Personagens do Grau 31 do REAA
O deus egípcio Osíris é um importante personagem estudado no Grau 31 do Rito Escocês Antigo e Aceito.
A sua figura, maçonicamente, simboliza o julgamento ao qual todos seremos submetidos após a morte. Era considerado, no Antigo Egipto, o deus do Além, ou da Eternidade.
Osíris era o filho primogénito da deusa Nut (o Céu) com o deus Geb (a Terra) e tinha como irmãos o deus Set (ou Seth) e as deusas Ísis e Néftis.
Apesar da sua origem divina, a mitologia afirma que, antes de se tornar o deus da Eternidade, Osíris governou as terras do Egipto, milénios antes de Menés (ou Narmer), o primeiro faraó.
Na sua forma terrena, o deus do Além era negro e possuía um porte físico muito superior ao dos seres humanos.
Osíris teria assumido, na cidade de Tebas, o governo das terras egípcias das mãos do deus Rá (o Sol), ou do deus Shu (o Ar Seco). Posteriormente casou-se com a sua irmã, a deusa Ísis. O deus Set (ou Seth), seu irmão, casou-se com a outra irmã, a deusa Néftis.
Diferentemente de Osíris, ao deus Set coube apenas o governo dos oásis existentes no deserto egípcio. Este cargo de menor prestígio resultou num permanente ódio de Set contra o seu irmão Osíris.
Conta a tradição que, quando assumiu o Egipto, a sua população encontrava-se em estado de selvageria. Apesar de viverem às margens do rio Nilo, não reconheciam as plantas comestíveis e os alimentos eram escassos, chegando a praticarem a antropofagia.
Teriam sido os deuses Osíris, Ísis e Néftis os responsáveis por ensinarem ao povo os primeiros passos que os levariam a se tomarem uma civilização.
Conforme a mitologia, Ísis teria ensinado aos egípcios como deveriam constituir e conviver em família, bem como as técnicas de tratamento dos doentes. A deusa Néftis coube ensinar a tecelagem e a confecção de pães.
Osíris, que também era o deus da vegetação, ensinou aos homens quais plantas serviriam como alimentos, entre elas: o trigo, a videira e a cevada. Ensinou também as técnicas de semear, colher, moer os grãos, prensar uvas para fazer o vinho, obter a cerveja a partir da cevada e extrair metais da terra (como ouro, o cobre e o ferro).
A tradição egípcia afirma que Osíris construiu com as próprias mãos a primeira enxada. O período de Osíris à frente do povo egípcio é considerado como a Idade do Ouro do Antigo Egipto e remonta aproximadamente ao quinto ou sexto milénio antes da Era Cristã.
À luz da filosofia maçónica, é possível considerar que o deus Osíris, durante o seu período junto aos homens, desempenhou um papel emancipador, usando a educação, o trabalho e os valores ligados à família, como as ferramentas do seu esforço civilizatório.
Segundo tradições que remontam aos Textos dos Sarcófagos (ou Livros dos Sarcófagos), Osíris e a sua esposa Ísis, governaram o Egipto por mais de cinquenta anos, conduzindo o país com justiça, promovendo o progresso e desfrutando da grande admiração de todo o povo.
Os principais rivais de Osíris eram o seu irmão Seth, que tinha sido relegado a governar no deserto, e os seus setenta e dois seguidores.
Com o intuito de se livrar de Osíris e assumir o governo de todo o Egipto, Seth convidou o rei-deus para um banquete, no qual homenagearia ricamente a realeza do Egipto e presentearia o seu irmão Osíris.
No decorrer da festa, Seth exibiu no salão um cofre feito com cedro, finamente decorado em ouro e preparado com as dimensões do rei.
O cofre seria oferecido ao convidado que melhor coubesse no seu interior. Diversos convidados entraram e saíram do interior da uma, mas a mesma era grande demais. Chegada a vez de Osíris, ele se deitou e coube exactamente nas medidas do cofre. Seth e os seus comparsas, de imediato, fecharam a uma com uma pesada tampa e selaram-na com metal derretido, prendendo Osíris no seu interior. Agindo com grande violência, Seth e os seus cúmplices atiraram o cofre no rio Nilo, que o arrastou rapidamente para um local desconhecido.
