Nos seus estudos sobre Bruxaria e Magia na Europa, Daniel Ogden, Georg Luck, Richard Gordon e Valerie Flint, revelam, (Witchcraft and Magic in Europe – 1999), alguns dos princípios fundamentais sobre a forma como a bruxaria funciona.
Quando analisamos a bruxaria nas civilizações Egípcia, Grega e Romana da antiguidade, entendemos claramente e sem equívocos a forma como a bruxaria funciona e quais os meios pelos quais a bruxa consegue alcançar os seus temíveis resultados de bruxaria.
Verificamos assim ao analisar o fenómenos da bruxaria nas civilizações da antiguidade, que toda a bruxaria era operada através de maldições.
Nos tempos Greco-Romanos e Egípcios, existiam vários tipos de maldições lançadas de forma a atingir diversos objectivos.
Na antiguidade, ocorriam 5 tipos de objectivos de maldições na bruxaria da antiguidade:
1-litigio- realizadas para vencer litigios, seja em tribunais, na vida pessoal, ou social, ou na politica
2-competição - realizadas para vencer competições desportivas ou na arte
3-oficio - realizadas para vencer nos negocios, nos assunto profissionais e financeiros, etc.
4-erotica - realizadas para unir ou desunir pessoas, seja sentimentalmente seja sexualmente
5-justiça - realizadas para obter vingança
Facilmente podemos concluir que os objectivos da bruxaria são intemporais, e permanecem, ontem como hoje, inalterados.
As maldições que a bruxaria produzia nesses tempos, eram realizadas com as 5 finalidades acima descritas e no fundo, e como vamos compreender mais adiante, toda a bruxaria era, ( e ainda é e sempe será), feita com recurso a maldições que são materializadas com recurso á necromancia.
No entanto, veja-se que a maldição de que se falava na Antiguidade Clássica, na verdade correspondia a uma forma de bruxaria e nao exactamente ao conceito de maldição como hoje em dia é comummente entendido.
Hoje em dia quando falamos de «maldição», entendemos imediatamente tratar-se de uma especie de praga destinada a matar ou eliminar alguem.
No entanto, as maldições produzidas pela bruxaria, não tinham propriamente objectivo de matar, ( pelo menos, nem sempre...), mas antes elas podiam e eram direccionadas a causar um certo efeito na vida da pessoa visada.
Assim, estas maldições também não se destinavam a amaldiçoar permanentemente uma pessoa, família ou instituição, mas antes eram maldições temporárias, condenando alguém a fins como:
- ter um desejo sexual louco por uma certa pessoa; ou condenando alguem a perder uma causa na justiça; ou condenando alguem a perder um grande negocio em deterimento de outrem; ou condenando alguem a perder uma prova desportiva em deterimento de segunda pessoa; ou condenando alguem a casar com certa pessoa; etc.
As maldições eram inscritas em Placas de Maldições, ( que eram placas maleáveis como papiro, mas feitas de chumbo, ou entao mesmo em papairo tratado para esse especial fim), assim como em bonecas do tipo Vodu.
Na verdade, as bonecas tipo vodu são muito mais antigas do que comummente se julga.
Essas bonecas de maldições, onde eram trespassados alfinetes e inscritas tanto orações como os pedidos da bruxaria realizada, remontam ao antigo Egipto.
Exemplos delas podemos encontrar no museu do Louvre, onde ali estao exibidas bonecas usadas para fins magicos que remontam a II-III d.C. e mesmo periodos anteriores da antiguidade Egipcia.
As bonecas de vodu, como hoje sao conhecidas, eram denominadas «Kolossoi» entre os magos Gregos.
As maldições eram executadas através da boneca, torcendo das formas mais violentas os membros dessa, assim como horriveis mutilações. Nao se pretendia com isso mutilar a vitima, nem causar a destruição fisica do visado pela bruxaria, mas antes confundir os seus desejos, a sua vontade e os seus esforços, de forma a que se conseguisse obter um certo fim. Por exemplo:
- se se deseja uma mulher ou homem, pretende-se causar-lhe tal nivel de desnorte, que essa pessoa venha a cair nos braços de alguem sem saber como, tal a forma como fica fragilizado; Se se deseja ganhar um negocio a um competidor, o objectivo é torna-lo de tal forma confuso e sem forças, que ele perca controle da situação e seja vencido; etc....
