sábado, 19 de dezembro de 2015

Annie Besant-O Homem E Os Seus Corpos Parte 4



OS OUTROS CORPOS

Ainda nos podemos elevar mais um passo; porém a região onde penetraremos é tão sublime que até mesmo à nossa imaginação se torna quase inacessível, pois o próprio corpo causal não é tudo quanto há de mais elevado e o "Ego Espiritual" não é Manas,mas, sim, Manas unido a Búddhi, por êle absorvido. É isto que constitui o ponto culminante da evolução humana, é aí que a roda dos nascimentos e das mortes finalmente fica estacionária. Vamos tratar dum plano superior àquele que acabamos de estudar, designado às vezes pelo nome de Turiya ou plano de Buda. Neste plano, o veículo da consciência é o corpo espiritual, o Anandamayakosha, ou corpo de bem-aventurança, para o qual os iogues podem passar, a fim de gozarem da eterna bem-aventurança dêsse mundo sublime e conceberem na sua consciência essa Unidade fundamental que passa a ser um fato da experiência direta, em vez de se restringir a uma crença intelectual. Muitos de nós talvez já tenham lido livros que tratam duma certa época futura em que o homem terá adquirido tesouros de amor, sabedoria e poder; em que lhe será dado passar pelo grande portal da Iniciação que marca uma fase decisiva na sua evolução. Ao passar por êsse portal, guiado pelo seu Mestre, o homem eleva-se pela primeira vez até o corpo espiritual, a fim de nêle gozar da unidade que constitui a base de tôda a diversidade do mundo físico, e de tôda a sua separatividade, assim como da separatividade do plano astral e até mesmo da região mental. Só quando êstes ficam para trás e o homem se eleva acima dêles, revestido do seu corpo físico, só então constata, pela experiência direta, que a separatividade pertence unicamente aos três mundos inferiores, que êle se acha munido a todos os seus semelhantes e que, sem perder noção do Ego, a sua consciência se pode expandir e abarcar a consciência dos outros, identificando-se com todos êles. É essa a união a que o homem aspira sem cessar, a união que sentiu ser verdadeira e que nunca conseguiu realizar nos planos inferiores; no plano onde agora se encontra, essa união sublime reina soberana; nunca os seus sonhos mais ousados tiveram uma realização tão completa: o seu "Eu" mais íntimo funde-se, torna-se "uno" com a humanidade.

a) CORPOS TEMPORÁRIOS. – Ao passarmos em revista os corpos do homem, não nos devemos esquecer de mencionar certos veículos temporários que, devido ao seu caráter especial, se podem chamar artificiais. Quando o homem principia a deixar o corpo físico,pode fazer uso do corpo astral, mas enquanto funcionar neste veículo, não pode ultrapassar os limites do mundo astral. É-lhe contudo possível servir-se do corpo mental (o Manas inferior) a fim de penetrar no mundo mental, e êste veículo permitir-lhe-á também percorrer livremente os planos físico e astral. A êste corpo dão freqüentemente o nome de Mâ-yâvi Rûpa ou corpo de ilusão; é, por assim dizer, o corpo mental transformado, para servir  de veículo à atividade separada do indivíduo. O homem arranja o corpo mental à sua imagem,à sua semelhança e nesta forma temporária e artificial pode percorrer livremente os três planos e ultrapassar os limites a que o homem vulgarmente se acha cingido. É a êste corpo que os livros teosóficos se referem freqüentes vêzes; o corpo em que uma pessoa pode viajar, percorrer terras, penetrar no mundo mental, a fim de aí aprender novas verdades, adquirir nova experiência e voltar ao estado de vigília munido de todos os tesouros assim acumulados. A principal vantagem dêste corpo superior é êle não estar sujeito no mundo astral às decepções e ilusões contra as quais o corpo astral só dificilmente se pode defender. Os sentidos astrais que não foram educados, induzem-nos muitas vêzes a erros; é mister adquirir muita experiência, antes de nos fiarmos nas suas indicações.
Êste corpo mental temporàriamente formado acha-se fora do alcance dessas decepções; vê e ouve com rigorosa nitidez; não há ilusões nem alucinações astrais que o consigam enganar. É êste o motivo por que êste corpo é es colhido de preferência por aquêles que se habituara, a estas peregrinações; formam-no quando dêle precisam, abandonam-no depois de se terem servido dêle. Graças a êle, o estudante aprende muitas lições que de outro modo nunca chegaria a aprender; recebe ensinamentos Ide que ficaria privado se não fôsse êsse auxílio.
Tem-se dado o nome de Mâyâvi Rûpa a outros corpos temporários, mas achamos preferível restringir êste têrmo ao corpo acima descrito. Um homem pode aparecer a certa distância num corpo que na realidade não é um veículo da consciência, e sim um pensamento revestido da essência elemental do plano astral. Êstes corpos são geralmente veículos dum pensamento especial, duma vontade particular; excetuando isto, são perfeitamente inconscientes.

