Entre as seitas que mais influenciaram nas tradições maçónicas encontramos os judeus denominados cainitas, tidos por muitos autores maçons como os verdadeiros criadores da Lenda de Hiram. Os cainitas constituíram diversas seitas místicas, preenchidas principalmente por judeus cabalistas, que procuravam compatibilizar antigas tradições judaicas com ensinamentos cristãos, especialmente aqueles veiculados pelos chamados cristãos gnósticos. A denominação “cainita” vem do facto de eles se considerarem descendentes directos de Adão, através de Caim, de cuja geração saiu Tubalcain, mestre artesão, hábil trabalhador de martelo e fundidor de obras de bronze, segundo a Bíblia [1].
Os cainitas desenvolveram uma tradição, segundo a qual Caim era filho adulterino de Eva com um anjo rebelde de nome Samael. Esta tradição, que faz parte do Sepher-ha-Zhoar, o livro (Publicado em freemason.pt) base da Cabala judaica, atribui à estirpe de Caim uma família de demónios, entre os quais figuram as irmãs de Tubalcain, Noema e Lilith, famosas demónios fêmeas da tradição cabalística.
O personagem que os maçons conhecem por Hiram é de difícil caracterização. Nas crónicas bíblicas ele é citado duas vezes: em Reis 13, ele é referido como sendo um israelita da tribo de Naftali, perito fundidor de obras de bronze; mas já nas Crónicas (Paralipómenos), ele é referido como sendo filho de uma mulher da tribo de Dan, perito, não só em fundição de metais, como também na confecção de obras de madeira, tecelagem , escultura etc.
Desta forma, Hiram aparece na Bíblia como profissional ligado à tradição dos fundidores, dos metalúrgicos, dos “sopradores”, (como eram conhecidos, na Idade Média, os trabalhadores de forja), informação essa que o remete a Tubalcain, e por via directa a Caiu, o filho amaldiçoado de Adão.
Robert Ambelain refere-se ainda à tradição que faz de Séfora, a esposa de Moisés, uma cainita, pois que ela era filha de Jetro de Madian, líder de um importante centro de fundição de metais, localizado no oásis que leva aquele nome. Desta fonte cainita Moisés teria recebido os ensinamentos secretos (iniciáticos) que não se encontram expostos na Torá, mas que foram repassados por tradição oral aos sacerdotes levitas e conservados pelos essénios, que por sua vez os legaram aos cainitas cristãos. E estes, em consequência, os desenvolveram no corpo doutrinário que se convencionou chamar de Cabala, cujo conteúdo está exposto no Zlioar.
A este respeito, diz o texto de Ambelain:
Hiram, pelo seu pai Ur, descende de Tubalcain, e por ele, em linha directa, de Caim e Samael. Este, na tradição Judaica, é o Anjo Rebelde, o Tentador, o Anjo da Morte e por morte ritual a Maçonaria sacraliza o profano (…). Desta estranha tradição nasceu um costume, o de denominar “vale” o lugar onde se reunissem certos altos graus da Maçonaria (…). No século XVIII um grupo (de maçons) tomou o nome de “ Filhos do Vale”. Num dos altos graus maçónicos, onde os membros se reúnem num “vale”, o presidente da Loja leva o nome de “ sapientíssimo Athersatha” (…). Este nome, traduzido do hebraico, significa “Prodigioso fundidor do deus forte” [2].
Portanto, a lenda de Hiram, que teria, segundo Ambelain, sido introduzida na Maçonaria através dos “maçons aceitos”, entre os quais havia inúmeros judeus, é de clara inspiração gnóstica-cabalística. Da mesma forma que ela é uma adaptação do drama osírico, as analogias que mais tarde se fizeram entre ela e a Paixão de Cristo são frutos da licenciosidade interpretativa que as alegorias desse tipo permitem aos espíritos de imaginação fértil. E etse talvez tenha sido o objectivo dos seus formuladores, já que, no fundo dessa lenda, o que remanesce mesmo é o culto ao sol, conexo ao mito do sacrificado [3].
É importante, entretanto, ter em mente que tais concepções só são aceitáveis do ponto de vista filosófico, do praticante do livre-pensamento, que se acredita ser o Maçom. Na verdade, o misticismo é uma forma alternativa de se explicar o mundo. Se as suas concepções são avessas às doutrinas oficiais, não há que se ver aí qualquer motivo de escândalo. As concepções extraídas pelos cainitas sobre os textos bíblicos são apenas o ponto de vista que um grupo de pensadores heterodoxos desenvolveu sobre alguns temas polémicos que aparecem nos textos sagrados, e que, até hoje, não encontraram consenso entre os estudiosos. Do ponto de vista meramente académico merecem ser analisadas com o mesmo respeito, e cuidado, que aquelas veiculadas pelos doutrinadores ortodoxos [4].