Na Grecia e em Roma, era contudo mais frequente executar bruxaria atraves das Placas de Maldições, que eram folhas de chumbo preparadas para a realização de actos magicos e espirituais.
Os trabalhos de magia podiam igualmente ser executados em papiros preparados para esse efeito.
É curioso que todo o tipo de maldição inscrita nas placas ou bonecas, era denominada de «amarração».
O termo «amarração» advem do Grego «Katadesmos», «Katadesmoi», «Katadein».
O termo deriva de um verbo encontrado nas próprias placas de maldição e que significa «prender», «amarrar»,«restringir».
O termo é usado por Platão na sua obra «Republica», e refere-se tanto á forma fisica das placas de maldição, ( que sao «enroladas», como que «amarradas» sobre si mesmas quando o feitiço nelas inscritas esta redigido e concluido), como á própria função das mesmas placas, que é «restringir» a vida de alguem.
No latim, o termo provem de «defixio» que significa igualmente amarrar e que igualmente pode ser encontrado nas placas de maldição romanas.
Por isso, o trabalho a que actualmente chamamos «amarração», nao é na verdade um trabalho exclusivamente amoroso ou com fins eroticos, tal e qual hoje comummente é entendido.
Na verdade, todo o trabalho de bruxaria era feito por via de uma maldição, e todo esse trabalho por sua vez era denominado uma «amarração».
Explica-se:
- a amarração visava «amarrar» a pessoa visada pela bruxaria a um certo fim, a um certo destino.
Por isso se dizia que uma pessoa embruxada tinha sido «amarrada», pois a vida dessa pessoa tinha sido restringida de forma a que certo efeitos lhe sucedessem.
Daí o termo «amarração», que era igual a dizer que a pessoa fora «amarrada» ou «condicionada» de forma a que certos efeitos lhe sucedam na vida.
Na antiguidade, dizer que alguem tinha sido amarrado, era equivalente a dizer que alguem tinha sido embruxado, fosse para que finalidade fosse.
Mas o termo esoterico de «amarração» tem outra origem e explicação, esta talvez mais tecnica do ponto de vista da metodologia mistica.
Nesses tempos ancestrais, atraves do processo magico, entendia-se que a alma da pessoa visada pela bruxaria era amarrada a um espirito de um morto, sendo que o espirito desse morto iria ficar na vida da pessoa amaldiçoada, até que esse espirito do falecido fizesse cumprir o objectivo da bruxaria na vida dessa pessoa enfeitiçada.
Para melhor entender:
os cemiterios eram por isso tidos como locais ferteis para a pratica de bruxarias, porquanto neles abundavam espiritos de mortos.
A placa de maldição, onde estavam inscritas orações de conjuro, a maldição e o nome da vitima, era amarrada á mao do morto, ou amarrada ao corpo do morto.
Desta forma, procurava-se atraves de um metodo necromantico, que o espirito do defundo a quem a bruxaria foi amarrada, se encarregasse de ir para a vida da pessoa embruxada e cumprisse a missao que lhe foi encomendada.
No fundo, o contacto da placa de maldição com o morto, deveria atraves de um processo de necromancia, levar a vitima e ser restringida pela acção do espirito desse mesmo morto.
A vitima era quase sempre assinalada na Placa de Maldição pelo seu nome e pelo nome da sua mae, pois a mae era uma fonte segura de identificação certa da vitima, ao passo que a identificação do pai poderia levar a equivocos.
Dessa situação, falava o provebio latim, ao declarar: «Pater incertus, Mater certa».
As sepulturas eram os locais fundamentais para se proceder ao deposito das Placas de Maldiçao, e assim a completar execução de um trabalho de bruxaria por meios de uma maldição.
As sepulturas ou covas preferidas pelos bruxos, eram as de pessoa que tinham falecido tragicamente e vitimas de morte violenta.
