sábado, 19 de dezembro de 2015

Annie Besant-O Homem E Os Seus Corpos Parte 3


OS CORPOS MENTAIS

Já estudamos suficientemente o corpo físico e o corpo astral do homem. Estudamos a parte visível e a parte invisível do corpo físico, nas suas funções sôbre o plano físico; seguimo-lo nos seus diferentes modos de atividade, analisamos a natureza do seu desenvolvimento e insistimos sôbre a sua purificação gradual. Depois, consideramos o corpo astral de modo idêntico, observamos igualmente o seu desenvolvimento e as suas funções e os fenômenos relacionados com a sua manifestação no plano astral, ocupandonos por fim da sua purificação. Assim obtivemos uma compreensão mais ou menos nítida acêrca das funções da atividade humana sôbre dois dos grandes planos do nosso universo.
Visto têrmos terminado esta parte do nosso estudo, passemos agora ao terceiro dos grandes planos, o mundo mental. Quando tivermos obtido algum conhecimento acêrca dêste plano, oferecer-se-nos-á à nossa observação uma tríplice região, constando dos mundos físico, astral e mental - o nosso globo e duas esferas que o circundam - uma região que constitui o teatro da atividade humana durante as suas encarnações terrestres e onde o homem também reside durante os períodos que se interpõem entre a morte que encerra uma vida terrestre e o nascimento que dá início a outra vida. Estas três esferas concêntricas formam a escola e o reino do homem; é aí que êle procede ao seu desenvolvimento;é aí que realiza a peregrinação do seu progresso; enquanto as portas da iniciação se não abrirem de par em par para lhe darem passagem, não poderá sair dêsses três mundos, pois para êle não há outro caminho.
O Devachân ou Devaloka, segundo o nome que lhe dão os teósofos, a terra dos deuses,a região feliz e bendita, como muitos lhe chamam nas tradições, acha-se incluída nesta terceira região que denominei mundo mental, não se identificando contudo com ela.
O Devachân é cognominado de região feliz, devido à sua própria natureza e condição que de modo nenhum se coadunam com a tristeza ou com a dor. Constitui um Estado especialmente protegido, onde não é permitida a entrada ao mal positivo; é um lugar de repouso e de bem-aventurança onde o homem assimila serenamente os frutos da sua vida física.
É mister acrescentarmos umas palavras de explicação acêrca do mundo mental, a fim de se evitarem confusões. Êste mundo se acha igualmente subdividido em sete subplanos,mas além disso oferece a particularidade de estas sete subdivisões se separarem em dois grupos distintos: um ternário e um quaternário. Os três subplanos "superiores" são denominados em linguagem técnica "arûpa", ou seja, sem corpo, devido à sua extrema sutileza, ao passo que os quatro inferiores se chamam "rûpa", ou seja, com corpo. O homem possui portanto dois veículos de consciência, nos quais é aplicável o têrmo "corpo  mental". Aplicá-lo-emos, porém, exclusivamente ao veículo inferior, porque o superior é conhecido sob o nome de corpo causal; mais adiante veremos as razões que determinaram esta designação. Os estudantes de teosofia devem familiarizar-se com a distinção entre o Manas Superior e o Inferior; o corpo causal pertence ao Manas Superior, ou seja, o corpo permanente do Ego, ou do homem, que persiste duma vida para a outra. O corpo mental é o do Manas Inferior, que continua a existir depois da morte e passa para o Devachân, acabando, porém, por se desagregar quando a vida na zona "rûpa" do Devachân chega ao seu têrmo.

a) O CORPO MENTAL. – Êste veículo da consciência humana compõe-se dos quatro subplanos inferiores do Devachân, aos quais pertence. Constitui o veículo especial da consciência nessa região do plano mental, mas a par disso também trabalha no corpo astral e através dêle no físico, produzindo tudo o que chamamos manifestações da inteligência no estado normal de vigília. Quando se trata de um homem pouco evoluído, êste corpo não pode, durante a vida terrestre, funcionar separadamente como um veículo da consciência no seu próprio plano, e quando êste homem exerce as suas faculdades mentais,é necessário que estas se revistam de matéria astral e física, para que êle adquira a consciência da sua atividade. O corpo mental é o veículo do Ego, do Pensador para todo o seu trabalho de raciocínio; mas durante os primeiros tempos do Ego, a organização dêsse corpo ainda é bastante imperfeita, o seu aspecto é fraco e indistinto como o corpo astral de um homem pouco evoluído.