No nosso livro “Conhecendo a Arte Real” discorreremos com mais profundidade sobre o conteúdo da Lenda de Hiram e a sua influência gnóstica, bem como a sua origem cabalística [5]. Por ora é suficiente lembrar que a maioria das tradições dos antigos povos associa o despertar da consciência humana, a aquisição do conhecimento e os primeiros rudimentos de ciência a uma “rebelião” que afastou o homem dos deuses. Na Bíblia esta “rebelião” está, de certa forma, conectada com a (Publicado em freemason.pt) família de Caiu. Dela, por descendência directa, sairiam os personagens Jubal, Jabel e Tubalcain, que na tradição maçónica estão conectados com o Drama de Hiram. As associações que se podem fazer entre esses personagens e o simbolismo da Loja de Companheiros correm por conta do conhecimento e da intuição dos irmãos, mas a partir dessas informações já é possível pressentir uma explicação para a estranha trama que envolve o arquitecto do Templo do Rei Salomão. No momento oportuno voltaremos a este assunto.
A lenda cainita que liga a família de Hiram, fundidor, a Tubalcain, nome bastante conhecido dos maçons nas Lojas Simbólicas, em síntese, diz o seguinte:
Salomão, ao receber de Deus a incumbência para construir o Templo, entrou em acordo com o rei de Tiro, que se comprometeu a enviar-lhe todo o material necessário, bem como os técnicos requeridos para a construção, pois em Israel não havia profissionais capazes de realizar tal trabalho. Entre os profissionais enviados por Hiram, rei de Tiro, estava Hiram, o construtor, também perito em fundição. Na ocasião em que fundia as colunas do Templo, três israelitas invejosos, descontentes pelo facto do Templo do Senhor estar sendo construído por um estrangeiro, embora Hiram fosse de origem israelita, sabotaram o molde que iria servir para a fundição. Hiram, descobrindo a sabotagem, denunciou-a ao rei Salomão, que, no entanto, não tomou nenhuma providência. No dia da fundição, o mar de bronze escorreu pela multidão que a assistia, matando uma grande parte dela. Hiram foi acusado de negligência e abandonou o canteiro de obras. Refugiando-se no deserto, foi tomado por uma visão. Um gigantesco homem barbado surgiu à sua frente: disse ser o espírito de todos os que trabalham e sofrem nas mãos dos poderosos. Convidou-o a segui-lo. Hiram acompanhou o misterioso personagem, que o conduziu às entranhas da terra, até o lugar onde habitava Enoque, pai de todos os homens de ciência, que no Egipto se chamava Hermes.
Foi então que Hiram descobriu os segredos com os quais foi construída a cultura da humanidade. Enoque, ou Hermes, ensinou-lhe todos os segredos da arte de construir; apresentou-lhe também Maviel, o carpinteiro, que ensinou a humanidade a trabalhar a madeira, Matusael que criou a arte da escrita, Jabel que criou a arte da tecelagem, Jubal que inventou a música e os instrumentos musicais e Tubalcain, aquele que ensinou aos homens a arte de curtir peles, a tecer a lã, a arte de fundir e transformar os metais, e foi pai daqueles que trabalham a forja e controlam o fogo. E depois Enoque, ou Hermes, disse a Hiram como o mundo foi feito:
“Dois deuses criaram o universo”, disse Enoque: “Adonai, senhor da matéria e Iblís, senhor do espírito”. Adonai criou o homem a partir do barro da terra e Iblís insuflou-lhe no peito o espírito. O homem, que era belo e inteligente como um deus, despertou em Lilith, deusa irmã de Iblís, uma intensa paixão. Esta, em consequência, tornou-se amante do homem Adão. Os deuses tinham feito uma companheira para Adão, tirada da sua costela, chamada Eva. Por vingança, pelo facto de Adão se ter amasiado com a sua irmã Lilith, Ibles seduziu Eva e gerou-lhe um filho, que foi Caim [6]. Ao saber que Caim era filho ilegítimo de Eva com Iblís, Adão o expulsou. Caim separou-se da sua família celeste e deu início à família terrestre. Abel, o outro filho de Adão com Eva manteve-se fiel às origens, razão pela qual o conflito se instalou na terra.
