quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Os mestres da escola de Nápoles – I – DOMENICO BOCCHINI

 

   Nasceu em 1775 em Avigliano (Potenza), no Reino de Nápoles. Em 1806 alistou-se no 1º regimento de fuzileiros de infantaria de linha de Nápoles sob o Rei Giuseppe Bonaparte. Em 1807 entrou na Maçonaria Escocesa em Nápoles. Na Calábria se distingue contra os ingleses e os salteadores filoborbônicos. Então, sob a autoridade do coronel francês Duma (pai do homônimo famoso escritor) participa da captura do salteador borbônico Fra Diavolo.

            De simples soldado em 1806, foi promovido a 1º Sargento da infantaria no ano seguinte, e a seguir Alferes (Sub-Tenente) pela captura de Fra Diavolo. Se distingue ainda contra os ingleses em Capri no ano de 1808, e particularmente em Espanha, sempre contra os ingleses, e ainda contra os insurgentes borbônicos espanhóis, sempre seguindo o Rei Giuseppe Bonaparte (1808/1809), recebendo o grau de 1º Tenente ajudante de campo da infantaria ligeira.

            No ano de 1809 avança para o 3º grau Maçônico.

            Estacionado em Bolonha com seu regimento napolitano na Brigada de infantaria, comandada pelo General Francesco Pignatelli, Príncipe de Strongoli, no 8º regimento de infantaria do coronel Guglielmo Pepe, combate com heroísmo em 6 de março de 1814 sob o comando do general napolitano Carascosa na ponte de San Maurizio, sobre o rio Romano, perto de Reggio Emilia, recebendo naquele mesmo dia e local a promoção para Capitão do 8º Regimento de infantaria ligeira de Nápoles. Ainda combaterá com as tropas muratianas de Nápoles na passagem de Taro ao Borgo  San Donnino em 13 de abril de 1814, recebendo a qualificação de Capitão ajudante maior do Coronel Guglielmo Pepe e a Cruz de Cavaleiro da Ordem Cavaleiresca Muratiana Napolitana das duas Sicílias.

            Retornando para casa recebe a nomeação de Juiz de Paz de sua comuna natal de Avigliano (Potenza) em 28 de julho de 1814.

            Na Maçonaria Escocesa recebe o 4º grau em 1811 e o 9º grau em 1813, recebendo na Loja Maçônica de Avigliano o 18º grau Rosacruz na Maçonaria Escocesa regular de Nápoles (o Grande Mestre nacional era o próprio Rei G. Murat de Nápoles, desde 1814).

            A guerra o convocou ao serviço militar para o Rei G. Murat em 17 de março de 1815, e em 30 de março está em Rimini com Murat e Pepe. Combate contra os austríacos em Spilimberto, em Panaro em 4 de abril e a Occhiobello sobre o Pó em 7 de abril, e pouco após em Capri e depois em Forlimpopoli em 20 de abril de 1815, bem enaltecido pelo Marechal de Campo (General de Divisão) Guglielmo Pepe. Participou dos combates contra os austríacos em Monte Milone em 2 de maio, em Tolentino em 3 de maio e em Macerata no dia seguinte. Sua divisão se retira para Abruzzo e se rende aos austríacos em 28 de maio de 1815. Em virtude do tratado de armistício com os austríacos, Domenico Bocchini retorna livre para Salerno, onde se aloja no comando da guarnição aguardando o desenrolar dos eventos.

            Em 17 de junho de 1815 o novo Ministro de Graça e Justiça, Marquês de Tommasi, acolhe a demanda de licenciamento do Exército napolitano para retomar sua função de Juiz de Paz em sua nativa Avigliano, sob o Reio Ferdinando Iº de Bourbon, Rei das duas Sicílias.

    Em Nápoles entra na Maçonaria Egípcia de Cagliostro, dirigida desde 1813 pelo francês Marco Bédarride, e desde 1814 pelo Barão napolitano Di Montemayon, Marechal de Campo primeiro de Murat e depois do Rei Ferdinando Iº

 de Bourbon, na Loja Egípcia cagliostriana “La Vigilanza” de Nápoli, dirigida pelo Venerável Conde Pietro Colletta di Napoli, já Brigadeiro General do gênio militar do Rei Murat, e após do Rei Ferdinando Iº de Bourbon, em 6 de novembro de 1815.

