Morals and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry, prepared for the Supreme Council of the Thirty Third Degree for the Southern Jurisdiction of the United States: Charleston, 1871. [1] – Albert Pike
O presente trabalho trata-se da tradução do Capítulo Primeiro (Ou seja, do Grau de Aprendiz) da obra máxima de Albert Pike, “Morals and Dogma of the Anciente and Accepted Scottish Rite of Freemasonry”, traduzido e anotado por Mohamad Ghaleb Birani (M∴ M∴).
1º Aprendiz – A régua de doze polegadas e o maço
1. A FORÇA, não regulada ou mal regulada, não é apenas desperdiçada no vácuo, como a pólvora queimada a céu aberto e o vapor ainda não confinado pela ciência; porém, ao se debater no escuro e nos seus arroubos encontrando apenas o ar, ela se retrai e contunde a si mesma. É destruição e ruína. É como um vulcão, um terremoto ou um ciclone – não é crescimento e progresso. É o cego POLIFEMO [2] atacando a esmo e caindo de cabeça em direcção à afiadas rochas graças ao ímpeto dos seus próprios golpes.
2. A Força cega de um povo é uma força que deve ser economizada e gerida, como aquela mesma força cega do vapor que, impelindo os pesados braços de ferro e fazendo girar grandes rodas, é feita para maçar e armar o canhão, bem como para tecer o laço mais delicado. Esta força deve ser regida pela Inteligência [3]. A inteligência é para o povo e é a sua força, assim como a agulha deslizante da bússola [4] o é para uma embarcação – é a sua alma, sempre guiando a enorme massa de madeira e ferro e apontando sempre para o Norte. Para atacar as cidadelas erigidas por todos os lados contra a raça humana pela superstição, pelo despotismo e pelo preconceito, a Força deve ter um cérebro e uma lei. Só assim os seus feitos de coragem produzirão resultados permanentes, surgindo o verdadeiro progresso. E ainda existem as conquistas sublimes. O pensamento é uma força e a Filosofia deverá ser uma energia, encontrando os seus objectivos e os seus efeitos na evolução do género humano. Os dois grandes motores são a Verdade e o Amor. Combinadas tais forças, guiadas pela Inteligência e regidas pela RÉGUA [5] do Direito e da Justiça, sendo ainda empreendidas em movimentos e esforços sistemáticos, a grande revolução preparada pelas Eras iniciará a sua marcha. O PODER da Divindade está em equilíbrio com a Sua Sabedoria. O único resultado, por conseguinte, é a HARMONIA.
3. É porque a FORÇA é mal regulada é que as revoluções se provam sempre falhas. É por isto então que tantas insurreições, vindas daquelas altas montanhas que dominam o horizonte moral, como a Justiça, a Sabedoria, a Razão e o Direito que, constituídos da mais pura neve do ideal, depois de uma longa queda, de rocha a rocha, mesmo depois de ter reflectido o céu na sua transparência e de ser absorvida por uma centena de afluentes no seu majestoso caminho do triunfo, de repente, se perde nos pântanos, como um rio da Califórnia que se perde nas areias.
4. A contínua caminhada da raça humana impõe que às alturas que a cercam devam resplandecer com nobres e gratificantes lições de coragem. Provas de ousadia e coragem deslumbram a História, pois formam uma das tantas luzes que guiam o homem. Elas são as estrelas e o brilho que vêm do grande mar de electricidade que é da Força inerente ao Povo. Aspirar, enfrentar e correr todos os riscos, perseverar, ser fiel ao seu verdadeiro eu, combater corpo a corpo com o destino, surpreender a derrota com o próprio terror que ela inspira [6] para confrontar o poder injusto e para desafiar um triunfo corrompido [7] – estes são os exemplos que as nações precisam e a luz que as electrificam.