b) A AURA HUMANA. – Agora é-nos dado compreender o que na realidade constitui a aura humana e qual a sua significação. A aura é o próprio homem, manifestado simultâneamente nos quatro planos da consciência; o seu poder de funcionar em cada um dêles acha-se em conformidade com o seu desenvolvimento; constitui o agregado dos seus corpos, dos seus veículos de consciência: numa palavra, é o aspecto forma do homem.
Assim é que devemos considerar, e não como se fôsse simplesmente uma auréola ou uma nuvem, circundando o corpo físico. O corpo espiritual é o mais sublime de todos; é visível nos Iniciados e nêle irradia o fogo àtmico vivo; êste constitui a manifestação do homem no plano búdico. Segue-se-lhe o corpo causal, a sua manifestação no mundo mental superior, nos seus níveis arúpicos (sem forma), onde o indivíduo reside. Em seguida vem o corpo mental, pertencente aos planos mentais inferiores, e depois sucessivamente os corpos astral, etérico e denso, cada um formar do da matéria da sua própria região e representando o homem tal como êle é em cada uma dessas regiões. Quando o discípulo contempla o ser humano, vê todos êstes corpos que compõem o homem, apresentando-se separadamente em virtude dos seus diferentes graus de matéria e marcando assim o grau de desenvolvimento atingido pelo homem. Quando o poder de visão transcendente do discípulo se acha bastante desenvolvido, é-lhe dado ver cada um dêstes corpos em plena atividade. O corpo físico, o mais pequeno de todos, aparece como uma  espécie de cristalização densa no centro dos outros corpos que o penetram e se expandem em todos os sentidos à volta dêle. Depois temos o corpo astral, mostrando o estado da natureza kâmica que representa um papel tão importante no homem vulgar; repleto das suas paixões, dos seus apetites vis e das suas emoções, varia na delicadeza e na côr, segundo o grau de pureza do homem. Nos sêres grosseiros apresenta-se muito espêsso, e quanto mais delicado fôr o homem, mais êste corpo se vai sutilizando, até atingir o auge da tenuidade no indivíduo altamente evoluído. Segue-se-lhe o corpo mental, que, embora pouco desenvolvido na maioria das pessoas, adquire em muitas outras uma beleza incomparável, variando de côr, segundo o seu tipo mental e moral. Em seguida vem o corpo causal, quase impossível de distinguir na maior parte dos indivíduos, tão fraco é o seu desenvolvimento, tão tênue o seu colorido, tão débil a sua atividade; só graças a um exame muito atento se pode discernir o seu contôrno. Mas se contemplarmos uma alma altamente evoluída, veremos logo que o corpo causal e o corpo espiritual são justamente os que mais sobressaem como representação típica do homem. Apresentam-se resplandecentes de luz, munidos de côres delicadas e sublimes, cujos tons é impossível descrever, pois não se encontram no espectro solar; êstes tons, êstes cambiantes não só são puros e lindíssimos, como também são inteiramente diferentes das côres conhecidas nos planos inferiores. Êstes tons adicionais mostram o progresso do homem quanto às qualidades e podêres sublimes que só existem nessas regiões elevadas. Quem tiver a suprema felicidade de contemplar um dos Mestres, vê-lo-á aparecer sob esta poderosa forma de vida e de côr, sublime e resplandecente, indescritivelmente belo, de uma beleza divina que ultrapassa tudo quanto a imaginação até ali idealizara. O seu aspecto é tão majestoso que logo evidencia a Sua natureza. E contudo, não há ninguém que não possa revestir um dia essa forma resplandecente; a possibilidade de uma perfeição futura jaz em estado latente no filho do homem.
