Swedenborg foi um dos homens mais notáveis de toda a história. Nascido na Suécia, era filho de Sarah e Jesper Swedberg, um pastor Luterano e capelão real que foi, mais tarde, Bispo de Skara. Formou-se em Engenharia de Minas e serviu ao seu país durante muitos anos como Assessor Real para assuntos de mineração. Após a morte do pai, sua família foi elevada à nobreza pela Rainha Ulrica, pelos méritos do Bispo Swedberg. O sobrenome familiar foi então mudado para Swedenborg e, assim, Emanuel, como filho mais velho, passou a ter lugar no Parlamento sueco, onde teve destacado papel durante muitos anos.
Foi catedrático de Matemática na Universidade de Uppsala, ao mesmo tempo que pesquisava a fundo áreas tão distintas quanto anatomia e geologia, astronomia e hidráulica. Quando dominava o assunto, publicava obras sobre suas conclusões, obtendo o respeito de outros especialistas e autores das diversas áreas. Vários conceitos emitidos por Swedenborg, nesses estudos, são considerados como pioneiros. Em razão dessas realizações, Swedenborg passou a ser considerado um dos heróis nacionais na Suécia, razão porque seu retrato se encontra no hall da Academia de Ciências daquele país e seu túmulo entre os de reis suecos, numa catedral de Estocolmo.
Famoso pelas suas obras e rico por herança materna, esse homem dominou praticamente todas as ciências de seu tempo, até que, aos 56 anos, relata que um fato espantoso mudou sua vida. Afirma que foi designado pelo Senhor, que a Ele apareceu em 1744, para a missão de ser o porta-voz da revelação do sentido interno ou espiritual da Bíblia, até então oculto. Ao ser revelado esse sentido, também foram abertos os segredos do "o Céu, e as Suas maravilhas, e o Inferno", como descreveu, e tornou-se, também, testemunha ocular dos eventos que constituíram o Juízo Final. Mais tarde, Swedenborg reconheceu que foi, aliás, por causa dessa missão espiritual que ele fora preparado pelo Senhor desde a infância, e progrediu nos conhecimentos naturais sem nunca olvidar a fé no Criador.
Os Escritos admiráveis que foram publicados a partir desse período têm influenciado mentes de homens, mulheres e crianças, tanto pessoas humildes quanto da realeza, anônimos ou ilustres famosos, como Carlyle, Ralph Waldo Emerson, Baudelaire, Balzac, William Blake, Helen Keller e Jorge Luis Borges. No entanto, esses mesmos Escritos teológicos e espirituais são motivo para que se façam julgamentos parciais e de interesses, lançando dúvida sobre a sanidade mental do autor e sua reputação científica anterior. Por causa de sua teologia, Swedenborg sofreu censura e forte perseguição por parte de religiosos cristãos em seu país, onde seus livros foram proibidos. De fato, a doutrina por ele exposta abala as bases da crença tradicional do cristianismo, a saber, em um Deus dividido em três pessoas, num sacrifício sanguinário de uma pessoa (o Filho), para aplacar a ira da outra pessoa (o Pai).
Por confrontarem à teologia cristã atual, suas obras foram tidas como heréticas, embora todas as suas proposições doutrinais estejam farta e firmemente confirmadas pelo textos do Antigo e Novo Testamentos da Bíblia. Do princípio ao fim, do primeiro ao último de seus Escrito, Swedenborg não faz outra coisa senão revelar e exaltar o caráter Divino do Senhor Jesus Cristo, sendo ali revelado como o próprio Deus que "Se fez carne e habitou entre nós". Esse caráter Divino de Jesus nunca foi tão claramente exposto nem defendido em nenhum outro tratado teológico até hoje. Mas ele estava bem ciente da dificuldade com que seus Escritos seriam aceitos, pois escreveu: "Prevejo que muitos dos que lerem as explicações que se seguem e as descrições, no final dos capítulos, das coisas por mim presenciadas no mundo espiritual, suporão que se trata de pura imaginação. Asseguro, porém, que não foram por mim inventadas, mas existiram em realidade e foram vistas em estado de completa vigília. E isto porque aprouve ao Senhor manifestar-Se a mim e fazer de mim Seu instrumento no ensino da doutrina da nova igreja. Assim, foram-me abertos os interiores da mente e do espírito, o que me permitiu estar simultaneamente em contato com os anjos no mundo espiritual e com os homens no mundo natural, e isto durante anos".
E, quando se dirigiu ao Rei da Suécia, afirmou solenemente:
"Que nosso Salvador Se revelou a mim visivelmente e me mandou fazer o que tenho' feito e ainda tenho de fazer, e que me permitiu comunicar-me com anjos e espíritos, eu o tenho declarado a toda a cristandade, tanto na Inglaterra, Holanda, Alemanha e Dinamarca, como na França e Espanha, e também neste país, em várias ocasiões, diante de Vossas Majestades Reais, e especialmente quando fui honrado em me assentar à mesa da família real, diante da qual e de cinco senadores minha missão foi o único assunto da conversa. Mais tarde, expus o mesmo assunto diante de cinco senadores. Entre eles, os condes Tessin, Bonde e Hopkin julgaram que assim é, em verdade.
"Além dessas, muitas outras pessoas, tanto do país como do estrangeiro, entre as quais se encontram reis e príncipes, têm tido conhecimento de minha missão. Apesar de tudo isso, o Ministério da Justiça declara que esses fatos são falsos, quando não o são. Se dissessem que tais fenômenos são incompreensíveis, nada teria eu a replicar, uma vez que não posso convencer os outros da minha capacidade de ver e ouvir aquilo que eles não vêem e ouvem. Também não posso fazer com que os anjos e espíritos conversem com eles: o tempo dos milagres já passou. Com sua própria inteligência, entretanto, poderão examinar o assunto e preparar-se para compreender esses fenômenos, ao lerem e meditarem sobre meus escritos, nos quais se descrevem muitas coisas sobre as quais jamais alguém escreveu e não poderiam ser descobertas senão por visões ou por comunicação com aqueles que estão no mundo espiritual.
"Para compreender isto, basta que seja examinado o que foi dito relativamente ao assunto no meu livro sobre o Amor Conjugal. Se restar, ainda, alguma dúvida, estou pronto para testificar, com o juramento mais solene que se me possa prescrever, que o que acabo de dizer é inteiramente verdadeiro e real, sem o menor exagero. Isto me foi permitido experimentar por nosso Salvador, não por meu merecimento, mas por amor a todos os cristãos. Sendo isso o que tem ocorrido de verdadeiro, mal é que o declarem inexato e falso, embora possam alegar que se trate de algo incompreensível" (Tafel, Documentos Sobre Swedenborg).
"O simples testemunho que dê não basta, porém, nos dias de hoje, para convencer os homens daquele fato. Qualquer pessoa, porém, de entendimento são, pode chegar a uma conclusão afirmativa pelo testemunho de meus escritos, especialmente do "Apocalipse Revelado". Quem teve informações precisas, até agora, do sentido espiritual da Palavra, do mundo espiritual, do céu, do inferno e da vida do homem depois da morte? Deveriam estas e muitas outras coisas permanecer perpetuamente ocultas aos cristãos? Pela primeira vez foram elas mostradas por amor de uma nova igreja, que é a Nova Jerusalém, não somente para que seus membros meditem sobre elas, mas também para que cheguem ao conhecimento dos incrédulos de boa vontade e possam convencê-los da verdade." (Documentos Sobre Swedenborg).
Cientista
Estudou e publicou várias obras que abrangiam áreas tão diversas como: química, óptica, matemática, magnetismo, hidráulica, acústica, metalurgia, anatomia, hidrostática, fisiologia, pneumática, geologia, mineração, cristalografia, cosmologia, cosmogonia, dinâmica, astronomia, álgebra, mecânica geral e outras.
Filósofo
Além de publicar diversos tratados de filosofia, formulou e desenvolveu as doutrinas filosóficas sobre o influxo, os graus, as formas, as séries e a ordem.
Na área da psicologia, publicou, entre outros, os tratados: Psicologia empirica (1733), um estudo sobre a obra de Chirstian Wolff, e Psicologia Racional (1742), contendo muitos princípios filosóficos e observações inédtias baseados nas suas observações sobre anatomia.
Teólogo
Nos últimos 27 anos de sua vida, escreveu mais de 40 títulos de exegese bíblica, Cristologia, escatologia e doutrina geral, expondo, por meio da Ciência das Correspondências, o sentido interno ou espiritual que jazia oculto na Palavra. Assim, restaurou os fundamentos primitivos do cristianismo, a saber, a fé em Jesus Cristo como Deus que Se fez carne, bem como outras doutrinas básicas, sobre a fé, a caridade, a vida, a Escritura Santa, o casamento etc.
Inventor
Fez esboços, em 1714, de uma "máquina de voar", que foi considerada pela Academia Real Britânica de Aeronáutica como o primeiro projeto racional de um avião. Inventou vários outros artefatos e instrumentos mecânicos; alguns construiu, outros deixou apenas em esquemas, como uma bomba hidráulica; um dique para construção naval; um guindaste; um compressor a mercúrio; uma carreta mecânica com guindaste; um máquina de parafusar; um instrumento de sopro; uma metralhadora; uma máquina elevadora para extração de minério, um "navio capaz de submergir com a sua tripulação e assim escapar da esquadra inimiga " (o submarino!) além de outros.
Descobridor pioneiro, foi o primeiro a propor a hipótese nebular da criação do universo, meio século antes de Kant e Laplace; fez descobertas que deram origem à ciência da cristalografia; desenvolveu teorias sobre a natureza da energia; descobriu que o cérebro funciona em sincronia com os pulmões; deduziu o uso do fluido cerebro-espinal; foi pioneiro no estudo do magnetismo; apresentou a teoria de galáxias serem constituídas por estrelas com sistemas planetários.
Político
Foi membro atuante do Parlamento por vários anos, tendo apresentado muitas propostas para o desenvolvimento industrial, financeiro e social da Suécia.
Artífice
Praticou as artes da música (como organista), criou instrumentos musicais, aprendeu a fazer encadernação de livros, técninas de relojoaria, gravação de metal, marmoraria, polimento de lentes, jardinagem etc.
Literato
Além das obras científicas e teológicas relacionadas nesta página, Swedenborg publicou a primeira álgebra na língua sueca, escreveu poemas e fábulas, editou um jornal científico intitulado Daedalus Hyperboreus, escreveu biografias e histórias.
Poliglota
Falava sueco, holandês, inglês, francês, alemão, hebraico, grego, latim e italiano.
As obras teológicas de Swedenborg têm sido traduzidas, no todo ou em parte, do original latim para as seguintes línguas: alemão, árabe, birmanês, chinês, dinamarquês, espanhol, esperanto, filipino, finlandês, francês, gujarati, hindu, holandês, inglês, islandês, italiano, japonês, magiar, norueguês, polonês, português, russo, servo-croata, sueco, tamil, tcheco, welsh e zulu.
Bispo Jesper Swedberg
Jesper Swedberg, nascido em 1653, pai de Emanuel, foi o segundo filho de Daniel Isaacsson. Seus pais, pessoas muito piedosas, o dedicaram à igreja e foi ordenado em 1682.
Foi designado Capelão da Cavalaria da Guarda no mesmo ano, nomeado Capelão da Corte em 1686, Deão e Pastor de Vingaker em 1690, Professor da Universidade de Uppsala em 1692, Reitor de Uppsala, em 1694, e Bispo de Skara, em 1702, tendo ocupado este último posto durante trinta e três anos. Era homem de vida correta e piedosa, trabalhador incansável e reformador entusiástico.
Pregador destemido e honesto, tinha a simpatia do rei Carlos XI, que o fez Capelão da Corte, e, postumamente, recebeu o título de nobreza da Rainha Ulrica Eleonora, que foi conferido, por direito de herança, aos seus filhos.
Os biógrafos de Jesper Swedberg afirmam que, por sua conduta exemplar, ele teve um papel de destaque entre seus pares, a ponto de provocar o seguinte comentário de um de seus contemporâneos: "Se ele tivesse vivido alguns séculos antes, a Suécia teria hoje número bem maior de santos. Sua sabedoria, seu espírito empreendedor, seu exemplo de vida e sua dedicação à glória de Deus, merecem ser reverenciados até neste século de maior saber". Ele se dedicou muito à causa da educação, tanto como capelão do exército, quando instituiu um prêmio para cada soldado que aprendesse a ler, quanto como professor de teologia e, mais tarde, reitor da Universidade de Uppsala. Procedeu à reforma do ensino público, escrevendo e editando muitos livros didáticos e, de todas as maneiras, contribuiu para promover o avanço do ensino.
A religião de Jesper Swedberg era eminentemente prática. Na Igreja Luterana, a exemplo de outras denominações protestantes, a fé foi elevada a um nível tal de preeminência, que as boas ações ficaram depreciadas e a moralidade conseqüentemente comprometida. Swedberg achava que a verdadeira fé não poderia estar dissociada de uma vida produtiva e caritativa. Ele denunciava que "muitos se contentavam com o primeiro e segundo parágrafos da "grande fé" (stor-trön em sueco), mas não prestavam atenção aos ensinamentos do terceiro parágrafo, com a "santificação e uma vida sagrada". "A fé da cabeça" (hjarne trön), ou seja, a "fé do cérebro" e a "fé do demônio" eram para ele sinônimos. Foi um pregador destemido, denunciando tanto as faltas daqueles que ocupavam cargos importantes, como os deslizes dos mais modestos pecadores; era especialmente severo com a falta de religiosidade desses últimos e sua abusiva e escandalosa dependência da assistência da igreja.
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Jesper traduziu todo o Antigo Testamento do hebraico para o sueco, fato que, por si, só, já teria dado um grande significado à sua vida.. Seu ecumenismo era notável, considerando-se a época em que viveu. Estava sempre pronto a aceitar as coisas boas de todas as religiões e durante uma visita à Inglaterra chegou a discutir fervorosamente a questão da unificação das denominações cristãs com o Bispo Fell, de Oxford. Admirava o trabalho social da igreja nos países católicos romanos, bem como a dedicação das pessoas influentes desses países aos doentes e pobres; em seu próprio país louvou a prodigalidade dos "piedosos", embora não concordasse com todos os seus ensinamentos e práticas.
O Conselheiro Sandels descreveu Swedberg como "homem obstinado, mas sem preconceitos". Era homem de gostos e hábitos simples, fácil de se satisfazer, que teve um razoável quinhão da riqueza deste mundo, mas morreu pobre, tendo gastado boa parte de sua riqueza na impressão e edição de livros e outros projetos sem fins lucrativos.