5. Existem imensas Forças nas grandes cavernas do mal sob a sociedade; a abominável degradação, sordidez, desgraça e privação, os vícios e os crimes que empesteiam e apodrecem na escuridão perseveram na populaça que vive abaixo do povo nas grandes cidades. Ali, o seu altruísmo desaparece e todos uivam, caçam, tacteiam, roem e rosnam cada um por si próprio. Ideias são ignoradas e sobre progresso não existe pensamento. Esta populaça tem duas mães – ambas madrastas –: a Ignorância e a Miséria [8]. O querer é o seu único guia – é para os seus desejos apenas que eles suplicam por satisfação. Porém, até mesmo estes apetites podem ser empregados, como a areia rasteira em que pisamos que, quando fundida numa fornalha, derretida e purificada pelo fogo, pode tornar-se num magnífico cristal. Eles têm a força bruta do MAÇO, porém, os seus golpes só podem trazer benefícios à grande causa se vibrados dentro dos limites traçados pela RÉGUA, quando manejada pela sabedoria e discrição.
6. E é esta mesma força do povo, este poder titânico dos gigantes, que constrói as fortificações dos tiranos e que engrossam as fileiras dos seus exércitos. Então, a possibilidade de que estes tipos de tirania, tais quais foram relatadas, como “Roma cheira pior sob VITÉLIO do que nos tempos de SILA. Sob CLÁUDIO [9] e DOMICIANO [10] vem à tona toda a deformidade que constitui a vileza e a feiura que corresponde à tirania. A estupidez dos escravos é o resultado directo das torpezas e das atrocidades do seu déspota. Destas agastadas consciências são exalados o miasma que reflecte o seu senhor; as autoridades públicas são sujas, os corações estão em colapso, consciências estão contraídas e as almas, pequenas. Assim é sob CARACALLA, assim é sob CÓMODO e sob HELIOGABALUS [11], enquanto o Senado Romano, sob CÉSAR [12], apenas exalava o odor grosseiro que é característico de um ninho de águias”.
7. É a força do povo que sustenta todos estes despotismos, dos piores tanto quanto dos melhores. Estas forças agem através de exércitos; e estes mais escravizam do que libertam. O despotismo aplica a RÉGUA. A Força é o MAÇO de aço que acompanha a sela do cavaleiro ou a do bispo na sua armadura. A passiva obediência da força suporta tronos e oligarquias, os reis espanhóis e senadores venezian0s. O poder, num exército manejado pela tirania, é a expressão máxima da mais absoluta fraqueza; e, desta forma, a Humanidade deflagra guerras contra a Humanidade, em detrimento da própria Humanidade. Assim o povo de boa vontade se submete ao despotismo, os seus trabalhadores submetem-se à depreciação do seu trabalho, bem como os seus soldados aos açoites; Então, são nas batalhas que são perdidas que muitas vezes se alcançam progressos. Menos glória é mais liberdade. Quando o tambor silencia, a razão, às vezes, tem voz.
8. Tiranos usam a força do povo para acorrentar e subjugar – ou seja, para oprimir o povo. E cada vez mais eles fazem isto com o povo como o próprio homem faz com o gado confinado. Assim o espírito de liberdade e da inovação é reduzido por baionetas e os princípios são paralisados por tiros de canhão; enquanto monges se misturam com tropas e a Igreja, jubilosa e militante, seja ela, Católica ou Puritana, canta Te Deums para as vitórias sobre os rebeldes.
9. O poder militar, quando não subordinado ao poder civil, novamente o MARTELO ou o MAÇO da FORÇA, sem a guiança da RÉGUA, é uma tirania armada, nascida já adulta, como a deusa ATENA [13] que surgiu da testa de ZEUS. Com ela surge uma dinastia, para começar com CÉSAR [14] e apodrecer com VITÉLIO e CÓMODO. No tempo presente, ela se inclina a começar donde as dinastias terminaram.
