sábado, 19 de dezembro de 2015

Annie Besant-O Homem E Os Seus Corpos Parte 2



O CORPO ASTRAL OU CORPO DE DESEJOS

Estudamos o corpo físico do homem, tanto nas suas partes visíveis, como nas invisíveis, e compreendemos que o homem - a entidade viva, consciente - quando se acha no estado de vigília, vivendo no mundo físico, só pode exprimir o seu conhecimento e manifestar o seu poder por intermédio do seu corpo físico. O grau de perfeição ou de imperfeição da sua expressão no plano físico depende do grau de perfeição ou de imperfeição do desenvolvimento do seu corpo. Enquanto o homem funcionar no mundo inferior, o corpo constituirá o seu limite, formando em volta dêle um verdadeiro círculo de defesa. Tudo quanto não puder ultrapassar êste círculo, não se poderá manifestar na terra. Calcule-se, pois, a importância que o corpo físico toma aos olhos do homem que se acha em plena evolução. Dá-se o mesmo caso quando o homem, destituído do corpo físico, funciona noutra região do universo, no plano astral ou mundo astral; nesse plano também só lhe é permitido exprimir tanto poder ou conhecimento quanto o seu corpo astral lhe consente. Êste constitui, por assim dizer, um veículo e uma limitação. O homem é mais do que os seus corpos; possui muita coisa que é incapaz de manifestar tanto no plano físico, como no plano astral; mas o pouco que êle consegue exprimir pode considerar-se como o homem nessa região especial do universo. A manifestação do seu Eu neste mundo astral acha-se limitada pelo seu corpo astral. E quando passarmos ao estudo dos mundos superiores, veremos que quanto mais o homem se fôr desenvolvendo na sua evolução, mais poder terá o seu Eu de se exprimir, e mais perfeitos e elevados se irão tornando os veículos da consciência.
Antes de penetrarmos mais avante nestes terrenos relativamente desconhecidos à maioria das pessoas, bom será lembrarmos aos nossos leitores que de modo nenhum pretendemos mostrar uma ciência infalível ou um poder de observação inigualável. Os erros de observação ou de interpretação cometem-se com a mesma facilidade nos planos mais elevados, como no plano físico: nunca se deve perder de vista esta possibilidade. É claro, à medida que o conhecimento e a prática forem aumentando, ir-se-ão eliminando gradualmente êstes erros. A autora é uma simples estudante e, como tal, suscetível de cometer erros que mais tarde terão de ser corrigidos; mas êstes erros não dirão respeito senão aos detalhes; os princípios gerais e as conclusões principais, êsses permanecerão intactos.
Antes de mais nada, é mister compreender claramente a significação das palavras "mundo astral" ou "plano astral". O mundo astral constitui uma região definida do universo, que rodeia e penetra o mundo físico, conservando-se contudo imperceptível aos nossos meios vulgares de observação, por ser composto duma substância de ordem diferente. Se pegarmos no último átomo físico e o desagregarmos, desaparecerá êste sob o ponto de vista físico; porém descobrimos que se compõe de numerosas partículas da qualidade mais grosseira da substância astral, isto é, da matéria sólida do mundo astral.
Já nos referimos aos sete estados inferiores da matéria física: os estados sólido, líquido,gasoso e quatro etéricos, reunidas nesta classificação as inúmeras combinações que formam o mundo físico. Do mesmo modo existem sete estados inferiores de matéria astral, correspondentes aos sete estados da matéria física, que por sua vez abrangem as inúmeras combinações que de modo idêntico formam o mundo astral. Todos os átomos físicos têm invólucros astrais; a matéria astral forma assim o que nós chamaríamos a matriz da matéria física que nela se acha engastada.
A matéria astral serve de veículo a Jiva, a Vida Una que tudo anima; graças à matéria astral as correntes de Jiva envolvem, sustentam e alimentam tôdas as partículas de matéria física, e produzem, não só o que vulgarmente se chama fôrças vitais, mas também tôdas as energias elétricas, magnéticas e químicas, a atração, a coesão, a repulsão com outras fôrças análogas. Tudo isto constitui diferenciações múltiplas da Vida Una, em cujo seio os universos flutuam como os peixes no Oceano. Jiva passa do mundo astral, que penetra intimamente no mundo físico, para o éter dêste último, transformando-o no veículo que transmite tôdas estas fôrças aos estados inferiores do plano físico, onde finalmente se manifesta a sua ação. Se graças a um esfôrço de imaginação suprimíssemos de repente o mundo físico, encontraríamos uma reprodução perfeita dêle na substância astral,e se supuséssemos tôda a humanidade dotada de faculdades ativas astrais, veríamos que, ao princípio, os homens e as mulheres não se aperceberiam da mudança sobrevinda em volta dêles. As pessoas "mortas" , quando despertam nas regiões inferiores do mundo astral, acham-se freqüentemente nesse estado, julgando que ainda vivem no mundo físico.