Assim era praticado, pois diziam os velhos conhecimentos espirituais que as almas daqueles que morreram permaturamente vagueiam perto das suas covas em tormento e sem descanso, até que chegue a altura em que deveriam ter partido para o mundo espiritual. Até chegar essa hora, todos esses espiritos que vagueiam se descanso na terra, sao passiveis de serem facilmente invocados.
Tambem os campos de batalha, assim como os locais de execução de pessoas, ou mesmo os locais em que as pessoas tinham falecido sem oportunidade de se lhes oferecer os ultimos ritos de funeral, eram tambem outros dos mais poderosos locais para a execução de bruxarias na forma de maldições.
Como já foi explicado, sabia-se que a alma de pessoas que faleceram de morte violenta, ou que o espirito de pessoas que morreram permaturamente, iriam permanecer vaguendo por este mundo até que chegasse a hora em que deveriam na verdade ter falecido, e apenas nessa hora as ditas almas amarguradas abandonariam este mundo.
Como essas almas vitimas de morte violenta ou permaturas, faleceram antes dessa hora, dizia-se que esses espiritos estavam condenados a percorrer este mundo como fantasmas em tormentos. Ora, os campos de batalha e os locais de execução de criminosos eram locais ferteis em pessoas que tinham sido mortas de forma violenta e certamente abreviando a sua vida, ou seja, provavelmente em alguns casos seriam pessoas que faleceram antes da sua hora.
Sabia-se igualmente que mesma sorte sofrem aqueles que morreram sem oportunidade de se lhes prestar um funeral condigno e os ultimos ritos de enterro.
A esses, os Gregos denominavam «Atelestoi».
Ora, juntar ao cadaver dessas pessoas a Placa de Maldição com uma bruxaria ( sempre que possivel, a Placa de Maldição era amarrada ao defunto), era influenciar o espirito atormentado desse defundo a atormentar a vida da pessoa visada pela bruxaria, causando-lhe assim restrições. Essas restrições que a vitima iria sofrer, iriam a seu tempo conduzir á produção dos objectivos ditados pela magia que fora feita.
Se por exemplo uma maldição tinha sido lançada para que um desportista perdesse uma competição, o espirito do morto ao qual essa pessoa foi «amarrada» iria actuar na vida dessa mesma pessoa de forma a afectar-lhe e restringir-lhe a saude tanto psicologica como fisica. A seu tempo, a vitima acabava por ficar desconcentrada, descontrolada e mesmo fragilizada tanto mentalmente como fisicicamente,o que facilmente podia conduzir ao aparecimento de lesoes e subsequentemente á perda de uma competição. Por este breve exemplo, é facil entender como um espirito que foi «amarrado» á vida de uma pessoa, pode «restringir» essa mesma de forma produzir os efeitos desejados por uma maldiçao.
Ao espirito do atormentado era endereçado um pedido, e o atormentado iria fazer com que esse pedido fosse realizado na vida da vitima dessa bruxaria.
Tal como se pode verificar por todo o exposto, o termo «amarração» descrevia nao apenas uma bruxaria com fins sentimentais ou eroticos, mas antes tudo aquilo que era uma bruxaria.
Podemos mesmo concluir que o termo «amarração», nasce desta pratica magica de natureza necromante, ou seja, a bruxaria por via da qual uma maldição era «amarrada» a um morto, de forma a que o espirito desse morto fosse tambem «amarrado» á alma da pessoa atingida pela feitiçaria, de forma a que o espirito do morto «restringisse» a sua vitima e assim, fizesse cumprir na vida da mesma os fins a que o trabalho se propunha cumprir.
Como tambem podemos facilmente concluir, toda a bruxaria esta fortemente ligada á produção de maldições com fins especificos, e a execução dessas maldições é conseguida atraves de processos de necromancia, ou seja, por via da invocação dos espiritos de mortos.
E logo assim, entendemos que os espiritos dos mortos, uma vez «amarrados» á pessoa atingida pela bruxaria, causam nas suas vitimas uma acçao de «amarração», ou seja, «restringe»m a vida dessa pessoa de tal forma até que nela vao suceder os eventos enunciados pela maldição.
Eis como, na verdade, funciona a bruxaria.