10. Constantemente o povo imprime no início uma força apenas para terminar numa imensa fraqueza. A força do povo é exaurida indefinidamente, ao prolongar coisas há muito tempo mortas e ao governar a humanidade embalsamando as velhas tiranias da Fé; restaurando dogmas dilapidados, reerguendo velhos templos carcomidos pelos vermes, avivando velhas e estéreis superstições, multiplicando os parasitas para salvar a sociedade, perpetuando velhas instituições, enfatizando o culto de símbolos como se fossem os verdadeiros meios de salvação, ao atar o cadáver do passado, boca a boca, com o vivo presente. É por isto que uma das tragédias da Humanidade foi ter sido condenada à eterna luta contra fantasmas, superstições, inveja, hipocrisia, preconceitos, formulas erradas e os apelos da tirania. Despotismos, vistos no passado, tornam-se respeitáveis assim como a montanha abundante de enrugadas e tenebrosas rochas vulcânicas que, quando vista à distância é azul, suave e linda. A vista de um único calabouço da tirania vale muito mais para dissipar qualquer ilusão e criar um ódio sagrado contra o despotismo, bem como para direccionar correctamente a FORÇA do que os mais eloquente livros. Os franceses deveriam ter preservado a BASTILHA [15] como uma perpétua lição. A Itália não deveria ter destruído os calabouços da Inquisição. É a força do povo que manteve o poder que construiu as suas celas sombrias e encarcerou aos vivos nos seus sepulcros de granito.
11. A FORÇA do povo não pode, uma vez que um governo livre é criado, pela sua irrestrita e espasmódica actividade, ser mantida e continuada. Esta Força deve ser limitada, acondicionada, transportada e distribuída em diferentes canais e em cursos indirectos até uma saída, sendo que assim deverão ser promulgadas as leis, externadas as acções e as decisões do Estado; como os antigos e sábios reis egípcios que distribuíram em diferentes canais, por subdivisões, as furiosas águas do Nilo, compelindo-as a fertilizar e não a devastar as terras. Deverá ser “jus et norma”, a lei e a Regra, ou Régua [16], da constituição e lei, dentro das quais a força pública deverá agir. Ao fazer uma brecha em ambos, a grande força do vapor, com os seus suaves e poderosos golpes, reduzirá todo o maquinário em átomos. Porém, ao destruir a si mesma, pelo menos, restará inerte e morta por entre as ruínas que ela provocou.
12. A FORÇA do povo, ou a vontade popular em acção e em funcionamento, simbolizada pelo MALHETE [17], regido e guiado por acções dentro dos limites da LEI e da ORDEM, simbolizadas pela RÉGUA DE VINTE E QUATRO POLEGADAS, tem pelos seus frutos a LIBERDADE, IGUALDADE e FRATERNIDADE – Liberdade regida pela Lei; Igualdade de direitos aos olhos da Lei; Irmandade acompanhada das suas obrigações e deveres assim como benefícios.
13. Ouvirás ainda que muito brevemente sobre a PEDRA bruta [18] e a PEDRA perfeita [19], como fazendo parte das jóias de uma Loja. A PEDRA bruta é tida como “uma pedra retirada da pedreira no seu estado rude e natural”. A PEDRA perfeita é tida como “a pedra pronta para as mãos dos trabalhadores a ser ajustada pelas ferramentas de trabalho dos Companheiros”. Não repetiremos as instruções sobre estes símbolos, dados pelo Rito de York. Deverás ler sobre estes símbolos em monitores impressos. São tidas para aludir à evolução individual do obreiro – uma continuação daquela mesma interpretação superficial.
14. A Pedra Bruta é o POVO, devendo ser entendida como massa, rude e desorganizada. A Pedra perfeita ou a Pedra Cúbica, símbolo da perfeição, é o Estado, valendo-se do seu poder legiferante pelo consentimento dos governados; As leis e a Constituição manifestando a vontade popular; o governo harmonioso, simétrico, eficiente – os seus poderes devidamente distribuídos e perfeitamente ajustados em equilíbrio.
