A magia pode ser entendida de diversas formas, segundo várias linguagens e sistemas simbólicos. De forma geral, consiste em se realizar transformações por meio da intenção, embora os métodos para que isso ocorra possam ser os mais gerais possíveis. Dessa forma, é difícil encontrar um limite a partir do qual um evento pode ser considerado magia. A eletricidade, por exemplo, não era completamente entendida até o século XVII, e os raios e trovões eram compreendidos como poderes dos deuses. Seria a magia apenas um encadeamento de eventos que ainda não pode ser explicado cientificamente?
DIFERENTES INTERPRETAÇÕES
É necessário ter consciência de que eventos a nível mental possuem tanta substância quanto eventos que ocorrem de forma material. Uma pessoa pode ter morte cerebral resultante apenas de um encadeamento de pensamentos, e os métodos de hipnose comprovam que é possível estimular o cérebro para os mais variados fins.
Este tipo de manifestação é útil para magistas que possuem maior necessidade de confirmação visual (ver para crer), e são mais ligadas aos aspectos do mundo material. Consequentemente, o ritual de evocação acaba por ser muito mais complexo, necessitando de vários estímulos que fazem o magista entrar em um estado de concentração cada vez maior.
ENTIDADES E ENERGIAS
Como entidades, os daemons podem ser evocados e se apresentam à frente do magista, dentro dos círculos de magia, ou então se manifestam na forma de sinais ao seu redor.
O magista então conversa com estes seres, solicitando o que desejar. Porém, se os daemons forem compreendidos como entidades dotadas de livre arbítrio, o magista terá necessidade de compelir cada um dos seres, se protegendo das mais variadas formas e correndo o risco de ser ludibriado.
Este tipo de manifestação é útil para magistas que possuem maior necessidade de confirmação visual (ver para crer), e são mais ligadas aos aspectos do mundo material. Consequentemente, o ritual de evocação acaba por ser muito mais complexo, necessitando de vários estímulos que fazem o magista entrar em um estado de concentração cada vez maior.
IMAGENS ARQUETÍPICAS
Assim como as arcanas do tarot, os daemons são imagens possíveis de determinados aspectos gerais. Estes arquétipos, pertencentes ao caos ou ao mundo das ideias, são tão complexos que não podem ser explicados por meio de palavras ou imagens. Sendo assim, quando tentamos fazê-lo só conseguimos explicar uma de suas facetas de cada vez, e estas tomam formas definidas como os daemons.
Vários daemons podem representar diferentes imagens do mesmo arquétipo (por exemplo, Agares e Vassago, ambos de mesma natureza). Utilizando este ponto de vista, os daemons podem servir como sistema divinatório (sorteando-se um deles), ou mesmo como inspiração para meditações.
Pode-se analisar o que cada animal representaria, entre outros aspectos semióticos. Neste caso, os rituais são simples como qualquer meditação, podendo ser auxiliados por aromas, sons, ou desenho de selos caso o magista assim deseje. Geralmente são usados elementos auxiliares que possuam relação com a energia a ser trabalhada.
MODOS DE ATIVIDADE CEREBRAL
Os daemons também podem ser entendidos como modos de atividade cerebral a serem alcançados pelo magista. A Alquimia, que consiste em manipular os pensamentos por meio da intenção, pode ser usada para fazer o cérebro funcionar de determinada forma, liberando potencial até então não utilizado (os 90% do cérebro que não usamos conscientemente).
Neste caso, o magista pode concentrar-se para aprender melhor um novo idioma, direcionar o foco para analisar situações e recuperar informações de seu inconsciente (“ver o passado”), ou rastrear mentalmente as consequências de cada evento para inferir situações que estão por vir (“ver o futuro”). A ativação pode ser realizada por qualquer método.
Independente da forma de utilização escolhida pelo magista, compreender as energias e verificar analogias com outros deuses pode auxiliar na escolha da energia correta para cada finalidade, além de reduzir o risco de uma operação dar errado devido ao medo inconsciente. No sentido psicológico, casos de possessão podem estar ligados a histeria, e a perseguição por demônios pode ser entendida como paranoia. Ambas as consequências são indissociáveis de uma possessão ou perseguição “reais”, e igualmente perigosas.
MÉTODOS
RITUAL GOETIA
Nas Clavículas de Salomão, são descritos métodos detalhados para evocação de daemons. Porém, há outros métodos descritos em publicações de demonologia e satanismo, e mesmo uma simples meditação pode ser utilizada, conforme o nível de prática do magista, e sua necessidade de concentração. No caso da meditação, esta pode ser auxiliada por incensos, sons, objetos e desenhos associados às energias que serão trabalhadas, definidos por analogia.
MATERIAIS
Segundo as Clavículas de Salomão, os selos dos daemons devem ser confeccionados utilizando diferentes metais, ou cores metálicas que remetam aos planetas, de acordo com a hierarquia. Alguns daemons podem estar relacionados a mais de uma hierarquia, e portanto a mais de um material.
