terça-feira, 12 de março de 2019

Vampirismo


Ato I: Raízes – O Mito e a Literatura

“A constatação não foi muito alvissareira para mim, pois as palavras eram: “Ordog” — satanás; “pokol” — inferno; “stregoica” — feiticeiro e “vrolok” e “vlkoslak”, ambas com a mesma significaçâo, pois uma é eslovaca e outra sérvia: uma espécie de lobisomem ou vampiro”

-Drácula, Bram Stoker. “Diário de Jonathan Harker”, 5 de Maio.


Uma das técnicas ocultistas mais difundidas atualmente, inclusive dentro de ordens, o Vampirismo nada mais é do que o ato de drenar a energia de um alvo. No entanto, essa prática utilizada dentro de ordens e sistemas mágickos foi aprendida por nós através de entidades muito mais antigas do que pensamos.

Mas antes de falarmos das técnicas ocultistas propriamente ditas, acho importante situarmos a origem da “cultura” vampírica e dos mitos acerca do personagem literário, para não nos confundirmos de forma séria e prejudicial nos estudos. É uma delimitação realmente importante, entre a fantasia e a realidade.

Mitologia

É um fato curioso a ser citado que, em todo mundo antigo o temor e a crença em Vampiros era largamente difundida, em todas as culturas, religiões e folclores. Inclusive nas que nunca possuíram contato entre si.

Na Mesopotâmia por exemplo, fala-se dos Ekimmu, espíritos de pessoas não-sepultadas que voltavam para atormentar os vivos. Na antiga Suméria, temos a famosa Lilith, que devorava os bebês e sugava a força vital dos homens solteiros e era afastada por seu irmão, Pazuzu. As crias geradas por ela eram os “Lilins” que devoravam os homens.

E por assim vai, são demais pra listar aqui agora, mas da América ao Extremo Oriente, fala-se em cadáveres reanimados, e em bebedores de sangue/comedores de carne/sugadores de energia, que predam os humanos para manter a falsa aparência de vida. Os mitos podem variar em detalhes, mas a essência é sempre mantida a mesma.

A palavra “Vampiro” entrou na língua Inglesa pela primeira vez através da palavra “Vampyre”, em 1732, derivando do termo “Vukodlak” ou “Vrikolaka”, de origem sérvia e que designava “Lobisomem”.

A ocasião de seu uso se deu por conta do incidente de Arnold (Paole) Paul. A situação deu-se quando um cirurgião do governador sérvio assinou um relatório que indicava que um homem (Arnold Paul) relatara ter sido mordido por um homem e faleceu posteriormente. Após sua morte, diversas pessoas relataram ter sido atacadas por ele durante a noite. Ao exumar o corpo, descobriu-se em perfeito estado de conservação e com sangue escorrendo por sua cabeça. Sangue fresco e não coagulado. O incidente foi descrito em um jornal inglês como ataques de um “vampyro” – criatura até então conhecida pelo vocábulo latino “sanguisuga”. A história ficou famosa e se difundiu pela Europa, causando uma certa “febre vampírica”, que revoltou certas pessoas pelos inúmeros casos de “violação de sepultura e vilipêndio/profanação de cadáveres”.

Em 1765, o naturalista francês Lois Lecrerc de Buffon soube de uma espécie de Morcego Hematófaga e ligeiramente lhe deu o nome de “Morcego Vampiro”. Antes desse fato, os morcegos não possuíam ligação com vampiros de forma direta.

Posteriormente, no século 19, um jovem imigrante Italiano na Inglaterra, amigo íntimo de Lord Byron, a pedido do mesmo (era costume de Byron durante as reuniões de seus amigos, pedir que narrassem contos de Horror. Fransktein, escrito pela jovem Mary Shelley surgiu assim), escreveu o conto “The Vampire”; sobre um tal Lorde Ruthven que vagava a noite, seduzia e matava mulheres. A figura do vampiro sedutor, sensual e sexual se formava e invadia a literatura – e também os mitos, constituído a partir da figura do próprio Byron, satirizado na obra por seu amigo.