Como entre nós é rara a pessoa que já tenha adquirido visão astral, é mister insistir na realidade relativa do mundo astral, que é, afinal, uma parte do universo fenomenal, e na necessidade de o ver com o olhar mental, à falta de visão astral. O mundo astral é tão real como o mundo físico; é mesmo mais real porque se acha menos afastado da Realidade Una. Os seus fenômenos são tão acessíveis ao observador competente, como os fenômenos do plano físico. No mundo físico um homem cego não pode ver os objetos físicos,e existem mesmo muitas coisas que só com a ajuda de aparelhos, microscópios, espectroscópios,conseguem ser observadas; no mundo astral acontece exatamente o mesmo.
As pessoas astralmente cegas não vêem nada e há muita coisa que escapa à visão astral vulgar, ou seja à clarividência. Contudo muitas pessoas poderiam, no presente estado de evolução, desenvolver os sentidos astrais, e realmente há algumas que os desenvolvem  até certo ponto, tornando-se assim suscetíveis de receber as vibrações mais sutis do plano astral. Essas pessoas podem evidentemente ser induzidas a erro, como as crianças quando principiam a fazer uso dos sentidos físicos, mas êstes erros vão sendo eliminados à medida que adquirem uma experiência mais vasta; em pouco tempo conseguem ver e ouvir com a mesma nitidez no plano astral como no plano físico. É preferível não forçar êste desenvolvimento por meios artificiais porque o mundo físico é mais que suficiente para quem não tenha adquirido um certo grau de energia espiritual; as visões, os sons e os fenômenos gerais do plano astral podem perturbar e mesmo alarmar os incautos. Mas lá virá finalmente um dia em que o homem atinge aquêle estado mais avançado, e a sua consciência, gradualmente desperta, verá manifestar-se, em tôda a sua realidade relativa à parte astral do mundo invisível.
Para obter êste desiderato, não basta possuir um corpo astral, pois todos nós o possuímos; o que é importante é ter um corpo astral perfeitamente organizado e em estado de funcionar livremente, e uma consciência que se habitue a agir dentro dêsse corpo, pois não deve de modo nenhum agir só através dêle sôbre o corpo físico. Todos trabalham constantemente através do corpo astral; bem poucos trabalham nêle, separando-se do corpo físico. Sem a ação geral por intermédio do corpo astral, não poderia existir uma ligação entre o mundo externo e a inteligência do homem, uma ligação entre as impressões recebidas pelos sentidos físicos e a percepção delas pela inteligência. A impressão transforma-se em sensação ao chegar ao corpo astral e só então é percebida pela inteligência.
O corpo astral, onde se acham os centros da sensação, é muitas vêzes denominado o homem astral, do mesmo modo como poderíamos designar o corpo físico por homem físico; porém, na realidade, é só um veículo, um estôjo, como diriam os vedantinos,no qual o homem funciona e por intermédio do qual atinge o veículo mais grosseiro, ou seja o corpo físico, e é por êle atingido.
Quanto à sua constituição, o corpo astral compõe-se de sete estados inferiores de matéria astral e cada um dêstes estados se pode decompor em materiais mais grosseiros ou mais sutis. É fácil imaginarmos o homem num corpo astral bem formado; tiremos-lhes o corpo físico e vê-lo-emos surgir numa forma luminosa e sutil, constituindo uma cópia exata do primeiro corpo visível à visão clarividente, embora seja invisível ao olhar profano.
Disse: "um corpo astral bem formado", porque o homem pouco evoluído apresenta, quando visto no seu corpo astral, um aspecto extremamente incoerente. Os contornos são indefinidos, os materiais de que é composto estão inertes e mal colocados e, se o separarem do corpo, constituirá somente uma nuvem ilusória e indefinida, absolutamente incapaz de agir como um veículo independente; na realidade, é mais pròpriamente um fragmento de matéria astral do que um corpo astral organizado; constitui uma massa de proto-plasma astral, de aspecto amibóide. Um corpo astral bem conformado dá a entender que o homem alcançou um nível razoável de cultura intelectual ou de desenvolvimento espiritual, e portanto pelo aspecto do corpo astral depreende-se o progresso feito pelo seu dono. A nitidez dos seus contornos, a luminosidade dos seus materiais e a perfeição da sua organização permitem-nos avaliar o estado de evolução atingido pelo Ego que dêle faz uso. 
Nota: O têrmo "astral", estrelado, não é dos mais felizes, mas tem-se feito tão largo uso dêle durante tantos séculos para indicar a matéria imediatamente superior à matéria física, que seria agora difícil desalojá-lo. Os primeiros observadores escolheram-no provàvelmente devido à aparência luminosa da matéria astral, quando comparada com a física. Para melhor compreensão do assunto, aconselha-se a leitura do manual O Plano Astral, de C. W. Leadbeater.
E agora ocupemo-nos da questão do aperfeiçoamento, que nos interessa a todos igualmente.