A matéria de que se compõe o corpo mental é extremamente tênue e sutíl. Já vimos que a matéria astral é muito menos densa do que mesmo o próprio éter do plano físico.
Agora é mister dilatarmos ainda mais a nossa idéia acêrca da matéria, a fim de concebermos a existência de uma substância invisível tanto à visão astral como à física, demasiado sutil para ser distinguida mesmo pelos "sentidos internos" do homem. Esta matéria pertence ao quinto plano do universo, contando de cima para baixo, ou ao terceiro plano, contando de baixo para cima. Nesta matéria o Ego manifesta-se como inteligência, e no que se lhe segue mais abaixo (o astral), manifesta-se como sensação. O corpo mental apresenta uma particularidade ao mostrar a sua parte exterior na aura humana; à medida que o homem, na série das suas encarnações, se vai desenvolvendo progressivamente, o corpo mental cresce, aumenta em volume e em atividade. Constitui isto uma particularidade que até aqui se nos não tinha deparado.
Em cada encarnação é fabricado um corpo físico, que varia segundo a nacionalidade e o sexo; quanto às suas proporções, calculamos que tenham sido sempre mais ou menos idênticas desde o tempo dos Atlantes até aos nossos dias. O corpo astral, como observamos, desenvolve-se na sua organização, à medida que o homem progride. Mas o corpo mental, êsse aumenta literalmente em volume com a evolução progressiva do homem.
Se observarmos uma pessoa muito pouco evoluída, notaremos que o seu corpo mental dificilmente se distingue; acha-se tão fracamente desenvolvido que só à custa dum esfôrço se consegue vê-lo. Se olharmos em seguida para um homem mais adiantado, que  embora ainda não seja espiritual já tenha desenvolvido as faculdades mentais e educado a inteligência, veremos que o corpo mental dêsse homem se esforça por adquirir um desenvolvimento muito definitivo, e graças à sua organização, reconheceremos que se trata dum veículo da atividade humana. Constitui um objeto de contornos claros e nítidos, formado de material delicadíssimo, dotado de côres admiráveis, vibrando incessantemente com uma enorme atividade, cheio de vida e de vigor, sendo a verdadeira expressão da inteligência no mundo da inteligência.
A sua natureza, portanto, é uma essência sutil; as suas funções consistem em ser veículo imediato onde o Ego se manifesta como inteligência; quanto ao seu desenvolvimento,o corpo mental progride vida após vida, proporcionalmente ao desenvolvimento intelectual; e a sua organização também se vai tornando mais perfeita e definida, à medida que as qualidades e os atributos da inteligência se tornam mais conspícuos e distintos. Não constitui, como o corpo astral, uma cópia exata do homem, quando trabalha de acordo com os corpos astral e físico. Pelo contrário, tem uma forma oval e penetra, é claro, nos corpos físico e astral, envolvendo-os na sua atmosfera resplandecente, que tende sempre a aumentar com o progressivo desenvolvimento intelectual. É escusado dizer que esta forma ovóide vai-se tornando um objeto admirável de beleza, à medida que o homem desenvolve as faculdades superiores da inteligência; a visão astral não o atinge, só se dá a conhecer à visão mais elevada que pertence ao mundo mental. Um homem vulgar que vive no mundo físico não vê nada do mundo astral, embora nêle se ache imerso, até o dia em que despertam os seus sentidos astrais. Do mesmo modo, o homem que só tem os sentidos físicos e astrais em atividade não pode discernir o mundo mental, nem as formas compostas dessa matéria, a não ser que êsses sentidos despertem nêle; e contudo o mundo mental o envolve de todos os lados.