A mesma figura sedutora serve para a releitura de Bram Stoker do Conde Vladislav Tpish, o famoso “Conde Drácula” em sua obra brilhante, que divulgou o mito do vampiro no mundo inteiro. Anne Rice e seu “Entrevista com o Vampiro” e nos anos 90 o RPG “Vampiro:A Máscara”, bem como os filmes da Hammer Films nos anos 70-80 fizeram a febre de vampiros eclodir, como um personagem característico, misterioso, sedutor e perigoso.

Dessa forma, esse texto mais “histórico” vem elucidar que o conceito de Vampiro como algo “belo” vem da literatura. Vampiros nas mitologias anteriores a elaboração da ficção são bestas sanguinárias e predadores. E entidades Vampíricas são igualmente predadores vorazes. E pessoas que praticam o Vampirismo como técnica ocultista, SÂO Predadores, invariavelmente. Não existe “vampirismo bonito” no ocultismo.

Ato II – Tipos de Vampiros & Realidade do Vampirismo

“Este é o meu corpo, ele disse a dois mil anos atrás. Este é o meu sangue.

Era a única religião que cumpria exatamente o que prometia. Vida Eterna a seus seguidores”

-Retirado do livro “A Arte de Vampiro; Quinze Cartas Pintadas num Tarô de Vampiro”, por Neil Gaiman.


No texto anterior, exploramos a questão mitológica e literária, ainda que bem resumida, sobre a origem dos vampiros. Agora, tratemos das questões reais, mantendo sempre os pés firmes no chão ao tratar do tema.

Listemos a seguir, os tipos de Vampiros que de fato existem fora da literatura, e que deram origem aos mitos citados anteriormente.

Vampiros Sanguíneos

Talvez este seja o tipo mais curioso de Vampiros pra ser tido como real – mas sim, eles existem. E não, não possuem super poderes, não costumam ser exatamente sedutores e não vivem numa eterna era vitoriana.

Na verdade existem duas doenças que podem ter dado origem aos “sintomas do vampirismo” nos mitos citados em nosso texto anterior. Uma delas é a Raiva, transmitida por mordidas de animais, também conhecida como “Hidrofobia” (Medo de Água), que causa rigidez muscular, contrações e movimentos desordenados, muita dor, sangramento gengival, sensibilidade a luz e objetos refletores de luz além de tornar a vítima absurdamente agressiva.

Outra questão é a Porfiria. Doença genética que inibe algumas enzimas, atrapalha a absorção de sódio e, em manifestação aguda, faz com que a pele sofra fortes erupções e queimaduras quando exposta ao Sol. Alguns distúrbios mentais provenientes da Porfiria em formas de alucinações levavam em tempos passados a crença de que se deveria tomar sangue pra manter a aparência saudável.

Diversos Seriais Killer surgiram dessa forma. Eliabeth Bathory pode ser citada como a mais famosa bebedora de sangue, mas existem também casos mais modernos, como Nico Claux, canibal e vampiro francês – convidado por Michael W. Ford a ilustrar o Luciferian Tarot, utilizado pela TOPH.

Concluindo, existem de fato Vampiros que ingerem sangue, mas isso é proveniente de Doenças graves, que atualmente possuem tratamento e tornam o ato desnecessário. Pessoas normais, ao beberem sangue, podem ter dores estomacais e vomitar coágulos sanguíneos, uma experiência nada agradável

Psy Vamps

Também conhecidos como “Vampiros Psíquicos”, este é um tipo realmente perigoso de Vampiros. Nada mais são que parasitas sociais, sociopatas. Pessoas realmente perigosas que fazem você sentir que deve tudo a eles, quando na realidade jamais moveram uma palha por você. Pior, querem te ver sempre no fundo do poço. Sentem prazer em ver outras pessoas mal.

A maioria dos “Vampiros Psíquicos” sequer tem conhecimento de sua condição, que pode ser causada por desequilíbrios energéticos ou por doenças psicológicas. É uma condição nada rara nos dias de hoje.

