder, um influxo de verdade, luz, e grandeza tal como Ele ordenou que deveria acompanhar Adão a partir do Paraíso e abrandar a miséria do homem: Pelo que deverá cessar toda falsidade, escuridão e escravidão que pouco a pouco, com a revolução do grande globo, se infiltrou nas artes, nas obras e na governança dos homens, obscurecendo a maior parte delas. De lá procedeu essa inumerável diversidade de opiniões, falsidades e heresias que tornam a escolha difícil para os homens mais sábios, vendo que por um lado, foram estorvados pela reputação dos filósofos e por outro, pelos fatos da experiência, que se (como cremos) puder ser definitivamente removida e em vez dela uma única e mesma regra for instituída, então realmente restarão agradecimentos para eles que se esforçaram nisso, mas o resultado de tão grande obra deverá ser atribuído à bem-aventurança de nossa época.

Como agora confessamos que as muitas elevadas inteligências através de seus escritos serão um grande auxílio para esta Reforma que está por vir, assim de maneira nenhuma arrogamos a nós esta glória, como se tal obra fosse somente imposta a nós, mas testemunhamos com nosso Cristo Salvador que tão logo as pedras se ergam e ofereçam seu serviço, não haverá então falta de executores do desígnio de Deus.


Capítulo VIII.

Deus realmente já enviou mensageiros que deveriam testemunhar Sua vontade, a saber, algumas novas estrelas que apareceram em Serpentarius e Cygnus, cujos poderosos sinais de um grande Conselho demonstraram como para todas as coisas que a engenhosidade humana descobre, Deus invoca seu conhecimento oculto, como igualmente o Livro da Natureza, que embora permaneça aberto verdadeiramente diante de nossos olhos, pode ser lido ou compreendido somente por muito poucos.

Como na cabeça humana há dois órgãos de audição, dois de visão e dois de olfato, mas apenas um de fala, e sendo inútil esperar a fala a partir dos ouvidos, ou a audição a partir dos olhos, assim existiram épocas que viram, outras que ouviram, outras ainda que sentiram o cheiro e o sabor. Agora, resta que em um curto tempo que se aproxima velozmente, distinção deva igualmente ser dada à língua, para que o que anteriormente viu, ouviu e sentiu o cheiro deva finalmente falar, depois que o mundo tiver superado a intoxicação de seu envenenado e entorpecedor cálice, e com um coração aberto, de cabeça descoberta e pés descalços vá feliz e alegremente adiante para encontrar o sol se erguendo pela manhã.

Capítulo IX.

Esses caracteres e letras, conforme Deus às vezes os incorporou nas Sagradas Escrituras, igualmente Ele os imprimiu muitíssimo manifestadamente na maravilhosa obra da criação, nos Céus, na Terra, e em todos os animais, de forma que assim como o matemático prevê os eclipses, nós prognosticamos os obscurecimentos da igreja, e quanto tempo eles deverão durar. Tomamos emprestado dessas letras nossa escrita mágica e, por conseguinte construímos para nós mesmos uma nova linguagem, na qual a natureza das coisas é expressa, de forma que não e de se admirar que não sejamos tão eloquentes em outras línguas, muito menos neste latim, que sabemos não estar de maneira nenhuma em conformidade com aquele de Adão e Enoch, mas que foi contaminado pela confusão de Babel.


Capítulo X.

Mas isto também não deve de maneira nenhuma ser omitido, que, embora ainda existam algumas penas de águia em nosso caminho, as quais de fato obstruem nosso propósito, de fato exortamos ao exclusivo, único, assíduo e contínuo estudo das Sagradas Escrituras, pois aquele que extrai todo seu prazer desta forma, deverá saber que preparou para si mesmo uma excelente maneira de entrar em nossa Fraternidade, pois este é o teor total de nossas Leis, que como não há nenhum aspecto naquele grande milagre do mundo que não esteja relacionado à memória, assim estão mais próximos e são mais parecidos conosco aqueles que de fato fazem da Bíblia a regra de sua vida, o fim de todos os seus estudos e o compêndio do mundo universal, dos quais exigimos não que isso devesse estar continuamente em sua boca, mas que deveriam apropriadamente aplicar sua verdadeira interpretação a todas as épocas do mundo, pois não é nosso costume assim depreciar o oráculo divino, pois embora haja inumeráveis comentadores do mesmo, alguns aderem às opiniões de seu grupo, alguns zombam da Escritura como se ela fosse um tablete de cera para ser utilizado indiferentemente pelos teólogos, filósofos, doutores e matemáticos. Em vez disso, seja nosso costume sermos testemunhas que desde o começo do mundo não foi oferecido ao homem um mais excelente, admirável e benéfico livro do que a Bíblia Sagrada; Abençoado é aquele que a possui, mais abençoado é aquele que a lê, mais abençoado de todos é aquele que verdadeiramente a compreende, pois está mais relacionado com Deus aquele que tanto a compreende quanto a obedece.

Capítulo XI.