Foi assim que ocorreu a separação entre as estruturas do céu e da terra, evocadas pela tradição egípcia, e a expulsão do homem do paraíso terrestre, referida na Bíblia. Hiram foi então apresentado a Caim, que fez amargas queixas contra os deuses, especialmente Adonai. Reivindicou para si a origem da ciência e do conhecimento e disse ser essa a razão pela qual Adonai recusou os seus sacrifícios, aceitando, no entanto, os de Abel. “Adonai”, diz Caim, “detesta a ciência e o conhecimento, porque eles tornam o homem insubmisso ao seu poder”. Como os homens cresceram e se multiplicaram sobre a terra, Adonai, ciumento e temeroso que os homens escapassem do seu controle, resolveu destruí-los mandando que as águas cobrissem a terra e afogasse todos os seus habitantes. Mas Noé, instruído por Maviel, o carpinteiro, frustrou os planos de Adonai construindo uma arca na qual ele se salvou a si e à sua família, dando continuidade à família terrestre [7].
Por conta desta origem luciferina da arte metalúrgica, a Bíblia diz que Deus “proibira a utilização de ferramentas de ferro no interior do canteiro de obras do templo”. 0 “tabu do ferro” sempre acompanhou a cultura hebraica na forma de uma grande aversão pela metalurgia. Uma explicação histórica para essa aversão talvez esteja no facto de que, durante os anos de ocupação da Palestina pelos filisteus, os israelitas foram proibidos de praticar qualquer oficio ligado à fundição de metais. Era uma proibição que objectivava impedir que os filhos de Israel se armassem e promovessem uma revolução. Só no tempo de David esta proibição foi levantada e os israelitas puderam fundir e fabricar espadas.
A tradição cabalista vai mais longe nesta lenda. De acordo com algumas interpretações rabínicas, constantes do Zoliar, a arte da metalurgia está conectada com o lado mau e rebelde da família humana, ligada ao nome de Tubalcain. É, portanto, uma arte luciferina, de inspiração malévola. Um povo consagrado ao Senhor não poderia praticá-la [8].
Só assim é possível entender o temor das técnicas de metalurgia que acompanha a antiga cultura hebraica. Veja-se, inclusive, que todas as experiências daquele povo com essa arte estão conectadas com alguma tragédia: Aarão com o seu bezerro de ouro, Moisés com a serpente de bronze, Hiram com o mar de bronze etc. Desta forma também é possível explicar a utilização do nome de Tubalcain como senha na transposição do companheiro para o mestre [9].
Índice
O Mestre Hiram nas “Velhas Regras”
O mito do herói sacrificado
O sacrifício da completação
O Mestre Hiram nas “Velhas Regras”
A Lenda de Hiram acabou sendo um denominador comum entre todas as práticas maçónicas. Hiram arquitecto é o detentor dos grandes segredos iniciáticos. Ele é o construtor do Templo de Salomão, cuja estrutura reflecte o próprio universo. A sua morte representa a transição do profano para o sagrado, do técnico para o científico, do reino grosseiro da matéria para o reino subtil do espírito. Pelo fenómeno da simbiose, o companheiro rebelde, que vivia no domínio inferior da consciência, reconcilia-se com o substrato superior do espírito, e adquire, agora da forma correcta (e não pela violência), a sua passagem de grau.
Este foi o conteúdo da lenda desenvolvida para o catecismo maçónico das “Velhas Regras” (Old Charges). Nas Old Charges o nome de Hiram é citado como sendo filho do rei de Tiro, cujo nome também é Hiram. Tanto no Manuscrito Cooke quanto no Downland, esta informação é referida. Horne acredita que isto é resultado de uma interpretação equivocada da palavra Hiram Abiff, que significa “Hiram, meu pai”. As referências a Hiram, entretanto, aparecem em várias outras Old Charges, e em algumas delas, ele é citado como sendo “príncipe Maçom” [10].
As referências a Hiram nas “Velhas Regras”, entretanto, são muito contraditórias. Em alguns destes antigos manuscritos, o mestre arquitecto do templo de Salomão chega a ser confundido com o rei Nenrode, construtor da Torre de Babel. Por isso é que as informações mais confiáveis sobre a identidade do Mestre Hiram ainda são aquelas veiculadas pela Bíblia e por historiadores como Flávio Josefo, por exemplo.