Será bom lembrarmo-nos de que o aperfeiçoamento do corpo astral se baseia,por um lado, na purificação do corpo físico, e por outro, na purificação e no desenvolvimento do espírito. O corpo astral é especialmente sensível às impressões do pensamento,porque a matéria astral responde mais prontamente aos impulsos do mundo mental do que a matéria física. Quando consideramos o mundo astral, vemo-lo repleto de formas variáveis; distinguirmos as "formas de pensamento", isto é, formas compostas de essência elemental e animadas por um pensamento; notamos também quantidades consideráveis desta essência elemental, da qual emergem constantemente formas e imagens que nela tornam a desaparecer. Se observarmos cuidadosamente, veremos perpassar correntes de pensamento por esta matéria astral; os pensamentos fortes arranjam invólucros de matéria astral e persistem durante muito tempo, como verdadeiras entidades, ao passo que os pensamentos fracos revestem apenas uma forma vaga que em breve se esvai novamente. O mundo astral acha-se portanto eternamente submetido a mudanças causadas pelos impulsos do pensamento, e o corpo astral do homem, composto dessa mesma matéria, também se apressa a responder à impressão dos pensamentos, vibrando em uníssono com todos os pensamentos que o assaltam, quer dimanem do exterior, das mentes dos outros homens, quer brotem do íntimo da sua própria mente. Estudemos a influência produzida no corpo astral por estas impressões externas e internas. Vemo-lo penetrando o corpo físico e envolvendo-o em tôdas as direções, semelhante a uma nuvem coloria. As côres variam segundo a natureza do homem, segundo a sua natureza inferior, animal, passional, e a parte que envolve exteriormente o corpo físico é designada sob o nome de aura kâmica, visto pertencer ao Kâma ou corpo de desejo, vulgarmente chamado o corpo astral do homem.
Por ser o corpo astral o veículo da consciência kâmica do homem, constitui a sede de tôdas as paixões, de todos os desejos animais; é o centro dos sentidos, donde, como já dissemos, brotam tôdas as sensações. Ao contacto dos pensamentos, vibra e muda constantemente de côr; se o homem se encoleriza, são dardejados raios vermelhos; se se sente apaixonado, as irradiações tingem-se de uma côr-de-rosa suave. Se os pensamentos do homem são nobres e elevados, necessitam de matéria astral sutil para lhes corresponder;a ação dêstes pensamentos sôbre o corpo astral manifesta-se então pela eliminação das partículas grosseiras e espêssas de cada subplano e pela aquisição de elementos mais delicados. O corpo astral dum homem cujos pensamentos são baixos e animais, é grosseiro, espêsso, escuro, às vêzes opaco a ponto de se distinguir dificilmente o contôrno do corpo físico; ao passo que o corpo astral do homem evoluído é sutil, claro, luminoso e brilhante, constituindo um objeto de peregrina formosura. Neste caso, as paixões inferiores foram dominadas e a ação selecionadora da mente acabou por purificar a matéria astral. Portanto depreende-se daqui que os pensamentos nobres purificam o corpo astral, mesmo quando não se trabalha conscientemente para êsse fim. Além disso, devemo-nos lembrar que êste trabalho íntimo exerce uma influência poderosa sôbre os pensamentos do exterior que o corpo astral atrai. Um corpo ao qual o possuidor permite responder habitualmente aos pensamentos malignos, atua como um ímã sôbre tôdas as formas de pensamentos semelhantes que vagueiam no ambiente. O mesmo não sucede ao corpo astral puro que, pelo contrário, atua sôbre êsses pensamentos com uma energia repulsiva, e só atrai as formas de pensamentos de natureza idêntica à sua. 

Nota: Está idéia de separar a "aura" do homem, como se fôsse uma coisa diferente dêle, pode induzir a êrro, embora seja perfeitamente natural sob o ponto de vista da observação. A "aura" consiste, segundo a linguagem vulgar, numa nuvem que envolve o corpo; na verdade o homem vive em vários planos, envergando em cada um a veste adequada a êsse plano. Tôdas as vestes penetram umas nas outras; a mais pequena, a mais humilde delas tôdas, chama-se "o corpo", e a substância mista das outras é denominada "aura" quando se estende para além dêsse corpo. Portanto, a aura kâmica é simplesmente a parte do corpo kâmico que se estende para além do corpo físico.

Como já acima dissemos, o corpo astral apóia-se em parte no corpo físico, ressentindo-se da pureza ou da impureza dêste. Já vimos que os sólidos, os líquidos, os gases e as diversas espécies de éter de que o corpo físico se compõe, podem ser grosseiros ou requintados, densos ou sutis. Por sua vez, a natureza destas substâncias influencia a natureza dos seus invólucros astrais correspondentes. Se, devido à nossa indiferença pelo físico, edificarmos partículas sólidas e impuras no corpo grosseiro, é certo atrairmos os elementos impuros correspondentes ao "sólido" astral, como doravante lhe chamaremos.
Se, pelo contrário, edificarmos no nosso corpo grosseiro partículas sólidas puras,atrairemos o que existe de mais puro no elemento sólido astral correspondente. Portanto a purificação do corpo físico que consiste na alimentação pura, excluindo tudo quanto possa corromper o organismo, como já o sangue dos animais, o álcool e outras coisas impuras e degradantes, não só serve para aperfeiçoar o nosso veículo físico da consciência corno também nos ajuda a purificar o veículo astral e a extrair do mundo astral materiais mais sutis e mais delicados para sua construção. Os efeitos desta operação, além de serem muito importantes no que diz respeito à vida presente sôbre a terra, também se repercutem, como veremos mais tarde, no nôvo estado que se segue à morte, quando vivermos no mundo astral, e no corpo que envergaremos na nossa próxima vida sôbre a terra.