Não é de admirar que, para um homem devotado e zeloso como o Bispo Swedberg, as coisas do mundo espiritual tenham sido sempre tão tangíveis. Acreditava piamente na presença de anjos entre os homens e no seu papel de "espíritos ministradores", enviados para revelar aqueles que serão os "legatários da salvação" (Heb. 1:14). Viveu na companhia de seu "anjo da guarda" com quem dizia conversar de vez em quando. Acreditava ter outros dons espirituais, que se manifestavam em certas ocasiões, e parece ter tido poderes hipnóticos de cura. Não muito depois de sua ordenação, conta que ele e os moradores do povoado onde morava ouviram vozes vindas da igreja na hora do crepúsculo. Esse fato o convenceu da presença de visitantes angélicos e fez que reforçasse sua crença na divindade da missão a que se tinha dedicado. Todos esses fatos tiveram ainda maior influência nas extraordinárias experiências de seu filho Emanuel; a idéia do relacionamento íntimo que subsiste entre o mundo físico e o espiritual indubitavelmente provém dos ensinamentos de seu pai.
Sarah Behm
De sua mãe, Sarah Behm Swedberg (1666-1696) não há muitas notícias; ela era obviamente muito ocupada com suas tarefas domésticas, tendo tido nove filhos durante seus doze anos de vida matrimonial. Morreu aos trinta anos de idade, quando Emanuel tinha apenas oito anos.
Infância de Swedenborg
Nasceu em Estocolmo, a 29 de janeiro de 1688 e era o segundo filho homem e o terceiro de todos os pais.
Em 1692 (o jovem Emanuel estava com quatro anos), seus pais se mudaram para Uppsala, onde Jesper foi nomeado professor de Teologia e Reitor da grande Universidade de Uppsala. Aos 8 anos de idade, o menino perde a mãe, Sarah. Jesper se casa novamente com outra Sara (sara Bergia) e esta foi madrasta muito bondosa para com os enteados, incluindo o menino Emanuel. Ela era, também, muito rica, deixando para ele uma grande fortuna, especialmente sociedades em indústrias de mineração.
Além disso, tudo o que se sabe sobre a infância de Swedenborg provém de uma carta que escreveu, em 1769, a seu amigo, Dr. Beyer, professor de grego na Universidade de Gotemburgo. Na carta diz: "Dos quatro aos dez anos eu estava constantemente meditando sobre Deus, a salvação e as experiências espirituais do homem; às vezes fazia revelações que levavam meus pais a dizer que os anjos estavam falando através de mim. Dos seis aos doze anos eu tinha muito prazer em conversar com clérigos sobre fé, afirmando-lhes que o que dá vida à fé é o amor e que o amor que é a fonte da vida é o amor ao próximo; dizia-lhes também que Deus deu a fé para todos, mas só aqueles que praticam o amor são merecedores dela. Naquele tempo eu só sabia que Deus era o Criador e Preservador da Natureza e que Ele deu ao homem compreensão e boa disposição e algumas outras coisas do gênero. Eu não sabia nada sobre aquela fé cultivada que nos ensina que Deus, o Pai, transmite as virtudes de Seu Filho a quem quer que seja e, a qualquer tempo que Ele escolha, até mesmo àqueles que ainda não se arrependeram e não reabilitaram suas vidas. E se isso me tivesse sido revelado, naquela época como agora, tudo estaria muito acima de minha compreensão".
Em 1699, aos onze anos de idade, Emanuel foi matriculado na Universidade, onde estudou durante dez anos. Todas as matérias vistas hoje num curso básico e pré-universitário eram dados, naquela época, num único curriculum que enfatizava matemática e ciências naturais, numa mesclafem com grego, teologia, direito e outras matérias.
Quando Emanuel tinha 15 anos, em 1703, o rei Carlos XII nomeou Jesper Swedberg para a posição de Bispo de Skara (o que incluía ser o Bispo para as igrejas suecas que havia nas colônias britâncias da América). O pai mudou-se para Skara, mas Emanuel ficou em Uppsala, para continuar seus estudos, agora na Universidade. Ficou, então, morando com a irmã mais velha, que havia se casado com Dr. Eric Benzelius (1675-1743). Esse homem tinha sido Bibliotecário e professor da Universidade de Uppsala. Ele veio a ser tutor e grande amigo do jovem Emanue, que o tinha como pail. Benzelius veio a se tornar um dos homens mais cultos da Europa e arcebispo da Igreja Luterana na Suécia.
Naquela época, em Uppsala, todo o corpo acadêmico estava envolvido na argumentação quanto à liberdade de pensamento, conforme havia sido pregado pelo filósofo Descartes, quando ele ensinou ali, pouco antes de sua morte. A resistência às idéias de Descartes era para que se mantivesse o antigo sistema, de se ensinar somente o que tivesse a aprovação da igreja. Nesses debates, Benzelius era cartesiano e Jesper era porta-voz da posição conservadora. Emanuel, durante muito tempo em sua vida, sentiu-se atormentado pelo conflito entre o cartesianismo defendido por seu "segundo pai" e a obediência devida à fé, defendida pelo bispo Swedberg.
Emanuel completa seu curso na Universidade em 1709. Um historiador classificou a sua dissertação final de formatura, elaborada com a orientação de seus superiores, como "um trabalho muito inteligente para um jovem".
Depois de deixar a universidade, publicou alguns de seus poemas em latim, que, segundo o conselheiro Sandels, mostravam "formidável sagacidade e que havia feito bom uso de sua juventude". Swedenborg continuou nessa atividade por alguns anos, e chegou a ser considerado poeta entre seus familiares.
Livre dos tutores, aulas e livros escolares, Swedenborg se refugia em Brunsbo, na residência episcopal perto de Skara, e começa a elaborar os planos para uma longa viagem ao estrangeiro. A maior dificuldade parece ter sido arranjar os recursos para a viagem; seu pai era um homem de poucas posses, muitos compromissos e não muito longe da penúria. Em carta datada de 13 de julho de 1709, Swedenborg pede a seu cunhado, Benzelius, assistência para seu projeto de viagem. Também solicita sua recomendação para uma faculdade inglesa, onde pudesse aperfeiçoar seus conhecimentos de matemática, física e história natural. Propunha-se a preparar um resumo das principais descobertas ocorridas no campo da matemática ao longo dos séculos e acrescentar-lhes tudo o que pudesse descobrir no curso de suas viagens.
Praticidade e obstinação
O raciocínio de Swedenborg era sempre prático, seja como cientista, seja como teólogo; não entendia como alguém podia contentar-se apenas com a teoria. Certa época, por exemplo, seu cunhado, Benzelius, estava lutando para instalar um observatório em Uppsala, com o apoio entusiasmado de Swedenborg. Outras pessoas, porém, não mostravam o mesmo entusiasmo pelo projeto. Sobre isso, Swedenborg então escreveu: "Admira-me a atitude de seus amigos matemáticos, que não demonstram vontade de colaborar na construção de um observatório astronômico. É uma fatalidade que matemáticos permaneçam sempre na teoria. Sempre pensei que o mundo sairia ganhando se a cada dez matemáticos se juntasse um homem prático que lhes mostrasse a realidade. Nesse caso, esse homem seria mais conhecido e útil que todos os outros juntos".
Integridade
Swedenborg e o Assessor Christopher Polhem foram sempre muito amigos. Suas relações eram tão boas, que, por recomendação do rei Carlos XII, Polhem prometeu ao jovem Swedenborg a mão de sua filha mais velha. Numa de suas cartas ao cunhado Benzelius, Swedenborg dá a entender que chegou a ficar noivo dela; mas ela veio a se casar com outro. Ela, porém, tinha uma irmã mais nova, por quem o jovem Swedenborg se afeiçoou e que, mais tarde, lhe foi formalmente prometida por Polhem. A moça, ao que parece, nunca fora consultada, tendo sido tudo arranjado à sua revelia; parece, entretanto, que ela não gostava do noivo. Ao se dar conta disso, Swedenborg prontamente renunciou à promessa, demonstrando seu alto espírito de honradez e sensibilidade.
O livro de Memórias, de Robsahm, registra que, quando conheceu Swedenborg, Emerentia (este era o nome da jovem) tinha treze para quatorze anos, e, portanto não podia ser obrigada a noivar. Diante disso, seu pai, que gostava de Swedenborg, deu-lhe uma escritura pela qual lhe outorgava o direito de esposá-la em data futura. Era sua esperança que, com a idade, ela viesse a aceitar o noivo designado. A noiva foi obrigada a assinar a escritura. No entanto, como ela se queixasse desse penhor quase todos os dias, seu irmão, Chamberlain Gabriel Polhem, aborreceu-se tanto com o negócio que resolveu furtar a escritura de Swedenborg. Este, que se comprazia com a esperança do casamento, sentiu imensamente o choque. Sua dor foi tão flagrante que o pai da noiva insistiu em saber o motivo. E imediatamente ofereceu usar sua autoridade para fazer restabelecer a escritura. Mas, ao ver o sofrimento da moça, Swedenborg decidiu renunciar à promessa.
Humildade após o orgulho
Quando era jovem, o orgulho intelectual parece ter sido uma de suas faltas mais flagrantes. Mais tarde, porém, quando começou o período de pesquisas filosóficas e psicológicas, já apresentava uma mudança que viria a ser notável no fim de sua vida, pois, por aquela época, escreveu:
"Vi uma livraria e, imediatamente me veio a idéia de que minha obra teria maior repercussão do que a de outros; entretanto, logo me dei conta de meu erro. Porque um serve ao outro, e o Senhor tem muitos modos de preparar um homem, de sorte que todo e qualquer livro deve ter seus próprios méritos, como meio próximo ou remoto, de acordo com a condição racional de cada homem. Contudo, a arrogância se faz sempre presente em nós. Que Deus a controle, pois Ele tem esse poder em Suas mãos!"
Em seu Diário, noite do dia 7 para o dia 8 de abril de 1743, escreve: "Descobri que eu era menos merecedor do que os outros e o maior dos pecadores; por esse motivo, nosso Senhor permitiu que meu pensamento penetrasse em certas coisas mais profundamente do que os outros; descobri, também, que a fonte desses pecados está nos pensamentos que trago dentro de mim; assim, descobri que meus pecados têm uma origem muito mais profunda que a dos outros; e, portanto, descobri minha inutilidade e que meus pecados eram maiores do que os dos outros homens". Da noite do dia 8 para o dia 9 de abril, lemos: "Roguei a misericórdia de Cristo para tanto orgulho e arrogância de que tanto me lisonjeava". E no registro da noite do dia 13 para o dia 14 de abril, confessa: "Estou sempre inclinado a me gabar por meu trabalho".
Alguns meses depois (na noite de 6 para 7 de outubro) escreveu: "...Depois, refleti sobre esses pensamentos e recebi a instrução de que o amor por qualquer objeto, como, por exemplo, pelo trabalho com que atualmente me ocupo, sempre que esse objeto for amado por si só e não como um veículo do único amor, o amor a Deus e a Jesus Cristo, é um amor espúrio".
Em outra ocasião, Swedenborg estava assistindo a uma conferência no Colégio Real de Medicina de Londres, quando, "levado pelo impulso", diz, "cometi a leviandade de pensar que meu nome deveria estar entre os dos eminentes anatomistas citados; porém, fiquei satisfeito ao verificar que isso não aconteceu".
A vaidade intelectual não era a única forma de tentação a que Swedenborg estava sujeito. As profundezas de sua alma estavam tão assediadas por esses pensamentos, que se sentia "em contínuo estado pecaminoso". No registro da noite de 11 para 12 de abril, escreve: "Notei, em minhas reflexões, que todos os meus pensamentos, mesmo os que consideramos puros, continham uma boa dose de pecado e impurezas... o mesmo acontecia com todos os desejos que fluíam do corpo para a mente; esses emanavam de raízes muito profundas. Embora um pensamento possa parecer puro, é fato que uma pessoa pode pensar de determinada maneira levada por timidez, hipocrisia e muitas outras causas, como podemos determinar através da exploração de seus pensamentos; sob esse aspecto, o homem é incapaz de se livrar do pecado, pois não há um só pensamento que não esteja ligado com a sujeira e a impureza. Com efeito, já observei que nossa vontade integral, na qual nascemos e que é governada pelo corpo e introduz pensamentos, é antagônica ao espírito; portanto, estamos mortos para o bem e sempre propensos a praticar o mal".
Afabilidade
Seria impossível imaginar um homem mais simples e menos mundano que Swedenborg. Embora fosse de muitas posses, não as gastava consigo mesmo, e se contentava com as coisas mais básicas da vida. Confiava tanto nas pessoas, que mandava seu senhorio apanhar numa gaveta o dinheiro de que precisasse. Em sua morte, não deixou testamento e tinha poucas posses.
Nos últimos anos de vida costumava viajar sozinho. Disse a seu amigo Cuno que não precisava de companheiro, porque seu anjo sempre o acompanhava. Onde quer que fosse, Swedenborg era muito querido e as pessoas achavam que ele lhes trazia boa sorte. Até os capitães de navio diziam que as viagens transcorriam sempre melhor quando ele estava a bordo. Um comandante chegou a declarar: "Se Swedenborg quiser, terá sempre passagem grátis comigo, porque em toda minha experiência no mar, nunca velejei melhor". O Sr. Shearsmith, com quem Swedenborg se hospedava em Londres, observou que "todas as coisas prosperavam em sua vida enquanto Swedenborg estava morando em sua casa". E a esposa, Sra. Shearsmith, disse ao Sr. Peckitt, que "Swedenborg era uma bênção em sua casa, pois eles tinham harmonia e bons negócios enquanto estava com eles".
Labor diligente
O abade Pernety diz que Swedenborg "era um ser infatigável que trabalhava dia e noite". E Cuno escreveu, assim, sobre o nosso biografado: "Ele trabalha com disposição impressionante e sobre-humana na elaboração de seu novo livro. Dezesseis laudas, em tipo menor do que o usado em seus últimos livros, já foram consumidas. É, realmente, fantástico, se considerarmos que cada lauda impressa corresponde a quatro manuscritas. Mantém uma média de duas laudas impressas por semana... E ele mesmo faz as revisões e correções". Cuno fez esse depoimento, a 26 de janeiro de 1771, quando Swedenborg estava às vésperas de completar seu octogésimo terceiro ano de vida! O conselheiro Sandels comentou, a este respeito, o seguinte: "Não posso deixar de admirar essa sua obstinação pelo trabalho". E, quando lembramos que, além dos quase trinta volumes e muitas obras menores que deixou impressos, há uma grande quantidade de manuscritos, talvez mais do que as obras que publicou, ficamos impressionados também e podemos bem entender a observação de seu cunhado, Bispo Benzelius: "Ele foi muito parcimonioso com seu tempo".
Sobriedade
Também temos muitos relatos sobre os hábitos pessoais de Swedenborg. Alimentava-se e bebia com moderação, raramente comia carne, e nunca tomava mais de dois ou três cálices de vinho e, assim mesmo, em reuniões sociais. O Sr. Shearsmith observa: "Sua dieta excluía quase que inteiramente a carne; pela manhã só tomava leite e café, fazendo o mesmo à tarde com acompanhamento de bolos, e não jantava. Gostava de muito açúcar no café e no leite, bem como bolos açucarados, dizendo que o açúcar o nutria. Sua moderação com a bebida era tanta que nunca bebia cerveja ou vinho, ou outra bebida alcoólica, enquanto estava em minha casa. Levantava-se, geralmente, às cinco ou seis horas da manhã e ficava estudando ou escrevendo até às oito, quando tomava meio litro de leite; em seguida, se não saísse, continuava escrevendo ou lendo até às 3 ou 4 da tarde, quando bebia outro meio litro de leite ou tomava grande quantidade de café; freqüentemente, ia se deitar às 6 ou 7 da noite, sem nunca jantar". "Quando não tinha convite para comer fora", diz Robsahm, "seu almoço consistia somente de biscoitos embebidos no leite".