Segundo seu livro “Toxic Men – 10 Ways of Identifying, Dealing With and Healing from Men who make your life Miserable”, a escritora Lillian Glass identifica vários tipos de transtornos de personalidade que geram Vampirismo Psiquico. Citando-a:

 “Alguns são indivíduos com uma autoestima tão baixa e que se sentem tão deprimidos que conseguem, para melhorar o próprio estado de espírito, absorver a alegria das pessoas que os rodeiam”, afirma a escritora. A estratégia envolvente desses indivíduos, que disfarça o seu poder tóxico, faz que possamos cair nas suas redes sem nos apercebermos. Quando damos conta da situação em que nos encontramos, já é demasiado tarde.”

Ou seja, um vampiro psiquíco raramente sabe que é um vampiro. É o cara que faz intriga, que canta sua namorada, que abusa do seu dinheiro, a amiga falsa que faz fofoca, enfim… os diversos tipos de sociopatas que existem por aí. Livrar-se deles é relativamente fácil, assim que identificados. Basta ser firme e se afastar deles e esses parasitas sociais/emocionais se tornam inofensivos.

Ato III – Vampirismo Energético

Esse é o ponto principal, e essa é a prática difundida no ocultismo e realizada por entidades e por pessoas que treinam manipulação energética. Os Vampiros de energia dividem-se em dois tipos.

Os vampiros por doença, não fazem muitas vezes ideia de que estão sugando a energia (ki, prana, denominem a vontade) do ambiente ou de terceiros. São normalmente pessoas que apresentam grande variação de humor, por absorverem diferentes frequências e pessoas que passam a sensação de “frio” em sua energia. Essa “deficiência” energética, por assim dizer, é proveniente de algum trauma ou disfunção de algum dos Chakras. Pode ser “curado” ou retratado ao se purificar a energia da pessoa e fazer alguma forma de tratamento espiritual.

O outro tipo, é o mais comumente encontrado hoje em dia, devido a divulgação dos vampiros mitológicos citados no outro post. São os Vampiros que de fato treinam e desenvolvem a capacidade de Drenagem da energia alheia. Sim, tem gente que acha que ser um Vampiro “de verdade” é legal, bonito e não “dá nada não”.

A realidade, é que um Vampiro energético, quando despreparado, pode ter problemas. Sugar energia alheia, significa sugar impressões de sensações alheias, o que pode causar alterações no humor e até mesmo problemas físicos. Além de, claro, danificar os chakras e te tornar “viciado”, incapaz de expandir sua própria energia, dependendo sempre de outras pessoas. Então é uma prática que requer muito treino, cuidado e atenção.

Existem diversas técnicas de Drenagem a serem aprendidas. A mais utilizada é manipular a própria energia para “englobar” a do alvo como um pseudópode e puxá-la para si. Outros, criam um vácuo. Algumas pessoas utilizam o contato sexual para drenar o parceiro, esgotando-o. São inúmeras as formas, normalmente um Vampiro experiente incorpora seu estilo próprio a sua técnica, adaptando pro seu meio de vida.

Defender-se da técnica pode ser mais complicado. Exige um bom domínio de energia e auto controle. Normalmente, um “choque” de energia negativa ao perceber a drenagem pode dar uma boa “indigestão” a um vampiro inexperiente.

Identificá-los também não é um grande problema. As técnicas acabam tendo “efeitos energéticos”, que podem ser reconhecidos, como o mal estar sem razão diante de uma pessoa, ou a sensação de frio, entre outras características.

A energia roubada possui os mais diversos usos. Desde a aplicação em ritos, canalização pra sigilos, alimentar entidades, tudo depende da criatividade do Vampiro em questão.