E não ficamos por aqui: certas qualidades de alimento atraem para o corpo astral certas entidades malignas pertencentes ao mundo astral, pois é preciso que se note que não só temos de nos haver com a matéria astral, mas também com o que chamamos elementais dessa região. São entidades de natureza diferente, mais ou menos vis, que existem nesse plano, engendradas pelos pensamentos dos homens; além disso, também há no mundo astral homens depravados, enclausurados nos seus corpos astrais e conhecidos sob o nome de elementares. Os elementares são atraídos para as pessoas cujos corpos astrais contenham matéria de natureza idêntica à sua, e os elementares procuram naturalmente aquêles que praticam os mesmos vícios a que êles se entregavam durante a vida terrestre. Tôda e qualquer pessoa dotada de visão astral vê, ao passar pelas ruas de Londres, hordas de elementais repugnantes aglomerados em volta das lojas de carniceiros, ao passo que os elementares preferem freqüentar as cervejarias e os cafés, a fim de absorverem as emanações impuras dos licores, sempre à espreita de qualquer ocasião para se insinuarem nos corpos dos próprios consumidores. Êstes sêres são atraídos por todos quantos edificam os seus corpos com êstes materiais; parte da sua vida astral passa-se neste ambiente. E assim sucede em cada estado do plano astral; à medida que purificamos o físico, vamos atraindo a matéria astral de pureza correspondente.
É evidente que as possibilidades do corpo astral dependem muito da natureza dos materiais que nêle edificamos. Quanto mais purificamos os corpos, mais sutis se tornam, até que por fim cessam de responder aos impulsos baixos, e principiam a responder às influências mais elevadas do mundo astral. Fabricamos assim um instrumento que, embora pela sua natureza seja sensível às influências exteriores, perde gradualmente o poder de responder às vibrações inferiores e principia a responder às mais elevadas. 
Resumindo:é um instrumento cuja afinação só lhes permite vibrar com as notas mais altas. Do mesmo modo como conseguimos que uma corda produza uma vibração simpática, graças ao nosso cuidado em escolher o seu diâmetro, o seu comprimento e a sua tensão, assim também podemos afinar os nossos corpos astrais para que produzam vibrações simpáticas em uníssono com as nobres harmonias que por vêzes ressoam no nosso ambiente.Não se trata duma simples questão de especulação ou teoria, mas sim dum fato científico.
Pode-se afinar o corpo astral do mesmo modo como neste mundo se afina uma corda musical. A lei de causa e efeito é exatamente a mesma cá e lá; portanto apelemos para a lei, baseemo-nos na lei e poderemos contar com ela. O que necessitamos sobretudo é conhecimento e vontade de pôr em prática o conhecimento. Para principiar, podemos fazer experiências com êste conhecimento, tratá-lo como uma simples hipótese, em concordância com fatos passados no mundo inferior cuja existência conhecemos; mais tarde,à medida que purificarmos o corpo astral, a hipótese ir-se-á transformando em conhecimento.
Constituirá um assunto de observação direta, que nos permitirá verificar as teorias que previamente havíamos aceito como sendo só hipóteses provisórias.
Portanto, as nossas possibilidades de conhecer o mundo astral a fundo e de aí nos tornarmos realmente úteis, dependem, antes de mais nada, dêste processo de purificação. Existem métodos definidos de ioga, que ajudam a desenvolver os sentidos astrais dum modo racional e saudável, porém não vale a pena tentar ensinar êstes métodos a quem não tenha primeiro empregado êstes simples meios preparatórios de purificação.
Em geral, tôda a gente está ansiosa por experimentar qualquer nôvo método extraordinário de progredir, mas é trabalho perdido ensinar a ioga a pessoas que nem ao menos querem praticar êstes estados preparatórios na sua vida quotidiana. Suponhamos que principiássemos a ensinar qualquer forma simples de ioga a uma pessoa qualquer, sem preparação alguma; o nosso discípulo mergulharia nesse estudo com entusiasmo, porque era uma coisa nova, fora do vulgar, e esperaria colhêr resultados rápidos; mas antes de passar um ano, sentir-se-ia cansado daquela tensão regular, introduzida na sua vida quotidiana,e desconsolado pela ausência dum efeito imediato. Pouco habituado a um esfôrço persistente, continuado inviariàvelmente dia após dia, o estudante sucumbiria e renunciaria a tôda e qualquer prática. O engôdo da novidade desapareceria para dar lugar à saciedade.

Quando uma pessoa não pode ou não quer cumprir o dever relativamente simples e fácil de purificar os seus corpos físico e astral, pelo sacrifício momentâneo de certos maus hábitos na comida e na bebida, não deve perder tempo a procurar processos mais difíceis que a atraem pela novidade, mas que em breve ela abandonaria como um fardo insuportável.
Todo aquêle que não tiver praticado durante algum tempo êstes meios simples e humildes, não deve sequer pensar nos outros métodos especiais; só quando tiverem principiado a purificação, verão surgir novas possibilidades. O discípulo sentir-se-á gradualmente invadido pelo conhecimento, o seu olhar tornar-se-á mais penetrante, saberá distinguir as vibrações às quais responderá prontamente, o que lhe teria sido impossível fazer no tempo da sua cegueira e ignorância. Mais tarde ou mais cedo, segundo o carma do seu passado, ser-lhe-á dado fazer esta experiência; como uma criança que sente um grande prazer em ler, depois de ter vencido as dificuldades do alfabeto, assim também se apresentarão ao conhecimento do estudante possibilidades com que nunca sonhara nos dias da sua mocidade descuidada. Estender-se-ão ante êle novas perspectivas de conhecimento;um universo mais vasto desenrolar-se-á ante o seu olhar maravilhado.
