sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Atavismo


Biologicamente, o atavismo é o reaparecimento de traços ancestrais e aspectos remotos da natureza humana. A palavra vem do latim atavus e estritamente refere-se a algo secular e hereditário, mas é comumente utilizada no ocultismo para apontar tanto o ancestral, quanto aquilo que não pode ser rastreado na gene e nem na história da humanidade, ou seja, a algo além da nosss própria realidade. O atavismo se encontra abaixo do radar eclesiástico pois se trata de uma ‘manifestação ancestral’ que muitas vezes ressurge mediante experiências isoladas, não algo que constitui fenômenos que possam ser provocados dentro de uma religião ou culto organizados, sendo mais uma anomalia de probabilidade do que uma prática com resultado formal.

O atavismo é um vórtice profundo que faz emergir aspectos primordiais do subconsciente criando um núcleo de energia senciente que percorre desde as primeiras linhas da natureza até a sua explosão na superfície da consciência. Nesse sentido, o atavismo pode ser interpretado tanto como uma Forma do Pensamento, uma zona de poder de magnitude maior como são os Éteres, quanto a manifestação de deuses e forças esquecidas como os da narrativa de Lovecraft sobre os Old Ones.

A visão de Grant sobre o atavismo é baseada na paleantropologia e tem forte influência dos estudos de Gerald Massey. Para Grant, o ressurgimento atávico era um impulso primordial de reunião com a fonte do ser que ocorria mediante a reversão da vontade e do desejo como forma de voltar paras as regiões do subconsciente. O simbolismo da bruxaria tradicional, da feitiçaria e magia, para ele era uma manifestação atávica desse impulso. A lua ligada aos êxtases noturnos, a dança de costas das bruxas e cântigos feitos ao contrário, para Grant representavam uma forma de reunião com o passado remoto. Muitas dessas práticas ritualísticas estavam ligadas à uma oposição ao curso do sol, remetendo a ideia de que a escuridão era a própria fonte para a qual o impulso atávico levaria ao reencontro. Podemos ver que as ideias os estudos de Massey na Seção 6 do Gênesis Natural dão fundamento para a praxis tifoniana sobre o atavismo como impulso de retorno a fonte desconhecida e coloca essa fonte como a escuridão à qual a luz se opõem:

O platonista Damascius relata que os egípcios colocaram a escuridão como o princípio de todas as coisas, a escuridão desconhecida, incompreensível e inconcebível, da qual a luz foi emanada. A escuridão primitiva ainda não era a de Orfeu e dos platônicos obscurecidos pelo excesso de luz. Eles vieram mais tarde distinguir dois tipos de escuridão, uma abaixo e a outra além da luz. A noite foi o primeiro ‘revelador’ da luz das estrelas e, portanto, uma forma de mãe, a mãe ( Mut) que é chamada de “amante da escuridão e aquela que traz a luz”. Na última das Lendas de Izdubar, a mãe de todos, Ishtar é “Aquela que é a Escuridão; aquela que é a noite, a Mãe, que dá a luz ao Alvorecer, Ela é a Escuridão”. A mãe no México, Cihuacohuatl, é a serpente feminina que gerou a luz, e ela é a mãe de gêmeos claros e escuros. Na sabedoria de Salomão é uma fase primordial personificada pela escuridão: “Ela é mais bonita do que o sol e acima do arranjo das estrelas. Não pode ser comparada com a luz, pois é antes disso – análogo à frase de Plutarco- antecessora a luz”. O eon ou a idade ( heh) é o dia, a eternidade é a noite.
As primeiras condições de existência observadas pelos homens primitivos foram precisamente aquelas que podiam imediatamente ser contempladas, a noite e o dia seguinte em uma alternância incessante. O início era a impenetrável escuridão da noite primitiva. A exclamação universal da mitologia é: “Havia Escuridão. “No começo, tudo era escuridão e a escuridão era tudo”. O homem primitivo saiu da noite, sua mente impressionou de forma indelével, tingida exatamente como seu corpo em uma escuridão natural, porque a influência da noite era a primeira a ser pensada conscientemente, a primeira coisa que chamou sua atenção e puxou o seu olhar para cima quando ele ainda estava se movendo mentalmente a quatro patas.

A fórmula thelêmica de ALHIM pode ser utilizada para entender os fenômenos primitivos e escuros do atavismo pois permite um contato ou varredura dos aspectos do Aeon da Mãe no subconsciente do indivíduo, principalmente aqueles em conflitos com o surgimento de personalidades mais humanizadas criadas para se oporem ao lado primitivo, como no caso de Sofia e muitos arquétipos patriarcais de deuses. Em Magick Em Teoria e Prática, Crowley descrevendo a fórmula de ALHIM nos dá uma melhor ideia disso:

“Alhim (אלהים ‒ Elohim) é a palavra exotérica para “Deuses”. É o masculino plural de um substantivo feminino, mas sua natureza é principalmente feminina. É um perfeito hieróglifo do número 5. Os elementos estão todos representados, como um Tetragrammaton, mas não há desenvolvimento de um para outro. Eles estão, por assim dizer, misturados – indisciplinados, simpatizando uns com os outros apenas em virtude de sua energia selvagem e tempestuosa, mas elasticamente sem resistência.

Além de ser parte dessa “energia selvagem e tempestuosa” que Crowley descreve – e que pode ser facilmente ligado aos fenômenos primários de ressurgência-, o atavismo também se encontra por detrás de muitas de nossas criações modernas. Spare no Livro dos Prazeres dá um exemplo de ressurgência atávia de ave se manifestando através da criação da tecnologia de máquinas voadoras.

Jacques Bergier - Melquisedeque

  Melquisedeque aparece pela primeira vez no livro Gênese, na Bíblia. Lá está escrito: “E Melquisedeque, rei de Salem, trouxe pão e vinho. E...