Êstes sentidos mais penetrantes, que pertencem ao mundo mental, diferenciam-se muito daqueles com que aqui nos familiarizamos. A palavra "sentidos" não é bem aplicada,pois devíamos dizer "sentido" isto é, no singular. Dir-se-ia que o espírito se põe em contato com as coisas do seu mundo, como se estivesse à sua superfície. Não existem órgãos especiais da vista, do ouvido, do tato, do gôsto e do olfato; as vibrações que aqui devíamos receber por meio de órgãos distintos dos sentidos, produzem imediatamente tôdas as suas diferentes impressões, assim que entram em contato com o espírito. O corpo mental recebe-as tôdas ao mesmo tempo e tem, por assim dizer, a recepção completa de tudo que consegue impressioná-lo.
Não é fácil exprimir claramente por palavras a maneira como êste sentido recebe um agregado de impressões sem confusão. Para tornar isto mais compreensível, talvez seja melhor dizer que, se um estudante treinado entra nessa região e aí se comunica com outro estudante, o mental fala simultâneamente por meio de côres, sons e formas, de modo que um pensamento completo é transmitido sob a forma duma imagem colorida e musical,em vez de se transmitir só um fragmento por meio de símbolos que denominamos palavras, como aqui fazemos. Certos leitores talvez tenham ouvi do falar de livros antigos  escritos pelos grandes Iniciados em linguagem colorida, a linguagem dos deuses. Muitos chelas conhecem esta linguagem, cujas formas e côres são extraídas da "linguagem" do mundo mental; as vibrações dum único pensamento produzem forma, côr e som. É mister compreender que a inteligência não pensa uma côr, um som ou uma forma, mas, sim, pensa um pensamento, uma vibração complexa em matéria sutil, e êsse pensamento é expresso de tôdas estas maneiras pelas vibrações produzidas. A matéria do mundo mental emite constantemente vibrações, que dão origem a estas côres, a êstes sons, a estas formas; quando um homem funciona no mundo mental independentemente do mundo astral, e do físico, liberta-se das limitações dos seus órgãos dos sentidos, e sente simultâneamente,em todos os pontos do seu ser, as vibrações que no mundo inferior se lhe apresentariam distinta e separadamente.
Mas quando um homem pensa no estado de vigília, e trabalha por intermédio dos seus corpos físico e astral, êsse pensamento então dimana do corpo mental, e passa depois para o corpo astral e por último para o físico; é sempre no mental que os pensamentos têm a sua origem, isto é, o corpo mental constitui o agente do pensamento, a consciência que se arroga o título de "eu". Êste "eu" ilusório, porém, é o único "eu" que a maioria das pessoas conhece. Quando nos ocupamos da consciência do corpo físico,vimos que o homem propriamente dito não tinha a consciência de tudo quanto se passava no corpo físico; as suas funções não dependiam tôdas dêle; era-lhe impossível pensar como as células minúsculas pensavam; na realidade não partilhava da consciência do corpo, considerado como um todo. Mas quando se trata do corpo mental, temos ante os olhos uma região que se identifica tão estreitamente com o homem que até parece ser êle mesmo. "Eu penso", "eu sei", será possível ultrapassar isto? O mental é o Ego no corpo mental e é isso que para muitos constitui o objetivo da busca do Eu. Porém isto só é verdadeiro se nos limitamos ao "estado de vigília". Quem souber que a sua consciência, no "estado de vigília", assim como as sensações do corpo astral, só constituem uma etapa da nossa jornada à busca do Eu; quem tenha aprendido a ir além do corpo astral, compreenderá que esta inteligência por sua vez constitui simplesmente um instrumento do homem verdadeiro. Contudo, como já dissemos, a maioria dos homens não separa, não pode separar em pensamento o homem do seu corpo mental que se lhes afigura ser a sua mais alta expressão, o seu veículo mais perfeito, o "eu" mais elevado que lhes é dado atingir ou conceber. Ora, isto é perfeitamente natural e inevitável, visto o indivíduo, o homem, principiar nesta altura da sua evolução a vivificar êste corpo e a torná-lo eminentemente ativo. Em tempos remotos vivificou o corpo físico fazendo dêle um veículo de consciência e presentemente faz uso dêle com a máxima naturalidade. Vivifica atualmente o corpo astral dos membros atrasados da raça, mas numa grande maioria de casos êste trabalho já se acha realizado, pelo menos em parte. Na nossa Quinta Raça, o homem ocupa-se do corpo mental, e a humanidade agora devia dedicar-se especialmente à construção e à evolução dêste corpo.