15. Se desenharmos numa superfície plana, teremos: Três faces visíveis e nove linhas externas, desenhadas entre sete pontos. O cubo completo possui mais três faces, perfazendo seis faces; mais três linhas, perfazendo doze linhas; e mais um ponto, perfazendo oito. Como o número 12 inclui os números 3, 5, 7 e 3 vezes 3, ou 9, e é produzido pela adição do número sagrado 3 para 9, enquanto as duas figuras que o representam, 1 e 2, a unidade ou a mónada [20] e o binário [21], adicionados, perfazem este mesmo número sagrado, o 3; tal número é denominado o número perfeito e o cubo, desta forma, se torna o símbolo da perfeição.
16. Produzido pela FORÇA e agindo pela RÉGUA; forjada em conformidade com a RÉGUA LISA [22] e com a sua origem na Pedra Bruta, é um símbolos apropriado para a Força do Povo, expressada pela constituição e pelas leis do Estado; e este Estado, por sua vez, pelas suas três faces visíveis, representam as três divisões – o Executivo, que executa as leis; o Legislativo, que cria as leis; o Judiciário, que interpreta as leis, que as aplica e também as enfatiza, entre homem e homem, entre o Estado e os cidadãos. As três faces invisíveis são a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade, a alma tripartida do Estado – a sua vitalidade, espírito e inteligência.
17. Em que pese a Maçonaria não usurpar nem emular a Religião, a oração é uma parte essencial das nossas cerimónias. São as aspirações da alma em direcção à Infinita e Absoluta Inteligência, que é a única e suprema Divindade, errónea e fragilmente caracterizada como um “ARQUITECTO”. Certas faculdades do homem são direccionadas ao Desconhecido – pensamento, meditação, oração. O Desconhecido é um oceano cuja consciência é a sua bússola. O pensamento, a meditação e a oração são a grande e misteriosa direcção apontada pela sua agulha. É o seu magnetismo espiritual que assim conecta a alma humana com a Divindade. São estas majestosas irradiações da alma que a impulsionam das sombras em direcção à luz.
18. Alegar que a oração é absurda pelo facto de que não é possível para nós, por este meio, persuadir Deus a mudar os Seus planos, é um escárnio mesquinho e superficial. Ele produz efeitos sabidos e pretendidos de antemão através da instrumentalidade das forças da natureza, eis que todas essas forças são as Suas Forças. E nós fazemos parte destas forças. O nosso livre-arbítrio e a nossa vontade são forças e nós não cessamos de empreender todos os nossos esforços para alcançar fortuna ou felicidade, prolongar a vida ou nos manter saudáveis, por causa de que nós não podemos, de forma alguma, mudar o que está predestinado. Isto seria absurdo. Se os esforços, por sua vez, também são predestinados, os nossos próprios esforços jamais poderiam ser desprezados, pois são concebidos pelo nosso livre-arbítrio. Porém, da mesma forma, nós oramos. Vontade é uma força. Pensamento é uma força. Oração é uma força. Por que então não haveria de ser da Lei de Deus que a oração, assim como a Fé e o Amor, não surtisse os seus efeitos? O homem não é para ser entendido o começo ou o objectivo final da evolução, sem considerarmos estas duas forças, a Fé e o Amor. A oração é sublime. Há piedade nas orações que imploram e clamam. Negar a eficácia da oração é negar a Fé, o Amor e também os esforços. Assim como os efeitos são produzidos, quando a nossa mão, movida pela nossa vontade, lança uma pedra no oceano, nunca cessam; assim como cada palavra expressa é registrada para a eternidade no éter [23].