            Além disso, em 22 de julho de 1816 se inscreve [1] na Venda Carbonária de Castelluccia na província de Potenza. Promovido a juiz real de Cincondario (Prefeito real) em Venosa, na Puglia [2], em 25 de abril de 1817 entra na Venda Carbonária (no 3 º grau dos “Decisi”) em Otranto. Face às crescentes dificuldades encontradas na Puglia, começa a participar da Loja Maçônica Egípcia e Carbonária de Avellino, em 17 de janeiro de 1818, dirigida pelo Venerável Daezolla, famoso poeta e literato de origem calabresa, chegando ao 30º grau Maçônico Escocês, ao 3º Egípcio de Cagliostro, ao 4º Carbonário (1818). Neste último, conheceu o Carbonário Abade Minichini di Nola, o qual no início de 1819 o apresenta a Domenico Confalonieri, carbonário de Milão em visita a Nápoles em 2 de janeiro de 1819.

            É transferido como Juiz Régio de Venosa a Miano na província de Salerno por solicitação do general Guglielmo Pepe, Governador militar real da província de Salerno e chefe da Venda Carbonária de Potenza em 20 de outubro de 1820. Em 26 de feveReiro se inscreve na Loja Maçônica de Salerno (e Venda Carbonária) dirigida pelo General Mille.

            Com a queda do regime constitucional parlamentar de Nápoles, é destituído do cargo de Juiz do Distrito real de Miano em 24 de maio de 1821, com ordem de transferir-se para Salerno e colocar-se à disposição[3]. Poucos dias após é dispensado de todos os serviços pelos Bourbons de Nápoles, por suas simpatias Maçônicas, Carbonárias e Murattianas.

            Desiludido, embarca em Nápoles em um navio mercante francês e desembarca na França em Marselha. De lá chega a Paris, onde trabalha como auxiliar de bibliotecário com Charles Nodier, aderindo juntamente com ele ao sistema Maçônico Egípcio de Misraim de Bédarride, em 1823, recebendo dois anos depois o grau 87 de Misraim.

            Retorna livremente para Nápoles por anistia de Ferdinando de Bourbon Rei das duas Sicílias em 12 de janeiro de 1831. Em junho de 1831 [4] recebeu a função de Juiz Real do Distrito de Torre del Greco.

            Domenico Bocchini não cessou de frequentar maçons e carbonários, inscrevendo-se na Loja egípcia de Misraim em Nápoles: “Loggia la Folgore”, que estava sediada no Palazzo Berio na via Toledo (desde 1828), com o grau 89º Egípcio Maçônico de Misraim. Contemporaneamente começou a frequentar em Portici seu novo amigo, o ocultista local e alquimista Pasquale De Servis (1818-1993), IZAR, que se dizia filho natural do falecido Rei Francisco Iº de Bourbon de Nápoles, e que se proclamava discípulo da escola napolitana oculta de Raimondo de Sangro di San Severo, morto em 1790, e de seus primos D‘Aquino di Caramanico, Luigo morto em 1783, e Francesco, morto em 1795.

            O Rei Ferdinando II de Nápoles o premiou com a pensão militar pelo serviço sob o Reinado de G. Murat e com a Cruz de Cavaleiro de São Jorge e do Mérito pelo valor heróico demonstrado naqueles distantes anos durante o serviço militar. Era 12 de novembro de 1832. No ano seguinte, em setembro, recebeu a nominação de Cavaleiro da Ordem Civil de São Francisco de Bourbon do Rei de Nápoles, indo para a aposentadoria de seu serviço como Magistrado.

            Em 1835 [5] encontra em Nápoles o general Oudinot em visita ao Rei de Nápoles e lhe confia uma letra amigável para o poeta e amigo francês Victor Hugo.

            Em 1836[6] se encontra dentre os dirigentes da Loja Maçônica “I Figli del Vesuvio” de Torre Annunziata, fundada em 1808, e despertada em 1828.

            Morre em Torre del Greco, em sua fazenda, em 1840.

            Sua sobrinha Virginia Bocchini esposará o ocultista e rosacruciano Giustiano Lebano (1832-1910) anos depois, em Nápoles[7].

           

 

[1] Em 7 de maio de 1816 se inicia na “La Sapienza”.

[2] Sua presença na Puglia é testemunhada por ele mesmo em “Daunia Ferdinandea”.

[3] Em Salerno, em 13 de junho de 1822, termina a “La Sapienza”.

[4] Em 31 de junho de 1831 escreve O Céu Úrbico, completando-o em 29 de agosto.

[5] Em 1834 publica o programa dos Arcani Gentileschi svelati, e em 29 de agosto inicia a publicação de Geronta sebezio. Último número em abril de 1837.

[6] Em 1838 traduz a Bíblia.

[7] No número XXIV 8-10-1836 de Geronta Sebezio, Bocchini dedica a esta sua sobrinha um Madrigal. Ela tinha 6 anos em 1836, enquanto Lebano tinha 4.