Temos portanto o máximo interêsse em compreender a maneira como o corpo mental é construído e como se desenvolve. Desenvolve-se graças ao pensamento. Os nossos pensamentos são os materiais de que nos servimos para construir êste corpo mental. Na realidade construímos o mental quotidianamente, durante cada mês, cada ano da nossa vida, pelo exercício das nossas faculdades mentais, pelo desenvolvimento do nosso poder artístico e das nossas emoções elevadas. Se não exercerdes as vossas faculdades mentais; se, no que diz respeito aos vossos pensamentos, vos contentais unicamente em ser o receptáculo e nunca o criador dêles; se aceitais constantemente o que de fora vos dão, sem nunca tentardes formar qualquer coisa no vosso íntimo; se durante a vida só souberdes recolher os pensamentos dos outros; se o vosso conhecimento acêrca dos pensamentos se limitar a isso, nesse caso passar-se-ão vidas e vidas sem que o vosso corpo mental se desenvolve; partireis e tornareis a voltar, vida após vida, sem que nenhuma modificação se produza no vosso corpo mental; sereis invariàvelmente um indivíduo rudimentar, não evoluído. Pois só exercendo a própria inteligência, utilizando as suas faculdades dum modo produtivo, exercendo-as, trabalhando com elas, exigindo delas um esfôrço contínuo, só assim é que o corpo mental se desenvolve, só assim é que a evolução verdadeiramente humana pode seguir o seu caminho.
Logo que principiardes a compreender isto, tratareis provàvelmente de modificar a atitude geral da vossa consciência no que diz respeito à vida quotidiana; principiareis a observar a sua maneira de funcionar e então logo vos apercebereis que a maior parte dos vossos pensamentos não são vossos; são os pensamentos de outras pessoas que acolhestes pressurosamente; pensamentos que surgem, não sabeis como; pensamentos que vêm, não sabeis de onde; pensamentos que novamente desaparecem, e cujo destino ignorais; e sentireis, com certa amargura e desapontamento, que a vossa inteligência, em vez de estar altamente evoluída, não passa afinal de uma encruzilhada onde os pensamentos perpassam ligeiros. Tentai a experiência, vós que me ledes, e vêde se todo o conteúdo da vossa consciência vos pertence ou se a maior parte não consiste unicamente de coisas emprestadas. Interrompei-vos subitamente durante o dia e observai os vossos pensamentos nessa ocasião; o mais provável é descobrirdes que não pensáveis em coisa nenhuma - muito freqüente - ou então pensáveis de modo tão vago que a impressão recebida pelo princípio mental que em vós existe seria quase nula. Quando tiverdes feito esta experiência várias vêzes, o que vos ajudará a obter uma consciência cada vez mais nítida acêrca de vós mesmos, principiai então a analisar os pensamentos que se acham na vossa consciência e procurai a diferença entre a sua condição à entrada e à saída, isto é, o que vós haveis acrescentado a êsses pensamentos durante a sua estada na vossa consciência. A vossa mentalidade tornar-se-á assim realmente ativa e começará a exercer o seu poder criador. Se formos sensatos, servir-nos-emos do seguinte processo: primeiro escolheremos os pensamentos que acharmos dignos de permanecer em nossa mente, sempre que descobrirmos um pensamento bom, consagrar-lhe-emos tôda a nossa atenção, alimentá-lo-emos, fortalecê-lo-emos, faremos o possível por tornar o seu conteúdo ainda mais valioso a fim de o enviarmos para o mundo astral na qualidade de agente benfazejo. E se encontrarmos um pensamento maligno na mente, apressar-nos-emos a afugentá-lo. O resultado de só acolhermos pensamentos bons e úteis e de nos recusarmos a admitir pensamentos maus, será afluírem à nossa mente cada vez mais pensamentos bons, ao passo que os maus se abstêm de aparecer. O nosso mental, repleto de pensamentos bons e úteis, atuará como um ímã sôbre todos os pensamentos semelhantes que nos circundam; quanto aos pensamento maus, sentir-se-ão repelidos por uma ação automática da própria mente, visto nos recusarmos obstinadamente a admiti-los. A característica do corpo mental será portanto atrair todos os pensamentos bons que erram na atmosfera e repetir todos os pensamentos perversos; submeter os bons a um processo de aperfeiçoamento, tornando-os mais ativos e assim se irá enriquecendo com o material mental acumulado dêste modo, ano a ano. Quando o homem finalmente se desembaraça dos seus corpos físico e astral e penetra no mundo mental, far-se-á acompanhar de todos êstes tesouros amontoados durante a vida terrestre; o conteúdo da inteligência achar-se-á transportado à região a que pertence e o homem empregará a sua vida devacânica a transformar em faculdades e podêres todos os materiais mentais acumulados no mundo físico.