19. Toda Loja é um Templo como um todo e, nos seus detalhes, simbólica. O próprio Universo forneceu ao homem o modelo para os primeiros templos erigidos à Divindade. A organização do TEMPLO DE SALOMÃO, os ornamentos simbólicos que representaram os seus principais adornos, a túnica do Alto Sacerdote, tudo isto tinha por referência o Universo, assim como o era compreendido na Antiguidade. O Templo conteve muitos emblemas das estações – o Sol, a Lua, os Planetas, as constelações URSA MAIOR e MENOR, o Zodíaco, os elementos e as outras partes do mundo. E o Mestre desta Loja, do Universo, é HERMES [24], de quem KHURUM é o seu representante, que é uma das luzes da Loja.
20. Para futuras instruções sobre o simbolismo dos corpos celestiais, dos números sagrados, do Templo e dos seus detalhes, deverás esperar pacientemente até que avances na Maçonaria e, neste ínterim, deverás exercitar o intelecto ao estudar por ti próprio tais símbolos. Estudar e pesquisar, para interpretar correctamente os símbolos do Universo é trabalho do sábio e do filósofo. É decifrar a escrita de Deus e penetrar nos seus Desígnios.
Notas
[1] MORAL E DOGMA DO RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO DA MAÇONARIA, PREPARADO PARA O SUPREMO CONSELHO DO GRAU TRINTA E TRÊS DA JURISDIÇÃO SUL DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA: CHARLESTON, 1871.
[2] “POLIFEMO” – era uma criatura da mitologia grega, filho do deus POSEIDON e da ninfa THOOSA que viva só numa caverna da Sicília, junto ao Etna, cuidando de ovelhas, quando ULISSES (ou ODISSEU) e os seus homens desembarcaram na terra dos ciclopes procurando comida, ao voltarem de TRÓIA para casa. Ulisses e os seus companheiros entraram no antro de POLIFEMO procurando por comida, nem desconfiando de que a caverna era onde o ciclope dormia e guardava as suas ovelhas. ULISSES e os seus homens foram surpreendidos e aprisionados com o retorno do ciclope, que fechou a caverna com uma rocha enorme. Ofegantes, são descobertos pelo ciclope que agarra e devora dois dos seus homens e continua a devorar dois homens de cada vez até que ULISSES tem uma ideia: oferecer vinho ao ciclope que imediatamente pergunta quem é que lhe oferece a bebida. ULISSES responde: “NINGUÉM”. Adormecido pela bebida, ULISSES e os seus homens afiam uma vara e ferem o olho do ciclope, cegando-o. No dia seguinte, POLIFEMO abre a caverna para deixar as suas ovelhas saírem, verificando com o tacto se são realmente as suas ovelhas ou os prisioneiros e, mais uma vez, o génio inventivo de ULISSES lhes salva, pois, ao se segurarem debaixo das ovelhas, conseguem fugir da caverna. POLIFEMO, ao perceber a fuga grita aos outros ciclopes que “NINGUÉM tinha o cegado” e os seus companheiros o ignoram. Já no seu navio, ULISSES, zombando da estupidez do ciclope, revela que não foi “Ninguém” que o feriu e sim, ele, ULISSES. Furioso, POLIFEMO atira enormes rochas ao mar e quase atinge a embarcação. Como ULISSES consegue fugir, POLIFEMO pede ao seu pai, POSEIDON, que se vingue deles, atormentando-os durante toda a sua viagem. (Nota do tradutor)
[3] “INTELLECT”, no original em inglês.
[4] “COMPASS”, no original em inglês.
[5] “RULE”, no original em inglês.
[6] “To surprise defeat by the little terror it inspires” no original em inglês. (N. do T.)
[7] “Intoxicated triumph” no original em inglês. (N. do T.)
[8] “Não me fale ninguém do populacho, a cujo aspecto a inspiração desmaia, remoinho humano, que nos leva à força.” GOETHE, em FAUSTO.
