terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Rosacrucianismo


THELEMA E O ROSACRUCIANISMO

No início do século XX, a Lei da Thelema, sistema de filosofia e magia desenvolvido por Aleister Crowley (1875-1947) – To Mega Therion – teve grande influência filosófica na cultura esotérica, na cultura pop e também foi precursora do pensamento pós-moderno. No meio esotérico, a Lei da Thelema também influenciou outras ordens que não estavam ligadas diretamente a Crowley, ordens ligadas pelo fenômeno da O.T.O. (Ordo Templi Orientis), como a  FRA (Fraternitas Rosicruciana Antiqua) do Dr. Krumm-Heller (1876-1949) – Mestre Huiracocha – foco do nosso estudo.

Muitos argumentam que os ensinamentos do Dr. Krumm-Heller eram antagônicos com do Aleister Crowley, e que não possuíam nenhuma ligação esotérica, principalmente na questão da magia sexual. Mestre Huiracocha revela que uma das chaves da Magia Sexual é a não ejaculação durante o ato mágico. Em seu livro, Logos Mantram Magia, ele afirma: “declaro que, para mim, a vocalização, o uso dos mantras e a oração, mediante o despertar das secreções sexuais, é o único caminho de chegar a meta, e o resto é, infelizmente, uma perda de tempo”. Diante disso, Peter Koenig, classifica o ensinamento do Dr. Krumm-Heller como Gnosticismo Homeopático; e Gnosticismo Ascético do Samael Aun Weor – aonde evita-se ejaculações, mesmo com a sua esposa – e classifica de Gnosticismo Libertino do Crowley, na qual não há qualquer tipo de proibição quanto ao sexo.


Aparentemente, essas duas ordens não parecem ter nenhum ponto em comum. No entanto, Crowley recomenda o estudo da Fórmula da Rosa-Cruz. O que leva muitos a considerar uma alegoria somente à magia sexual. Como ele mesmo escreve: “não precisamos nos sentir surpresos se a Unidade de Sujeito e Objeto na Consciência que é Samadhi, a unificação da Noiva e do Carneiro que é o Céu (…), a união do Lingam e da Yoni, a Cruz e a Rosa”. No entanto, James Eshelman escreve, que isso, na verdade, seria o trabalho mágico da união dos opostos em sua Natureza, que muitos místicos cristãos descrevem como no aniquilamento de si mesmo no Amado.

O Dr. Krumm-Heller era membro da O.T.O., apesar que recebeu seu grau, em 1908, de Theodor Reuss, antes da reformulação da ordem por Crowley. Mas após 1930, o Dr. Krumm-Heller e Crowley se encontram pessoalmente em Berlim e trocam uma extensa correspondência. O Mestre Huiracocha não foi discípulo do Mestre Therion, na verdade, Crowley em uma correspondência, considera o Dr. Krumm-Heller um maçom igual a ele, na qual tinha muito a ver com a realização da “Grande Obra”, a divulgação da Lei da Thelema. E o Dr. Krumm-Heller escreve:

“Meus mestres foram Eliphas Levi e Papus, e graças a eles eu poderia decifrar os segredos da Magia. Dr. Hartman tem nos ensinado na Alemanha, a parte esotérica da Bíblia e da Igreja Cristã. Outro mestre que teve maior influência sobre mim foi o Mestre Therion, ele me deu a sua obra “Liber Aleph Vel CXI (O Livro da Sabedoria ou da Tolice)”.

E após esse encontro, o Dr. Krumm-Heller aceitou a Lei da Thelema, sendo que nos rituais de congregação da FRA (baseados no Liber CCXX e Liber XV) é dito: “A nossa divisa é Thelema”. Apesar das muitas influências, o Dr. Krumm-Heller não integrou nenhum curso ou prática operativa da Astrum Argentum (ordem esotérica desenvolvida por Aleister Crowley e George Cecil Jones), nem há algum estudo aprofundado da doutrina thelêmica no currículo da FRA.

Diante disso, surge uma questão, como a Lei da Thelema se adequou ao ensinamento das ordens não thelemitas, como a FRA – uma ordem de tradição rosacruciana.