Agora, seja o que for que tenha sido dito no Fama, devido à aversão aos impostores, contra a transmutação dos metais e a medicina suprema do mundo, desejamos ser assim compreendidos que esta tão grande dádiva de Deus nós de nenhuma maneira desprezamos, mas como ela nem sempre traz consigo o conhecimento da Natureza, embora esse conhecimento produza tanto isso quanto um número infinito de outros milagres naturais, é correto que estejamos antes determinados a obter o conhecimento da filosofia, nem tentemos obter excelente aptidão com a tintura dos metais antes de obtê-la com a observação da natureza. Deve necessariamente ser insaciável aquele que nem a pobreza, nem a doença, nem o perigo podem mais alcançar, que, como alguém elevado acima de todos os homens, dominou aquilo que de fato angustia, aflige e atormenta os outros e, contudo se voltará novamente para coisas vãs, construirá, fará guerras e tiranizará, porque possui suficiente ouro e uma fonte inesgotável de prata. Deus julga de uma maneira completamente diferente, exaltando o humilde e lançando o orgulhoso na obscuridade; ao silente ele envia seus anjos para com eles conversar, mas os tagarelas ele os dirige ao deserto, que é o julgamento devido ao impostor romano que agora despeja suas blasfêmias de boca aberta contra Cristo, e que não ainda em plena luz do dia, através do que a Alemanha detectou suas cavernas e passagens subterrâneas, se absterá de mentir, para que por meio disso possa completar a medida de seu pecado e ser considerado digno do machado. Portanto, um dia ocorrerá que a boca dessa víbora deverá ser cerrada, e sua tripla coroa deverá ser reduzida a nada, acerca de cujas coisas trataremos mais completamente quando nos encontrarmos.

Capítulo XII.

Para a conclusão de nossa Confissão, devemos seriamente adverti-lo que descarte, se não todos, pelo menos a maioria dos livros imprestáveis de pseudoalquimistas, para os quais é uma pilhéria aplicar a Santíssima Trindade a coisas vãs, ou enganar os homens com símbolos e enigmas monstruosos, ou lucrar com a curiosidade dos crédulos. Nossa época de fato produz muitos desses, um dos maiores sendo um ator de palco, um homem com suficiente engenhosidade para a fraude. Desta forma de fato o inimigo do bem-estar humano se mistura com a boa semente, para por meio disso tornar a verdade mais difícil de ser acreditada, que em si mesma é simples e despojada, enquanto a falsidade é orgulhosa, arrogante e colorida com um brilho de aparente sabedoria divina e humana. Vós que sois sábios, abstende-vos de tais livros, e recorrei a nós, que não buscamos vosso dinheiro, mas vos oferecemos muitíssimo de boa vontade nossos grandes tesouros. Não andamos à caça de seus bens com tinturas mentirosas inventadas, mas desejamos torná-lo coparticipante de nossos bens. Não rejeitamos as parábolas, mas o convidamos às simples e claras explicações de todos os segredos. Não buscamos ser recebidos por você, mas o convidamos para nossas casas e palácios mais do que majestosos, através de nenhum impulso próprio, mas (para que você não desconheça) como que forçados a isto pelo Espírito de Deus, comandados pelo testamento de nosso mais excelente Pai, e impelidos pela ocasião deste momento presente.


Capítulo XIII.

O que pensam, então, ó mortais, vendo que sinceramente reconhecemos Cristo, execramos o papa, nos entregamos à verdadeira filosofia, levamos uma vida digna, e diariamente chamamos, suplicamos, e convidamos muitos mais para nossa Fraternidade, para os quais a mesma Luz de Deus igualmente se mostrou? Não considera que, tendo ponderado acerca dos dons que estão em você, tendo medido sua compreensão da Palavra de Deus, e tendo avaliado as imperfeições e inconsistências de todas as artes, poderá finalmente no futuro deliberar conosco acerca da remediação delas, cooperar na obra de Deus e ser útil para a constituição de sua época? Em cuja obra estes proveitos se seguirão, de forma que todos esses bens que a Natureza dispôs em todas as partes da Terra deverão totalmente em algum momento lhe serem dados, tanquam in centro solis et lunae . Então deverá ser você capaz de expulsar do mundo todas aquelas coisas que obscurecem o conhecimento humano e retardam a ação, tal como os vãos epiciclos e excêntricos círculos (astronômicos).



Capítulo XIV.

Você, contudo, para quem é suficiente ser útil apenas por curiosidade de qualquer prática, ou que está deslumbrado com o brilho do ouro, ou que embora agora íntegro, poderia ser desviado por inesperadas grandes riquezas para uma vida efeminada, ociosa, luxuosa e pomposa, não disturbe nosso silêncio sagrado com o seu clamor, mas pense que embora haja um remédio que poderia curar totalmente todas as doenças, aqueles que, contudo, Deus deseja testar ou punir não deverão ser favorecidos com tal oportunidade, de forma que se fôssemos capazes de enriquecer e instruir o mundo todo, e liberá-lo de inumeráveis tribulações, nós contudo nunca nos manifestaríamos para qualquer homem, a menos que Deus isso favorecesse, sim, isto estará tão longínquo daquele que contra a vontade de Deus pensa em ser um co-participante de nossas riquezas, que mais rapidamente perderá sua vida nos buscando, do que atingirá a felicidade por nos encontrar.

Fraternitas R.C.

Jacques Bergier - Melquisedeque

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