Se agora estudarmos por momentos as funções do corpo astral durante o sono e no estado de vigília, poderemos apreciar dum modo fácil e rápido as suas funções como veículo da consciência separada do corpo. Se observarmos uma pessoa, primeiro adormecida, depois acordada, notaremos uma mudança muito pronunciada no corpo astral; quando está acordada, as atividades astrais (côres variáveis, etc.), manifestam-se dentro do corpo físico e na sua imediata proximidade; mas quanto está adormecida, produz-se uma separação, em resultado da qual vemos o corpo físico, isto é, o corpo grosseiro e o duplo etérico jazendo no leito, ao passo que o corpo astral se vê pairando na atmosfera por cima dêles. Fàcilmente reconhecemos se a evolução da pessoa que estudamos é medíocre,pelo aspecto de seu corpo astral, que se apresenta como uma nuvem informe, como já dissemos algures. Neste caso, o corpo astral não se pode afastar do seu corpo físico;como veículo da consciência, é absolutamente inútil; o homem que encerra acha-se num estado muito vago de sonho, visto não estar habituado a agir independentemente do corpo físico; pode mesmo dizer-se que está quase adormecido, por lhe faltar o intermediário usual do seu trabalho, achando-se, portanto, impossibilitado de receber impressões definidas do mundo astral, e de se exprimir nìtidamente através do seu corpo astral, tão mal organizado. As formas de pensamento que passam, podem influenciar os centros de sensação contidos nesse corpo astral, e é possível que êle responda aos estímulos que excitam a sua natureza inferior; contudo, para quem observa, o aspecto geral é tudo quanto há de mais sonolento e vago porque o corpo astral não possui nenhuma atividade definida,e contenta-se em pairar indolentemente, sem consistência, sôbre a forma física adormecida.
Se sobreviesse qualquer coisa que ameaçasse afastá-lo do seu companheiro físico, êste despertaria e o corpo astral apressar-se-ia a penetrar nêle novamente. Porém, se observarmos uma pessoa muito mais desenvolvida, isto é, uma pessoa já habituada a funcionar no mundo astral e a servir-se do corpo astral para êsse fim, veremos o corpo físico adormecer e o corpo astral surgir com o aspecto do próprio homem em plena consciência;os contornos dêsse corpo astral são perfeitamente nítidos e bem organizados, constituindo a reprodução exata do homem. E o homem pode servir-se dêle como dum veículo - um veículo mil vêzes mais conveniente que o corpo físico. O homem sente-se bem acordado e desenvolve muito mais atividade, trabalha com maior esmêro, com maior poder de compreensão do que quando se achava enclausurado no veículo físico mais grosseiro; além disso, pode-se mover livremente e transportar-se a grandes distâncias com a maior rapidez, sem com isso perturbar o corpo adormecido sôbre o leito.
Se essa pessoa ainda não tiver aprendido a estabelecer uma ligação entre seus veículos físico e astral, se se produzir uma descontinuidade na consciência quando, no momento de adormecer, o corpo astral o abandona, nesse caso o homem, quando volta ao seu veículo grosseiro, não consegue gravar no cérebro físico o conhecimento daquilo com que se ocupou durante a sua ausência, embora estivesse bem acordado e consciente no plano astral.
Nestas condições, a consciência no "estado de vigília" - segundo a expressão vulgarmente empregada para designar a forma mais limitada da nossa consciência - não partilhará das experiências do homem no mundo astral, embora êle as conheça perfeitamente;o organismo físico porém é demasiado espêsso para poder receber estas impressões.
Por vêzes, quando o corpo físico desperta, sente vagamente que se passou qualquer coisa de que não se pode lembrar nìtidamente; contudo, basta esta sensação para mostrar que a consciência funcionou no mundo astral independentemente do corpo físico, embora o cérebro não se ache em estado de coligir as mais pequenas recordações do ocorrido.
Noutras ocasiões, quando o corpo astral regressa ao corpo físico, homem consegue impressionar momentâneamente o duplo etérico e o corpo grosseiro, de modo que ao despertarem,êstes têm uma recordação nítida duma experiência adquirida no mundo astral;mas esta recordação desvanece-se ràpidamente e debalde nos esforçamos por retê-la;cada esfôrço que para isso empregamos só serve para afastar ainda mais a recordação,porque dá origem a fortes vibrações no cérebro físico que sobrepujam as vibrações sutis do cérebro astral. Há também casos em que o homem consegue gravar um nôvo conhecimento no cérebro físico, sem se recordar onde nem como adquiriu êsse conhecimento; quando isto sucede, as idéias surgem na consciência no estado de vigília, como se fôssem engendradas espontâneamente; a solução dum problema até ali ignorado apresentar-se-á subitamente ao cérebro, assuntos em que reinava a mais absoluta confusão se tornam compreensíveis; isto constitui um sintoma de progresso, pois mostra que o corpo astral se acha bem organizado, desenvolvendo uma grande atividade no mundo astral, embora o corpo físico evidencie uma receptividade ainda muito parcial. Finalmente há ocasiões em que o homem consegue fazer vibrar o cérebro físico em uníssono com o astral, e daí resulta o que nós consideramos um sonho muito nítido, conexo e coerente, um sonho que é por vêzes dado gozar à maior parte das pessoas que pensam. Nesse sonho o homem sente-se mais vivo do que no "estado de vigília" e pode mesmo adquirir  reconhecimento que o ajudará na sua vida física. Tudo isto constitui estados de progressos que indicam a evolução e a organização cada vez mais perfeita do corpo astral.