Ao acabar o período devacânico, o corpo mental transmitirá ao corpo causal permanente as características assim formadas, a fim de serem transportadas para a próxima encarnação. Quando o homem regressar, estas faculdades revestir-se-ão da matéria dos planos rupa do mundo mental, a fim de formarem um corpo mental cujo desenvolvimento e organização sejam mais perfeitos, e que é destinado à próxima vida terrestre. Manifestar-se-ão enfim ao passar pelos corpos astral e físico, sob a forma das "faculdades inatas"que as crianças trazem ao nascer. Durante a vida presente acumulamos materiais segundo a maneira acima descrita; durante a vida devacânica transformamos êstes materiais,de esforços separados de pensamento que eram, em faculdade de pensamento, em podêres e faculdades mentais.
É esta a enorme transformação efetuada durante a vida devacânica e visto que êste trabalho se acha previamente limitado pelo uso que faremos da vida terrestre, será bom não pouparmos desde já os nossos esforços. O corpo mental da próxima encarnação depende do trabalho que efetuamos no corpo mental atual; concebe-se, pois, quanto é imensamente importante para a evolução do homem o uso que agora faça do seu corpo mental; é êle que fixa os limites da atividade humana no Devacã, e por conseguinte, é êle que fixa também os limites das qualidades mentais que o acompanharão na sua próxima vida terrestre. Tanto nos é impossível isolar uma vida de outra vida, como criar milagrosamente qualquer coisa. O carma traz-nos a colheita proporcionada ao que semeamos; será parca ou abundante segundo os cuidados que o lavrador dispensou às sementes e à lavoura.
Talvez compreendamos melhor a ação automática do corpo mental, a que já acima nos referimos, se considerarmos a natureza dos materiais de que necessita para a sua construção. O Mental Universal com o qual se acha ligado na sua natureza íntima, constitui,sob o seu aspecto material, o depósito onde êle obtém êstes materiais. Dão origem a todos os gêneros de vibrações, variando em qualidade e em poder segundo as combinações produzidas. O corpo mental atrai automàticamente a matéria suscetível de manter as combinações já nêle existentes, pois tanto no corpo mental como no corpo físico se produz uma troca incessante de partículas, de modo que cada partícula ao desaparecer cede logo o seu lugar a outra partícula semelhante. Se o homem descobre em sua mente tendência malévola e se põe em campo para as modificar, essa sua resolução dá origem a novas vibrações às quais o corpo mental, habituado a responder só às antigas, resiste com tenacidade, causando portanto conflitos e sofrimentos. Mas, gradualmente, as velhas partículas são expelidas e substituídas por outras que respondem às novas vibrações (partículas atraídas automàticamente em virtude da sua própria afinidade) e o corpo mental muda de caráter, muda mesmo de materiais, e as suas vibrações acabam por repelir o mal e atrair o bem. Disto resulta a extrema dificuldade dos primeiros esforços, que são combatidos pelo mental sob o seu antigo aspecto; e disto provém igualmente a facilidade cada vez maior com que nos é dado pensar com sensatez, à medida que o mental se vai transformando, e finalmente a espontaneidade e o prazer que acompanham êste nôvo modo de exercer atividade.
Existe outro modo de auxiliar o desenvolvimento do corpo mental: a prática da concentração.
