Se fossemos consolidar a essência da filosofia mística em um ponto específico que todos os estudantes de misticismo pudessem utilizar como uma base para obter compreensão, qual seria ele? Poderia possivelmente ser os passos requeridos para se desenvolver psiquicamente? Ou uma visão geral sistemática do processo do pensamento? Ou… ad infinitum?
Eis precisamente o ponto, quando dizemos “ad infinitum”. Podemos verdadeiramente dizer que há, de fato, uma base essencial a partir da qual todos os estudantes devem começar?
Se disséssemos, sempre haveria alguém que discordaria, principalmente porque cada indivíduo possui uma perspectiva única baseada em suas próprias experiências e o que é importante para um é irrelevante para o outro. Nós no caminho Rosa-Cruz não podemos de forma precisa dizer que ensinamos, mas preferivelmente que auxiliamos o indivíduo a aprender por si mesmo.
Estamos bastante cientes do fato de que todo aprendizado deve necessariamente vir de dentro de cada estudante individual e, portanto, não pode ser discernido por ele a partir do exterior. Qualquer escola de pensamento ou filosofia, qualquer definição de termos, deve ser interpretada individualmente pelo estudante e aplicada à vida de sua própria e exclusiva maneira. Somente então pode o verdadeiro aprendizado ocorrer.
Independentemente do que seja compreendido pelo estudante ou de como ele interpreta um pensamento, realmente existem certos assuntos que ele deve considerar.
O Rosacrucianismo freqüentemente se aprofunda em assuntos que podem ser relegados à categoria de “especulação mística”, mas independentemente de se são meras especulações ou não, em algum momento o estudante deve chegar a uma interpretação deles de forma a continuar a adquirir uma compreensão mais completa.
Essencialmente, a “verdadeira” compreensão deve suplantar a intelectual. Isto é, deve ser desenvolvida a partir das qualidades inatas dentro do ser do indivíduo. Ela pode ser “disparada” a partir do exterior, mas deve ser compreendida a partir do interior.
O infinito é um de tais assuntos que todo estudante terminará por tentar entender. Definido de forma simples, o infinito é aquilo que é sem começo ou fim. Isso, em si mesmo, é fácil o suficiente para se compreender, mas quantos de nós já se perguntaram: “Mas onde tudo começou?”
Ao mesmo tempo, muitos de nós estão procurando pela verdade absoluta ou pela percepção final. Antes que sejamos capazes de responder tais perguntas, precisamos chegar a alguma percepção com relação à natureza daquilo que é infinito.
Há diversas maneiras de se abordar o assunto, a mais comum sendo a partir de uma perspective linear. Isto é, a partir de uma perspectiva que é realmente intelectual em natureza.
Como exemplo, todos que estudaram matemática estão cientes de que entre dois pontos de um segmento de reta existe um número “infinito” de pontos adicionais. Podemos conceber uma situação onde tal existência seja possível porque podemos visualizar que entre dois pontos pode sempre existir um ponto médio entre os dois.
Para ilustrar esta afirmação, se nos referirmos aos paradoxos do antigo filósofo grego Zeno, encontraremos um ou dois exemplos que podem nos dar uma explicação muito boa de um conceito extremamente profundo.
Primeiro, Zeno ilustra uma corrida na qual a um dos participantes é dada uma vantagem. Ele então faz a pergunta: “Quem ganhará a corrida?” Essencialmente, Zeno conclui que nenhum dos participantes poderia logicamente ganhar porque para a segunda pessoa alcançar a outra, teria primeiro que percorrer metade da distância.
Mas, antes que pudesse percorrer metade da distância, teria também que percorrer metade daquela distância, uma situação que concebivelmente necessita de um processo infinito em que nenhum participante poderia se mover de forma perceptível, quanto mais ganhar a corrida. Esta noção, conclui Zeno, é absurda, porque na verdade as pessoas ganham e perdem corridas.