Com excepção do facto de que nos textos sagrados ele não aparece como arquitecto, mas como fundidor de bronze, todo o conteúdo da lenda pode ser encontrado nas crónicas bíblicas: em Reis 13:7 lemos que Salomão “Escolheu obreiros em todo Israel, e ordenou que fossem trinta mil homens. E ele os mandava ao Líbano, dez mil a cada mês, de sorte que ficavam dois meses nas suas casas e Adonhiram era o encarregado do cumprimento desta ordem. E teve Salomão setenta mil que acarretavam as cargas, e oitenta mil cabouqueiros nos montes; fora os aparelhadores de cada obra, em número de três mil e trezentos, que davam as ordens aos que trabalhavam. E o rei mandou que tirassem pedras grandes, pedras de preço para os alicerces do Templo, e que as facejassem. E lavraram-nas os canteiros de Salomão e os canteiros de Hirão; e os de Gíblios, porém, aparelhavam as madeiras e as pedras para edificar a casa” [11].
Os giblitas, no entanto, eram considerados estrangeiros. Como estrangeiros não poderiam compartilhar dos segredos dos mestres até que recebessem a devida elevação. Era uma elevação que não se alcançava meramente cumprindo um interstício de tempo como companheiro, ou simplesmente aprendendo o segredo dos planos de construção, que eram arte especulativa. Nisto estava envolvida principalmente uma questão (Publicado em freemason.pt) religiosa, e essa questão era a proibição de que um segredo de natureza sagrada fosse revelado a pessoas que ainda não tinham obtido o devido merecimento. Era preciso encontrar uma fórmula que superasse esse impasse, permitindo que o companheiro pedreiro, estrangeiro para as tradições hebraicas, pudesse romper esta barreira para ser admitido no selecto circulo dos mestres.
Não sendo assim a chamada Escola de Arquitectura de Salomão, que a imaginação de Anderson colocou nos canteiros de obras do Templo do Rei Salomão acabar-se-ia transformando numa alegoria sem sentido. A solução foi o sacrifício ritualístico do Mestre Hiram, que como já dissemos, é a porta de entrada nos Mistérios Maçónicos. Com esta alegoria Anderson introduziu na tradição maçónica dois arquétipos de grande significado histórico, psicológico e religioso, que são o mito solar, que está na origem do mito do herói sacrificado e o sacrifício da completação. A finalidade deste sacrifício é francamente escatológica, como veremos.
O mito do herói sacrificado
Todo o Maçom que tenha sido elevado ao mestrado na Arte Real já fez a sua marcha ritual em volta do esquife do Mestre Hiram Abiff, o arquitecto do Templo do Rei Salomão, assassinado pelos três companheiros ambiciosos que queriam abreviar o prazo da sua aprendizagem e obter os graus mais elevados sem o devido mérito. A alegoria da morte de Hiram é uma clara alusão ao mito do sacrificado. Ele está conectado, de um lado ao simbolismo da ressurreição e de outro lado ao mito solar. Pois nas antigas religiões solares, como vimos, o sol, princípio da vida, morria todos os dias para ressuscitar no dia seguinte, após passar uma noite no meio das trevas.
Assim como toda a teatralização dos Antigos Mistérios, fosse na Grécia ou no Egipto, ou em qualquer outra civilização que praticasse estes festivais, mais do que uma simples homenagem aos deuses protectores da natureza, estes rituais simbolizavam a jornada do espírito humano em busca da Luz que lhe daria a ressurreição. É neste sentido que a marcha dos Irmãos em volta do esquife de Hiram, sempre no sentido do Ocidente para o Oriente, nada mais é que uma imitação desse antigo ritual, que espelha a ansiedade do nosso inconsciente em encontrar o seu “herói” sacrificado (ou seja, o sol), para nele realizar a sua ressurreição. Pois o sol, em todas essas religiões, era o doador da vida. Ele fertilizava a terra e fazia renascer a semente morta. Desta forma, toda a mística destes antigos rituais tinha essa finalidade: o encontro com a luz que lhe proporcionaria a capacidade de ressurreição.