A partir daí, Seth e os seus seguidores assumiram o poder no Egipto e deram início a um reinado terror. Realizaram perseguições a todos aqueles que tinham apoiado o seu irmão, obrigando os deuses Anúbis e Thoth, bem como a rainha Ísis, grávida de Osíris, a se esconderem.
Com o objectivo de procurar o corpo do seu marido, a rainha segue rio abaixo, escoltada por sete escorpiões, e dirige-se para a região do delta do Nilo (região onde o rio Nilo desagua no Mar Mediterrâneo), localizada no Baixo Egipto.
Após alguns dias de caminhada, a deusa chegou na cidade de Buto, onde deu à luz ao deus Hórus (deus com corpo humano e a cabeça de falcão).
A criança, logo após o nascimento, ficou sob os cuidados da deusa-serpente Uadite, que reinava sobre o delta do Nilo, a fim de que a sua mãe continuasse as buscas do corpo do deus Osíris.
O cofre com o corpo de Osíris foi arrastado até a cidade fenícia de Biblos, e dele nasceram galhos que cresceram milagrosamente e deram origem a uma grande árvore de acácia.
De tal modo cresceu a árvore que encobriu totalmente o cofre em que se encontrava o corpo de Osíris. Malcandre, rei de Biblos, ao ver a árvore monumental, mandou cortá-la, a fim usá-la como coluna decorativa para o seu palácio.
Ísis toma conhecimento do paradeiro da arca e, transformada em andorinha passa a voar em torno da coluna, emitindo gritos de dor.
A fim de se poder aproximar do palácio, Ísis transforma-se numa bela mulher e passa a conviver com as empregadas da rainha de Biblos, que ficam encantadas com o conhecimento, a beleza e a sabedoria daquela mulher. Os comentários das servas são tantos que, a rainha convida Ísis para ser a responsável por cuidar do jovem príncipe, seu filho. Numa noite, ao entrar no quarto do príncipe, a rainha o vê cercado por chamas e por sete escorpiões. Assustada, a rainha mobiliza todo o pessoal do palácio em socorro do seu filho, Ísis, com um gesto mágico, interrompe as chamas e retira os escorpiões do quarto. Tratava- se de um antigo ritual egípcio de purificação, visto que Ísis pretendia conceder ao príncipe a imortalidade.
Os reis, admirados, reconhecem em Ísis a poderosa deusa do Alto Egipto e se colocam à sua disposição. Ísis reivindica para si a coluna feita com o tronco de acácia e corta o pilar de madeira, liberando o caixão do marido que se encontrava no seu interior.
A deusa transporta dali a arca e a esconde numa região pantanosa no delta do rio Nilo. Dali, volta para a cidade de Buto, para encontrar o seu filho Hórus (ou Harpócrates, para os gregos).
Após a deusa Ísis esconder o caixão com o corpo do seu marido e partir para a cidade de Buto, o deus Set, que se encontrava numa caçada na região do delta do rio Nilo, foi alertado que tinha sido encontrada, num local próximo, uma arca semelhante àquela que tinha aprisionado o deus Osíris.
Set partiu imediatamente para o local indicado e lá, vendo que se tratava do cofre com o cadáver do seu irmão Osíris, abriu-o violentamente, dilacerou o corpo em pedaços e espalhou-os em diferentes lugares do Egipto.
A deusa Ísis, ao tomar conhecimento da descoberta do caixão, retomou à região do delta do rio Nilo, junto com a deusa Néftis e iniciaram a busca das partes do corpo despedaçado.
Em cada local onde as deusas encontravam uma parte de Osíris era erigido um templo em honra à deusa Ísis.
Ao final da busca, Ísis conseguiu reunir quase todas as partes do cadáver do marido. A parte do corpo que faltava, o pénis, tinha sido comida por um caranguejo (animal considerado impuro para os antigos egípcios e, pelo seu crime, condenado a viver eternamente na lama).
Usando o barro existente nas margens do rio Nilo, a deusa Ísis molda um pénis e assim, comovida, completou o corpo do marido.
Os choros de Ísis e Néftis emocionam os deuses Thot (deus da magia) e Anúbis (deus das mumificações) que, juntos com Ísis e Néftis, deram início a um longo ritual místico.
A demorada cerimónia incluiu a realização de encantamentos, a pronúncia de palavras sagradas e a aplicação de amuletos.