THELEMA E CRISTO

Para os seguidores de Crowley, a Lei da Thelema possui o objetivo de descobrir sua Verdadeira Vontade, através da Conversação com o Sagrado Anjo Guardião e, após isso, dedicar sua vida inteira ao seu cumprimento. A necessidade do cumprimento da Vontade se demonstra através daquele que é considerado o único mandamento em Thelema: “Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei. O amor é a lei, amor sob vontade”. A Lei da Thelema prega uma ética individual, na qual nenhuma regra externa pode interferir, ou seja, o cultivo e satisfação plena das próprias vontades. Mas qual é a visão do Dr. Krumm-Heller acerca da Lei da Thelema.

Para entender essa visão, peguemos o artigo do Dr. Krumm-Heller: CHRISTO-ABRAXAS-BAPHOMET-THELEMA, na qual é dito que há quatro forças – Cristo, Abraxas, Bafomet e Thelema – são uma só coisa: LUZ.

“Eis aqui quatro palavras e no fundo uma só. Eis aqui quatro forças e, contudo, em essência uma força única: a  LUZ. (…) Disto temos uma prova magnífica. Uma das coisas que mais me impressionou em minha viagem ao Oriente, foi a mesquita HAGUIA SOPHIA de Constantinopla (…). Ao serem executados certos trabalhos, no referido templo, descobriram que o mosaico antigo era a representação de um grande quadro em cujo centro se distinguia o Cristo, em que se lia a seguinte legenda: “EU SOU A LUZ”.

Para o Dr. Krumm-Heller, o cristianismo adotou a ideia gnóstica de que o Cristo simboliza o Sol, conforme a Cristologia Gnóstica. E a Luz Solar atua de diversos modos. Ela é o Cristo, aspecto derivado do Pai, como parte do Sol Oculto. Para os gnóstico seria Abraxas. Outro aspecto desta Luz seria Baphomet, um aspecto mais grosseiro, porque é a força astral. E por fim, outro aspecto desta Luz é Thelema que significa a Vontade atuante na Luz. Todos essas diferentes variações da Luz são denominados pelos Gnósticos como Força Cristônica.

“(…) Outro aspecto desta força é  Thelema que significa a vontade atuante na Luz. O discípulo não deve esquecer que todos esses nomes e símbolos representam forças e nos Mistérios usavam-se símbolos para objetivar essas forças.

(…) Assim, pois a força de Abraxas manifesta-se de modo distinto da força de Baphomet; porém, todas derivadas da força espiritual da Luz, que os Gnósticos chamam FORÇA CRISTÔNICA. O discípulo precisa aprender o manejo de todas essas forças”.

CRISTOLOGIA GNÓSTICA

A Cristologia Gnóstica diz que o Sol visível é o mediador do Sol Central ou Sol Oculto. E o Crestos Cósmico é o meio astral que liga o homem ao Pai Solar. A força de Cristo pode manifesta-se de diferentes modos, seja como Baphomet, Abraxas ou Thelema, porém, todas derivadas da força espiritual da Luz do Sol Oculto. Podemos inferir, assim, que Thelema é Cristo. Ou que a Vontade do Crestos é Thelema.

Como símbolo, Cristo se liga aos deuses solares, Mitra, Abraxas e Dionísio. Mas também é um fato histórico, na pessoa de Jesus. O corpo de Jesus de Nazaré foi utilizado para que a entidade divina do Cristo, no momento do batismo, pudesse tomar a forma que lhe era necessária para, daí em diante, estar em comunhão com as almas humanas. Os acontecimentos na Palestina foram necessários para o nascimento da vida terrena do Cristo que aconteceu a partir do Mistério do Gólgota, esse acontecimento é denominado por Rudolf Steiner (1861-1925) de “Impulso do Cristo”.

Para os Gnósticos há uma diferença sensível entre os as personalidades de Buda, Zoroastro, Confucio, Maomé e a divindade do Cristo. Os primeiros foram certamente grandes filósofos e grandes Iniciados a quem lhes foi dada a incumbência de a pregar e instalar uma região em sua época. No entanto, Cristo tem uma personalidade diferente. Ele é Deus, é o Logos Solar ou a Essência Solar, a força do Espírito que está fundida no Sol. 