Aparência e traços pessoais
Cuno disse que a pintura gravada por Bernigroth, "é a imagem perfeita de Swedenborg, particularmente os olhos, que permaneceram vivos, mesmo na velhice". Os olhos eram, indiscutivelmente, seu traço fisionômico mais marcante. Seu olhar tinha um forte magnetismo, como descreve a mesma testemunha: "Notei várias vezes como indivíduos sarcásticos, que tinham vindo às reuniões aonde eu o tinha levado, e cujo propósito era caçoar do velho Senhor, esquecerem-se da galhofa e de toda a sua zombaria, e pararem, estáticos, para ouvir as coisas singulares que falava sobre o mundo espiritual, como uma criança de coração aberto, sem reservas e com plena confiança. Era como se seus olhos tivessem o poder de impor silêncio nos ouvintes".
Quando se despediu de Cuno pela derradeira vez, em 1769, a conversa girou sobre a possibilidade de os dois amigos nunca mais se encontrarem. E Swedenborg falou com entusiasmo sobre a grande mudança que, sabia, estava para lhe acontecer. "E enquanto falava", disse Cuno, "tinha o olhar tão alegre e inocente, como eu nunca tinha visto antes. E não o interrompi". Outros testemunhos falam de sua aparência seráfica e da serenidade de seu semblante. O Reverendo Thomas Hartley, em carta ao Reverendo John Clowes, comenta: "Seu semblante tranqüilo e complacente transmite imensa paz interior". E, quando estava em contato com o mundo espiritual seu semblante resplandecia radioso, magnetizando os circunstantes. Porém, sua fisionomia era, ordinariamente. plácida e complacente.
A maioria de seus contemporâneos descreve Swedenborg como de estatura alta, embora, talvez, fosse de altura mediana. Alguns, entretanto, o descrevem como sendo de baixa estatura. O Sr. Theodore Compton, aos noventa e um anos de idade, escreveu a seguinte nota sobre Swedenborg: "Um velho diretor de escola primária, a quem conheci quando criança, certa vez me contou que costumava ver Swedenborg em Clerkewell: um homenzinho, amigo das crianças, distribuindo balas de gengibre às que encontrava pela rua".
Sobre sua velhice, o Sr. Shearsmith, seu senhorio, escreveu: "Antigamente, deve ter sido um homem corpulento, mas a vida sedentária e intensa dedicação aos estudos deu-lhe uma compleição franzina e pálida nos últimos anos de vida". O Reverendo Nicholas Collin, reitor da Igreja Sueca de Filadélfia, que visitou Swedenborg em 1766, descreve assim sua aparência física: "Sendo muito idoso quando o vi, era magro e de tez pálida, mas conservava ainda algo de agradável em feição e de dignidade em seu porte ereto". Carl C. Gjorwell, bibliotecário da Biblioteca Real de Estocolmo, que esteve com Swedenborg em 1764, descreve assim sua compleição física: "Apesar de ser um homem idoso e de cabelos grisalhos, seus passos são firmes e ágeis, gosta de conversar e fala com jovialidade. Sua tez pálida e compleição magra mas é sorridente e cheio de alegria".
Essa agilidade de Swedenborg, em plena idade provecta, impressionava a todos que com ele conviviam. Cuno escreveu: "A respeito da aparência externa do Sr. Swedenborg, ele é, levando em conta sua idade, de saúde admiravelmente perfeita. É de estatura mediana e, embora seja vinte anos mais velho que eu, não teria coragem de desafiá-lo para uma corrida, pois é tão ligeiro nas pernas como um jovem". E ligeiro era também nas decisões. Na primeira vez em que foi convidado para jantar em Knauw, Cuno, que lhe levou o convite pessoalmente, disse: "O velho cavalheiro aceitou e já estava preparado para ir".
"E, na última vez em que o vi, em casa do Sr. Odon, disse-me que em sua boca estava surgindo uma nova dentição. E quem já ouviu falar da nova dentição num homem de oitenta e cinco anos de idade?"
Durante sua última viagem ao exterior, em 1770, o navio de Swedenborg ficou retido em Elsinore, devido aos ventos contrários. Lá residia um de seus primeiros discípulos, o general Christian Tuxen. Este foi a bordo do navio oferecer a Swedenborg a hospitalidade de sua casa e o encontrou meio indisposto. Porém, assim que o general acabou de fazer o convite, Swedenborg imediatamente aceitou, "levantou-se, meteu-se no traje costumeiro e aprontou-se com a agilidade de um jovem de vinte anos".
Seu traje usual para visitas era um terno de veludo preto, de corte tradicional, polainas, espada e uma bengala dourada. Um de seus biógrafos suecos diz que, "seguindo o costume da época, usava uma peruca não muito longa. Sua indumentária incluía, ainda, um sobretudo de veludo azul-acinzentado, e meias longas e sapatos de fivela de ouro". Outro testemunho diz: "Seu traje de inverno incluía um belo sobretudo de pele de renas e, no verão, um terno formal; ambos pareciam bastante surrados, como cabe a um filósofo. Suas roupas eram modestas. Às vezes saía com um pé de sapato trocado ou uma camisa que não combinava com o resto da indumentária. Certa ocasião, Swedenborg compareceu a um jantar na casa do meu pai, usando em um dos sapatos fivela de prata e no outro uma fivela cravejada adornada com pedras preciosas, fato que provocou grande divertimento às meninas presentes, que aproveitaram a ocasião para caçoar do idoso cavalheiro".
Cortesia com as mulheres e polidez
Embora nunca tenha se casado, Swedenborg não era indiferente ao sexo oposto, como afirma seu amigo Sandels, "pois apreciava a companhia de uma mulher inteligente e fina como uma das fontes mais puras de deleite. Todavia, seus profundos estudos exigiam que houvesse em sua casa perfeito silêncio de dia e de noite. Por isso, preferiu permanecer só".
Cuno conta que, certa vez, Swedenborg conversava, ladeado por algumas senhoras. "Suas maneiras eram extremamente refinadas e galantes. Quando anunciaram que o jantar estava servido, ofereci o braço à anfitriã e imediatamente nosso jovem de oitenta e um pôs suas luvas e deu o braço à Mademoiselle Hoog, parecendo estar muito à vontade. Nosso idoso cavalheiro se sentou entre Madame Konauw e a mais velha das senhoritas Hoog, sendo ambas muito hábeis na conversação... Parecia desfrutar muito o prazer de ser tão atenciosamente servido pelas senhoras".
Cuno observou que "o Sr. Swedenborg transita com desenvoltura em toda parte, e sabe como lidar tão bem com os superiores quanto com os inferiores". "Ele não era apenas um homem erudito" diz Robsham, "mas era também um polido cavalheiro, pois um homem de tamanha erudição, que, por seus livros, suas viagens e seu conhecimento de línguas, adquiriu distinção tanto em casa quanto no exterior, não podia deixar de possuir maneiras adequadas e tudo o mais que, naqueles tempos tidos como sérios, faziam que um homem fosse honorável e aceito numa sociedade. E seu espírito jovial e simpático permaneceu inalterado até na velhice, embora, em certas ocasiões, sua fisionomia adquirisse traços incomuns, somente notados em homens de grande gênio".
Ternura com as crianças
Embora não tivesse crianças ao seu redor em casa, era muito amigo delas. Sendo, ele mesmo, de temperamento jovial e comunicativo, agradava-lhe a companhia dos inocentes e dos jovens. Uma senhora, em cuja casa Swedenborg se hospedava quando viajava a Amsterdam, disse a Cuno: "Meus filhos vão sentir muita falta dele, pois nunca chegava sem doces para eles. Os malandrinhos brincavam tanto com o velho senhor que preferiam a companhia dele à dos próprios pais". Como já foi dito, costumava levar balas nos bolsos, para distribuir à criançada que encontrava durante suas caminhadas.
O Sr. Hart, da Poppin’s Court, na Fleet Street, foi o tipógrafo de Swedenborg durante muitos anos e o recebia freqüentemente em sua casa. "Dava atenção à filhinha de Mr. Hart, que tinha uns três anos quando Swedenborg morreu. "O céu habita conosco quando somos crianças", escreveu Wordsworth; e Swedenborg expressara o mesmo pensamento vários anos antes. Sem dúvida alguma, os contatos de Swedenborg com os anjos lhe davam um espírito de criança. O Sr. Shearsmith referiu-se, assim, a essa particularidade de Swedenborg: "Ele parecia levar uma vida de criança; dava pouco valor ao dinheiro e pagava, sem regatear, o preço que as pessoas pediam pelas coisas que comprava".
Outra interessante história é contada por Anders Fryxel, um historiador sueco: "Minha avó, Sara Greta Askbom, casada com Anders Ekman, Conselheiro comercial e prefeito distrital, nasceu e se criou no bairro de Björngärdsgatan, onde seu pai vivera, não muito longe da casa de Swedenborg, com quem ele tinha relacionamento. Quando tinha apenas quinze ou dezesseis anos de idade, ela freqüentemente pedia ao "tio" Swedenborg que lhe mostrasse um espírito ou um anjo. Depois de muita insistência, Swedenborg afinal acedeu e a levou para um dos aposentos de hóspedes da casa. Lá, colocou-a diante de uma cortina que estava abaixada, e lhe disse: ‘Agora verás um anjo’. Então levantou a cortina e a jovem viu sua própria imagem refletida num espelho".
Desprendimento e honestidade
Durante muito tempo, Swedenborg publicou seus trabalhos teológicos anonimamente, não auferindo nenhum benefício com sua venda. Seu editor londrino, John Lewis, estabelecido na Paternoster Row, escreveu a seguinte nota num anúncio do segundo volume da obra Arcanos Celestes: "Quero, de público, testemunhar que esse cavalheiro, com infatigável labor e pesares, gastou um ano inteiro preparando e escrevendo o primeiro volume dos Arcanos Celestes e pagou, pela sua impressão, duzentas libras, tendo adiantado outras duzentas para este segundo volume. E, tendo feito isto, deu ordens expressas para que todo o dinheiro fosse dado à obra de propagação do evangelho. Assim, está muito longe de desejar obter lucro deste seu labor, visto que não receberá de volta nem um níquel das quatrocentas libras que gastou. Por essa razão, a obra chega ao público a um custo extraordinariamente baixo".
De acordo com Cuno, o público nem sempre conseguia comprar as obras por esse custo "extraordinariamente baixo", mas a culpa não era do autor. "Ele tem publicado seus muitos escritos na Inglaterra e neste país (Holanda) às suas expensas somente, e nunca ganhou um centavo com sua venda. Todos esses escritos são impressos em papel caro e, no entanto, ele os dá de graça. Os livreiros a quem os dá para venda cobram por eles o que podem. De fato, vendem-no razoavelmente caro, segundo minha própria experiência, pois tive de pagar quatro florins por uma cópia de seu Apocalipse Revelado. O livreiro mesmo, porém, me disse que o autor nunca pede lhe contas nem a qualquer outro negociante".
Cumpre citar outro incidente relativo aos negócios de publicação, como testemunho da absoluta fidelidade de Swedenborg. Desejou publicar sua obra Verdadeira Religião Cristã em Paris, e submeteu-a à aprovação do Censor de imprensa. A permissão para publicação foi dada, com a condição de que a edição saísse como tendo sido publicada em Londres ou Amsterdam, como era de costume. Todavia, não era assim que Swedenborg agia, e, por isso tomou seu manuscrito e foi publicá-lo em Amsterdam com um editor honesto.
Sinceridade
Sinceridade e franqueza foram qualidades marcantes da personalidade de Swedenborg, como afirmaram muitos que o conheceram. A Sra. Hart, esposa de seu tipógrafo londrino, disse ao Sr. Provo que "Swedenborg era de uma natureza tal que nunca tentou impor suas idéias a ninguém; falava sempre a verdade sobre os assuntos mais insignificantes e nunca usaria de evasivas, ainda que sua vida estivesse em risco". Esse depoimento é corroborado por outros contemporâneos de Swedenborg.
O abade Pernety se expressou assim sobre o nosso biografado: "Swedenborg era muito gentil, mas também franco, e nunca traiu a verdade por temor de homens nem por qualquer outra razão".
Em carta escrita ao General Tuxen, datada de 21 de maio de 1773, o conde Höpken escreve: "O saudoso Swedenborg foi, certamente, um modelo de sinceridade, virtude e piedade, e, ao mesmo tempo, na minha opinião, o homem mais culto deste reino". E, em outra passagem, se refere a Swedenborg como "aquele honesto ancião".
Referindo-se à nomeação de Swedenborg para o Conselho de Mineração, o conselheiro Sandels salientou que, apesar de muito jovem, Swedenborg "já era muito conhecido em seu próprio país e no exterior, por suas aquisições em literatura geral e em ciências, e por sua conduta digna". Sandels referiu-se, ainda, à "sua disposição genuinamente boa" e declarou que "Swedenborg deveria servir de modelo de virtude e de reverência ao Criador, porque nele não havia procedimento dúbio". E continua: "Não se viu nele nenhum sinal de arrogância, grosseria ou intenção de enganar".
Testemunho cristão e religiosidade
Por alguns anos, Swedenborg raramente ia à igreja, o que provocou severas críticas de seus inimigos e algumas interpelações de amigos mais íntimos. Robsahm explica que "Swedenborg não podia continuar aceitando como verdade pregações tão diferentes de suas revelações. Além disso, já enfrentava graves problemas de saúde". O próprio Swedenborg confidenciou ao Reverendo Ferelius que "já não encontrava paz na igreja, por causa dos anjos que discordavam do que o ministro dizia, especialmente quando o assunto do ministro era as três pessoas da Divindade, o que é o mesmo que três deuses".
Um sabatista comentou com Shearsmith que Swedenborg não podia ser considerado um bom cristão, pois não guardava o "Sabbath". Shearsmith respondeu-lhe que, "para um homem bom como Swedenborg, todos os dias de sua vida eram "sabbath".
Em outra ocasião, um criado e sua esposa, pessoas simples, que trabalhavam para Swedenborg há muitos anos, vieram dizer-lhe que não poderiam mais trabalhar ali, pois o pastor lhes havia dito que Swedenborg não era cristão. Ele respondeu que, tendo trabalhado para ele por tantos anos, se eles se lembrassem de algum dia ele ter praticado algum ato não cristão, estariam livres para partir. O casal ficou.