Ao final do ritual mágico, o deus Osíris despertou para uma nova vida.
Apesar de ter obtido a ressurreição mística, o deus não poderia voltar à vida terrestre, pois o seu corpo divino agora se encontrava incompleto.
Osíris, o grande governante do Alto e do Baixo Egipto, tornou-se, deste modo, o primeiro deus egípcio a perder o direito a uma vida terrena, passou, então, a ocupar o cargo de governador e juiz do reino dos mortos, onde construiu um palácio e instalou o seu tribunal.
O Tribunal de Osíris
O Tribunal de Osíris é um importante tema analisado no Grau 31, cujos estudos remetem à Antiga Mitologia Egípcia.
Esta corte mitológica, descrita no Livro dos Mortos, representava o conjunto de alegorias pelas quais os antigos egípcios acreditavam que se aplicava a Justiça Final após a morte. Nos estudos realizados no Grau 31, é descrita a formação do tribunal divino egípcio, relatando-o como uma corte que avaliava os actos de cada pessoa no decorrer da vida. Este colegiado, presidido pelo deus Osíris, era formado por 42 deuses-juízes e se reunia num local chamado Sala das Duas Verdades.
O morto ao chegar ao Tribunal de Osíris, era conduzido pelo deus Anúbis, que lhe retirava o coração, centro da sua consciência, e o colocava num dos pratos de uma balança onde, no outro prato estava colocada uma pena de avestruz (símbolo de Maat, deusa da Verdade). Caso o coração do morto fosse mais pesado que a pena, era decretada a condenação e o condenado tinha a sua alma devorada por Ammit (ou Amut).
O deus Toth anotava o resultado obtido na medição e o deus Hórus o encaminhava a Osíris. Caso o morto fosse absolvido, ele reencarnaria no seu próprio corpo e seguiria, juntamente com os seus pertences, para um paraíso conhecido como Aaru. Daí resulta a importância da mumificação para aquele povo.
À luz da filosofia maçónica, o Tribunal de Osíris é uma importante alegoria do Grau 31 que tem, entre outros significados, o simbolismo de que a Verdade e a Justiça são os caminhos que devem orientar a vida do Homem na sociedade, consolidando a máxima de que “a Justiça é a Verdade em acção”.
Tribunal do Santo Vehme
Entre os estudos do Grau 31 está a descrição e o entendimento da Santa Vehme, ou Santa Veheme (em alemão Vehmgericht), também chamado Liga da Corte Sagrada.
Este Soberano Tribunal teve a sua origem relacionada ao período da Europa medieval no qual ocorreram diversas migrações e invasões dos povos bárbaros para o território de Roma.
Paulatinamente, o Império Romano entrou em decadência, com isso os seus estatutos, instituições e formas de administrar a sociedade foram, em grande parte, desintegrados, resultando que, em diversas áreas do Antigo Império, se espalhassem a criminalidade, a desordem e a ilegalidade.
A Santa Vehme (ou Santa Feme) nasce nesse contexto, como um conjunto de tribunais secretos, organizados com o objectivo de reprimir as desordens e os crimes. Os seus membros tinham como tarefa a aplicação sumária da sua justiça sobre os considerados culpados. Este tribunal surgiu inicialmente no período do reinado de Carlos Magno (768 d.C. a 814 d.C.), entrando posteriormente em declínio. A Santa Vehme ressurgiu no século XII, na região da Vestefália, especialmente na cidade de Dortmund, na actual Alemanha. Os deus juízes tinham o título de franco-juízes e eram desconhecidos. Também eram sigilosos: o transcorrer do processo, os nomes dos acusadores e a sentença. Os julgamentos ocorriam sob a invocação divina e visavam também coibir os delitos cometidos contra a Igreja, daí a denominação de “Santa”. Já o vocábulo “vehme” origina-se do alemão e significa “condenar”. A principal pena aplicada pelos tribunais fémicos era o enforcamento, sendo comum se afirmar que a forca era tão mais alta, quanto mais alta fosse a posição social do condenado.
Com o fim da Idade Média e a formação dos estados nacionais, os países recém-criados consolidaram poderes judiciários organizados e independentes. Com isso, os tribunais fémicos perderam progressivamente espaço para a actuação e a razão de existirem.