CÍRCULOS DE MAGIA
Os círculos (e/ou triângulos, hexagramas, pentagramas) de magia descritos nas Clavículas de Salomão devem ser desenhados no chão e nas vestes do magista, usando cores específicas e dimensões aproximadas que variam conforme as versões dos textos. Os elementos básicos descritos nas versões mais usuais, a serem desenhados no chão, de dentro para fora, são:
1:Quadrado vermelho onde o magista irá se posicionar
2:Quatro hexagramas com pontas amarelas e centro azul ou verde
3:Círculo interno com 6 pés de diâmetro
4:Cobra em espiral contendo os nomes divinos, sobre fundo amarelo
5:Círculo externo com 9 pés de diâmetro
6:Quatro pentagramas com pontas amarelas e centro vermelho, contendo velas
7:Triângulo branco com círculo verde inscrito, onde o daemon irá se manifestar
VESTES E SELOS
O magista deve ser usar vestes brancas, onde será desenhado o hexagrama de Salomão. Este hexagrama deve ser mostrado aos daemons para compelir que se mostrem em forma humana. Sobre o peito do magista, deve ser posicionado o selo do daemon selecionado, contendo em sua outra face o pentagrama de Salomão. Este talismã serve para proteger o magista e comandar os daemons por meio de seu selo específico. Já em outra versão dos rituais, o selo que deve ser desenhado no verso é o do anjo correspondente (estes também são 72), tornando possível o controle dos daemons.
Há ainda o disco de Salomão, que deve ser gravado em um anel de ouro ou prata, e segurado em frente à face do magista para protegê-lo da fumaça e do fogo expelidos pelos daemons. Finalmente, o selo secreto de Salomão deve ser usado para aprisionar os daemons em urnas.
URNA
Dependendo do desejo do magista, os daemons podem ser guardados em urnas, feitas em latão e seladas hermeticamente. O selo secreto de Salomão, descrito anteriormente, deve ser desenhado ou soldado sobre a tampa das urnas, preferencialmente em chumbo.
EVOCAÇÃO
Segundo as Clavículas de Salomão, as evocações podem ser feitas de diversas formas, e utilizando diferentes ferramentas como cetro, espada, mitra, chapéu, túnica, mantos de diversas cores, caixas, incensos, carvão e água. De forma geral, a evocação segue algumas etapas.
1:Purificação: o magista se limpa do pecado e de qualquer energia que carregue consigo;
2:Conjuração: o magista evoca uma ou mais vezes o daemon desejado, comandando-o pelos nomes divinos e pelos nomes de seus superiores infernais, e desde já requisitando que não seja enganado, exposto a ambiguidades, ou mesmo assustado pelo daemon, e não seja seguido pelo mesmo após o término do ritual;
3:Segunda conjuração: evocação de forma mais assertiva, caso o daemon não apareça;
4:Mandamento: o magista comanda o daemon para aparecer, de forma mais brusca, sob pena de ser eternamente penalizado;
5:Invocação do Rei: caso o daemon não apareça, este pode ter sido comandado por seu Rei a realizar outra tarefa, e esta etapa consiste da evocação de seu Rei para mudança das ordens;
6:Maldição menor: conjuração usada para amaldiçoar o daemon e sua linhagem hierárquica caso este não apareça, ou tenha alguma atitude que desagrade o magista;
7:Conjuração do fogo: forma avançada de maldição, onde o selo do daemon é colocado em uma caixa com materiais fétidos (por exemplo, assafétida), que é aquecida sobre o fogo até que o daemon colabore;
8:Maldição maior: caso o daemon ainda assim não apareça, a caixa é queimada, sendo retirada do fogo assim que houver colaboração.
NEGOCIAÇÃO
Após uma evocação bem sucedida, segundo as Clavículas de Salomão, é necessário receber, dar as boas vindas e solicitar o que se deseja ao daemon. As etapas são descritas a seguir.
1:Recebimento: o magista mostra ao daemon todos os selos de proteção, pentagramas e hexagramas, se protegendo com o disco ou anel à frente do rosto e solicitando obediência;
2:Boas vindas: são dadas as boas vindas ao daemon, comandando-o que fique sempre dentro do triângulo de invocação, e que não parta sem licença, e sem realizar os desejos do magista;
3:Solicitações: as solicitações devem ser realizadas de uma forma que evite ao máximo ambiguidades ou mal-entendidos, focando-se nos efeitos práticos e na intenção desejada, e mentalizando-se as pessoas, objetos e lugares envolvidos.
BANIMENTO
Segundo as Clavículas de Salomão, o banimento inicia com uma licença para partir, comandando o daemon para que não realize nenhum ato danoso a qualquer pessoa que não esteja envolvida nos pedidos, ou mesmo ao local do ritual. Posteriormente, agradece-se aos nomes divinos que tornaram a evocação possível. Pode ainda ser realizado um ritual menor do pentagrama para limpeza e re-estabelecimento das energias.
GRIMORIUM GOETIA
Descrição de cada espírito, sua aparência e poderes, além das entidades direta ou indiretamente relacionadas. Contém também análises baseadas em gematria, tarot e cabala. Ilustrações e selos consultados no livro Goetia – A Chave Menor de Salomão, compilado por Liddell e Mathers.