Mas, por outro lado, é mister compreendermos que as pessoas que obtêm progressos rápidos e verdadeiros na espiritualidade podem ter uma ação ativa e útil no mundo astral sem contudo gravarem no cérebro, quando regressam, a mínima recordação do trabalho que as ocupou. Contudo a sua consciência inferior vai-se sentindo gradualmente iluminada e invadida pelo conhecimento da verdade espiritual. Há uma coisa que pode servir de estímulo a todos os estudantes e na qual podem depositar tôda a confiança, embora a sua memória física não registre nenhuma experiência supra-física: à medida que aprendemos a trabalhar cada vez mais em prol dos outros; à medida que tentamos ser cada vez mais úteis para o mundo; à medida que a nossa devoção pelos Irmãos Mais Velhos da humanidade se torne mais forte e mais firme e que procuremos sinceramente realizar com perfeição a pequena parte que nos cabe na Sua grande obra, desenvolveremos inevitàvelmente êsse corpo astral e êsse poder de funcionar nêle que nos torna uns servos mais úteis. Quer conservemos ou não a memória física, é certo que abandonamos as nossas prisões físicas quando o corpo físico se acha profundamente adormecido e que desenvolvemos a nossa atividade no mundo astral dispensando auxílio e consolação a pessoas que de outra maneira nos seria impossível alcançar. Esta evolução continua ininterruptamente nos homens cujos pensamentos são puros e elevados e cujo único desejo é servir. Pode-se dar o caso de trabalharem durante anos e anos no mundo astral sem gravar a recordação dêsse trabalho na sua consciência inferior; podem exercer para bem do Universo podêres que ultrapassam tudo quanto êles se julgam capazes de fazer. Um belo dia, porém, quando o Carma o permitir, êsses homens obterão a consciência absoluta, ininterrupta que circula livremente entre o mundo físico e o mundo astral; chegará finalmente a ocasião de construir a ponte que permite à memória passar sem esfôrço dum mundo para o outro, de modo que o homem, ao regressar da sua labuta no mundo astral, poderá envergar a sua veste física, sem por um momento sequer perder a consciência.
Tal é a certeza permitida a todos os que escolhem uma vida de serviços altruístas. Serlhes-á dado adquirir um dia esta consciência ininterrupta, e daí em diante a vida para êles já não constará de dias de trabalho cuja recordação permanece intacta, intercalados de noites de esquecimento absoluto. Pelo contrário, a vida formará um todo contínuo em que o homem faz uso do corpo astral para o seu trabalho no mundo astral, enquanto o corpo físico jaz imóvel, gozando do repouso que lhe é necessário. Além disso, conservará inteira a cadeia dos pensamentos; sentir-se-á plenamente consciente ao abandonar o corpo físico, mesmo no próprio momento em que dêle emerge; continuará consciente da vida vivida fora do corpo físico, e saberá quando a êle regressa para de nôvo o envergar. E assim, enquanto as semanas e os anos vão passando, o homem conservará a consciência infatigável da existência do Ego individual, que lhe mostra o físico como sendo sòmente uma veste que pode despir e vestir a seu bel-prazer, e não um instrumento necessário ao seu pensamento e à sua vida. Saberá que o corpo físico, longe de ser necessário, torna pela sua ausência a vide muito mais ativa e o pensamento muito mais livre. 
Chegado a êste estado, o homem principia a compreender muito melhor o mundo e a sua própria vida no mundo; já percebe o que o espera, já atinge melhor as possibilidades da humanidade superior, vai vendo gradualmente que depois de ter adquirido a consciência física, e a consciência astral, outros estados de consciência ainda mais elevados se lhe oferecem; estados que pode conquistar um após outro, e que lhe permitirão tornar-se ativo em planos cada vez mais sublimes, percorrer mundos mais vastos, exercer podêres mais amplos, na qualidade de servo dos Santos Sêres, a fim de auxiliar e beneficiar a humanidade. Nessa altura, o homem começa a avaliar a vida física pelo seu justo valor; não se deixa perturbar pelo que acontece no mundo físico, como lhe sucedia antes de conhecer a outra vida mais completa, mais rica; mesmo a própria morte o deixa indiferente, quer se trate dêle próprio ou daqueles que pretende auxiliar. A vida terrestre retoma aos seus olhos o seu verdadeiro lugar, como sendo a parte mais insignificante da atividade humana; para êle não tornará a ser tão sombria como antes, porque a luz das regiões superiores vem iluminar os seus sítios mais recônditos.