Assessor Extraordinário
No final de 1716 o Rei Carlos XII nomeou o jovem Swedenborg "Assessor Extraordinário" (isto é, um "assessor extra", acima do número regulamentar) do Conselho de Mineração, o departamento público responsável pela supervisão de toda a indústria de mineração da Suécia. Sua capacitação para o cargo foi atestada por Polhem, em carta escrita a Benzelius, datada de 10 de dezembro de 1715. Na carta, o célebre inventor diz: "Acho que o jovem Swedenborg é um matemático consumado e tem muita aptidão para as ciências mecânicas; se continuar assim, ele certamente será, oportunamente, de grande valia para os serviços de seu rei e de seu país nesses campos de especialização mais do que em qualquer outro". Em outra carta, Polhem fala sobre outras virtudes de Swedenborg, destacando seu "espírito de iniciativa".
Parece que o rei ofereceu ao jovem Swedenborg três cargos, antes de nomeá-lo para o Conselho de Mineração. Embora Swedenborg não recebesse salário até ser efetivado como Assessor, achou o trabalho compatível com seus objetivos e, dois anos mais tarde, rejeitou convite para assumir a cadeira de astronomia na Universidade de Uppsala, citando os seguintes motivos: "1) Já tenho um cargo honrado; 2) neste cargo posso ser útil ao meu país; com efeito, de forma mais direta do que em qualquer outro cargo; 3) portanto, estou declinando de uma cátedra que não só não é do meu gosto, como meu intento é dedicar-me à mecânica e à química; e nosso Conselho é notório pela deficiência de seus membros nessas disciplinas (confidencia em carta ao cunhado); portanto, vou tentar suprir essa deficiência e espero que meus esforços nesse sentido sejam bem sucedidos".
Havia outras razões para a recusa de Swedenborg. Em carta posterior, escreve: "Espero ser útil no cargo que me foi confiado, como espero também obter as vantagens inerentes; meu cargo atual está apenas a um degrau de um posto superior, enquanto em Uppsala não teria qualquer perspectiva de promoção; ademais, acho que o rei não gostaria de me ver deixar meu cargo atual. Com respeito ao Conselho, vou tentar diligentemente especializar-me em mecânica, física, e química, e familiarizar-me com todos os fatos pertinentes a essas ciências, a fim de calar a boca daqueles que dizem que entrei para o Conselho pela janela".
Durante seus primeiros tempos no Conselho de Mineração foi designado para trabalhar em projetos especiais com seu patrono e amigo, Polhem. O mais importante desses projetos foi relacionado com o cerco de Frederikstad, em 1718, quando duas galeras, cinco barcos de grande calado e uma corveta tiveram de ser transportadas por terra, de Strömstad a Iddefjord, num percurso de 14 milhas inglesas, sob a supervisão de Swedenborg. Outros projetos de vulto foram a construção das docas de Karlskrona e o projeto do canal ligando o Mar do Norte ao Mar Báltico, que não chegou a ser executado, em virtude da morte do rei.
Assessor titular
A 15 de julho de 1724, Swedenborg, então com 36 anos de idade, foi nomeado assessor titular do Conselho de Mineração, com um salário anual de 800 dalares de prata. Somente em 1730 começou a receber o salário integral de 1.200 dalares de prata. Os arquivos do Conselho mostram que ele era muito cioso de suas obrigações e seu trabalho era muito elogiado pelos colegas. Mas suas atividades iam muito além das funções de seu cargo. Estava constantemente recolhendo informações para futuras publicações e, no começo de 1733, tinha, prontos para impressão, vários trabalhos científicos e filosóficos. Pediu licença de nove meses para tratar pessoalmente da publicação desses trabalhos em Dresden e Leipzig. A licença foi concedida por decreto real.
Os trabalhos em questão eram: Opera Philosophica et Mineralia, em três volumes, com gravuras em cobre, e Prodromus Philosophiae Ratiocinantis de Infinito etc., sobre os quais falaremos em um dos capítulos seguintes. Os custos da edição da primeira obra, certamente bastante vultosos, foram cobertos pelo antigo patrono de Swedenborg, o Duque de Brunswick-Lüneburg. A obra foi muito bem recebida e excertos da segunda parte, versando sobre manufatura de aço e ferro, foram publicados em separado e até traduzidos para o francês ainda durante a vida de seu autor.
A publicação desses trabalhos deu a Swedenborg grande reputação na Europa, ensejando-lhe constante correspondência com os mais eminentes cientistas e filósofos da época. Em 1734, a Academia de Ciências de São Petersburgo o convidou para membro correspondente e foi um dos primeiros membros eleitos para a Academia Real de Ciências de seu país.
Político
Filhos de eminente e venerado bispo, ele e seus irmãos foram feitos nobres pela rainha Ulrica Eleonora, em 1719. Sua entrada para a Casa dos Nobres coincide, portanto, com a implantação dos postulados liberais na Suécia. Durante sua infância e juventude, Swedenborg havia testemunhado os desmandos da monarquia absolutista em seu país e tinha sentido, de perto, a miséria e os infortúnios causados por uma guerra de dezoito anos que mergulhou o país numa sucessão de batalhas que dizimaram milhares de seus compatriotas e exauriram as finanças do país.
"Portanto, era natural que Swedenborg fosse fervoroso defensor de uma Constituição que impusesse um limite aos poderes da monarquia absolutista. A promulgação dessa Constituição evitou a dissolução do país e fez que, pouco a pouco, a insatisfação reinante se transformasse em satisfação e esperança para a maioria do povo sueco" (Nya Kyrlian och dess inflytande pa theologiens Studium i Sverige, parte ii, pág. 48).
Outro eminente escritor sueco, contemporâneo de Swedenborg, escreveu: "Ele estava sempre conversando sobre assuntos científicos e políticos e, mesmo depois que se retirou do parlamento, acompanhava com interesse os trabalhos da Dieta. Suas opiniões e arrazoados eram sempre muito incisivos, concisos e lúcidos". Swedenborg tinha particular interesse pelas questões financeiras e apresentou muitos projetos sobre moeda, câmbio e outros assuntos de política econômico-financeira, no período de 1723 a 1761. O Conde von Höpken salienta que "Swedenborg foi autor de importantes projetos de política econômico-financeira na legislatura de 1761".
O memorando mais antigo, datado de 5 de fevereiro de 1723, trata das finanças do país. Nesse documento, Swedenborg deplora a decadência do comércio sueco e o déficit da balança comercial que, segundo ele, estavam empobrecendo a Suécia. Swedenborg atribuía essa decadência às perdas territoriais decorrentes da guerra, às vultuosas despesas de guerra e a dilapidação da frota sueca "durante os anos de guerra". Dentre as propostas formuladas por ele, estava o desenvolvimento dos recursos naturais do país, especialmente no setor da indústria do cobre e do ferro, e o incremento da indústria manufatureira nacional, a fim de reduzir, substancialmente, a importação de produtos essenciais. Outros projetos tinham por objetivo estimular a produção no setor metalúrgico, embora essa sua posição não tivesse muita ressonância entre os seus pares do Conselho de Mineração. De fato, os registros mostram que a maioria desses projetos terminou engavetada.
Em 1734, o parlamento sueco vivia momentos de grande comoção, com a cisão no "partido do chapéu", por causa da controvérsia que envolvia possível aliança franco-sueca contra a Rússia, aliança essa que, segundo seus defensores, poderia resultar na reconquista das províncias bálticas. Swedenborg se opôs veementemente a esse plano, mediante um memorando em que resumiu, magistralmente, os prós e contras da aliança e da participação da Suécia na guerra franco-russa. Salientou que as precárias condições sócio-econômicas do país e o reduzido número de conscritos nas forças armadas inviabilizavam a participação da Suécia numa guerra. E finalizou dizendo que seria mais importante para a Suécia o incremento de seus recursos naturais do que uma eventual reconquista de território no mar Báltico. Todavia, Swedenborg afirmava que essa hegemonia russa jamais se perpetuaria.
Swedenborg não se opunha a uma guerra de defesa, mas à "arregimentação de recursos e vidas humanas para uma conflagração que visava apenas a demonstrar bravura ou heroísmo diante de um suposto inimigo", o que não lhe parecia lógico. Principalmente no caso da Suécia, que não tinha o que temer das nações vizinhas. Portanto, Swedenborg achava que a Suécia deveria permanecer neutra, posição que, para sua satisfação, viu aprovada pela Dieta.
Dentre as soluções que propôs para remediar essa situação, Swedenborg apresentou projeto determinando que a venda de bebidas alcoólicas fosse feita "em estabelecimentos semelhantes às padarias, dispondo de uma janela por onde, quem quisesse, poderia comprar bebida sem permissão de entrar no local ou de permanecer no balcão". Em outra proposição, aprovada pela Dieta, Swedenborg propunha a limitação da destilação de uísque e do aumento de preço para se obter licença para funcionamento de destilarias, através de um programa de leilões públicos que geraria recursos para programas agrícolas e de assistência social. Diante da impossibilidade de proibir o consumo de bebidas alcoólicas, Swedenborg achava, pragmaticamente, que a imposição de pesados impostos sobre esses produtos carrearia para os cofres públicos receita considerável.
Swedenborg apontava a facilidade de se fazer hipotecas e cauções imobiliárias, com o conseqüente endividamento de todas as classes sociais junto aos bancos, como outra causa do empobrecimento do país. Para aliviar essa situação, Swedenborg propôs que os empréstimos com garantia de hipoteca imobiliária ficassem sujeitos a um rígido controle fiscal e os pagamentos dos débitos fossem feitos em espécie.
Cinco anos mais tarde, Swedenborg voltou a abordar esse mesmo tópico, num memorando onde demonstrava sólidos conhecimentos dos princípios de administração financeira. Nesse memorando, afirmava que a sobrevalorização da moeda sueca em relação ao marco (em vinte anos saltara de trinta e seis para sessenta e seis marcos) estava arruinando o país, e sugeriu várias medidas. Swedenborg mostrou que a principal causa dessa anomalia cambial fora a substituição da moeda metálica pela "moeda de papel" (notas emitidas pelos bancos por conta das hipotecas imobiliárias acima mencionadas), cujo montante superava em muito os depósitos bancários em dinheiro. E afirmou que essa alta taxa cambial estava fazendo que o valor intrínseco da cunhagem em cobre fosse superior ao valor nominativo da moeda. Portanto, com o câmbio acima de sessenta marcos, o valor do metal ficava acima do valor em papel, fazendo com que a moeda fosse derretida ou levada para o estrangeiro.
Swedenborg defendia, ardorosamente, a implementação de um câmbio honesto como a solução para o problema, e dizia que "só a moeda de metal poderia normalizar a situação cambial". Anuía, ainda, que "a moeda era tão vital para o país quanto o sangue para o corpo humano, do que depende sua vida, sua saúde, sua força e sua defesa". E propôs a suspensão de todos os empréstimos sob caução ou hipoteca imobiliárias, bem como de todos os empréstimos bancários ao setor privado, com exceção daqueles de interesse do Estado e garantidos por ouro ou prata, como era costume. A medida proposta por Swedenborg estabelecia, também, que as hipotecas imobiliárias fossem, gradualmente, resgatadas, através da quitação anual de uma parte do saldo devedor, acrescida dos juros correspondentes, determinando a suspensão das operações com "certificados de hipotecas imobiliárias"; e obrigava os bancos a aumentarem seus ativos em moeda com lastro de metal; ao mesmo tempo, sugeria a suspensão imediata de todas as exportações do cobre, em moeda ou "cru"; a redução nos quadros de pessoal da rede bancária e, finalmente, o monopólio estatal da destilação de uísque.
Esse memorando de Swedenborg demonstra sua perfeita percepção do problema e se torna ainda mais notável quando sabemos que foi elaborado num período em que seu autor estava plenamente engajado em seus estudos espirituais (1747/1760) e durante o qual suas experiências sobrenaturais se tornavam mais freqüentes e ainda não inteiramente públicas. Portanto, se fosse interesse de Swedenborg, teria permanecido atuando na política e desfrutando de excelente reputação nesse mister.
Swedenborg reforçou as posições defendidas no memorando supracitado com a apresentação de uma moção ao parlamento em favor da restauração de uma moeda com lastro de metal, outros pronunciamentos sobre política cambial e um memorando ao rei, abordando questões relacionadas com a exportação do cobre. No primeiro desses documentos, Swedenborg urgiu a Dieta a tomar severas medidas, no sentido de assegurar a devolução dos "certificados de hipotecas imobiliárias" aos bancos e sua imediata substituição por moeda de valor intrínseco; do contrário, afirmava Swedenborg, os preços de todos os gêneros continuarão a subir, descontroladamente, levando o país à bancarrota e à falência da "moeda papel". E essa virtual falência do sistema monetário estava evidente se considerássemos que dois dalers-papel equivaliam a três dalers-metal no mercado externo e a dois dalers-metal no meio circulante interno. E concluiu seu arrazoado com essas sábias palavras: "O lastro cambial está na moeda-metal e nela também está o valor intrínseco de todas as mercadorias. Nenhum país pode subsistir com sua moeda lastreada por papel".
Swedenborg foi convidado a assumir um lugar na Comissão de Política Cambial, e seria um membro valioso, mas declinou do convite, porque não concordava com seus estatutos. Suas sugestões, todavia, foram muito bem acolhidas pelos membros dessa comissão. Com efeito, em janeiro de 1762, a comissão determinou que os bens móveis não mais poderiam ser caucionados como garantia de empréstimos. E, na legislatura seguinte, o parlamento promulgou uma lei determinando que os bancos mantivessem seus depósitos em papel moeda ao par com suas reservas de ouro.
O último documento político de Swedenborg que chegou às nossas mãos foi um discurso que proferiu na Dieta, entre maio e julho de 1761, em defesa da reintegração de três senadores que tinham tido seus mandatos cassados, em virtude de sua participação na guerra contra Frederico, o Grande. O discurso, intitulado "Manifesto sobre a integridade do país e a preservação da liberdade", alerta a opinião pública contra a ameaça da implantação de uma nova forma de monarquia absolutista na Suécia, proposta por um dos partidos e veementemente combatida pelos três senadores. Ao contrário de seu pai, Swedenborg não acreditava na autoridade Divina dos monarcas. "Ninguém", afirmava ele, "tem o direito de se arrogar poderes para gerir a vida e os bens dos indivíduos. Pois somente Deus tem esse poder e os homens não passam de meros mordomos Seus neste mundo". Teve novamente a satisfação de ver seus apelos atendidos, visto que dois dos três senadores foram reconduzidos às suas posições.
Esse episódio encerra o registro da intensa carreira política de Swedenborg. Todos os documentos a que nos referimos, independentemente de sua relevância, revelam discernimento, bom senso e um fervoroso desejo de servir à pátria. Vale notar, ainda, que esses documentos constituem prova irrefutável da perfeita sanidade mental de Swedenborg, numa época em que muitos insinuavam estar ele sujeito a alucinações.
Aposentadoria
Swedenborg permaneceu no cargo de Assessor do Conselho Real de Mineração até meados de 1747, quando se aposentou com uma pensão equivalente à metade de seu salário. A documentação referente à sua aposentadoria, que está preservada, é de grande importância para atestar sua sanidade e capacidade mental à época em que ocorriam as extraordinárias experiências que acabamos de relatar.