[9] “TIBÉRIO CLÁUDIO DRUSO” – Cláudio nasceu em 13 de Agosto de 10 a.C., em Lion. Era ainda muito criança quando o seu pai morreu e durante quase toda a sua Adolescência sofreu de várias moléstias de longa duração, as quais, segundo Suetónio, lhe enfraqueceram de tal modo o espírito que foi considerado inapto para exercer qualquer função pública e privada. Ainda segundo o mestre, foi vítima de inúmeros maus tratos por parte dos seus preceptores e, mesmo a sua mãe, afirmava incessantemente que ele era um monstro, que não tinha sido acabado, mas apenas esboçado pela natureza. A sua irmã, Lívia, ao ouvir certa vez dizer que um dia “esse imbecil” reinaria um dia, lamentou publicamente a sorte do povo romano por tão indigno destino. O próprio Augusto, seu tio-avô chegou a qualificá-lo como “retardado e enfermiço” nas suas cartas. Entretanto, mesmo sendo assim caracterizado por todos, não deixou nunca de testemunhar reverentes homenagens e o respeito público. Tornou-se imperador aos 50 anos de idade de uma das formas mais singulares: pelo desânimo e desinteligência do senado em designar um sucessor para Calígula. Um dos factos marcantes do seu reinado – apesar de tal facto ser contestado veementemente por muitos historiadores – é que supostamente teria expulsado os judeus, que se rebelavam constantemente, supostamente pelo incitamento de “CRESTOS”. Outros factos notáveis do seu reinado foram os festins que promoveu, o gosto pelas execuções dos seus adversários e a ridícula e por muitas vezes açodada aplicação da justiça. Nomeou a Nero como seu herdeiro e em seguida morreu envenenado. (in SUETÓNIO, “A VIDA DOS DOZE CÉSARES”, Editora Martin Claret, São Paulo, 2006, p. 241 usque 276)
[10] “TITO FLÁVIO DOMICIANO” – o último dos doze Césares, nascido a 23 de Outubro de 51 a. C.. Representa, talvez, toda a torpeza de que foram capazes os imperadores romanos que sucederam a AUGUSTO. Dentre os seus feitos, destaca-se o facto de ter banido da cidade e da Itália todos os filósofos da época; o de ter desenvolvido novas de modalidades de tortura contra os seus adversários políticos; de ter se mostrado ainda mais cruel e desumano que todos os seus antecessores, principalmente ao sair vitorioso de uma guerra civil. Possuía uma ferocidade que além de considerável – na lição de SUETÓNIO -, era também requintada e imprevista. Por exemplo, no dia anterior em que tinha mandado crucificar o seu tesoureiro, o convidou para acompanhá-lo a seu quarto e fez com que comesse iguarias da sua mesa. Esgotado com as excessivas despesas dos seus desvarios, tornou-se ainda mais rapace que os outros imperadores, valendo-se dos seus soldados para rapinar cidadãos em qualquer lugar, seja ele vivo ou morto. Bastava para isso uma simples alegação de que o cidadão alvejado fosse contrário à majestade do príncipe. Ao demais, se apropriava de heranças de cidadãos comuns sob a alegação de que o de cujos desejava que “César fosse o seu único herdeiro”. Como se não bastasse, ao longo do seu império decidiu que além de senhor, deveria ser tratado por “deus”. Foi vítima de uma conspiração e assassinado no dia 18 de Setembro de 96. (in SUETÓNIO, “A VIDA DOS DOZE CÉSARES”, Editora Martin Claret, São Paulo, 2006, p. 411 usque 431).