O Dr. Krumm-Heller diz que a Força Cristônica de Jesus, se propagou pelo mundo (Impulso do Cristo) e transformou seu ambiente, perpetuando-se até nossos dias. Para vida terrestre, o Sol possui grande importância para nosso planeta, por sua vez, o Sol físico depende de outro Sol espiritual. O Sol espiritual é algo prático e real, como também é o Logos. Cristo é a Luz do Sol física e espiritual.

O Dr. Krumm-Heller reúne na figura do Cristo uma força consciencial e uma substância material. Isso pode parecer estranho, mas nas próprias palavras do Dr. Krumm-Heller, a realidade é formada pelo trio de matéria, energia (força) e consciência. Deste modo, o Crestos Cósmico é uma substância, uma força, uma consciência atuante. Os gnósticos aprendem a manejar Crestos e sua força mediadora.

CRISTO EM SUBSTÂNCIA

O Dr. Krumm-Heller associa Cristo a outros conceitos, o que pode causar uma certa confusão, mas ele mesmo, didaticamente divide essa força em duas: o Cristo Real ou Substancial e o Cristo Ético ou Consciencial. Em sua oração ao Logos Solar, ele invoca essas forças da seguinte maneira:

“Tu, Logos Solar, emanação ígnea, Cristo em substância e em consciência, vida potente pela qual tudo avança, vem até mim e penetra-me, banha-me, transpassa-me e desperta em meu SER todas essas substâncias inefáveis que tanto são parte de ti como de mim mesmo.”

Primeiro, vamos entender o que seria o Cristo Substancial e como ele se relaciona com a Thelema. Como já dito sobre a Cristologia Gnóstica, Cristo é uma substância material, na qual possui Vontade. Essa Vontade atuante na Luz é chamada de Thelema, conceito muito similar da Telesma apresentado por Hermes Trimegisto na Tábua Esmeralda:

(1) É verdade, certo e muito verdadeiro:

(2) O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo, para realizar os milagres de uma única coisa.

(3) E assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas as coisas são únicas, por adaptação.

(4) O Sol é o pai, a Lua é a mãe, o vento o embalou em seu ventre, a Terra é sua alma;

(5) O Pai de toda Telesma (Thelema) do mundo está nisto.

(6) Seu poder é pleno, se é convertido em Terra.

(7) Separarás a Terra do Fogo, o sutil do denso, suavemente e com grande perícia.

(8) Sobe da terra para o Céu e desce novamente à Terra e recolhe a força das coisas superiores e inferiores.

(9) Desse modo obterás a glória do mundo.

(10) E se afastarão de ti todas as trevas.

(11) Nisso consiste o poder poderoso de todo poder: Vencerás todas as coisas sutis e penetrarás em tudo o que é sólido.

(12) Assim o mundo foi criado.

(13) Esta é a fonte das admiráveis adaptações aqui indicadas.

(14) Por esta razão fui chamado de Hermes Trismegisto, pois possuo as três partes da filosofia universal.

(15) O que eu disse da Obra Solar foi cumprido.

Recorremos ao Dr. Gerald Encausse (1865-1916) – Papus – que cita Eliphas Levi (1810-1875) para explicar que Telesma é um agente universal, um fluído e uma força que permeia a tudo e a todos. Uma Thelema substancial que pode ser manejada e modificada. Ele escreve:

“Esse agente universal das obras da natureza é o OD dos hebreus e de Reichembach, é a luz astral dos martinistas. A existência e o uso possível dessa força constituem o grande arcano da magia prática. (…) Essa substância é a que Hermes Trimegisto chama “o grande Telesma”. Quando ela produz seu esplendor, ela se chama luz. (…) O grande agente mágico se manifesta por quatro tipos de fenômenos: calor, luz, eletricidade e magnetismo. O grande agente mágico é a quarta emanação da vida princípio, da qual o Sol é a terceira forma. (…) Quando a luz universal forma os metais, ela é chamada de azoto, quando dá vida aos animais é chamada magnetismo”.