Na época de Swedenborg, o Conselho de Mineração consistia de um presidente, que pertencia à alta nobreza, dois conselheiros e uns seis assessores.
Na primavera de 1747, portanto mais de dois anos depois de sua intromissão integral no mundo do além, um dos conselheiros se aposentou e Swedenborg foi unanimemente indicado por seus pares para substituí-lo. Ao invés de aceitar a designação, Swedenborg dirigiu memorial ao Rei, datado de 2 de junho de 1747, nos seguintes termos:
"Mui poderoso e gracioso Rei,
"O Conselho de Mineração de Vossa Majestade submeteu à sua alta consideração minha nomeação para o cargo vacante de Conselheiro de Mineração. Como me considero obrigado a levar a cabo o trabalho a que atualmente estou dedicado, venho humildemente solicitar que Vossa Majestade nomeie outra pessoa para aquele cargo e, generosamente, me dispense das minhas funções.
"É meu desejo que Vossa Majestade me dispense dessas funções sem me promover a nenhum cargo hierarquicamente superior (...) Finalmente, venho pedir a Vossa Majestade que me conceda metade de meus salários a título de proventos de aposentadoria e me dê autorização para viajar ao exterior, onde darei continuidade ao trabalho de que ora me ocupo. Renovo à Vossa Majestade, mui generoso Soberano, meus protestos de lealdade e humildade (Ass.) Emanuel Swedenborg".
O decreto real dispensando Swedenborg do cargo que exerceu com grande distinção, e concedendo-lhe pensão equivalente à metade de seu salário, foi publicado a 12 de junho e encaminhado ao Conselho de Mineração no dia 15. Todos os membros do Conselho manifestaram seu pesar pela perda de tão eminente colega e solicitaram que o Sr. Swedenborg permanecesse no cargo até que todos os casos em tramitação durante sua gestão no Conselho fossem decididos. Swedenborg prontamente acedeu a esse pedido" (Ata do Conselho, em 15 de junho de 1747). A última participação de Swedenborg no Conselho de Mineração se deu a 17 de junho de 1747. Na ata da sessão consta a seguinte menção:
O Assessor Swedenborg, que tenciona viajar para o exterior o mais breve possível, obteve aposentadoria de seu cargo neste Conselho. Neste ensejo, deseja expressar a seus colegas do Conselho seus mais penhorados agradecimentos por seu generoso apoio e consideração durante o período em que esteve no exercício do cargo. O Conselho Real agradeceu ao ilustre Assessor pela eficiência e fidelidade com que se desincumbiu de suas funções de Assessor deste Conselho e lhe desejou uma viagem profícua e um feliz retorno. O Sr. Swedenborg retirou-se em seguida.
A associação de Swedenborg com o Conselho de Mineração termina justamente nessa data.
Cérebro e pulmões
Swedenborg descobriu que o cérebro tem um movimento regular igual ao do coração. O fluido espiritual ou espírito animal, tal como aprendemos, tem sua origem no cérebro e é enviado a todas as partes do corpo pelos impulsos do cérebro. "O movimento do cérebro é denominado animação; e a ação do fluido espiritual depende dele (Parte I, nº 279). Toda vez que o cérebro se anima, seus fluidos são bombeados para as fibras e os nervos; tal como o coração, a cada sístole e diástole, bombeia o sangue através de seus vasos (ibid. nº 483). Imaginar a circulação do fluido sem uma força motriz e uma expansão ou constrição reais como a causa propulsora, seria o mesmo que conceber a circulação do sangue vermelho através das artérias e veias sem o coração (Parte II, nº 169). A circulação desse fluido merece ser chamada de círculo vital (ibid., nº 168)". (Æconomia Regni Animalis, E. Swedenborg).
Máquina elevadora de minério
Inventada por Swedenborg para uso na indústria de mineração, a máquina elevadora era movida por uma roda d´água e composta de um sistema de eixos e mancais, servindo para trazer à superfície pequenas caçambas de minério. Vários outros equipamentos e sistemas foram projetados e construídos por Swedenborg para desenvolver a indústria de mineração sueca, e a mineralogia foi assunto de algumas de suas publicações, inclusive contendo descobertas para aperfeiçoamento dos processos químicos.
Transporte de uma esquadra por terra
Durante uma guerra, no evento conhecimento como um cerco de Frederikstad, a esquadra da Suécia ficou sitiada e impossibilitada de alcançar alto mar. Swedenborg, então, projetou e construiu um sistema de guindastes e trilhos, pelo qual fez transportar uma esquadra de 8 barcos de guerra, por terra, de Strömstad a Iddefjord, numa distância de 14 milhas inglesas, através de uma península, pondo a esquadra novamente em condição de combate
Alto-forno
Projeto de Swedenborg para um alto-forno para a siderurgia de minério de ferro.
Teoria atômica
Dr.Thomas French, da Universidade de Cincinnati, EUA, afirmou que Swedenborg, em seu livro Principia, publicado em 1734, enunciara os fundamentos das seguintes teorias da ciência moderna: a teoria atômica; a origem solar da Terra e dos planetas; a teoria ondulatória da luz; a hipótese nebular (cuja validade foi enfaticamente atestada pelo Professor Holden, ex-membro do Observatório Naval dos Estados Unidos da América, em artigo publicado na revista The North American Review, de outubro de 1880); a propriedade motora do calor; a relação entre magnetismo e eletricidade; a eletricidade sob forma de motricidade etérea e as forças moleculares como ação de um meio etéreo.
Hipótese nebular
A teoria que Swedenborg publicou em seu Principia, em 1734, "explica a formação do sistema solar por partículas hipotéticas se projetando do sol em espirais e se juntando para formar os planetas. Esta teoria é de particular importância na história da ciência, visto que foi apropriada por um astrônomo inglês, chamado Thomas Wright, de Durham. (...) A obra de Wright serviu de base para a obra de Immanuel Kant, A História Geral da Natureza e a Ciência dos Céus. A obra de Kant foi, por sua vez, foi incorporada por Laplace, em 1792, à publicação que hoje é conhecida como "Teoria nebular de Kant e Laplace". E a obra de Laplace é citada como sendo a origem da cosmologia moderna". (Robert H. Kirven, Ph.D, na obra A Continual Vision, Swedenborg Foundation, NY).
Máquinas de transporte e içamento
Para uso industrial e militar, Swedenborg projetou máquinas de transporte e içamento pesados. Os modelos das fotos ao lado foram construídos a partir de alguns desses projetos.
Estrutura da mente
"Num manuscrito de 1740, intitulado Psychologia Rationalis, Swedenborg descreve a mente (mens) como a parte consciente e pensante. A mente está em comunicação com o "animus", mas é distinto deste, que envolve as sensações físicas e o controle motor, e a "anima", que se refere às afeições e motivações. Embora não seja precisamente igual ao esquema de Freud de id, ego e superego, essa estrutura antecipa em quase 150 anos a distinção freudiana entre o consciente e o subconsciente".(Robert H. Kirven, Ph.D, na obra A Continual Vision, Swedenborg Foundation, NY).
"Máquina de voar nos ares"
Em 1714, projetou uma máquina que foi considerada pelo órgão Journal of the Royal Aeronautical Society, da Inglaterra, ser "primeira proposta racional de um aeroplano", porque previa superfície abaulada para sustentação pela diferença de pressão atmosférica, um sistema propulsor e trem de pouso. Este invento foi assunto do livro Swdenborg´s 1714 Airplane, (Swedenborg Foundation, NY) de Henry Sorderberg, que contou com o apoio do Rei Carlos XVI, da Suécia, e da companhia aérea SAS. Swedenborg nunca construiu um modelo de sua máquina voadora, talvez desestimulado por seu amigo e mestre, Chistopher Polhem. Este argumentou que "voar por meios artificiais seria tão difícil quanto achar o ‘moto perpetuo’ ou produzir ouro artificialmente, embora, à primeira vista, isso possa parecer fácil e viável".
Método astronômico
Recém-formado em Engenharia, Swedenborg desenvolveu um método para determinar a longitude da Terra com base na Lua, pelas paralaxes. Hoje, é tido como a mais significativa de suas primeiras descobertas. Embora não tenha sido bem acolhido pelos sábios da época, Swedenborg sempre insistia que seu método era "o único que pode ser enunciado, o mais fácil e, de fato, o correto". Sua confiança nele era tanta, que o republicou, por diversas vezes, entre 1718 e 1766, em latim e sueco. Esse tratado recebeu crítica favorável da Acta Literaria Sueciae, de 1720. O editor afirmava que o tratado de Swedenborg era superior a todos os que tinham sido formulados até àquela data. O Acta Eruditorum, de 1722, publicado em Leipzig, também faz muitos elogios à sua invenção.
Estruturas cerebrais
"No manuscrito Cerebro, publicado postumamente, ele localizou o processo do pensamento no cortex do cerebelo e identificou aquilo que mais tarde se chamou de 'células piramidais' como sendo ligadas umas às outras e a todas as partes do corpo, para funcionar como receptoras dos sentidos e diretoras dos movimentos. Esta descoberta se deu meio século antes de vir a ser do conhecimento da comunidade médica. Poucos anos mais tarde, nos Arcanos Celestes, observou, em vários contextos, que os hemisférios direito e esquerdo do cérebro desempenham funções específicas e distintas, o esquerdo estando envolvido com os processos racionais e intelectuais, e o direito com as afeições e intenções". Robert H. Kirven, Ph.D, na obra A Continual Vision, Swedenborg Foundation, NY.
Entre outras de suas invenções, destacam-se ainda:
o "projeto de um navio que podia mergulhar com sua tripulação ao fundo do mar e causar grandes danos à armada inimiga";
um sistema de comportas nas docas para suspender navios cargueiros;
um sistema de moinhos impulsionados pela ação do fogo sobre a água;
uma metralhadora pneumática capaz de dar de sessenta a setenta tiros, sem recarregar.
Experiencias Espirituais
"Se Swedenborg tivesse vocação para o charlatanismo, certamente teria feito fama e fortuna com a mera exibição de seus extraordinários poderes. Ao invés, porém, de exibir publicamente essas faculdades, raramente se referia a elas e se recusava a afirmar que sua missão estava ligada a esses poderes.
O prelado Oetinger escreveu assim sobre Swedenborg: "Que Swedenborg tem tido conhecimento de ocorrências, está amplamente corroborado por fatos bastante comprovados; recusa-se porém a usá-los com o intuito de dar credibilidade aos seus escritos". Mesmo quando instado por pessoas interessadas em saber a respeito de parentes e amigos mortos, entre as quais estavam até membros da Casa Real, ele gentilmente refutava esses pedidos, salvo se houvesse um razão que os justificasse. O Reverendo Nicholas Collin implorou-lhe o grande favor de entrar em contato com um irmão dele, falecido há alguns meses. Collin conta que Swedenborg lhe respondeu assim: "Deus houve por bem e sábio separar o mundo dos espíritos do nosso. Portanto, qualquer contato com o outro mundo não se faz possível sem fortes justificativas. E em seguida indagou-me sobre meus motivos. Confessei-lhe que não tinha nenhum motivo especial, mas apenas procurava satisfazer minha afeição fraternal e a curiosidade de explorar um mundo sublime e interessante para a mente séria. Ele, então, retrucou que meus motivos eram insuficientes. Se o pedido envolvesse assunto espiritualmente importante, ele o submeteria aos anjos que regulam essa matéria". O Reverendo Collin deve ter entendido mal a resposta de Swedenborg referir-se aos anjos, pois este ensina que todos os assuntos espirituais estão sob o controle exclusivo do Senhor e não de anjos ou espíritos.
"Apesar dessa relutância de Swedenborg em exibir as faculdades paranormais, há grande número de revelações feitas por várias pessoas de suas relações. Por mais fantásticas que possam ter sido essas revelações, Swedenborg nunca as considerou milagrosas, mas simplesmente a comprovação de sua interação com o mundo espiritual. Em carta a Venator, Swedenborg escreveu: "Esses episódios não devem ser vistos como coisa milagrosa, pois são meros testemunhos de que eu foi introduzido pelo Senhor no mundo espiritual. Lá tive oportunidade de conviver e conversar com anjos e espíritos; e minha experiência serve para provar à Igreja, que insiste em ignorar o outro mundo, que o céu e o inferno realmente existem; e, depois da morte, o homem vive como homem, tal como na vida terrena e, assim, nenhuma dúvida pode ocorrer em sua mente sobre a sua imortalidade". Ao sustentar a veracidade dessas ocorrências a Cuno, "ele não se delongou muito em explicações, enfatizando que há milhares dessas histórias; e que não lhe parecia importante tecer muitas considerações sobre esses fatos. Aduziu, ainda, que todas essas coisas não deviam empanar o verdadeiro objetivo de sua missão".
"Se nos alongássemos muito sobre essas extraordinárias ocorrências, estaríamos desrespeitando o desejo do nosso biografado. Entretanto, temos que considerar os fatos relatados a seguir como irrefutáveis provas de sua vidência.
"Jung-Stilling afirma que "há três histórias que certamente comprovam que Swedenborg tinha efetivamente um inter-relacionamento com o outro mundo: a revelação à rainha Louisa Ulrica, da Suécia, de um segredo que ela e seu irmão, o príncipe Augustus Williams, da Prússia, já falecido, mantinham; a visão, a grande distância, do incêndio de Estocolmo; e a revelação à viúva de M. de Marteville, ex-embaixador da Holanda em Estocolmo, do local onde seu marido tinha guardado um documento de suma importância. Essas histórias foram contadas por várias testemunhas, com algumas variações, como de costume, sem, contudo, comprometer sua autenticidade. O episódio que envolve a rainha Louisa Ulrica é, obviamente, o que desperta maior curiosidade e, por esta razão, apresenta o maior número de versões. Sabe-se que, tanto na Suécia quanto no exterior, as versões variavam de acordo com o narrador. A seguir, temos a versão do conde Höpken.
"Certo dia Swedenborg estava numa recepção na corte e Sua Majestade a rainha Louisa Ulrica lhe perguntou sobre coisas do outro mundo e, finalmente, se tinha visto o irmão dela, o príncipe da Prússia, ou falado com ele. Swedenborg respondeu-lhe que não. Sua Majestade, então, pediu-lhe que tentasse encontrá-lo e lhe transmitisse suas afetuosas saudações. Swedenborg acedeu prontamente ao pedido. Tenho minhas dúvidas sobre a seriedade do pedido da rainha. Daí a uns dias, Swedenborg compareceu a outra recepção na corte e, quando a rainha estava no Salão Branco, Swedenborg aproximou-se dela. A rainha não se lembrava mais do pedido feito há menos de uma semana. Swedenborg, então, saudou Sua Majestade como se fosse seu irmão, o príncipe Augustus Williams, da Prússia, e lhe pediu desculpas por não ter respondido à sua última carta; e disse a rainha que o faria através de Swedenborg, o que, efetivamente, o fez. A rainha ficou atônita e exclamou; ‘Ninguém, além de Deus, sabia desse segredo’. O segredo consistia em a rainha não desejar que viesse a público o fato de ela estar mantendo correspondência com a Prússia, então em guerra com a Suécia".