Abandonemos agora o estudo das funções e possibilidades do corpo astral para considerar certos fenômenos com êle relacionados. O corpo astral, separado do corpo físico,pode-se mostrar a outras pessoas, durante a vida terrestre ou depois. A pessoa que exerce um domínio absoluto sôbre o corpo astral pode, é claro, abandonar o corpo físico quando lhe apetecer, para ir visitar um amigo. Se êste amigo fôr clarividente, isto é, se possuir visão astral, ser-lhe-á possível ver o corpo astral que o visita; se não fôr clarividente,o visitante pode densificar ligeiramente o seu veículo, incorporando partículas de matéria física existente na atmosfera que o envolve; consegue assim "materializar-se" o suficiente para se tornar visível à vista física. É dêste modo que se explicam as aparições de amigos a distância, fenômeno êste que é mais vulgar do que muita gente supõe, porque muitas pessoas tímidas não contam as experiências que lhes sucedem, com receio de serem ridicularizadas e apontadas de supersticiosas. Felizmente êsse receio vai diminuindo,e se todos tivessem o bom senso e a coragem de dizer aquilo que sabem ser verdadeiro,em breve teríamos uma quantidade de testemunhos acêrca de aparições de pessoas,cujos corpos físicos se acham muito afastados dos lugares onde os seus corpos astrais se mostram. Dado um certo número de circunstâncias, êstes corpos podem ser vistos, sem necessitar de materialização, por pessoas que normalmente não exercem a visão astral. Se uma pessoa tem o seu sistema nervoso num estado de hipertensão extrema,se o seu corpo físico não gozar de saúde, se a corrente de vitalidade se achar diminuída,nesse caso a atividade nervosa que tanto depende do duplo etérico pode ser estimulada e tornar o homem momentaneamente clarividente. Uma mãe sabe, por exemplo, que o filho se acha doente, em perigo de vida, numa terra estranha; a inquietação que a tortura pode torná-la sensível às vibrações astrais, especialmente durante a noite quando o grau de vitalidade é menor; nestas condições, é possível que veja o filho, se êste pensar nela e se o seu corpo se achar no estado de inconsciência que lhe permita visitá- la astralmente. Estas visitas ainda se tornam mais freqüentes logo após a morte da pessoa, quando acaba de se libertar do corpo físico e sobretudo quando o moribundo sente um forte desejo de ver um ente muito querido, ou no caso de não ter podido comunicar alguma coisa muito importante antes de ser surpreendido pela morte. Se continuarmos a observar o corpo astral após a morte, veremos introduzir-se uma modificação no seu aspecto, depois de se ter desembaraçado no duplo etérico e do corpo grosseiro. Enquanto o corpo astral se acha unido ao corpo físico, os estados inferiores da matéria astral, mais grosseiros e mais sutis, estão todos misturados entre si. Mas após a morte tudo é submetido a uma remodelação; as partículas dos diferentes estados inferiores separam-se umas das outras e colocam-se segundo a ordem das suas respectivas densidades, de modo que o corpo astral toma o aspecto de uma estratificação, ou antes, de uma série de invólucros concêntricos, dos quais o mais denso fica situado exteriormente. Isto mostra-nos novamente a importância da purificação do corpo astral durante a nossa vida terrestre, pois vemos que depois da morte não pode percorrer livremente o mundo astral. Êsse mundo contém sete subplanos e o homem acha-se encerrado no plano que corresponde à sua casca exterior. Quando êste invólucro exterior se desagrega, o homem eleva-se até ao subplano imediato e assim vai seguindo de um para outro. Um homem com tendências animais e vis contém forçosamente no seu corpo astral uma grande porção de matéria astral da qualidade mais grosseira e espêssa. Isto obriga-o a permanecer na região mais baixa do Kâmaloka; enquanto esta casca se não desagrega suficientemente, o homem tem de se submeter ao cativeiro nessa seção do mundo astral, sofrendo tôdas as atribulações que aí abundam. Quando esta casca exterior se desagregou o bastante para permitir a evasão do homem, êste apressa-se a passar para o nível seguinte do mundo astral, ou antes, talvez seja mais exato dizer que se torna suscetível de entrar em contato com as vibrações do subplano seguinte da matéria astral, o que a êle lhe dá a impressão de ter passado para uma região diferente. Depois se conserva aí até que a casca do sexto subplano se desagrega por sua vez, permitindo a passagem para o quinto subplano. A estada em cada subplano corresponde à fôrça das partículas da sua natureza representada no corpo astral pela quantidade de matéria pertencente a êste subplano. Portanto, quanto maior fôr a quantidade de elementos grosseiros, mais se prolongará a estada nos níveis inferiores do Kâmaloka. E do mesmo modo, quanto mais nos libertarmos dêsses elementos, mais rápida será a nossa estada nessas regiões para além da morte. Mesmo não conseguindo eliminar completamente os materiais mais grosseiros (pois a sua extirpação radical é difícil e leva tempo), é possível, durante a vida terrestre, afastar a consciência das paixões vis com tanta persistência que a matéria que serve para lhes dar expressão não poderá funcionar ativamente como um veículo da consciência; empregando uma analogia física, diremos que fica atrofiada! Neste caso, embora o homem se veja retido por um curto espaço de tempo nos níveis inferiores, passa-lo-á a dormir sossegadamente,sem sentir as coisas desagradáveis inerentes a êsses planos. A sua consciência tendo deixado de buscar uma expressão em qualquer dessas espécies de matéria, não se exteriorizará para entrar em contacto com os objetos do mundo astral que dela se compõem.
