Nascido na Boêmia, província da Tchecoslováquia, o seu nome original era Frantisek Vladimir Lorec. Ainda jovem revelara-se um fenômeno das línguas e do Esperanto. Seu primeiro livro foi publicado em 1890, na Boêmia, em esperanto, quando tinha apenas 18 anos de idade.
Após emigrar para o Brasil aportuguesou o seu nome, e fixou residencia em Dom Feliciano, na época, distrito de Encruzilhada do Sul, Estado do Rio Grande do Sul.
Entretanto a fim de trazer a luz quem foi o nosso caro Francisco Valdomiro Lorenz, decidimos rememorar suas próprias palavras, com seus ensinamentos repletos da mais pura espiritualidade:
“O Espiritualista crê na Grande União que existe entre o Visível ou Manifestado e o Invisível, ou Imanifesto. ...O Visível ou Fenomenal é a consequência do Invisível ou Ideal. Assim como o arquiteto, antes de construir uma casa, forma primeiro na sua mente a imagem, o projeto, a planta dessa futura casa, tudo o que existe materialmente é o resultado da Idéia ou do Ideal, que é mental.” Fragmento extraído do artigo, “Que é o Espiritualismo?”, revista “O Pensamento” 1935.
A seguir transcrevemos um texto publicado no editorial da revista “O Pensamento” de 1957 por ocasião de sua morte:
"No dia 24 de maio deste ano(1957), faleceu em Porto Alegre o nosso dileto Francisco Valdomiro Lorenz.
Consternados pelo desaparecimento do venerável irmão, que sempre honrou as páginas da nossa revista com sua constante e valiosa colaboração, resta-nos, contudo a íntima satisfação de sabe-lo livre dos entraves da matéria, para ainda mais progredir nos planos invisíveis.
Verdadeiro apostolo do Esoterismo, desde a fundação do Círculo Esotérico, o culto e incansável Valdomiro Lorenz, nomeado Delegado Geral do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento no estado do Rio Grande do Sul, pelo saudoso patrono A. O. Rodrigues, jamais mediu esforços e sacrifícios para bem alto colocar os princípios da nossa doutrina.
Todos os filiados do Círculo Esotérico, desde o manuseio e o estudo da nossa série de Instruções foram guiados pelas sábias lições desse grande corifeu, através dos velhos “Diálogos Iniciáticos”, que sempre fizeram parte integral dos ensinamentos de nossa Ordem.
Figura de considerável relevo dentro do Esoterismo, doutor em Cabala, notável filólogo, fez parte de várias sociedades ocultas da Europa e da América, entre as quais o Grupo Independente de Estudos Esotéricos (GIDEE), em cujo setor disseminou a mancheias, como entre nós, os frutos do seu saber.
Escritor de vastos recursos legou-nos inúmeras obras entre as quais destacamos: O Filho de Zanoni – Diálogos Iniciáticos – Contos e Apólogos – Noções Elementares de Cabala – Receituário dos Melhores Remédios Caseiros – Homeopatia Doméstica Brasileira – Elementos de Quiromancia – A Sorte Revelada pelo Horóscopo Cabalístico – No Jardim da Alma – Pequeno Consultório Hermético – Moisés e Siphorah – Estenografia Ideal – Krishna, o Salvador da Índia – Chamas de Ódio e a Luz do Puro Amor – Iniciação Linguística etc.
Poliglota, revela-se admirável em sua obra Iniciação Linguística, verdadeiro trabalho de erudição e paciência, onde vamos encontrar, entre outras jóias do seu saber, o versículo 16 do 3º Capítulo do Evangelho de São João, traduzido em 70 idiomas!
Em todas as suas obras, Valdomiro Lorenz sempre se destacou pela propriedade do seu estilo, simplicidade e a beleza dos seus conceitos. É por isso que esta Revista e o Almanaque muito lhe devem pelo prestígio conquistado, tendo este nosso anuário se enriquecido com sua colaboração, nas seções de Agricultura e Pecuária, Astrologia etc.
Pensador honrado, culto e ilustre dedicou a sua pena à mais ampla difusão dos nossos princípios, batalhando pelo progresso do Círculo Esotérico, que ele tanto amou. Por isso, mais do que um apóstolo, foi um verdadeiro mestre do ideal esoterista, ao qual se consagrou de corpo e alma, até os últimos instantes de sua fecunda e laboriosa peregrinação terrestre. Suas conferências e seus ensinamentos ungidos do mais profundo sentimento de fraternidade humana jamais desaparecerão da nossa lembrança.
Por paradoxal que pareça, jamais trocou um aperto de mão com A. O. Rodrigues, o fundador da nossa Ordem. Correspondências epistolares constituíram o elo de ligação entre os dois predestinados, que jamais se conheceram pessoalmente. Todavia, sempre se uniram espiritualmente como, sem duvida, estão agora, mais do que nunca.
Notável astrólogo, em uma carta particular dirigida a A. O. Rodrigues, revelara-lhe notáveis predições sobre o destino de nossa Ordem, inclusive o desenlace do patrono-fundador, o que ocorreu com precisão matemática.
Admirado querido e respeitado por todos os esoteristas, foi o seu nome declinado com profundo carinho e simpatia na Sessão branca realizada em sua homenagem no salão nobre da nossa ordem, na noite de 3 de junho de 1975, onde o Sr. Gervásio de Figueiredo, Presidente do Supremo Conselho, perante a numerosa assistência que ali acorreu, expôs os traços biográficos do ilustre extinto, realçando a sua longa, sincera e fecunda atuação no seio da nossa Ordem.
Nascido a 24 de dezembro de 1872, Valdomiro Lorenz desencarnou com 85 anos de idade, tendo se filiado ao Círculo Esotérico aos 7 de maio de 1910, isto é, 10 meses e 10 dias após a fundação do mesmo.
Saudosos, porém, serenos e conformados, em consonância com os nossos princípios, aqui expressamos os nossos mais ardentes votos para que seu espírito, agora mais liberto, ingresse gloriosamente nos planos superiores, onde colherá os frutos da sua dignificante jornada neste planeta e continuará a iluminar as mentes dos que lutam pelo progresso e o adiantamento moral da humanidade.”
Extraído da revista “O Pensamento” de Junho de 1957.
Terminamos esta breve homenagem transcrevendo mais algumas palavras de Francisco Valdomiro Lorenz em um ensinamento de importância capital para todos os que buscam o caminho do espírito:
O domínio de si em relação ao mental é o domínio sobre os pensamentos. Na mente sem controle, os pensamentos vem e vão, inquietando o homem. É difícil dominar a mente, porque, como diz Arjuna, no “Bhagavad Gita”(parte VI, versículos 33 e 34): “a mente e o coração são instáveis, inquietos, turbulentos, vacilantes, obstinados e insubmissos a vontade; parece que dominar o coração ou a mente em suas inclinações é tão difícil, como reter o próprio vento”. Krishna, porém, responde: “Tens razão, dizendo que é difícil dominar a mente, porque é instável e inclina-se ora a um, ora a outro objeto; entretanto, quem fortaleceu a sua vontade por meio de exercícios e disciplina, pode ser senhor do seu coração, senhor de sua mente."
Estes exercícios são os de concentração e meditação. Por meio deles, vence-se a insubmissão mental, e o discípulo não pensa o que lhe vem a mente, mas aquilo que ele quer.” Fragmento extraído do artigo, “O Caminho à Liberdade Espiritual”, revista “O Pensamento” Maio de 1935.