terça-feira, 22 de setembro de 2020

As litanias de Satã - Baudelaire


 

O toi, le plus savant et le plus beau des Anges,

Dieu trahi par le sort et privé de louanges,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Ó Prince e l'exil, à qui l'0n o fait tort,

Et qui, vaincu, toujouurs te redresses plus fort,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Toi, qui sais tout, grand roi des choses souterranies,

Guérisseur familier des angoises humaines,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Toi qui, même aux léprex, aux paria maudits,

Enseignes par l'amour le goût du Paradis,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

O toi, qui de la mort, ta vieille et fort amant,

Engendras l'Espérance - une folle charmante!

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Toi, qui fais au proscrit ce regard calme et haut

Qui damne tout un peuple autour d'un échafaud,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Toi, qui sais en quel coin des terres envieuses

Le Dieu jaloux cacha les pierres précieuses,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Toi dont l'ceil clair connaît les profonds arsenaux

Où dort enseveli le peuple des métaux,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Toi dont la large main cache les précipices

Au sonambule errant au bord des édifices,

O satan prends pitié de ma longue misère!

Toi qui, magiquemente, assouplis les vieux os

De l'ivrogne attardé foulé par les chevaux,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Toi qui, pour consoler l' homme frêle qui soufre,

Nous appris à mêler le salpêtre et le soufre,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Toi qui poses ta marque, ô complice subtil,

sur le front du Crésus impitoyable et vil,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Toi qui mets dans les yeux et dans le coeur des filles

Le cult de la plaie et l'amour des guenilles,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Bâton des exilés, lampe des inventeurs,

Confesseur des pendus et des conspirateurs,

O Satan prends pitié de ma longue misère!

Père adoptif de ceux qu'en sa noire colère

Du paradis terrestre a chassés Dieu le Père,

O Satan prends pitié de ma longue misère!


PRIÈRE


Glorie et louange à toi, Satan, dans les hauters

Du Ciel, où tu régnas, et dans les profounders

de l'Enfer, où, vaincu, tu rêves en silence!

Fais que mon âme, um jour, sous l'arbre de Science,

Près de toi se repose, à l'heure où sur ton front,

Comme un temple nouveau ses rameaux s'epandront!


Ó tu, o Anjo mais belo e também o mais culto,

Deus que a sorte traiu e privou do seu culto,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Ó Príncipe do exílio a quem alguém fez mal,

E que, vencido, sempre te ergues mais brutal

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que vês tudo, ó rei das coisas subterrâneas,

Charlatão familiar das humanas insânias

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu, que mesmo ao leproso, ao pária infame, ao réu,

Ensinas pelo amor as delícias do Céu,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu, que da morte, tua velha e forte amante,

Engendraste a Esperança, - A louca fascinante!

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu, que dás ao proscrito esse alto e calmo olhar,

Que faz ao pé da forca o povo desvairar

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que sabes onde é que em terras invejosas

o Deus ciumento esconde as pedras preciosas,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu cujo claro olhar conhece os arsenais

Onde dorme sepulto o povo dos metais,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu cuja larga mão oculta os precipícios

Ao sonâmbulo a errar na orla dos edifícios,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que, magicamente, abrandas como mel

Os velhos ossos do ébrio moído num tropel,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu, que ao homem que é fraco e sofre deste o alvitre

De poder misturar ao enxofre o salitre,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu, que pões tua marca, ó cúmplice sutil,

Sobre a fronte do Creso implacável e vil,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu, que abrindo a alma e o olhar das raparigas, a ambos

Dás o culto da chaga e o amor pelos molambos,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Do exilado bordão, lanterna do inventor,

Confessor do enforcado e do conspirador,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Pai adotivo que és dos que, furioso, o Mestre,

o Deus Padre, expulsou do paraíso terrestre,

Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!


ORAÇÃO


Glória e louvor a ti, Satã, nas amplidões

Do Céu, em que reinaste, e nas escuridões

do Inferno, em que, vencido, sonhas com prudência!

Deixa que eu, junto a ti, sob a Árvore da Ciência,

Repouse, na hora em que, sobre a fronte, hás de ver

Seus ramos como um templo novo a se estender!