Quem tenha purificado o corpo astral de modo a conservar apenas os elementos mais sutís e mais puros de cada subplano (elementos que passariam para o subplano imediatamente superior se progredissem mais um ponto), passará rápidamente pelo Kâmaloka.
Entre dois estados consecutivos de matéria existe o que se convencionou chamar um  ponto crítico; por exemplo, o gêlo pode ser levado a um ponto tal em que o mínimo aumento de calor o transformará em líquido; a água pode ser elevada a um ponto em que um pequeno aumento de calor a transformará em vapor. E do mesmo modo, a matéria astral pode ser elevada em cada um dos seus estados a um tal grau de subtileza que tôda a purificação adicional a transformará no estado seguinte. Se isto tiver sucedido em todos os estados inferiores da matéria no mundo astral, se ela tiver sido purificada até atingir o último grau de delicadeza, então o homem atravessará o Kâmaloka com uma rapidez inconcebível, alando-se, livre de algemas, às mais puras regiões.
Ainda resta ocuparmo-nos de mais um assunto relativamente à purificação do corpo astral, por meio de processos físicos e mentais, isto é: a influência dessa purificação sôbre o nôvo corpo astral, que se formará no tempo devido para servir de instrumento ao homem na sua próxima encarnação. Quando o homem deixa o Kâmaloka a fim de entrar no Devachan, não pode fazer-se acompanhar de formas-pensamentos malígnas. No plano devacânico não pode existir matéria astral e a matéria devacânica não pode responder às vibrações grosseiras das paixões e dos desejos vis... Portanto, quando o homem se liberta finalmente dos restos do corpo astral, só pode conservar uns gérmens latentes ou sejam tendências que, se forem alimentadas, se manifestam no mundo astral sob a forma de paixões e desejos malígnos. Êstes acompanham-no e subsistem em estado latente tôda a sua vida devacânica. Quando o homem regressa pronto para nascer novamente, traz ainda estas tendências que agora arremessa para fora; estas atraem do mundo astral, graças a uma espécie de afinidade magnética, os materiais apropriados à sua manifestação,e revestem matéria astral idêntica à sua própria natureza, formando assim parte integrante do corpo astral do homem para a encarnação que se está preparando. Assim,não só vivemos agora num corpo astral, como estamos fabricando o tipo do futuro corpo astral que teremos na nossa próxima vida, o que constitui mais uma razão para purificarmos o mais possível o corpo astral atual, utilizando o conhecimento que já possuímos, a fim de assegurar o nosso progresso futuro.
Tôdas as nossas vidas se acham encadeadas umas às outras, e portanto, nenhuma se pode separar nem das que a precedem, nem das que se lhe seguem. Na realidade, só temos uma vida na qual o que nós chamamos vidas não são senão dias. Uma vida nova nunca se assemelha a uma fôlha em branco onde vamos inscrever uma história absolutamente nova; não faremos mais, em cada vida, do que inscrever um nôvo capítulo que vai continuar a desenvolver o velho enrêdo. É-nos igualmente impossível libertarmo-nos das responsabilidades cármicas duma vida precedente, como de nos desembaraçarmos dormindo das dívidas contraídas durante o dia; se contrairmos uma dívida hoje, não nos veremos livres dela amanhã; a exigência da dívida será apresentada inexoràvelmente até que a paguemos. A vida do homem é uma coisa contínua, ininterrupta; as vidas terrestres acham-se encadeadas umas às outras e não isoladas. Os processos de purificação e desenvolvimento também são contínuos e devem prosseguir durante sucessivas vidas terrestres. Lá virá um dia em que todos teremos de principiar o trabalho; lá virá um dia em que todos nos saciaremos das sensações da natureza inferior, em que nos saciaremos do jugo animal e da tirania dos sentidos. Quando tiver atingido essa fase da sua existência, o homem revoltar-se-á contra a sujeição, e, num rasgo de energia, decidir-se-á a arrancar os grilhões do seu cativeiro. E, na verdade, por que razão devemos prolongar a nossa escravidão, quando só depende de nós o libertar-nos? Nenhuma mão, a não ser a nossa,nos pode prender, e nenhuma mão, a não ser a nossa, nos pode pôr em liberdade. Temos o nosso livre arbítrio, e já que um dia nos devemos reunir todos num mundo mais elevado, por que motivo não principiarmos já a arrancar os grilhões da escravidão; por que não reclamarmos a nossa origem, que é uma origem divina? O homem começa a desprender-se dos laços que o entravam, principia a entrever a sua liberdade, quando se resolve a pôr a natureza inferior a serviço da natureza superior; quando se decide a edificar corpos mais sutís no plano da consciência física; quando, numa palavra, procura atingir essas possibilidades sublimes que lhe pertencem por direito divino e que apenas são obscurecidas pelo animal dentro do qual êle vive.