[11] “HELIOGABALUS” – ou ELAGABALAUS, a forma latina do nome de origem semítica “EL-GABAL”, adoptado por este imperador romano, que reinou de 218 a 22 d.C. Quando sucedeu a MACRINUS, seu predecessor, o culto ao deus sol em Roma já estava avançado e este se aproveitou para estabelecer o seu deus “EL-GABAL” como divindade-mor do panteão de deuses romanos, ocupando o lugar de JÚPITER. Era também notável por seus excessos, em especial, pelas suas inclinações sexuais. É acusado por vários historiadores de ter sido transexual e dos seus estranhos hábitos terem chocado a sociedade romana de então, já acostumada a tantos excessos dos imperadores. (Nota do Tradutor)
[12] A vida de CAIO JÚLIO CÉSAR é bem conhecida, assim como tudo o que tramou – encabeçando o partido popular, ou da plebe – para derrubar a República Romana e estabelecer uma monarquia ao estilo oriental, após a vitória sobre POMPEU MAGNO na batalha de Farsália ao fim da Guerra Civil. Entretanto, sempre na sua vida política dissimulou o seu objectivo verdadeiro, que era a ditadura perpétua e centralizada nele próprio, até mesmo quando obteve a total vitória contra a aristocracia republicana. É cediço que mesmo na época da guerra contra Pompeu dissimulava que era a favor da paz, quando não o era. Ao vencê-lo, teve por opção dissolver o Senado, mas não o fez. Expulsou com a sua política populista os grandes homens da época como CÍCERO e CATÃO e os substituiu por bárbaros incultos e interessados apenas em lucros fáceis (gauleses, etc.) para em pouco tempo deteriorar a imagem do Senado e reforçar a ideia de que não se tratava da ditadura de um único homem, pelo horror que tal ideia causava a toda classe de homens, sejam aristocratas, sejam os populares. Daí a figura do “odor grosseiro de um ninho de águias”, utilizada por ALBERT PIKE, para representar a decadência de uma instituição que foi decisiva para que Roma se tornasse o império que era. (N. do T.)
[13] “ATENA” – era a deusa da sabedoria e nasceu da testa de ZEUS, depois que este engoliu sua mãe, METIS. O seu símbolo era a mais sábia das aves, a coruja. Sabia tecer e tinha habilidade para as artes, além de ser uma deusa guerreira. Carregava uma lança e um escudo – a égide – ornamentado com a cabeça da GÓRGONE MEDUSA, que petrificava quem quer que a visse. ATENA era a protectora da região da Ática, suja principal cidade era Atenas. (PHILIP WILKINSON, in “O LIVRO ILUSTRADO DA MITOLOGIA”, Editora Publifolha, São Paulo, 2000, p. 55)
[14] CÉSAR costumava dizer que era descendente da DEUSA VÉNUS, ou seja, a deusa do amor. Da união desta deusa com o mortal ANQUISES, nasce ENEIAS, que tem a sagrada missão de carregar os penates dos seus ancestrais para um outro lugar, após a destruição de Tróia pelos gregos. Após errar anos pelos mares, funda a cidade de Alba Longa na Itália e, muitas gerações depois, os seus descendentes, RÓMULO e REMO ao serem expulsos de sua cidade natal, fundam Roma e é desta linhagem que CÉSAR – quer por romantismo, quer por cinismo – dizia ser a descendência do clã dos Júlios, derivada do nome de IÚLO (ASCÂNIO), filho de ENEIAS. (N. do T.)
[15] A “BASTILHA” era utilizada para recolher presos políticos, religiosos e escritores e pensadores subversivos, contrários ao regime. De todos os famosos que aí estiveram presos, vale destacar o escritor e filosofo Voltaire, o “Homem da Máscara de Ferro”, o escritor Marquês de Sade, dentre vários outros. Simboliza até hoje o terror e a opressão da tirania e o dia da “queda” da Bastilha – 14 de Julho de 1789 – foi escolhido como o feriado nacional francês e a data mais marcante da REVOLUÇÃO FRANCESA. (apud “PEQUENO DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO KOOGAN-LAROUSSE”, Editora Larousse, São Paulo, 1982) (N. do T.)
[16] “the law and Rule, or Gauge”, no original em inglês. (N. do T.)