"Outra versão diz que a rainha quase desmaiou e que o Conde von Schwerin, ao vê-la tão aflita, censurou energicamente Swedenborg por sua conduta, ao mesmo tempo que o inquiria a respeito de seus estranhos poderes. O incidente teve grande repercussão e todos queriam saber os seus pormenores. C. F. Nordenskold diz que "a esposa do jardineiro de Swedenborg contava que, muito tempo depois desse incidente, carruagens paravam em frente à casa de Swedenborg e as pessoas mais importantes da corte lhe inquiriam sobre o episódio. Swedenborg, entretanto, fiel aos seus princípios, nada lhes dizia".
"Sobre o mesmo episódio, Jung-Stilling escreveu: "Essa ocorrência tem sido posta em dúvida em diversos pronunciamentos públicos, mas um renomado cidadão sueco, que jamais fora sequer amigo ou admirador de Swedenborg, me garantiu sua veracidade. E me forneceu provas pormenorizadas do episódio, as quais, infelizmente, não posso dar a conhecimento público, pois histórias envolvendo o mundo dos espíritos devem merecer a máxima discrição. Todavia, em Estocolmo, o episódio era amplamente conhecido".
"A narrativa mais minuciosa do incêndio de Estocolmo está contida numa carta de Immanuel Kant para Charlotte von Knobloch, datada de Konigsberg, aos 10 de outubro de 1759 [ou depois], transcrita a seguir:
"Esta ocorrência parece ser a prova cabal dos poderes paranormais de Swedenborg. Às 4 horas da tarde de um sábado de setembro, do ano de 1759, Swedenborg chegou a Gotemburgo, vindo da Inglaterra e foi convidado à casa do Sr. William Castel, junto com mais quinze pessoas. Por volta das 18 horas, Swedenborg deu uma saída e, momentos depois, retornou à sala, pálido e visivelmente alarmado. E, em voz alta, disse a todos que, naquele exato momento, um grande incêndio irrompera em Estocolmo, no bairro de Sodermalm (Gotemburgo distava 300 milhas inglesas de Estocolmo) e que o fogo se alastrava com muita rapidez. Swedenborg estava agitado e entrava e saía da sala. Disse que a casa de um de seus amigos, cujo nome declinou, estava em cinzas e que sua própria casa estava ameaçada pelo fogo. Às 20 horas, voltou à sala e exclamou exultante: ‘Graças a Deus! O fogo foi extinto a 3 portas da minha casa’. O incidente causou forte impressão nas pessoas que o presenciaram e teve ampla repercussão na cidade. E chegou ao conhecimento do Governador naquela mesma noite. Na manhã do dia seguinte, domingo, o governador convocou Swedenborg ao palácio e quis saber todos os pormenores do sinistro. Swedenborg descreveu-lhe, minuciosamente, todo o incidente; como o incêndio tinha começado; quanto tempo tinha durado e como tinha sido extinto. Naquele mesmo dia o episódio se espalhou pela cidade e, com o endosso do governador, a notícia causou grande consternação. Todos lamentavam a sorte de amigos e parentes que poderiam ter sido atingidos pelo incêndio. Segunda-feira à noite chegou a Gotemburgo um mensageiro enviado pela Câmara de Comércio de Gotemburgo e que havia deixado a cidade durante o incêndio. As cartas trazidas por ele descreviam o sinistro tal qual Swedenborg o descrevera. Na manhã de terça-feira, chegou ao palácio do governador um mensageiro real trazendo o trágico relato do incêndio. Tudo coincidia, exatamente, com a descrição de Swedenborg; o fogo tinha sido, efetivamente, debelado às vinte horas do domingo".
."Dentre as muitas versões do caso de Madame Marteville, reproduzidas pelo Dr. R. L. Tafel em seu livro Documents, selecionamos novamente a que foi contada por Kant a Charlotte von Knobloch, baseada em informações que ele (Kant) recebera de um amigo a quem incumbira de investigar o episódio in loco.
"A senhora Marteville, viúva do embaixador da Holanda em Estocolmo, tempos depois da morte de seu marido, foi procurada por Croon, um joalheiro, a respeito de uma dívida do extinto com ele. A viúva não podia acreditar que seu marido, um homem de hábitos conservadores, pudesse ter deixado alguma dívida por saldar. Mas, por mais que procurasse, não conseguiu encontrar o recibo correspondente. Como a quantia era bem alta, ela decidiu convidar Swedenborg à sua casa. Depois de pedir-lhe desculpas por importuná-lo, pediu-lhe que, se realmente possuísse poderes paranormais, como se dizia, talvez pudesse perguntar ao seu marido onde tinha guardado o tal recibo. Swedenborg acedeu, prontamente, ao pedido. Daí a três dias, Swedenborg voltou à casa da senhora Marteville e, em tom calmo e pausado, contou-lhe que havia conversado com seu marido e este lhe dissera que a dívida em causa tinha sido paga, uns sete meses antes de sua morte e o recibo estava guardado num compartimento de sua escrivaninha. A viúva retrucou que a escrivaninha tinha sido totalmente revistada e o recibo não fora encontrado entre os documentos. Swedenborg, então, lhe disse que, ao se abrir a gaveta esquerda da escrivaninha até o fim, um fundo falso revelaria um compartimento secreto onde estavam guardados seus papéis pessoais e o tal recibo. Após ouvir atentamente as instruções de Swedenborg, a viúva e alguns dos presentes rumaram para a sala onde estava a escrivaninha. Lá chegando, abriram-na, conforme as instruções de Swedenborg e lá estavam os documentos pessoais do extinto e o recibo em questão.
"O interesse de Kant por esses casos surgiu através de sua amizade com a senhora von Knobloch, que pediu sua opinião a respeito da vidência de Swedenborg. Para atender o pedido da amiga, Kant procedeu a diversas investigações sobre as ocorrências vivenciadas por Swedenborg. Os resultados desse inquérito estão relatados na carta supramencionada. O original dessa carta está reproduzido no livro Life of Kant, de autoria de Borowsky, publicado em Konigsberg, em 1804, e, em sua versão inglesa, aparece às páginas 625/636 do segundo volume do livro Documents, de autoria do Dr. R. L. Tafel.
"Embora confirmasse cabalmente todas essas histórias, Kant se resguardava das insinuações de ingenuidade, dizendo:
"Ninguém poderá acusar-me de ter tendência a devaneios ou crendices infundadas ou de excessiva credulidade. E, embora de longa data tivesse conhecimento de fatos ligados a aparições e visões do mundo dos espíritos, sempre achei que era mais lógico e racional negar-lhes autenticidade. Mantive essa postura até tomar conhecimento dos casos vivenciados por Swedenborg. Tomei conhecimento desses fatos, através do relato de um oficial dinamarquês, amigo meu, que costumava comparecer assiduamente às minhas conferências. Ele me contou sobre uma carta escrita pelo embaixador da Áustria em Estocolmo, Barão de Lutzow, ao seu colega, Dirtrichstein, embaixador da Áustria em Copenhague. Na carta, o Barão de Lutzow contava que presenciara, na companhia do embaixador da Holanda em Estocolmo, o episódio envolvendo sua Majestade, a rainha Ulrica da Suécia. Esse testemunho convenceu-me, de vez, a investigar pessoalmente todos os fatos vivenciados por Swedenborg. Afinal de contas, não me parecia possível que um embaixador transmitisse a um colega informações infundadas sobre a Rainha da Corte junto a qual estava acreditado e, ainda por cima, desse testemunho inequívoco de sua veracidade. E, então, despido de todos os preconceitos sobre aparições e visões do outro mundo, decidi informar-me sobre todos os detalhes desses casos.
"Incontinente, escrevi ao meu amigo, oficial dinamarquês, e lhe inquiri, novamente, sobre o episódio da carta do Barão de Lutzow. Respondeu-me que se tinha avistado novamente com o Conde Dirtrichstein, que lhe confirmou que o caso da rainha Ulrica tinha acontecido exatamente como era do conhecimento público, aduzindo que o Professor Schlegel também declarara a ele que a veracidade do caso não poderia ser posta em dúvida.
"Como todos esses testemunhos ainda não fossem suficientes para saciar sua curiosidade, Kant incumbiu um amigo, inglês, que estava de partida para Estocolmo, de fazer novas investigações sobre Swedenborg. Antes mesmo de conseguir se entrevistar com Swedenborg, poucos dias após sua chegada a Estocolmo, o amigo lhe escreveu a seguinte nota: "As pessoas mais respeitáveis de Estocolmo me asseguram que o episódio envolvendo Swedenborg e a rainha Ulrica aconteceu exatamente como fora amplamente divulgado". Após se tornar amigo de Swedenborg, a quem visitava freqüentemente, o tom de suas cartas passou de uma certa incredulidade a um indisfarçável espanto diante dos fatos. "Swedenborg é um homem generoso, razoável e muito educado; é, também, homem muito culto. Ele me revelou que Deus lhe tinha dado o extraordinário poder de se comunicar com os espíritos, a qualquer tempo. Como prova disso, citou os casos mais conhecidos". Depois de muitas investigações sobre Swedenborg, Kant se referiu aos episódios do incêndio em Estocolmo e ao caso do recibo de Madame Marteville, assim: "Quem poderia, em sã consciência, duvidar da veracidade desses fatos?" E, invocando o testemunho de seu amigo, que fora por ele incumbido de investigar todos esses episódios em Estocolmo e Gotemburgo e das inúmeras testemunhas ainda vivas, Kant concluiu que as três histórias acima pormenorizadas não podiam ter sua autenticidade refutada. Mas, além desses casos mais difundidos, há inúmeros outros episódios igualmente interessantes e dignos de serem incluídos nesta biografia. Um dos mais notáveis é o de John Wesley, que está reproduzido, integralmente em carta do Sr. John Isaac Hawkins, engenheiro e inventor dos mais conhecidos, ao Reverendo Samuel Noble, datada de 6 de fevereiro de 1826, transcrita parcialmente abaixo.
"Em resposta à sua carta sobre o caso Wesley, posso afirmar-lhe que, em diversas ocasiões, por volta de 1787 ou 1788, ouvi o Reverendo Samuel Smith, um dos colaboradores do Reverendo Wesley, contar que estava trabalhando com o referido Reverendo na organização de sua cruzada anual, quando este recebeu uma carta que o deixou atônito. Refeito do susto, o Reverendo leu aos presentes a carta escrita mais ou menos nos seguintes termos:
"Great Bath Street, Cold Bath Fields, Fevereiro [?] de 1772.
"Prezado Sr. , fui informado, no mundo dos espíritos, que o senhor desejava ardentemente conversar comigo. Terei prazer de receber sua visita. Sou, de Vossa Senhoria, humilde servidor.
"(as.) Emanuel Swedenborg.
"O Sr. Wesley confessou aos presentes que realmente estava desejoso de conhecer Swedenborg e conversar com ele, mas que nunca revelara esse desejo a ninguém. Respondendo a Swedenborg, o Reverendo Wesley disse-lhe que estava em véspera de iniciar uma viagem de seis meses e que voltaria a entrar em contato com ele assim que retornasse a Londres.
"O Sr. Smith disse-me, então, que soube que Swedenborg respondeu à carta do Reverendo Wesley, dizendo-lhe que a visita seria impossível, pois então, ele, Swedenborg, já teria entrado no mundo dos espíritos, a 29 do mês seguinte, para nunca mais voltar.
"O Dr. Tafel, em seu livro Documents Concerning Swedenborg apresenta testemunhos irrefutáveis sobre a veracidade desse caso".
(Do livro: Swedenborg, Vida e Ensinamentos, George L. Trobridge, S.R.N.J, Rio, 1999)
Eventos como esses eram comuns na vida de Swedenborg e serviam para espalhar sua fama. Mas ele não se importava com a notoriedade. De fato, achava que um excessivo interesse com relação às faculdades de que fora dotado poderia desviar o foco de atenção da finalidade real de seus Escritos.
Escolhido para descrever a natureza do espírito, Swedenborg foi levado pessoalmente a ter experiências tão inusitadas e diversas, que até hoje o homem comum sequer tem noção de que existem. Da obra acima citada, "O Céu e o Inferno", tiraremos alguns exemplos:
1º)- o estado constante em que viveu, por 28 anos, numa experiência única até então e, ao que se sabe, até hoje, de se manter consciente nos dois planos da existência ao mesmo tempo em pleno estado de vigília, no qual ouvia homens e espíritos e falava com uns e outros;
b)- a experiência de ser conduzido quanto ao espírito, dentro do plano natural, para outros lugares e cidades, como a experiência testificada do incêndio de Estocolmo;
c)- de ser conduzido quanto ao espírito, ainda dentro do plano natural, para outros planetas habitados no universo e falar com os habitantes dali;
d)- de ser conduzido quanto ao espírito para fora do plano natural, às dimensões espirituais superiores e inferiores, chamadas céus e infernos;
e)- e, ainda, a experiência rara de ser fisicamente transportado para outro lugar sem que se tenha noção disso, pois a consciência fica no plano espiritual. Este estado foi experimentado por alguns dos profetas bíblicos, do qual diziam terem "sido levados pelo Espírito" para outro lugar. Sobre isto, Swedenborg escreveu: "enquanto dura esse estado, não se reflete de modo algum sobre o caminho, mesmo quando ele fosse de muitas milhas; não se reflete também sobre o tempo, mesmo quando ele fosse de muitas horas ou de muitos dias; e não se experimenta fadiga alguma; então é-se também conduzido, por caminhos que nós mesmos ignoramos, até ao lugar designado, sem enganos" (CI 441).
f)- e, finalmente, a chamada experiência de quase morte em que foi deliberadamente introduzido a fim de descrevê-la, retendo, no entanto, plena consciência. Dedicou um capítulo inteiro de "O Céu e o Inferno" para descrever as etapas do processo porque passa o espírito humano na morte e em sua ressurreição ou entrada na vida eterna (CI 445-452).
Ao descrever todas essas experiências e expor os ensinamentos daí alcançados, Swedenborg se porta de forma categórica; seu estilo é positivo e direto, sem explicações vagas ou incertezas. Não deixa dúvidas quanto ao caráter da Pessoa Divina, a quem chama o Divino Humano, o Senhor Deus Jesus Cristo. Usa a terminologia mais simples possível para descrever as coisas espirituais. Por exemplo, chama de anjos os seres espirituais elevados, e espíritos demoníacos aqueles que atentam contra o bem-estar do ser humano. Chama de céus as regiões espirituais onde o homem se realiza na prestação de usos, que é a felicidade mesma, e infernos onde o espírito se inflama em cobiças e se vê frustrado por não mais conseguir realizá-las. Se essa terminologia é emprestada da religião, é porque a abertura dos planos espirituais só se tornou possível mediante a instrução que a religião recebem como revelação.