A concentração é a arte de fixar a mente num ponto e conservá-la aí firmemente, não lhe permitindo que erre ao acaso e sem destino. Devemos educar a nossa mente a pensar duma maneira firme e consecutiva, devemos evitar que as nossas energias mentais se esbanjem em mil pensamentos insignificantes, e que pousem frìvolamente agora nisto, logo naquilo. Um bom exercício a aconselhar é seguir um raciocínio contínuo, no qual cada pensamento emerge naturalmente do pensamento que o precedeu, fazendo assim com que se desenvolva gradualmente as qualidades intelectuais que dão aos nossos pensamentos uma seqüência rigorosa e portanto essencialmente racional. Enquanto o mental assim funciona, seguindo os pensamentos com ordem e método, à medida que se sucedem uns aos outros, adquire simultâneamente novas fôrças que o tornam um instrumento digno para o trabalho ativo do Ego no mundo mental. Êste desenvolvimento do poder de pensar com concentração e seqüência manifestar-se-á no corpo mental cujos contornos se tornarão definidos, o seu rápido progresso, no equilíbrio e na firmeza das suas faculdades; todos os esforços serão compensados pelos progressos que dêles resultam.

b) O CORPO CAUSAL. – Ocupemo-nos agora do segundo corpo mental, que designamos sob o seu nome distintivo de: "corpo causal". Damos-lhe êste nome em virtude de nêle residirem tôdas as causas cujos efeitos se manifestam nos planos inferiores. Êste corpo é "o corpo de Manas", o aspecto "forma" do indivíduo, do verdadeiro homem. Constitui o receptáculo, o reservatório, onde todos os tesouros do homem se acham acumulados para a eternidade e vai-se sempre desenvolvendo mais e mais, à medida que a natureza inferior lhe transmite coisas dignas de nêle serem incorporadas. É no corpo causal que são assimilados todos os resultados duráveis da atividade humana; é nêle que se acham armazenados os gérmens de tôdas as qualidades, a fim de serem transmitidos à próxima encarnação; portanto, as manifestações inferiores dependem inteiramente do progresso e do desenvolvimento dêste homem "cuja hora nunca soa".
Como já acima dissemos, o corpo causal é o aspecto "forma" do indivíduo. Visto só nos ocuparmos aqui do ciclo humano atual, diremos que antes da sua aparição, o homem não existe. Podem existir os tabernáculos físico e etérico já preparados para a sua vinda;as paixões, as emoções, os apetites podem-se acumular gradualmente, a fim de formar a natureza kâmica no corpo astral; porém o homem não existe enquanto não se tenha efetuado o desenvolvimento do ser através dos planos físico e astral, e enquanto a matéria do mundo mental não tenha principiado a evidenciar-se nos corpos inferiores evoluídos.
Quando a matéria do plano mental principia a evoluir lentamente graças ao poder do Ego que prepara a sua própria residência, produz-se um transbordar do grande oceano do Atma-Búddhi, que paira constantemente sôbre a evolução do homem. Esta corrente ascende de matéria mental em evolução, une-se a ela, fecunda-a e gera o corpo causal do indivíduo. As pessoas que conseguem ver nessas regiões elevadas, dizem que êste aspecto "forma" do verdadeiro homem se assemelha a um véu tenuíssimo, de matéria infinitamente sutil, quase invisível, demarcando o ponto em que o indivíduo dá início à sua vida separada, Êsse véu delicado e incolor, de matéria sutil, é o corpo que perdura durante tôda a evolução humana, o fio que sustém e liga entre elas tôdas as vidas humanas, o Sûtrâtma reencarnador, o “fio ego”. Constitui receptáculo de tudo quanto está de acôrdo com a Lei, de todos os atributos nobres e harmoniosos e por conseguinte duráveis. É nêle que se nota o desenvolvimento do homem, o grau de evolução que atingiu. Cada pensamento nobre, cada emoção elevada e sublime ascende até êle, a fim de ser assimilada na sua substância.