[17] “GAVEL”, no texto original. ALBERT G. MACKEY pontifica que o “COMMON GAVEL”, ou o malhete comum, da forma como aqui foi traduzido, é uma das ferramentas de trabalho do APRENDIZ. É usada pelo MAÇOM OPERATIVO para desbastar a pedra bruta e também pelo construtor, já que é a ferramenta mais conveniente para esta actividade. Na MAÇONARIA ESPECULATIVA é usada como símbolo da eterna obrigação do MAÇOM de trabalhar para a purificação de todos os vícios e purezas da sua mente. Tem por origem a palavra alemã “GIPFEL” e é também conhecido como “HIRAM”, eis que, como o ARQUITECTO, ele governa o Ofício e mantém em ordem a Loja, como ele fazia no TEMPLO.
[18] “ROUGH ASHLAR”, em inglês.
[19] “PERFECT ASHLAR”, em inglês.
[20] “MÓNADA” – O Uno. O espírito tríplice no seu próprio plano. No ocultismo muitas vezes significa a tríada unificada – ATMA, BUDDHI, MANAS; Vontade Espiritual, Intuição e Mente Superior – ou a parte imortal do homem que reencarna nos reinos inferiores e gradualmente progride através deles até o homem e, daí, até o objectivo final. (ALICE A. BAILEY in “INICIAÇÃO HUMANA E SOLAR”, p. 192)
[21] “DUAD”, no texto original. Na versão final, este entendimento será revisto. (N. do T.)
[22] “GAUGE”, no original inglês.
[23] No original em inglês a figura utilizada é a de “INVISIBLE AIR”, que não tem muito sentido em português, razão pela qual foi substituída por “éter” que me parece ser uma figura muito mais eloquente que “o ar invisível”, mesmo com a definição dada a éter pelo próprio ALBERT PIKE na sua obra “THE CREATION”, a seguir transcrita: “This light “of the vestige of the garment,” is said to be, relatively to that of the vestige of the substance, like a point in the centre of a circle. This light, a point in the centre of the great light is called Auir, Ether, or Space.” Na versão final desta tradução tal questão será revista. (N. do T.)
[24] “HERMES” – Para os gregos antigos era um dos deuses olímpicos. Filho de ZEUS com a ninfa MAIA, era o deus responsável por tudo o que se relacionasse com movimento, viagem, estradas, moeda e transacções comerciais, aparecia sempre usando um chapéu de viajante e sandálias aladas. Na mão, levava uma varinha mágica feita de duas cobras enroscadas numa haste. Não podemos nos furtar à interessante descrição de HERMES feita pelo mestre WILL DURANT, senão vejamos: “HERMES (MERCÚRIO) era mais interessante. Originalmente fora pedra, e do culto das pedras sagradas proveio a sua veneração; os estágios da sua evolução mostram-se ainda visíveis. Vemo-lo como uma alta pedra colocada sobre os túmulos, ou então como o daimon, ou espírito dessa pedra. Passa em seguida a ser pedra dos marcos, ou o seu deus, demarcando e guardando os seus campos; e porque a sua função aí é também a de promover a fertilidade, o falo torna-se um dos seus símbolos. Em seguida aparece como herma ou coluna – com uma cabeça bem acabada, busto informe e um proeminente falo, esculpidos na pedra – a qual era colocada em frente a todas as casas respeitáveis de Atenas; (…) De novo o encontramos como deus dos caminhantes e protector dos arautos; o característico bordão ou caduceu torna-se uma das suas insígnias favoritas.” (in “A HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO – SEGUNDA PARTE, TOMO I”) Para (…), na sua obra “THE SECRET TEACHINGS OF ALL ERAS”, a Grande Pirâmide do Egipto seria a tumba do deus egípcio OSÍRIS e que teria sido construída há mais de 70.000 anos pelos próprios deuses, sendo o imortal Hermes o seu arquitecto. É considerado por este autor como “o monumento a Mercúrio, o mensageiro dos deuses e o símbolo universal da sabedoria e das letras”.