Falando das experiências de Swedenborg, não seria justo deixar de mencionar que, quando as descreveu em suas numerosas obras, o objetivo que ele que elas não fossem vistas como fins em si mesmas, mas como meios de se alcançar, por meio delas, a sabedoria de um modo de vida mais humano e, assim, mais celeste. Como ele repetiu centenas de vezes em todos os seus trabalhos, tais coisas foram descritas para que, como disse no prefácio de seu "Céu e Inferno" "a ignorância possa ser assim esclarecida e que a incredulidade possa ser dissipada. Se hoje é concedida uma tal revelação imediata, é porque ela é o que é significado pela Vinda do Senhor" (CI 1).
Em outras palavras: as revelações em sua obra, que para nós parecem espantosas, para ele apenas conduziam a um fim: a abertura para a raça humana de uma fonte de conhecimento das verdades acerca da existência espiritual. Essas verdades, que tinham sido conhecidas pelos antiqüíssimos da Idade de Ouro e de Prata, se perderam depois pelos enganos e pelo mero materialismo. Mas agora, como a raça humana chegava a um certo amadurecimento intelectual, fazia-se necessário abrir outras portas, de acordo com o que o Senhor Jesus havia dito aos Seus primeiros discípulos: "Ainda tenho muitas coisas que vos dizer, mas vós não podeis suportá-las agora". Chegava o tempo em que Ele iria podia voltar novamente, agora como o Espírito da Verdade, revelar-Se no sentido espiritual das Escrituras e guiar-nos ao conhecimento de toda verdade, verdades para uma nova era da raça humana, um novo conceito de vida e de amor ao próximo.
Os ensinamentos de Swedenborg dão assim, novos conceitos acerca de Deus, da existência humana, da vida do espírito, e tudo mais. Por se haver adiantado e distanciado em muito do pensamento religioso de seu tempo (e, na verdade, ao pensamento de hoje), as obras de Swedenborg sofreram - e ainda sofrem - censura e discriminação, de um lado, por parte dos pseudo-cientistas, que, por não entenderem, não admitem a hipótese da harmonia ou fusão do conhecimento científico com o da revelação divina de um Deus infinitamente Humano, sábio e amoroso. Por outro lado, da parte dos líderes tradicionais cristãos, por terem receio da abertura dos mistérios da fé, talvez porque sabem que assim perderão o pretenso monopólio das verdades espirituais.
A teologia exposta por Swedenborg juntamente com o relato das experiências tão vivas no plano espiritual desconcertam muitos religiosos, os que, teoricamente, mais deviam saber sobre o espírito e a vida após a morte, pois que estas coisas foram dadas muitos desses indivíduos, sentindo-se ameaçados, reajam contra essa nova abertura da revelação e, especialmente, contra o autor, fazendo circular boatos difamadores a respeito de sua sanidade. Em decorrência disso, também a sua reputação anterior de grande cientista e filósofo ficou comprometida.
Em toda a sua obra Swedenborg se define "apenas como um instrumento". Um homem famoso, reputado como sábio, certamente tinha uma boa dose de vaidade intelectual. Mas, como tinha a crença em Deus e a consciência dos valores espirituais, à medida que entrava na pesquisa do reino da alma, compreendia, cada vez mais claramente, que era indispensável admitir a existência da Mente Divina criadora e mantenedora das ordens e leis que ia desvendando.
Foi necessário que se despojasse de toda a vontade própria e das idéias preconcebidas, antes de se tornar um instrumento adequado para o trabalho que lhe seria incumbido. Sua consciência da liderança Divina ficou mais forte com o passar do tempo. Apesar de toda a ciência que sua mente acumulara, começou a perceber que tudo o que sabia era como nada diante do que havia à sua frente. Ou antes, que uma preparação estava em curso. No ano de 1743, durante uma de suas viagens, Swedenborg escreveu, na noite de 12 a 13 de outubro [1743], escreveu: "Descobri que estou em tal estado que não sei nada sobre a religião". E, no dia anterior, escreveu: "Não tenho nenhum conhecimento de religião; perdi-o por completo".
Por essa época, seus sonhos e visões eram, freqüentemente, seguidos de violentos tremores, prostração, transes, suores e, pelo menos numa ocasião, vertigem. Durante esses episódios, Swedenborg imergia em um sono sobrenatural, por períodos de dez a treze horas. Seu sistema nervoso estava, indubitavelmente, extenuado com toda essa pressão, já que durante o dia continuava se dedicando ao trabalho literário; e a Natureza exercia sua demanda. Podemos compreender porque freqüentemente passava por seus amigos na rua e sequer percebia seus cumprimentos.
Um crítico há de dizer que tais coisas são comuns a todos os entusiastas. No entanto, Swedenborg era justamente o inverso do entusiasta. E há aspectos de seu caso que diferem totalmente dessas experiências corriqueiras. Ao contrário do que geralmente ocorre nos extremos de transe ou de excitação religiosa, Swedenborg estava constantemente observando e estudando suas próprias experiências com olhos de cientista. Sabia perfeitamente que as pessoas eram levadas, pela emoção, a imaginar toda sorte de coisas e estava sempre precavido contra essas extravagâncias. Na noite de 6 para 7 de outubro, escreve: Os seres humanos podem ser facilmente desencaminhados por outros tipos de espíritos (por exemplo, espíritos malignos) que se apresentam aos homens segundo a qualidade do amor de cada um. Sobre uma de suas visões, escreveu: Nosso Senhor sabe melhor o que tudo isso significa. E continuando: Deus não permite que eu me equivoque sobre isso; acredito que não me equivocarei. Após uma noite de sonhos horríveis e tremores do corpo, escreve: Comecei a questionar se tudo isso não passava de mera fantasia. Parece evidente, portanto, que não estava sendo levado por sua imaginação.
O caso de Swedenborg é realmente único. Pode-se admitir que um ignorante, um fanático ou um débil mental confundam alucinações com a realidade; mas não um homem normal, um matemático e adepto da lógica, devoto das ciências naturais. Tampouco pode-se atribuir o ocorrido com Swedenborg a uma súbita "conversão". E não há nenhum indício de enfraquecimento das faculdades mentais ou doença mental, pois na época em que esses fenômenos ocorriam, Swedenborg estava trabalhando na publicação e editoração de seus trabalhos filosóficos que foram reconhecidos pelos mais notáveis intelectuais de nosso tempo, como sendo o produto de admirável capacidade mental; note-se, ainda, que continuou a escrever e publicar seus trabalhos durante quase trinta anos, com uma integridade e consistência que levaram os estudiosos que os examinaram a concluir que extrapolavam os limites da sabedoria de um mortal. A explicação mais plausível parece ser a do próprio Swedenborg.
Na época em que pesquisava a sede da alma no corpo, os indícios de sua transformação se faziam cada vez mais aparentes, principalmente no tocante à natureza e à unidade de Deus e da suprema Divindade de Jesus Cristo. Em um dos primeiros registros de seu diário, lê-se: Somente a Cristo, em quem reside a totalidade de Deus, devemos dirigir nossas preces. Ele é onipotente e o único Mediador. E uma oração citada acima foi novamente posta em sua boca: "Oh! Jesus Cristo, Todo poderoso".
A essa época, porém, ele ainda não tinha idéia da missão para a qual seria convocado, embora algumas passagens indiquem que tinha algumas premonições dela. Na noite de 21 para 22 de abril, escreve: Como eu parecia tão distante de Deus e não podia pensar nEle de maneira suficientemente clara, cheguei a me perguntar se não seria melhor retornar à casa. No entanto, criei coragem e percebi que eu tinha vindo à Holanda para fazer aquilo que é o melhor de tudo e que eu tinha recebido o talento para propagar a glória de Deus; que o Espírito está comigo desde minha infância com esse propósito; portanto, eu seria indigno da vida se me afastasse do caminho traçado. Então, comecei a rir das seduções de riqueza, luxo e honrarias que tanto perseguira.
Esse admirável diário termina com o registro da noite de 26 para 27 de outubro; mas temos testemunhos de experiências posteriores em outros documentos. O mais importante desses é o depoimento de Carl Robsahm, sobre o relato do próprio Swedenborg a respeito da aparição do Senhor a ele, em abril de 1745. Não vemos necessidade de nos alongarmos em detalhes constantes de biografias anteriores; mas a parte final do depoimento é importante, pois marca o início da transformação da vida de Swedenborg. Essa experiência certamente irá determinar o caráter de seus anos vindouros. Um homem lhe apareceu numa hospedaria logo após o jantar; ficou visivelmente alarmado com a súbita aparição. Segundo Robsahm, o relato de Swedenborg pode ser resumido assim:
Fui para casa e durante a noite o mesmo homem revelou-Se a mim novamente; desta vez não tive medo. Ele então me disse que era o Senhor Deus, o Criador do mundo, o Redentor; e que tinha me escolhido para explicar aos homens o sentido espiritual da Escritura, e que Ele próprio iria explicar-me o que eu deveria escrever sobre esse assunto. Naquela mesma noite me foram revelados, para que eu ficasse plenamente convencido de sua realidade, o mundo dos espíritos, o céu e o inferno, e reconheci em cada um desses lugares todas as situações da vida. A partir daquele dia eu abandonei todos os estudos de ciências mundanas e me dediquei às coisas do espírito, sobre as quais o Senhor me ordenou escrever. Daí por diante o Senhor abriu, diariamente, os olhos do meu espírito, de modo a que eu pudesse ver, em pleno dia, o outro mundo e, num estado de perfeita vigília, conversar com anjos e espíritos.
Um depoimento realmente notável, feito de modo claro e simples, sem qualquer traço de misticismo ou fanatismo. Para saber se Swedenborg foi realmente favorecido, basta consultarmos seus trabalhos, que são a única resposta satisfatória a essa pergunta.
Na obra intitulada "A Verdadeira Religião Cristã (760 [740])", Swedenborg escreve o seguinte:
"A Segunda Vinda do Senhor se efetua por intermédio de um homem diante de quem o Senhor Se manifestou em pessoa e a quem encheu com seu espírito para ensinar de si mesmo as doutrinas da nova igreja confinadas na Palavra.
"Visto que o Senhor não pode manifestar-se outra vez em pessoa, apesar de ter profetizado que viria estabelecer uma Nova Igreja, a qual é a Nova Jerusalém, segue-se que essa manifestação será efetuada por intermédio de um homem que possa, não somente receber as doutrinas dessa Igreja em seu entendimento, mas também fazer sua propaganda pela imprensa. Que o Senhor se manifestou a mim, seu servo, e me encarregou desta missão, e depois abriu a vista de meu espírito, introduziu-me no Mundo Espiritual, permitiu-me ver os céus e os infernos e falar com os anjos e os espíritos, e isto continuadamente durante muitos anos até o presente (1771), eu testifico como verdade; testifico igualmente que, desde o primeiro dia de meu chamado a esta missão (1743), jamais recebi coisa alguma concernente às doutrinas desta Igreja por intermédio de qualquer anjo, mas tão somente do Senhor, enquanto eu lia a Palavra. Para que pudesse estar sempre presente, revelou-me o Senhor o sentido espiritual de Sua Palavra, no qual o Divino Vero está em sua luz".
Swedenborg era já ancião venerável, com mais de sessenta anos, quando, pela primeira vez, declarou ao mundo que havia sido chamado para sua missão religiosa. Sob o ponto de vista do interesse material, teria ele, desde então, muito que perder e nada que ganhar. Embora não houvesse, na Suécia, quem fosse mais respeitado e admirado pela sua ciência, nem quem tivesse integridade de caráter menos exposta a dúvidas, compreendeu Swedenborg que a maior parte do mundo céptico tomaria sua afirmação por absurda e não se dignaria de levá-la a sério, pondo-a de lado, sem qualquer exame.
Numa conversa com Carl Robsahm, muitos anos mais tarde, comentou: "De minha parte nunca suspeitei que iria atingir o estado espiritual em que estou agora; mas o Senhor me escolheu para essa tarefa de revelar o significado espiritual das Sagradas Escrituras, conforme Ele havia prometido nos Profetas e no livro do Apocalipse. Até então, tinha-me dedicado a explorar a natureza, a química e as ciências da mineração e da anatomia".
Ele escreveu sua obra teológica sem esperar recompensa por ela e despendeu grandes importâncias de seu bolso sem esperança de reavê-las. Só teve despesas, e os lucros que, porventura, resultaram dessa obra foram distribuídos como contribuição para estender o conhecimento da Bíblia, de acordo com sua determinação. Não procurou discípulos, nem fez tentativa de organizar qualquer Igreja, tendo vaticinado, entretanto, que, com base nos seus escritos, uma Igreja se haveria de estabelecer.
É óbvio que tais considerações não serão suficientes para convencer alguém de que é verdade o que Swedenborg escreveu, mas devem constituir razão bastante para que se façam investigações e estudos sérios sobre as obras referidas.
Influenciados
Ralph Waldo Emerson
Em sua obra Homens Representativos, o filósofo americano Ralph Waldo Emerson (1803-1882) traça o caráter e a contribuição à humanidade dos seguintes vultos: Platão, Swedenborg, Montaigne, Shakespeare, Napoleão e Goethe. A opinião de Emerson sobre a obra de Swedenborg é bastante conhecida. Embora Emerson não tivesse poupado críticas a algumas teorias de Swedenborg, também foi pródigo em elogios, e descreveu Swedenborg como "um mastodonte e uma das principais vertentes da literatura.... que não poderia ser julgado por meros critérios acadêmicos. Uma alma colossal.... que só poderá ser corretamente contemplada a partir de uma perspectiva distante".
Coleridge, por exemplo, foi fortemente atraído por Swedenborg e fez elogiosas referências aos seus ensinamentos filosóficos e teológicos. Numa carta escrita em 1820, disse: "Tenho dedicado grande parte de meu escasso tempo, tão limitado pela intensa lida e meu precário estado de saúde, à leitura dos escritos de Swedenborg e, especialmente, do seu livro "Teologia Universal da Nova Igreja" [Verdadeira Religião Cristã]. E não vejo diferenças substanciais entre nossas opiniões e postulados filosóficos". Essa carta está exposta na biblioteca da Swedenborg Society, um documento longo, em entrelinhas estreitas e cobrindo três páginas. Foi publicada, na íntegra, no número de março de 1897, da revista New Church Magazine. Nessa carta são abordadas diversas questões teológicas, entre as quais destacam-se a Trindade e o uso da palavra "pessoa" em referência a ela; questões concernentes ao Credo e à Fé etc.. Referindo-se aos ensinamentos de Swedenborg sobre a doutrina da "fé só", escreve: "Concordo, com todo o meu coração e espírito, com o que ele diz, pois vejo a "fé só" como a abelha-rainha na colmeia do pensamento teológico errôneo".
Há várias referências à obra de Swedenborg na obra de Coleridge intitulada Literary Remains. Comentando alguns aspectos do livro Æconomia Regni Animale, escreve: "Não encontrei nos escritos de Lorde Bacon nenhum conceito ou idéia superior às verdades contidas nesta obra; encontrei algumas poucas passagens de igual nível, seja na profundidade de pensamento, seja na riqueza, ou na dignidade ou na felicidade de escolha dos termos". E, concluindo suas observações sobre Swedenborg, Coleridge diz: "Posso afirmar, com convicção, que, como moralista, Swedenborg está acima de todos os louvores; e como naturalista, psicólogo e teólogo, merece as homenagens e a gratidão de todos os estudantes e profissionais do campo da filosofia".