O sacrifício da completação
Conectado com este simbolismo, os antigos povos, nas suas tradições iniciáticas relacionadas com grandes obras arquitectónicas, desenvolveram o chamado “sacrifício da completação”. Este sacrifício consistia em oferecer ao deus a quem era dedicado o edifício um sacrifício de sangue, que podia ser o holocausto dos inimigos aprisionados em guerra ou pessoas escolhidas entre próprio povo. Muitas vezes esta escolha recaia sobre mulheres virgens (as vestais) ou jovens guerreiros, realizadores de grandes feitos na guerra. Acreditava-se que assim os deuses patronos dos poderes da terra agradar-se-iam daquele povo, prodigalizando-lhes fartura de colheitas e protecção contra os inimigos [12].
Este tema remonta a antigas lendas, cultivadas pelos povos do Levante, segundo o qual nenhuma grande empreitada poderia obter bom resultado se não fosse abençoada pelos deuses. E essa bênção era sempre obtida através de um sacrifício de sangue. Este costume era praticado até pelos israelitas, como prova o texto bíblico ao informar que Salomão, ao terminar a construção do Templo “sacrificou rebanho e gado, que de tão numeroso, nem se podia contar nem numerar” [13].
Desta fornia, na Maçonaria, o Drama de Hiram tem uma dupla finalidade iniciática: de uma lado presta a sua referência ao culto solar, sendo Hiram, nessa mística, o próprio sol que é homenageado; de outro lado, cultua o herói sacrificado, pois é nele que se consuma a obra maçónica.
E desta forma, a principal alegoria do ensinamento maçónico assume o seu verdadeiro e real significado.
João Anatalino Rodrigues
Notas
[1] Génesis, 4:22.
[2] Robert Ambelain. Op. cit., p. 84-85.
[3] O mito do sacrificado é uma tradição cultivada por todos os povos antigos que desenvolveram religiões solares. O “sacrificado”, no caso, é o próprio sol, que “morre” todos os dias e renasce no dia seguinte. E graças ao seu calor e à sua luz, a vida na terra também têm os seus ciclos regenerativos. Em função desta crença, acreditava-se que todo período (Publicado em freemason.pt) de tempo deveria ser agradecido aos deuses através de um sacrifício de sangue, para que a terra prodigalizasse ao povo o benefício de grandes colheitas. Esta era a crença que estava na raiz dos chamados Mistérios Antigos. De outra forma, todos os grandes empreendimentos também tinham que ter um “sacrificado” para que esta obra fosse levada a bom termo.
[4] É também originária dos cabalistas cainitas a exclamação Huzz, Huzz, Huzz, que no Rito Escocês costuma ser utilizada na abertura e no encerramento dos trabalhos em Loja. Esta exclamação (aportuguesada para Huzzá, Huzzá, Huzaá) também era utilizada pelos Cavaleiros Templários, na recepção dos seus grão-mestres. A palavra é derivada do hebraico hoschea, que significa libertador.
[5] Publicado pela Editora Madras, 2006. Actualmente está esgotado. Estamos preparando uma segunda edição para 2017.
[6] A Bíblia também se refere a esta tradição quando fala nas belas filhas dos homens, por quem os deuses se apaixonaram e geraram filhos, os audazes “nefilins”.
[7] A Franco-Maçonaria. Op. cit., p. 81-86.
[8] Veja-se que na mitologia grega, o deus que cumpre este papel, é Vulcano, tido pelos gregos como o deus da forja, controlador do fogo. O arquétipo do deus Vulcano, que habita o interior da terra, está conectado com tradições luciferinas.
[9] Pois o companheiro, na tradição da Maçonaria, é aquele que assassina o Mestre Hiram para obter o segredo do grau de mestre.
[10] No Manuscrito Melrose n° 2 de 1674 e no Manuscrito Harris de 1789.
[11] Reis 13-17. Os giblios, ou giblitas, eram os trabalhadores das pedreiras de Biblos, cidade fenícia que ficava cerca de 120 quilómetros ao norte de Tiro. Esta cidade é conhecida hoje como Gebal. Nos Primeiros Catecismos Maçónicos, os giblitas eram considerados como sendo os verdadeiros pedreiros, razão pela qual o Manuscrito Wilkinson, uma Old Charge utilizada por algumas Lojas inglesas do inicio do século XVIII, continha o seguinte trolhamento para o iniciando: “P. Qual é o nome do pedreiro?”. “R. Giblita”. Segundo Horne, esta palavra ainda hoje é utilizada em cerimónias de iniciação em Lojas inglesas e americanas.
[12] Veja-se o relato bíblico em Juízes 11:30-31, na qual o juiz Jefté sacrifica a própria filha em razão de um voto feito a Jeová.
[13] Reis I 8:5.