No texto, Levi traz outros nomes para essa substância: Luz Astral e Força Odica. Como ele, associamos essa força com outras diversas substâncias espirituais, cada uma com um nome cultural próprio: Prana para os hindu, Ki para os japoneses, Chi para os chineses ou, como denominam os espíritas, Fluído Vital.

As Doutrinas Vitalistas ensinam que a força vital permeia os seres orgânicos e dá vida a eles. Essa força vital interpenetra e nutre todas as coisas do universo. Antes de ser absorvida pelos seres orgânicos é chamada de Energia Cósmica ou, nas palavras de Hermes, Telesma. Esse agente universal, como é dito no texto, pode ser manipulado. Como dito por Levi, o Magnetismo Animal é a faculdade de transformar o fluído cósmico em fluído magnético ou fluído vital. É também chamado de Mesmerismo, por conta de Franz Anton Mesmer (1734-1815) um dos primeiros a teorizar sobre o estudo do magnetismo. Nesse ponto, Telesma acaba por se tornar o fluído universal.

O Dr. Krumm-Heller também fala do Vitalismo. Ele diz que o Prana é uma força modeladora do Universo, que brota do Sol. Escreve que: “Prana é movimento, vibração, sensação de peso, luz, calor, eletricidade, magnetismo etc., especialmente em sua forma primordial. Prana é a vida do éter (…) Sem Prana não poderia haver nada vivo na Natureza”. Ao que parece, a explicação sobre o Prana é muito similar ao que Eliphas Levi fala sobre a Telesma e, por conseguinte, o Crestos Solar.

Então, Thelema na visão rosacruciana, do Dr. Krumm-Heller, inicialmente, é afastado o princípio filosófico da Thelema descrito por Crowley e se aproxima de uma explicação realista da formação do universo e da vida, como uma força que pode ser manipulada magicamente.

CRISTO EM CONSCIÊNCIA

Seguindo a linha de pensamento, na qual o Dr. Krumm-Heller entendia Cristo e Thelema como forças impessoais, inferimos, então que a Força Consciencial Cristônica também é impessoal. Podemos entender melhor esse conceito Vontade Universal lendo um trecho da obra “Uma Aventura entre os Rosacruzes”, de Franz Hartmann:

“- Tudo não passa de efeito deste poder primordial, único, chamado Vontade, pelo qual o mundo veio à existência – disse o Imperator dos Rosa-cruzes de Ouro. – Ela pode manifestar-se de muitos modos e nos sete distintos planos de atuação como força mecânica ou como influxo espiritual; porém, é simplesmente o mesmo poder divino e único da Vontade, movida pelo harmonioso conjunto instrumental do organismo humano, dirigido pela inteligência.

– Então, disse eu – intentar fortalecer a Vontade deve ser o fator mais imediato e necessário?

– Não – respondeu Imperator. – A Vontade é uma força universal que sustém entre si os mundos no espaço e causa as revoluções planetárias; existe em toda parte e a tudo penetra, não havendo necessidade de fortificá-la, porque ela é suficientemente poderosa para conseguir o que deseja. Vós não sois mais do que um instrumento, por meio do qual esta força universal pode agir e manifestar-se; podeis experimentar a plenitude do seu poderio se não tratardes de oferecer-lhe resistência. Porém, se imaginais possuir uma vontade vossa, na qual a ação difere da Vontade Universal, na realidade, não fazeis outra coisa do que subtrair dela um fragmento insignificante, opondo-a à grande força original. Se vós imaginais de posse de um vontade exclusiva e própria, no mesmo instante entrais em conflito com a potência energética do universo e sendo, como sois, uma partícula insignificante dele, sereis aniquilado, causando vossa própria ruína. Vossa vontade não pode usar o seu poderio senão quando se harmoniza com a vontade do Espirito Universal; ela será tanto mais forte, quanto menos a empregardes em benefício próprio e por isso deveis permanecer sempre obediente à lei. (…) Porém é lícito submeter a razão e a inteligência ao serviço e guia da força voluntária universal, já existente na Natureza para conduzi-la; assim podemos acelerar o ritmo da vida inconsciente de mais lento movimento, sem nosso auxílio ou intervenção”.