Helen Keller
Helen Keller. A menina que nasceu cega e surda e veio a se tornar na maior conferencista americana, dedicou um livro à profunda influência que recebeu das obras de Swedenborg. No livro, com o sugestivo título de My Religion (traduzido para o espanhol com o título Luz em mi oscuridad) ela conta, de forma muito tocante, como a mensagem dos Escritos teológicos de Swedenborg mudou drasticamente a sua vida, tirando-a de uma outra espécie de treva e trazendo à luz da realidade espiritual.
Outro autor americano influenciado por Swedenborg foi Henry James, o pai; em seu livro Substance and Shadow (Substância e Sombra), escreve: "Reconheço em Swedenborg tudo aquilo que, geralmente, tentam negar-lhe, a saber, uma grande sobriedade mental em momentos bem difíceis de sua vida e que acaba por nos deixar convencidos da veracidade de suas palavras... Parece-me que nunca se escreveram antes livros tão sinceros" (p. 103).
Jorge Luis Borges
Jorge Luis Borges. (-1986). Admirador de Swedenborg, Jorge Luis Borges cita-o em seus escritos, como nos Prólogos. Amigo da Swedenborg Foundation, ele havia-se empenhado em escrever em ensaio a respeito do nobre sueco, e já havia ditado parte desse trabalho à sua secretária, quando faleceu. Mas, em outro trabalho, Testigo del Invisible, Borges testifica da inspiração que recebeu das obras de Swedenborg, mostrando como a visão religiosa dos seus Escritos influencia um poeta e romancista. Em 1970, Borges escreveu um soneto intitulado Emanuel Swedenborg.
A idéia de que os escritos de Swedenborg são "difusos e obscuros" é muito comum, mas não compartilhada por todos os que os conhecem. R. A. Vaughan, no seu livro Hours with the Mystics (Horas com os místicos) expressa opinião exatamente contrária a esta. Diz ele: "Os pensamentos de Swedenborg nunca careceu de maiores explicações, como acontece, por exemplo, com o ideário do semi-educado Behmen. A mente do vidente sueco era de uma casta metódica e científica. Seu estilo, calmo e claro... Suas descrições são tão minuciosas quanto as de Defoe. Nada fica envolto em nuvens. ... Ele nunca impressiona, nunca exagera. É impassional e não usa de efeitos. ... Swedenborg nunca se exaspera nem disputa – nada tem daquela veemência lacrimosa e daquela transparente emoção que prejudicam o discurso de Behmen. ... Sempre sereno, esse filósofo imperturbável é o Júpiter olímpico dos místicos. He escreve como alguém que conhecia a si mesmo e que sabia esperar... Explorou profundamente esse veio de misticismo que não se respalda em teorias duvidosas e frágeis como bolhas de sabão" (Vol. II, pág. 279, edição de 1856). "Sua doutrina não se baseia em interpretações arbitrárias ou fantásticas. Seu sistema doutrinal é tirado do sentido literal, e, serenamente exposto por meio de citações, exegese e comparação de passagens, sem qualquer misticismo. Assim, o equilíbrio entre o literal e o espiritual dá à sua teologia uma veracidade que é incomparável na história do misticismo" (Vol. ii, pág. 275).
Fiodor Dostoevsky
Czeslaw Milosz, escritor lituano que recebeu o Prêmio Nobel de literatura em 1980, em seu livro Emperor of the Earth (University of California Press, 1978) dedica o capítulo 19 desse livro a Fiodor Dostoevsky e à influência que o famoso escritor russo teria recebido de Swedenborg. Segundo Milosz, a primeira evidência disso é que, na biblioteca de Dostoevsky havia as seguintes obras, em russo: de A. N. Aksakov: O Evangelho de Acordo com Swedenborg: Cinco Capítulos do Evangelho de João com a exposição e a explanação de seu Sentido Espiritual de acordo com o Ensino das Correspondências, publicada em Leipizig, 1864; O Céu, o Mundo dos Espíritos, e o Inferno, como foram ouvidos e vistos por Swedenborg, tradução por A. N. Aksakov, do latim, publicada em Leipzig, 1863; e O Racionalismo de Swedenborg: Uma Análise Crítica de Seu Ensinamento sobre a Escritura Santa, do mesmo autor, publicada na mesma cidade, em 1870. Fora essa evidência, Milosz observa a influência que a doutrina das obras teológicas de Swedenborg tem nas personalidades e fatos do livro Crime e Castigo, do autor russo, especialmente no que diz respeito ao amor de si e do mundo, como também de alguns diálogos e conceitos emitidos pelos personagens sobre a eternidade etc. Milosz diz, ainda, que, por causa de suas posições religiosas, Dostoevsky foi também considerado "heresiarca" por Anna Akhmatova.
Coventry Patmore foi outro poeta que admitiu publicamente a influência de Swedenborg. Edmund Gosse, em seu livro Life of Patmore, transcreve excertos de uma carta de Patmore, onde se lê textualmente: "Nunca me canso de ler Swedenborg; é incrivelmente profundo e, ao mesmo tempo, simples. Agora mesmo, dei com uma passagem... cuja clarividência da verdade me causa grande admiração. A princípio se nos afigura contundente, mas logo que nos refazemos do choque, percebemos que sua percepção da verdade não tem paralelo na literatura universal" (pág. 192).
Honoré de Balzac
O interesse do francês Honoré de Balzac (1799-1850) pela obra de Swedenborg é bem conhecido e está manifesto em vários de seus livros. Num deles, um dos personagens declara: "Voltei-me para Swedenborg, depois de estudar todas as religiões. Estou convencido da profunda verdade das percepções da Bíblia de meus tempos de juventude, depois de estudar todos os livros publicados na Alemanha, na Inglaterra e na França, durante os últimos sessenta anos. Sem dúvida alguma, Swedenborg é a síntese de todas as religiões, ou melhor, de todas as religiões da humanidade em seus princípios... Embora um tanto difusos e obscuros, em seus livros estão contidos todos os elementos de uma vasta concepção social. Sua teologia é sublime, e sua religião é a única que uma mente superior pode aceitar. Só Swedenborg mostra que o homem é capaz de tocar Deus; ele inspira uma sede de Deus; restaura a majestade de Deus, despindo-o das vestes infantis com que as crenças humanas O sufocaram".
Arthur Conan Doyle (o criador de Sherlock Holmes) na sua História do Espiritismo fala assim de Swedenborg: "A verdade é que Swedenborg foi o primeiro e, sob vários aspectos e de modo geral, o maior médium; estava sujeito a erros tanto quanto aos privilégios decorrentes da mediunidade" (obra citada, pág. 37). Comentando esse tipo de enfoque, a Encyclopaedia Britannica discorda de Conan Doyle e observa que a idéia normal de mediunidade contraria tal modo de ver as coisas, uma vez que Swedenborg entrou no mundo dos espíritos a partir do mundo material, enquanto no espiritismo são os espíritos que vêm ao nosso mundo.
O poeta e artista William Blake (1857-1827) afirma no Casamento do Céu e do Inferno que não foi a originalidade das teorias de Swedenborg que se tornou um culto atraente, mas a capacidade de Swedenborg de resumir e popularizar muitas noções místicas paralelas aos cultos cabalísticos herméticos, o que entretanto não nos leva a concluir pela pouca influência de Swedenborg sobre o pensamento de Blake. Corretamente se deve olhar esta apreciação de Blake como excentricidade das tantas em que ela era pródigo, e lembrar o que escreveu William Butler Yeats (1856-1939): "William Blake era um homem clamando por uma mitologia, tentando fazê-la, porque não havia uma ao seu alcance". Já na opinião de James Joyce, a posição de Blake entre os artistas místicos de reunir ao misticismo penetração intelectual se deve à influência que sobre ele teve Swedenborg. Aliás, não se trata unicamente de esoterismo, expondo Joyce: "A influência de Swedenborg, que morreu exilado em Londres quando Blake começava a escrever e desenhar, se adverte na glorificação da humanidade que constitui a marca de toda a obra de Blake". Essa influência está longe de ser caso isolado. Num trabalho que procura orientar o estudo do simbolismo do ponto de vista da literatura comparada, a professora Ana Balakian, da Universidade de New York, escreveu: "Os simbolistas e sua coterie internacional aceitaram uma origem comum na filosofia de Swedenborg, que já havia conseguido se infiltrar em formas artísticas através dos literatos iluminados (literary illuminnists), como Gerar de Nerval, Novalis, Blake e Emerson". Yeats também falou de Swedenborg na fala proferida quando recebeu o Prêmio Nobel de literatura em 1923. Yeats estudou Swedenborg profundamente e demonstra conhecimento das idéias swedenborguianas em sua poesia e também seu comentário da obra de William Blake
Foi, em parte, através de Emerson e, em parte, através de James e do Dr. J. J. Garth Wilkinson, tradutor dos escritos filosóficos de Swedenborg para o inglês, que Carlyle tomou conhecimento da obra swedenborguiana. Embora o fato não seja reconhecido, a obra Sartor Resartus, daquele autor, está impregnada de Swedenborg. Certa vez, Emerson enviou para Carlyle um exemplar do livro Observations on the Growth of the Mind (Observações Acerca do Crescimento da Mente), de autoria de Sampson Reed. Acusando o recebimento do livro, o filósofo de Chelsea escreveu: "Esse farmacêutico swedenborguiano, seu amigo, é um devotado pensador, com idéias realmente profundas, que me fazem parar e pensar sobre o tipo de homem que ele é e o que realmente é a filosofia swedenborguiana" (Correspondência de Carlyle com Emerson, volume I, pág. 19). Na mesma época, Carlyle escreveu ao Dr. Wilkinson uma longa carta, na qual diz: "Até aqui, sabia muito pouco a respeito de Swedenborg ou, diria melhor, menos que nada. E tendia a vê-lo como um visionário insano... com quem nada se tinha a aprender. E é assim que, geralmente, julgamos os seres extraordinários. Porém, já fui corrigido. Um livrinho, escrito por um tal Sampson Reed, de Boston, New England, que me foi ofertado por um amigo, ensinou-me que um swedenborguiano é capaz de ter pensamentos da maior profundidade sobre as coisas mais complexas. Em suma, eu não conhecia Swedenborg, mas estou obrigado a conhecê-lo". Muitos anos depois, Carlyle escreveu a uma de suas leitoras desculpando-se pelo fato de haver classificado os swedenborguianos de esotéricos, como os mesmeristas, mágicos, cabalistas etc., no seu ensaio sobre Cagliostro, publicado em 1883, (o ano em que conheceu Emerson). Na carta, Carlyle se arrepende de ter feito tal classificação, explicando que escreveu por ignorância, e apenas "por ter ouvido dizer". E conclui: "Desde então, adquiri algum conhecimento sobre Swedenborg e li vários de seus livros... e tenho refletido sobre sua singular presença no mundo e sobre a mensagem notável que foi enviado a entregar aos de sua época. Um homem de cultura indiscutível, sólido intelecto matemático e piedosíssimo... um belo personagem, amável e, para mim, trágico, porque tem pensamentos que, quando os interpreto por mim mesmo, descubro que pertencem às regiões mais elevadas e perenes do pensamento humano". No Diário de William Allingham há várias referências de suas conversas com Carlyle, Tennyson e o professor A. R. Wallace a respeito de Swedenborg. Na obra, Allingham alude, também, a seus estudos da obra de Swedenborg.
Charles Baudelaire
Charles Pierre Baudelaire (1821-1867) tomou conhecimento das obras de Swedenborg por meio de Balzac. Provavelmente, ele possuía um compêndio das doutrinas. Seu conhecimento transparece em seu poema "Correspondências".
Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) conheceu as obras de Swedenborg quando ainda era estudante através da senhorita von Klettenber, em Frankfurt. Estudiosos de Goethe acreditam que era familirizado tanto com as obras científicas quanto com as teológicas de Swedenborg.
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Ezra Pound (1885-1972) em sua poesia e em sua correspondência demonstra ter tido grande conhecimento da obra do autor sueco.
Paul Valéry (1871-1945) interessou-se pela questão da natureza das experiências espirituais de Swedenborg depois de ler a biografia de Martin Lamm, Valéry escreveu um longo ensaio explorando a questão, concluindo que Swedenborg experimentara visões que tinham fonte acima de si próprio, mas tal fenômeno estava envolto em mistério.
Obras
Arcanos Celestes
O Céu e o Inferno
Divina Providência
O Cavalo Branco
A Interação da Alma e do Corpo
O Juízo Final
A Nova Jerusalém e Sua Doutrina Celeste
Quatro Doutrinas
Terras no Universo
Exposição Sumária
A Verdadeira Religião Cristã
Apocalipse Revelado
O Amor Conjugal
Sabedoria Angélica
Parte I - Obras Científicas
(Sobre política, poesia, filosofia e psicologia e diversas ciências)
Aeconomia Regni Animales
Camena Borea
Cerebrum
Clavis Hieroglyphica
Daedalus Hyperboreus
De Cupro et Orichalco
De Ferro
De Fibra
De Generatione
De Sale Communi
Festivus Applausus in Caroli XII in Pomeraniam suam Adventum
Miscellanea Observata circa Res Naturalis
Principia
Motion and Position of Planets
Offörgripelige Tanckar om swenska myntets förnedring och förhogning
Om Wattnens Hogd
Ontologia
Opera Philosophica et Mineralia
Opera Poetica
Opera Quaedam
Philosopher´s Note Book
Prodromus Philosophiae Ratiocinantis de Infinito
Psychologia Rationalis
Regnum Animale
Tremulation
Parte II - Obras teológicas
Adversaria
Apocalypsis Explicata
Canones Novae Eclesiae
Charitas
Continuatio de Ultimo Judicio
Coronis seu Appendix ad Verum Christianam Religionem
De Amore Conjugiali
De Athanasii Symbolo
De Coelo et de Inferno
De Cormercio Animae et Corporis
De Conjugio
De Cultu et Amore Dei
De Divino Amore et Divina Sapientia
De Equo Albo
De Nova Hierosolyma et ejus Doctrina Caelesti
De Telluribus in Mundo Nostro Solari
De Ultimo Judicio
De Verbo
Dicta Probanta
Doctrina Novae Hierosolymae De Charitate
Doctrina Novae Hierosolymae De Domino
Doctrina Novae Hierosolymae De Fide
Doctrina Novae Hierosolymae De Scriptura Sacra
Doctrina Vitae pro Novae Hierosolymae ex Praeceptis Decalogi
Drömmar
Experientiae Spirituales
Historia Creationis A Mose Tradita
Index Biblicus
Invitatio ad Novam Eclesiam
Memorabilia
Messiah
Quaestiones Novem de Trinitate
Sapientia Angelica de Divina Providentia
Sapientia Angelica de Divino Amore et Divina Sapientia
Summaria Expositio Doctrinae Novae Eclesiae
Summaria Expositio Sensu Interni Propheticorum ac Psalmorum
Vera Christiana Religio