Consideremos a vida de um homem vulgar e vejamos que elementos pode fornecer para a construção do corpo causal. Êste, imaginá-lo-emos sob o aspecto dum véu tenuíssimo; deve ser fortalecido, deve revestir côres admiráveis, deve-se tornar exuberante de vida, resplandecente, sublime, tomando proporções cada vez mais vastas, à medida que o homem progride e se desenvolve. O homem, quando ainda se acha no princípio da sua evolução, não mostra muitas qualidades mentais; pelo contrário, manifesta sobretudo paixões e apetites. Só deseja, só procura sensações. É como se esta vida íntima do homem projetasse uma pequena porção da matéria delicada de que é composta, em volta da qual o corpo mental se forma; por sua vez o corpo mental prolonga-se até ao corpo astral, entra em contacto com êle, e forma assim uma ligação, uma espécie de ponte pela qual tudo quanto pode passar, passa. Por meio dessa ponte o homem manda os seus pensamentos para o mundo das sensações, das paixões da vida animal, e os pensamentos confundemse com estas paixões e emoções animais. Dêste modo, o corpo mental confunde-se com o corpo astral, e os dois aderem tão fortemente um ao outro que só com dificuldade se separam quando a morte sobrevém. Porém se, durante a sua vida nestas regiões inferiores,o homem emitir um pensamento desinteressado, um pensamento que preste auxílio a um ente querido; se fizer um sacrifício para servir um amigo, produz com isso uma obra durável, uma obra que consegue viver, visto pertencer à natureza do; mundo superior; uma obra que pode elevar-se até ao corpo causal e incorporar-se na sua substância, tornando-o mais belo, dotando-o talvez do seu primeiro tom de côr viva. A vida inteira do homem pouco evoluído só poderá produzir provàvelmente um número limitado dêstes  resultados duráveis, que servem para alimentar o corpo causal. Êste progresso, portanto,é muito lento, porque todo o resto da sua vida não contribui para nada. Os gérmens das suas tendências malignas, produzidas pela ignorância e alimentadas pela prática, são atraídos intimamente e mergulhados numa inércia latente, quando o corpo astral que os recolheu e lhes deu forma, se dispersou no mundo astral. São atraídos intimamente para o mundo mental e aí jazem num estado latente, carecendo de meios de expressão no mundo devacânico; quando o corpo mental por sua vez expira, êstes gérmens penetram no corpo causal e aí permanecem, sempre latentes, num estado de animação suspensa.
Quando, por fim, o Ego atinge o mundo astral, ao regressar à vida terrestre, os gérmens retomam nova vida e são arremessados a fim de reaparecerem na criança sob a forma de tendências malignas. Portanto, podemos considerar o corpo causal como o receptáculo tanto do mal como do bem, visto constituir tudo o quanto resta do homem depois da dispersão dos veículos inferiores; mas o bem é assimilado na sua textura e ajuda-o a desenvolver-se,ao passo que o mal (salvo o caso excepcional que vamos mencionar) permanece no estado de gérmen. Porém, se o homem põe o seu pensamento ao serviço do mal, então inflige ao corpo causal um dano consideràvelmente maior do que se deixasse o mal existir de um modo latente, como gérmen de tristeza e pecado futuros. Além de não ajudar o desenvolvimento do homem verdadeiro, o mal pode, por assim dizer, arrastar e comprometer uma parte do próprio indivíduo; para obter êste resultado, basta ser sutil e persistente. Se o vício persistir, se o mal fôr incessantemente praticado, o corpo mental confunde-se de tal maneira com o corpo astral que lhe é impossível libertar-se dêle inteiramente,chegando mesmo a perder uma parte da sua própria substância, e quando o astral se dispersa, a substância mental regressa à matéria universal, abandonando o indivíduo para sempre.
O véu tênue, semelhante a uma bola de sabão, que constitui o corpo causal, pode portanto tornar-se mais vago, mais rarefeito, em virtude duma existência depravada; não é só o seu desenvolvimento que se atrasa, mas a sua própria constituição sofre uma grande alteração, tornando as suas funções de assimilação mais penosas. Numa palavra,a sua capacidade de se desenvolver parece, até certo ponto, atrofiada. Na maioria dos casos, o dano infligido ao corpo causal não passa disto.