Relativamente à aura, há um ponto que desejo frisar, em virtude da sua utilidade prática.
É-nos permitido defender-nos até um certo limite das incursões dos pensamentos exteriores, graças a uma verdadeira muralha esférica, formada com a própria substância da aura que elevamos em tôrno de nós. A aura responde prontamente ao impulso do pensamento; portanto, se com um esfôrço da imaginação representarmos a sua superfície exterior como estando solidificada sob a forma duma concha, a aura assume realmente essa forma, protegendo-nos contra todos os assaltos do exterior. Esta concha evitará a irrupção de pensamentos vagabundos que circulam na atmosfera astral, evitando portanto também a influência nociva que exerceriam sôbre a mente indefesa. O esgotamento vital que às vêzes sentimos, especialmente quando entramos em contato com pessoas que "vampirizam" inconscientemente o seu próximo, também pode ser poupado da mesma maneira, isto é: formando a concha áurica. As pessoas sensíveis e que se acham exaustas devido a êste sugar das suas fôrças, devem seguir o nosso conselho, a fim de se protegerem.
É tal o poder do pensamento humano sôbre a matéria sutil que é suficiente imaginarmos que estamos dentro de uma concha para isso logo se realizar. 
Se observarmos os sêres humanos que nos rodeiam, vê-los-emos em tôdas as fases do desenvolvimento, mostrando pelo próprio aspecto dos seus corpos o ponto que atingiram na sua evolução enquanto vão percorrendo os vários planos do universo e funcionando em regiões cada vez mais elevadas, a fim de desenvolverem os veículos da consciência que correspondem a estas regiões. A nossa aura mostra-nos tais como somos; à medida que progredimos na vida verdadeira, aumentamos-lhe a beleza; purificamo-la com as nossas vidas sãs e puras e introduzimos-lhe gradualmente qualidades cada vez mais elevadas.
Haverá porventura alguma filosofia da vida que contenha mais esperança, mais poder, mais alegria do que esta? Se observarmos o mundo dos homens só com o olhar físico, apresenta-se-nos aviltado, miserável, aparentemente destituído de esperança; tal é o seu verdadeiro aspecto ante os olhos do corpo físico. Mas se o contemplarmos com a visão mais elevada, como tudo se nos depara de modo diferente! Vemos, é claro, a tristeza e a miséria, vemos o aviltamento e a vergonha; mas sabemos que tudo isso é transitório, temporário, que pertence à infância da raça e que a raça em breve ultrapassará essas coisas mesquinhas. Mesmo quando olhamos para os entes mais baixos, vis e brutais, distinguimos contudo as suas possibilidades divinas e concebemos o que êles virão a ser numa época futura. É esta a mensagem de esperança que a Teosofia traz ao mundo ocidental, uma mensagem de redenção universal da ignorância, e por conseguinte, de emancipação universal da miséria. Não se trata dum sonho, mas sim duma realidade; não é só uma esperança, mas sim uma certeza. Todo aquêle que na sua vida dá sinais de desenvolvimento, constitui, por assim dizer, uma nova confirmação desta mensagem. Os primeiros frutos vão aparecendo em tôda a parte e lá virá um dia em que todo o mundo estará maduro para a colheita e cumprirá a tarefa que o Logos lhe prescreveu ao dar-lhe a vida.