Existem ordens que são totalmente voltadas para essa prática. Podemos citar aqui algumas bem famosas, como a TOV (Temple of Vampire), que prega o culto a “Deuses Vampiricos”, que após um rito de iniciação, passam a ser adorados e alimentados pelos membros. Bom, não me parece uma boa ideia, mas eles possuem uma doutrina séria, então…

A Black Order of the Dragon, guilda interna da The Order of Phosphorus que tem como foco o vampirismo energetico para ser utilizado na magia Yatukih (A feitiçaria Persa de Ahriman) pelos Yatus e Pairikas da Ordem.

Existem diversas outras ordens que praticam/pregam o vampirismo como ferramenta. Concluimos aqui que, apesar de ser errôneamente divulgado como uma prática “bonita”, a predação energética é largamente utilizada, chegando a possuir ordens iniciáticas inteiras voltadas a prática.

Ato IV – Final

Dentro daquilo que denominamos como “Satanismo Tradicional”, já presenciei duas formas bem distintas de abordar o Vampirismo.

Uma delas, desprezava o vampirismo como prática, não aceitando como caminho evolutivo. Estes indivíduos aformam que um Vampiro é um mero parasita, e que tal parasitismo não traz evolução, mas estagnação e dependência de terceiros. Ou seja, você fica preso e se fortalecendo nas emoções e energia do rebanho do qual deveria se afastar ou utilizar de forma manipulativa, sem tal contato íntimo com sua energia fraca e poluída.

Em outro lado, vi uma abordagem totalmente diferente (e a mais difundida, pelo que pude presenciar). O Satanista, como estando além do Bem e do Mal, conceitos meramente mundanos, e possuindo seus códigos pessoais, teria pleno direito de predar sobre o Rebanho humano, sem ter nenhum peso na consciência.

Aqueles que não são dignos devem perecer. Portanto, como cita Michael W. Ford ao falar de sua Black Order of the Dragon, o Vampiro, sendo algo além do homem, e o Homo Hubris sendo um rebanho a ser predado, assume caráter satânico ao promover a destruição dos indignos e fracos e passa a ser uma extensão do Satanismo Tradicional.

Os Satanistas que praticam Vampirismo aprendem, através de seus ritos e contatos com entes, a não apenas sugar a energia que circula ao redor dos corpos de suas vítimas, mas também a sua essência vital, quando se tornam experientes em suas práticas. E sim, isso pode levar a vítima a morte… e sua energia vital utilizada para o próprio vampiro extender sua “vida útil” ou utilizada em rituais ou oferecida a entidades poderosas que negociem com essa energia (é… nem tudo que consome energia é “kiumba” ou entidade baixa. Existem entes superiores que o fazem).

Vampirismo e Licantropia

Como vimos nos Atos anteriores, o Vampirismo e a Licantropia tiveram a mesma raíz – e as associações com um mesmo animal em comum, o Lobo, que também transmitia Hidrofobia, doença característica aos dois mitos.

Isso influiu também no misticismo a volta de praticantes de Vampirismo astral. Diz-se que, ao “assumir a forma” de lobo, morcego ou outro animal no astral, poderia se tornar mais rápido, mais forte, voar, entre outras proezas (NO ASTRAL – Ninguém vai virar animal de verdade). Logicamente isso é uma metáfora e uma simbologia relativa a Magicka Therionica e a Magia Licantrópica, onde o praticante, visualizando a si com a forma do animal através de meditação, altera sua energia para obter alguma característica psicológica que aquele animal simbolicamente represente. O tema “Magicka Therionicka” foi rapidamente tratado aqui no blog no texto “Os três tipos de Magicka Luciferiana”, mas não possuo planos de me aprofundar muito nele agora por aqui…até pela simplicidade do tema.

Uma breve conclusao

Bom, isto é o que tenho a dizer, por enquanto, sobre vampirismo. Espero que alguns pontos sejam analisados, pois requerem uma meditação sobre para serem compreendidos e que as falácias produzidas e divulgadas por charlatões que jogaram muito RPG ou gostariam de viver no mundo de A. Rice sejam postas a prova e principalmente, ao Questionamento a partir de agora…

Ba Nam I Âhereman!

Fonte:https://arautodochaos.wordpress.com/2014/08/17/vampirismo-ato-iv-final/