Porém, quando o Ego se tornou poderoso em vontade e inteligência, sem aumentar simultâneamente o seu desinterêsse e o seu amor; quando se contrai em volta do seu centro em vez de se expandir à medida que se desenvolve; quando se faz rodear duma muralha de egoísmo e se serve do seu poder para satisfazer a ambição do seu "eu" em vez de o pôr ao serviço do todo; nestes casos é que surge a possibilidade dum mal mais terrível e mais profundo a que tantas tradições sagradas aludem: a possibilidade do Ego se revoltar conscientemente contra a Lei, lutando com firmeza contra a evolução. Sob a influência das vibrações do intelecto e da vontade, orientada ùnicamente para fins egoístas, o corpo causal reveste-se de côres escuras que resultam da contração e perde o resplendor deslumbrante que constituía o seu atributo característico. Não é um Ego medìocremente evoluído, nem defeitos passionais ou mentais vulgares que podem produzir tamanho mal. Só um Ego com uma evolução muito elevada, cujas energias se manifestem poderosamente no plano manásico, poderá causar semelhante catástrofe. E é por isso que a ambição, o orgulho e os podêres da inteligência aplicados exclusivamente a fins egoístas se tornam mil vêzes mais perigosos, mais mortíferos nas suas conseqüências do que os defeitos mais palpáveis da natureza inferior; o "fariseu" acha-se muitas vêzes mais afastado do "reino de Deus" do que "o publicano e o pecador". É a esta classe que pertence o "feiticeiro negro", o homem que subjuga as suas paixões e os seus desejos, que desenvolve a vontade e os altos podêres da inteligência a fim de se apoderar de tudo para si, para o seu "eu", e não para auxiliar, cheio de júbilo, a evolução do todo. A sua divisa é: tudo para êle, nada para os outros. Êstes homens esforçam-se por manter a separação contra a união; o seu objetivo é atrasar a evolução, em vez de acelerá-la; por isso vibram em discordância com o todo, em vez de vibrarem em uníssono; por isso se acham ameaçados do dilaceramento do seu Ego, desgraça horrível que significa a perda de todos os frutos da evolução.
Todos aquêles que tenham principiado a compreender ligeiramente a natureza e as funções do corpo causal, podem considerar o seu desenvolvimento como o principal objetivo da sua vida; podemos esforçar-nos por pensar desinteressadamente, e contribuir assim para o seu progresso e para a sua atividade. Esta evolução do indivíduo prossegue invariàvelmente, vida após vida, século após século, milênio após milênio; ativando o seu desenvolvimento com os nossos esforços conscientes, trabalhamos em harmonia com a vontade divina e executamos a obra de que fomos incumbidos neste mundo. O mínimo pensamento bom, tôda a ação boa entram no tecido dêste corpo causal e nunca mais se perdem; tudo quanto é bom permanece intacto porque êste é o homem verdadeiro, que vive eternamente.
Vemos, portanto, que, segundo a lei da evolução, tudo quanto é mau, embora pareça momentâneamente poderoso, contém em si próprio o gérmen da sua destruição, ao passo que tudo quanto é bom possui a semente da imortalidade. Isto explica-se pelo fato de todo o mal ser desarmônico, e de estar em oposição com a lei cósmica; portanto, essa mesma lei, mais tarde ou mais cedo, esmagará inexoràvelmente o mal e reduzi-lo-á ao nada. Pelo contrário, tudo quanto fôr bom, visto estar em harmonia com a lei, é por ela transportado, impelido para diante. Fica fazendo parte da corrente da evolução do "não sei quê, que tende para a perfeição e que está muito além de nós" e por isso nunca pode perecer, nunca pode ser destruído. Nisto consiste não só a esperança do homem, mas também a certeza do seu triunfo final; por muito lento que seja o progresso, essa certeza não o abandona; por muito longo que seja o caminho, tem um fim. O indivíduo que é o nosso Ego vai sempre evoluindo e agora não pode ser inteiramente destruído; embora nós muitas vêzes sejamos a causa de que o progresso vá mais lentamente do que seria para desejar, é contudo certo que tudo quanto fazemos para contribuir para êsse progresso, todos os nossos esforços, por muito humildes que sejam, perduram eternamente e constituem nosso legítimo bem por todos os séculos futuros.