A Vontade apresentada por Hartmann não é a Vontade individual, apesar de atuar no individuo, é um princípio universal, análogo a Divina Providência. Como expresso por Paulo de Tarso: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gálatas 2:20). Desta forma, podemos entender a Vontade como uma Força Impessoal, como é invocada na Missa Gnóstica do Mestre Huiracocha: “Vem, Santo Querer, Divina Energia Volitiva. Transforma a minha vontade fazendo-a una com a Tua”.

Assim, para o Dr. Krumm-Heller, Thelema é a Vontade Divina Universal, na qual atua sobre toda existência. Como escrito por ele mesmo, Thelema é a Vontade atuante na Luz. E a Luz é o Cristo. A Vontade provém do Crestos Cósmico, a fonte universal que todos podem beber. A diferença entre Crowley e o Dr. Krumm-Heller é a origem dessa Vontade.

Para Crowley, a Thelema brota no próprio homem, “Todo homem e toda mulher é uma estrela” (AL I:3). Frater Achad escreveu o ensaio Passando do Velho ao Novo Aeon , no qual explica que a partir do momento em que o homem passar a se identificar com o Sol, ele passará a ser um Deus, pois será a fonte de luz:

“Você sabe o quão profundamente nós sempre ficamos impressionados com as ideias de Sol nascente e Sol poente, e como os nossos antigos irmãos, vendo o Sol desaparecer à noite e nascendo novamente na manhã seguinte, basearam as suas ideias religiosas neste conceito de um Deus Moribundo e Ressuscitado. Essa á a ideia central da religião do Velho Æon (…). O Sol não morre, como acreditavam os antigos; ele está sempre brilhando, sempre irradiando Luz e Vida. Pare por um momento e tenha uma clara concepção deste Sol, como Ele está brilhando já cedo pela manhã, brilhando ao meio-dia, brilhando à tarde e brilhando à noite. Você percebeu esta ideia claramente em sua mente? Você acabou de sair do Velho Æon e entrar no Novo.

Agora consideremos o que aconteceu. O que você fez para obter essa imagem mental do Sol sempre brilhante? Você se identificou com o Sol. Você saiu da consciência deste planeta; e por um momento você teve que se considerar um Ser Solar”.

No novo Aeon de Hórus, a era thelêmica, da criança conquistadora, todo homem e toda mulher passam a ser deuses, co-criadores do Universo.

THELEMA DO AEON DE HÓRUS OU DO LOGOS SOLAR

Primeiramente, devemos entender que a maioria das escolas esotéricas buscam fortalecer a Força de Vontade de seus membros. Mas a Vontade da Thelema não é o mesmo que Força de Vontade. Essa é uma característica psicológica do homem, não se compara a Thelema, que transcendente o mundo humano.

Percebemos que o Dr. Krumm-Heller também individualizou a Vontade Divina como ensinado pela Lei da Thelema. A busca por Cristo não é o mesmo que pregado nas Igrejas. A Fórmula da Thelema para o Aeon de Hórus é “Faze o que tu queres, há de ser o todo da Lei” (AL I:41) e foi modificada por Dr. Krumm-Heller para “Haz lo que quieras. Esta es la única Ley; pero piensa que de todos tus actos tienes que dar cuenta. Fíjate en esto, que lo que emana de esta Ley, arranca de estas 5 fuentes; ¡Luz! ¡Amor! ¡Vida! ¡Libertad! ¡Triunfo!” (tradução nossa: Faze o que tu queres. Está é a única Lei; porém pensa que tereis de dar conta de todos os seus atos. Atenta nisto, que a emanação desta lei brota destas cinco fontes: Luz, Amor, Vida, Liberdade e Triunfo!). Ou seja, mesmo que a fonte da Vontade seja externa ao homem, na figura do Crestos Solar, seu cumprimento depende de como o homem expressa isso, como é dito na advertência kármica do Mestre Huiracocha, tereis de dar conta do seus atos.