Em um outro dos paradoxos de Zeno, ele cita o exemplo de uma pessoa atirando uma flecha no ar. Ele salienta que a qualquer dado instante, a flecha não seria possivelmente capaz de se mover. Novamente, conclui, esta noção é absurda.
A implicação que Zeno está fazendo nas ilustrações acima é de que nossas noções do que percebemos como sendo a natureza daquilo que é infinito, e daquilo que constitui o tempo e o espaço, são na verdade muito mais do que é normalmente percebido intelectualmente.
E, de fato, há certamente a implicação de que o que constitui nossa realidade objetiva é somente uma expressão limitada de uma compreensão do que realmente existe que é limitada por nossa perspectiva de como observamos o mundo.
Desde a época de Zeno, a história da ciência e da filosofia tem sido essencialmente limitada à perspectiva linear do infinito. Não foi senão até que a evolução da matemática permitisse a certas grandes mentes, como exemplificado por Albert Einstein, desenvolver uma perspectiva diferente da realidade objetiva, que os interesses ontológicos do misticismo realmente começaram a ser compreendidos. Naturalmente, a teoria da relatividade trouxe uma perspectiva diferente de como a humanidade via nosso mundo.
Como exemplo, nos últimos dez anos uma nova teoria revolucionária chamada “Supergravidade” desafia nosso conceito de infinito linear. De forma bastante simples, esta teoria requer uma unificação das leis da gravitação na qual duas aparentemente diferentes leis são unificadas em uma.
A implicação aqui é que existe um fator unificador no universo que, misticamente, pode ser descrito como uma Unidade que a tudo permeia. Contudo, esta “nova” teoria também requer a subdivisão de partículas subatômicas, tais como nêutrons, fótons, múons, glúons e outros tantos ons... o que é essencialmente um retorno à maneira “linear” de pensar.
O ponto desta questão é que reconhecemos a existência de algo que é entendido como estando “além” de nossa compreensão e não obstante tentamos descrevê-lo utilizando nossos padrões de definição aceitos. Como resultado, freqüentemente colidimos com muitos paradoxos e contradições que são realmente desnecessários.
Por outro lado, a filosofia mística permite “novas” interpretações das “velhas” alegações científicas e filosóficas em que não tentamos limitar nosso método de pensar. Em vez disso, incorporamos uma mudança de atitude e de perspectiva ao nosso sistema de crença. Em outras palavras, examinamos todos os ângulos possíveis para um dado problema e incorporamos certos atributos humanos como a intuição e o discernimento interior ao nosso sistema de estudo.
Se aplicarmos a metodologia ou a lógica que resulta do misticismo, poderemos ver e compreender o assunto do infinito sob uma luz diferente. Em vez de considerá-lo a partir de uma expressão linear ou quantitativa, vamos vê-lo a partir de um ângulo qualitativo no qual a interpretação quantitativa daquilo que é infinito torna-se meramente uma “parte” do todo maior. Em outras palavras, a essência que a tudo permeia aludida nos escritos místicos não é descrita ou definida como sendo infinita em natureza, mas é entendida como sendo a fonte daquilo que é infinito.
Na tentativa de tornar este difícil conceito mais fácil de ser compreendido, se olharmos para o tempo a partir de uma perspectiva de passado, presente e futuro, teremos uma expressão quantitativa. A filosofia mística afirma que realmente não há nenhum passado ou futuro, mas, mais propriamente, que tudo ocorre no presente, existindo no “agora”.
Se formos um passo além disso e dissermos que também não há nenhum presente, imediatamente atribuímos à existência um estado qualitativo de ser que transcende a noção comum de infinito, de tempo e de espaço. Tais atributos tornam-se então uma parte do todo em vez de uma descrição do todo.
Podemos multiplicar o infinito por dois e chegar a infinito como resposta. Contudo, se dividirmos qualquer dado número no infinito por si mesmo, nossa resposta será um. Ou, se dividirmos o infinito por dois, o que temos? Talvez uma indicação sutil de uma qualidade ilimitada e interminável que não pode ser definida pelo termo “infinito”.