Considerava-se na Mitologia Grega que os humanos que nasceram nas Eras de Ouro e de Prata se tornavam daemons ou daímones depois de sua morte. Sua função era a de intermediários entre os homens e os deuses, agindo sobre a terra (daemons epictônios, da Era de Ouro) e abaixo dela (daemons hipoctônios, da Era de Prata).
DÆMONS, DJINNS, NÉTERES, EXUS
Os daemons eram descritos na cultura árabe como gênios ou djinns, entidades eternas que ajudavam os homens, e no Corão são descritos como bons e/ou maus, possuindo livre-arbítrio assim como os humanos. Na cultura Egípcia, eram descritos como Néteres, as diferentes facetas de Atum (princípio objetivo que surgiu a partir do subjetivo Nun), responsáveis por controlar diferentes aspectos materiais, mentais e espirituais do Cosmos.
Na cultura africana, são descritos como exus, entidades formadas a partir da separação em várias partes do Orixá Exu, que servem como intermediários entre os humanos e os Orixás, e comandam as encruzilhadas, pontos de forte intercâmbio energético.
AS CLAVÍCULAS DE SALOMÃO
Posteriormente, os daemons foram descritos como entidades infernais pela Igreja Católica, e a compilação mais detalhada que se tem notícia são as Clavículas de Salomão, citando que este rei subjugou os 72 daemons e os prendeu em uma urna, criando um sistema de evocação estruturado para se utilizar da energia dos mesmos conforme a necessidade.
Em diversas narrativas, a Rainha de Sabá teria se casado com o Rei Salomão, e com seus conhecimentos de magia teria auxiliado nesta árdua tarefa. Diz-se também que exploradores encontraram a urna e liberaram os daemons, o que teria feito com que os malefícios retornassem ao mundo. Esta alegoria dos daemons presos em uma urna deu origem ao conto de Aladin e a lâmpada mágica.
OS 72 DEMÔNIOS DA GOETIA
Os 72 daemons descritos nas Clavículas de Salomão são:
• Baal • Agares • Vassago • Samigina • Marbas • Valefor • Amon • Barbatos • Paimon • Buer • Gusion • Sitri • Beleth • Leraie • Aligos • Zepar • Botis • Bathin • Saleos • Purson • Marax • Ipos • Aim • Neberius • Glasya-Labolas • Bune • Ronove • Berith • Astaroth • Forneus • Foras • Asmoday • Gaap • Furfur • Marchosias • Stolas • Phenex • Halphas • Malphas • Raum • Focalor • Vepar • Sabnock • Shax • Vine • Bifrons • Vual • Hagenti • Crocell • Furcas • Balam • Alloces • Camio • Murmur • Orobas • Gremory • Ose • Amy • Orias • Vapula • Zagan • Valac • Andras • Haures • Andrealphus • Cimeies • Amdusias • Belial • Decarabia • Seere • Dantalion • Andromalius •
Percebe-se claramente que os 72 daemons das Clavículas de Salomão foram inspirados em entidades cultuadas por outras culturas, dominadas e relegadas ao esquecimento pelo cristianismo após séculos de embates tanto físicos quanto intelectuais. Estas entidades, algumas mesmo mantendo o nome original, foram demonizadas e descritas como espíritos infernais, uma vez que todo o poder verdadeiro só poderia provir de um Deus, o Deus cristão.
Além disso, com a lacuna de correspondências deixada por estas entidades, foram criados 72 anjos (Shemhamphorash), baseados em combinações de três caracteres hebraicos ou sílabas dos versículos 19, 20 e 21 de Êxodo, 14. Estes versículos descrevem a fuga de Moisés e seus seguidores do Egito, passando pelo Mar Vermelho, e possuem 72 sílabas cada. Pode ser percebido que estes anjos englobaram, de forma geral, as características dos daemons correspondentes.