Por suas raízes no Teosofismo, vemos que a identificação com a divindade se faz no Eu Superior. A Thelema não brotaria nos corpos inferiores, pois como é dito por Crowley: “’fazer sua Vontade’ não é o mesmo que ‘fazer o que se deseja’. A Lei é a apoteose da liberdade; mas é também a mais estrita das injunções” (Liber II). Vivendo a Lei da Thelema, o Eu Superior atuaria sobre os corpos inferiores. Rudolf Steiner explica que o corpo astral, assim espiritualizado por um trabalho consciente do homem, será transformado naquilo que ele denominou de Personalidade Espiritual. Essa atuação será do Manas sobre o Corpo Astral, posteriormente, o Espírito Vital (budhi) será o Corpo Vital transformado e, por fim, o Homem Espirito (atmã), o Corpo Físico transformado. Vemos nisso grande proximidade  do conceito de Personalidade Espiritual com a Verdadeira Vontade.

Cristo é a Luz do Logos Solar e essa Luz modifica nosso Corpo Astral, tornando um Corpo Astral Cristificado. O Crestos Mediador. Com esse veículo chegamos ao Pai Solar. Crowley alude sobre isso:

“Tu deves (1) Descobrir qual é a tua Vontade. (2) Fazer aquela Vontade (a) de modo unidirecional, (b) desapego, (c) paz. Então, e somente então, tu estarás em harmonia com o Movimento das Coisas, tua vontade será parte de, e portanto igual, à Vontade de Deus. E já que a vontade é nada mais que o aspecto dinâmico do ser, e já que dois seres diferentes não podem possuir vontades idênticas; então, se a tua vontade for a vontade de Deus, Tu és Aquele”.

Concluímos, que a consciência Cristônica do Logos Solar não é a ética moralista pregada nas igrejas. Mas também não surge como revela Crowley. Seria como a experiência mística de Pentecostes ou de Paulo de Tarso. Nesse último, o próprio Cristo em espírito encontrou com Paulo nas portas de Damasco, ou seja, Cristo veio até ele. Nesse estado de União Mística com a Vontade Divina, muitos anos transcorreram até que Paulo se harmoniza completamente com a Divindade. Se Cristo pode expressar-se individualmente, então, há uma Verdadeira Vontade para cada ser humano.

ADENDO: AMOR E ÊXTASE

Os atos de Thelema são atos de amor. Crowley explica que a Vontade é a Lei e a natureza daquela Vontade é o Amor. Como dito no axioma: “Amor é a lei, amor sob vontade”. Mas este Amor é como se fosse um subproduto daquela Vontade; ela não contradiz nem substitui aquela Vontade (Liber II).

Explica São Tomás de Aquino, na Summa Theologiae, que o Amor produz o êxtase. Ora, sendo todo amor semelhante ao amor divino, resulta que todo amor causa o êxtase que faz meditar no ser amado e faz abstrair dos outros, levado para fora de si mesmo. Aqui lembramos do conceito Rosa-Cruz de Crowley, a união dos opostos, dos amantes em um amor orgástico. No livro Logos Mantram Magia, o Dr. Krum-Heller escreve: “Deus se manifesta sempre como Deus, mediante a linguagem e a escrita. O que no estado físico é o som ou tom, é o Êxtase no plano espiritual. O mais sublime é compreensão extática, como resultado ou síntese dela, é a ascensão à Deus” (tradução nossa).

No entanto, esse amor para o Dr. Krumm-Heller é o Amor Consciente. Como advertido por ele (“tereis de dar conta do seus atos”). Assim, como há uma busca para descobrir a Vontade Divina, há uma busca para descobrir o ritmo perfeito do Amor em cada ser. Finalizamos com um trecho do livro Biorritmo:

“Amem uns aos outros. Essa é a Lei Suprema, a Lei que tudo rege, que a tudo harmoniza (…). Mas é preciso não perder o nosso lema: Faz o que tu queres. Ou seja, faça tua vontade. Cumpra como entendas. Procede como quiser. Mas… sempre dentro desse grandioso mandamento do Amor. Nosso próprio Mestre, nosso Ego Interno, quer AMAR constantemente. Constantemente quer harmonia. Luta a todo o momento para encontrar sua nota (…). Até que um dia, uma delas, a mais preciosa, a única, vibrará em toda a sua extensão o ritmo do Amor” (tradução nossa).

Fonte: Texto de Acauã Alves Galvão.

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